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TCC Rodrigo Final

Date post: 05-Jul-2018
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  • 8/16/2019 TCC Rodrigo Final

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS 

    CAMPUS ARAPIRACA 

    UNIDADE EDUCACIONAL DE PALMEIRA DOS ÍNDIOS 

    CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA 

    RODRIGO FERNANDES MOREIRA GLUCK 

    A EDUCAÇÃO SOB UMA PERSPECTIVA EVOLUTIVA

    COMPORTAMENTAL 

    Palmeira dos Índios 

    2015 

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    RODRIGO FERNANDES MOREIRA GLUCK 

    A EDUCAÇÃO SOB UMA PERSPECTIVA EVOLUTIVA 

    COMPORTAMENTAL 

    Trabalho de Conclusão de Cursoapresentado ao Curso de Graduação emPsicologia da Universidade Federal de Alagoas, Campus  Arapiraca, UnidadeEducacional de Palmeira dos Índios, para aobtenção do título de Bacharelado/Formação em Psicologia. 

    Orientador: Prof. Me. Gérson Alves da Silva

    Júnior  . 

    Palmeira dos Índios 

    2015 

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    RODRIGO FERNANDES MOREIRA GLUCK 

    A EDUCAÇÃO SOB UMA PERSPECTIVA EVOLUTIVA 

    COMPORTAMENTAL

    Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Examinadora para obtenção

    do Grau de Bacharel/Formação em Psicologia, no Curso de Graduação em

    Psicologia, da Universidade Federal de Alagoas, Campus  Arapiraca, Unidade

    Educacional de Palmeira dos Índios. 

    Palmeira dos Índios, _____ de ____________ de 2015 

    BANCA EXAMINADORA 

     _________________________________________________  

    Orientador: Prof. Me. Gérson Alves da Silva Júnior  

     _________________________________________________  

    2ª Examinador: Prof. Me. Luiz Wilson Neto 

     ___________________________________________________  

    3ª Examinador: Prof.ª Ma. Caroline Cavalcante Padilha 

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    Dedico este trabalho as minhas filhas Anahí e Aiyra. Elas são minha continuidade.

    Que, através da educação que vou lhes dar, elas possam se tornar pessoas

     produtivas e preocupadas com um futuro melhor.

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    “Fala-se tanto da necessidade de deixarum planeta melhor para os nossos filhos,e esquece-se da urgência de deixarmosfilhos melhores para o nosso planeta.”(Autor desconhecido) 

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    RESUMO 

     A presente monografia apresenta uma visão da educação sob o enfoque de umapsicologia evolutiva. Essa psicologia tem como alicerce o evolucionismo propostopor Charles Darwin para o entendimento do homem e do mundo. Alicerça-se,também, no behaviorismo radical de Skinner, no que tange ao desenvolvimento deuma ciência de interferência no comportamento humano: a análise docomportamento. A educação comumente é tratada como um fenômeno estritamentesocial; essa visão unilateral muitas vezes obscurece o entendimento da relaçãoeducacional. Dessa forma, propostas que trazem resgates de elementosfilogenéticos da espécie humana e propõem uma ciência que possibilita a

    interferência em nível ontogenético tornam-se capazes de não só esclarecerelementos que são ocultados em análises estritamente sociais, mas também deidentificar variáveis e criar metodologias para a otimização do processo de ensino eaprendizagem na espécie humana. A psicologia evolutiva comportamental mostra-secapaz de discutir, analisar e modificar as variáveis da educação em nosso contexto. 

    Palavras-chave: Educação, Análise do Comportamento, Evolucionismo. 

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    ABSTRACT 

    This monograph presents a vision of education from the standpoint of a behavioralevolutionary psychology. Psychology that which is founded the evolution proposed byCharles Darwin in the understanding of man and world. As also is grounded inbehaviorism Skinner's Radical regarding the development of an interference sciencein human behavior, the behavior analysis. Education is commonly treated as a purelysocial phenomenon, and this one-sided view often ends up obscuring theunderstanding of the educational relationship. Thus proposals that bring redemptionof phylogenetic elements of the human species, and also propose a science thatenables interference in ontogenetic level is able to not only clarify elements that arehidden in strictly social analysis. But it is also able to identify variables and create

    methodologies for optimizing the process of teaching and learning in humans. Thus,behavioral evolutionary psychology, can discuss, analyze and modify the variablesfound in education in our context. 

    Key Words: Education, Behavior Analysis, Evolutionism. 

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    SUMÁRIO 

    1 INTRODUÇÃO  10 

    2 SURGIMENTO DA VIDA  13 

    1.1 Surgimento da Aprendizagem  18 

    2.2 Surgimento do Processo de Ensino  27 

    2.3 Ensino a partir da Imitação  30 

    2.4 A Cultura e a Função de Transmissão de Conhecimento  35 

    3 DESENVOLVIMENTO DE REPERTÓRIOS COMPORTAMENTAIS

    NA VIDA DE INDIVÍDUOS 39 

    3.1 O Sistema Educacional como Agência Controladora 45 

    4 BASES EPISTEMOLÓGICAS DA ANÁLISE DO

    COMPORTAMENTO  54 

    4.1 Perspectiva da Educação numa Visão da Análise do

    Comportamento  58 

    5 CONSIDERAÇÕES FINAIS  67 

    REFERÊNCIAS  69 

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    1 INTRODUÇÃO 

    Por ser a educação uma temática inerente à espécie humana nos dias atuais,

    ela se constituiu de uma maneira multidisciplinar. A educação permitiu que várias

    linhas epistemológicas lançassem seus olhares para ela e buscassem desenvolver

    propostas teóricas para lidar com ela.

    Dessa forma, a educação é uma temática corriqueira em periódicos

    científicos, seja na Antropologia, Pedagogia, Sociologia, Psicologia, entre muitas

    outras ciências. Cada uma dessas ciências lança seu olhar e oferta suas

    metodologias para lidar com a temática da educação. Além disso, a Psicologia é

    uma ciência que permeia muitas bases epistemológicas, pois não possui somente

    uma corrente filosófica de alicerce, mas sim inúmeras, como: Materialismo,

    Idealismo, Positivismo, Fenomenologia, Pragmatismo, Empirismo, Naturalismo etc. 

    Cada uma dessas correntes que discutem a educação dispõe de uma

    perspectiva acerca do homem e do mundo, assim como sobre seus fenômenos.

     Algumas dessas correntes são próximas, outras, nem tanto; isso permite que a

    educação tenha diversos tipos de olhares e maneiras de abordá-la: 

    O predomínio recente de abordagens ancoradas no socioconstrutivismo e

    no cognitivismo tem reduzido o espaço para que as propostas da Análise

    Experimental do Comportamento (AEC) sejam acolhidas na área da

    educação. (CARRARA, 2004, p. 1). 

    Este trabalho promove um resgate evolutivo da espécie humana, com o intuito

    de compreender a proposta da análise do comportamento da educação. Para issose faz necessária uma compreensão da relação do organismo com o ambiente, e

    sobre a construção desse organismo nessa interação. Nem sempre é fácil entender

    tal relação. Torna-se fundamental o levantamento das bases filogenéticas até a

    aproximação com a sociedade atual. 

    Intenta-se lançar um olhar incomum, pouco encontrado nos periódicos de

    psicologia. Primeiramente, parte-se da premissa da educação como, também, um

    elemento evolutivo, e não apenas um fenômeno exclusivamente social, que ohomem desenvolveu. Para isso se faz necessário evocar uma teoria evolutiva, mais

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    especificamente, a teoria da evolução de Charles Darwin, com o intuito de alicerçar

    essa perspectiva da educação como um elemento e uma estratégia evolutiva

    desenvolvida na historia da vida como um todo.

    Outra linha que tem como uma de suas bases a teoria da evolução e que será

    a perspectiva deste trabalho é a análise do comportamento. Skinner (1974) já

    postulava que a análise do comportamento é a ciência da aprendizagem, sendo a

    aprendizagem o elemento preponderante na temática da educação. 

    Skinner escreveu um livro intitulado Tecnologia do Ensino (1974) que propõe

    diversas metodologias para auxiliar no desenvolvimento da tarefa de educar e

    ensinar a nossa espécie, além de propiciar um olhar funcional para os elementos

    que constituem a educação. Quando se estuda o processo evolutivo da espécie humana constatam-se

    algumas dificuldades. Um dos fatores que dificultam a compreensão de tal

    posicionamento de pesquisa é o olhar comparativo que se tende a adotar em

    relação à conjuntura atual. Caso se estude, por exemplo, a evolução do processo

    linguístico na espécie humana, quando se comparam as informações das formas

    rudimentares de comunicação que os australopitecos possuíam com a quantidade

    de línguas e formas que atualmente a espécie humana possui, duvida-se dacredibilidade das informações que estão sendo levantadas de forma evolutiva. Daí

    ser necessário compreender o processo como gradual, lento e decorrente da

    seleção natural. 

    Com a área de educação não é diferente. Falar de ensino, educação e escola

    de forma evolutiva pode parecer um erro. Esse regaste histórico evolutivo serve para

    esclarecer pontos atuais, que muitas vezes são negligenciados. 

    Pinker (2005) já ressaltava os perigos de se ignorar um dos polos da análisedos fenômenos humanos. Não se deve tentar compreender tudo com um olhar

    biológico e estrutural, e muito menos como uma construção somente social. A

    educação e seus frutos são sim construções de processos históricos e sociais, mas

    com um propósito amparado nas estruturas e condições de sobrevivência da

    espécie. 

     As perspectivas da análise do comportamento e do evolucionismo

    erroneamente estão comumente associadas a um reducionismo dos assuntos

    ligados à espécie humana, como se fossem simples contributos de uma perspectiva

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    meramente biológica. Isso se deve à falta de conhecimento da maioria desses

    críticos a respeito dessa perspectiva. 

    Com isso se faz necessário um entendimento de como o evolucionismo e a

    análise do comportamento entendem o que é o homem. Para isso, primeiro deve-se

    entender o que é a vida e como ocorreu esse processo de lapidação evolutiva até se

    chegar ao resultado enquanto espécie que temos hoje. 

     Além disso, cumpre fazer o levantamento do que é a aprendizagem nessa

    perspectiva evolutiva comportamental, considerando a aprendizagem de forma

    funcional e adaptativa, bem como o ensino, a cultura, a sociedade, o sistema

    educacional e, por fim, a educação. 

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    Enquanto espécie, carregamos muitas características de essencial

    importância para a nossa adaptabilidade no ambiente. Essas características foram

    moldadas evolutivamente. Exemplo disso é a capacidade de se comunicar de

    diversas formas: gesticulação, rugidos, posturas corporais e verbais. A comunicação

    verbal é resultado de adaptação e desenvolvimento das cordas vocais, além de uma

    maior utilização da área neuronal na comunicação, o que posteriormente resultou no

    desenvolvimento da língua falada (Pinker, 2004). 

     A capacidade de se locomover com duas pernas (o bipedalismo) também é

    uma característica pontual que possuímos; ela tornou possível a liberação das mãos

    para a exploração de outras atividades, a ponto de se desenvolver movimentos

    precisos e delicados. Esses movimentos foram primordiais para o desenvolvimentode ferramentas que auxiliaram na sobrevivência da espécie. 

     A característica de formar grupos e estabelecer residência fixa, no período

    Neolítico, foi importante no sentido de tentar controlar o ambiente, para que esse

    forneça subsídios para a sobrevivência de grupos de nossa espécie. Reduziu -se

    assim o risco de tentar diariamente a busca por alimento através da coleta ou da

    caça, fatores responsáveis por grande mortalidade dos seres humanos. Dessa

    forma, foi possível maximizar a produção humana, assim como diminuir sua taxa demortalidade (PINKER, 2013). 

    O desenvolvimento de um cérebro que foi capaz de delimitar grupos de

    neurônios específicos, responsáveis por coordenar outros grupos de neurônios,

    proporcionou a capacidade de observar o que se vai fazer, antes de fazê-lo. Essa é

    uma das características do que chamamos hoje de consciência. A consciência é

    responsável pelo fato de, hoje, sermos capazes de analisar nossa própria condição

    enquanto espécie, e não só agirmos por exigências ambientais (PINKER, 1997). Outro aspecto relevante foi o surgimento da cultura. Esta, por sua vez, é

    responsável pelo legado de conhecimentos ao longo dos tempos, o que foi útil para

    que determinados grupos conseguissem o domínio do ambiente em que habitam.

    Com isso a espécie humana foi capaz de diminuir a aquisição de conhecimento

    através de tentativa e erro. Esse assunto será muito discutido ao longo do trabalho,

    pois é um ponto de análise no processo de ensino e aprendizagem. 

    Todos esses fatores e outros não citados contribuíram para que a espécie

    humana desenvolvesse as características que propiciaram seu lugar como

    dominante na Terra. São frutos do que Charles Darwin (2009) chamou de Evolução,

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    e Dawkins (2003) definiu como Relojoeiro Cego. Darwin tratou o evolucionismo

    como uma lei no sentido de força que o ambiente emprega nos organismos,

    mediante a qual somente os mais fortes sobrevivem1. Desde o surgimento da vida

    ocorrem pressões do ambiente que selecionam características nos organismos para

    garantir a vida.

     Até hoje não é claro como se deu a partida inicial do processo da vida, mas

    as evidências do processo da evolução depois desse ponto de largada são

    indiscutíveis. De acordo com Bilharinho (2012), desde 3,9 bilhões de anos ocorrem

    evidências químicas acerca da vida, decorrentes da análise do carbono 13 e do

    carbono 12, que asseguram as mudanças de matéria inorgânica para orgânica. 

     Ainda segundo Bilharinho (2012), há evidencias de fósseis bacterianosdatados de 3,5 bilhões de anos que foram encontrados na Austrália e podem

    pertencer a algas cianofíceas. As teorias do surgimento da vida são quase em sua

    maioria voltadas para o ponto inicial situado nos mares. Algumas perspectivas vão

    apontar para pequenas poças d’água paradas, que eram protegidas dos raios

    ultravioleta; com isso houve um aumento de oxigenação na água, o que propiciou o

    inicio da vida. Já outras correntes defendem que a vida surgiu nas profundezas dos

    oceanos, numa alta temperatura. Existem até estudos que apontam que a vida veio do espaço, não de

    alienígenas, mas que matérias químicas indispensáveis para a formação da vida

    provieram de impactos de rochas espaciais como meteoros e meteoritos, nos quais

    estavam contidos esses elementos químicos (BILHARINHO, 2012).

     A teoria que mais tem validação em meios científicos, de acordo com Dawkins

    (1976), é a denominada “sopa da vida”. Em determinados momentos da

    transformação do nosso planeta, em condições ambientais adequadas detemperatura, elementos químicos disponíveis, rotação do eixo do planeta e

    atmosfera, ocorreu o que Dawkins (2003) chama de milagre: houve a junção de

    elementos químicos específicos, que esse estudioso convencionou chamar de “sopa

    da vida”. Ainda segundo Dawkins, essa sopa é a responsável pela primeira

    manifestação de vida, pois constituiu os primeiros replicadores.

    Num dado momento, uma molécula particularmente notável foi formadaacidentalmente. Nós a chamaremos a Replicadora. Ela não precisa

    1 Fortes, nesse caso, no sentido de adaptados às exigências do ambiente.

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    necessariamente ter sido a molécula maior ou a mais complexa existente,mas possuía a propriedade extraordinária de ser capaz de criar cópias de simesma. Isto talvez pareça um tipo de acidente muito pouco provável deacontecer. E de fato foi. Foi extremamente improvável. Durante a vida deum homem, coisas assim improváveis podem, na prática, ser tratadas como

    impossíveis. É por isso que você nunca ganhará um prêmio alto nasapostas de futebol. Mas, em nossas estimativas humanas do que é provávele do que não é, não estamos acostumados a lidar com centenas de milhõesde anos. Se você preenchesse cartelas de apostas toda semana durantecem milhões de anos, provavelmente ganharia várias boladas. (DAWKINS,1976, p. 13). 

    Os replicadores seriam, como Dawkins (1976) afirma, a primeira forma de

    elementos que tiveram a capacidade de se autorreplicar, ou seja, de tirar uma cópia

    de si mesmos. Para a Biologia, o sentido de vida é justamente a capacidade de tirar

    copias de si mesmo. Hoje em dia, nós humanos fazemos isso; nossos filhos sãouma cópia nossa. Devido à pressão ambiental ao longo dos tempos, foi bem

    sucedida a estratégia de misturarmos nossos genes com os de outra pessoa. Nesse

    caso, nossos filhos são uma cópia de nós mesmos e de outra pessoa, que dão

    continuidade aos nossos genes junto com os dessa outra pessoa.

    Os replicadores iniciais foram capazes de lançar essa capacidade de se

    automultiplicar. Bilharinho (2012) assevera que esses replicadores eram uma

    espécie rudimentar de RNA, o que posteriormente deu lugar ao DNA. A partir desseponto, a vida foi se adaptando às exigências do meio e criando inúmeras estratégias

    de adaptação: escamas, pele, penas, ossos, cartilagens, asas, patas, nadadeiras,

    dentes, picos, olhos, pulmões, intestinos, ovos, glândulas mamárias etc. Essas e

    outras formas foram sendo moldadas aos poucos, durante bilhões de anos. 

    Os replicadores começaram não apenas a existir, mas a construirenvoltórios para si, veículos para sua existência ininterrupta. Osreplicadores que sobreviveram foram aqueles que construíram máquinas de

    sobrevivência para aí morarem. As primeiras máquinas de sobrevivênciaprovavelmente consistiram em nada mais do que um revestimento protetor.Mas viver tornou-se inexoravelmente mais difícil à medida que novos rivaissurgiam com máquinas de sobrevivência melhores e mais eficientes. Estasse tornaram maiores e mais elaboradas, o processo sendo cumulativo eprogressivo... Esses replicadores agora recebem o nome de genes, e nóssomos suas máquinas de sobrevivência. (DAWKINS, 1976, p.14). 

     A essa característica física e estrutural que cada organismo foi desenvolvendo

    para sua luta pela sobrevivência, Dawkins (1976) chama de veículo. Para o autor, os

    replicadores iniciais geraram o que chamamos hoje de genes, e são esses genes

    que vão levar as letras que irão formar um livro (organismo). Ridley (2001) define

    apenas quatro letras que escreverão todos os livros das diversas espécies em nosso

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    planeta. Essas letras são definidas como ácidos desoxirribonucleicos2 e são elas: A

     – Adenina, C – Citosina, G – Guanina, T – Timina. Esses ácidos

    desoxirribonucleicos, por sua vez, vão formar o que chamamos de aminoácidos, e

    esse aminoácidos3 resultarão no que conhecemos como proteínas4. O que Dawkins

    chama de veículo são os corpos dos organismos criados a partir das sínteses das

    proteínas, que têm como objetivo inicial a proteção do organismo.

    Os veículos chegaram até um ponto em que somente a proteção dos

    replicadores não era o bastante; assim, de acordo com as pressões ambientais que

    iam recebendo, características físicas iam se modificando, levando ao surgimento

    das diferenças estruturais que conhecemos hoje em dia. Com as modificações

    estruturais distintas, algumas áreas foram sendo especializadas para determinadastarefas. Há um momento nessa especialização estrutural que nos interessa: o

    surgimento do sistema nervoso central. 

    Graças a esse sistema, espécies que o possuem foram capazes de dar um

    passo a mais na escala evolutiva. Vejamos como esse processo se constituiu. 

    2.1 Os subsídios para o surgimento da aprendizagem 

     A partir do surgimento da vida, os organismos tiveram de desenvolver, cada

    vez mais, formas de estratégias que facilitassem a sua adaptação às exigências

    ambientais. As estratégias iam mudando a cada momento evolutivo. Essas

    mudanças na estrutura dos organismos eram cumulativas e serviam como ponte

    para o surgimento de outras características. No começo, foi importante para os

    organismos que eles desenvolvessem os movimentos, pois com isso eles poderiamexplorar melhor o ambiente, tornando-se capazes de buscar mais recursos. Um

    exemplo rudimentar do surgimento da movimentação veio com as amebas. Elas

    tinham a capacidade de se aproximar de elementos reforçadores e importantes para

    2 É um composto orgânico cujas moléculas contêm as instruções genéticas que coordenam o desenvolvimento

    e o funcionamento de todos os seres vivos e de alguns vírus, e que transmitem as características hereditáriasde cada ser vivo.3

     São moléculas orgânicas formadas por carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio. São os aminoácidos, queformarão as proteínas.4 As proteínas são substâncias que formam todos os seres vivos. São os mestres de obra e também os materiaisde construção, formadas a partir de aminoácidos.

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    a vida, assim como a capacidade de, se preciso, afastar -se de elementos que

    representassem ameaça. O deslocamento propiciou uma nova escala evolutiva. 

    O primeiro comportamento foi, presumivelmente, movimento simples –como o da ameba, avançando para um novo território e, consequentemente,aumentando suas chances de encontrar materiais necessários para suasobrevivência. Depois, presumivelmente, veio a sensação, que possibilitariaao organismo se afastar de estímulos nocivos e se aproximar de materiaisúteis. A atribuição de diferentes órgãos à sensação e à mobilidade deve terlevado à evolução de estruturas conectivas e, eventualmente, a tropismos ereflexos. (SKINNER, 1987, p. 3). 

     As características de deslocamento e de descobrimento dos ambientes é uma

    estratégia importante no desenvolvimento evolutivo da vida. Tal estratégia perdura

    até hoje. Por um simples motivo: quem conhece mais caminhos e tem maisexperiências na relação com o ambiente possui um maior leque de opções para

    responder às exigências ambientais.

    Nos humanos, um exemplo dessa estratégia pode ser constatado nas tribos

    de caçadores coletores5. Os membros das tribos que conhecem uma maior extensão

    de terra possuem um maior conhecimento sobre os elementos que os cercam, como

    rios, fontes de alimentos e regiões perigosas. Dessa forma, maior será a experiência

    em discriminar plantas e animais, tanto comestíveis, como também os queapresentam perigo à vida.

    Com o passar dos tempos outras estratégias foram sendo desenvolvidas para

    uma melhor adaptação das espécies ao ambiente. No caso do Homo sapiens, houve

    um momento evolutivo que foi importante para a nossa espécie estabelecer

    residência, graças ao advento da agricultura e da pecuária (isso se deu no Neolítico,

    há aproximadamente 10 mil anos), que propiciaram um acesso maior a alimentos

    com menos esforço e risco à vida. Com isso nossa espécie pode ampliar edesenvolver ainda mais a capacidade de adaptação. 

    No tópico anterior ficou evidente a evolução das estruturas físicas por meio de

    mudanças cumulativas das espécies. Pouco a pouco, novas exigências ambientais

    foram moldando novas estruturas físicas. Com as estratégias comportamentais as

    5 São tribos que vivem de caça ou coleta e não primam por utilizar a estratégia de pecuária e agricultura.Inicialmente essas tribos eram nômades.

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    mesmas regras se aplicam; as mudanças das ações dos organismos são

    cumulativas e vão surgindo em sua relação com o meio. 

    Para entender os aspectos comportamentais, é necessário primeiro observar

    que alguns comportamentos que vão surgindo nas espécies são tão bem-sucedidos

    que são padronizados nas derivações de formas de vidas posteriores. Lançando

    mão de um exemplo apresentado anteriormente, a capacidade apresentada pelas

    amebas de aproximação de elementos satisfatórios à vida e de afastamento de

    elementos nocivos constitui um padrão encontrado na maioria das espécies hoje em

    dia. Assim, um tipo de ação bem-sucedida em um momento evolutivo foi fixado e

    passado adiante por meio da seleção natural. É importante salientar que o que é

    passado adiante por meio da seleção natural são estruturas pré-formadas quepropiciam tais ações no organismo (pré-conexões sinápticas). 

    Maynard Smith (1973) dedicou grande parte de sua vida a estudar esses

    padrões comportamentais fixos encontrados nas espécies. Ele afirma que as

    características que vão evoluindo de forma essencial para a adaptação dos

    organismos em um dado momento são as Estratégias Evolutivamente Estáveis, ou

    EEE. 

    Strauss (1991) observa que tribos que ainda vivem em ambientes como matafechada utilizam as fogueiras para afastar os animais ao redor do local em que fixam

    residência. O fogo afasta os animais e por isso é importante. De fato, o fogo afasta a

    maioria dos animais e isso não é por acaso. Em algum momento evolutivo, com as

    quedas de raios em florestas causando incêndios, os animais que eram atraídos

    pelo fogo ou que demoravam a se afastar desse elemento eram engolidos pelas

    chamas, acabando assim com suas chances de se reproduzir e dar continuidade ao

    seu material genético. Portanto, a estratégia de se afastar do fogo em determinadosmomentos evolutivos era de extrema importância para a sobrevivência das espécies.

    Com isso podemos encontrar essas estratégias até hoje instaladas de forma

    instintiva na maioria das espécies. Isso é o que Maynard Smith chama de EEE. 

    Skinner (1978) converge com a concepção de Maynard Smith. Para Skinner

    (1978), as EEE são, na verdade, os comportamentos filogenéticos, ou seja, os

    comportamentos básicos da espécie. Skinner (1938) relata que os ratos que são

    submetidos ao processo de condicionamento, primeiramente são avaliados e

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    observados, com o objetivo de o pesquisador coletar o nível operante6 deles. Dessa

    forma é observado que existem comportamentos padrões nos ratos, o que ele define

    como comportamentos filogenéticos, que seriam programações prévias, ou melhor,

    comportamentos básicos que os ratos possuem desde o nascimento e são

    importantes para a sobrevivência. 

    Skinner (1987) observa que os comportamentos filogenéticos também estão

    sujeitos às mesmas leis que selecionam nossos comportamentos hoje em dia. As

    manifestações desses comportamentos durante a vida regulam-se pelas leis da

    seleção ontogenética7, mas a aquisição desse comportamento básico da espécie é

    sujeita à seleção natural8.

    Skinner (1987) traz um exemplo de enguias do Atlântico que viajam de rioseuropeus e americanos até a região do mar do Sargaço, uma distância equivalente a

    um quarto do mundo. Essa viagem é feita somente uma vez na vida das enguias e

    tem como intuito a reprodução. Skinner acrescenta que provavelmente nem sempre

    essas viagens foram tão longas, mas à medida que ocorreu o distanciamento dos

    continentes, ocorreu o aumento progressivo dos percursos. O comportamento é

    padrão nas enguias, e a força que estabelece o intuito dessa viagem é filogenética,

    pois o futuro dos genes de cada enguia depende desse esforço. Dessa forma, odeslocamento é um padrão filogenético no ato da reprodução da espécie, ou seja, o

    programa base de chegar até o mar de Sargaço é filogenético, mas a efetivação do

    comportamento depende de leis ontogenéticas.

    Os humanos também possuem comportamentos filogenéticos. O choro, o

    susto, o afastar -se de coisas perigosas, o sorriso, a imitação, entre outras

    características, são comportamentos básicos da sobrevivência da nossa espécie e

    fruto de processo evolutivos que outras espécies alicerçaram para a nossasobrevivência.

    6 Nível operante são os dados de comportamento coletados de um organismo antes de qualquer interferência,

    seja por parte do pesquisador, seja por ações casuais.

    7 A seleção ontogenética ocorre em nível de relação organismo-ambiente; é a seleção responsável por manter

    os comportamentos dos organismos de acordo com as consequências desses com o meio.

    8 As leis naturais são as regras de adaptação através da teoria da evolução, sob as quais são selecionados

    organismos com características adequadas ou não para a sobrevivência da espécie.

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    É importante salientar que esses comportamentos filogenéticos, para a

     Análise do Comportamento, não são formas de aprendizagem, não estão sujeitos a

    regras que definimos como representativas de aprendizagem, mas sim servem de

    subsídios para ela. 

    Para a Análise do Comportamento, o primeiro indício de aprendizagem surge

    quando ocorre a primeira forma de centralização de informação; em outras palavras,

    a primeira forma de sistema nervoso central. De acordo com Machado (2006), o

    primeiro indício de centralização de informação veio com os anelídeos, grupo do

    qual as minhocas derivam. Nos anelídeos é possível observar que os anéis que

    formam seu corpo possuem a capacidade de se comunicar uns com os outros, e há

    uma centralização de comunicação dessas partes.Os seres humanos também possuem essa capacidade dos anelídeos de

    centralizar informações de partes distintas do organismo. A engenharia na nossa

    espécie teve um longo processo de lapidação, passando por etapas como o

    surgimento da coluna vertebral, do cerebelo, da ponte encefálica, das estruturas do

    mesencéfalo, do diencéfalo e do telencéfalo. Esse processo evolutivo de

    angariações de estruturas importantes para a adaptação propiciou o sistema

    nervoso central que hoje nossa espécie possui. O que a Análise do Comportamento entende como aprendizagem é somente

    possível através de uma estrutura moldada ao longo da evolução para o processo

    da aprendizagem. É por isso que somos capazes de condicionar um neurônio

    através de dopamina, mas não somos capazes de condicionar árvores e plantas,

     justamente porque os neurônios são estruturas selecionadas com uma maior

    capacidade de modificação estrutural. 

    Pavlov foi um fisiologista russo que ganhou o prêmio Nobel por descobrir oprocesso de condicionamento de cães. O objeto de estudos de Pavlov (1909)

    consistia em registrar o nível de salivação dos cães quando eram apresentados

    alimentos para eles. Acidentalmente, Pavlov percebeu que a campainha que era

    apresentada no momento em que se alimentavam os cães foi associada à própria

    comida. Pavlov observou que somente o som da campainha já era suficiente para

    fazer com que os cães salivassem; eles aprenderam, portanto, que toda vez que

    toca a campainha o alimento vem logo a seguir. Dessa forma, Pavlov descobriu a

    aprendizagem através de associação. 

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      Watson, psicólogo norte-americano, importou a teoria de Pavlov e fez estudos

    e aplicações à área da Psicologia, surgindo então o Behaviorismo9, ou o estudo do

    comportamento. Watson deu continuidade aos princípios de Pavlov, deixando clara a

    relação de aprendizagem por meio de associação. Watson postulava que se for

    apresentado um estímulo neutro10 a uma pessoa e esse estímulo for emparelhado a

    algum estímulo incondicionado11, vai chegar um momento que o estímulo neutro

    torna-se um estímulo condicionado, ou seja, passa a provocar a mesma reação no

    organismo que o estímulo incondicionado.

    Vale ressaltar que aquilo que Skinner (1978) chamou de comportamentos

    filogenéticos e Maynard Smith chamou de EEE, os Estímulos Incondicionados, todos

    eles estão diretamente ligados a elementos de bases evolutivas da nossa espécie etêm relação com esses comportamentos filogenéticos. No caso anterior, utilizamos o

    fogo como elemento de afastamento para os animais. Podemos imaginar que

    inicialmente, se for apresentado um som a um rato, e esse som sendo um estímulo

    neutro, o rato continuará a emitir seus comportamentos habituais, isso porque o som

    não representa nada. À medida que fomos emparelhando o som e logo

    posteriormente liberarmos fogo no ambiente do rato, a resposta dele será a fuga. Se

    continuarmos com esse emparelhamento, chegará um momento em que o rato vaiaprender a associar o simples sinal de som, que era um estímulo neutro, com o

    aparecimento do fogo, que era um elemento incondicionado, que fazia o rato fugir

    com o emparelhamento. O som agora será um estímulo condicionado que vai

    provocar a resposta de fuga do rato. Assim, todo condicionamento a partir do

    emparelhamento dá-se através de elementos filogenéticos que provocam algum tipo

    de resposta nos organismos. 

    Foi com esse tipo de condicionamento

    12

      que Watson fundou sua teoria.Skinner o define como condicionamento respondente, pois já que os

    comportamentos estão associados à base filogenéticos da espécie, o organismo

    responde a estímulos apresentados no ambiente, num nível definido. Um

    9 Filosofia da Psicologia que tem como objeto de estudo o comportamento e a relação com o ambiente.

    10 Estímulo que não provoca qualquer resposta no organismo.

    11 Estímulo que provoca respostas filogenéticas nos organismos. Geralmente esses estímulos estão ligados aelementos de base para a sobrevivência (alimentação, proteção, reprodução etc.).

    12 Condicionamento está ligado a dar condições para. No caso da utilização desse termo na Análisedo Comportamento, é Dar condições para acontecer a aprendizagem.

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    determinado estímulo provocará uma determinada resposta. No caso de uma

    luminosidade forte, a resposta automática do organismo é contrair a pupila.

    Skinner (1978) define um novo tipo de condicionamento e nível de

    aprendizagem. Com base nos estudos de Thorndike, Skinner observou que as

    consequências de nosso comportamento vão influenciar no aparecimento ou não

    desses comportamentos no futuro. Skinner observa que existem outros

    comportamentos além dos respondentes, e os chama de comportamentos

    operantes, pois irão operar no ambiente e modificar a forma de discriminar certos

    estímulos nesse ambiente.

     A seleção natural agora não é mais a única força que vai influenciar no

    comportamento dos organismos. Skinner (1987) defende que o aprender aconteceem nível ontogenético, ou seja, no nível da existência do organismo, e não no nível

    de espécie. Já as mudanças filogenéticas se dão no nível da espécie, através da

    seleção natural. A aprendizagem (seja respondente ou operante) ocorre de forma

    individual nos representantes das espécies. Foi a maneira que o relojoeiro cego,

    tratado no primeiro capítulo, encontrou para otimizar o processo de seleção genética

    para uma constante adaptação das espécies ao ambiente.

    Como exemplo, se todos os cães fossem programados para explicitar omesmo comportamento do seu nascimento até a sua morte, um único elemento de

    perigo poderia ser a causa de um grande extermínio de representantes dessas

    espécies. Já com a evolução da aprendizagem, os cães nascem com uma forma de

    programa básico, mas eles vão desenvolvendo esse programa de formas distintas

    na sua relação com o ambiente e construindo estratégias diferentes ao tempo de

    uma vida. Se bem-sucedidos, têm o direito de passar suas cargas genéticas adiante;

    se não, seu “estilo de vida” adotado não foi adequado para a sobrevivênciaenquanto espécie, sendo então descartado. 

    Skinner (1981) chama a modelagem em nível de existência de seleção por

    consequência, pois esse nível de seleção vai selecionar os comportamentos que são

    adequados ou não para a adaptação dos organismos na relação com o ambiente.

    Skinner afirma que provavelmente a seleção por consequência evoluiu no mesmo

    processo que a seleção natural, mas enquanto a seleção natural seleciona

    comportamentos estáveis a poucas variações ambientais, a seleção por

    consequência surge para lidar com as variações rápidas no ambiente do organismo. 

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    O que denominamos comportamento evoluiu como um conjunto de funçõesaprofundando o intercâmbio entre organismo e ambiente. Em um mundorelativamente estável, o comportamento poderia ser parte do patrimôniogenético de uma espécie, assim como digestão, a respiração ou qualqueroutra função biológica. O envolvimento com o ambiente, contudo, impôs

    limitações. O comportamento funcionava apropriadamente apenas sobcondições relativamente similares àquelas sob as quais foram selecionadas. A reprodução sobre uma ampla gama de condições tornou-se possível coma evolução de dois processos por meio dos quais os organismos individuaisadquiriam comportamentos apropriados a novos ambientes. Por meio docondicionamento (pavloviano), respostas previamente preparadas pelaseleção natural poderiam ficar sob o controle de novos estímulos. Por meiodo condicionamento operante, novas respostas poderiam ser fortalecidaspor eventos que imediatamente as seguissem. (SKINNER, 1981, p. 4). 

    O processo de aprendizagem através dos condicionamentos respondentes e

    dos condicionamentos operantes foram estratégias evolutivas encontradas pelorelojoeiro cego que poderão propiciar um avanço nas espécies que adotaram tais

    características. Mas essas não são as únicas formas de aprender; existem outras

    estratégias evolutivas que com o surgimento da aprendizagem poderão, de forma

    cumulativa, surgir e aperfeiçoar os processos adaptativos dos organismos. Trata-se

    do processo de ensino. 

    2.2 Surgimento do processo de ensino 

    Como já postulado anteriormente, o processo de aprendizagem surgiu como

    uma variação da adaptação da vida na Terra, visando lidar com as modificações

    mais instáveis e rápidas encontradas no ambiente. O processo de aprendizagem foi

    possível graças a uma modelação estrutural capaz de colocar os organismos que

    adquiriram essa estratégia em outro patamar na busca constante de adaptação. 

    Como já pontuado, as estratégias evolutivas são cumulativas. A

    aprendizagem foi uma forma que surgiu para aperfeiçoar a adaptação; foi a forma

    que o relojoeiro cego encontrou para que a seleção ocorresse em nível de indivíduo,

    e não mais de espécie. O processo de seleção em nível individual possibilitou que a

    seleção agisse de maneira mais rápida e selecionasse estratégias de vida para além

    das características fixas. 

    Com a aprendizagem a espécie não necessita mais esperar uma geração

    para solucionar alguma exigência ambiental; antes, era necessária uma mudança

    estrutural por meio da seleção natural. Com os neurônios essa mudança estrutural

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    ocorre frequentemente; na realidade, cada vez que o organismo responde ao

    ambiente, esse ambiente dará em seguida o feedback  positivo ou não dessa ação, e

    assim modificará a estrutura do neurônio, modificando também o organismo. 

     Assim como a aprendizagem surge como estratégia para aperfeiçoar a

    adaptação ao ambiente, o relojoeiro cego confeccionou outro mecanismo para

    aperfeiçoar a aprendizagem: o ensino.

    Foi dito anteriormente que o surgimento do processo de aprendizagem se

    tornou possível graças a estruturas físicas que evoluíram para tal. Em termos

    neurológicos, as novas conexões sinápticas acontecem quando os dendritos

    crescem e se conectam aos axônios de outros neurônios, formando novas conexões

    e comunicações no sistema nervoso central. O que determina o crescimento dosdendritos é o processo de repetição ou os eventos diretamente ligados a elementos

    da nossa sobrevivência (MACHADO, 2000).

    O ensino segue o mesmo parâmetro. Devem ocorrer mudanças estruturais no

    organismo para que se torne possível a aprendizagem, Vale salientar que estamos

    falando de ensino a partir de uma perspectiva evolutiva e funcional, sendo essa a

    apresentação de modelos para que membros das mesmas espécies ajam de formas

    similares e obtenham ganhos adaptativos. Assim, no ensino, a mudança estruturadade um organismo é fomentada por outro organismo. 

    Richard Dawkins (2009), no livro  A Grande Historia da Evolução, empreende

    uma pesquisa ao longo das datações no cronograma evolutivo do surgimento das

    espécies, com descrições a respeito das características e do marco adaptativo que

    tais espécies trouxeram. Intencionou achar o primeiro vestígio evolutivo que

    apresentasse um processo de ensino, bem como o marco de um processo evolutivo

    que trouxesse tais características. As primeiras mudanças de um organismofomentadas por outro surgiram com os insetos Formicidae, família a que pertencem

    as formigas e as pulgas. Insetos dessa família mostram grande capacidade

    adaptativa no ambiente. 

    Patrícia (2011) traz algumas capacidades das formigas que lembram até

    atividades dos seres humanos, como, por exemplo, a agricultura e a pecuária. Além

    disso, elas possuem a capacidade de modificar o comportamento de outros

    membros da espécie a partir de instruções, o que seria o ensino.

    Um estudo recente demonstrou que as formigas podem transmitirconhecimentos de uma para outra e ensinar outras formigas como encontrar

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    comida. O comportamento da “formiga-professor” é incrível. Uma formigatreina formigas jovens para localizarem e coletarem alimento. A formiga jovem que é levada pelo trajeto pela primeira vez  acompanhada da formiga-professor consegue localizar e coletar quatro vezes mais rápido o alimento.(PATRÍCIA, 2011, p. 2). 

     As formigas, seja no ataque ao formigueiro, seja na procura de alimentos, são

    capazes de, ao tocarem em outros da mesma espécie, interferir no comportamento

    dessas, causando uma mudança estrutural por meio de liberação química. 

    Essa mudança estrutural causada por outro membro de mesma espécie

    possibilitou um avanço na aprendizagem, além de uma diminuição de

    comportamentos de tentativas e erros entre os membros. Basta um membro

    solucionar alguma variação de desconforto no ambiente para que a espécie comoum todo se beneficie. 

     Anteriormente foi postulado o exemplo de um cão que, caso tivesse somente

    os comportamentos filogenéticos, iria se comportar sempre da mesma maneira ao

    encontrar certos estímulos no ambiente. Se esse cão se deparasse com elementos

    novos em sua vida, não disporia de programação para reagir a essas novas

    exigências. Com a aprendizagem e o desenvolvimento ontogenético esse problema

    foi solucionado; cada cão pode agora desenvolver novas formas de se comportar noambiente e fornecer respostas para estímulos novos, selecionando assim os

    comportamentos adequados.

    Dessa forma, o processo de adaptação fica mais rápido e com menores

    riscos, conferindo tempo para testar novas respostas no ambiente.

    É possível fazer uma analogia com um jogo de vídeo game. A estrutura para

     jogar o jogo seriam os comportamentos filogenéticos. As experiências de um jogador

    passando de fase e aprendendo o que se deve fazer ou não para avançar no jogo, a

    aprendizagem. O ensino seria o salvamento de dados do vídeo game de um jogador

    para outro. Agora o novo jogador não precisaria passar novamente pelas tentativas

    por que o outro jogador passou para passar de fases; ele saberia justamente o que

    fazer para avançar e poderia se concentrar em ir mais longe que o jogador anterior.

    Em termos mais claros, ele não começaria o jogo de vídeo game sem dados sobre o

     jogo.

    Portanto, o ensino trouxe a possibilidade de ampliar o conhecimento de

    diversos indivíduos para a sobrevivência da espécie, através do compartilhamento

    de experiências anteriores de um membro com os outros. 

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    2.3 Ensino a partir da imitação 

    Muito se discute acerca das características que diferenciam o homem dos

    diversos animais. Alguns teóricos apontam a inteligência, outros a linguagem, ou a

    cultura, o ensino, a psicomotricidade etc. Neste trabalho, adota-se a linha de

    raciocínio que Ridley (2004) apresenta, defendendo que a diferença não se encontra

    nas características em si, mas na questão de grau de desenvolvimento dessas

    características. Não é diferente na questão do ensino. 

    O processo de ensino e aprendizagem que encontramos hoje em dia na

    nossa espécie é resultado de milhares e milhares de anos de lapidação até chegarao nível e m que nos encontramos. Além disso, existem varias características que

    diferenciamos somente por questões metodológicas de estudos, pois os processos

    de ensino, aprendizagem, cultura, linguagem são totalmente intrínsecos uns aos

    outros.

    Para o ensino chegar a níveis que iremos discutir posteriormente, foi

    necessário todo um processo de aperfeiçoamento. Inicialmente o ensino só foi capaz

    de se desenvolver porque nossa espécie é social, e com isso estratégias úteis paraesses tipos de organização tinham um valor adaptativo grande e eram passadas

    adiante, aperfeiçoando o processo evolutivo. Skinner escreve que o primeiro tipo de

    interferência de um animal com outro da mesma espécie, provavelmente, deu-se por

    meio da imitação. 

    Muito dos comportamentos estudados pelos etólogos – a corte, oacasalamento, o cuidado dos filhotes, a agressão intraespecífica, a defesapor território, e assim por diante – é social. Está numa faixa próxima de ser

    atingida pela seleção natural, uma vez que os outros membros da mesmaespécie são uma das características mais estáveis do ambiente de umaespécie. Repertórios sociais inatos são suplementados pela imitação. Aocorrer quando outros correm, por exemplo, um animal responde a estímulosliberadores aos quais não foi anteriormente exposto. Um tipo diferente deimitação, com uma amplitude muito maior, resulta do fato de quecontingências de reforçamento que induzem um organismo a se comportarde determinada maneira afetarão frequentemente outros organismosquando ele se comporta da mesma forma. Um repertório imitativo quecoloca o imitador sob o controle de novas contingências é então adquirido.(SKINNER, 1981, p. 5). 

    Skinner (1987) assinala que o processo imitativo surgiu como um

    comportamento filogenético de espécies sociais. A imitação era importante em

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    situações de sobrevivência; um exemplo são os gnus13. A estratégia de imitação

    surge quando um membro avista o predador, sai correndo, e automaticamente os

    outros membros também se mobilizam e saem correndo em conjunto, para dificultar

    as ações dos predadores. Essa característica provavelmente foi selecionada

    porquanto o animal que não se locomovesse em conjunto com o grupo era o alvo

    dos ataques, acabando assim com sua continuidade. 

    Skinner (1987) diferencia o comportamento imitativo do que ele chama de

    modelação. A modelação é o comportamento de imitar e ser reforçado por efetuar

    esse comportamento imitativo, ou seja, seguir um modelo e ser bem -sucedido. O

    processo imitativo é de base filogenética; a modelação seria o processo imitativo em

    nível ontogenético. Trata-se do comportamento de seguir modelos e aprender comisso, estando dessa forma sujeito às regras da seleção.

    O processo de ensino na espécie humana se dá por meio da modelação. O

    professor em sala de aula constantemente fornece um modelo de como se deve agir

    em situações especificas, assim como os pais comumente são os modelos para

    homens e mulheres e de como se deve agir na sociedade. É importante salientar

    que esses modelos e o processo de modelação são constantemente ajustados, pois

    consistem num processo de aquisição ou manutenção do comportamento – tanto dosujeito que está dando o modelo, como do sujeito que está adquirindo instruções ou

    formas de comportamentos específicos. 

    O nível de seguir modelos avançou em algumas espécies para outro patamar.

    Nessas espécies é possível observar, além do comportamentos imitativo e da

    modelação, o emprego de outra estratégia. Essa estratégia é denominada por

    Skinner (1987) como comportamento de dar modelo. 

    Os membros das outras espécies “adquirem conhecimento” uns dos outrosatravés de imitação, um processo tributável tanto à seleção natural quantoao condicionamento operante. Às vezes eles modelam o comportamento aser imitado, mas apenas os membros da espécie humana parecem fazê -lopara que os outros o imitem. Modelação é urna forma de ensino, mas apermanência de seu efeito depende do reforçamento positivo ou negativo.(SKINNER, 1989, p. 122). 

    Esse comportamento surgiu graças ao desenvolvimento e aperfeiçoamento

    do lobo frontal, sendo somente possível com algum nível de consciência. Agora,

    membros de uma espécie irão modificar suas ações de forma voluntária

    13 Espécie de bufalinos encontrada na África.

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    (consciência), sabendo que vão interferir e provocar mudanças nas formas de agir

    em outros membros da espécie.

    Quando os gnus seguem outros membros em um estouro de manadas, esses

    estão seguindo outro membro da espécie. Quando a formiga interfere no

    comportamento de outra para demonstrar o ponto de obtenção do alimento, a outra

    se modela para conseguir buscar o alimento. Tanto a formiga como o gnu servem

    como modelos, mas não emitem o comportamento de dar modelo. Eles servem

    como modelos porque neles já se acha programada de maneira filogenética a

    imitação, ou a modelação de outros da mesma espécie em comportamentos alvo. 

    Os bebês humanos também possuem essa base dos gnus e das formigas. Se

    uma criança de poucos dias de vida chora, as outras irão chorar, como sinal deperigo. Os bebês até poucos meses tendem a imitar a maioria das expressões

    faciais de um adulto. Assim, se um adulto bocejar, o bebê também vai bocejar (essa

    é uma imitação que perdura em nosso desenvolvimento). Os bebês realizam esses

    comportamentos porque dispõem de estruturas pré-formadas para realizar tais

    comportamentos. 

    Já para ocorrer o comportamento de dar modelos, o organismo que emite tal

    comportamento terá a consciência de que agindo daquela maneira acarretará umamudança em outro organismo, de forma a obter o comportamento que ele deseja; é

    necessária a manipulação de outro membro da mesma espécie de maneira

    premeditada. Por isso afirma-se com certeza que as formigas e os gnus não

    possuem o comportamento de dar modelos, pois é necessária uma estrutura para

    dar subsídios a fim de que isso ocorra. Nesse caso, para que ocorra a premeditação

    da interferência do comportamento do outro, é necessário um lobo frontal

    desenvolvido. Os humanos tanto imitam como realizam modelação, como também

    conseguem emitir comportamentos de dar modelos. Além disso, outros aspectos vão

    abarcar o universo do ensino nos parâmetros que encontramos hoje na espécie

    humana. 

    Outro ponto que culminou na evolução do ensino em algumas espécies foi a

    linguagem. A linguagem em nossa espécie se desenvolveu de maneira bem ampla,

    e consequentemente aperfeiçoou o processo de ensino, pois as instruções e os

    modelos agora poderiam ser passados por instruções verbais, como aponta Skinner: 

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    O desenvolvimento do controle ambiental sobre a musculatura vocalaumentou consideravelmente o auxílio que uma pessoa recebe de outra.Comportando-se verbalmente, as pessoas podem cooperar de maneiramais eficiente em atividades comuns. Ao receberem conselhos, aoatentarem para avisos, ao seguirem instruções, e ao observarem regras, as

    pessoas podem se beneficiar do que outros já aprenderam. Práticas éticassão fortalecidas ao serem codificadas em leis, e técnicas especiais deautogoverno ético e intelectual são desenvolvidas e ensinadas. (SKINNER,1981, p. 6). 

    O desenvolvimento da linguagem é intrínseco ao desenvolvimento do ensino.

     A linguagem tem justamente a função de interferir em outro organismo de mesma

    espécie, assim como o ensino. A linguagem na espécie humana é bem ampla. Antes

    mesmo do desenvolvimento das cordas vocais, a linguagem através de símbolos já

    era realidade em nossa espécie, assim como, no exemplo das formigas, umalinguagem química, ou a linguagem corporal dos chimpanzés. 

    Um extraordinário avanço na evolução da espécie humana colocou suamusculatura vocal sob controle operante. Os ambientes sociais, quedenominamos linguagens, desenvolveram-se. Com a ajuda delas, a pessoapôde se beneficiar daquilo que uma outra aprendeu e, com a ajuda doalfabeto, daquilo que muitas outras pessoas aprenderam. Até essemomento, a espécie aprendia como as outras espécies ainda o fazem, sobcontingências de reforçamento. Com a evolução da linguagem, aprende apartir de descrições das contingências. (SKINNER, 1989, p. 119). 

     A linguagem também vai desenvolver o que Skinner (1953) chama de

    comportamento governado por regras. É o comportamento emitido através de

    instrução ou, em outras palavras, é o comportamento emitido de acordo com

    comandos. O comportamento governado por regras pode ser emitido através de

    instruções verbais, como no caso do exercito, em que um soldado recebe ordens e

    efetiva um comportamento de acordo com os comandos do sargento. Outro exemplo

    são os símbolos, linguagem utilizada de maneira ampla em nossa espécie, desdeplacas de trânsito até letras que formam palavras que resultam em livros. Há

    também as linguagens por sinal, que se caracterizam tanto como uma linguagem por

    símbolos como enquanto uma linguagem corporal.

    O comportamento governado por regras, articulado com a linguagem por

    símbolos, conduz o ensino a outro patamar. O comportamento governado por regras

    provoca o comportamento no organismo-alvo mesmo que o organismo de origem

    não esteja presente. Paramos na placa “Pare” no trânsito, mas não há nenhum outro

    organismo ordenando pararmos; a mensagem foi passada. Fazemos um bolo

    através da receita que pegamos na revista do Edu Guedes, mas o próprio Edu

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    Guedes não está presente. Estudei Skinner através dos livros que continham suas

    ideias, e embora sempre ache que estou em um diálogo constante com o autor,

    Skinner não está presente. 

     Através da escrita temos acesso aos conhecimentos de pessoas que já

    morreram, de civilizações extintas e de informações de 10 mil anos atrás. Se

    emitirmos os comportamentos da maneira como as informações são passadas,

    estaremos sendo ensinados pelo comportamento por meio de instruções. Isso, para

    a análise do comportamento, se caracteriza como comportamento governado por

    regras. 

    È interessante observar como as características são cumulativas e vão

    corroborando para o surgimento ou o aperfeiçoamento de outras, como a linguagem,a imitação e a aprendizagem. Skinner ainda menciona outro aspecto que faz o

    processo de ensino na espécie humana ser tão aperfeiçoado: a cultura.

    2.4 A cultura e a função de transmissão de conhecimentos 

     A cultura é um assunto abordado por diversas linhas e profissões de maneirasdistintas. Para Skinner (1978), cultura é o conjunto das contingências14  sociais de

    um grupo, em outras palavras, são as normas, os modelos, as variáveis que

    preservarão ou não os comportamentos emitidos pelos membros de um meio. Essa

    concepção não difere da de outros teóricos de ciências distintas, como Harris: 

    Culturas são sistemas (de padrões de comportamento socialmentetransmitidos) que servem para adaptar as comunidades humanas aos seusembasamentos biológicos. Esse modo de vida das comunidades inclui

    tecnologias e modos de organização econômica, padrões deestabelecimento, de agrupamento social e organização política, crenças epráticas religiosas, e assim por diante. (HARRIS, 1978, p. 121). 

     Ainda na Antropologia, Meggers (1977) situa a cultura como um elemento de

    continuidade da seleção natural, em que o processo cultural seria uma estratégia

    também confeccionada pelo relojoeiro cego na relação com a adaptação dos

    organismos: 

    Mudança cultural é primariamente um processo de adaptação equivalente à

    seleção natural. O ser humano é um animal e, como todos os animais, deve

    14 Contingência é a relação Ambiente  – Organismo – Ambiente (S-R-C). 

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    manter uma relação adaptativa com o meio circundante para sobreviver.Embora ele consiga esta adaptação através da cultura, o processo é dirigidopelas mesmas regras de seleção natural que governam a adaptaçãobiológica. ( MEGGERS, 1977, p. 25). 

    Como Geertz (1975) afirma, “todos os homens são geneticamente aptos para

    receber um programa, e este programa é o que chamamos de cultura” (p. 410). A

    cultura é algo que se tornou uma EEE na espécie humana, fazendo parte do

    desenvolvimento humano no ambiente. Skinner (1981) já discorria sobre uma

    terceira seleção que faria a aquisição e a manutenção do comportamento humano;

    essa seleção seria a seleção cultural. Ela atua na disposição de modelos que desde

    cedo nos norteiam na adaptação ao ambiente; é a amplitude da capacidade de

    ensino, pois não são modelos de uma pessoa somente, mas, como Skinner

    salientou, são as contingências sociais de um grupo.

    Lévi-Strauss (1970) ressalta que a cultura é moldada constantemente também

    por exigências ambientais: 

    Os dados científicos de que dispomos atualmente não confirmam a teoriasegundo a qual as diferenças genéticas hereditárias constituiriam um fatorde importância primordial entre as causas das diferenças que semanifestam entre as culturas e as obras das civilizações dos diversos povos

    ou grupos étnicos. Eles nos informam, pelo contrário, que essas diferençasse explicam antes de tudo pela história cultural de cada grupo. Os fatoresque tiveram um papel preponderante na evolução do homem são a suafaculdade de aprender e a sua plasticidade. Esta dupla aptidão é oapanágio de todos os seres humanos. Ela constitui, de fato, uma dascaracterísticas específicas do homo sapiens (grifo do autor  ). (LÉVI-STRAUSS, 1970, p. 51). 

    Ela é a capacidade de adaptação, aprendizagem e ensino ampliada. As

    mesmas regras dos comportamentos filogenéticos, dos comportamentos

    ontogenéticos, também são aplicadas aos comportamentos culturais. Ela é oconjunto de aprendizagens que são constantemente rearranjadas de forma a

    otimizar a adaptação ao meio inserido, sendo que a diferença está que a

    manutenção de comportamentos específicos é feita pelo grupo. 

    Voltando ao tópico de ensino, nossa espécie tem a capacidade de otimizar a

    transmissão de conhecimentos que a cultura propicia, assim como aliada a

    estratégias como as diversas maneiras de linguagem, nossa espécie foi capaz de

    utilizar a aprendizagem de maneira ampla e otimizada, isso possibilitou colocar o

    Homo sapiens em uma patamar elevado na luta pela adaptação. 

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    3  DESENVOLVIMENTO DE REPERTÓRIOS COMPORTAMENTAIS NA VIDA DE

    INDIVÍDUOS 

    Skinner (1981), em Seleção por consequência, traz uma discussão a respeito

    dos três níveis de seleção que modelam o comportamento da espécie humana;

    esses níveis seriam a filogenia, a ontogenia e a ontogenia cultural. Skinner

    recomenda que os psicólogos devem estudar tanto Etologia como Biologia, a fim de

    compreenderem a filogênesese. Adverte que é necessário que os psicólogos se

    aprofundem em estudos como a Antropologia e a Sociologia para entenderem os

    movimentos culturais e a influência destes na formação dos repertórios humanos. 

    O autor ressalta que o nível de seleção que o psicólogo deve estudar é a

    ontogêneses, pois essa é a seleção que modela os comportamentos na relação

    ambiental direta do organismo com o meio. Esse seria o nível em que os

    profissionais de Psicologia poderiam interferir e causar modificações no repertório

    comportamental das pessoas. 

    Tal como afirma Skinner (1953/2007), “O condicionamento operante modelao comportamento como o escultor modela a argila”. Assim, um operante nãoé algo que surge totalmente desenvolvido no organismo, por ser resultadode um processo de modelagem e até modelação. Conclui-se que o operantesó é instalado e, com efeito, constitutivo da história comportamental de umindivíduo, a partir de princípios básicos, descritos pela análise docomportamento, tais como reforço, punição, modelagem e modelação. Emsuma, o ambiente desempenha papel fundamental na instalação emanutenção de operantes complexos (SKINNER, 1953/2007, p. 101 apudBueno; LUCIANO, 2011, p. 35), 

     A construção de repertórios de comportamento das pessoas é formada a

    partir das relações diretas de comportamentos no ambiente, com as consequências

    geradas a partir dessa relação. No capítulo anterior foi dito que a seleção natural é aforça que faz a eleição de quais características serão adequadas ou não para a

    adaptação das espécies. A seleção natural ou o relojoeiro cego é o agente da

    filogênese. 

    Seguindo as orientações que Skinner (1981) disponibilizou, a ontogênese é o

    nível de seleção em que se deve atentar sobremaneira, pois é nela que ocorre o

    processo de ensino, de aprendizagem e a construção de repertórios de

    comportamento durante a vida do sujeito, na sua relação com o ambiente. Dessaforma, assim como a filogênese, a seleção ontogenética tem sua força, que é a

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    seleção por consequência, já referida em momentos anteriores do trabalho. A

    seleção por consequência tem seus agentes para auxiliar nesse processo de

    construção de repertórios de comportamento. Para Skinner (1953/2007), tais

    agentes são: reforço, punição, modelagem, modelação e extinção. 

     A aprendizagem ontogenética pode ocorrer de duas formas: contingencial ou

    acidental, que Catania (1999) chamou de contiguidade. O comportamento é

    contingencial quando ocorre a relação tríplice, no qual um estimulo discriminativo*

    faz com que o organismo emita algum comportamento, e esse comportamento vai

    receber consequências novamente do ambiente. Essa relação do efeito: Ambiente –

    Organismo – Ambiente, ou S, R e C, é a relação contingencial, responsável por

    manter a maioria de nossos comportamentos.  A contiguidade é o que Dawkins (2002) chama de falso positivo e Skinner

    (1978) define como comportamento supersticioso. É a relação temporal de um

    evento com outro, sem que estes estejam ligados; ela independe de causação.

    Exemplos de construção discriminativa de eventos acidentais seriam: 1) o aluno que

    sempre usa uma caneta vermelha, porque assim ele tira notas boas; 2) sempre que

    João entra com o pé direito na sala de aula, a aula é boa; 3) quando Felipe muda de

    canal o time fez um gol. Esses são exemplos de contiguidade, em que nãonecessariamente um evento está ligado ao outro.

    Dawkins (2002) informa que essa é uma capacidade filogenética que permite

    a otimização do aprender. Essa capacidade aparece em outras espécies. A

    contiguidade é um resultado da capacidade do sistema nervoso central em procurar

    padrões no ambiente. Skinner (1978) afirma que a contiguidade tem um valor maior

    na espécie humana por conta de grupos e práticas culturais que empregam esse

    modelo; um exemplo são as instituições religiosas, que asseveram que toda causapositiva em nossa vida foi resultado de obra divina, dificultando o exercício de auto-

    observação do sujeito em avaliar quais contingências o levaram ao êxito na

    atividade. 

    Processo de contingência, por ter uma relação causal, pode ser trabalhado de

    duas formas. Uma é a modelação, que já foi tratada em outro momento, que seria a

    imitação de um modelo seguida por reforço; esse reforço pode até ser o alcance do

    comportamento alvo que o sujeito modelo está emitindo. Já a modelagem seria o

    aumento gradual ou a aproximação sucessiva de um sujeito ao comportamento alvo.

    Um exemplo no âmbito escolar seria a alfabetização, quando são ensinadas de

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    forma gradual as letras para as crianças, respeitando etapas para avançar até outras

    etapas. Um analista do comportamento vai trabalhar sobre a construção dessas

    etapas da maneira mais adequada para a aquisição do comportamento de um

    sujeito. 

    Tanto a modelação como a modelagem trabalham com aspectos

    consequenciais do comportamento. As consequências podem se desdobrar, de

    acordo com Moreira e Medeiros (2007), em punição e reforço, tendo este último

    seus esquemas de reforçamento15.

    De acordo com Catania (1999), o reforço é toda consequência que leva ao

    aumento da frequência do comportamento. Pode se classificar em reforço positivo e

    reforço negativo. O positivo ocorre quando há a adição de um estímulo no ambiente; já o negativo é quando ocorre a retirada de um estímulo aversivo.

    No caso do reforço, há um reforçador para cada organismo, sendo alguns

    deles básicos, visto que estão ligados aos comportamentos filogenéticos. Um

    exemplo de reforçamento positivo na educação seria o elogio do professor em

    público após a criança realizar uma atividade, devido ao fato de o reconhecimento

    social ser filogenético. Já que o ser humano é uma espécie social, provavelmente

    esse comportamento que a criança emitiu aumentará a frequência de tal ocorrênciafuturamente em situações semelhantes. Já o reforço negativo dá-se quando se tira

    um elemento aversivo para aumentar o comportamento alvo. Um exemplo seria o

    professor presente em uma sala abafada; o calor interfere para que as crianças

    fiquem inquietas. Observa-se que ao ligar o ar -condicionado, o comportamento de

    ficarem quietas e prestar atenção por parte das crianças seria aumentado, pois o

    desconforto foi retirado do ambiente.

    Já a punição, de acordo com Catania (1999), é toda consequência que leva ocomportamento do organismo a diminuir sua frequência. Assim como o reforço, ela

    pode ser classificada como positiva ou negativa. A positiva se verifica com a adição

    de um estímulo ao ambiente; já a negativa consiste na retirada de um estímulo. 

    De acordo com Moreira e Medeiros (2007), a punição traz como resultado a

    diminuição de comportamentos indesejados de forma rápida, trazendo alguns efeitos

    colaterais indesejados aos sujeitos. Como exemplos: contracontrole, supressão

    15  Existem diversos tipos de esquemas para se reforçar. Os mais comuns são esquemas de razão por

    quantidade e intervalo (por tempo). Esses esquemas tanto podem ser fixos, com quantidade e tempoespecificados, como variados, com a não especificação de quantidade e tempo.

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    condicionada e efeitos como ansiedade e medo. Exemplo de punição positiva seria,

    ao aluno tirar nota baixa, o pai, como forma de diminuir tal ocorrência futuramente,

    aplica uma surra no aluno. Nesse caso, a surra foi o estímulo adicionado ao

    ambiente. Já na punição negativa ocorre a retirada de algum elemento reforçado

    para o aluno. Caso o aluno apresente notas baixas, o pai retira sua mesada, a fim de

    evitar que as notas baixas se repitam.

     A extinção também seria uma forma de diminuir comportamentos indesejados,

    e surge como alternativa para o uso da punição. De acordo com Moreira e Medeiros,

    os efeitos colaterais são menores. A extinção seria o corte da apresentação do

    elemento reforçador que mantém o comportamento indesejado. Um exemplo é a

    criança que faz birra para chamar atenção do professor em sala de aula; a partir domomento que ela não receba mais a atenção, que seria o elemento reforçado, ela

    vai buscar uma alternativa para alcançar essa atenção, abandonando a estratégia

    do comportamento indesejado de birra. 

    Todos esses elementos são ferramentas causadoras de aprendizagem e

    agentes da seleção ontogenética. As construções dos repertórios comportamentais

    perpassam esses agentes. Vale ressaltar o que foi visto no capítulo anterior: a

    seleção ontogenética surgiu para moldar a relação do organismo com o seuambiente em nível de indivíduo; então, para ocorrer esses processos de

    aprendizagem, o sujeito tem que se colocar à disposição constante para se

    relacionar com o ambiente. 

    Para Skinner (1969), ambiente é tudo aquilo que cerca o sujeito; pode ser

    tanto a estrutura física como a relação com outra pessoa, além do próprio organismo

    do sujeito. O ambiente é o elemento que desde o princípio molda as estratégias.

    Construímos repertórios de comportamentos para termos a capacidade deresponder de forma adequada aos estímulos constantes que o ambiente apresenta.

    Logo no começo desse trabalho foi posto um exemplo acerca da importância da

    locomoção, o exemplo de membros de tribos de caçadores/coletores. Os membros

    que dispusessem de um maior conhecimento dos elementos que o cercavam tinham

    maior chance de sobrevivência que os demais. Nesse caso, quanto maior o

    conhecimento prático do sujeito, menor o risco de morte.

    Hoje em dia a importância do conhecimento prático permanece da mesma

    forma. A conjuntura da sociedade humana atual, devido ao crescimento populacional

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    e às construções de arquitetura civil para abrigar um número cada vez maior de

    pessoas, trouxe sérios problemas (Skinner, 1978).

    Um desses problemas é a variabilidade de ambientes. Não possuímos

    somente um tipo de ambiente a exigir repertórios adequados de nós. Na época em

    que nos agrupávamos em pequenos grupos e em matas, as exigências que

    tínhamos eram as daquele ambiente em que estabelecíamos residências. As

    atividades eram divididas funcionalmente e existia a importância e a produtividade

    de todos; construíamos um repertório adequado ao longo da vida, à medida que

    surgiam as exigências ambientais. Na sociedade atual, possuímos diversos

    ambientes que nos cobram muitas vezes repertórios distintos uns dos outros – como

    a casa, a escola a academia, a empresas etc.; além disso, grupos e culturasdistintas convivem comumente hoje em dia, cada um com suas exigências e

    peculiaridades no tocante ao comportamento.

    Dessa forma, na conjuntura humana atual surgem muitos problemas

    psicológicos por falta de adaptação das pessoas a grupos e ambientes, como

    ansiedade, depressão etc. A construção de repertórios comportamentais em um

    ambiente que seja favorável e funcional pode não ocorrer em outros. Por conta

    disso, temos de buscar sempre novas formas de construir repertórios decomportamentos que servem para cada ambiente em que nos inserimos, bem como

    novos ambientes que estimulem o processo de aprendizagem de novos repertórios

    de comportamento.

    Staars e Staars (1962/1973) observam que quanto maior o leque de

    repertórios comportamentais de um sujeito, maior será a capacidade dele de se

    adaptar a novos ambientes. Pois quanto mais amplo o leque de comportamentos,

    maior a variabilidade comportamental e a facilidade adaptativa. Os seres humanos possuem uma estratégia estável evolutiva que por

    milhares de anos vem dando certo, tendo evoluído com base no sistema nervoso

    central. De acordo com Dalgalarrondo (2011), essa capacidade é a generalização.

     Andery (2005) define a generalização como a capacidade de estendermos

    comportamentos que possuímos em uma circunstância a circunstâncias novas. Em

    outras palavras, solucionar problemas mediante a aplicação de repertórios que já

    possuímos.

    Daí ser importante uma estimulação desde cedo em atividades extraescolares

    que possam desenvolver repertórios variados, pois são esses repertórios que irão

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    auxiliar na vida acadêmica e profissional. Na inserção em ambientes novos,

    repertórios novos também serão exigidos, e quanto maior o leque de comportamento

    que o sujeito possua, maior a facilidade em se adequar a novos ambientes: 

     A partir das interações entre indivíduo e ambiente são desenvolvidos osrepertórios básicos de comportamento (RBCs); quanto menor for àvariabilidade comportamental do indivíduo para lidar com as contingênciasambientais, maiores serão as chances de ele produzir consequênciasnegativas. Porém, quanto mais amplos forem seus operantes para lidar comas contingências, conseqüências mais reforçadoras ocorrerão. (STAATS;STAATS, 1963/1973 apud BUENO; LUCIANO, 2011, p. 96).

     A formação extraescolar é relevante porque vivemos numa sociedade em que

    os pais atribuem em grande parte a educação dos seus filhos a uma instituição, e

    essa instituição é a escola. De acordo com Skinner (1957), a escola que vai preparar

    desde cedo os indivíduos possui a tarefa de torná-los cidadãos na sociedade,

    preparando-os para que assumam uma posição produtiva – seja adentrando

    posteriormente numa universidade ou inserindo-se diretamente no mercado de

    trabalho. Dessa forma, o sistema educacional é teoricamente o responsável maior

    por criar os repertórios que venham a ser funcionais para o sujeito no futuro. 

    3.1 O Sistema Educacional como Agência Controladora 

    Quando a espécie humana começou a construir as primeiras formas de

    civilizações, essas eram muito diferentes das que possuímos hoje em dia. Os seres

    humanos já eram seres sociais, organizavam-se em tribos nômades de caça e

    coleta, contando com um número pequeno de indivíduos no grupo.

    Com o estabelecimento de residências fixas, ocorreu o advento da pecuária e

    agricultura, assim como, posteriormente, do comércio. Aumentou o número de

    pessoas localizadas numa mesma região, o que desencadeou o surgimento de

    civilizações. Pinsky (1987) menciona as primeiras cidades que sugiram: Quish,

    Eridu, Nupur, Uruk e lagash. Essas cidades posteriormente formaram a tão

    conhecida Mesopotâmia. 

    É importante salientar que, de acordo com Dawkins (2009), o Homo sapiens 

    possui aproximadamente 200 mil a 150 mil anos de existência; o advento daagricultura tem uma datação em média de 10 mil anos, e a primeira grande

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    civilização – a mesopotâmica – existiu há aproximadamente 5 mil anos. Em termos

    de porcentagem, os seres humanos só viveram aproximadamente 3% de sua

    existência em cidades com populações elevadas. Esse é um dado que tem grande

    impacto no comportamento humano, pois a maioria de nossos comportamentos

    filogenéticos está estruturada para a vida em pequenos grupos.

    Hoje em dia possuímos muitas cidades que ultrapassam o número de um

    milhão de habitantes. Dessa forma, o processo de gerenciamento dessas

    civilizações foi mudando. Hoje temos as ideias de estados e nações. No caso do

    Brasil, vivemos em uma república, elegemos uma pessoa para conduzir, representar

    e administrar 200 milhões de pessoas. Estratégias foram adotadas a fim de se ter o

    controle do número de habitantes e evitar o caos.Para o controle de uma sociedade do tamanho da que estamos tratando, foi

    necessário o surgimento do que Skinner chama de agências de controle: 

     Ambientes sociais complexos, as culturas humanas desenvolveram formasespeciais de controlar o comportamento de seus membros  – dentre as quaisse destacam as agências de controle. O controle do grupo sobre osindivíduos que o compõem pode dar-se de forma relativamentedesorganizada. As agências de controle, porém, são versões refinadas docontrole grupal, cuja organização resulta em maior eficácia na gerência docomportamento. (SKINNER, 1978, p. 367).

    Para Rousseau, seguindo a filosofia dos contratualistas, assim que nascemos

    assinamos um contrato invisível que traz uma série de normas que devemos seguir

    para podermos viver numa sociedade moderna. O Estado impõe um rol de deveres

    que os cidadãos devem seguir para conviver de forma harmoniosa em grupo. 

    De acordo com Skinner, essas agências são instituições que promovem o

    arranjo das contingências para a aquisição e a manutenção das regras

    estabelecidas pelo Estado. 

    Skinner (1953/2000) afirmou que o grupo social exerce um controle sobreseus membros por intermédio do poder de reforçar ou punir. O grupo,segundo Skinner, geralmente não é bem organizado e por isso, na tentativade organizar a convivência entre indivíduos, tem criado agênciascontroladoras. Essas agências, inseridas dentro do grupo social, manipulamum conjunto particular de variáveis, sendo mais bem organizadas do que ogrupo como um todo, podendo assim operar com maior sucesso. Asagências descritas por Skinner foram o Governo, a Religião, a Psicoterapia,a Economia e a Educação. (TODOROV, 1987, p. 6). 

    Para efetivar seu controle sobre o comportamento dos indivíduos, as agências

    fazem uso do reforço, da punição, da extinção etc. As ferramentas de ajustamento

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    comportamental são utilizadas com primazia para o controle comportamental de uma

    sociedade.

     A partir do momento que houve uma expansão populacional humana e das

    suas organizações enquanto grupo macro, a ontogênese, junto com a capacidade

    de transmissão de conhecimento, foi capaz de lidar com algumas limitações para

    administrar um grande contingente humano. Os seres humanos criaram estratégias

    evolutivas, sendo o Estado uma das mais modernas estratégias hodiernas.

    Dessa forma, fica evidenciada a importância de um entendimento do Estado

    não somente como uma construção social, mas como uma estratégia evolutiva de

    nossa espécie para a acomodação de números tão elevados de indivíduos: 

    Presumivelmente, as agências de controle emergem pelo mesmo motivoque explica as instâncias mais simples de controle interpessoal: ocomportamento dos controlados revela-se reforçador para os controladores.Porém, enquanto conjuntos complexos de práticas culturais, as agências decontrole devem ter sido selecionadas também por seus efeitos benéficospara a sobrevivência dos grupos que as adotaram (TODOROV 1987, p. 7).

    Skinner (1978) pontua que para esse estado atual sobreviver é necessária a

    interferência das suas agencias de controle, construídas com o objetivo de manter

    esse segmento de controle populacional elevado. Essas agências têm como objetivo

    instalar, cobrar e fazer a manutenção dos padrões de comportamentos adequados

    de sua população, utilizando recompensas e aversivos para tal.

    Foi fundamental a criação de uma concepção de um pai de todos os

    cidadãos, um pai que recompensa quando o filho age segundo suas expectativas,

    um pai que pune o filho que age contrariamente às normas estabelecidas. Um bom

    pai ensina e orienta seus filhos a seguirem um modelo que ele ache adequado para

    sua cria, de maneira que eles venham a ser bem-sucedidos em seu crescimento,pois é a sua carga genética que está sendo passada adiante para a sua

    continuidade, ou seja, é a sua sobrevivência enquanto indivíduo. 

    O Estado como um “bom” pai também vai fazer esse exercício, pois afinal são

    suas normas e regras que estão sendo passadas, e sua sobrevivência enquanto

    instituição depende disso. Por isso existe um agência de controle do Estado que é a

    responsável pela formação e orientação dos seus filhos. Essa agência de controle

    se chama educação.

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    O termo educação, de acordo com o Dicionário Aurélio, deriva do latim

    educations  e está ligado ao desenvolvimento contínuo das faculdades físicas,

    intelectuais e morais do ser humano. 

    No livro “O que é educação”, de Carlos Rodrigues Brandão (1995), logo no

    prefácio o autor traz uma citação que é de extrema importância para o que vem

    sendo discutido até o momento no trabalho, no tocante ao esclarecimento do que

    seria educação.

    Brandão (1995) alude a um fato histórico ocorrido há muito tempo nos

    Estados Unidos. Um tratado de paz entre Virginia e Maryland com os índios de seis

    nações. Foi enviada uma carta desses estados às lideranças das tribos; a resposta

    dada pelos indígenas, também em carta, ficaria conhecida até os dias atuais, pois foidivulgada por Benjamin Franklin. Brandão divulga tal trecho: 

    [...] Nós estamos convencidos, portanto, de que os senhores desejam obem para nós e agradecemos de todo o coração. Mas aqueles que sãosábios reconhecem que diferentes nações têm concepções diferentes dascoisas e, sendo assim, os senhores não ficarão ofendidos ao saber que avossa idéia de educação não é a mesma que a nossa. [...] Muitos dosnossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do Norte eaprenderam toda a vossa ciência. Mas, quando eles voltavam para nós,eles eram maus corredores, ignorantes da vida da floresta e incapazes de

    suportar o frio e a fome. Não sabiam como caçar o veado, matar o inimigo econstruir uma cabana, e falavam a nossa língua muito mal. Eles eram,portanto, totalmente inúteis. Não serviam como guerreiros, como caçadoresou como conselheiros. Ficamos extremamente agradecidos pela vossaoferta e, embora não possamos aceitá-la, para mostrar a nossa gratidãooferecemos aos nobres senhores de Virgínia que nos enviem alguns dosseus jovens, que lhes ensinaremos tudo o que sabemos e faremos, deles,homens. (BRANDÃO, 1995, p. 164). 

     As agências educacionais têm um objetivo: a instalação de repertórios de

    comportamentos adequados para a sobrevivência de uma cultura. Para os estados

    da Virginia e de Maryland, o ingresso dessa população indígena nas instituições de

    ensino do estado facilitaria o controle populacional. Assim como no Brasil grande

    investimento foi concedido aos jesuítas para a divulgação da cultura cristã nas

    aldeias locais, pois é uma necessidade construída a partir da concepção do Estado

    buscar unificar os povos e fomentar e impor culturas e padrões, lançando a ideia de

    um ser único e de uma única cultura. Essas estratégias buscam justamente a

    manutenção da ideia de Estado. 

    O líder das tribos das seis nações nos Estados Unidos deu uma respostaprecisa aos representantes dos estados. Os conhecimentos que o Estado oferece

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    para essas tribos não são funcionais à sobrevivência das tribos enquanto

    organização humana. Para elas é necessário o ensinamento sobre lutas, caça e

    organização grupal, e não as lições de ciências e afazeres que o Estado propõe e

    estabelece como importantes. 

    O entendimento da análise do comportamento sobre educação é bem

    parecido com o que o líder das tribos atribui na carta. Para Skinner, “a educação é o

    estabelecimento de comportamentos que serão vantajosos para o indivíduo em

    algum tempo futuro” (1989, p. 122). Ou seja, os indivíduos que dependem do Estado

    têm de se adequar a culturas e ensinamentos específicos, se quiserem sobreviver. 

     Assim como a cultura tratada no primeiro capitulo é maleável e adaptativa aos

    agrupamentos específicos, o entendimento da educação também o é, pois aeducação é o arranjo de contingências para o ensinamento de conhecimentos e

    habilidades específicas de cada cultura:


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