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2013
Hoje, com a chuva que cai, pode não parecer, mas a primavera está aí
e com ela todo um novo ciclo de vida. Também no skate um novo ciclo se
aproxima, a época dos campeonatos, demos, churrascos e ajuntamentos.
Em breve, por esse Portugal fora, os skaters vão começar a sair da “toca”
e o frenesim de eventos vai ser tal, que muitas vezes vamos ter dois e,
até, três campeonatos no mesmo dia… estamos todos em “alta”, media,
organizadores, marcas, lojas, há tanta coisa a acontecer que a grande
questão é quase “a qual iremos”? Mas por mais que veja este filme,
ano após ano, não consigo fechar os olhos ao que se passa no skate
nacional… será que é mesmo por este ciclo se repetir há anos, como um
relógio, que as coisas não passam da cepa torta e, em alguns casos, até
regridem? Como é que na altura em que não havia net, facebooks e afins ou,
sequer, skate parques, tínhamos em Portugal skaters profissionais, no sentido
literal da palavra, amadores em teams internacionais, a receber bom dinheiro,
e uma cena local que não precisava de muito para “vibrar”? É verdade
que o excesso de informação torna muito mais difícil focarmo-nos realmente
em algo, ou alguém, mas temos que reconhecer que os primeiros a não
nos valorizarmos somos nós próprios. Um colega dizia-me no outro dia:
“vocês, skaters, vendem-se por pouco, se uma marca vos quer utilizar
como ferramenta de marketing tem de pagar e bem”. Mas a verdade é
que sofremos do típico problema de “portuguesite aguda”: “epá, mas se
não aceitar o que me oferecem, o outro ao meu lado aceita”... e assim
estamos destinados a viver sempre na sombra daquilo por que nos querem
fazer passar: por “pequeninos”.
Cada um de nós pode viver o skate à sua maneira, seja nos campeonatos,
demos, festas, viagens com amigos, ou apenas no alpendre lá de casa,
mas, sem dúvida, era bom que, tal como vimos exigindo condições que
não tínhamos, como skate parques nas nossas cidades, continuemos a
exigir condições que não temos, melhores apoios, maior dinâmica em
todo o país, e mais, também, de nós próprios... só assim sairemos a ganhar.
Todos.
Pedro Raimundo
“Roskof”
O culto do nada…
panorâmica
ilustração Luis Cruz
Caso não saibam, a fonte da Praça dos Leões foi construída originalmente para que as águas da Baixa do Porto pudessem respirar um pouco, claro que ver um 5-0 do Toni é apenas mais uma benesse a que as águas têm direito quando vêm cá fora arejar.
fotografia Renato Lainho
2013
página 13
DUOSem papas na língua, João Pinto e João Allen contam-nos como foi produzir um dos melhores vídeos de skate nacional.
Entrevista Miguel GilDemorou 3 anos, mas finalmente conseguimos a entrevista com um dos nossos skaters nacionais favoritos. Agora que começou, queremos fotos dele em todas as edições da revista… estás a ouvir, Miguel?
Dr. MankateDepois de ter levado a malta da Troika lá a casa para uma festa, o Dr. ainda teve que lhes lavar e secar a roupa. Isto é que é um anfitrião...
Primeiro Foco: Bruno SenraDe certeza que já ouviste todas as explicações possíveis e “ordinárias” para a alcunha do BP. Pois agora vais saber a verdade…
Cliché Bon VoyageA fase final da produção de um filme é sempre uma altura complicada, mesmo assim conseguimos que o Jeremie Daclin e Boris Proust, os responsáveis pelo novo filme da Cliché, “BON VOYAGE” saíssem das catacumbas para falar um pouco deste novo projeto e da história da mais antiga marca de skate Europeia.
Ficha TécnicaPropriedade: Pedro RaimundoEditor: Pedro RaimundoMorada: Rua Fernão Magalhães, 11São João de Caparica2825-454 Costa de CaparicaTelefone: 212 912 127Número de Registo ERC: 125814Número de Depósito Legal: 307044/10ISSN 1647-6271Diretor: Pedro [email protected]: Sílvia [email protected] criativo: Luís [email protected]:[email protected]
Colaboradores: Rui Colaço, João Mascarenhas, Renato Laínho, Paulo Macedo, Gabriel Tavares, Luís Colaço, Sem Rubio, Brian Cassie, Owen Owytowich, Leo Sharp, Sílvia Ferreira, Nuno Cainço, João Sales, Rui “Dressen” Serrão, Rita Garizo, Vasco Neves, Yann Gross, Brian Lye, Bertrand Trichet, Luís Moreira, Jelle Keppens, DVL, Miguel Machado, Julien Dykmans, Joe Hammeke, Hendrik Herzmann, Dan Zavlasky, Sean Cronan, Roosevelt Alves, Hugo Silva, Percy Dean, Lars Greiwe, Joe Peck, Eric Antoine, Eric Mirbach, Marco Roque, Francisco Lopes, Jeff Landi, Dave Chami, Adrian Morris.
Tiragem Média: 8 000 exemplaresPeriodicidade: BimestralImpressão: Gazela, Artesgráficas, Lda.Morada: Rua Sebastião e Silva, 79 Massamá2745-838 Queluz • Portugal
Interdita a reprodução, mesmo que parcial, detextos, fotografias ou ilustrações sob quaisquermeios e para quaisquer fins, inclusivé comerciais.
www.surgeskateboard.com
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Capa: Esta senhora chegou-se perto do Charles Collet e disse que se tivesse a idade dele também andava de skate. Mas agora com quatro rodas só mesmo o andarilho… isto sim, é espírito de skater!
fotografia DVL
2013
Boas Dr.
Sou uma carcaça velha de Almada, que desde muito novo aprendeu
a gostar de skate. Não por vontade própria, mas sim por culpa
do meu mano mais novo, que começou a dar uns toques ainda
bastante puto...
Sei que esta carta poderá parecer-te um pouco nostálgica, mas vivo
hoje um certo deja-vu em relação ao skate. Tenho três putos xarilas
cá em casa, com a mania que são do skate. É o dia todo uma guerra
pegada entre eles, para ver quem dá a manobra melhor que o outro,
vive-se um género de jogo do skate diário aqui em casa e o pior
(melhor) ainda estará para vir, é que agora cá em casa apareceu
uma princesa, que eu já vejo a brincar com os teck deck nas rampas
miniatura e, melhor ainda, por cima dos móveis cá de casa.
Bem, tudo isto para dizer que vejo com gosto este gosto, que me
leva atrás no tempo e me faz lembrar quando eu chegava a casa
do trabalho e dava com 15 putos aqui de Almada, a ver filme atrás
de filme de skate.
Hoje continuo a não ter direito a ver televisão cá em casa, ou dá
skate ou bonecos para a princesa, eventualmente uma novelazinha
para a mestra cá de casa. Quando grito: “parem já de mandar o
comando da tv ao ar!” lembro-me no mesmo instante da minha rica
mãe a gritar ao meu irmão: ”para com isso!”
Lembro-me de assistir aos campeonatos no skate parque de Almada
que, quando olho para trás, vejo como eram fantásticos e magníficos,
na pura forma de simples diversão, forma essa que eu tento incutir
aos meus putos. Lembro-me de ver o Rómulo Pereira, ainda puto,
a começar a dar os seus primeiros toques, lembro-me das velhas
do M.Bica a gritarem convosco como gritam ainda hoje com os
meus, lembro-me de ver o editor da Thrasher sentado na relva do
skate parque de Almada, “o Brunos skate parque”, a ler uma Urbe.
Lembro-me com alguma emoção e tristeza do porquê desse nome e
da t-shirt do Piggy ainda hoje pendurada no nosso quarto, como se
de uma fotografia se tratasse. Lembro-me da coleção de autocolantes
de skate do meu irmão, que hoje os meus putos cobiçam como se
de um tesouro se tratasse e de como pedem para ele dar o mesmo
impossible que eu lhe pedia para dar há uns anos atrás.
Bem, Dr., já nem sei bem qual era o propósito desta carta, mas sei
que vivi e ainda vivo momentos muito bons através do skate, sem
nunca ter andado. São bons os sentimentos que tenho pelo skate,
adoro ver como um skater tem a capacidade de se transportar no
futuro e regressar, para depois conseguir executar esse mesmo
futuro num corrimão ou lance de escadas.
E por isso lhe escrevo, Dr., a si e à Surge, porque gosto de skate e
porque o skate não é só uma trotineta como o meu pai lhe chama, mas
sim um veículo que transporta muito mais do que um indivíduo apenas.
Abraço ao Dr. e à malta da Surge!!
P.S: os putos cá de casa querem saber para quando posters de
miúdas giras na Surge??
Finex de Almada
Caríssimo Finex
Foi com enorme alegria que recebi a tua carta.
De facto, o skate faz parte da cultura da cidade de Almada.
Ninguém o pode negar.
Quantos, como tu, que nunca andaram de skate, conhecem e viveram
esses episódios de que falas? Quantos, como tu, não perdiam um
campeonato da ASKA no skate parque de Almada? Quantos, como
tu, sabem o nome de várias manobras de skate? Quantos, como tu,
metem os filhos a andar de skate? Quantos, como tu, vestem roupa
de marcas de skate? Quantos, como tu, conhecem todos os skaters
de Almada? Quantos, como tu, compram a Thrasher de vez em
quando? Quantos, como tu... em Almada... bastantes!
Os skaters têm facilidade de conviver com todo o tipo de gente.
Não têm preconceitos, nem manias. Dão-se com todos. São da
rua e é aí que se travam amizades, que se conhece todo o tipo de
pessoas. Quantas conversas tive com velhotas, mendigos, ciganos,
ladrões, carochos, meninos ricos, pobres, brancos, pretos, azuis,
até com cães falei... quantas conversas... e assim cresci. Na rua,
com toda a gente que faz parte dela.
Por essas razões é que pessoas como tu, conhecem, gostam e
admiram o skate.
O skate, como tu dizes, transporta muito mais do que um indivíduo
apenas...
Grande abraço, Finex.
Viva o skate!
Isso dos posters anda a ser falado... tenham calma, meus putos,
nunca se sabe!
Dr. Manka-te
Olá Doutor
Tenho tido muito azar com as lesões.
Em apenas 2 anos, parti um pé e um braço.
Tenho passado bastante tempo sem andar de skate e quando ando
é sempre com medo... sei que as lesões fazem parte, mas acho que
tenho tido bastante azar. A Surge tem ajudado e muito. Desde já
agradeço pelo que vocês fazem por todos nós. A revista não me tira
o medo, mas dá-me sempre vontade de voltar a andar. Dá-me pica
e isso é que é preciso.
Espero no futuro não ter mais lesões e espero também conseguir
vencer o medo...
Mais uma vez obrigado.
Excelente trabalho, o vosso.
Abraço
Pedro Sousa
Boas Pedro
As lesões são tramadas. É mesmo o pior que existe no desporto. Mas
como dizes e bem, fazem parte.
Mas vê as coisas pela positiva, porque existe pessoal com muito
mais azar que tu.
Não sei se conheces ou conheceste o Mileu, de Almada. Esse é que
teve azar! Partiu os dois braços! Consegues imaginar? Tinham que
fazer tudo por ele... hehehehehehe, que espetáculo, até o cú tinham
que lhe limpar hahahahahahaha! Isso sim, é azar!
Por acaso sempre tive alguma sorte com as lesões, não me posso
queixar. Apenas uns entorces e um traumatismo craniano, coisa pouca.
Não podes desanimar. O tempo ajuda a perderes o medo.
Tenho uma sobrinha que é louca por skate e também não tem
tido muita sorte. Partiu o mesmo pé duas vezes a andar de skate,
também num curto espaço de tempo. Sei bem o que ela sofre por
não poder patinar. Mas é rija e tem muita pica. É daquelas pessoas
que não tem medo, vai lá outra vez!
É assim que deves pensar. Bola para a frente, companheiro!
Beijo na bunda
Dr. Manka-te
fotografia Luís Colaço
Dá a tua opinião sobre a revista. Envia-nos as tuas ideias ou sugestões. Manda fotos de spots novos na tua
zona e do rabo da tua melhor amiga… sei lá… escreve por tudo e por nada… se aqui o Dr. Mankate curtir,
publicamos a tua carta na revista e se tiveres sorte, pode ser que te toque alguma coisa…
Abraços e beijos na bunda.
Dr. Mankate
[email protected] www.mankatetainha.com
página 17 Dr. Manka-te
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2013
página 21
fotografia e entrevista Mascarenhas
PRIMEIROFOCO
Conta lá para quem não sabe, porquê BP? Tem a ver com o
facto de estares sempre atestado de gasolina?
(Risos) Não, não tem a ver com isso. Já foi há muito tempo:
na minha rua havia dois Brunos, quando jogávamos à bola
era sempre uma confusão, por isso fiquei Bp (Bruno Pequeno).
Tenho que dizer que admiro muito a tua pica, espero que sejas
assim para sempre e não só no skate, mas também na escola
e na vida em geral. O que queres ser quando fores grande?
Opá, ainda não sei bem, gostava de viver do skate, claro,
mas não sei se será possível. Se não for possível, gostava de
trabalhar em alguma coisa relacionada com skate, nem que
fosse numa skate shop, ou como team manager (risos)...
Como bom filho da “margem sul”, tinha de haver uma manobra
no spot mais emblemático do “lado de lá”… hardflip
2013
Se o Vito, um dos skaters favoritos do BP, visse este
frontside flip diria: “grrannda frrrrontside flip boy!”...
página 23 Primeiro foco
Quais são as tuas ambições no skate? Sonhas alto, ou tens os
pés bem assentes na terra?
As minhas ambições no skate são evoluir, ir lá fora a
campeonatos e filmar. Eu ter o sonho de viver do skate tenho,
como qualquer skater, mas também tenho consciência de que
é muito difícil.
Fazes parte da Ementa SB, gostas de pertencer ao grupo?
Descreve um pouco esse grupo de amigos.
Sim, pertenço à Ementa. É um grupo de skaters amigos, unidos.
Ajudamo-nos uns aos outros, estamos quase sempre juntos... eu
só posso estar com os meus putos ao fim de semana, por causa
da escola... estamos sempre a inventar e isso é que é o espírito.
Tens orgulho de ser da margem sul? Que skaters da tua zona
é que admiras?
Sim, tenho. É a terra onde eu cresci e onde comecei a skatar.
Os skaters que admiro da minha zona são o Rómulo Pereira:
era um dos melhores de Portugal; também gostava bué de ver
o Inezinho a andar, dava-me bué pica, é pena ele ter parado...
se ele não tivesse parado também tinha sido um grande nome
no skate português. O Vito, para quem não conhece, também é
um Almadense que andava bué, mas que teve de seguir a vida
dele... não ouvi falar mais dele...
Preferes skatar nas ruas ou em skate parque?
Bem, ruas ou skate parque... eu sinceramente gosto de andar
nos dois sítios. O skate parque é mais chill, não cansa tanto e
aprendes bases e manobras novas... e na rua também curto
andar em spots diferentes, mas a rua é mais agressiva que skate
parque.
Explica lá ao pessoal porque é que andas sempre a mandar
cuspidelas? Já ouvi chamarem-te Dabla, que era a personagem
do Dragon Ball que transformava as pessoas em pedra com as
suas cuspidelas ácidas.
Bem, eu nem conhecia o Dabla até o tu me chamares isso
(risos). Não sei, é natural, não consigo explicar (risos), mas eu
também não cuspo muito... (risos)
página 24 Primeiro foco2013
Para alguém que tem uma alcunha como “Bruno Pequeno” este
“corrimão grande” não está nada mal… backside 50-50
A quem queres agradecer?
Gostava de agradecer ao meu Pai, à minha Mãe e à minha
família, pelo apoio que me têm dado, aos meus amigos que
me apoiam e que andam comigo, aos meus putos da Ementa,
ao pessoal de Almada, ao pessoal que skata comigo... não
vou começar a dizer nomes, senão nunca mais saía daqui.
Também quero agradecer aos meus patrocinadores: à Volcom,
à Converse, à Screw e à Ementa SB. Ao João Mascarenhas
por me ter ajudado nesta mini entrevista e por me ter aturado
quando íamos fotografar (risos). Um grande abraço para todos
os meus amigos e para todos os que me apoiam.
página 24 Primeiro foco
2013
entrevista Roskof
fotografia DVL
página 27
Quando há 13 anos a Cliché lançou “Europa”, o primeiro
filme de skate de uma marca europeia, nascia um novo
polo no skate mundial. Pela primeira vez o velho continente
era encarado como uma potência no skate. Cidades hoje
consideradas mecas do skate, como Barcelona, ou Málaga,
devem, de facto, muito à Cliché, pois foi em “Europa” e nos
projetos seguintes da marca, que se mostrou ao mundo
o potencial de skate que aqui se encontrava escondido.
Passada mais de uma década e na véspera do lançamento
do seu último filme, Jeremie Daclin e Boris Proust falam-nos
da sua viagem até... “Bon Voyage”.
2013
Já lá vão 15 anos desde o início da marca e 13 desde o lançamento de “Europa”, o primeiro vídeo de skate 100%
europeu. Desde então muito mudou na maneira como os filmes de skate são feitos. Para vocês, quais as maiores
diferenças entre esse tempo e o presente? De certeza que o Jeremie notará mais algumas diferenças do que o Boris…
Jeremie: Para mim a maior diferença entre essa altura e o presente são as redes sociais. Agora os miúdos devoram
vídeos todos os dias, no Hellaclips e outros sites... e, se procurares, todos os dias consegues ver alguma boa parte. Nos
tempos do “Europa”, filmar era mesmo difícil e sempre que conseguias arranjar um vídeo não o largavas durante 6
meses… hoje é difícil causar impacto por mais que um dia… é muito esforço às vezes para nada.
Boris: Sim, de facto muita coisa mudou em pouco tempo, mas para mim agora parece que toda a gente se preocupa
muito mais com a maneira como edita e filma os vídeos. Quando comecei já toda a gente filmava com as lendárias
Sony Vx1000 e durante um longo período parecia que toda a gente filmava da mesma maneira. Agora é bem diferente,
todos se preocupam muito mais com os ângulos e usam meios que na altura eram impensáveis para obter as melhores
imagens, como gruas, steadycams e até helicópteros telecomandados…
Jeremie Daclin Boneless
página 29 Bon Voyage
Pete Eldridge Switch Ollie
2013
Vocês têm idades bem diferentes e de certeza que também
cresceram de maneiras bem diferentes. Como é que conseguem
conciliar os vossos pontos de vista e a maneira como as coisas
devem aparecer no vídeo? Chega a haver o clássico “choque de
gerações”?
Jeremie: Nada disso, eu sou uma pessoa bastante receptiva a
ideias! (risos)
Boris: Sim, temos idades bastante diferentes, mas ambos queremos
o mesmo, que é fazer um grande vídeo de skate. Claro que muitas
vezes temos ideias diferentes mas conseguimos falar bem um com
o outro e também, algumas vezes, com pessoas de fora, para
tentar encontrar sempre a melhor solução possível. Nunca chega a
haver choque, a única vez em que não estivemos de acordo numa
coisa foi a propósito de uma tour que fizemos de camião, sobre se
devíamos usar as manobras nas partes de cada um, ou fazer uma
edição especial só com essa tour… vão ver a resposta no vídeo.
JB Gillet Bs 180 Nosegrind
página 31 Bon Voyage
Daniel Espinoza AlleyOop Bigspin Flip
2013
A Cliché não só é conhecida por ter “trazido” ao mundo
grandes skaters, como também por criar uma reputação para
os filmers, fotógrafos e designers gráficos… porque é que
acham que isto acontece?
Jeremie: Acho que por estarmos situados em Lyon, fora
do centro mundial do skate, que é a Califórnia, estamos
habituados a trabalhar com muita gente diferente, que traz
sempre ideias novas.
Boris: Eu acho que a resposta está no nome… Cliché… (risos)
Neste novo vídeo da Cliché vai haver uma grande mudança
em relação ao “line up” dos últimos dois vídeos da marca. “Bon
Voyage” é um título que sugere o começo de algo novo para os
mais novos na equipa e o passar do testemunho para a malta
mais velha... é mesmo assim ou tem outro significado?
Boris: Para mim é apenas uma maneira de dizer a todos que o
skate é sempre bem melhor quando estás de viagem
Jeremie: Concordo
Flo Mirtain front Blunt Fakie Nosegrind
página 33 Bon Voyage
2013
Como dono da marca e como filmer, de certeza que ambos
têm ideias diferentes sobre a produção de vídeos on-line, a
avalanche de informação destes dias… às vezes levas meses
para filmar algo e quando o lanças é visionado em 10 ou 20
minutos e seguimos em frente para os próximos 100 vídeos do
dia, de que nem iremos lembrar-nos assim que o dia acabe.
Jeremie: Cada vez mais, a qualidade faz a diferença. Mas devia
haver alguma maneira de filtrar toda essa informação.
Boris: Sim, agora com as dslr e com pouco investimento toda a
gente pode filmar bem, o que provoca essa avalanche. Por um
lado é bom que todos se possam expressar através dos vídeos,
mas por outro está a chegar a um ponto um bocado louco.
Como o Jeremie disse, no futuro devia haver mais filtragem dos
bons vídeos.
Charles Collet Judo Air
Muita gente diz: “deixem que o skate fale por eles”, mas
sabemos que a Cliché sempre procurou personalidades fortes.
Agora com esta nova vaga de skaters, que valores lhes tentam
transmitir?
Jeremie: Para mim o principal é mesmo ser uma boa pessoa, há
por aí muitos skaters que andam bem, mas cada vez dou mais
valor à personalidade. Quanto aos valores, antes de entrarem
para a equipa levo sempre os skaters numa tour com o resto da
malta… a estrada faz o resto.
Boris: Penso que na Cliché a prioridade é sempre encontrar
grandes skaters mas, sim, antes disso têm que ter uma boa
atitude, ser bem dispostos e querer fazer parte deste grupo
maluco… não ser apenas mais um skater… é esse espírito que
lhes tentamos passar.
página 35 Bon Voyage
Lucas Puig backside 180 Fakie Five O
2013
Há cerca de onze anos estava com o team da Cliché em Lisboa
e, numa sessão, o Fred Mortagne perdeu uma cassete com uma
manobra do Mendazabal, que tinha passado horas a partir-se
todo para acertar… não foi nada agradável de ver. Algum
momento destes, menos bom, nas filmagens de “Bon Voyage”?
Jeremie: Sem dúvida esse momento não foi nada bom,
estávamos no início do “Bon Appetit”, mas essas memórias
ficam para sempre... para o “Bon Voyage” temos algumas
dessas histórias, mas todas boas... e ainda estão demasiado
frescas na memória para poder contá-las aqui...
Boris: (risos) Nada de especial, apenas me lembro de o Jeremie
se esquecer do Daniel Espinoza num spot e arrancar… teve de
voltar para o escritório da Cliché de skate.
página 37 Bon Voyage
Kyron Davis front Nosegrind AllTheWay
2013
Algumas últimas palavras para os skaters Portugueses?
Jeremie: Continuem a ler revistas!
Boris: Continuem a skatar e espero que gostem do “BON VOYAGE”!
página 38 Bon Voyage
Kevin Bradley front Feeble
Distribuição www.marteleiradist.com212 972 054 - [email protected]
Nestes últimos dez anos tenho acompanhado a evolução deste grande skater. Desde
miúdo que tem demonstrado grande talento a todos os níveis, uma personalidade
forte, trabalhador, responsável, lutador... e sabe bem o que quer da vida.
É um skater bastante completo, sempre com as antenas ligadas à procura de novos
spots. Atualmente já não duvido de nada que venha da parte dele: quando me liga
a dizer que quer ir a este ou àquele spot dar uma manobra, eu já nem discuto,
porque 99,9% das vezes são skatadas que rendem e no final voltamos para casa
com o sentimento de dever cumprido.
Tivesse ele mais tempo livre e a história tinha sido outra…. quem o conhece sabe
bem o que digo…
MIGUELGIL
2013
MIGUELGIL
página 41
entrevista Ruben Pinto
fotografia Rafael Morgado
2013
Miguel, vamos começar esta entrevista: apresenta-te.
Miguel Gil, 25 anos e vivo na Marinha Grande.
Pouca gente sabe, mas tu não és Português. Já andavas de
skate antes de vires para Portugal?
Sim, nasci na Alemanha. Em ‘99, eu e uns amigos andávamos
viciados no jogo Tony Hawk 1, que tinha saído há pouco
tempo... decidimos todos comprar um skate. Em 2000 mudei-me
para Portugal. Lembro-me que quando cá cheguei estava em
pulgas para que chegasse a transportadora da Alemanha,
pois estava lá o meu skate! Como o tinha comprado há pouco
tempo, queria muito que o meu primo o visse! Ele, mais tarde,
acabou por comprar um também… Depois fui fazendo amigos
e conhecendo melhor a Marinha Grande, que na altura estava
em altas a nível de skate... a partir daí nunca mais parei!
A Marinha Grande nessa altura estava em altas, como assim?
Sim, basicamente toda gente andava de skate! Eram mais que
as mães! Na altura havia a F.A.E., diziam que era o maior skate
parque Indoor da Península Ibérica! Ahaha, eu com 13 anitos
ficava maravilhado com as cenas que lá via, grandes tempos!
Skatava-se em qualquer sítio e em qualquer lugar, todos os
dias havia pessoal a skatar.
Como é o teu dia a dia? Consegues conciliar o trabalho com
o skate?
Bem, trabalho numa empresa de congelados e ultra-congelados,
sou distribuidor, ando sempre na estrada! Tenho a fezada de
encontrar muitos spots por aí...
No inverno é uma verdadeira merda! Não tenho horário para
sair, mas é por volta das 18h. Durante a semana é foda, pois
não tenho spot para skatar à noite, ando só aos sábados
e domingos, quando o tempo deixa! No verão já é mais
tranquilo, pois já escurece mais tarde e está bom tempo! Por
outro lado, tenho mais trabalho no verão, mas dá para tudo!
Quais os teus patrocínios atualmente?
Tribos Urbanas e My DC Crew
Frontside 5-0 a “derreter” o wax, num dos spots descobertos durante a “volta dos congelados”… ou algo do género
página 43 Miguel Gil
Estas satisfeito?
ya, bué! Um grande obrigado aos dois! Só falta material
técnico para poder voltar à carga!
Tiveste dois pro models na Fidelity, qual a sensação? Como é
que isso aconteceu?
Quando o Steve me perguntou se eu queria entrar para a
Fidelity, fiquei bastante contente. Falei depois com o André
(patron da Fidel) e ele motivou-me bastante, negociámos e lá
fiquei! O André tinha muitas ideias, talvez ideias a mais, mas
a intenção era boa. Fizemos várias tours, incluindo a viagem
à Alemanha ao Bright Trade Show, a Frankfurt, sempre tudo
pago! Uma experiência de top quality para mim! Na altura
deu-me bué pica, nunca tinha de me preocupar com boards...
a skatada é um pouco diferente quando temos um caixote
cheio de tábuas em casa! Pelo menos para mim era…
Eras um dos responsáveis em abrir o Vidigal (aquele mega
spot, a que muito poucos davam valor). O que tens a dizer em
relação ao encerramento deste espaço?
Foi muito chato o Vidigal fechar! O Vidigal foi um skate parque
muito especial para mim, muitos bons momentos que lá passei
com a tropa da Tribos Urbanas! Fiz muitos amigos, pessoal que
vinha de fora e isso... todas as minhas bases aprendi lá! Mas
o pessoal tem o seu trabalho, não pode deixar de comer para
skatar. Já o fiz, mas tinha 15 anos.
Como vês o skate nacional?
O nível está a aumentar em todo o país, cada vez mais estão
a aparecer novas promessas no skate nacional, aproveito para
mandar um props ao pessoal do RSC pelo excelente trabalho
que tem feito em todos estes anos!! Big Respect! Fico contente
quando vejo o pessoal a orientar-se lá fora e a representar
bem a tuga!
Depois deste frontside ollie o Miguel prestou tributo à história do skate com um slalom pelos pins, à moda antiga… clássico!
2013
Vigo sempre foi um dos seus destinos favoritos, curiosamente os backside tailslides flip out também sempre foram das nossas manobras favoritas do Miguel…
página 45 Miguel Gil
“TRABALHO NUMA EMPRESA DE CONGELADOS E ULTRA-CONGELADOS, SOU DISTRIBUIDOR, ANDO SEMPRE NA ESTRADA! TENHO A FEZADA DE ENCONTRAR MUITOS SPOTS POR AÍ…”
2013
Costumas ir a campeonatos?
Raramente, não que não queira, ou não curta, mas das últimas
vezes que quis ir, ou ia trabalhar, ou estava lesionado, ou então
não havia guita, tinha sempre qualquer merda para me foder!
Vamos ver se este ano vou a uma ou outra etapa, na desportiva!
O skate para ti é um lifestyle ou é apenas um desporto?
É um lifestyle, eu respiro skate a toda a hora! O skate fez de mim
o que sou hoje, não podia estar mais satisfeito. Ajudou-me a
ultrapassar muitas barreiras e deu-me uma perspectiva da vida
que só um skater consegue ver! Skate Or Die!
Já viram aquele skater no “Call of Duty” a dar crookeds? Pois, nós também não!
página 47 Miguel Gil
Dizem que o Miguel é
dos skaters nacionais
com os pés mais leves…
por isso é que parece
que vai a planar
tranquilamente neste
swicth ollie
2013
No panorama internacional quais os skaters que mais te influenciaram?
Quando comecei a skatar, Brian Wenning, Tom Penny, Pj Ladd, Eric
Koston, Andrew Reynolds... depois há aquelas “bestas”, Leo Romero,
Luan Oliveira, Shane Cross, Torey Pudwill, Nyjah Huston, etc, etc..
E no panorama nacional?
A primeira e a maior influência foi o Steve Carreira... Ruben Pinto,
Ricardo Preto, Hugo Marrazes, Brunito, Ricardo Fonseca e Francisco
Lopez.
É só velha guarda nas influências nacionais, isso tem alguma razão
de ser?
Foram os que mais me influenciaram, identifico-me mais com a
maneira como veem o skate, acho mais saudável, mas também
gosto de ver o Ruben Rodrigues, Helder Lima, Pedro Roseiro, João
Neto, Jorge Simões e a minha tropa de Leiria, que está sempre a
puxar por mim...
Como passas os teus poucos tempos livres?
Estou com o meus amigos! Vou passear o meu dog à praia, sou
viciado no Call Of Duty, passo bastante tempo também de volta do
meu Volkswagen! Ahaha mas o que gosto mesmo é de não fazer
um cú!!
Pois, tu andas sempre a inventar no teu carro, mas não és do tunning,
pois não?
Nada disso! Apenas gosto destes carros, como sou alemão nasci a
ver Volkswagens.
Agradecimentos
Os primeiros vão para a mulher mais poderosa da terra, a minha
mãe! Ao resto da minha família, incluindo a crew da Tribos Urbanas,
Steve e Ruben por me terem sempre apoiado em tudo! Aos meus
amigos, de perto e de longe, à DC Portugal (My DC Crew) e a todas
as marcas que já me patrocinaram, à Surge (Roskas e Sílvia), RSC,
Skatebyte (Vasco e Marta), Rafael Morgado, Nuno Marques...
página 49 Miguel Gil
“É UM LIFESTYLE, EU RESPIRO SKATE A TODA A HORA! “
Caso o Miguel tivesse ficado pela Alemanha esta manobra seria “zie transfer bluntz”
2013
página 53
Sejamos honestos. Se na altura em que as coisas no nosso país “alegadamente” andavam melhor, já eram
poucos... então agora nestes tempos de crise, fazer filmes de skate parece uma verdadeira loucura. O que
nos vale é que ainda há pessoas dispostas a arriscar e apostar no que mais gostam. Duo é o resultado da
colaboração do Vasco Neves com os skaters João Pinto e João Allen e mais uma prova de que não são precisos
“mundos e fundos” para que as coisas aconteçam.
entrevista Roskof
fotografia Vasco Neves
Como é que vocês se lembraram de embarcar nesta aventura
de filmar um vídeo em conjunto? Mesmo lá fora, não é comum
ver este formato. Pensaram em fazer algo diferente, ou na
vossa cabeça fazia sentido, uma vez que costumavam skatar
muitas vezes juntos?
Allen: Já nem me lembro bem como é que tudo começou, mas
na altura skatávamos sempre juntos, o Pinto, o Vasquinho e eu,
e como estávamos nas mesmas marcas fez sentido fazermos
um clip os dois. Acho que não pensámos propriamente em
fazer algo diferente, foi mais por fazer sentido sermos só os
dois. Apesar de ser um formato fora do normal, acho que ficou
bastante bem, pois se for um filme com muitos skaters só se vê
uma vez e se for só de um, rapidamente se esquece.
Pinto: É claro que o facto de skatarmos sempre juntos ajudou
muito neste projeto e como éramos patrocinados pela mesma
marca, era mais um elo de ligação. Mas ao ser só dois skaters
seria uma forma de mostrar o nosso nível de uma maneira
mais específica.
2013
Lembro-me de que quando o primeiro teaser saiu, o Duo
era para ser um projeto mais pequeno... mas acabou por
ser mesmo um filme. Quando iniciaram isto, alguma vez
pensaram naquilo em que se estavam a meter, ou as coisas
foram acontecendo naturalmente ?
Allen: As coisas foram acontecendo naturalmente, pois a ideia
inicial não era fazer um filme com uma parte completa de
cada. Simplesmente começámos a ver que conseguíamos fazer
melhor e fomos querendo mais, até que decidimos fazer partes
completas.
Pinto: Inicialmente iria ser uma vídeo-parte em conjunto, mas
ao longo do tempo foi-se filmando e fomos juntando material...
optámos por fazer uma parte para cada um de nós. E claro que
isto foi um dos fatores que atrasou a saída deste filme.
página 55 Duo
João Allen pole jam 50-50
2013
João Pinto drop
Apesar de vocês se conhecerem há bastante tempo, sei que
têm personalidades bastante diferentes. De certeza que o Vasco
durante este tempo, para além de amigo e filmer, também teve
que ser várias vezes psicólogo. Ele teve que vos dar muito na
cabeça para vos manter motivados, ou tinham bem noção do
que precisavam fazer?
Allen: Em relação ao Pinto não tenho bem a certeza, mas a
mim foi raro faltar motivação. Claro que houve alturas em que
não me apetecia muito andar a matar-me por manobras, mas
em regra geral tive sempre pica.
Pinto: O Vasco foi um elemento fundamental deste filme, sem
ele isto não se teria realizado. Nós tínhamos noção do que
era para ser feito, mas muitas das vezes a pica não era muita
e quem nós motivava era o Vasco. Mas o Vasco, além de ser
skater, filmer e fotógrafo é um grande amigo e um grande
psicólogo... ahahah muitas conversas de vida tive com ele e
muita coisa boa me ensinou e ajudou.
Durante o tempo que andaram a filmar era óbvio que estivessem
um pouco “abaixo do radar”, mas nunca deixaram de
aparecer... no entanto, e à boa maneira portuguesa, muita
gente comentava que vocês tinham deixado de andar, que
se tinham dedicado a outras coisas, como é que encararam
esses rumores? Alguma vez tiveram vontade de dizer umas
“verdades” aos treinadores de bancada?
Allen: Há sempre alguma vontade de responder aos “treinadores
de bancada”, mas como sempre soubemos que estávamos
a fazer um filme que, para os padrões portugueses, ia estar
razoavelmente bom, nunca ligámos muito.
Pinto: Sinceramente inicialmente fiquei um pouco revoltado.
Pelo facto de não ir a campeonatos, o pessoal já dizia por aí
que eu não andava de skate. Mas alguns skaters de Portugal
acham que o skate são campeonatos e que o que interessa
é ganhar e acertar as manobras, para mim isso não é skate.
Em relação aos “treinadores de bancada”, em vez de falarem
à toa, calem-se e andem de skate, porque falar é fácil, mas
ainda estou à espera de ver vídeo-partes de STREET, não de
SKATE PARQUES.
página 57 Duo
Assim que o DUO saiu, enviámos e mostrámos o vídeo a muita
gente de fora, que ficou boquiaberta com o vosso nível de
skate. A pergunta é: porque é não saíram mais de Portugal e
tentaram uma aventura lá fora? Essa ideia nunca esteve nos
vossos planos, ou as coisas simplesmente aconteceram assim?
Allen: Em relação ao Pinto não sei, mas para mim, como é
óbvio, essa ideia de ir lá para fora já esteve presente. No
entanto, não tenho nível suficiente para isso e mesmo que
tivesse já ia tarde. O skate não é um desporto que dê para
fazer até muito tarde, por isso ou se é muito bom, ou passado
pouco tempo é difícil de viver disto. Como sempre tive noção
disto, nunca tentei ir lá para fora para me safar, ando mesmo
porque gosto de skate.
Pinto: Nós saímos de Portugal, cheguei a viajar muito e a
participar em alguns campeonatos, o que me fez “abrir a
pestana”, mas nunca fui um skater de campeonatos e, aliás,
eu nunca gostei muito de participar, mas gostava muito do
convívio entre o pessoal... coisa que hoje em dia não se vê
muito, querem é ser os melhores.
Claro que esteve nos meus planos, ou nos meus sonhos viver
do skate, mas o tempo passa e percebemos que não é fácil e
as coisas lá fora estão num nível quase inatingível.
2013
Caso não saibam, o João Pinto faz
acupunctura profissionalmente, caso
para dizer que deu um belo tratamento
a este curb smithgrind
página 59 Duo
xiiii… quando for grande quero dar
frontboards como o Allen… pensou,
de certeza, o miúdo
Quais foram para vocês os momentos mais marcantes
na aventura do DUO? Algumas boas histórias de
bastidores?
Allen: Houve tantas histórias que é me difícil estar a
referir uma. Desde polícias, a palhaçadas, a histórias
cómicas, passou-se tanta coisa em 2 anos que nem
me lembro de uma em específico. Acho que os
momentos mais marcantes foram quando saíram as
melhores manobras do filme, ou as que custaram
mais a sair. As ‘jolas a seguir a essas manobras
foram, sem dúvida, o melhor.
Pinto: Bem, foi tanto tempo que aconteceram muitas
aventuras e claro que houve momentos bons,
mas também momentos maus. Houve sempre os
problemas que qualquer skater que quer filmar em
street tem: com pessoas, com polícias... depois, às
vezes, eu sou um bocado impulsivo e agressivo e isso
não ajuda muito, mas aos poucos as coisas foram
correndo de uma forma divertida e gira.
Quando viram a edição final, de certeza que tiveram
aquele sentimento de dever cumprido, qual foi a
primeira coisa que pensaram fazer assim que o Vasco
vos mostrou a edição final?... festa rija? Ahaha
Allen: A primeira coisa, mal vi o filme a primeira vez,
foi dar um “props” ao Vasquinho. Já sabia as minhas
manobras e as do Pinto, mas ver aquilo tudo montado
com uma alta edição foi uma sensação que não
consigo bem explicar. O que fiquei a pensar depois
foi na festa de lançamento... ahaha
Pinto: Claro, festa muito rija... ahahah foi bom ter
terminado, de certa forma foi um alívio para os três,
já estávamos um bocado saturados de tanto tempo
de filmagens.
O DUO é a prova de que ambos têm, ainda, muito
bons anos de skate pela frente. Que projetos têm para
o futuro próximo e o que gostavam que acontecesse
na cena de skate nacional?
Allen: Quanto a mim, gostava de lançar mais umas
partes de street, o máximo que conseguir. Duvido que
faça outro filme de que goste tanto como este, porque
este foi feito com duas das pessoas de quem eu mais
gosto e com quem eu mais queria fazer um filme...
mas ainda quero continuar a lançar partes.
A nível nacional, gostava que a mentalidade de
campeonatos da geração mais nova mudasse e que
se virassem para o que, na minha opinião, é skate,
que é ir para a rua com os amigos. Também gostava
que os campeonatos voltassem ao que eram há uns
anos, uma desculpa para o pessoal se juntar todo e
curtir, em vez de tentar ganhar a todos os custos.
Pinto: Para o futuro estou a pensar em fazer uma entrevista
para a Surge e claro que quero continuar a mostrar o
meu nível de skate através de outra vídeo-parte... eheh.
Mas o que eu gostava que acontecesse no skate
nacional é que o pessoal deixasse de ser picado e
começasse a olhar para si próprio, porque falar do
vizinho é sempre mais fácil.
2013
Durante o tempo de rodagem do Duo,
correu um rumor de que o João Pinto
tinha deixado de andar de skate…
yá! dedicou-se ao parkour…
backside wallride
página 61 Duo
Agradecimentos, últimas palavras para os leitores da Surge e,
porque não, também para os “treinadores de bancada”...
Allen: Os meus agradecimentos vão em primeiro lugar para
o Vasquinho e para o Pinto, porque sem eles não havia filme.
Queria também agradecer aos meus pais e à minha irmã, sem
eles também não havia filme nenhum e um agradecimento
especial ao Humberto, senão também não tinha havido festa
nenhuma. De resto, agradeço a quem skatou mais comigo
durante o filme, o Piui, o Coutinho e o Pi e, claro, às marcas
que me patrocinaram durante o projeto: a Ashbury, a Analog e
a Gravis, a Sample e a Slide in. E também a toda a gente que
foi à estreia, espero que tenham gostado.
Pinto: Agradeço a toda a gente que sempre acreditou em mim
e que me ajudou e motivou para a realização deste projeto.
Essas pessoas são: o Vasco, o João Allen, o Militar, o Thomas
e a minha namorada. Para os leitores da Surge, espero que
gostem do nosso trabalho e que sirva de exemplo de que skate
é para curtimos e para nos sentirmos bem e não para ficarmos
chateados e picados.
Para os “treinadores de bancada” quero que se fodam todos e
parem de ser picados, porque no fundo são pessoas infelizes
com elas mesmas. Obrigado à Surge.
página 62 Duo2013
João Allen ollie
BUILT TOGRIND
2013
texto e fotografia João Sales
BUILT TOGRIND
Há livros que são intemporais. Este exige respeito. É um olhar pelo desenvolvimento
e evolução dos eixos de skate, pelo skateboarding no geral e com o testemunho
dos skaters profissionais, que os usam com orgulho.
página 65
O livro está cheio de excelentes fotos, desde o início da marca
até aos dias de hoje. O nascimento de um ícone, as lendas
que são apoiadas pela marca, os arquivos dos anúncios
e muitas histórias desconhecidas do grande público, bem
como a explicação da mística e do fanatismo devoto que
estão associados aos Indy, são alguns dos conteúdos nas 260
páginas.
A 4 de julho de 1978 (dia da independência dos EUA) os
amigos Fausto Vitello (RIP), Eric Swenderson, Jay Shiurman
e Richard Novak fundaram a Independent Truck Company,
em S. Francisco. Como o Fausto já tinha experiência a
trabalhar para a Ermico, levou o seu conhecimento para a
nova empresa. A concorrência na época era forte: Tracker,
Gull Wing, Benett, entre outras, dominavam o mercado. Esta
nova sociedade alugou, na periferia da cidade, um barracão
que tinha sido utilizado na produção de armamento para o
exército americano. Aproveitaram as infraestruturas existentes,
como prensas e fornos, e começaram a fabricar os eixos Indy.
Embora não haja uma alteração significativa desde os “Stage
1” iniciais, até aos “Stage 10” de hoje, os eixos tornaram-se
mais leves, mas sempre com a mesma característica original:
“Built to Grind”.
A marca agora liderada pela distribuidora NHS, desenvolveu,
para além dos eixos, uma linha de roupa, mochilas e alguns
acessórios originais.
Para quem o skate faz parte da sua vida, penso que este é um
livro obrigatório para ter na mesa de cabeceira.
página 66 Built to grind2013
2013
Já viram a quantidade
de portas que temos de
passar para ver este switch
flip do Nuno Relógio?
fotografia Mascarenhas
página 69
2013
Um tributo aos deuses na mini-réplica
portuguesa da pirâmide mexicana
de Chichen Itza… Diogo Costa alley
hoop backside flip
página 71 Anti-estático
2013
página 73 Anti-estático
Raphael Alves varial heel num spot
tão secreto que nunca mais lá
conseguimos chegar…
fotografia Mascarenhas
2013
Ruben Rodrigues Nollie Hardflip com tanto pop
que ia gastando a “película” da máquina digital
fotografia Hugo Silva
página 75 Anti-estático
2013
O Lukas Danek veio da República
Checa especialmente para dar este
switch frontside flip em Lisboa… ok,
também veio de férias, mas isso não
é importante para o caso…
fotografia Mascarenhas
página 77 Anti-estático
2013
Um grande obrigado à malta da
jardinagem da Câmara Municipal
do Barreiro por ter aparado a relva
de modo a que este 50-50 do Thayan
ficasse tão bem na foto
fotografia Mascarenhas
ANTIESTÁTICO
“Bom filho à casa torna”…Ruben
Gamito numa manobra de gente
grande no spot de St.André que o
viu dar os primeiros passos no skate,
frontboard flip out
fotografia Hugo Silva
página 79 Anti-estático
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2013
DAS VIRTUDESDO SKATETem-se dito que a atual crise é uma excelente oportunidade para questionar os modos de vida e (re)descobrir os prazeres mais
simples e genuínos. De agora em diante, e por diversas razões, seremos forçados a adotar modos de vida mais criativos, frugais
e sustentáveis, o que constituirá um novo paradigma de relação de cada um consigo próprio, com os outros e com o habitat.
Ao longo da história, há inúmeros exemplos de mudanças ou invenções induzidas por crises, havendo uma, com cerca
de meio século, especialmente singular – a invenção do skate. Foi na sequência de uma “crise” de ondas na Califórnia
que os surfistas criaram uma alternativa imune ao estado do mar – o skate. Mais tarde, no início da década de setenta, e
novamente na Califórnia, uma longa seca (outra crise) forçou os proprietários de piscinas a deixá-las vazias, abrindo espaço
à descoberta adicional de que o skate não tinha de se cingir às ruas, podendo também praticar-se no interior de piscinas
vazias, com toda a emoção e velocidade associadas (naquela época, as piscinas tinham formatos propícios, pois tinham
fundos “arredondados”).
O skate veio permitir uma expansão criativa no modo como nos relacionamos com o espaço. Uma simples tábua com quatro
rodas, altamente acessível e capaz de se adaptar quase a qualquer meio, foi o suficiente para que ocorresse uma explosão
de alegria e sentimento de liberdade nas ruas, em muitos casos em locais suburbanos e desoladores.
O seu bailado ondulante, deslizante, por vezes “levitante” (de tão leve a tábua), era verdadeiramente disruptivo face aos modos
habituais de relação com o espaço. Ao fazer com que uma rampa tenha deixado de ser apenas uma rampa, uma piscina apenas
uma piscina, um corrimão apenas um corrimão, ou um banco apenas um banco, o skate alargou a realidade, “surrealizou” o
espaço. No fundo, julgo que a sua má fama se deverá mais a essa “radicalidade” do que ao comportamento inadequado de
alguns skaters (este mais relacionado com a sua juventude), ou ao facto de os skates poderem contribuir para algum desgaste
material do habitat (é consensual que, com certas regras, o espaço público deve ser o mais vivido possível). De qualquer modo,
e como tantas vezes acontece, o estigma abriu espaço à afirmação de uma subcultura, o que reforçou ainda mais o preconceito.
Em 2002, convicto de que o skate combina um conjunto de virtudes interessantes e invulgares, e já com 92 anos de idade, Edmund
Bacon (arquiteto e “ex-mayor” da cidade) atravessou o “LOVE Park”, de Filadélfia, de skate, em protesto contra a sua proibição
naquele local. Por vezes penso nesse gesto, nesse espírito livre, e é como se eu próprio atravessasse o “LOVE Park” de skate.
João Wengorovius Meneses
Como skaters, assumimos que a nossa visão do mundo que nos rodeia é um pouco diferente... não por termos capacidades
cognitivas especiais, mas sim pelo facto de que quando olhamos para os elementos que estão à nossa volta, deixamo-nos levar
facilmente pela imaginação… curiosamente, poucas vezes falamos de como as pessoas que nos rodeiam nos observam e de
como vêm esta nossa relação com o ambiente… o seguinte texto, da autoria de João Wengorovius Meneses, publicado na
revista Ecliesia e agora partilhado connosco pelo autor, é uma visão pessoal daquilo que nos distingue, skaters, sob o ponto de
vista da nossa envolvência com o meio urbano, e de como os skaters vêem o mundo... é uma visão única, de alguém que não
anda de skate. É sempre bom conhecer a forma como nos encaixamos como skaters nessa grande selva urbana... para isso,
por vezes, temos de ouvir outras vozes que não a nossa.
página 83
DAS VIRTUDESDO SKATE
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