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Território usado/praticado como categoria central do...

Date post: 14-Dec-2018
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Território usado/praticado como categoria central do planejamento urbano e regional Used/practiced territory as a central category of urban and regional planning Coordenador: Manoel Lemes da Silva Neto, Programa de Pós-graduação em Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, docente, manoel.lemes@puc- campinas.edu.br Debatedora: Mónica Arroyo, Programa de Pós-graduação em Geografia Humana da Universidade de São Paulo, docente, [email protected]
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Territóriousado/praticadocomocategoriacentraldoplanejamentourbanoeregional

Used/practicedterritoryasacentralcategoryofurbanandregionalplanning

Coordenador:ManoelLemesdaSilvaNeto,ProgramadePós-graduaçãoemUrbanismodaPontifíciaUniversidadeCatólicadeCampinas,docente,[email protected]

Debatedora:MónicaArroyo,ProgramadePós-graduaçãoemGeografiaHumanadaUniversidadedeSãoPaulo,docente,[email protected]

SESSÃO L IVRE

DESENVOLVIMENTO,CRISEERESISTÊNCIA:QUAISOSCAMINHOSDOPLANEJAMENTOURBANOEREGIONAL? 2

ApropostadestaSessãoLivreétornarpresenteinterlocuçõespossíveisentreasobrasdeMiltonSantos e Ana Clara Torres Ribeiro e a temática do XVII ENANPUR – desenvolvimento, crise eresistência:quaisoscaminhosdoplanejamentourbanoeregional?

Anteriormente, em 2015, no XVI ENANPUR, esses diálogos estavam presentes na Sessão Livre“Visões demundo a partir do olhar de Ana Clara Torres Ribeiro”. Então, à luz dos “conceitos-projeto” do trabalho de Ana Clara, explorou-se afinidades teóricas fundamentais, como ainterlocução comMilton Santos a respeito de inter-relações espaço, território, prática social epolítica.

Agora, quando se indaga sobre os caminhos do planejamento urbano e regional no Brasil e naAméricaLatina,articulam-seaoquestionamentoconvergênciasextraordináriasentreageografiadeMiltonSantoseasociologiadeAnaClaraTorresRibeiro.Neles,aperspectivadateoriasocialénotavelmente desenvolvida. A partir dos anos 1990, em especial, o escancaramento daglobalização os impulsiona em ideias das quais emergem importantíssimos arcabouços dopensamentocríticocontemporâneo.

Na “Sociologia doPresente”, deAnaClara,Milton Santos contribui comoumde seus principais“nortes reflexivos”. A expressão “humanismo concreto” está entre eles. O “homem lento” e a“psicoesfera”tambémremetemàsconceituaçõeselaboradaspelogeógrafoqueosaproximamnaproduçãoteóricaenolastroaelasubjacente:aaçãopolítica.Adensidadeepertinênciadaanálise,a coerência interna dos argumentos resultam do franco interesse de Ana Clara no avanço dopensamentodeMiltonSantos,eemconsonânciaàproduçãodeumasociologiacompreensivadocotidianoedaculturapopular.

Aconversaentreambosseestendeuparaalémdasatividadesprofissionais,queosaproximaramnofinaldadécadade1970.ComointerlocutorareconhecidamentemuitoativadaobradeMiltonSantos, identificar e esclarecer as intrincadas associações entre técnica, tecnologia, sociedade,culturaeterritórioé,emprincípio,acontribuiçãoprimordialdasocióloga.

Sob tal quadro de referências, as exposições desta Sessão Livre exploram abordagensdesenvolvidasapartirdanoçãode“territóriousado”inicialmentepropostaporMiltonSantosou,ainda,de“territóriopraticado”,apropriaçãoquesedepreendedotrabalhodeAnaClaraapartirdaquelaideiaelementar.

A perspectiva intermediada pelo conceito de território usado/praticado é a da análise crítico-propositiva.Advémdaproblematizaçãoteoria-práxis,dopapeldointelectualpúblicoatribuídoporAnaClaraaMiltonSantos.

Eessaespéciedeexplicaçãoteleológicasefazparticularmenteindispensávelnoperíodohistóricoatual.

Em Milton Santos, o “caminho que nos libere da maldição da globalização” tem a “sociedadeterritorial” como base. Isto é, a sociedade indissoluvelmente, territorialmente apreendida aosobjetos e ações que a animam. E é o uso do território, não as formas, que o torna “objeto daanálise social”. Para ele, o território nãoé uma categoria de análise.A categoria de análise é o“territóriousado”.

O território-forma é impotente para explicar e transformar. Não dá conta de uma explicaçãosatisfatória do fenômeno espacial; não consegue assegurar, nem desenvolver verdadeiras

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estratégias de planificação, aquelas que, à serviço dos homens, produzem transformaçõesestruturaisnasociedade,naeconomiaenoespaço.

Dentrodasciênciassociais,oterritório,paraseralçadoaopatamardecategoriaanalítica,devesetornarterritóriousado.

Tão somente considerado enquanto forma, o território é desprovido de sentido social.Diferentemente, o território usado, enquanto categoria de análise, visa a política e produzprojetos.Territoriaisecientíficos.

Territoriais, namedida em que o elemento categórico tem como lançar fundamentos de outroplanejamentourbanoeregional,deoutrourbanismo.

Científicos porque, as categorias analíticas, que ampliampotências de interpretação domundo,ensejam percepções radicalmente inovadoras. É o caso do território usado em relação àsdisciplinasespaciais:estendemhorizontesinterpretativosedeações.

Porexemplo,o“mercadosocialmentenecessário”.Essanoção,trazidaporAnaClara,representaummarcoepistemológicoparaaanálisedadesigualdadesocioespacial.Etalpercepçãodoanalistaconduz estratégias que alargamo usufruto do território pelos sujeitos coletivos.Disso é que setrata.

Reflexão e ação, “ideias-conceitos”, “ideias-projeto” decorrem do esforço disciplinar dessesteóricos.

NatrajetóriadeMiltonSantos,oterritóriousadoassocia-seàcompreensãodométodogeográfico.À totalidade do espaço, objetos e ações configuram o espaço humano, o espaço habitado,sinônimos de território usado.Nos anos 1970, o espaço, como categoria filosófica, define, paraMiltonSantos,oobjetodageografia.Nadécadade1990,eleapresentaoconceitode territóriousadocomoumnovoelementoparaserefletiroespaçoapartirdaassociaçãosistemadeações-sistemadeobjetos,constitutivadatotalidadeemmovimento.

Entreosargumentosquesustentamocarátercategóricodoterritóriousado,oquotidiano,osaberlocal,aculturaterritorializadaeaaçãosocialdescortinam,paraAnaClara,níveisanalíticosquelheautorizamjustaporoterritóriopraticadoaoterritóriousado.Doprismadesuavisãosociológica,adinâmica das práticas sociais ocupa papel equivalente à geográfica bidimensionalidade espacialsistema de ações-sistema de objetos. Para ela, e também do ponto de vista do método, atotalidade social émuitomais importanteque a totalidadeespacial. Entretantonão se tratadedisputaentredisciplinas sobreoqueseja totalidade.Oquesepretendeéperseguiruma“visãoarticuladadeprocessos,fenômenoseconceitos”.

Além do território e de como é usado, o território praticado implica levar em conta umasignificação política relevante. Há, subjacente na proposição do território praticado, certacentralidadedaaçãopolítica.Nosdoissentidos,umadireçãocomum:acríticadopredomíniodevalores, como o de eficácia e desempenho que emprestam à gestão do território ares delegitimidadequesolapamaaçãopolítica.

Oterritóriousado/praticadoéolugardeconstruçãodosprojetos;comarevoluçãoteórica,torna-sepossívelconvergirnumarevoluçãosocial,econômicaeespacial.Ateoriadoespaçoeateoriadaaçãopodem,então,prosseguirdesvencilhadasdopensamentoedaaçãohegemoneizantes.

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Dessemodo,ostemasaseremabordadosnestaSessãoLivre,sobprismasparticulares,pretendemcontribuirnadiscussãodealternativascontemporâneasparaoplanejamentourbanoe regional:“Diálogospossíveisentreageografiaeasociologianotempopresente” (CatiaAntoniadaSilva);“Novourbanismocríticoeaperspectivapolicêntrica”(PedroCláudioCuncaBocayuva);“Daanáliseespacial ao projeto: superar a dicotomia” (Manoel Lemes da Silva Neto); e “Período popular eespaçobanal:desafiosteóricos,analíticosepropositivos”(AdrianaM.BernardesSilva).

PalavrasChave:território,práticasocial,açãopolítica,teoriacrítica,planejamento

Diálogos possíveis entre a geografia e a sociologia no tempopresente

CatiaAntoniadaSilva,FaculdadedeFormaçãodeProfessoresdaUniversidadedoEstadodoRiodeJaneiro,docente,[email protected]

AnaClaraTorresRibeiro,socióloga,eMiltonSantos,geógrafo,contribuíramparaarenovaçãodasciênciassociaisedaGeografiaemparticular.Osváriosanosdeconvívios,dedebates,reflexõeseescritascontribuíramparaareformulaçãodasociologia,geografiadopresente.Aliás,opresente,nasuadimensãocorpo-espaço-tempo,apresentificaçãoécondiçãoexistencialdopossível,quersejanaforçadoexercíciodadominação,podereconsensodaordemsocial,quersejanadimensãodas formaseaçõesde resistênciae insurgências.A indissociabilidadeentreo sistemadeaçãoesistemadeobjetospropostaporMiltonSantostevegrandecolaboraçãodialógicacomAnaClaraTorres Ribeiro, que posiciona o debate das teorias das ações sociais, numa perspectiva deaprofundamentoanalíticoquenosajudaapensarateoriadoespaçogeográficodeMiltonSantos.O presente trabalho tem como finalidade apresentar fios e nexos dialógicos, teóricos emetodológicos estabelecidos entre os dois autores, sobretudo com ênfase a compreensão daconjunturapoliticaedasquestõespostasnotempopresente.

PalavrasChave:análisedeconjuntura,espaçobanal,açãosocial

Novourbanismocríticoeaperspectivapolicêntrica

PedroCláudioCuncaBocayuva,NúcleodeEstudosdePolíticasPúblicasemDireitosHumanosdaUniversidadeFederaldoRiodeJaneiro,docente,[email protected]

As transformaçõesedesafiosdaquestãourbanaparaoBrasil tornamurgenteamobilizaçãodainteligência pública nacional, da comunidade de cientistas com osmovimentos sociais para darcentralidade ao processo de produção de conhecimentos aplicados para a solução dos grandesproblemas das megacidades. Nas nossas pesquisas e avaliações da conjuntura social vemos anecessidadedeumavançoemdireçãoaprocessosdeCT&Icapazesdedaremcontadosgrandesgargalos da urbanização das favelas e periferias. A partir das áreas de conhecimento ligadas àsdisciplinasespaciais,aproximandooplanejamentourbanoeregional,ageografia,asociologia,aarquiteturaeourbanismo.Hojeéprecisoampliaroâmbitodassoluçõesurbanísticasdegrandeescalanarelaçãodiretacomdemandasderivadasdacentralidadedosocial.Tratassedepensarourbanismoeaorientaçãodepolíticaseprojetoscomorespostaparaagrandeescalanaformação

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articulação de um novo bloco social e técnico. O contexto exige um salto na capacidade dedesenho estratégico, do trabalho sobre estrutura, agência, forma e função na relação com ossujeitosevozesligadasaoterritóriousado(desdeopontodevistadossubalternos).Destacamosaimportância da reflexão tecnológica dentro do eixo do urbanismo crítico, em interação com aspráticas espaciais dos sujeitos populares, na perspectiva do direito à cidade como resposta aoquadrodedesigualdadeesegregação.Naligaçãodiretacomainteraçãoentreoadensamentoeasdinâmicasdistributivaspolicêntricasapartirdedemandasnadireçãodo social,do comumedopúblico.

PalavrasChave:conjunturasocial,urbanismo,práticasocial

Daanáliseespacialaoprojeto:superaradicotomia

ManoelLemesdaSilvaNeto,ProgramadePós-graduaçãoemUrbanismodaPontifíciaUniversidadeCatólicadeCampinas,docente,[email protected]

Nasdisciplinasprojetuais,odesnivelamentoentreaanáliseespacialeoprojetoéfrequente.Nãoraras vezes, a leitura e a análise do espaço que subsidiam a elaboração de projetos não serepercutememvirtudesestéticasefuncionaisdaforma.Éumahipótese.Seháproblemasaseremresolvidos no campo da estética e dametodologia do projeto, também há outras questões demétodoqueexplicamodesencontro.Nestecaso,fala-sedométodoenvolvidonaanáliseespaciale,consequentemente,dascategoriasutilizadasnainterpretaçãodofenômeno.Pressupondoquetalproblematizaçãoenvolveamaisampladasdicotomiasnoâmbitodasciênciassociais,aqueseestabeleceentreateoriaeaprática,apropostadaexposiçãoéexplorararticulaçõesteóricasdasociologia,dageografiaedourbanismoecomplementaridadesdepensamentodepreendidasdasobrasdeMiltonSantoseAnaClaraTorresRibeiro.Propõe-sediscutirtrêsplanosanalíticos.1)Ométodo – abordagem geográfico-sociológica da noção de totalidade e a indissociabilidade dasaçõescomosobjetos.2)Ofenômeno–ofatometropolitanonoBrasil: involuçãometropolitana,involução intra-metropolitana; as múltiplas dimensões territoriais da crise econômicacontemporâneaeoprojetopolítico,danaçãoaolugardavidacotidiana.3)Aaçãopolítica–ação,projeto da ação, conhecimento prático e território usado; da teoria à prática e do direito aoentorno,emMiltonSantos;sobreoensinodoplanejamentoeacartografiadaaçãosocial,emAnaClaraTorresRibeiro.

PalavrasChave:análiseespacial,projeto,políticaspúblicas

Período popular e espaço banal: desafios teóricos, analíticos epropositivos

AdrianaM.BernardesSilva,InstitutodeGeociênciasdaUniversidadeEstadualdeCampinas,docente,[email protected]

A constituição de um novo período histórico, o período popular, aparece como uma questãoteóricaepolíticadeixadaporMiltonSantos(1979,2000),nosdesafiandoarenovaropensamentoeaação.Suapreocupaçãocomonovoperíodorepousavanavontadedevalorizaracentralidade

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dohomem(enãoadodinheiro)paraaconstruçãodeumaoutraglobalizaçãoe,portanto,deumoutro espaço geográfico. Por isso, preocupar-se com o novo período implicará, no campo dapesquisa, em desvendar a rica e complexa densidade humana que aporta os novos conteúdospotencialmenteascendentesaoespaçobanal, desencadeandoefeitos sistêmicos.ConformeAnaClaraT.Ribeiro, implicará tambémemsuperara impotênciapropositivanosdifíceis caminhosaserpercorridosnaslutasporjustiçasocial.

Nucleadosapartirdascategoriasterritóriousado(MiltonSantos)eterritóriopraticado(AnaClaraT.Ribeiro),osconceitosdelugar,escassez,contigüidade,rugosidades,co-presença,homem-lento,emoção,culturapopular,densidadecomunicacional,mercadosocialmentenecessário,seriamumguiateóricoparapensar-seaexistênciadoperíodopopularedoespaçobanal(oespaçodetodos).Tais categorias e conceitos podem nos ajudar a propor uma agenda analítica de situaçõesconcretasecontribuir,dessemodo,parareinventarumapráxisplanejadora.

PalavrasChave:períodopopular,espaçobanal,grandecidade


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