EPUSP – ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO
PAULO
ENGENHARIA ELÉTRICA
The Black Swan: The Impact of the Highly Improbable
Transformando Negro em Cinza
Diego Amaral Souza
8992291
São Paulo
2015
Resumo
O livro estuda eventos imprevisíveis que causam um grande impacto, eventos esses que ele
denomina Cisnes Negros. Ele realiza análise de aspectos biológicos e psicológicos que rodeiam
estes eventos, bem como nossas ferramentas de estudo e as características da própria
informação e da aleatoriedade.
Cisne Negro
Por muito tempo as pessoas acreditaram que todos os cisnes eram brancos. Essa hipótese era
confirmada por milhares de observações, mas bastou apenas uma, o avistamento de um cisne
negro, para invalidá-la. Esse fato ilustra o quão frágil e incerto é nosso conhecimento.
Tendo em mente esse fato podemos então definir um tipo de evento muito especial, um
"Cisne Negro". Um evento deste tipo precisa possuir três características: Primeiro, ele deve ser
inesperado, "um ponto fora da curva", pois nada do que se observou até o momento sugere
que ele possa acontecer. Segundo, ele causa um grande impacto. Terceiro, apesar de seu
caráter imprevisível nossa natureza humana tende a tentar encontrar explicações para seu
acontecimento depois do ocorrido, tentando mostrar que ele é explicável e previsível.
Busca por confirmação
Nós tendemos a prestar maior atenção às informações que condizem com nosso
conhecimento, enquanto ignoramos completamente aquelas que o contradizem. Os Cisnes
negros nascem deste erro, pois como já discutimos, eles destoam do resto das observações.
Considere o seguinte exemplo histórico: por mais de um milênio a Síria Libanesa, uma região
do império Otomano, abrigou povos de diferentes etnias e culturas, sendo considerada um
exemplo de civilidade, cultura, tolerância e coexistência pacífica. Depois da queda do império,
o Líbano se separou do resto do território de modo a se tornar predominantemente Cristão.
O povo passou a aceitar a ideia de um estado nacional e o país se desenvolveu ainda mais.
Oferecendo uma economia próspera, clima agradável e um estilo de vida sofisticado, a região
atraiu ainda mais intelectuais.
E então um cisne negro surgiu. O paraíso de cultura e tolerância se transformou em um
inferno devido a uma guerra civil entre cristãos e muçulmanos. Áreas residenciais se
transformaram em zonas de combate de uma guerra que durou mais de 15 anos. Além da
destruição física, a guerra causou o êxodo dos intelectuais, efeito conhecido como “brain
drain”, removendo toda a aura de sofisticação e refino da região.
Mas como é possível que um evento de tamanho impacto aconteça sem que ninguém note os
sinais de que ele está se desenvolvendo?
A História
A história é opaca. Somente testemunhar eventos históricos não nos garante entendimento
dos motivos desse evento. Essa opacidade deve-se a três patologias: A ilusão de
entendimento, pois sempre achamos que compreendemos um mundo que na realidade é
muito mais complexo e aleatório do que nós acreditamos. A distorção da retrospectiva, pois
depois dos eventos nos parece que tudo era simples e claro. E a supervalorização dos fatos e
das ideias dos especialistas, especialmente quando eles "Platonizam", ou seja, categorizam os
fatos.
Nós não somos capazes de armazenar todas as informações que nos são apresentadas. Por
isso, quando analisamos um evento depois de sua ocorrência perdemos uma boa parte dos
motivos que levam a seu acontecimento, principalmente aqueles que possuem uma influência
mais sutil, ainda que importante. Além disso, estamos constantemente revisando e
reescrevendo nossas memórias de acordo com o que parece ser mais lógico. Isso faz com que
os eventos pareçam muito mais simples e explicáveis depois de ocorridos.
Quando vivemos em uma época de grandes desdobramentos históricos tudo nos parece
bagunçado e incerto. Apesar de os intelectuais acreditarem que compreendem o que está
acontecendo e que podem prever o que vai acontecer, eles acabam falhando em suas
previsões, e a ideia de que eles realmente compreendem o evento pode acabar prejudicando-
os.
Platonização
Foquemos por um momento no processo de Platonização. Nós tendemos a dividir aquilo que
conhecemos em categorias, pois isso nos ajuda a compreender melhor nosso objeto de
estudo. No entanto deve-se notar que toda categorização implica em generalização e perda de
complexidade. Outro ponto importante são as fronteiras, que em geral apresentam
características de mais de uma categoria. Por isso devemos sempre ter em mente que
nenhuma classificação deve ser definitiva ou imutável, sempre podemos nós deparar com
exceções.
Como a maior parte dos eventos pode ser explicado e previsto através do uso dessas
classificações e generalizações, somos levados nos concentrar somente neles, ignorando a
chance do acontecimento de um Cisne Negro, que apresentaria um impacto incrivelmente
maior que qualquer um desses eventos comuns. Esse fato causa uma redução, ou até mesmo
anulação, da importância dos resultados científicos que simplesmente ignoram essa
possibilidade.
Um exemplo muito claro disso é a “Black Monday” de 1987. Apesar dos estudos realizados
pelos economistas “platônicos” não foi possível prevenir e nem mesmo prever essa catástrofe
econômica. Foi um evento completamente “Fora da curva”, algo que ninguém nem ao menos
cogitava ser possível no dia anterior.
Escalável x Não Escalável
Quando observamos os empregos, podemos distinguir claramente dois tipos: Os “não
escaláveis” no qual você recebe por hora trabalhada e os “escaláveis” onde as recompensas
não dependem diretamente do período de tempo dedicado a ele.
Nos trabalhos “não escaláveis”, o trabalhador é fisicamente necessário. Antes da invenção do
CD, os cantores tinham que estar presentes em shows para que se pudesse ouvi-lo cantando.
Esse fato tornava mais difícil ouvir cantores famosos, fazendo com que até cantores locais
tivessem seu público próprio. Após a criação do CD, cantores menos conhecidos perderam boa
parte de sua audiência para aqueles mais famosos. Esse efeito pode ser observado na criação
da literatura, do cinema e em diversas outras áreas. Ou seja, a ascensão da tecnologia causou
uma acentuação na diferença de publico entre profissionais famosos e não famosos, ainda que
uma boa parte dos não famosos seja tão talentosa quanto. Na verdade, boa parte dos
profissionais famosos é considerada talentosa, em parte, por ser famosa, e não o contrário,
como se espera.
A globalização permitiu aos Estados Unidos sua especialização no aspecto criativo dos
produtos, eles desenvolvem as ideias e conceitos enquanto exportam os trabalhos manuais
para aqueles que o aceitam de bom grado. Note que a maior parte dos ganhos está
relacionada ao trabalho intelectual, trabalhos “escaláveis”, enquanto que os trabalhadores
“não escaláveis” ficam com uma parte infimamente menor.
Mediocristão x Extremistão
Vamos definir Mediocristão como sendo um domínio onde uma única observação fora do
esperado não é capaz de alterar significantemente o comportamento médio do sistema. Como
por exemplo, o peso de 99 pessoas escolhidas aleatoriamente juntamente com a pessoa mais
pesada do mundo. Não importa o quanto ela pese, a média do sistema não sofrerá uma
alteração significativa. Neste domínio imperam o coletivo, o obvio e o previsível.
E Extremistão como sendo um domínio onde uma única observação pode alterar, e muito, o
valor da média. Repetindo o experimento escolhendo 99 pessoas e o Bill Gates, chegamos à
conclusão de que a média é praticamente igual à fortuna do bilionário. Neste domínio
imperam a singularidade, o acidental e o imprevisível.
Observando as variáveis podemos dizer que o Mediocristão é o domínio das medidas físicas,
enquanto que o Extremistão é o domínio da informação. O Extremistão se expande
proporcionalmente ao desenvolvimento da tecnologia, e dele podem surgir, facilmente, Cisnes
Negros.
É importante notar que o Extremistão nem sempre implica em Cisnes Negros. Podemos ter
eventos raros e impactantes, mas ainda assim previsíveis. Esses eventos serão classificados
como “Cisnes Cinzas”. E que o Mediocristão também não está a salvo de Cisnes Negros, apesar
de muito mais dificilmente.
O problema da Indução
Todo conhecimento obtido por indução apresenta problemas. Quantas observações são
necessárias e suficientes para que possamos compreender um conceito geral a partir delas?
Na verdade não é possível confiar plenamente em nenhum conhecimento empírico, pois
embora uma sequência de observações positivas aumente a credibilidade deste
conhecimento, ela também diminui a nossa crença de que algo inesperado pode acontecer.
Isso é uma grande falha da própria natureza do conhecimento empírico. Nada garante que
aquilo que foi observado continuará acontecendo da mesma forma e é dai que pode surgir um
Cisne Negro, completamente inesperado e devastador. Esse fato é conhecido como o
problema de Hume.
O Cisne Negro é um problema relacionado ao conhecimento. Se você está ciente da
possibilidade de que ele ocorra, pode diminuir seu impacto ou até mesmo evitá-lo. Além disso,
eles não precisam necessariamente acontecer de forma rápida. Existem Cisnes Negros que se
desenvolvem ao longo de décadas.
O domínio de nosso mundo
É extremamente vantajoso admitir que vivemos no Mediocristão, nele podemos assumir que
Cisnes Negros não existem, e mesmo se existirem eles não causam um grande impacto.
Podemos também ignorar o problema de Hume, pois nossas observações nos fornecem uma
ótima aproximação do comportamento geral de um determinado evento.
No entanto, esse não é nosso mundo. Nós vivemos no Extremistão, mas isso pode ser bom,
desde que aprendamos a lidar com os Cisnes Negros.
Falta de Evidência x Evidência de falta
É importante ressaltar que a falta de evidências de que um Cisne Negro possa acontecer não é
o mesmo que encontrar evidências de que um Cisne Negro não pode acontecer. Apesar de
muito parecidas, as afirmações possuem significados completamente diferentes. No entanto,
nós tendemos a interpretá-las da mesma forma. Ver um cisne negro confirma que nem todos
os cisnes são brancos, mas ver bilhões de cisnes brancos não implica no fato de que todos os
cisnes são brancos. O bilionésimo primeiro pode ser o cisne negro.
Nós tendemos a nos focar somente nas observações que confirmam nossas hipóteses,
tratando-as como evidências de que estamos certos. No entanto, é quando observamos
negações para nossas hipóteses que nosso conhecimento aumenta, e não quando obtemos
séries de observações condizentes com o que se esperava.
Generalização e a Mentira da Narrativa
Lidar com informação é um processo custoso, lidar com informação bruta é mais custoso
ainda. Para diminuir esse custo e poder trabalhar com essas informações, nossos cérebros tem
que simplificar, ordenar e criar padrões, tornando mais fácil armazená-las e recuperá-las.
Infelizmente, nesse processo estamos, muitas vezes, deixando os Cisnes Negros de fora.
Nosso cérebro é capaz de generalização seletiva. Devido à evolução biológica, nós obtivemos
uma boa intuição a respeito daquilo que pode e do que não pode ser generalizado, com
algumas exceções. No entanto, como nosso mundo se tornou muito mais complexo e cheio de
informações, somente esta intuição, que era suficiente para nossos antepassados de milhares
de anos atrás, já não o é para nós, que vivemos no mundo Extremistão atual.
Outra forma de simplificar os fatos é ligando-os por meio de relações de causa e efeito,
criando uma “narrativa”. Intuitivamente fazemos essas ligações, tornando tudo mais fácil de
lembrar. Isso nós da uma impressão de melhor compreensão e entendimento, mas também
causa distorções. Por exemplo, ao analisar um desastre associado a um possível evento
causador, nós focamos neste evento e ignoramos completamente todos os outros possíveis
que também poderiam causar esse desastre, ou seja, focamos no evento improvável errado,
deixando espaço para Cisnes Negros.
Dito isso, podemos classificar os Cisnes Negros em duas categorias: os “Narrados”, que são
aqueles sobre os quais, apesar de improváveis, se discute e planeja, pois eles são ditos
causadores de algum desastre e nós os notamos. E aqueles sobre os quais ninguém fala, pois
eles não parecem plausíveis o bastante. Claramente, o segundo tipo é muito mais perigoso e
impactante.
O Sensacionalismo
Os eventos parecerem mais ou menos importantes para nós depende de uma série de fatores
dentre os quais está o apelo emocional. Por exemplo, estatísticas sobre um determinado
acidente não nos chamam muita atenção, mas se algum parente ou amigo sofre um acidente,
nós tendemos a ser mais cuidadosos para evita-lo. Ou ainda, a notícia da morte de uma pessoa
conhecida parece ter muito mais impacto do que da morte de milhões.
Durante um intervalo de tempo próximo do acontecimento de um Cisne Negro, nós tendemos
a ficar mais atentos para uma possível reincidência.
O Pensamento
Nós possuímos um modo dual de pensar. Usamos, basicamente, dois sistemas distintos para
este propósito: O primeiro é automático, exige pouco esforço e nós nem ao menos
percebemos que o estamos utilizando, no entanto, ele também é suscetível a erros. É o que
chamamos de intuição. O segundo exige consciência e esforço, no entanto, é menos suscetível
a erros. É o que chamamos de pensamento.
O sistema 1 nos permite fugir de qualquer coisa perigosa que esteja ao nosso redor, antes
mesmo de nos tornarmos conscientes deste perigo. Ele foi vital para a nossa sobrevivência na
antiguidade. Porém, atualmente ele pode nos induzir a erros quando lidando com problemas
complexos dos dias de hoje. Ainda que esse pensamento dual possa parecer complicado, com
um pouco de esforço, podemos sobrepor nossa intuição inicial por pensamentos provenientes
do sistema 2, aproveitando cada um em seu momento apropriado.
Assimetria da Recompensa
Existe uma assimetria na forma como interpretamos recompensas e punições. Diversas
pequenas recompensas espalhadas ao longo do tempo nos dão muito mais satisfação do que
uma grande recompensa concentrada. Infelizmente, nossa vida, em geral, nos recompensa da
segunda forma. Um pesquisador pode passar anos sem avançar em seu estudo e então, de
repente, fazer a maior descoberta de sua vida.
É importante notar que durante esse tempo em que ele não conseguiu nenhum avanço, existia
uma pressão social constante que o punia, e que as punições, assim como as recompensas,
possuem maior impacto quando distribuídas ao longo do tempo.
Evidência Silenciosa
Como já foi dito, nós tendemos a focar naquilo que confirma nossa linha de pensamento. Isso
também acontece na história. As histórias das falhas geralmente são esquecidas, nos deixando
com uma pilha de descrições dos sucessos. Essa falta de informação dos fracassos é chamada
de evidência silenciosa, pois ela reforça a teoria que condiz com os sucessos.
Dentre as características que encontramos nas descrições de pessoas que se tornaram
milionárias, usualmente esta a disposição para correr riscos. Devido à evidência silenciosa, nós
não enxergamos que milhares de pessoas dispostas a correr riscos falharam em se tornar
milionárias, e acabamos sendo levados, pela possível recompensa, a acreditar que correr riscos
é vantajoso. No entanto, para se tornar milionário, ou realizar qualquer objetivo “escalável”, é
necessária uma boa quantidade de sorte, visto que esses objetivos são do mundo Extremistão,
e, portanto, randômicos.
O improvável
O quão improvável um evento é depende do “referencial”, do tamanho da sua amostra. Por
exemplo, se observarmos um grupo muito grande de apostadores em um Cassino é provável
que ao menos um deles ganhe 7 partidas seguidas, apesar de não podermos adivinhar qual.
Por outro lado, do ponto de vista deste ganhador específico essas vitórias teriam uma chance
tão pequena de acontecer que ele passaria a acreditar que isso só pode ser atribuído a uma
força maior, ou ao destino.
A Mentira Lúdica
No mundo moderno somos constantemente enganados pela mentira lúdica. Somos ensinados
que a probabilidade aplicada a jogos é a mesma do mundo real, mas isso não é verdade. Ao
analisar jogos, nós conhecemos as regras que geram os eventos, então tudo pode ser
perfeitamente determinado, descrito por uma curva de bell ou outra distribuição qualquer.
Quando analisamos problemas do mundo real, nós não conhecemos as regras, temos o que
chamamos de incerteza desconhecida.
Tangibilidade
Evidência silenciosa, a supervalorização daquilo que aconteceu, a falta de atenção ao que
podia ter acontecido, nos preparar para reincidência dos mesmos Cisnes Negros enquanto
ignoramos aqueles que ainda não aconteceram, nossa necessidade de Platonizar e de procurar
por observações que confirmam nosso pensamento, nossa crença na mentira lúdica, o motivo
de observarmos Cisnes Negros mas nunca aprendermos sobre eles. Tudo isso é o mesmo
problema: Nós amamos o tangível, o concreto, o palpável, o real, o visível, o conhecido, o
vivido, o visto, o emocionante, o destacado, o matematicamente pomposo, o espetacular e
acima de tudo a narrativa.
Nós somos superficiais, respeitamos aquilo que aconteceu e ignoramos o que podia ter
acontecido, mas isso não é um fenômeno psicológico, isso se deve a própria natureza da
informação. Estudar aquilo que não se pode ver é trabalhoso, e aleatoriedade e incerteza são
claramente questões abstratas.
“Especialistas”
Existem dois tipos de especialistas, aqueles que possuem conhecimento para resolver
problemas práticos que se baseiam em observações e experimentos do passado, como
cirurgiões. E aqueles que em geral lidam com problemas que não se baseiam no passado, tais
como corretores e economistas. As previsões deste segundo tipo podem ser perigosas, pois
em geral eles tendem a simplificar os problemas de modo a poder aplicar seus conhecimentos.
Esta estratégia funciona bem em situações ordinárias, mas não para situações irregulares
como os Cisnes Negros.
Devido à crença de que entendem muito sobre determinado assunto, esses especialistas são
incapazes de admitir que algo inesperado aconteça, deixando essa hipótese fora de seu
modelo. Por isso, quando suas previsões falham miseravelmente eles se confortam com a ideia
de que o evento era imprevisível, que a causa surgiu fora de seu campo de estudo. No entanto
isso não deixa de ser uma falha, e ao longo do tempo eles cometem muitas, sem nunca dar
muita atenção a isso.
Esse comportamento dos especialistas se deve ao foto que tendemos a proteger nossa
autoestima por um mecanismo assimétrico de percepção de eventos aleatórios. Atribuímos os
sucessos a nossas habilidades e as falhas a causas externas. Isso faz com que nos sintamos
especiais, melhores do que os outros.
Taxa de Erro
Uma previsão sobre um evento não tem valor nenhum se não possuir uma taxa de erro
associada. Essa taxa deve levar em consideração a degradação da previsão devido ao período
de tempo que se estuda, quanto maior o período maior a taxa de erro. Note que se a taxa for
da mesma ordem de grandeza da previsão, os valores dentro da faixa variabilidade são muito
mais importantes do que o valor absoluto. Outro problema é na definição do domínio dessa
variável, se uma variável pertence ao Extremistão ela pode assumir um valor muito mais
otimista ou pessimista do que o que nossa intuição nos diz.
Serendiptismo
A maior parte das grandes invenções surgiu de acidentes, do inesperado, e não da construção
progressiva de conhecimento ou desenvolvimento de um projeto. Uma parte daquelas que
foram planejadas para um determinado propósito, tal como o computador e o laser, acabaram
por nos ajudar a avançar em áreas de conhecimento completamente diferentes. Esses são
exemplos de Cisnes Negros positivos.
Para prever a história com precisão, precisaríamos prever também as tecnologias que existem
no momento que se deseja prever. Mas isso leva a um paradoxo, pois se fossemos capazes de
saber quais tecnologias existirão, nós já as teríamos criado, ou começaríamos no exato
momento que soubéssemos de sua futura existência. Em resumo, nós não sabemos o que não
saberemos.
Sistemas Dinâmicos
Na física, existem sistemas que são classificados como dinâmicos. Nesses sistemas uma
pequena mudança na condição inicial causa um resultado drasticamente diferente. Alguns
desses problemas precisariam de tanta precisão para serem calculados que seria necessário
considerar cada átomo do universo. E isso são somente previsões de sistemas físicos, que não
possuem a complexidade de relações sociais. Se considerarmos um sistema humano com livre
arbítrio parece impossível fazer previsões precisas.
Cegueira do futuro e do passado
Quando pensamos no futuro, nós não consideramos aquilo que, no passado, pensávamos do
presente. Ou seja, nós não comparamos aquilo que prevíamos com aquilo que observamos
posteriormente. Da mesma forma, sempre achamos que temos soluções definitivas para os
problemas, sem nunca atentar para o fato de que nossos antepassados também tinham suas
próprias soluções “definitivas” e que provavelmente nossos descendentes também as
possuirão. Essa inabilidade de enxergar a recursão e se posicionar com respeito a um
observador futuro é chamada de “cegueira do futuro”.
“Prever” o passado parece ser uma tarefa tão difícil quanto prever o futuro. Pensando em
problemas físicos, conhecida a condição inicial do sistema, em geral, somos capazes de prever
o resultado final. No entanto, dado um resultado, existem infinitas possibilidades de condições
iniciais que poderiam causá-lo.
A história não é uma base para teorizar e derivar conhecimento geral sem precaução. Nós
podemos encontrar toneladas de evidências silenciosas nela para alimentar nossa ilusão de
conhecimento. Conhecer condições iniciais nos permite fazer uma boa previsão do resultado,
embora o contrário, conhecer o resultado, não nos garante a habilidade de descobrir as
condições que o originaram. Apesar disso os historiadores parecem não notar a diferença
entre esses dois processos.
Riscos e Acidentes Positivos
Devemos manter nossas mentes abertas a aceitar pequenas falhas. Correr pequenos riscos
pode nos levar a um acidente positivo com vantagens enormes.
Quando “caçamos” Cisnes Negros positivos, devemos manter alguns truques em mente.
Primeiramente é necessário distinguir contingentes positivos e negativos. Existem alguns
negócios em que pagando com pequenas falhas temos a chance de obter grandes benefícios.
Após algumas falhas, eventualmente, conseguimos reconhecimento e sucesso. Se soubermos
identificar essas situações, conseguiremos “apostar” de forma inteligente, mesmo ao redor de
Cisnes Negros.
O importante aqui é notar uma característica: Assimetria. Mesmo que você não consiga prever
com precisão os Cisnes Negros, desde que você se coloque em situações onde as
consequências favoráveis são muito maiores que às não favoráveis, em um período
suficientemente grande, seu saldo será positivo.
A ideia de basear nossas escolhas nos impactos dos eventos e não em qual provável eles são
acomoda bem os Cisnes Negros, pois ainda que não saibamos a probabilidade deles
ocorreram, podemos sempre estimar seu impacto caso ocorram.
Vantagem Cumulativa
Existe uma ideia na Sociologia chamada vantagem cumulativa, segundo a qual uma vantagem
inicial segue o individuo beneficiado ao longo de todo o desenvolvimento, fazendo com que
ele consiga ainda mais benefícios.
No entanto, nem os indivíduos beneficiados estão a salvo no Extremistão. Um novo indivíduo
poderia surgir do nada destituindo-o dessa vantagem.
Sorte é o mecanismo de renovação do mundo. Ela causa um revezamento de quem são as
pessoas e empresas bem sucedidas, dando a chance de sucesso para outros antes que aqueles
que estão no topo se acomodem demais. Dessa forma ela limita por quanto tempo alguém
pode se beneficiar de uma vantagem inicial.
“Topologia” do Extremistão
Além do fenômeno de concentração que ocorre no Extremistão, acontece também uma
uniformização do restante, como se um "pico" fosse criado.
Temos uma vasta gama de eventos pouco impactantes, que nos dão a impressão de
estabilidade e pouco risco. Mas existem alguns, muito mais raros, que causam um impacto
monumental. Esse é o mecanismo de camuflagem dos Cisnes Negros.
Podemos observar esse efeito na política. Uma crise nos parece cada vez mais improvável,
devido à sensação de estabilidade que sentimos, mas caso ela aconteça, pode destruir o
mundo como o conhecemos.
A curva de Bell
A curva de Bell, ou distribuição Gaussiana mostra que quando nos afastamos da média, a
chance de um evento ocorrer cai exponencialmente. É esse fato que nos permitiria ignorar os
Cisnes Negros, desde que estejamos no Mediocristão. No entanto, não é esse tipo de
distribuição que observamos no Extremistão.
Riqueza é um bom exemplo de algo que não pode ser descrito por uma curva de Bell. A taxa de
desigualdade se mantem constante entre muito ricos e ricos, e também entre pobres e ricos,
ou seja, não decai exponencialmente. Em variáveis do Extremistão, diferentemente da curva
de Bell, o que impera é a assimetria.
A curva de Bell só funciona se fizermos algumas suposições: Primeiro, os eventos observados
devem ser independentes. Em jogos, vitórias passadas não influenciam as chances do
presente, no entanto a realidade não é assim. Como já vimos, vantagem inicial nos leva a mais
vitórias. Segundo, o incremento no “passo” deve ser conhecido e não possuir
descontinuidades.
Vale ressltar que ainda que a distribuição Gaussiana funcione no Extremistão durante alguns
períodos sem Cisnes Negros, isso não prova que ela funcione sempre, assim como um dia sem
que alguém cometa um crime não prova que esse alguém seja inocente.
Fractal
Nossa tendência a platonizar nos cega também para as formas da natureza. Geralmente as
associamos com formas matemáticas teóricas, como circunferências, quadrados e triângulos.
Na realidade a natureza é fractal, ela apresenta pequenas versões de si mesma em escala
menor.
Fractal é uma forma obtida partir de uma fórmula simples e recursiva que cria uma repetição
de padrões geométricos em diferentes escalas, revelando versões cada vez menores dele
mesmo. E assim como a taxa de desigualdade era constante, também o são algumas relações
de distância que são preservadas quando se muda de escala no fractal.
Trabalhar com distribuições fractais é um trabalho difícil que requer atenção. Uma distribuição
fractal possui um parâmetro exponencial e um ponto chamado “crossover” a partir do qual ela
vale, mas nenhum dos dois pode ser determinado com precisão, somente estimados. Devido a
isso, ela não nos fornece resultados exatos. Note que ela pode nos fazer acreditar que se trata
de uma distribuição Gaussiana, visto que desvios extremos ainda são raros.
A distribuição fractal é importante, pois tem o poder de transformar os Cisnes Negros, em
Cisnes Cinzas. Mesmo não conhecendo sua probabilidade de acontecer, nos tornamos capazes
de fazer inferências sobre aquilo que não aparece nos gráficos. Isso se deve ao simples fato de
considerarmos um evento extremo possível, ainda que muito improvável.
Conclusão
Como vimos, existem diversos problemas biológicos, psicológicos e sociológicos em nossa
percepção e interpretação que são intrínsecos dos seres humanos, nós não podemos evita-los.
No entanto, desde que tenhamos em mente que esses problemas existem, podemos nos
policiar nos assuntos importantes, e nos proteger dos impactos maiores.
De fato, a simples consciência de nossos defeitos com relação a aprendizado, podem diminuir
seus efeitos alienantes, nos mantendo atentos e preparados para o imprevisível, ainda que
não saibamos o que ele será.