Date post: | 09-Aug-2015 |
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Entertainment & Humor |
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The Unforgiven Souls
The Unforgiven Souls A História
A História - The Unforgiven Souls
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The Unforgiven Souls E-book
Este Ebook é uma compilação das postagens do blog “The Unforgiven Souls” da
primeira temporada, tendo como extras as versões especiais de personagens
que mudarão completamente a forma de verem os mistérios, desvendando
alguns e criando outros... Esperemos que gostem, deixem comentários para que
saibamos como se sentem, tentamos fazer o melhor!
Basicamente, é a história de cinco criaturas - duas bruxas e três vampiras - que
vivem em conjunto numa penthouse em Moscovo, até aqui nada de mais se não
fosse o facto de se odiarem de morte e de todas terem um passado conturbado,
cheio de mistérios e muitos podres, a coisa piora quando eventos do passado
voltam para assombra-las; Memórias, pessoas, crimes passionais e muito mais...
Para Seguires as postagens clica em em cima no lado esquerdo do pdf...
© THE UNFORGIVEN SOULS 2010
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS - PROIBIDA A CÓPIA TOTAL E/OU PARCIAL
BEM COMO A COMERCIALIZAÇÃO.
A HISTÓRIAS CONTIDAS NESTE E-BOOK SÃO PURA FICÇÃO E EM NADA SE
ASSEMELHAM À REALIDADE. QUALQUER SEMELHANÇA À REALIDADE É PURA
COINCIDÊNCIA.
AS IMAGENS PERTENCEM AOS SEUS RESPECTIVOS DONOS, NÃO AS USAR SEM
OS DEVIDOS CRÉDITOS.
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Personagens Principais
VAMPIRA: CARMEN MONTENEGRO
Personagem escrita por Denisse Sousa
Cor de cabelo: Ruivo
Cor de olhos: Cinzentos
Cor favorita: Vermelho
Defeitos: Orgulhosa e às vezes irónica
Enquanto humana: Era caçadora de Vampiros
Fraqueza: O seu passado e o seu lado humano
Marca: Flor-de-Lis
Melhor Característica: Coragem
Objecto: Duas Desert Eagle 50 Em prateado com as iniciais: CM
País de Origem: Espanha
Época: Sec. XV
A imagem da Carmen pertence a Victoria Francés
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BRUXA: VERONICA RUSSO
Personagem escrita por Lúcia Quintas
Cor de cabelo: Preto azulado
Cor de olhos: Castanhos
Cor favorita: Azul
Defeitos: Manipuladora
Enquanto humana: Era uma Mulher Submissa e Maltratada
Fraqueza: Recordações
Marca: Três Lágrimas
Melhores Características: Misteriosa, Imortal e Vingativa
Objecto: Faca de Prata
País de Origem: Itália
Época: Sec. XVI
A imagem da Veronica pertence a Victoria Francés
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BRUXA: CLAIRE HARRIS
Personagem escrita por Mónica Ferreira
Cor de cabelo: Ruivo Escuro
Cor de olhos: Castanhos Esverdeados
Cor favorita: Preto
Defeitos: Teimosa
Enquanto humana: Era uma Jovem Ingénua
Fraqueza: Sentimentos
Marca: Pentagrama no Pulso
Melhor Característica: Determinação
Objecto: Livro das Sombras
País de Origem: Desconhecido
Época: Sec. XVI
A imagem da Claire pertence a Victoria Francés
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VAMPIRA: SHEFTU NUBIA
Personagem escrita por Sofia Duarte
Cor de cabelo: Loiro
Cor de olhos: Azuis
Cor favorita: Vermelho
Defeitos: Manipuladora e Diabólica
Enquanto humana: Prometida ao Faraó Snofru
Fraqueza: Pessoas Dominadoras
Marca: Cruz Ansata
Melhores Características: Bela e Erudita
Objecto: Rosa Vermelha
País de Origem: Egipto
Época: 2615 a.C.
A imagem da Sheftu pertence a Deligaris
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VAMPIRA: SAMANTHA SAINT
Personagem escrita por Andreia Correia
Cor de cabelo: Castanho-escuro
Cor de olhos: Castanhos
Cor favorita: Roxo
Defeitos: Snobe e Materialista
Enquanto humana: Não se Recorda do que Foi
Fraqueza: Homens Bonitos
Marca: Escorpião
Melhores Características: Sedutora e Sensual
Objecto: Pentagrama
País de Origem: Grécia
Época: Sec. XVIII
A imagem da Samantha pertence a Victoria Francés
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EP1 - "Old Habits Die Hard" by Carmen
É uma armadilha! Cheira a armadilha! Só pode ser…
O meu sexto sentido berrava na minha cabeça, enquanto entrava pela casa
abandonada. Pé ante pé em cima daquele soalho velho e irritante. Ali estava eu, com a
minha pistola em punho, com todos os meus sentidos em alerta máximo. O instinto de
uma caçadora nunca se engana mas, naquele momento era ignorava-o por completo: 1º
erro.
É uma armadilha!
Ignorei novamente, só via o meu objectivo: caçar aquele sugador de sangue. Caça-lo
e junta-lo a minha enorme lista de mortes, afinal era caçadora por alguma razão, certo?
Movimento do lado esquerdo e viro-me com a minha estaca de madeira apontada a
escuridão. Os segundos passam e passam lentamente e o meu coração quase que salta
do peito…
― Carmen... – Chamou-me uma voz masculina e sensual na escuridão. – Carmen…
Virei-me para o local de onde veio o som mas, não vi nada.
― Mostra-te, presas! – Ordenei, a minha voz ecoou pela casota velha.
Novamente silencio, mortal. Não podia deixa-lo escapar, percorrera o país a procura
daquele vampiro e estava disposto a junta-lo a minha colecção.
Senti uma aragem atrás de mim e virei-me.
― Boas…- A minha frente estava um belo homem, de cabelos compridos pretos e
grandes olhos vermelhos. Cara pálida, estranhamente pálida mas, com os lábios
vermelhos. Fiquei sem ar ao confrontar-me com a sua beleza, naquele momento eu
soube que a minha vida humana, chegara ao fim…
Abri os olhos, despertando da minha memória. Precisei de uns segundos para
recompor-me. Todas as noites era assolada pela recordação da minha transformação,
não sei porquê; Talvez por serem a minha última lembrança enquanto ser humana, daí
revivê-la todas as noites…
Dei por mim em frente ao computador.
― Outra vez, em volta do computador… - Disse uma voz feminina. Virei a cabeça e
vi Verónica.. – Por favor, não me digas que andas a procura de mais “casos” para
passar aos teus colegas caçadores.
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Ali estava ela, Verónica uma das nossas bruxas de companhia. Estava encostada a
porta atirando a sua faca ao ar.
― O que queres?! – Perguntei sem paciência para atura-la.
― Devias mesmo deixar essa vida para trás. Não é o que tu és e, não é saudável…
Não mo dizia num tom de amizade mas, sim prepotência como se soubesse que essa
era a minha maior falha.
Não somos propriamente amiguinhas e queridas, apenas companheiras de viagem.
Nenhuma de nós aguenta e nem pode ficar no mesmo sítio mais do que um mês.
Primeiro, porque o aumento da mortalidade masculina entre os 20 e os 40 anos
aumenta drasticamente, Segundo, quem é que aguenta ficar um mês no mesmo sítio?
Verónica deu uns passos na minha direcção.
Rodei a cadeira na sua direcção, estava a ponto de ataca-la.
― Vives no passado, Carmen. O tempo de caçadora já lá vai...
― Eu sou caçadora, sempre fui e vou ser.
Verónica sorriu ironicamente.
― Correcção: Tu não és caçadora, és uma vampira!
― Isso não significa que tenho de parar de fazer o meu trabalho! – O meu tom era de
ordem. Verónica voltou a meter-se direita.
― Tudo bem, presas. – Voltou-se para a porta. – Não sei porquê, mas, simplesmente
adoras sofrer!
Exclamou sorridente e saiu do quarto deixando-me sozinha. Voltei-me para o
computador e vi o caso a minha frente, assim que tivesse oportunidade iria investiga-
lo.
Levantei-me e dirigi-me a janela do meu quarto. Podia ver toda a cidade de Moscovo
coberta pela neve. Algo digno de se ver. No céu estava uma bela lua cheia, inspirei
fundo, estava uma óptima noite para caçar.
Espreguicei-me, estalando os ossos dos braços, das costas e das pernas. Aproximei-
me da janela, ficando ao lado de Verónica, do nosso quarto de hotel via-se a cidade
toda, coberta sob um manto de neve. Conseguia ouvir o batimento cardíaco de cada
pessoa que andava na rua. A minha sede aumentava.
Peguei no meu casaco, nas chaves do carro e saí do quarto trancando-o a chave.
Havia demasiada coisa ali dentro e não queria que andassem a coscuvilhar. Estávamos
no quarto na penthouse do melhor hotel na cidade. Éramos ricas o suficiente para tal.
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Não gostávamos de ostentar mas, isso não significa que temos que tínhamos que viver
mal.
Entrei no carro e guiei sem parar, não sabia para onde ia nem o porquê mas, quando
tenho sede deixo-me levar pelo instinto. Não sinto o carro nem vejo a estrada, parece
que vou em transe até chegar onde quero.
E, neste caso, cheguei a um bar, parei uns segundos a entrada, tentando analisar mais
ou menos o local e sorri. Assim que entrei no bar, foi a loucura total. Conseguia ouvir
os batimentos de todos os homens presentes, como escolher? Mas, logo encontrei.
O homem era alto, forte, com penetrantes olhos verdes e cabelo preto. Tinha um tom
de pele moreno e via-se que p raticava desporto.
― Boa noite. – Disse-lhe sorridente.
― Boas. – Respondeu-me tambem.
Olhei para o seu pescoço e conseguia ver a veia a pulsar-lhe do pescoço. Conseguia
ouvir o seu coração suculento de sangue, o correr do sangue nas veias…apetecível.
― Posso convidar-te para um jogo?
Ele sorriu-me, estava a ponderar se devia ou não aceitar.
― Não sei.
― Tens medo de perder?
― Não, eu sou um cavalheiro, não quero magoar os teus sentimentos ao derrotar-
te…iria sentir-me mal.
― Não te preocupes com os meus sentimentos…
Tinha-o agarrado, eu sabia. Conseguia sentir a sua luta pessoal.
― Tudo bem…
Apanhado! Lancei o isco e ele comeu-o com gosto.
Depois do jogo, que eu perdi de propósito, deixei-o beber umas quantas cervejas.
Não bebi com ele mas, não deixei embriagar-se, afinal, o sangue não saberia muito
bem se estivesse podre de bêbado.
Daí a leva-lo para a sua carrinha Chevrolet a cair aos pedaços, foi fácil. Disse que
queria boleia para casa, estava muito longe, e juntei uma carinha de cãozinho
abandonado a mistura.
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Levei-o por caminhos desertos e longe de tudo.
― Pára aqui…- Pedi gentilmente. O homem parou o carro junto a berma da estrada e
eu virei-me para ele. – Podes começar a correr…
Ele riu-se.
― Porquê?
Eu sorri tambem mas, não por muito tempo. Mostrei-lhe as minhas presas e os meus
olhos brancos, a sua reacção foi impagável. Ficou branco que nem cal, largou um
berro como se fosse uma menina assustada e saiu a correr. Dei-lhe um avanço de uns
bons metros, uma das vantagens de ser vampira: A velocidade.
Saí do carro lentamente e ajeitei a roupa. Conseguia vê-lo a correr e seguiu-o sem
muito esforço. Em pouco tempo estava mesmo atrás dele, estiquei a perna, ele
tropeçou e estatelou-se no chão. Virei-o com o pé e sentei-me em cima dele.
Ignorei os pedidos de misericórdia e de piedade, aprendera a não deixar que me
afectassem. Agarrei-o pelo pescoço e mordi-lhe com toda a força. Senti o seu sangue
na minha boca, na minha língua: Quente, cheio de adrenalina e medo. Sabia muito
tempo e deixou-me com vontade de repetir, pena que o ser humano não tinha muito
sangue. Suguei-o até não haver mais o que sugar, deixei-o cair inerte, sem vida no
chão. E suspirei…já sabia o que vinha a seguir. A culpa!
Levantei-me e observei o corpo do jovem morto e fui assolada pela culpa.
― A culpa é horrível…
Virei-me e vi uma jovem junto a uma árvore. Trazia um vestido ruivo e era muito
bonita.
― Claire…O que fazes aqui?!
Ainda estava em modo de caça, as minhas roupas estavam sujas de sangue e ainda
tinha as minhas presas de fora.
― Estava a passear e ouvi-te a caçar. Quando és tu, os homens gritam…
― A sério?! Que engraçado…
Ignorei-a e observei o corpo. A culpa, era tão forte. Eu sou um monstro!
― Carmen, porquê que te torturas? – Senti Claire aproximar-se. – Não vale a pena,
aceita quem és. Deixa o teu passado de fora…
Voltei-me para Claire, interrompendo o seu movimento.
― Deixa-me em paz, se não queres ficar sem pescoço!
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Claire sorriu.
― Não tenho medo de ti…- Ela meteu as mãos atrás das costas. – E sei que não me
farias mal, tu não és assim.
Revirei os olhos, não suportava aquela bruxinha amiga de tudo e todos. Sempre
aprendi que nunca ninguém é bom e simpático, só por ser. Tem sempre algo por detrás
e a Claire…ela…era um enigma. Parecia saber sempre mais do que mostrava.
Peguei no corpo do homem, tinha de dar-lhe um fim decente.
― Não! – Claire estava a minha frente. – Deixa que eu faço isso.
― Não sabes como se…
― Nem tudo tem que ser pelo fogo e pelo sal, Carmen. – A bruxa estendeu os
braços. – Eu sei uma maneira melhor de deixar a alma dele em paz.
Deixei o corpo cair no chão pesadamente e virei as costas a bruxa.
― Como queiras. – Parei de repente e voltei-me. – Queres que te espere?
Claire estava debruçada sobre o corpo, com um livro nas mãos. Olhou para mim e
sorriu.
― Não. Podes ir, Carmen. Não demoro.
A medida que caminhava, fui-me deixando consumir pela culpa. Era verdade, eu era
um monstro. Uma sugadora de sangue reles. Eu que ganhava a vida a matar criaturas
deste tipo, tinha-me tornado numa delas e, mesmo com décadas de experiencia,
continuava a não aceitar-me como tal. Encostei-me a uma árvore senti-me cansada.
Não fisicamente mas, psicologicamente. Limpei a boca e ergui os olhos, foi então que
eu vi. Nas sombras, ao longe um vulto olhava para mim. Não consegui dizer nada,
nem fazer nada, apenas limitei-me a olhar para ele. Era humano, conseguia sentir o seu
coração bater, estava ansioso e talvez assustado. E o cheiro, era-me familiar. Muito
familiar. Mas, da onde?
Com um piscar de olhos aquele vulto desapareceu. Olhei em volta tentando encontra-
lo mas, não o via. Será que tinha sido imaginação minha? Quem era aquele vulto
e…porquê que a sua presença incomodara-me tanto? Pior, porquê que me era tão
familiar?
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EP2 - "We All Have A Weakness" by Veronica Russo
Entrei sigilosamente no quarto de Cármen.
― Outra vez, de volta do computador… – Disse bem alto. Cármen virou a cabeça e
olhou para mim – Por favor, não me digas que andas a procura de mais “casos” para
passar aos teus colegas caçadores.
Ali estava, sentada como um cãozinho à espera que lhe abrissem a porta para poder
entrar em casa. Estava encostada a porta atirando a minha faca ao ar.
― O que queres?! – Perguntou de forma "educada".
― Devias mesmo deixar essa vida para trás. Não é o que tu és e não é saudável…
Sinceramente não o dizia para o seu bem. Dizia-lhe porque adorava meter o dedo na
ferida.
Dei uns passos na sua direcção.
Rodou a cadeira. Estava com cara de poucos amigos. Mas isso passava-me ao lado.
― Vives no passado, Carmen. O tempo de caçadora já lá vai...
― Eu sou caçadora, sempre fui e vou ser.
Sorri ironicamente.
― Correcção: Tu não és caçadora, és uma vampira!
― Isso não significa que tenho de parar de fazer o meu trabalho! – Disse com uma
voz mais forte.
― Tudo bem, presas. – Voltei-me para a porta. – Não sei porquê, mas, simplesmente
adoras sofrer!
Exclamei sorridente e sai do quarto.
Depois de falar com Carmen vesti o casaco e sai da penthouse. Precisava mesmo sair
dali durante um par de horas. Aquela vampira com mania que era caçadora cansava-
me a paciência.
Comecei a caminhar, sem destino, já era tarde e o pessoal que havia pelas ruas eram
jovens que saíam das discotecas.
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De repente os meus olhos ficaram cravados num casal. Ele gritava imenso e
empurrava-a, enquanto que ela só pedia desculpa e chorava como uma madalena
arrependida.
Começaram a suar-me as mãos e a tremerem-me as pernas, passados uns segundos
deixei de ver por completo aquele casal e apareceu uma imagem a minha frente. Vi-
me a mim mesma de joelhos, chorava imenso e tinha a cara cheia de sangue. À minha
frente estava um rapaz que olhava fixamente para mim com uma cara muito séria. Sem
dizer uma palavra agarrou-me por um braço e levantou-me, parecia que eu sabia o que
me ia fazer e comecei a gritar.
Fiquei cega outra vez e outra imagem apareceu. Dessa imagem já tinha mais noção
do tempo em que tinha acontecido.
Desta vez quem estava de pé era eu e era eu que olhava fixamente. No chão estava o
corpo sem vida daquele jovem que anteriormente me tinha agarrado pelo braço.
Eu simplesmente olhava para ele. Desta vez não chorava. Lembro-me que não senti
qualquer tipo de tristeza ao vê-lo ali, morto diante do meu nariz.
De súbito a imagem desapareceu e voltei a ver o casal que discutia. Foi então que me
viram e começaram a andar pela rua. Não pensei muito e fui atrás deles.
No final da rua havia um enorme caminho com árvores dos dois lados. Olhei para os
todos os lados da rua para ver por onde haviam ido, mas aquele sítio escuro estava
completamente vazio.
Senti uma má sensação.
- Isto não é normal. - Disse em voz baixa.
Baixei-me lentamente, tirei a minha faca da bota direita e ocultei-a entre a manga do
casaco.
Não podia empunhá-la sem mais, podia ser falso alarme. Levantei-me e comecei a
caminhar lentamente. O meu instinto detectava algo. Mas o quê?
Depois de avançar um par de metros vi a rapariga no chão por detrás de uma das
árvores. Corri sem pensar que podia ser uma armadilha.
Sem dúvida era humana, podia senti-lo. Estava inconsciente. Tinha sangue na cara,
parecia que tinha o nariz partido.
Voltei a ficar cega, mas desta vez de raiva.
- Onde estás, cobarde! - Gritei sem pensar. - Onde estás? Que se passa, só gostas das
que choram?
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Olhei à minha volta. Estava muito escuro. Tinha uma certa dificuldade em ver bem a
larga distância.
Caminhei alguns metros mas nem sinal dele. Até que, uns segundos depois, senti
uma dor imensa nas costas. Virei-me e ali estava ele, diante de mim com uma navalha
na mão. Senti-me desvanecer. Cai ao chão mas sem saber muito bem como voltei a
estar completamente lúcida.
Dei-lhe um pontapé com todas as minhas forças e ele caiu sem saber muito bem
como. Era humano, consegui senti-lo. Levantei-me com dificuldades e tirei a faca que
continuava oculta na manga.
Ele continuava estendido no chão agarrado a barriga.
Revirei os olhos e entrei numa espécie de transe. Ele começou a contorcer-se no chão
mas desta vez não por culpa das minhas botas. Sem mais, deu um grito de dor mas
sem explicação calou-se de repente.
Sai do transe e olhei para ele. Ali estava ele, no chão, sem vida. Tinha-lhe roubado a
única coisa que lhe pertencia realmente: A sua triste alma.
Estava bem guardada no punho da minha faca. De ali só para a minha caixa das
recordações.
Senti-me desvanecer outra vez. Cai novamente ao chão já quase sem forças. Depois
de uns segundos e antes de perder os consegui ligar a Claire.
- Ajuda-me! - Disse.
- Verónica? Onde estás? Verónica? Verónica?
Despertei lentamente. Doía-me imenso o corpo. Olhei à minha volta. Não sei bem
quanto tempo estive inconsciente mas suponho que um par de horas. Junto á porta,
encostada a parede estava Samantha.
Que estava aquela coisa a fazer no meu quarto?
- Que fazes tu aqui? - Preguei de maus modos.
- Queria ver se morrias! - Disse com ar de gozo.
- Não morro tão facilmente, ignorante. Sou imortal!
- Alguma forma deve haver para acabar contigo.
Nesse momento entrou Claire e Sheftu. Olhei com um olhar ameaçador para
Samantha mas ela deixou escapar um pequeno sorriso.
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- Como estás? - Perguntou Claire.
- Dói-me imenso o corpo mas para desgraça de muita gente vou sobreviver! - E
lancei outro olhar a Samantha. Voltei a olhar para Claire, que não entendia nada do
que se passava. - Como me encontraste, Claire?
- Não fui eu... Foi ela! - Disse apontado para Sheftu.
- Como me encontraste?
- Pelo bater do teu coração! Os batimentos são como as impressões digitais... não
existem duas iguais...
- E porque me ajudaste?
- Não o fiz por ti… Por mim podias...
- Não te atrevas! - Interveio Claire.
De repente toca o meu telemóvel. Com muita dificuldade para me mexer consegui
alcançá-lo e atendi.
- Sei quem és! E sei o que fazes! - Exclamou uma voz do outro lado.
- Quem és tu? Quem és tu?
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17
EP3 – “Classical Beauty” by Claire Harris
Sentada no parapeito da minha janela, olhava para o exterior. Sentia o vento a bater-
me na cara levemente. Dentro do quarto ouvia-se uma melodia. Um pequeno rádio
tocava música clássica. “Um violino” pensei. Mas, de repente, a minha atenção foi
puxada para outra coisa. A discussão no quarto ao lado.
― Vives no passado, Carmen. O tempo de caçadora já lá vai... – disse uma voz, que
conheci como sendo a minha querida Verónica.
― Eu sou caçadora, sempre fui e vou ser. – Outra voz retorquiu. “Carmen” – pensei
– “Estas duas e as suas discussões…”. Voltei a por a minha atenção no vento que
soprava lá fora e na bela vista que tinha a minha frente. Sempre fui uma amante da
beleza. Das Artes. Da Natureza. A certa altura vi alguém sair pela porta da frente. Era
a Carmen. “Para onde iria ela?” Pensei.
Levantei-me rapidamente e vesti-me, já que ainda me encontrava de camisa de noite.
Sai pela porta das traseiras e tentei segui-la. Ela foi de carro e eu a pé, mas o meu
instinto não falhava. Não com elas. Viver com elas na mesma casa deu-me a
oportunidade de conhecê-las. Posso, aliás, dizer que as conheço melhor do que elas
mesmas. Ficar sentada a observá-las, noites a fim, enquanto falam, discutem,
planeiam… dá uma ideia boa de como elas são. Como reagem, como actuam. Gestos
valem mais que palavras. O corpo não nos engana. As palavras por outro lado…
Segui-a e fui parar a um bar. Fiquei a olhar pela janela, somente, enquanto ela
entrava e avaliava as pessoas no interior. Fiquei ali bastante tempo a observá-la e a
notar as suas acções. Após umas bebidas e uns jogos ela foi com um homem para uma
carrinha Chevrolet já bastante em mau estado. Segui-a uma vez mais, desta vez o meu
instinto dizia que a minha ajuda seria necessária ali.
É engraçado. Sou a mais silenciosa do grupo. Mantenho-me sempre calada, no meu
quarto a ouvir música clássica ou no sofá a observá-las enquanto leio um bom livro,
mas no final…
Ouvi um grito. “Já começou” Pensei. Fiquei atenta enquanto vi o mesmo homem de
antes a correr pelo parque. A Carmen saiu do carro, ajeitou-se e em poucos segundos
apanhou-o. Matou-o.
Os olhos dela. Culpa. Um dos piores sentimentos… e um dos poucos que o vampiro
sente.
- A Culpa é horrível… - disse-lhe calmamente.
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18
― Claire…O que fazes aqui?! – Respondeu-me espantada com a minha presença.
Mal ela sabia que a acompanhava desde o inicio da noite.
― Estava a passear e ouvi-te a caçar. Quando és tu, os homens gritam…
― A sério?! Que engraçado… - disse, sem prestar real atenção às minhas palavras.
Olhou para o corpo moribundo por baixo dos seus pés e, mais uma vez, aquele olhar.
― Carmen, porquê que te torturas? – Aproximei-me dela. Não sou fã da
proximidade, mas neste caso achei necessário. Também porque no final quem ficaria
com aquele homem, a tratar dele, seria eu – Não vale a pena, aceita quem és. Deixa o
teu passado de fora…
― Deixa-me em paz, se não queres ficar sem pescoço! – Gritou.
― Não tenho medo de ti…- Disse-lhe. Será que ela ainda não entendeu que não sinto
medo? Medo… – E sei que não me farias mal, tu não és assim.
Ela pegou no corpo do homem, mas impedi-a de fazer muito mais.
― Não! – Disse – Deixa que eu faço isso.
― Não sabes como se…
― Nem tudo tem que ser pelo fogo e pelo sal, Carmen. – Respondi serenamente – Eu
sei uma maneira melhor de deixar a alma dele em paz.
Deixou o corpo cair e virou-me as costas.
― Como queiras. – Respondeu, com um tom insatisfeito – Queres que te espere?
Debrucei-me sobre o corpo e tirei o meu livro do saco que me acompanhava.
― Não. Podes ir, Carmen. Não demoro. – Respondi.
Ela começou a afastar-se e eu fiz o que tinha a fazer. Típica cerimónia que a minha
avó me ensinara séculos antes.
Depois de terminada deixei o corpo do homem ali e telefonei para a polícia para que
fossem buscar o corpo. Já não havia perigo e o homem merecia um funeral decente.
Sai do parque e olhei para as horas. Estava na altura de ir para casa. “Casa” pensei
“Como se a penthouse de um hotel fosse uma casa…” revirei os olhos. Após uns
longos minutos de caminho o meu telefone tocou. Vi o nº da Verónica no ecrã e atendi
calmamente.
- Verónica...
- Ajuda-me! – Respondeu o outro lado.
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19
- Verónica? Onde estás? Verónica? Verónica? – Gritei, preocupada.
O telefone desligou-se. Comecei a correr com todas as minhas forças para casa.
Assim que cheguei comecei a chamar pela Sheftu.
- Sheftu! Sheftu! – Gritei – Onde raio estás?
- Estou aqui. Calma. Nunca te vi assim tão… – disse, mas não a deixei acabar.
- Preciso da tua ajuda, agora. Não há tempo para conversas fúteis. Vem. – Contei-lhe
o sucedido.
- E porque razão vou ajudá-la? - Sheftu perguntou.
- Porque eu te peço. E isso basta. – Respondi, severamente.
Aí a Sheftu obedeceu e fez o que costuma fazer. Ela sabia o que fazia. Dois milénios
de vida tinham de servir para algo, foi o que ela sempre disse. Através dos batimentos
cardíacos da Verónica ela conseguiu encontrá-la. Foi complicado de início. Os
batimentos soavam fracos. Por mais estranho que parece, a Verónica estava lá em
casa. No quarto dela.
Entrei a correr pelo quarto e deparei-me com a Samantha à porta, mas ignorei-a.
Corri para o pé da Verónica:
- Como estás?
- Dói-me imenso o corpo mas para desgraça de muita gente vou sobreviver! –
Respondeu-me e olhou de forma ameaçadora para a Samantha. Não entendi o que se
passou ali, mas decidi deixar para depois as perguntas. - Como me encontraste, Claire?
- Não fui eu... Foi ela. – Respondi, apontando para Sheftu.
- Como me encontraste? – Questionou Verónica, ainda fraca.
- Pelo bater do teu coração. Os batimentos são como as impressões digitais... não
existem duas iguais... – Sheftu disse calmamente.
– E porque me ajudaste? – Perguntou.
- Não o fiz por ti… Por mim podias... – Foi a resposta de Sheftu mas foi
interrompida pela minha voz.
- Não te atrevas! – Intervim.
Neste momento o telefone da Verónica tocou. Ela atendeu e após desligar a chamada
ficou com um ar assustado.
- Vamos, temos de tratar de ti. – Ignorei o facto da chamada telefónica e apenas
levantei-a levando-a até a cozinha.
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- Senta-te – ordenei. Fui até ao armário e tirei umas quantas ervas. Fiz um chá para
ela acalmar-se.
- Toma. Bebe. Relaxa e depois contas-me o sucedido. – Entreguei-lhe a caneca cheia.
Ela deu um golo e olhou de lado para a Sheftu. Entendendo o seu gesto, virei-me para
a Sheftu e disse – Sheftu, querida, faz-me um favor. Vai a esta loja – escrevi o nome
no papel e entreguei-o – e traz-me Alecrim, sim? Preciso dele para os vossos chás e
infelizmente ele acabou. Obrigada.
Depois de lhe pedir isto, ela pegou nas chaves de casa e saiu.
- Agora – olhei para Verónica – conta-me.
- Bem… Então foi assim… – ela respondeu. Fiquei a ouvi-la contar a sua história e o
sucedido. Tivemos uma longa conversa até chegar a hora do jantar.
- Alguém tem fome? – Ouviu-se uma voz na entrada. Samantha tinha entrado com
uns sacos nas mãos – Quem gosta de comida chinesa? – Sorriu.
- Dispenso. Obrigada. Vou para o meu quarto se não se importam, mas boa refeição.
– Disse enquanto me ausentei. Entrei para o meu quarto, liguei a aparelhagem e voltei
para o parapeito da minha janela.
A cidade encontrava-se agora toda iluminada com as luzes. Olhei para o exterior,
acompanhada por uma bela melodia composta por um piano e um doce violino.
- O Mundo… oh belo Mundo e as tuas catástrofes. – Murmurei – Quem diria que eu,
uma simples camponesa, viveria para ficar a viver numa penthouse de um dos
melhores hóteis da cidade de Moscovo…
O meu telefone tocou. Peguei e olhei para o visor “Daniel”. Atendi calmamente.
- Boa Noite. – Disse.
- Boa Noite meu Anjo – A outra voz disse.
- Anjo? Não estamos simpáticos hoje? – Disse acompanhada por uma gargalhada.
“Também ninguém diria que viveria até estar longe dele. Mas vivi. E continuarei a
viver. Enquanto tiver a minha missão. Enquanto ela não terminar. Irei viver” – Pensei
enquanto falava ao telefone com o Daniel, acompanhada uma vez mais pelo belo som
clássico e a bela vista de uma cidade de beleza escondida.
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EP4 - “Before and After” by Sheftu
Observava a minha colecção de rosas vermelhas, recordando cada momento que elas
me faziam lembrar pelo seu aroma, apesar de milénios nunca perdiam o seu
maravilhoso cheiro, muitas vezes ficava nesta sala a deambular até que me desse
fome, mergulhada em momentos e pistas para o que procurava…
- Sheftu! Sheftu! – Ouvi alguém gritar de algures – Onde raio estás? – Agora que
ouvia mais de perto sabia que era Claire, mas que raio queria ela agora? Estava sempre
tão bem no seu silêncio habitual… Decidi ir ao seu encontro para ver qual seria toda
esta azáfama que vinha dos seus batimentos cardíacos.
- Estou aqui. Calma. Nunca te vi assim tão…
- Preciso da tua ajuda, agora. Não há tempo para conversas fúteis. Vem. –
Interrompeu-me, contando-me tudo o que tinha acontecido com Verónica. Como se eu
tivesse muito haver com o assunto…
- E porque razão vou ajudá-la? – Pensei em dizer algo pior, para que me deixasse em
paz, mas nem sempre quero criar guerras nesta nossa penthouse.
- Porque eu te peço. E isso basta. – Ripostou Claire, decididamente ela não me ia
deixar em paz enquanto não a ajudasse… Pois bem, então teria de a ajudar para que
ela me ajudasse a calar a sua boca pelos próximos tempos...
E seus batimentos voltarão ao normal, estava mais descansada pois sabia que eu
sabia bem como encontra-la. Seus batimentos eram demasiado fracos, mal os
conseguiria ouvir, caso ela não estivesse no seu próprio quarto. Típico e ridículo.
Claire correu para junto dela, ignorando a Samantha à porta, bem que a Samantha
podia ter dito que Verónica estava no seu quarto, assim poupava-me muitas chatices.
- Como estás? – Questionou Claire, extremamente preocupada.
- Dói-me imenso o corpo mas para desgraça de muita gente vou sobreviver! –
Comunicou o seu lindo estado e fitou de forma ameaçadora a Samantha. Como era
obvio, não podiam com a cara uma da outra. Mais valia ir-me embora, nada fazia
aqui…
- Como me encontraste, Claire? – Pronto, esta seria bonita de ver quando soubesse
que eu, a maldade do universo para qualquer humano, a tinha ajudado…
- Não fui eu... Foi ela. – Apontou para mim. A expressão de Verónica valia a pena de
todo este momento, a sua confusão era fenomenal.
- Como me encontraste? – Questionou Verónica, ainda fraca.
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- Pelo bater do teu coração. Os batimentos são como as impressões digitais... não
existem duas iguais... – Referi calmamente.
– E porque me ajudaste? – Perguntou com uma enorme vontade de responder a toda
essa confusão.
- Não o fiz por ti… Por mim podias... – Estava calmamente a explicar-lhe que a
importância da vida dela era tão grande como um grão de pó.
- Não te atrevas! – Mais uma vez Claire exaltou-se, isto está a tornar-se animado.
O telefone de Verónica tocou, fazendo-a atender. Enquanto se ouvia a voz de
alguém, parecia de um homem, a expressão dela mudou drasticamente. Estes dois mil
anos servem sempre para muita coisa, e a audição requintada é uma das mais
interessantes.
- Vamos, temos de tratar de ti. – Claire pegou na fraca e levou-a para a cozinha,
decidi segui-las.
- Senta-te – Ordenou-lhe, indo preparar um chá com umas ervas que foi buscar a um
armário.
- Toma. Bebe. Relaxa e depois contas-me o sucedido. – A sua expressão de
desconfiança olhava vivamente para mim, estava a mais, sabia disso. – Sheftu,
querida, faz-me um favor. Vai a esta loja – escreveu o nome no papel e entregou-me –
e traz-me Alecrim, sim? Preciso dele para os vossos chás e infelizmente ele acabou.
Obrigada.
Eu nem abri a boca, precisava urgentemente de petiscar alguma coisa, estava farta de
estar nesta casa de loucos… Mal tivesse o alecrim nas mãos, entregava-lhe para ir
então tratar do meu petisco. O chá era para comadres, pouco necessitava dele com toda
esta idade que me caia em cima… Agora os petiscos…
Depois de ter encontrado Claire ainda a conversar com Verónica, bem mais
recuperada, seus batimentos cardíacos quase que tomavam a sua força natural, deixei
em cima da mesa da sala com um bilhetinho e fui-me.
Chegava agora a hora de procurar o meu alimento, para que pudesse me divertir um
pouco, para que pudesse deixar um pouco da minha beleza brotar daqueles olhos o
terror brutal. Era sempre uma maravilha estes meus momentos em que saia daquela
casa, longe daquelas supostas vampiras e bruxas… Não sei ainda a razão de me ter
juntado aquele covil de miseráveis, acho que queria ter sempre alguém com
conhecimentos destas áreas para que pudesse encontrar aquele que procuro. E nada
melhor do que um par de bruxas e outro de vampiras jovens para me ajudarem a travar
o mal com um mal melhor…
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Na verdade, podia ter sido uma dócil criatura antes de ser raptada, uma mulher com o
único objectivo de agradar o faraó, o povo e os restantes deuses do nosso mundo. Com
o tempo toda essa parvoíce evaporou. Apenas algumas marcas do que era ficaram, por
vezes uma ou outra melancolia se abate sobre mim, ficando presa ao ser humano que
já fui, ao sofrimento que cheguei a viver… Mas tudo ficaria sentenciado quando
encontrasse aquele carrasco, o vampiro que me transformou. Não iria deixar que a sua
morte permanecesse por muito tempo neste planeta, não me importava se era o meu
salvador ou não, o que importava era que tudo ficasse como devia. Mas tudo isto me
dava uma fome enorme de injustiça e terror, por isso chegava a hora de apanhar a
minha vítima e tratar de lhe mostrar o inferno na terra. Escolhia sempre a minha
refeição pelo seu batimento cardíaco, pelo cheiro que seu sangue me trazia, geralmente
AB negativo, um cálice dos infernais deuses, loucos por resistir e permanecer a
aguentar todas as tribulações que eu lhes impunha. Um bom brinquedo de caça…
Facilmente captava todos aqueles que desejasse, bastava apenas que os escolhesse,
pois o ser humano deseja a sua destruição, se aproxima de tudo o que é vil e negro,
adora e sente-se bem ao entrar em tudo o que é misteriosamente negro.
Minha cruz marcada na pele, prendendo-me ao meu antigo mundo, para aqueles que
me aproximava simbolizava algo que de nada tem a ver com o que realmente é…
Apesar de este símbolo ainda não existir na minha época, sempre vivi bem de perto a
minha terra, tentando sempre me aproximar o máximo possível para que visse como o
meu povo ia evoluindo. Até que fiz seu reinado cair, juntamente com aqueles que
queriam o poder dos faraós. Tudo aquilo que a minha cruz dita, a minha vida depois da
minha morte, a vida que tiro a toda a hora dos vis humanos, em que todo este símbolo
era significado da virilidade dos homens, que a toda a hora vou destruindo, homens
que se sentem acima das mulheres, odioso e nojento costume que sempre criaram
raízes profundas em minhas vítimas. É a virilidade que sempre tiro dos homens,
fazendo-os gemer e pedir clemência, virando pior que ratos, vendo em suas últimas
horas a grandiosidade daquelas que sempre foram abaixo deles. Homens de nada
servem senão alimento, se não tenham já feito alguma mulher brotar de si mais um ser
para este mundo cada vez mais desprezível, tal como eu gosto que seja…
Era já uma marca minha a forma como usava aqueles que me serviam de jantar, não
sabia porquê, mas gostava de apanhar a minha presa logo pela meia-noite, deixando-a
gemer de dor até que sentisse fome, adorava vê-los a me pedirem clemência,
humilhando-se pela suposta vida que têm. Deixava-os numa zona deserta, para que
pudessem tentar salvar as suas vidas (tantas e tantas as vezes) correndo para puderem
escapar de mim, ficando assim com mais um osso partido, com o cuidado de não
derramar muito sangue. As pulsações aceleradas aromatizavam o sangue que depois
bebia aos poucos enquanto a minha presa me observava aterrorizada.
O terror em seus olhos era um perfeito momento excitante, onde a minha caça se
elevava a outro patamar… Sentia o suave deslizar de seu sangue em meu corpo,
aquecendo a pouco e pouco, voltando para o meu doce mundo do Egipto, ficando
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entregue a uma vontade louca de sentir novamente aquela areia sobre os meus pés,
bebendo o meu cálice eterno. Utopia da luz que não verei, de tudo o que me obrigaram
a deixar, raptando-me, mantendo escrava a prometida ao Faraó. Depois a morte veio e
a destruição entrou em mim, fazendo-me quem sou, destruindo todas aquelas vidas
que me escravizaram. Ficando eu escrava às noites eternas, perdendo o dia em que
tudo ficaria bem, a morte já veio, deixando-me aqui. Agora é a minha vez, o mal
percorre todo o meu corpo, já que o ser se foi à muito…
Mas não era qualquer pessoa que tinha o direito de sofrer em minhas mãos, tinha
escolhas bastante selectivas, principalmente aqueles homens que eram corajosos ou
destemidos, adorava levar as suas dores ao limite, vendo-os a tentarem a escapar com
determinação e total agonia. Também me divertia com psicólogos, quando me apetecia
ver a evolução desses seres medíocres, tentando arrebatar-me com as suas terapias
totalmente ridículas, nesses fazia questão de ir mais lentamente, para que pudesse
divertir-me com as suas conclusões, com as suas terapias, sempre sem acreditarem
realmente no que eu era até que mostrasse a minha prova, muitas vezes ainda
inacreditável para eles. Julgavam-se dominadores das mentes humanas,
ridicularizavam-se a cada momento em que abriam a boca. Pequenos, inúteis e
curiosos alimentos…
Como uma boa coleccionadora, uso rosas brancas para colocar um pouco do néctar
que me vai alimentando dia-a-dia, para que a rosa já vermelha, com seu sangue bem
guardado, se junte às restantes que vou guardando na minha sala das perturbações.
Normalmente levo o meu alimento lá, para que se inicie a grande caçada…
Simplesmente divertido e alegremente contagiante.
A hora de voltar à minha suposta casa era sempre um pouco chata, estavam todas
aquelas que me davam jeito, absolutamente sem graça e sem vontade para
participarem em meus momentos de diversão. Ainda me lembro quando ainda tentava
juntar as restantes vampiras para uma caça animadora…
- E que vocês pensam de uma caça para nos animar um bocado? – Nenhuma
praticamente tinha dado muita importância ao que eu tinha dito, nada de interesse,
nada de maldades, nada de nada.
- Nem te atrevas a fazer-me essa pergunta de novo. – Ouvia sua voz sobre os dentes
bem cerrados, praticamente com vergonha do que é, sentindo-se culpada pelo par de
presas que tinha recebido. Absolutamente ridículo!
- Eu não penso fazer um desses teus esquemas, joguinhos de terror com comida não é
saudável. – A única que podia até se tornar uma vampira de renome, com presas
dignas da sua espécie, nega-se perante os momentos em que podemos nos divertir um
pouco.
- Tudo bem, pelo menos tentei! Pronto, continuem assim.
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E lá vou eu sempre fazer o meu momento com toda a minha personagem, totalmente
aterrorizadora e solitária. Também assim a presa é mais fácil de apanhar, uma mulher
bela e solitária faz o instinto de um homem querer tornar-se um herói! O que é óptimo,
depois de vê-lo como uma menina a suplicar pela salvação…
Era estranho, mas pareciam estar todas à minha espera… As suas expressões eram de
estranhar, nunca as tinha visto deste jeito… Estaria algo a acontecer?
- Temos de falar. – A seriedade de Claire era alarmante, a elegância de Samanta
permanecia intacta até neste momento de pura pressão. Apenas os corações das bruxas
batiam descompassadamente, se tivessem vida as restantes, também poderiam bater
dessa forma… Mas agora não era momento para as fazer esperar…
- Sim, já estou aqui. Qual será então esse tema de tanta tensão? – Até a minha própria
voz adquiria um certo tom de seriedade, seria uma longa conversa, era o que temia…
- Comecemos então. – Abriu a sessão da conversa, o tom de Verónica não me
alegrava nem um pouco… Mas alegrava-me a ideia de terem encontrado alguma pista
sobre o meu passado, que pudesse finalmente matar aquele estupor. Essa era uma ideia
que não lhes agradava nem um pouco… Não que tivessem alguma coisa a ver com o
assunto.
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EP5 - "How Was That Guy" - By Samantha
Já estou farta de ouvir aquelas duas a discutir por uma matar e achar que é horrível,
um ser desprezível só porque era caçadora na sua vida humana. E a outra ainda a
provoca chamando-a de monstro… Ridículo.
Só gostava de saber porque raio apenas eu não me lembro de quem era na outra vida.
Seria assim tão incompleta? Não sei quem fui, quem me transformou. Se eu o queria
ou não esta… Amostra de vida. Bom, não me posso totalmente queixa, tenho o que o
que qualquer comum mortal deseja. Beleza, uma espécie de saúde, riqueza e homens.
Os homens, hum, esses caem-me aos pés. Idiotas e patéticos, tão superficiais. Basta
lhes dar um arzinho do que eles desejam e até lambem o chão que eu piso. – Riu para
si mesma ao ter essa ideia, ao se recordar.
Verónica que passava, olhou-a com desdém. E a resposta que obteve foi “Mete-te na
tua morte!”.
Sempre a meterem-se nos meus assuntos. Ou sou eu que estou a ficar impaciente e
implicante? Desde que Ele apareceu na minha vida, que simplesmente não me sai da
mente. Tamanha beleza, tanto deslumbrante e esplendor, tão… Estupidamente caótico.
Nunca tinha encontrado ninguém assim.
Não!!! Mas porquê? Se eu posso ter qualquer um que seja, porém só Ele me põem
em êxtase. O vampiro mais estonteante que eu alguma vez tenha visto. Meu
irrepreensível Louis Olive Russian.
Foi naquela noite, a 13 de Maio de 1987 que o conheci, por puro acaso.
Andava a caçar e parei num bar chamado Dixon, onde se faziam as típicas matines.
Estava a procura da minha presa, afinal tinha que escolher bem.
Já tinha tudo mais que visto e ao fim de 3 copos de whisky, achei que ali não tinha
nada de interessante.
Foi então que ele apareceu, vindo do nada. Fiquei extasiada a olhar para tamanho ser.
Seu cabelo cor de ouro, o perfeito sorriso, a pele doce, delicada e intocável. O corpo
de uma tal elegância que poderia desnortear os corações mais fracos… Isto, se eu
tivesse coração. Sua face impecável, como a de um anjo. Um anjo negro. Era
petrificante e ele notou o meu interesse de imediato. Enquanto se aproximava percebi
que não se tratava de um humano mas sim de um outro igual a mim. Como não tinha
percebido logo?
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Também ele deve ter logo notado o mesmo. Sentou-se numa mesa afastado de mim
porém, olhava-me tão fixamente como se seus olhos cor de mel me fossem absorver a
qualquer momento.
Não me contive, fui ao encontro do estranho, queria saber porque me deixava tão
intrigada. Não era a primeira vez que encontrava outros como eu.
Aproximei-me e fiz sinal para saber se me podia sentar na sua mesa, ele anuiu e eu
sentei-me a sua frente.
Ficámos muito tempo a olhar um para o outro sem dizer uma palavra. Apenas a olhar
cada um com o seu copo.
Muitos olhos se colocaram em nós…
- Se não vais falar porque vieste para aqui? – Olhou-me como se me estivesse a
tentar avaliar.
Demorei alguns minutos a responder.
- Não sei bem. A tua presença, - hesitei até encontrar a palavra certa - Intrigaste-me.
A propósito sou Samantha Saint.
- Prazer – Sorriu para mim – Louis Russian. Porque te intrigo? Nunca tinhas
encontrado nenhum… Hum… - Baixou o seu tom de voz ainda mais – Vampiro? -
Sorriu com um ar irónico.
- Sim já como é óbvio, não tenho culpa de tu seres extremamente desejável. Se fosses
humano não te deixaria escapar por nada.
Soltou uma gargalhada surpreendentemente perfeita antes de me dizer, - Posso dizer
o mesmo.
Num sussurro disse:
- Dançamos? É que já está tudo a olhar para nós… Convém passarmos
despercebidos.
Lançou-me um olhar tão profundo que não fui capaz de dizer que não.
Agarrou-me na cintura e prendeu-me de tal forma que quase fiquei sem fôlego. Sua
mão tocou a minha face e dançamos. Dançamos durante horas, ou pelo menos foi o
que me pareceu.
Esse foi o melhor dia da minha eternidade…
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Maldita confusão daquelas duas, perturbaram os meus pensamentos, e como eles
podem ser tão agradáveis, mas finalmente elas acabaram. Como é realmente
insuportável viver com quatro mulheres? Acho que as posso chamar assim.
É melhor chamar aquelas duas para caçar, I NEED A FUCKING CAR! Depois de a
Verónica ter tido um acesso de raiva e ter destruiu o meu maravilhoso, o meu
Mercedes SLK 220. Para a próxima mato-a, disso ela pode ter a certeza! Mas logo
para meu azar ela tinha que ficar naquele estado… Só mesmo comigo.
- Carmen, alguma de vocês vai caçar? Sabem bem que não posso ir a pé, dá
demasiado nas vistas pelo modo como eu o faço e… Cairia um pouco mal – Sorri num
tom amargo.
-Não sei bem se será uma boa ideia… Carmen parece mal disposta, duvido que ela te
empreste o dela…
- Por isso mesmo é que estou a pedir boleia e não o carro!
- Pois, tens que perguntar, acho…
Interrompia a meio da frase. – Olha, esquece OK? Eu vou a pé! Farta de aturar as
vossas birras!
Deprimente. Agora toda esta conversa que tenho de contar vai se brilhante! Sheftu e
o passado dela. Então e eu? Em que é que fico?
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EP6 - "I Feel You" by Carmen
Passado o choque inicial de o ver a minha frente, tentei ataca-lo com a minha estaca
de madeira mas, ele fora mais rápido e atirou-a para longe. A seguir, segurou-me pelo
pescoço e elevou-me a uns vinte centímetros do chão, para que ficasse da mesma
altura que ele.
― Isso não foi bonito, Carmenzita! – Disse o meu Criador, com aquela voz suave e
sensual com o seu sotaque francês escondido debaixo do seu espanhol. ― Aiii esse
olhar…que ódio me tens. Os teus olhos deitam faíscas. Fascinante!
De facto devia estar mesmo com um ar de ódio na cara, só me apetecia espetar uma
estaca no local onde este idiota tivera um coração.
― Eu odeio vampiros!
― Oh eu sei…- Deixou-me cair ao chão com força, para depois voltar a levantar-me
e agarrar-me pelo pescoço. ― Eu noto pelo teu fio…
Ao pescoço eu tinha um fio que ele tocou. Tinha pequenas bolas com um símbolo
diferente gravado, contava para cada vampiro que já tinha morto. Ao todo eram 24
bolas de prata.
― Vais ser o próximo! – Ameacei. ― A minha jóia da coroa. Uma bela bola
vermelha mesmo no meio, símbolo do teu sangue…
Ele aproximou a sua cara da minha, conseguia sentir o seu nariz frio contra a minha
pele e a sua boca próxima da minha. Com força arrancou o fio do meu pescoço e
segurou-o com a mão direita, observou as bolinhas de prata e suspirou.
― Meus irmãos…- Lamentou. Atirou o fio para longe e olhou para mim. Agora eu
tinha medo. Sem o meu fio, o meu pescoço estava a descoberto e ele podia aproveitar-
se. Comecei a sentir o pânico a crescer-me no peito e ele tambem sentiu. Abriu os seus
olhos de um azul estupidamente cativante.
― Fascinante, como passou de uma fúria mortal para…medo. Medo? Não, um terror
absurdo!
― Não tenho medo de ti, presas!
Ainda cuspi para a sua cara mostrando não ter medo, mesmo que o batimento do meu
coração me denunciasse por completo. Estava aterrorizada mas, não disposta a morrer
sem dar luta.
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Ele limpou o cuspo da cara, e empurrou-me contra a parede com toda a força, depois
fui levantada no ar e atirada através da sala. Embati na outra parede, para depois cair
no chão com força. Senti a dor a alastrar-se pelas costas, pela barriga e pela cabeça.
Ele virou-se para mim com aquele porte elegante e sorriu mostrando uma dentadura
branquíssima com as presas de fora.
― Vais sentir medo, Carmenzita. Muito medo!
Mas que raio! Porquê que eu teimava em viajar para o passado quando o passado
nada ajudava! Dei comigo em frente a porta do hotel, sem me lembrar de como
cheguei até ali. Sei, que viera a conduzir isso, é certo mas, parece que todo o caminho
fora feito num estado de inconsciência enquanto eu recordava o passado. Deixei cair a
cabeça no volante, estava cansada daquilo, daqueles flashbacks dolorosos que só me
faziam sentir vergonha por não ter lutado mais…
Passei os dedos pela minha flor-de-lis. Havia derretido as minhas 24 bolas de prata,
sinais da minha conquista, e tinha-lhes dado uma nova forma. Uma flor-de-lis que
levava sempre ao pescoço, era uma maneira de manter quem eu era.
Bateram no vidro e eu assustei-me um jovem apareceu do lado de fora do carro, com
um sorriso. Abriu-me a porta e eu saí, entregando-lhe a chave, sem grandes conversas.
Parei a porta do hotel apreciando a neve que caía como uma chuva de esferovite,
estendi a mão e deixei uns flocos caírem-me na palma. Adorava a neve, em Madrid
não nevava, por isso adorava ir a Moscovo, já lá tinha passado imenso tempo enquanto
vampira nómada então me fartava daquela neve.
Atravessei a porta giratória, cumprimentando o porteiro e as meninas ao balcão,
sempre muito simpáticas e bonitas. Passei por alguns socialites que partilharam o seu
olhar de desprezo pela minha pessoa, olharam-me de soslaio. Ser mais jovem e mais
rica do que eles era uma ofensa. Principalmente, para as mulheres, que viam os olhares
dos maridos sempre que uma de nós passava.
Inveja, um sentimento mesmo muito feio.
Carreguei no botão para chamar o elevador e lá, esperei.
― Menina Montenegro! – Reconheci logo a voz sem ter de virar-me. Quem mais
senão o Concierge do hotel. ― Menina Montenegro!
O homem era chato, irritante e sempre a tentar agradar. Já tinha passado pela cabeça
de todas arrancar-lhe o coração mas, daria muito trabalho.
Não me virei sequer, continuei a observar a porta de elevador, que parecia ser mais
interessante…
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31
Faltavam três andares para o elevador chegar.
― Menina Montenegro! – Ouvi os seus passos aproximarem-se e ficou ao meu lado,
com o seu perfume enjoativo. ― Boa noite, como está?
― Bem…
― E as suas irmãs?
Faltavam dois andares.
Sim, ao olho humano nós éramos irmãs. Irmãs! Três eram estupidamente pálidas e
frias, enquanto as outras duas pareciam ser de outro mundo, pela maneira estranha
como se movimentavam. Sim, irmãs! Sem contar com a diferença física; uma loira,
outra morena, uma ruiva, uma de olhos azuis, outra de olhos pretos. Sim, Irmãs!
― Estão todas óptimas.
Faltava apenas um andar.
― Menina Montenegro…- Estava a farta-me daquela voz. ― Posso perguntar-lhe
uma coisa?
Raios, o elevador parara mesmo no ultimo andar!
― Sim, Sr. Dubois?
― Porque não deixa a nossa equipa de limpeza entrar na penthouse? Temos a melhor
equipa de limpeza, todas as nossas empregadas são óptimas funcionárias! E a equipa e
manutenção do hotel é cinco estrelas! Se tem medo que alguma coisa seja roubada,
pode deixa-las no cofre enquanto é efectuada a limpeza…
O som mais maravilhoso invadiu os meus ouvidos. O elevador tinha chegado e as
portas estavam abertas a espera para me levarem daquela conversa idiota.
― Não, Sr. Dubois. – Disse interrompendo-o. Entrei no compartimento. ― Acredite,
não precisamos de funcionários de limpeza lá em cima…
― Porquê?
Porque da última vez, a Samantha matou um belo rapaz que limpava as janelas e a
Sheftu queria brincar aos aperitivos com o homem que vinha arranjar o ar
condicionado.
― Porque não!
A porta fechou-se e eu subi.
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32
Assim que o elevador parou na penthouse, entrei em pleno ambiente tenso, conseguia
distinguir as vozes de Verónica e de Claire em conversa sussurrada. O assunto parecia
mortalmente sério.
Fiquei parada junto a porta a ver se conseguia ver alguma coisa mas, elas não bruxas
a toa!
― Não sabias, que é feio ouvir atrás das portas, Carmen? – Perguntou Verónica com
toda a sua pose e circunstância. Empurrei a porta e entrei.
― Já passei o tempo para ser politicamente correcta, Verónica.
Verónica ergueu a sobrancelha e virou-me a cara, trocou olhares com Claire. Ás
vezes parecia-me que as duas tinham uma espécie de poder, em que podiam falar por
pensamento…era estranho!
― Como é que chegaste a casa tão depressa? – Perguntou olhando para Claire,
enquanto tirava o casaco e metia as chaves em cima da mesa.
― Vim a pé…
― Hum…- Disse eu. Porquê que tinha a impressão que se tinha passado mais do que
uma simples noite? ― Passou-se alguma coisa enquanto estive a caçar?
As duas trocaram olhares e aí eu vi, Verónica mexeu-se demais, parecia nervosa com
alguma coisa e Claire, fez o que pode para parecer normal, mostrando-me um sorriso.
― Não, tudo bem. Tirando a Sheftu que está de mau humor e a Samantha que está
sempre a chatear…
O meu sentido de caçadora, dizia que havia ali qualquer coisa mas, não forcei. Olhei
para a minha camisa branca suja de sangue, tinha de mudar de roupa.
― Bem, vou trocar de roupa…
Elas não pareceram minimamente preocupadas com o facto de me ausentar, pelo
contrário, ainda nem tinha chegado a meio do corredor quando ouvi Verónica e Claire
a sussurrar.
― Verónica, ela pode ajudar-te…
― Não!
― Ela pode descobrir quem anda a telefonar-te e o que te aconteceu! Já que ninguém
viu…
― Nem pensar, que vou pedir ajuda aquela miserável! – Pela sombra vi que estava
de pé. ― Este assunto é meu, e eu vou saber quem é. Ninguém se mete comigo e fica
assim…
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Sorri para mim mesma, tinha de admitir: Verónica era impossível as vezes mas, tinha
espírito guerreiro e era lutadora, talvez ao seu passado.
Subi as escadas que davam para o meu quarto; Tinha costado os olhos da cara
encontrar uma penthouse grande o suficiente para todas nós, mas, assim que vimos
esta todas concordamos. O meu quarto ficava algures lá em cima, mesmo ao fim do
corredor. Tinha sido ainda mais caro, decorar o quarto de acordo com o gosto de cada
uma, queríamos que fosse o mais parecido com um lar possível.
Entrei no meu quarto ás escuras e acendi a luz. O meu quarto estava todo decorado
em tom vermelho, com uma grande cama de casal, uma secretária com um
computador, um enorme guarda fato – sim, todas tínhamos uma extensão enorme de
roupas e sapatos. Não é por sermos vampiras que deixamos de ser mulheres! – e casa
de banho, podia dizer-se que era o mais pequeno, o maior quarto e o mais afastado
ficara para Samantha, ninguém queria ouvir o que ela fazia com as suas “visitas”
Sentei-me na minha cama, tirei o meu casaco e atirei-me para cima da cadeira.
Peguei no cabelo e enrolei-o numa cebola, subitamente, lembrei-me daquele vulto
enquanto caçava. Precisava de me concentrar se queria saber quem me seguia. Ainda
me lembrava da silhueta daquela sombra atrás da árvore; Era um homem, isso era
certo, e parecia ser forte e musculado. Como tinha o raio de um capuz na cabeça, não
pude ver a cara mas, apenas um pouco dos seus lábios rosados. Parecia ser forte e
tinha as pernas um bocado arqueadas. As suas mãos estavam dentro dos bolsos,
enquanto olhava para mim, como se tentasse esconder-se o máximo possível, então ele
sabia que eu o conhecia…
Mas, o que mais picava debaixo da minha pele era aquele cheiro. Com tantos anos de
experiência, o meu olfacto tinha-se tornado muito apurado, assim como a minha
memória olfactiva. Eu conhecia aquele cheiro mas, da onde?!
Fechei os olhos e recordei a mistura de aromas que senti, ao ver aquela sombra:
Carvalho, terra molhada, madeira, cabedal…
Meti as mãos em volta do nariz, como se tentasse conservar o aroma e novamente,
aquela sensação de que conhecia aquilo e que o nome estava mesmo debaixo da minha
língua.
― Quem és?
Num momento, breve mas de grande impacto, viajei para uma floresta, a minha
frente estava uma pequena casa de madeira, eu olhava fixamente para aquela casa e
sentia um turbilhão de emoções. Queria algo daquela casa…
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A memória desvaneceu-se rapidamente, e abri os olhos. Estava de novo no meu
quarto.
― Raios!
Num momento de irritação, levantei-me e derrubei a cadeira. Detestava aquela
sensação.
Saí do quarto praticamente a voar, irritada comigo mesma, por não me lembrar.
Desci as escadas e ao virar, para a sala tropecei nuns sacos de comida, fiquei com as
calças sujas de um molho cor de laranja.
― Mas que…Que porcaria é esta!?
O molho tinha um cheiro horrível, ou era simplesmente a minha adversão a comida
que falava.
― É comida chinesa! – Exclamou Samantha ao fundo corredor com um ar super
natural. ― Quis comprar.
― Para quem? Nós não comemos!
― A Claire e a Verónica comem!
― Mas não comem comida chinesa, Samantha! – Abri o saco e o cheiro enjoou-me.
Aquilo era horrível! Mas, reconheci algumas iguarias caras, muito caras! Larguei o
saco e observei o pescoço de Samantha onde brilhava um colar muito caro ― Onde
compraste isso?
Ela afagou as pedras ao pescoço.
― Numa joalharia aqui perto. É lindo, não é?
― E caro! – Passei por cima do saco de papel. – Não podemos fazer gastos
desnecessários! Temos que manter-nos o mais discretas possível…
― Discretas?! Não sei se reparas mas, estamos numa penthouse num dos melhores
hotéis do mundo e tu conduzes um Mustang feito por encomenda! Como queres ser
discreta?!
Ouvi passos atrás de mim e reconheci o cheiro de Verónica e Claire, sempre juntas.
No cimo das escadas, entre nós as duas, apareceu Sheftu com um brilho nos olhos.
― Não quero saber! Vais devolver essa jóia e esta comida horrível.
― Não! – O olhar de Samantha era de desafio. ― Lá porque tu não aceitas quem tu
és, não significa que tenha de fazer o mesmo!
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Quase voei na sua direcção de Samantha. Estava mesmo perto, só algo preenchia o
espaço e era Claire que me agarrava os ombros. Vi Sheftu a descer uns degraus
tambem e senti Verónica mais perto, as duas prontas a intervir caso acontecesse o pior.
Samantha não tinha arredado o pé, quando me viu a avançar mas vi, um laivo de
susto quando me viu tão perto, tão rápido. Se eu a atacasse, por ser mais velha e mais
forte, tê-la-ia magoado muito seriamente, senão morto.
Sentia as mãos de Claire a empurrarem-me para trás
― Carmen, por favor…
Não sei porquê, talvez fosse aquela coisa…aquela sensação esquisita de ser Claire a
pedir que me afastasse, que acabei por faze-lo. Recuei alguns passos mas, Verónica e
Sheftu mantinham-se por perto. Ia voltar para o quarto, quando chutei o saco de
comida chinesa na direcção de Samantha, sujando-lhe o vestido roxo que trazia. Sheftu
sorriu muito levemente, senti Verónica a conter uma gargalhada e, também me
pareceu ver um laivo de divertimento nos olhos de Claire.
― Sua cabra! – Gritou Samantha avançando para mim, quase atropelando Claire que
estava no seu caminho.
― Samantha! – A voz de Sheftu fez-se ouvir forte e Samantha parou. ― Já chega!
Vai trocar de roupa, e limpa esta porcaria.
Samantha virou-se para com um ar de ofensa mas, Sheftu era a mais velha, logo uma
ordem dela tinha que ser respeitada.
― Mas…
As duas trocaram olhares, até que Samantha desapareceu rogando pragas a toda a
gente.
― O mesmo vale para ti Carmen, vai mudar de roupa. – Olhou para a minha camisa
branca manchada de sangue, para depois voltar a subir as escadas, pouco tempo depois
a sua porta bateu. Verónica e Claire, ambas olharam para mim surpresas, mas logo
retiraram-se para o seu mundinho em silêncio e fiquei no corredor, até subir outra vez.
Dirigi-me para a minha janela, abri os vidros e meti a cabeça de fora. Passei os olhos
pela cidade de Moscovo coberta pela neve e agora, quase deserta a medida que a noite
se arrastava. De vez em quando passava um ou outro carro, ou uma pessoa. Adorava
Moscovo, simplesmente adorava. A escolha dos nossos itinerários, estava ao cabo de
Verónica e Claire, elas com os seus poderes, levavam-nos por ai. O que era bom!
Admito, elas têm bom gosto para escolher locais perfeitos mas, Moscovo…não
sei…era algo que simplesmente, fascinava na cidade. Uma cidade na qual nunca tinha
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posto os pés até ter sido vampira, no entanto, a adoração era tanta que levava a crer
que numa outra vida, tinha andado por aqui.
Passeei olhar pelas ruas, vi um casal apaixonado a andar de mãos dadas. Um grupo
de jovens a sair para a noite. Passou um carro com música aos altos berros. Guardas
policiais a fazer as suas rondas com passo lento e olhar atento. Fechei os olhos
devorando o frio, que não me atingia, e apreciando a noite minha amiga, aquilo era
tudo! Puro silencio e beleza.
Mas, algo fez com que eu abri-se os olhos e prende-se o olhar debaixo de um
candeeiro de rua. Até que reparei num homem. Devia estar na casa dos 30 anos, de
cabelo castanho claro e um porte magnífico. Estava encostado ao poste, com as mãos
nos bolsos e a perna cruzada, numa pose casual. Trazia um casaco de cabedal castanho
e umas calças de ganga já gastas e…olhava directamente para mim.
A brisa gelada, trouxe-me o cheiro que logo reconheci. Era ele quem me observara a
momentos. Era sim! Quando reparou que eu o reconhecera, ele endireitou-se e pareceu
olhar-me com mais frieza.
Num impulso saí do quarto a correr. Estava disposta a saber quem era este homem
que me perseguia! Saltei o lance de escadas que me levava ao corredor, caindo mesmo
a frente de Claire, com facilidade.
― Hey…
Não lhe deixei acabar a pergunta ou o que se seja que fosse dizer, desatei a correr
corredor fora, passando pela sala que estava ocupada por Verónica. Abri a porta e, ao
invés de chamar o elevador abri a porta das escadas de emergência e saltei lá para
baixo, num total de 15 andares, caindo com agilidade. Abri a porta de emergência e
corri até a entrada, passando pelo porteiro que ficou a olhar para mim espantando com
a velocidade...ou será da minha camisa manchada de sangue?
Virei a esquerda, e segui para a rua de onde tinha vista mas, não vi ninguém. Estava
deserta. Apenas a neve, e o candeeiro solitário ocupavam aquela zona. Não se via
polícias, nem casais apaixonados ou jovens embriagados. Nada
Ele tinha desaparecido outra vez.
Aproximei-me do candeeiro onde ele esteve e cheirei profundamente. Estava
impregnado com o seu aroma mas, parecia acabar ali. Seja o que for que usava, tapou-
lhe o cheiro e não podia segui-lo.
Olhei em volta tentando ver alguém mas, apenas encontrei a rua deserta e cheia de
neve. Voltei-me para o candeeiro e vi um papel ali pendurado, tinha sido colado com
fita cola e por cima dele tinha sido deixado um pedaço de tronco. Cheirei, e reconheci,
era o pedaço de um carvalho. Abri o pequeno bilhete com força e ao ler o que estava
ali escrito, fiquei tensa.
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No papel lia-se: “Eu disse que te encontrava…”
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EP7 - "Lies and the truth" by Veronica
Passaram um par de horas desde que tudo aconteceu...
Ainda estou um pouco confusa. Não tenho nada muito claro e sinto-me como se
tivesse-se de mãos e pés atados.
Decidi ir falar um pouco com a Claire, para ver se as minhas ideias ficavam um
pouco mais organizadas.
Claire estava na cozinha. Entrei e sentei-me numa das cadeiras.
- Claire...
- Já sei, precisas falar comigo...
- Que tens? - preguntei desconfiada.
- Nada, esquece... Parvoíces! - Disse ela num tom mais leve.
- Preciso saber o que aconteceu. Sabes bem o que temos entre mãos... Sabes bem
quem sou... - Disse com ar mais sério que o normal.
- Tu já não és a mesma. Tu mudaste muito neste ultimo século... Não podes...
- Shiuu! - Exclamei. - Não sabias, que é feio ouvir atrás das portas, Carmen?
Carmen empurro a porta e entrou.
- Já passei o tempo para ser politicamente correcta, Verónica.
Ergui a sobrancelha e virei a cara. Troquei um par de olhar com a Claire e ela
entendeu que mais tarde continuavamos.
- Como é que chegaste tão depressa a casa? - Preguntou Carmen a Claire.
- Vim a pé... - Respondeu-lhe Claire.
- Hum... Passou-se alguma coisa enquanto estive a caçar?
Eu e Claire trocamos olhares. Comecei a ficar nervosa. Ou melhor fiquei mais do que
já estava. Mas Estava Claire para salvar a situação, mostrou um sorriso e respondeu-
lhe tranquilamente.
- Não, tudo bem. Tirando a Sheftu que está de mau humor e a Samantha que está
sempre a chatear…
Apesar de ter parecido que a vampira não ficou lá muito convencida, eu fiquei mais
descansada.
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- Bem, vou trocar de roupa… - Disse Carmen e saiu pela porta.
Aguardamos silencio por uns segundo. Mas...
- Verónica, ela pode ajudar-te…
- Não!
- Ela pode descobrir quem anda a telefonar-te e o que te aconteceu! Já que ninguém
viu…
- Nem pensar, que vou pedir ajuda aquela miserável! – Disse levantando-me de um
salto ― Este assunto é meu, e eu vou saber quem é. Ninguém se mete comigo e fica
assim…
Sai da cozinha zangada com a situação e com o facto de não poder fazer nada. Fui
até a sala que por sorte esta vazia e sentei-me num enorme cadeirão que havia junto a
uma das janelas.
Ainda me sentia meio débil com tudo o que me tinha passado mas graças a Claire
estava a recuperar bem.
Olhei pela janela ainda um pouco zangada mas algo aconteceu. A imagem de
Moscovo desapareceu e apareceu outra bem diferente.
Desta vez não via desde fora.
Na minha frente só conseguia ver uma perna que balanceavam no ar. Eu encontrava-
me de joelhos e estava com o meu punhal na mão direita. Tinha as mãos cobertas de
sangue assim como toda a minha vida.
De repente voltei a ver Moscovo. Até que...
- Não podemos fazer gastos desnecessários! Temos que manter-nos o mais discretas
possível…
Era a voz de Carmen. Mas porque gritava? E com quem? Levantei-me rápidamente e
corri até ao corredor.
― Discretas?! Não sei se reparas mas, estamos numa penthouse num dos melhores
hotéis do mundo e tu conduzes um Mustang feito por encomenda! Como queres ser
discreta?!
Aproximei-me de Carmen e atrás de mim apareceu Claire. Entre aquelas duas
apareceu também Sheftu.
- Não quero saber! Vais devolver essa jóia e esta comida horrível.
Olhei para o chão onde estavam uns sacos virados ao contrário.
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- Não! – O olhar de Samantha era de desafio. ― Lá porque tu não aceitas quem tu és,
não significa que tenha de fazer o mesmo!
Senti que Carmen ia aniquilar a Samantha e aproximei-me um pouco mais. Sheftu e
Claire também sentiram, mas como eu Sheftu simplesmente se aproximou, já Claire e
também devido há maior confiança com Carmen aproximou-se e agarrou-a pelo
ombro tentando impedir que algo passasse.
Samantha nem se mexeu quando viu Carmen avançar na sua direcçãomas todas nós
sentimos a panico que sentiu quando a viu tão perto.
- Carmen, por favor… - Pedia Claire enquanto a empurrava para trás.
Carmen virando-se de repente deu um pontapé no saco da comida na direcção da
Samantha. O saco levantou voo e caiu mesmo no vestido roxo que aquela vampira mal
criada trazia vestido.
Sheftu sorriu muito levemente, mas eu tive de conter uma forte gargalhada. Todas
nós nos tinhamos divertido com a cena em que a palhaça era Samantha.
- Sua cabra! – Gritou Samantha avançando direito a Carmen, quase atropelando
Claire que estava no seu caminho.
- Samantha! – A voz de Sheftu fez-se ouvir forte ― Já chega! Vai trocar de roupa, e
limpa esta porcaria.
Samantha virou-se para com um ar de ofensa mas, Sheftu era a mais velha, logo uma
ordem dela tinha que ser respeitada.
- Mas…
As duas trocaram olhares, até que Samantha desapareceu rogando pragas a toda a
gente.
- O mesmo vale para ti Carmen, vai mudar de roupa.
No momento em que Sheftu decidiu, acabou-se por completo o circo.
Decidi que tinha que dar uma volta. Aquele sitio era uma loucura.
Chamei o elevador e....
Despertei 1h depois à por da penhouse. A minha roupa e as minhas mãos estavam
cobertas de sangue.
Oh não! Voltava a ver aquela cena. Que foi o que eu fiz?
Entrei na penhouse. Na sala estava Samantha. Olhou fixamente para mim e deu um
valente grito.
- Uhhh! Parece que a bruxinha se ando a divertir....
Rapidamente apareceram as outras tres que estavam cada uma em seu quarto.
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Todas olham seriamente mas apenas Claire se preocupou.
- Que aconteceu, Verónica?
- Não sei Claire! - Disse com um ar assustado. - Juro-te que não sei....
Nesse momento tocou o meu telemóvel. Ouvi do outro lado.
- Eu avisei-te que nunca me esquecerias...
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EP8 - "Die Darling Die!" by Sheftu
Meus pensamentos estavam entregues a todas as habituais lamúrias de sempre.
Conseguia ser a mais terrível, até para mim. Essa era a única vez que podia ser mais
leve, mas não!
― Carmen, por favor… - Ouvia a voz de Claire ao longe... Não acredito, mais uma
parva duma briga. Carmen se afastou com o pedido, voltando para o seu quarto.
Então ela não estava o suficientemente contente com o sucedido, rapidamente se
virou para atirar o saco à cara dela. Uma coisa digna de Óscares! O melhor prémio
para a ridicularidade humana. Fosse ela humana, pobre vampira. Mas sempre era algo
bem digno de se ver... Sorri ao pensar nisso, sempre poderia desencadear uma guerra
entre elas eterna para ver quem se tornava numa vampira de realidade.
― Sua cabra! – Gritou Samantha avançando para Carmen, quase atropelando Claire
que estava no caminho.
― Samantha! – Já chegava de parvoíce por hoje, tinha que procurar indícios da
minha irmã. Samantha parou a poucos metros do seu alvo. ― Já chega! Vai trocar de
roupa, e limpa esta porcaria.
Samantha virou-se para mim com um ar de ofensa, ela que não me enervasse muito
ou talvez fosse a ultima hora dela por aqui. Criancices!
― Mas…
Ela olhou para mim, eu ligeiramente a matei com o meu olhar, que tentasse se opor!
Até me divertiria.
― O mesmo vale para ti Carmen, vai mudar de roupa.- E estava esta estupidez toda
resolvida. Não tinha tempo nem paciência para isto hoje!
Talvez este seja o dia em que nunca irei esquecer, sinto isso naquilo que nunca
realmente esqueci. Tudo isto apenas por uma batida cardíaca que já não ouvia há
muito tempo… Milénios e milénios de procuras alucinantes, finalmente a hora tinha
chegado.
Sempre procurava aquele batimento, que tão diferente era dos restantes, ao longo dos
milénios que tento encontrá-lo, este ser meio vivo, tentar saber onde poderia estar.
Assim, também encontrarei aquele que me criou, destruirei cada parte dele sem
qualquer pudor depois de conseguir a força necessária.
Tantos anos de procuras, tantos momentos fracassados, perdendo a esperança de os
encontrar e agora estavam demasiado perto, deixaram que eu os encontrasse… Era
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uma armadilha, sabia bem disso, mas era talvez a única hipótese em que podia enterrar
todo o passado de uma vez por todas.
Tudo começava com uma maldita carta, seu cheiro a cemitério já me dizia quem
seria aquele que ma tinha enviado, apenas o meu Criador poderia estar num local
desses, era o seu fetiche pessoal, viver no único lugar onde ninguém esperava. Eu
devia de ter calculado que ele estaria num lugar como esse, só para ver se me dava
medo. Ele era ridículo. Ninguém sabia que a carta tinha sido escrita com uma tinta
especial, a tinta que minha família tinha feito, aquela mesma tinta que tinha acabado
quando o meu pai tinha morrido, deixando a minha mãe apenas comigo. Era odioso,
mas a verdade é que meu pai tinha sido morto pelo meu criador, tudo com um
propósito óbvio: criar a descendência, usando a minha mãe. Estive ao lado da minha
mãe a todo o momento, vendo a evolução da criança maldita em seu ventre, vendo a
sua morte por causa dessa criança que lhe consumia as entranhas, eliminando toda e
qualquer família que tivesse…
Seres desses eram bem conhecidos no Egipto, eram como a pior maldição que
poderia existir. Eles iriam descobri-la e matá-la, era a minha única família na altura,
por isso fugi mal ela nasceu… Deixando o corpo morto da minha mãe para trás,
deixando toda a minha vida para trás, tudo por manter a única família que tinha viva.
Simplesmente ridículo!
Fomos apanhados a meio do deserto por um grupo de nómadas, não conheciam os
costumes da minha terra, tinha caminhado o mais possível pelo deserto, tentando
escapar o mais possível ao meu mundo, aquele que ia destruir minha irmã, deixando-
me totalmente desamparada, prometida a um faraó que nem conhecia e que me iria
matar também, por ter uma criança maldita na minha família. Era assim que as
tratavam, aquelas que eram feitas pelo meu criador. Ele gostava de encantar as
mulheres, nunca lhe escapava alguma. Minha mãe era especial, a única que pôde ter
um filho daquela coisa.
Eu detestava ter que recordar cada parte dessa minha última parte da vida, aquele
grupo nómada queria na verdade algo que eu nunca tinha descoberto, até que vi que
não eram nómadas, chegando a uma zona com mulheres prisioneiras, fazendo delas
suas concubinas, sujeitando-as a torturas inimagináveis. Seres cuja maldade foi
capturada por mim, fazendo agora parte da minha forma de matar. Humanos,
desprezíveis seres que são um óptimo almoço… E agora estava com fome, mas não
podia deixar de pensar em tudo isto, tinha que capturar cada detalhe do meu passado
para arranjar uma forma de o matar, de destruir tudo o que viesse dele…
نة ع ل Não conseguia deixar de pensar numa solução, não conseguia arranjar !ال
nenhuma, e minha mente estava perdida pelo cheiro desta carta, procurando a resposta
que mais procurava, sabendo assim onde iria para o matar. Esse estupor não tinha
qualquer direito de me invadir a vida, já estava demasiados anos morto, alguém que
nunca realemente devia de ter existido alguma vez na vida!
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Passei alguns dias à procura, não parava quase tempo nenhum, me alimentava o mais
rápido possível, cada segundo que passava era uma perda de tempo, ele podia tentar
escapar, eu sabia disso... Mas também sabia que não seria fácil combater contra ele,
ainda estava sozinha e sem qualquer apoio nesta batalha, não sabia quantos iriam estar
a seu lado, que pensamento inacreditável. Totalmente o oposto, juntas aqui à busca do
meu Criador...
Não demorou muito tempo, dois dias bastaram para que nós os encontrássemos,
como esperava ele tinha iludido a minha irmã, estava completamente iludida por ele.
- Não te metas entre nós! – Repliquei, alertando a minha irmã, eu não poderia
defendê-la mais...
- Vejo que vieste sozinha, tens tido muitas companhias ultimamente, posso cheira-
las... Tens tido bom proveito? Não as devias de ter trazido hoje? – O meu Criador
tentava mostrar o máximo de amabilidade possível, simplesmente nojento! Avancei
contra ele, minha irmã veio para junto de mim e me lançou por terra, eu não acreditava
que ela me estava a fazer isto! Sua boca se juntou ao meu pescoço, mordendo-o,
deixando o veneno alterado dela se misturar em meu corpo...
- Não devias ter tentado atacar o meu amado, meu pai não fez nada de mal –
sussurrou-me no ouvido, eu já sentia o seu veneno em meu corpo, não sabia o que tudo
isto iria fazer à minha vida, mas não me importava...
Eu ouvia alguém a tentar defender-me, talvez me tenha pegado e tentado fugir,
porque me senti a ser levantada, mas rapidamente caí novamente por terra... Não
conseguia ver nada, estava num estado de coma, vivendo todas as horas como se
fossem as últimas... Não sentia muito mais... Estava à mercê de quem ganhasse...
Sentia alguém a amparar-me, estava cega, sem forças, perdida em toda esta
situação… Ouvia de longe o eco das vozes que me levavam para algum lugar,
pareciam aquelas que me seguiam, aquelas que me tentaram ajudar… A minha mente
estava a ficar mais livre, comecei a sentir um peso enorme sobre os meus
pensamentos, um peso que aumentava cada vez mais…
- Aguenta, rapidamente chegaremos a casa e um amigo meu nos ajudará… Tudo se
resolverá. – Parecia que alguém me sussurrava bem de longe, não sabia bem ao certo
quem… - Eric, achas que é muito grave? – Ouvia a voz duma mulher, achava eu,
parecia um sussurro… Estava cansada, sentia-me perdida algures em mim…
Acordei, meus olhos focaram o local onde estava, parecia ser o meu quarto, parecia
que nada tinha acontecido, não fosse o meu estado. Não estivesse eu ainda fraca,
minha mala das rosas vermelhas tinha sido remexida. Talvez quem me tivesse salvado
pudesse ter sido a mesma pessoa que tinha alterado o meu quarto. Ainda estava um
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pouco fraca, toquei no local onde tinha sido mordida, tinha em meu pescoço um lenço,
cheirava a um perfume que me dava algumas recordações... Era o sangue que tinha
guardado da minha mãe, e entre outras coisas... Mas que raio? Tentei tirar, mas
rapidamente colocaram uma mão sobre a minha, uma mão quente...
Não tinha reparado, estava a observar atentamente o meu quarto, não notei que
alguém estava a meu lado. Seu cabelo negro realçava com a sua pele branca, mas seu
coração batia, parecia alguém da mesma espécie da minha meia-irmã. Tinha um anel,
com um símbolo que bem conhecia, na sua pedra cor de sangue, tinha uma cruz
ansata, tal e qual a que tinha no braço. Quem era este homem? Seus olhos azuis
estavam a tentar observar cada reacção que tinha, procurando alguma razão para me
travar...
Tentei levantar-me, sendo novamente travada por esse homem. Quem era ele para
pensar que iria mandar em mim? Pensei em gritar, mas não servia de nada, sentia os
corações das bruxas na cozinha, uns sons do quarto de Cármen, que é ao lado do
meu... A Samanta parecia estar a chegar, talvez com mais compras, aquela vampira
não podia estar pior! Por mais que estivesse aqui, não iria deixar o gostinho a este
homem, não iria mover nem um milímetro sequer. Ele acabaria por falhar um segundo,
e isso seria suficiente para escapar. Que ironia! Permanecer as restantes horas ao lado
deste homem, Ah! Que raiva.
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EP9 - "Begining of the past" By Samantha
Estava no meu quarto, mais uma vez metida nos meus pensamentos. Verónica e
Clarie falavam, aliás, sussurravam – como se eu não conseguisse ouvir – há horas
sobre os malditos telefonemas... “Talvez ela te possa ajudar…”
Vi Carmen chegar a entrada do hotel. Dava para ver a tensão dela à distância,
completamente desnorteada e fora de si. Até se assustou quando o arrumador apareceu
para lhe ir estacionar o carro.
Mal entrou na penthouse notei logo a sua presença. Já sabia o que iria sair dali.
Ouvi parte da conversa, mas sem dar grande importância ao acontecimento –
“Hum… Passou-se alguma coisa enquanto estive a caçar?” …
“Não, tudo bem. Tirando a Sheftu que está de mau humor e a Samantha que está
sempre a chatear…”- Ah claro, tinha que sobrar para mim!
Continuava à janela, com o meu lindo escorpião. Este mantinha-se na minha mão,
dançava por entre os meus dedos, era como que uma espécie de amigo. Graças a um
feitiço que pedi a Clarie, consegui torná-lo tal como eu… Um ser imortal.
Estava a stressar de estar naquele quarto. Apesar de estar exactamente como eu
desejava. Tudo em tons de roxo pálido e preto que por um lado o tornava misterioso,
sombrio e extremamente sensual, como até um pouco acolhedor. Mas precisava
urgentemente de duas coisas… Sangue jovem… E de COMPRAS! É isso mesmo…
Vou as compras!
- Bem, não posso ir só de vestido. Dá nas vistas, vão pensar que estou louca. É isto
mesmo que eu precisava. Um casaco de peles! – Disse para o meu escorpião como se
ele me pudesse responder.
Sai do hotel, mas de repente lembrei-me que estava sem carro. Hoje teria que ir a pé.
Para minha sorte, bem pertinho havia umas lojas bem apelativas.
Enquanto caminhava - Realmente esta terra fascinava-me. Adoro o frio – Ouvia
algumas conversas de pessoas que ali passavam, sempre muito espantadas quando me
viam. “Olha só para ela..”, “Sim, eu sei. Como é que ela faz? Tão perfeita… Não se vê
uma única imperfeição” duas raparigas comentavam. Olhei para ela com ar de
desprezo mas para dar a entender que as tinha percebido, ficaram assustadas com a
minha expressão. Era de mau tom falar assim de quem não se conhecia! Mas tenho
que confessar… Adorava que falassem de mim. – Sorri para mim mesma.
Nesse momento parei a frente de uma joalharia… Tinha um colar lindo, perfeito.
Combinava exactamente comigo. Uma malha grossa de ouro branco, com um
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pendente roxo. Um diamante colorido. Era supérfluo, eu sei. Mas o podia deixar de
levar!
Entrei na joalharia, e o senhor que estava na mesma, veio rapidamente ter comigo:
- Boa noite, deseja algo da nossa loja?
- Aquele colar que ali está. – Apontei para a montra completamente iluminada.
- Aquela raridade – olhou para mim desconfiado, apesar do meu ar luxurioso – Hum,
aquela peça é simplesmente uma obra de arte, e… Bem é a mais cara da nossa loja não
sei se…
- Mas quem pensa que sou?? – Fiz o meu maior ar de escandalizada – Eu quero-o e é
agora! Não importa o preço. Eu tenho, de certeza o suficiente para pagar.
Presumivelmente mais do que você ganha em 10 anos!
- Eu… Peço desculpa. Vou já tratar disso. Quando o quer levar?
- Agora como é óbvio!
O empregado ficou completamente estupefacto a olhar para mim. Arrumou o colar
numa bela caixa. Apresentei o cartão e ele sempre desconfiado…
- Tenha uma boa noite… Volte sempre.
-Ah, voltarei… - Provavelmente para arrancar o pescoço deste imbecil.
Continuei o meu caminho a procura de algo mais para comprar. Porque não comida?
Sim, vou levar para as bruxinhas.
Enquanto caminhava para casa vi um belo jovem. Meus olhos brilharam de
emoção… Seria ele a minha próxima vítima. Mas teria de deixar para mais tarde.
Cheguei a penthouse satisfeita, deixei a comida no corredor. Despi o casaco,
coloquei o meu lindo colar… Quando de repente oiço a Cármen:
― Raios! Mas que…Que porcaria é esta!?
― É comida chinesa! Quis comprar.
― Para quem? Nós não comemos!
― A Claire e a Verónica comem!
― Mas não comem comida chinesa, Samantha! Onde compraste isso?
Coloquei as mãos no colar com medo de que me o tirassem e disse:
― Numa joalharia aqui perto. É lindo, não é?
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― E caro! Não podemos fazer gastos desnecessários! Temos que manter-nos o mais
discretas possível…
― Discretas?! Não sei se reparas mas, estamos numa penthouse num dos melhores
hotéis do mundo e tu conduzes um Mustang feito por encomenda! Como queres ser
discreta?!
― Não quero saber! Vais devolver essa jóia e esta comida horrível.
― Não! Lá porque tu não aceitas quem tu és, não significa que tenha de fazer o
mesmo!
Carmen, quando lhe disse isso quase saltou em cima de mim completamente furiosa.
― Carmen, por favor… - Claire tinha sempre o dom de conseguir acalmar qualquer
pessoa por mais enraivecida que esta estivesse.
Cármen lançou o saco com a comida que eu tinha comprado para cima de mim
sujado todo o meu lindo vestido…
― Sua cabra! – Gritei furiosa
― Samantha! – A voz de Sheftu fez-se ouvir - Já chega! Vai trocar de roupa, e limpa
esta porcaria.
― Mas… - Trocamos olhares e desapareci.
Barafustei e roguei pragas a todas elas! Que ódio! Quem pensa ela que é? Minha
mãe? Ela vai-mas pagar! Bem pagas!
Fui para o meu quarto mudar de roupa, estava completamente aborrecida com aquela
idiota. Tinha de estragar o meu bom humor!
Já se tinha passado algum tempo e eu estava na sala a espera da minha hora para ir
embora. Estava extasiada com as minhas ideias pois Eu sou, aos olhos dos caçadores,
uma obra do demónio, de Lúcifer. Talvez até tenham razão no que digam… Que existe
neste mundo para destruir o que foi criado por Deus. Ele, sim, este homem era a
confirmação do que iria ser destruído. Que seria a minha fonte de alimentação. Mas
que antes me iria proporcionar muito mais que matar a minha cede. Esta noite a minha
ânsia, o meu delírio, o meu deleite não era só por sangue… Era por prazer.
Mal tive a ideia de me ir embora para a minha caçada vejo Verónica toda coberta de
sangue…
-Uhhh! Parece que a bruxinha se andou a divertir…
Num ápice todas as outras apareceram para saber o que se passava. Claire foi quem
consegui falar:
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- Que aconteceu, Verónica?
- Não sei Claire! Juro-te que não sei... – Disse com um ar completamente assustado.
- Eu não vou ficar aqui a ouvir-vos.
Fui embora, todas elas ligaram pouco ao facto de eu me ausentar. Não faço a mínima
falta naquela discussão.
Sai da porta do hotel e apesar do frio consegui muito bem sentir o ser cheiro. Era
suave, muito mesmo. Deixou-me em êxtase aquela pose. O meu fascínio pelo cabelo
loiro era irrefutável e esta terra era simplesmente o meu paraíso.
Ele estava tão perto do hotel. Apenas a uns metros, o cheiro tornara-se intenso e as
minhas veias pulsavam com entusiasmo. Procurei-o e não me foi difícil de descobrir
num apartamento. Era muito vistoso, muito iluminado. Isto poderia ser um problema
para mim, mas trataria disso mais tarde.
Entre no apartamento e ali estava ele, deitado na cama, profundamente adormecido.
Aproximei-me do homem o mais subtilmente possível, e sussurrei ao seu ouvido –
“esta noite serás meu” – e sorri ao pensar nisso.
Sentei-me ao lado dele e passei a mão pelo seu rosto com brandura. Abriu os olhos e
arregalou-os ainda mais quando me viu.
- Tu és a mulher que vi hoje a noite…
- Sim – Respondi simplesmente.
- O que faz aqui? – Perguntou desconfiado.
- Segui-te. És completamente atractivo à minha vista e o só teu cheiro – passei a mão
pelo cabelo e cheirei deliciada – é profundamente tentador…
- Mas… Está louca? Não a conheço, não sei o que quer de mim!
- Sabes muito bem… - Curvei-me sobre o estranho e beijei-o com fervor.
A sua respiração tornou-se mais audível e ofegante, as suas mãos puxaram-me para
si e começaram a percorrer o meu corpo todo. Apesar de eu ser gelada e ele
excessivamente quente, isso não parecia o incomodar.
Ficamos juntos toda a noite, e eu sempre a saber o que iria acontecer. Tal como uma
viúva negra, eu iria matar o homem que me tinha satisfeito o corpo e que me ia
satisfazer a alma dentro de breves momentos…
- Deixa-me só saber uma coisa – Sussurrei ao seu ouvido com uma voz persuasiva –
Qual o teu nome…
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- Daniel…
- Tens nome de anjo – sorri para ele, pensando na ironia da situação.
- E tenho nome de santo…
- Ai sim? Qual?
- Saint.
O meu mundo naquele momento caiu-me aos pés. Levantei-me da cama
rapidamente. Ele ficou muito espantado a olhar para mim. Agarrei nas minhas coisas,
vesti-me e sai do quarto o mais depressa que pude.
- O que se passa? Qual a pressa? – Disse-me de olhos arregalados sem entender nada.
Sai sem dizer uma palavra. Quase voei para a penthouse. Estava completamente
desnorteada. Aquela corrida que poderia demorar poucos minutos, parecia que tinham
sido horas. Ninguém me via apesar de tudo. Entrei como um foguetão no hotel, não
dando oportunidade de ninguém falar comigo, nem mesmo o metediço do Concierge
do hotel.
- Sheftu! SHEFTU!!!!! – Gritei o mais alto possível mal entrei em casa ainda a
correr, completamente alucinada.
Ela apareceu num ápice… Pela cara devia estar metida nos seus pensamentos mais
uma vez.
- Sheftu! - Supliquei mal a vi. - Ajuda-me por favor…
- O que se passa? – Ela olhou desconfiada, afinal não era hábito meu pedir ajuda.
- Fui caçar… E… – Expliquei tudo o que tinha acontecido mas atabalhoadamente.
Tropecei em cada palavra pela rapidez com que disse tudo.
- Tem calma. – Agarrou-me nos ombros enquanto falava. - Vamos para o teu quarto
para falarmos melhor.
Fomos para o meu quarto, mas eu estava completamente em estado de choque.
Quando estávamos a entrar vi Claire que me olhava preocupada, mas ignorei.
- Samantha exactamente o que te aconteceu? Não consegui entender nada.
- Já te disse! Fui caçar e… Tu sabes os meus métodos. Pouco ortodoxos, eu sei, mas
isso não importa! – Ela olhou-me como que a dizer que eu tinha razão em relação a
minha maneira de caçar.
- O homem que eu ia matar… Mas que estupidez! – Estava quase a gritar – Eu
perguntei o nome dele! Foi por acaso! Ele… Ele tem o mesmo nome que eu!
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E contei-lhe tudo o resto. Ela escutou tudo de início ao fim com muita atenção e sem
me interromper. Quando acabei ela gritou-me furiosa.
- O QUÊ? Não acabaste com ele? Já pensaste na consequência da tua
irresponsabilidade?
- Não! Não fui capaz de o fazer! Mas não há nada a temer. Ele não sabe o que eu sou.
Não tive tempo para fazer o que quer que fosse… Mas isso pouco importa!
- Ao menos isso. Mas vamos ter que falar com as outras já sabes disso – disse muito
seria.
- Mas…
Naquele momento alguém bateu a porta.
- Desculpem… - Era Claire. Mordeu o lábio com aquele ar que só ela conseguia
fazer… Um tanto ou quanto inocente na minha opinião.
- O que queres Claire? – Eu já estava quase a desfazer-me em lágrimas.
- Ouvi o que se passou…
- Quem te mandou? – Fiquei furiosa com ela.
- Estavas a quase a gritar lembraste? – Como se fosse obvio.
Olhei-a com ódio mas fiz sinal que continuasse
- Muito sinceramente… Eu já andava a investigar.
- O quê? – Sheftu e eu falamos ao mesmo tempo. Mas por motivos diferentes como
era óbvio. Ela estava espantada, dava bem para ver isso. Mas eu não. Eu estava
extremamente desconfiada com ela.
- Eu tenho um motivo.
- Que é? – Olhei para ela com fúria.
- Calma, deixa-me falar. Eu encontrei-o a pouco tempo por cá. No hotel. Deu ideia
que tinha andado a seguir-me. E ao que parece não me enganei. – Disse pensativa.
-E porque motivo iria ele seguir-te? – Perguntei indignada.
- Pois, foi exactamente isso que estranhei. Não havia nenhum motivo em concreto.
Até que resolvi investigar.
- Investigar? – Desta vez foi Sheftu que falou.
- Sim. Sei que ele se chama Daniel Heinz Saint. É de Inglaterra.
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- E…? – Perguntei.
- E… Nada. – Ela disfarçou mas consegui notar que ela sabia mais do que dizia.
- Fala Claire! – Levantei-me e elevei a voz ao lhe dizer isso.
- A Samantha tem razão. Se sabes fala. – Sheftu manteve-se calma.
- Mas eu não sei mais nada! – Virou-se para mim – A sério que não.
- Sabes!! – Gritei-lhe e com uma mão agarrei-a pelo pescoço e elevei-a a uns 20
centímetros do chão. – FALA!
Claire meteu as mãos ao pescoço começando a ficar sufocada. Esperneou mas não
disse absolutamente mais nada.
- Samantha, já chega. Esta conversa acaba aqui. E temos que contar isto as outras.
Comprometeste-nos… E muito.
Não foi preciso gritar nem elevar a voz. Olhei para ela indignada. Mas as suas
palavras eram como ordens e eu obedeci ainda enraivecida com Claire. Ela saiu do
quarto seguida de Sheftu. Esta antes de sair, olhou para mim e murmurou “Eu ajudo-
te”.
Cai na cama sem saber o que fazer. Estava desesperada. Olhei para a janela. Estava a
nevar novamente. Isso fez-me lembrar a noite que eu passara. Cada detalhe, cada
gesto, cada palavra dita. Tinha que investigá-lo, tinha mesmo que saber quem ele é…
Eu sabia que teria que contar as outras o sucedido. Mas eu não queria contar isto fosse
a quem fosse. Era uma vergonha. Logo para mim que nunca tinha deixado nenhuma
vitima viva.
Porém o que mais me intrigou foi a atitude de Claire.
O que saberá ela? Afinal quem será realmente este Daniel Saint? Poderá mesmo ser
da minha família? Ou será algo bem diferente?
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EP10 - "Long Lost Memories" by Claire
- Sabes como estão as coisas, Daniel, nem tudo está fácil… - Disse calmamente para
a pessoa no outro lado da linha telefónica.
- Sim eu sei. Mas tenho saudades tuas. Não consegues arranjar uns dias para vires ter
comigo? Não estamos juntos há tanto tempo, Claire… - Murmurou.
- Eu sei. Mas tem de ser assim. Eu avisei-te. Só embarcaste nisto porque assim
quiseste. – Ripostei.
-Sim. E não planeio desistir. Então e conta-me, estás a gostar de Moscovo? Não tens
saudades dos nossos ares quentes, do outro lado do oceano? – Riu-se.
- Tenho. Não sou dada ao frio, como sabes. Mas estou a gostar da nova mudança.
Gosto da Europa.
- Sim… E… Como estamos de outros aspectos? – Insinuou.
- Daniel Harris! Comporta-te ou desligo-te o telefone imediatamente na cara! –
Avisei – Conheces-me demasiado bem para afirmares tais coisas.
Ele riu-se e disse:
- Sim, eu sei. Olha, o meu pai está a gritar por mim. Tenho de ir. Ficas bem aí
sozinha? – Provocou.
- Sim, não te preocupes.
- Ok. Dorme bem. Nunca te esqueças ok?
- Nunca, Daniel. Nunca irei esquecer.
Desliguei. Senti uma pequena gota cristalina cair na minha face. Limpei-a e ignorei
esse sentimento, levantei-me fui desligar a aparelhagem e sai do quarto. Dirigi-me à
cozinha onde me sentei, sabia o que ia acontecer.
- Claire... – Disse a Veronica ao entrar na cozinha.
- Já sei, precisas falar comigo... – Retorqui, calmamente.
- Que tens? – Perguntou como se estivesse desconfiada de algo.
- Nada, esquece... Parvoíces! – Respondi na esperança de ela não notar a marca da
lágrima.
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- Preciso saber o que aconteceu. Sabes bem o que temos entre mãos... Sabes bem
quem sou... - Disse com ar mais sério que o normal.
- Tu já não és a mesma. Tu mudaste muito neste último século... Não podes... –
Disse, mas fui interrompida.
- Shiuu! - Exclamou. - Não sabias, que é feio ouvir atrás das portas, Carmen?
A Carmen empurrou a porta e entrou.
- Já passei o tempo para ser politicamente correcta, Verónica. – Respondeu.
A Veronica virou-se para mim e trocamos olhares. Entendi que não seria a altura
apropriada para continuar a nossa conversa.
- Como é que chegaste tão depressa a casa? – Disse Carmen, na minha direcção.
- Vim a pé... – Respondi-lhe.
- Hum... Passou-se alguma coisa enquanto estive a caçar? – Perguntou, desconfiada.
Troquei de novo olhares com a Veronica. Ela estava nervosa, consegui notar isso.
Decidi improvisar e não demonstrar também o meu ligeiro nervosismo.
- Não, tudo bem. Tirando a Sheftu que está de mau humor e a Samantha que está
sempre a chatear…
Apesar de ter parecido que a vampira não ficou lá muito convencida, eu fiquei mais
descansada.
- Bem, vou trocar de roupa… - Disse e saiu.
Aguardamos em silêncio por uns segundos.
- Verónica, ela pode ajudar-te… - Disse-lhe.
- Não! – Exclamou.
- Ela pode descobrir quem anda a telefonar-te e o que te aconteceu! Já que ninguém
viu…
- Nem pensar, que vou pedir ajuda aquela miserável! – Disse levantando-se num
salto ― Este assunto é meu, e eu vou saber quem é. Ninguém se mete comigo e fica
assim…
Veronica neste momento saiu disparada pela porta zangada. Entendi que não deveria
ter tocado no assunto, mas era tarde demais para mudar de ideias. Levantei-me e
dirigi-me de novo para o meu quarto. Fechei a porta e olhei.
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“O meu quarto é sem dúvida o mais diferente de todos os outros desta penthouse…”
pensei enquanto olhava para o interior do meu refúgio. Tinha as paredes de cor de
madeira e o chão também era de madeira. A cama encontrava-se ao centro do quarto,
com edredões em tons de bordô e preto. Ao lado, uma pequena cómoda com os meus
perfumes e maquilhagem, nada demais. Um pequeno guarda fato, do outro lado, com
algumas roupas lá dentro – ao contrário das outras, não sou fã de roupas – e um piano.
Pequeno, nada muito extravagante. Dá para tocar um pouco e isso chega-me. Perto
dali estava a minha janela, onde passava a maior parte do tempo. Entrei por uma
pequena porta que estava ao lado do meu guarda-fato, que dava acesso à casa de
banho, e comecei a ligar a água para encher a banheira de estilo vitoriana no seu
interior.
Assim que a água estava pronta, deitei umas ervas lá dentro, e deitei-me. O calor da
água fazia com que o cheiro que emanava das ervas se tornasse mais intenso. Deixei
que a água relaxasse cada um dos meus músculos e me levasse para longe daquele
sítio, daqueles momentos… Deixei a minha mente navegar sozinha por memórias
ocultas e longínquas.
“Mamã olha ali! Borboletas!” corri atrás de um conjunto de borboletas que vi voar ao
fundo. “Sim, estou a ver pequenina! Apanha-as!” disse a minha mãe, rindo-se. Corri e
corri atrás delas. Quando olhei para trás, não estava lá ninguém. “Mamã?” chamei.
“Ahhhhh” ouvi um grito. “Mamã?” chamei mais alto.
-nos o mais discretas
possível… - ouvi alguém gritar e isso tirou-me dos meus pensamentos.
- Carmen… - Levantei-me rapidamente da banheira, sequei-me e enfiei umas roupas.
Desci. Encontrei Veronica a observar aquela discussão juntamente com Sheftu.
― Discretas?! Não sei se reparas mas, estamos numa penthouse num dos melhores
hotéis do mundo e tu conduzes um Mustang feito por encomenda! Como queres ser
discreta?! – Respondeu Samantha.
- Não quero saber! Vais devolver essa jóia e esta comida horrível. – Disse Carmen.
Olhei para o chão onde estavam uns sacos virados ao contrário e entornados no chão.
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- Não! – O olhar de Samantha era de desafio. ― Lá porque tu não aceitas quem tu és,
não significa que tenha de fazer o mesmo!
Senti que Carmen ia aniquilar a Samantha e decidi colocar-me entre Carmen e
Samantha, agarrando os ombros de Carmen.
- Carmen, por favor… - Pedi-lhe.
Carmen virou-se de repente deu um pontapé no saco da comida na direcção da
Samantha. O saco levantou voo e caiu mesmo no vestido roxo que ela trazia.
Sheftu sorriu muito levemente e Veronica conteve uma gargalhada.
- Sua cabra! – Gritou Samantha avançando direito a Carmen, quase atropelando-me.
- Samantha! – A voz de Sheftu fez-se ouvir forte ― Já chega! Vai trocar de roupa, e
limpa esta porcaria.
Samantha virou-se para com um ar de ofensa mas, Sheftu era a mais velha, logo uma
ordem dela tinha que ser respeitada.
- Mas…
As duas trocaram olhares, até que Samantha desapareceu rogando pragas a toda a
gente.
- O mesmo vale para ti Carmen, vai mudar de roupa. – Ordenou Sheftu.
Veronica foi-se embora, tal como todas as outras. Sheftu retirou-se novamente para o
seu quarto. Eu, ficando uma vez mais sozinha, decidi regressar também ao meu quarto
e limpar a confusão que tinha ficado na casa de banho.
Cerca de uma hora depois dirigi-me à sala de entrada, onde estava Samantha e…
Veronica. Esta encontrava-se encharcada em sangue e confusa.
- Uhhh! Parece que a bruxinha se andou a divertir... – Disse Samantha, após dar um
grito que fez com que todas as outras raparigas que estavam nos seus respectivos
quartos se dirigissem uma vez mais à sala.
- Que aconteceu, Verónica? – Perguntei, preocupada.
- Não sei Claire! - Disse com um ar assustado. - Juro-te que não sei....
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Neste momento o telefone tocou e ela atendeu. A sua expressão foi de puro horror.
- Eu não vou ficar aqui a ouvir-vos. – disse Samantha, saindo de seguida.
- Podem ir também – Respondi para Sheftu e Carmen – Eu trato da Veronica.
Cheguei perto da Veronica e ajudei a dirigir-se para o seu quarto. Entramos na casa
de banho e preparei-lhe um banho de ervas.
- Ok, agora deita-te e relaxa. Lava-te e tenta relaxar. No final, falamos sobre o que
aconteceu ok? – Disse-lhe. Ela apenas acenou com a cabeça.
Retirei-me do quarto e deixei-a a banhar-se. Passou-se umas horas e ela sem sair de
lá. Entendia-a, eu também fazia a mesma coisa, muitas vezes.
Ouvi gritos.
- Sheftu! – Ouvi Samantha gritar. Segui os seus gritos e mantive-me, escondida a
ouvir a conversa.
- Sheftu! – Ouvi suplicar - Ajuda-me por favor…
- O que se passa? – Sheftu respondeu.
- Fui caçar… E… – Explicou o que tinha acontecido. Meio atrapalhada e enganando-
se nas palavras, mas explicou.
- Tem calma. Vamos para o teu quarto para falarmos melhor. – Disse Sheftu.
Dirigiram-se para o quarto da Samantha e olhei para ela, preocupada. Após elas
entrarem, coloquei-me, novamente, à escuta.
- Samantha exactamente o que te aconteceu? Não consegui entender nada. –
Questionou Sheftu.
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- Já te disse! Fui caçar e… Tu sabes os meus métodos. Pouco ortodoxos, eu sei, mas
isso não importa! O homem que eu ia matar… Mas que estupidez! – Quase gritava –
Eu perguntei o nome dele! Foi por acaso! Ele… Ele tem o mesmo nome que eu!
E contou o resto da história. No final, Sheftu gritou. Nunca a tinha visto reagir assim.
- O QUÊ? Não acabaste com ele? Já pensaste na consequência da tua
irresponsabilidade?
- Não! Não fui capaz de o fazer! Mas não há nada a temer. Ele não sabe o que eu sou.
Não tive tempo para fazer o que quer que fosse… Mas isso pouco importa!
- Ao menos isso. Mas vamos ter que falar com as outras já sabes disso – disse.
- Mas…
Bati a porta.
- Desculpem… - Respondi.
- O que queres Claire? – Perguntou Samantha, quase em lágrimas.
- Ouvi o que se passou… - Retorqui.
- Quem te mandou? – Disse furiosa.
- Estavas a quase a gritar lembraste? – Disse, tentando escapar-me e não demonstrar
que, na realidade, o fiz de propósito.
- Muito sinceramente… Eu já andava a investigar sobre esse assunto.
- O quê? – Disseram em uníssono.
- Eu tenho um motivo. – Respondi.
- Que é?
- Calma deixa-me falar. Eu encontrei-o a pouco tempo por cá. No hotel. Deu ideia
que tinha andado a seguir-me. E ao que parece não me enganei. – Disse pensativa.
-E porque motivo iria ele seguir-te? – Perguntei indignada.
- Pois, foi exactamente isso que estranhei. Não havia nenhum motivo em concreto.
Até que resolvi investigar.
- Investigar? – Desta vez foi Sheftu que falou.
- Sim. Sei que ele se chama Daniel Heinz Saint. É de Inglaterra.
- E…? – Perguntei.
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- E… Nada. – Disfarcei. Não havia motivos para elas saberem que na realidade, ele
não me andava a seguir a mim, mas sim…
- Fala Claire! – Samantha levantou-se e olhou para mim desconfiada.
- A Samantha tem razão. Se sabes fala. – Sheftu manteve-se calma.
- Mas eu não sei mais nada! – Virei-me para Samantha – A sério que não.
- Sabes!! – Gritou e com uma mão no meu pescoço elevou-me do chão. – FALA!
Meti as mãos no pescoço. Senti o ar tornando-se pouco e sentir-me tonta. Tentei
libertar-me mas era inútil.
- Samantha, já chega. Esta conversa acaba aqui. E temos que contar isto as outras.
Comprometeste-nos… E muito.
Samantha largou-me e eu sai do quarto, acompanhada por Sheftu. Não lhe dirigi
palavra, segui apenas para o meu quarto. Precisava de fazer um telefonema.
Entrei e dirigi-me para o telefone.
- Estou sim? Richard? Prazer em ouvir-te. Já encontraste o tal ficheiro que te pedi? –
Disse. - Daniel Heinz Saint, natural de Inglaterra. Não sei mais informações, daí estar
a recorrer a ti. – Disse enquanto esperava resposta – Ok, manda-me por fax. Mas não
para aqui. Podem ver. Para o tal café que te falei. Não quero que elas saibam, será
demasiado para a Samantha, neste momento. Obrigada.
Desliguei. Saí do meu quarto e fui de novo ter com Veronica que estava agora a sair
da banheira. Ajudei-a a vestir-se e sentamo-nos na sua cama.
- Muito bem. Vamos lá… Por onde começamos? – Iniciei a conversa.
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EP11 - "WHEN HELP IS NEEDED part I" By Carmen
Entrei em casa atarantada, sem saber o que pensar. Ainda tinha aquele bilhete a
ferver nas mãos e a raiva em mim a borbulhar. Como podia deixar-me intimidar por
uma sombra? Eu!?
Entrei no quarto, fiz questão de bater com a porta, penso que ouvi algo partir mas,
não liguei. Dirigi-me a janela na esperança de ver ali outra vez aquela sombra mas não
estava lá. Agarrei-me a janela com toda a força, tanta força que saiu-me um bocado de
parede na mão, que desfiz em pó.
Raios! Aquela coisa estava a dar-me em doida! Quem é ele!? E porque raio segue o
meu rasto e apaga o seu?
Sentei-me na cama pesadamente, de olhos fechados tentando recordar o cheiro dele,
passando em revista todos os cheiros que tinha na minha mente, cada memoria ainda
restante cada pedaço mas, nada.
― Mas que porra!
Agarrei os meus cabelos de raiva, era algo que tinha a maneira de fazer. Mas, foi
então que dei conta da minha figura! Se ele queria meter-me medo ou irritar-me,
estava a conseguir e eu não podia deixar-me vencer por uma “sombra”! Mas, não eu
não iria deixar-me intimidar. Nem pensar!
Peguei no meu telemóvel e disquei o meu número de emergência.
― Lawrence!? Preciso de falar contigo, por onde andas?! Ah estás aqui! Okay, estou
ai dentro de uma hora.
Mudei de roupa; Tirei a minha camisa branca suja de sangue e vesti outra camisa
branca de mangas curtas e umas calças de ganga preta, com as minhas botas pretas de
salto. Vesti um casaco preto. Resolvi deixar o cabelo solto cair-me as ondas pelos
ombros…já tinha de o cortar.
Saí do quarto, passei pelo de Sheftu e senti um cheiro esquisito, presumi que fosse
um dos incensos. Apesar daquele cheiro também ser-me familiar, por momentos
parecia-me ouvir um coração bater…mas, não interessa! Tinha mais que me
preocupar.
Percorri o corredor e desci as escadas, foi então que passei pelo pior dos cenários,
Verónica, com as roupas manchadas de sangue a ser levada por Claire.
― Não perguntes…- Adiantou-se Claire, que a segurava Verónica com toda a força.
As duas entraram no quarto e eu não perguntei mais nada.
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61
Virei-me para a frente e deparei-me com Samantha, com um novo vestido mas, sem
qualquer jóia ao pescoço.
― O que foi!?
― Onde vais?! – Perguntou-me ela com um ar esquisito.
― A nenhum sítio do teu interesse…- Passei por ela sem dar razão a uma resposta
mais completa.
― Carmen…
Parei, e olhei para trás. Não tinha reparado mas, aquela Samantha estava diferente.
Tinha os braços cruzados ao peito, e o corpo rígido.
― Sim?
― Ainda tens família viva?!
Aquela pergunta apanhou-se desprevenida. De tal modo que eu limitei-me a encolher
os ombros.
― Sei lá, Sam…- Olhei para ela a espera de uma repreensão imediata. Samantha
detestava ser chamada de Sam, mas, por mais estranho que pareça ela não disse nada.
― Porquê?
― Nada…- Cruzou os braços e virou-me as costas, encaminhando-se para o quarto.
― Seja onde for que vais, tem cuidado. Faltam três horas para o amanhecer.
― Não te preocupes, eu consigo tomar conta de mim…
― Eu sei que sim...- Olhou para mim por segundos e pareceu sorrir. ― Mas, mesmo
assim tem cuidado.
Antes de puder responder Samantha desapareceu pelo corredor. Olhei em volta
tentando certificar-me que tinha entrado no apartamento certo. Samantha tinha
acabado de ser simpática, para comigo depois do que aconteceu!? Tinha eu acabado de
ver Verónica com as roupas cheias de sangue!?
Voltei-me para a frente com um ar confuso. Realmente, aquela noite não estava a
correr nada bem para ninguém…
Lawrence encontrava-se numa mansão Vitoriana nos arredores de Moscovo, numa
zona isolada e verde. Era um vampiro antigo e muito conhecido pelos seus gostos
requintados; Ele ensinara-me e a controlar os meus desejos de sangue, a caçar e a usar
os meus sentidos para esconder-me de quem queria o meu mal. Um segundo pai para
mim, cuidara e ensinara-me tudo o que sei hoje.
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62
Empurrei a porta, sempre que vinha visita-lo não conseguia deixar de espantar-me
com os seus gostos. Diga-se de passagem, que o homem – ou melhor vampiro – não
era rico, nem tinha poses, simplesmente aproveitava as casas vazias quando os donos
iam de férias. Pouco requintado para um homem cheio de requinte, certo!?
Contei-lhe a situação toda, de sentir que estava a ser seguida e de como estava
receosa de ser um caçador ou até mercenário. Expliquei-lhe do cheio que sentia e do
pequeno flashback que tive ao tentar lembrar-me quem era aquela sombra.
Em resposta, manteve um ar serio, cruzou a perna e as mãos sobre o regaço.
Levantou os seus olhos negros na minha direcção.
― Seguida por um humano.
― Sim.
― Caçador?
― Não sei.
― Conhece-lo?
― Não, ele está sempre encoberto mas hoje…- Tirei o papel do bolso. ― Deixou-me
isto.
Lawrence pegou no papel e leu atentamente, levou o papel ao nariz.
― Hum…- Ficou a pensar durante segundos. Lawrence era um batedor, conseguia
encontrar quem fosse pelo cheiro. Era o seu forte. ― É um homem, entre 27 a 30 anos.
E tem um cheiro muito característico…De certeza que não o conheces?
― É complicado…- Tomei uns segundos para pensar. ― Eu conheço o cheiro, tenho
a certeza de que conheço. Ao tentar recordar-me eu…
― Tiveste um pequeno flashback.
― Sim.
Lawrence continuava de olhos no papel.
― O que viste?
― Hum…uma casa de madeira numa floresta. E eu…queria algo da casa…Havia
qualquer coisa que chamava a minha atenção.
Lawrence olhou para mim com um ar sério de tal modo que senti medo.
― Fala com uma das tuas bruxas.
― Não são minhas bruxas, Lawrence.
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― Não interessa. – Estendeu-me o papel e eu guardei-o. ― Como bruxas devem
saber algo sobre a hipnose.
― Isso resulta? Connosco, quero dizer.
Lawrence, levantou-se e abriu um armário. Tirou uma garrafa com um líquido
avermelhado e um copo.
― Deve resultar.
Algo interessante mesmo sendo vampiro Lawrence nunca deixara os vícios humanos,
adorava um bom brandy ou um charuto. Não os conseguia sentir mas, era
simplesmente…chique
. Enquanto Lawrence preparava o seu brandy, eu pensava se a hipnose realmente
resultava e depois…a quem iria pedir? Claire? Verónica?
― Ouve…- A voz de Lawrence fez-me despertar. ― Tu és especial, Carmen. Tu
tens memórias enevoadas, todo o teu passado é um nevoeiro mas, vive-lo todos os dias
em flashbacks.
E eu considero-te sortuda, muitos vampiros – eu inclusive – esquecem-se
completamente de quem foram em humanos mas, tu…Tu lembraste não em concreto
mas, lembraste e isso pode ajudar-te num futuro próximo.
Lawrence era adepto do oculto que enjoava. Embora, falasse das “minhas” bruxas
com algum desdém num deixou de sentir curiosidade pelos seus poderes.
― Certo...- Levantei-me e olhei para o relógio. ― Tenho de ir.
― Espera, miúda. Tenho algo para ti. Penso que é altura ideal para oferecer-te.
Lawrence percorreu a sala, até a escrivaninha que estava ao canto. Abriu o tampo de
madeira e pousou o copo de Brandy. O móvel tinha varias gavetas, Lawrence
observou durante um bocado até que abriu a terceira a contar do fim. Tirou de lá uma
caixa de metal.
Aproximou-se de mim com a caixa na mão, era de tamanho considerável, e
provavelmente pesada pois Lawrence segurava-a com as duas mãos ou seria só para
causa suspense. Ele fez um gesto com a cabeça, dando-me autorização para abrir e
assim fiz…
Deitadas sobre um forro de veludo negro, estavam duas pistolas com os canos
paralelos. Eram lindas de um metal pulido e reluzente, eram grandes, e com a base em
preto.
― São tuas.
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― O quê?!
― Yep! Duas Desert Eagle 50. Modificadas.
Reparei nas inicias que se encontravam do lado de cada cano: CM.
― Carmen Montenegro. – Repeti o meu nome em voz alta enquanto olhava para
aquelas beldades.
― Já as queria dar a algum tempo mas, tu e as tuas amigas andam sempre em
viagem. Pega nelas.
Peguei numa e senti o metal frio contra a minha mão, estendi a mão e segurei a outra.
Fui percorrida por uma adrenalina entusiasmante, no meu tempo não havia armas
automáticas como agora, era tudo em pólvora, chumbo ou a lâmina. Em anos que sou
vampira nunca havia tomado uma arma nas mãos mas, agora…não iria querer outra
coisa.
Virei-me para a parede e fiz pontaria a um quadro de estilo romântico de Turner.
Aquelas armas ficavam-me bem. Imaginei-me a disparar contra a sombra que me
perseguia…a adrenalina quase que me matou.
― Se voltares a ver essa tal “sombra” dispara primeiro e depois fazes as perguntas.
Melhor táctica não há. – Sentou-se no seu cadeirão. ― Carmen, querida. Não te
esqueças das munições.
Flecti os braços e olhei por cima do ombro para a caixa. Dentro estava mais uma
caixinha pequena em tom castanho-escuro. Meti a pistola de lado e segurei a caixinha,
tirei lá de dentro uma bala fina e prateada.
― Hum…Lawrence, eu não sou forense nem nada mas, não me parece que esta bala
corresponda a arma.
Lawrence sorriu maliciosamente.
― Acredita, corresponde. As balas que tu seguras na tua mão matam qualquer
criatura sobrenatural, obviamente, não as comprei do modo mais “legal” mas, estão ai.
― Então, matam tudo? Tudo mesmo.
― É o sonho de qualquer caçador ter uma dessas, Carmen. – Lawrence sorriu-me
ainda mais e ergueu o copo na minha direcção. ― Parabéns.
Fiz o percurso para casa em silêncio e sempre sozinha. Trazia as minhas duas armas
numa mochila preta que Lawrence tinha pedido “emprestado” aos verdadeiros donos
da mansão. Sentia o peso delas nas minhas costas e imaginava como seria matar
alguém com uma delas. Não evitei sorrir.
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Ia a beira da estrada quando reparei numa sombra caída. Um vulto. Da distância vi
que era uma mulher, conseguia ouvir o seu coração bater fraco, talvez estivesse
desmaiada. Aproximei-me e larguei a mochila a uns metros, ajoelhei-me ao lado da
mulher de cabelos acastanhados aos caracóis e virei-a ao contrário. Era jovem, talvez
com uns 30 e poucos anos, usava muita maquilhagem – maquilhagem bem barata – e,
pelo cheiro, senti que estivera a beber cerveja. Observei-a muito rapidamente e vi que
não tinha qualquer ferida.
― Hey…- Bati-lhe na cara ao de leve. ― Hey, acorda…
Olhei em volta na esperança de ver alguém mas, distrai-me com algo no meio das
árvores a minha direita. Ouvia algo.
Era forte e descompensado.
Nervoso. Ansioso. Temeroso?
Era um segundo bater de coração!
Antes de poder sequer raciocinar que aquilo era uma armadilha, senti a mulher a
mexer-se e algo brilhante passou pela visão periférica e a seguir, uma sensação bruta
no peito.
Subitamente não consegui respirar, nem mexer-me ou falar. Arfava a procura de ar
como um peixe fora de água, com os meus olhos abertos em pânico. Caí para o lado
pesadamente, sem conseguir mover-me, com os olhos cravados nas árvores a minha
esquerda.
― YES! – Ouvi uma voz masculina a gritar, depois passos pesados. ―
Wow…apanhamo-la, baby!
A mulher, que supostamente estava mal, levantou-se de um salto. Não a conseguia
ver mas, sabia que estava bem contente.
― Eu sei!
― Quase que nos apanhava mas, tu foste rápida. – Ouvi o som de um beijo. ― Amo-
te, chuchu.
― E eu a ti, docinho.
Um novo som de beijo por segundos, depois senti-me a ser virada de barriga para
cima. Depois duas caras, com sorrisos idiotas, apareceram a minha frente.
― Ui…este é jovem…- Disse o homem, tirou a neve da minha cara e alguns cabelos.
― Deve ter umas belas presas.
― E tem um belo fio. ― Senti a ponta dos dedos a fecharem-se em volta da minha
flor-de-lis e depois a ser arrancada com violência. ― É lindo!
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― Fica-te muito bem, chuchu.
A mulher sorriu vaidosa. Cabra, iria morrer lentamente por ter tirado o meu fio!
O homem levantou-se e tirou dois longos fios de prata dos bolsos.
― É mesmo necessário?! – Perguntou a mulher.
― Sim…- o homem segurou os meus pulsos enquanto falava e enrolava um dos fios
de prata em volta. Senti a pele a queimar. ― Uma vez o meu tio, apanhou um destes e
deu-lhe uma estacada no peito mas, não prendeu o vampiro. Num momento de
distracção, ninguém sabe bem como, o vampiro tirou a estaca e matou o meu tio.
A mulher fez um ar de choque ao ouvir a história, abriu os olhos em espanto.
― Oh meu Deus! Isso é horrível…
Enquanto falava, apanhava o outro fio e amarrava-o nos meus tornozelos.
― Pois é, portanto há sempre que amarra-los. - A prata queimava a volta dos meus
pulsos, e mesmo estando por cima das minhas calças, conseguia senti-la na minha pele
a ferver. ― Por isso. Ela vai ficar assim, presa, até acabarmos com ela.
― E o que vamos fazer?
― Primeiro, tiramos-lhe as presas, já sabes presas de vampiros valem uma fortuna e
uma boa quantidade de sangue. Vendemos a máfia e ganhamos balúrdios de dinheiro.
– O homem abriu a minha boca. Com a estacada que levei as minhas presas desceram
instintivamente. ― Uau, olha-me para estas beldades.
― São grandes…- A mulher olhou para os meus olhos. ― Vales muito, querida.
Muito mesmo.
― Sim…
― E depois?! Deixamo-la assim?
― Não…- O homem debruçou-se sobre mim, encarou a esposa. ― Vamos queima-la
ao nascer do sol.
― A sério?!
O tom de voz dela era de pura excitação.
― Oh sim. Vai buscar a carrinha.
Daí a pouco ouvi um som de motor velho, e fui pegada ao colo. Percorreu alguns
metros comigo ao colo, e assim que chegamos a carrinha largou-me como um saco de
batatas.
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― Amor, secalhar é melhor espetarmos mais uma…- Disse a mulher com uma estaca
de madeira, com a ponta em prata na mão. O homem pegou na estaca e espetou-a
novamente no meu peito, voltei a sentir dor e arfei por ar.
― Vamos! – O homem fechou as portas da carrinha. ― Temos dinheiro para ganhar.
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Halloween
CARMEN MONTENEGRO
É estranho as coisas que nos lembramos quando estamos a ver a nossa vida a passar a
frente dos olhos. Relembrar pedaços de quem fui na minha vida, enquanto era humana,
tinha sentimentos, podia ter frio, calor, dormir e chorar. Mais estranho é lembrar algo
como uma simples festa de Halloween dos meus 27 anos, talvez a relembre por ser a
minha última. Talvez por ter sido nessa festa de Halloween que eu assinei o tratado da
minha morte.
Lembro-me bem de como funcionavam as festas na minha aldeia. Não levávamos
muito a sério o conceito, apenas chamávamos o Dia dos Mortos, não era como hoje
que os miúdos vestem mascaras idiotas e saem a rua a pedir doces ou dinheiro, até. Era
algo muito familiar e privado, que se limitava a ida aos cemitérios das famílias que
tinha perdido alguém, para homenagear os mortos. Havia também uma espécie de
almoço em família. No fim, todos se reuniam para a missa e procissão, e no fim para a
festa!
Se soubesse o que sei hoje, talvez tivesse participado em todo o processo desde a ida
ao cemitério até a procissão. Mas não, eu estava naquilo que parecia ser a adega da
aldeia. Eu e o meu namorado da altura…estranho…o corpo não tem nome na minha
cabeça. Eu e ele estávamos a ter um belo momento de amor, sem o mínimo de
romantismo. Trocávamos beijos ardentes, enquanto os dois avançávamos para o
culminar do nosso prazer secreto. Eu abafava os gemidos dele com a minha mão e
enquanto tentava segurar os meus, mordendo o lábio com toda a força.
Quando acabou ficamos parados a recuperar o fôlego e trocamos um beijo leve. .
― Podeis…largar…largar-me…- Disse eu cansada.
Com cuidado, ele deixou-me deslizar para o chão e eu afastei-me dele ajeitando a
roupa.
― Carmen, tolo é aquele que te toma por pura.
Ele ajeitava as calças, colocando a camisa para dentro.
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― Acredita, meu amado que são muitos. – Puxei a minha saia branca para baixo,
ajeitei o meu corpete bege e ajeitei as mangas da camisa que tinha por baixo. ―
Ajudai-me.
Aproximou-se de mim por detrás, pegou nos fios do meu corpete e começou a puxa-
los e entrelaçando-os.
― E eu, deixa que te diga, sou um deles. – Virou-me para encara-lo. ― Quero-te. Sê
minha para sempre. Sê minha, cara Carmen.
Não consegui aguentar, larguei uma gargalhada na sua cara e afastei-me.
― Talvez quando regressar.
― Regressar? – O seu som tom era de total pesar. ― Mas, onde ides?
― Caçar, ora! – Peguei no cabelo e apanhei-o numa trança. ― Penso que é isso que
nossas famílias fazem.
― Ides deixar-me?
Voltei-me para ele e vi a sua cara de cachorro abandonado. Aproximei-me dele,
toquei na sua face quente e molhada, tentando mostrar o meu melhor ar de pesar.
― Lamento. – Dei-lhe um beijo apaixonado nos lábios. ― Prometo, voltar e serei
tua…
― Isto se vossa obsessão não vos matar, antes! Que raio procurais?
― Procuro glória, meu amado! Gloria! Se matar este vampiro de vez, será fácil
encontrar os demais e acabar com eles tambem. – Agarrei a sua cabeça entre minhas
mãos. ― Irei usar a sua pele como meu estandarte.
― Se ele não usar a vossa ou pior…- Olhou-me de cima baixo. ― Não transformar-
vos primeiro.
Por impulso mandei-lhe um empurrão tal, que eu fez cair de rabo no chão. Ajeitei a
minha roupa e mostrei o melhor sorriso.
― Não sejas tão negativo, futuro marido. Prometo voltar e ser vossa. – Avancei para
as escadas que davam para a rua.
― Carmen, esperai…
Não escutei o resto, limitei-me a bater com a porta assim que sai.
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70
Saí da adega, praticamente a voar, deixando o meu amado – sem nome – para trás.
Não sabia porquê mas, a ideia de não voltar transmitia-me um conforto inexplicável.
Quando virei a esquina o que eu vi fez com que a minha respiração suspende-se!
As luzes que iluminavam a praça estavam lindas formando o desenho de uma tenda
de circo. As pessoas dançavam felizes umas com as outras ao som da música
folclórica, algumas passavam por mim as gargalhadas com os vestidos e casacos a
levantar voo conforme o movimento dos corpos. Ao fundo da praça, uma banda tocava
com vários instrumentos da época, todos felizes e contentes e com uns copos de
cerveja mesmo ao lado.
Sem dar conta fui andando para o centro da, improvisada, pista de dança observando
com alguma inveja e contentamento quem dançava a minha volta. Senti algo a arder
por de dentro dos meus olhos, de repente a minha visão ficara turva. Toquei na minha
cara a tempo de ver as minhas lágrimas a escorrer. Estava a chorar! Porquê? Fui
assolada por uma sensação de nostalgia, de saudade mas, como se aquilo era algo que
eu estava a viver e iria viver sempre.
Senti os braços fortes apertarem-me pela cintura e uma respiração no meu ouvido.
― Aproveita enquanto podes, Carmen. Aproveita. Assim que partires, este mundo já
não te pertence!
Voltei-me bruscamente a procura de um dono para aquela voz mas, apenas via
pessoas a dançar, a rir, a brincar com fitas, luzes. Felicidade extrema.
― Passou-me pelos sentidos…- Virei-me e reconheci o meu amado a encarar-me de
sorriso nos lábios. Estendeu-me a mão, num gesto carinhoso. ― Já que partis amanhã,
deveis-me uma dança. Afinal, é Dia dos Mortos, há que dançar pelos vossos
antepassados e pelos meus.
Aceitei a mão, coloquei-me ao seu corpo quente que ainda emanava o nosso cheiro e
deixei-me guiar enquanto ele liderava.
Agarrei-me o mais que pôde.
Agarrei-me com a força toda.
Mas, mesmo assim na manhã seguinte parti e dois dias depois morri.
VERÓNICA RUSSO
Peguei no meu punhal de prata e de um corte seco acabei com a vida daquela mulher.
Não sentia qualquer tipo de ressentimento., era um acto frio.
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71
Despertei sobressaltada. Senti muito medo da verdade e do passado. Levantei-me e
olhei pela janela. Ai comecei a recordar.
Era uma maravilhosa manhã de Outubro do ano 1886. Estava perto da cidade de
Viena em Áustria.
Por breves momentos esqueci-me da minha da missão.
De repente bateram à porta. Senti que o meu coração batia a mil à hora. Sabia quem
era.
Abri a porta. Era ela.
- Passa! – Disse – Que tens para mim hoje?
- Sabes bem o que é...
- Já te disse que não o vou fazer – Neguei-me sem medo.
- Deves-me a tua vida. Tens de fazer o que eu mando! – Ordenou-me.
Eu sabia que era verdade o que dizia.
- Ok! Dá-me tempo...
- Tens 2 dias Verónica! Não abuses da minha paciência.
Abanei a cabeça com uma cara assustada.
Passei o dia todo a pensar como o ia fazer. Era demasiado para mim.
Essa mesma noite decidi que tinha de distrair-me. Tinha visto em um dos livros da
minha ama que depois de retirar a alma do corpo de alguém e precisamente antes de
fecha-la nos meus “frasquinhos da sorte”, se podia manipular como quiséssemos.
Resolvi experimentar. Com todos os passos apontados num pedaço de pergaminho
dirigi-me a Viena. Passeando pelas ruas desertas da cidade encontrei um belo e jovem
rapaz que caminhava devagar e sem qualquer preocupação. Aproximei-me dele
discretamente, sem dúvida era humano. Agarrei-o pelo pescoço e atirei-o contra uma
parede. Ai ele ficou inconsciente. Era a minha grande oportunidade.
Comecei o processo. À medida que eu ia avançando ele começou a contorcer-se de
dor. Estava completamente lúcido mas totalmente imobilizado pela dor.
De repente parou. Seguindo todos os passos consegui estabilizar a sua alma sobre o
seu corpo. Esperei uns minutos antes de aprisionar a sua alma num dos meus
recipientes.
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72
Nessa fracção de segundo percebi que tinha conseguido. Estava a evolucionar
depressa. Estava a conseguir estar num estado intermédio entre ser uma guerreira e ser
uma bruxa. Algo pouco habitual.
Voltei ao meu pequeno quarto. Apesar de tudo, sentia-me bem.
O dia seguinte resolvi estudar um pouco algumas das minhas técnicas para estar
suficientemente preparada para qualquer tipo de imprevistos.
Faltavam várias horas para a minha missão. Era uma das mais complicadas que tinha.
Encontrava-me a porta de um orfanato. Diziam que algo acontecia ai dentro e a
minha missão era acabar com isso. Deviam ser perto das 23h do dia 31.
Era hora de actuar. Entrei por umas das janelas da parte de trás do edifício. As luzes
já estavam todas apagadas e já estavam todos nas suas camas.
Sabia por onde tinha de começar. Pelos homens!
Dirigi-me ao 1º andar. Entrei nos diversos quartos e silenciosamente fazia um corte
seco no pescoço do indivíduo. Não valia a pena perder tempo. De ai dirigi-me a ao 2º
andar e do mesmo modo acabei com todas as mulheres. Dirigi-me finalmente à ultima
planta, a das crianças. Deveria fazer o mesmo mas a curiosidade era mais forte que eu.
Decidi experimentar o que havia aprendido com aquele jovem, mas em vez de uma
por uma, o que faria com que todas acordassem com os gritos, decidi fazer uma
execução em massa.
Comecei então. Os gritos daquelas pequenas criaturas começaram a ecoar por todo o
edifício. Passados alguns segundos de imensa dor, os gritos terminaram.
Tinha centenas de almas nas minhas mãos e isso dava-me imenso prazer.
De repente senti uma forte dor passar-me pelo corpo. Caí no chão sem poder mover-
me.
Tentei lutar contra aquela força invisível mas era impossível.
Tentei pelo menos guardar todas aquelas almas para a minha colecção mas não
podia.
As almas atordoadas e sem saberem o que fazer começaram a dispersar-se por todo o
edifício.
Foi então que alguém se aproximou de mim e com fria palavras disse-me:
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- Sabia o que andavas a tramar, por isso tinha de acabar contigo! Feliz Halloween,
amor.
Mas algo ela não sabia. Eu tinha um poder muito especial.
Mentalmente executei um pequeno ritual que demorei muitos anos a desenvolver
para utilizar em casos extremos como este.
Podia transporta o meu corpo a outro sitio mas a cambio um ser vivo tinha de ser
sacrificado.
Sabia que a única criatura viva naquele edifício era ela e era a maneira de me livrar
dela.
Consegui escapar. Estava numa rua deserta em Viena. Já me conseguia mover apesar
de estar débil. Levantei-me devagar e comecei a caminhar como podia. Consegui
encontrar um sitio onde esconder-me até recuperar-me.
Despertei. Felizmente era só uma recordação passada. Mas parecia tão real. Como se
tivesse sido ontem.
Resolvi prepara-me. Já era a hora do baile.
CLAIRE HARRIS
O Halloween chegara uma vez mais. Sentada à minha janela como era costume,
olhava lá para baixo, para as ruas de Moscovo e pensava nas saudades que sentia.
Pensei, mais propriamente, no meu último Halloween, fora de Moscovo.
- Despacha-te! Ai que lentidão que tu és. – Gritei.
- Eu não sou lento, tu é que és demasiado rápida – respondeu um rapaz ao chegar ao
fundo das grandes escadas que levavam ao quarto principal. – Wow. Claire! –
Exclamou ao olhar para mim. Reparou como eu estava vestida. Um vestido negro, sem
alças, que me dava pelos pés mas sem arrastar pelo chão. Maquilhagem suave,
destacando os meus olhos. O meu cabelo solto, caindo pelas costas, livremente.
- Que foi? – Ri – Até parece que nunca me viste. Vamos, estamos atrasados.
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Sai de casa à sua frente dirigindo-me para o seu carro. Entrei para o lado do
passageiro e esperei. Ele entrou logo de seguida e arrancamos em direcção ao nosso
destino.
- Chegamos! – Exclamou cerca de meia hora depois. A viagem tinha sido bastante
calma.
Saímos do carro calmamente e dirigimo-nos para a entrada. Ao entrar entregamos os
nossos casacos ao empregado e fomos directamente para a sala de jantar.
- Daniel Harris. – Respondeu.
- Muito Boa Noite, Srº Harris. Mesa 5, por favor. – Retorquiu o empregado.
Chegamos à mesa e sentamo-nos. O empregado veio entregar a ementa e escolhemos
em silêncio ambas as refeições. Os restantes minutos foram passados também em
silêncio, ouvindo a música que tocavam no palco. Uma boa música clássica, nada
melhor.
- Sabes, isto não é tipicamente Halloweenish. – Riu-se após beber um pouco do
vinho, mais caro da casa, diga-se de passagem.
- Não gosto do Halloween. Demasiado comercial. Sabes disso. Prefiro passar uma
boa noite assim e quando regressar a casa, realizar os meus rituais na paz e conforto do
meu jardim…
- Sempre foste assim. Mesmo quando eras… – hesitou – mortal… davas muita
importância a este dia. Não mudaste muito.
- Mudei. Tu é que não notaste. – ri-me – Daniel. Como vamos fazer quando eu for
para Moscovo?
- Telefonemas. Cartas. De vez em quando vou visitar-te. Está descansada, não irás
ver-te livre de mim tão cedo. Aturas-me há cerca de… hmm… - parou para pensar –
Quatro? Cinco Séculos? Não sei. Perdi a contagem dos anos.
- Eu sei. Nem é meu desejo ver-me livre de ti. – Sorri.
- Vamos, vem comigo. – Levantou-se e esticou o braço, como se pedindo a minha
mão.
- Para onde? – Questionei.
- Dançar. Gostas da música certo? Sim, sei que há melhores para dançar, mas vem.
Olha ali – apontou para o centro de uma pista que se encontrava cheio de pessoas a
dançar – vamos juntar-nos a eles. Anda lá, eu prometo que não te piso. – Deu uma
risada subtil.
- Muito bem. Mas aviso-te já que dançar não é o meu forte. – Dei-lhe a mão.
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75
Dirigimo-nos para a pista e dançamos juntos um ao outro. O tempo pareceu parar.
Como se nada existisse em nosso redor.
- Claire? – Chamou.
- Uh? – Disse, acordando de uma espécie de transe.
- A música acabou querida. Os meus braços são assim tão bons que adormeces? Ou
eu apenas sou péssimo dançarino? – Deu uma gargalhada.
- Ah, desculpa – Corei – Vamos. Quero ir para casa fazer o meu ritual.
Pagamos a conta e dirigimo-nos para o carro. Rapidamente chegamos a casa.
- Boa Noite Daniel. Dorme Bem. – Despedi-me ao entrar em casa. Dirigi-me para o
meu jardim, como todos os anos fazia, e montei o meu círculo de forma a celebrar de
forma apropriada.
No final do ritual, tudo terminado e tudo limpo, ouvi um barulho.
- Quem está aí? – Perguntei.
- Shiu. – Algo, ou alguém, respondeu. Ou pareceu responder.
- Mas que… Ah! – agarraram-me. Taparam-me os olhos e arrastaram-me. Não sei
quem era. Não sei para onde me levavam. Lutei e Lutei, mas não consegui. Era
alguém forte sem dúvida. Cai. Num sítio… confortável? Senti os meus pulsos serem
atados, com força.
- Quem és? – Gritei – Larga-me!
- Shiu. – Murmurou ao ouvido. “Ah!” pensei.
- Daniel... Achas mesmo que me enganas? – Respondi, agora calma e despreocupada.
A venda foi me arrancada dos olhos. Dois olhos azuis-escuros, quase pretos, olhavam
profundamente para mim.
- Sou assim tão previsível? – Disse, com cara triste.
- Claro. – Beijei-o. – Mas… se me quiseres surpreender…
Beijou-me.
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76
- Quem tens a dizer sobre este Halloween, Claire? – Disse, dando um beijo na minha
testa.
- Honestamente? – Sorri. Ele acenou com a cabeça. – Melhor Halloween de Sempre.
Fechei os olhos e deixei-me adormecer nos seus braços.
“Moscovo aguarda-me” – pensei, ao adormecer – “Mas agora… deixem-me
aproveitar o momento.”
SHEFTU NUBIA
- É Halloween! Pedi a uma amiga que trouxesse este pequeno presente para ti! – A
sua voz já me começava a enervar, quem era ele para fazer uma coisa destas! Sim, era
o Belzebu que me mantinha aqui! – Vá, abre para vestires o teu que eu vestirei o meu!
Hoje vamos ao baile do Halloween! Vá, amor, apressa-te!
- O QUE É ISTO?! – Não podia ser uma coisa destas! Ele havia de pagar-mas... Só
eu recuperar as forças que ele verá!
- O teu fato para hoje, vai lá vestir-te! – Aproximou-se de mim e agarrou-me pela
cintura, aproximando-se do meu ouvido e sussurrando – E vê lá se podes miar um
bocadinho para mim hoje sim? Passas a vida a meter as unhas de fora, mas eu cá te
porei a ronronar... Verás! – Sorriu quando eu bufei, prosseguindo – Está na hora de
sairmos, não demores muito a vestir-te...
- Quando eu meter o dente em alguém vejamos quem ronrona aqui! – Virei costas e
fui vestir-me. Sempre era melhor sair um pouco do que estar sempre aqui fechada.
Quando chegamos ao baile, ninguém reparou na nossa chegada, estavam todos
totalmente radiantes com estas suas vidinhas medíocres. Comecei a movimentar-me
para o meio da multidão, tentando escapar um pouco da lapa que teimava em estar
bem agarrada...
- Não, assim não meu docinho... – Disse Eric, radiante pela minha expressão de
raiva. – Não vês que tens de dançar comigo?
- Não danço com o Van Helsing, obrigado!
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- Mas me vesti assim com tanto carinho, não me digas que não gostas nem um
bocadinho... – Fez um beicinho torto acompanhado de um sorrisinho parvo. O que raio
queria este homem?
- Não me parece que a Cat Women tenha algo a ver com o senhor caçador de
vampiros...
- Isso é porque nunca me deixaste te caçar...
- Talvez me tenhas apanhado na hora errada. Esperasses mais tempo.
- E quê? Esperava que morresses ali nos braços da tua meia-irmã? – Seu coração
batia num ritmo cada vez mais frenético. O que passaria pela cabeça deste caçador de
sangue?
- Então, não seria má ideia. Assim não eras uma lapa.
- Se pensas que sou uma lapa, então nem sabes o que virá de seguida... Morde! –
Ordenou, tocando com seu dedo em meus lábios, esperando que eles se abrissem para
uma dentada.
- Não, não mordo. Não desta vez... – Suspirei, sugando o dedo... Eu sabia muito bem
que haveria algo de errado com o seu sangue, não podia arriscar comigo ainda fraca.
- Eu bem disse que ronronavas... – Gargalhou alegremente com um som que quase
parecia uma gargalhada maléfica...
- Que Van Helsing tão real! Até parece que é o Drácula disfarçado!
- Queres uma dentadinha de baptismo Miss Helsing? – Seu sorriso malicioso
diminuiu ao ver minha boca se aproximar do seu pescoço, sua voz rapidamente ficou
rouca e seu corpo rígido como pedra – Não vás por aí querida, não vais gostar nada do
que te acontece. Meu sangue não é algo que queiras ingerir...
- Porque não? Cheiras bem, odeio-te e só te quero ver morto... Nada melhor do que
pelo menos aproveitar o que presta em ti. – Seus braços me empurraram para longe do
seu pescoço, sua expressão era indescritível. Mas porque não poderia eu matá-lo?
Assim não tinha piada.
- Sabes bem que não é o meu sangue que queres... – Puxou-me de volta para perto
dele, abraçando-me e continuando a dança – Podes ser uma gatinha meiga hoje?
- Preferia cair agora, bater com a cabeça e partir a coluna. Ah, é verdade... Vampiros,
supostamente imortais. Que pena eu tenho de não puder fazer esse favor para ti!
- Não te preocupes minha querida... Farás favores bem melhores... Acredita.
- Jamais! Podes ir sonhando, mas fica bem a dormir... Talvez até eternamente, eu
posso te ajudar...
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- Vá, cala-te e dança que é a nossa noite!
- Preferia morrer...
SAMANTHA SAINT
O vislumbre de uma festa de Halloween…Todo o glamour das máscaras e das
fantasias… Ir mascarada de vampira. Ahah que irónico, seria a mais perfeita da festa!
Abri o meu armário na esperança de ver algo que fosse misterioso e ao mesmo tempo
sensual mas nada eu via. Está tudo mais que visto, mais que usado (apesar de muitas
peças terem sido usadas uma única vez).
A noite estava aproximar-se e saí à procura da minha fantasia, no entanto nada eu
encontrei. Cheguei ao hotel um pouco desapontada, principalmente por ver muita
gente, todas fantasiadas. Pensei, Vou ter que usar outra coisa esta noite. Mas não quero
nada isso. Subi e mal entrei na penthouse vi um bilhete em cima da mesa da entrada
que dizia:
Encomenda para Samantha Saint.
O mesmo trás um bilhete de quem a deixou.
Olég (estafeta)
Encomenda? Fiquei a olhar desconfiada para aquele bilhete.
Mas encomenda de quem? Além das vampiras e das bruxas ninguém sabia onde eu
me encontrava.
Fui para o meu quarto para ver o que seria e de quem seria essa encomenda
misteriosa. Mal entrei no quarto fiquei completamente hipnotizada e deslumbrada com
o que os meus olhos vislumbravam.
Em cima da minha cama estava uma espectacular fantasia de halloween! Fiquei tão
entusiasmada. Era lindo, era a minha cara! Ia mascarada de… De mim própria!
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Vesti-o rapidamente. Era comprido e justo, todo preto de cetim com uma grande
racha de lado na perna direita. Pequenas linhas, muito finas, brilhantes e prateadas.
Meias rendadas com desenhos a formarem teias de aranha e umas luvas até aos
cotovelos com o mesmo padrão. Uns lindos sapatos pretos cintilantes com uns saltos
altíssimos! E para finalizar uma mascarilha preta só a cobrir os olhos. Perfeito!!
Simplesmente perfeito!
Com todo aquele entusiasmo nem reparei no envelope que estava junto ao meu
vestido. Abri-o, totalmente curiosa com o que sairia dali. Mas a reacção não foi bem a
que eu estava à espera, nem a carta o era. Lá dentro, numa escrita fina e requintada
dizia:
Querida Samantha,
Espero que te encontres bem nessa tua nova busca.
Ainda bem que mudaste de interesses em relação…
Aqui te deixo este vestido, sei que é a tua cara. Achei-o perfeito tal como tu
Espero que também o aches.
Um beijo daqueles como tu sempre desejas.
L.O.R.
Cai no chão perdida no choro, num choro, infelizmente sem lágrimas, senão ter-se-ia
formado um rio dentro daquele quarto. Era ele, o tal, a minha paixão arrebatadora,
avassaladora e eterna. Incontestável e perfeita…
Fui para a festa no hotel, um deslumbre esplêndido. E eu tenho a certeza, que
naquela festa, por trás de todas aquelas mascaras eu tive os olhos postos em mim, os
olhos verdes que me deixam e sempre deixaram perdida. Eu vi-o! Tenho a certeza que
o vi! Aquele que me deu o vestido, aquele que me deu prazer, aquele que me deu vida
nesta morte… O meu Louis Olive Russian.
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EP12 - “Unbelievable” by Sheftu Nubia
Sejam as horas malditas para sempre, que sua vida se manche de ódio e solidão. Seus
dias sejam contados a cada segundo como os últimos. Desgraçado aquele que ousa
tocar em mim, desgraçado aquele que me prende entre minhas paredes, mexendo em
minhas rosas vermelhas do sangue que um dia lhe atraiçoará. A miséria se apodará de
cada parte da sua alma, meu sangue será a última coisa que alguma vez provará na
vida. Cada segundo de tortura vivida por mim dentre estas quatro paredes será dada
em acréscimo na hora em que a sua morte será oferecida por mim. Cada segundo da
sua estúpida vida será prazer para mim, desfazendo-me de cada parte da sua alma,
deixando que tudo seja incrivelmente miserável para aquele que agora me prende.
Posso estar fraca, mas não estarei fraca para sempre. Quando a hora chegar eu estarei
bem à espera que ele tente escapar da minha ira. E eu docemente amarei cada segundo
de tortura que lhe impuser. A prioridade era sair daqui, recuperar forças, beber um
pouco do meu néctar precioso. Lembro-me bem de quem me poderá ajudar, Samantha
tinha me pedido para a ajudar e brevemente me procuraria de novo. Nessa hora eu iria
conseguir escapar, a sua ajuda era incrivelmente precisa nesta hora. E como eu
detestava estar à mercê de um simples ser humano, mais um desprezível Bruxo que
conseguira descobrir como usar meu sangue em seu proveito. Mas seu anelzinho de
Nubia nunca iria puder ajuda-lo contra a minha ira. Nada nem ninguém iria ajuda-lo,
isso eu garantia.
Já estava farta de ver este homem à minha frente, ao meu lado ou onde quer que
fosse! Não tirava os olhos de mim, sempre à espera que eu arranjasse novas formas de
escapar, tentando estar sempre um passo à frente de tudo o que eu pudesse fazer. Era
irónico, ele pensava que conseguia vencer-me. A sorte dele era eu estar fraca, se eu me
alimentasse só um pouquinho demais, uma dúzia de seres humanos de boa qualidade,
talvez não estaria tão sorridente ao ver-me nesta cama estúpida.
- E se deixasses destes teatrinhos e me dissesses o que estás a pensar? É
incrivelmente interessante ver-te aí imóvel, totalmente calada à espera de um momento
para te livrares de mim. – A sua ironia era incrivelmente enjoativa. Ai, eu é que sou,
eu é que sei! Humanamente ridículo. – Vais dizer-me que além de te ter mordido a
garganta a tua maninha também te arrancou a fala?
- Pára de ser ridículo. Já sabemos que andaste a fazer bem o trabalho de casa, que
sabes muito bem quem sou. Agora falta saber o que raio deseja aqui. Já tens o que
queres – Parei por uns momentos, observando o meu sangue tão perto do seu dedo, um
dedo que eu queria ver rapidamente quebrado – Então diga lá o que deseja.
- Parece-me que faltam as apresentações, posso saber tudo sobre tão admirável
senhora, mas não sabeis minimamente quem eu sou. Não gostaríeis de saber qual meu
nome?
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- Tal nome não me faz qualquer diferença. – Respondi o mais rispidamente possível.
- És absolutamente incrível!
- Sou, não sou?
- Ah! Ridícula. É absolutamente ridícula esta conversa. – Virou-se de costas para
mim, sua pulsação aumentava a um compasso cada vez mais apressado. – E se
parasses de escutar o meu coração por uns momentos? Poderias agir um pouco como
humana alguma vez na vida? – Sua voz escarnecia-me com raiva, mas apenas num
leve murmúrio. Ele sabia que meus ouvidos captariam tudo como se nem tivesse
sussurrado.
- Mas, meu caro, eu não sou humana. Não me queiras ofender. – Agora divertia-me
ao ver ele a observar-me de novo, incrédulo com o que tinha acabado de dizer. E a sua
pulsação subia ainda mais, parecia que não demoraria muito até que ele morresse de
um ataque cardíaco. Óptimo.
- Não te preocupes que eu te mostrarei o que é ser humano. Vais sentir-te tão humana
quanto eu. – Tinha-se aproximado de mim, mesmo à frente do meu rosto, seu sorriso
me dava nojo, cuspi-lhe em cima e ele nem moveu um passo sequer. – Óptimo, já
começamos a nos entender.
- Sim, damo-nos que é uma maravilha! Nunca pensei viver sem ti! Oh, que saudades!
– Aproximei-me de seus lábios e beijei-o. – Ah, que saudades de ti!
- Ai estás com saudades, é? Então eu tiro-tas, com todo o prazer. – Eu levantei-me
com rapidez, para que ele sequer me tocasse. Estava ainda um pouco tonta, mas dera-
me tempo suficiente para correr até à porta. E a raiva começava a crescer em mim de
uma forma perigosa, se não estivesse tão fraca, certamente conseguiria matá-lo apenas
com um braço. Mas o que me tinha dado ele para que eu estivesse assim?!
- Oh, que pena. Cheguei aqui ao mesmo tempo que tu. Já não podes escapar. Ah! E
nem penses em beber do meu sangue que não resolve nada... – Seu sorriso puxou por
mim e voltei a cuspir-lhe em cima, duas vezes seguidas – Interessante... Consegues
cuspir de uma forma muito engraçada, pena não teres saliva não é?
- Sim, é uma pena! Adoraria encher a tua cara, cuspiria até não puder mais... Para
que tivesses alguma coisa que prestasse nessa tua carcaça humana.
- Então veremos sim? Veremos se tenho mais alguma coisa que gostes tanto... Agora
paremos com estas piadinhas, sabes que eu adoro ter de te aturar minha querida, mas
tens que voltar para o teu descanso eterno. – Empurrou-me de volta à maldita cama
que tinha colocado em meu quarto, porque ela nunca tinha estado lá antes e eu agora
entendia porquê. Era simplesmente horrível. Não vejo a hora para que as forças me
voltem, aí ele verá a sua morte. Tão linda, tão bela, tão duradoura, tão cruel.
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- Sim, tem algo que eu adoraria... Já viste a beleza que era ver a tua vida a ser
despedaçada lentamente em minhas mãos? Ou até simplesmente ver-te a definhar
lentamente, bem à minha frente. A tua morte é uma bênção para a minha. Tua sorte é
eu estar assim... Mas não durará muito essa sorte.
- Já imaginaste que simplesmente podes não conseguir nada além de um sonho.
Pudesses tu dormir sobre o assunto, mas não. Tu sonhas comigo, eu tratarei de te ouvir
a sonhar.
- Sim, sonharei vezes e vezes sem conta a hora em que nunca mais te verei... Um
sonho que poderia se tornar realidade. Seria... – Seu dedo em minha boca me
silenciou, estava atentamente a olhar para a porta e...
- AI! – Dei uma mordidela no seu dedo, tamanho o berro que ele deu que se notava
que não contava com isso. Olhou para mim com raiva e para o seu dedo que sangrava.
– Tu não penses que sais assim a ganhar! Vais ver como sabe bem o meu sangue... –
Subitamente pararam em frente do meu quarto, parecia haver uma certa dificuldade
em baterem na porta, estaria a duvidar certamente do que era o mais certo a fazer. Mas
eu desejava que continuassem, que me livrassem de toda esta tortura...
- Já vou! – Disse bem alto logo que decidiram bater à porta, me levantando o mais
rapidamente possível e abrindo a porta, sendo seguida por Eric que se tinha escondido
atrás da porta, segurando o meu braço com força para que não tivesse facilidade em
escapar. – Ah, és tu? Entra, fica à vontade! – A expressão de Samantha era de total
incredibilidade, e no meu braço estava uma enorme pressão que me lembrava do
principal motivo do meu convite. Seria óptimo ver este homem se desenrascar para
sair desta, uma maravilha!
- Ah, bom... Obrigado... Acho eu. – O seu espanto ainda não tinha acabado, mas
demorou pouco até que entrasse. Fiquei perto da porta, mantendo-a aberta. Mas eu
acabaria por ter de a fechar, para que a conversa fosse privada o suficiente. E era o que
iria fazer, desmascarar este vadio de uma vez por todas. Para que ela me ajudasse, mas
a porta parecia não querer fechar de jeito nenhum. – A porta não te parece que precisa
de um pouco de óleo? Estará empenada não?
Afinal ela sempre era astuta além da escolha de roupas e jóias. Tudo o que dizia e o
que me mostrava dizer era totalmente diferente, a sua pergunta na realidade foi quem
estava a empenar a porta. Eu vi o sorriso de maldade na sua expressão, teria de me
habituar, ela era a minha saída daqui.
- É, tens mesmo razão. Nem vale a pena me importar muito com ela, tudo se resolve
bem rápido... Hoje em dia há soluções para tudo. No nosso caso... até para a morte! –
Seu sorriso cresceu. Ele não nos via, por isso nada iria descobrir. – Então e o que te
fez vir cá?
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- Agora é que reparei, estás mais pálida... Essa cor assenta-te que nem uma luva. –
Fez-me uma careta e voltou a sorrir, fazendo-me sorrir de volta.
- Sim, é isso. Ando a fazer umas dietas e a usar uns produtos que estão a dar
resultado...
- Queria era que me ajudasses a descobrir aquilo que falamos da outra vez... – Ela
parecia não querer falar muito, visto que não estávamos sozinhas. Mas quem pensava
ela que era? Bem... Não importa.
Eu queria mata-lo, mas agora? Eu estava fraca, Samantha não era boa o suficiente
para o manter quieto o tempo suficiente para que eu pudesse tortura-lo antes de o
matar. Talvez se ela conseguisse ajudar-me a escapar, mas como haveria eu de lhe
dizer isso sem que este belzebu o descobrisse?
- Olha, podias ir a uma biblioteca... Acho que o melhor é que vás a uma em especial,
que tem de tudo para ser encontrado. Vou só escrever-te num papel o local dela... – A
minha perfeita oportunidade para que tudo fosse feito. Tinha de escrever rápido e
pensar em tudo o que deveria ser feito para que nada pudesse falhar.
“Estou aqui em apuros. Preciso que me tragas um lanche para recuperar as forças.
Traz-me amanhã. Aproveita e pesquisa-me as bibliotecas que existem pelas
redondezas. Eu te ajudarei depois de recuperar tudo.”
Entreguei o papel para ela e logo a dirigi de novo para fora, antes que pudesse ler o
que tinha escrito no papel. Este homem era inteligente o suficiente para que
descobrisse tudo apenas num deslize dela. Não podia correr o risco de ficar aqui
fechada para o resto dos tempos...
- Quem era? – Perguntou-me, agarrando o meu braço com força ao virar-me para
fita-lo. – Bela jogada, essa do bilhete... Que escreveste? Achavas mesmo que eu não
iria saber que farias de tudo para saíres daqui? Não vais conseguir, já te estou a avisar
para que não cries muitas esperanças. Teu destino é ao meu lado para todo o tempo
sem fim... Estás destinada a isso.
- Não deves subestimar-me meu caro... Imaginação não me falta, posso matar-te de
mil e uma maneiras, o prazer será simplesmente maravilhoso. – Seu outro braço
rapidamente se moveu para que fechassem meus lábios. Não fez qualquer movimento,
seus olhos fitavam os meus em busca de algo que eu não sabia o que era.
Fechei meus olhos e ele me largou, esperando certamente que eu os voltasse a abrir,
e eu assim o fiz. Ele me tinha dado passagem para que voltasse para a cama, o que era
estranho. Não importava minimamente, aproveitei para ir para a minha varanda. Antes
que saísse lá estavam os seus dedos a segurar em meu braço, não fosse eu tentar
escapar. Virei-me em sua direcção e ele me empurrou para fora, ficando assim entre o
seu corpo e a grade.
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Sua pulsação era incrivelmente rápida, talvez pudesse usar isso contra ele. Só por
uma vez, poderia tentar... Não perdia nada. Minha mão tocou em seu braço que proibia
que eu pudesse escapar, subindo lentamente por ele a cima, provocando nele um olhar
grave e uma maior aceleração da sua respiração. Curioso, mas chegava para mim por
hoje. Tentei mover-me para voltar para dentro mas seu corpo me prendia, não me
deixando sair.
- Preparada para a segunda volta? – Não tinha entendido minimamente o que se
passava. A noite ainda era criança e eu desejava que pudesse sair daqui de uma vez
por todas, estava a ficar farta deste homem.
- Não, agora deixa-me entrar. Se vossa excelência assim o permitir, é claro! Não
desejo causar-vos qualquer incómodo. – Sua boca abriu um sorriso que eu tão bem o
conhecia de tanto o olhar ao espelho. Estava a divertir-se com a situação.
Era assim tão difícil puder libertar-me deste mafarrico? A eternidade era a minha
hora de destruição e não a constante perda de tempo que passara nas últimas horas.
Havia muito por se dizer, não sabia como ele me conhecia, como me salvara e o
porquê disso. Sim, demasiadas perguntas.
- Não, quero fazer algo primeiro... – Seu sorriso ainda abria mais, trazendo a mim
uma enorme vontade de o ver a rastejar, pedindo clemência. Podia pensar que tinha
ganho, mas ainda agora a guerra começou.
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Comunicado de Claire Harris e Verónica Russo
Queremos começar este post com um pedido de desculpas. Tornou-se impossível
para ambas as autoras continuar neste projecto, nomeadamente devido a falta de tempo
e outros projectos que se iniciaram e aos quais é necessário dar prioridade.
Esperamos que tenham gostado das personagens enquanto elas duraram na história e
agradecemos o apoio dos leitores.
A Claire e a Verónica decidiram, após conversar juntas, seguir numa viagem para
Itália, em rumo de novos conhecimentos. O Saber não tem fim e com a necessidade de
melhorar as suas práticas, as duas jovens foram para Itália e percorrer o Mundo em
busca de novos conhecimentos, novos professores e inclusive novos produtos que
possam usar na sua prática.
Agradecemos todo o apoio dado e mais uma vez pedimos desculpa,
Namastê,
Claire Harris e Verónica Russo
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EP13 - "Begining of the past 2" by Samantha
Sentei-me no parapeito da janela e olhei para a rua… Estava novamente a nevar.
Como aquela terra era linda e exuberante… Fria, sóbria e misteriosa como eu gostava,
como eu. Aquele local trazia as memórias boas e más da minha morte. Da minha vida
depois de viva.
Se havia algo que me atormentava mais do que não saber absolutamente nada sobre a
minha vida humana, era sim quem eu amava e me causava calafrios vampíricos. Eu
devia ter captado à primeira, logo sem hesitar, que aqueles olhos maldosos me
haveriam de enganar.
Eu ainda me intrigo pelo modo como ele desapareceu. Nunca voltei a ser a mesma e
por cada canto e recanto que passava era essa imagem que me aparecia a frente.
Aquele fogoso amor corroeu-me por dentro, desapontou-me de tal forma que durante
muitos anos ele foi a minha procura. Corri mundo para poder novamente ver aquele
olhar petrificante. Não há arrependimento, culpa, ou ressentimento. Apenas a tristeza
que me invade… O coração se eu o tivesse.
Apanhou-me tão desprevenida, não estava a espera que algo deste género me
acontecesse. Mas foram boas as nossas vivências… Lembro-me como se fosse ontem
de um episódio interessante e muito, muito sensual.
Foi no início de Outubro de 1989, talvez um dos últimos momentos felizes com ele.
Nessa altura estávamos alojados num motel chamado “Saloon” no centro de Londres.
Éramos aterradores, é verdade, mas por outro lado éramos um casal.
Eu estava no meu banho como sempre na minha rotina nocturna, e ele estava na sala
a preparava-se para ir caçar. Sai da casa de banho em pé levezinho mas era inútil…
Ele, sempre muito atento e perspicaz ouviu-me a passar para o quarto. Levantou-se
num ápice mas eu fui mais rápida. Quando ele alcançou a porta para me apanhar já eu
tinha trancado a mesma. Encostei-me a espera de resposta:
- Não devias ter fugido Miss Saint…
- Não? E porquê? Eu faço o que quero!
- Comigo olha que nem por isso, sabes bem que arrombo esta porta muito
rapidamente… - Deu uma pequena gargalhada...
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Conseguia bem imaginar a sua cara a sorrir. Mas ia ser marota com ele…
- Irra! Estou a pingar!
- Então?
- Oh… Sabes sai agora do banho… E ainda não me vesti, aliás nem sei o que vista. E
tenho o cabelo a escorrer-me pelas costas a baixo.
- Aiii que jeitosa! É melhor nem pensar…
- Eu, jeitosa? Hum… Pensa, pensa querido!
- Mas depois fico com desejos! – Ouvi um dedo a bater na porta em sinal de espera.
- É isso mesmo que eu quero. Veres-me a limpar o corpo molhado...
- Aiii adorava ver isso e depois chegar-me a ti e beijar-te o corpo…
- Havias de ver agora... Beijavas?
- Queria tanto ver agora…
- Mas eu estou sem roupa – Fiz-me de escandalizada. Aquele joguinho era perfeito…
- Melhor! Sabes bem que sim.
- Nada de espreitar! Vou tirar a toalha.
- Oh… Logo agora que queria tanto ver.
- Então vê! Sê desobediente.
- Mas não estou ai... Senão já estaria a beijar-te e a passar as mãos pelo teu corpo
todo.
- Vem… Tens uma boa solução. Só não estas aqui porque não queres…
- Oh…
- Oh? Já estás a sentir as minhas mãos e a minha boca a percorrer o teu corpo todo
antes de estares aqui?
- Uhhh… Fazes isso e sentes algo a crescer… - Lançou uma fortíssima gargalhada,
como se aquele joguinho também para ele estivesse a ser interessante.
- Ainda melhor… Esse “Oh” julguei que tivesse sido um gemido. Fiquei baralhada.
- Então e já te vestiste?
- Ainda não…
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- Vê lá o que fazes para ai!
- Até parece! Não ias gostar de saber, queres ver…
- Gostava sim… Sabes perfeitamente disso.
- E se eu te disser que estou a fazer agora?
- Conta-me, conta-me! Como não sei o que estás a fazer não sei como vou reagir…
Perdi-me novamente com estes pensamento sobre Mon Louis mas o que eu precisava
de ver era outra coisa. Tinha o computador no colo e digitei Daniel Heinz Saint,
apareceu-me dezenas de sites com esse nome. Mas nas imagens que estavam
facultadas não aparecia quem eu procurava. Muitas das pessoas que apareciam já
tinham morrido, ou apenas eram dadas com um dos nomes. Assim seria complicado,
mas se Claire tinha conseguido descobrir quem ele era eu também o conseguiria!
Porém o meu problema era outro… Nunca tinha tido muito jeito com estas novas
tecnologias e até teria pedido ajuda a Carmen pois ela sim, tenho que admitir, é uma
expert em tudo o que é pesquisa, mas sei que depois do episódio passado ela não vai
colaborar.
Vesti um novo vestido, desta vez preto e com umas botas da mesma cor e sai do
quarto para tentar ter alguma ideia e pedir ajuda a Sheftu. Estava tensa e com mil e
uma perguntas na cabeça. Confesso que pedir ajuda a Sheftu não me agradava
minimamente, no entanto era a minha hipótese.
Ainda não tinha percorrido todo o corredor quando vejo Carmen a chegar com uma
cara um pouco irritada e com a ira a sair-lhe pelos olhos.
- O que foi!? - Perguntou-me.
- Onde vais?! - Mas de onde raio tinha saído aquela pergunta…
- A nenhum sítio do teu interesse…- Respondeu-me sem se alargar muito. Afinal era
de prever não é?
Passou por mim mas eu chamei-a.
- Carmen…
- Sim?
- Ainda tens família viva?!
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Aquela pergunta apanhou-a desprevenida. Ela limitou-se a encolher os ombros.
- Sei lá, Sam…- Numa situação normal teria barafustado por me chamar de Sam
mas não hoje - Porquê?
- Nada…- Cruzei os braços um pouco desapontada - Seja onde for que vais, tem
cuidado. Faltam três horas para o amanhecer.
― Não te preocupes, eu consigo tomar conta de mim…
― Eu sei que sim... Mas, mesmo assim tem cuidado.
Quando me aproximei do ao quarto de Sheftu oiço um “Ai” vindo do quarto dela. O
que seria aquilo?? Parei a frente da porta em busca de uma resposta àquele som.
Cheirei profundamente à procura de algo e senti um aroma, uma essência muito
pouco habitual no quarto dela. Um homem? Isto não era mesmo muito vulgar.
Hesitei antes de bater a porta, estava na dúvida se seria uma boa ideia ou não. Afinal
de contas poderia não querer se incomodada. Mas resolvi arriscar.
Do outro lado da porta oiço “Já vou”
Para minha grande surpresa a resposta não foi aquela que eu estava a espera…
– Ah, és tu? Entra, fica à vontade! – Fiquei incrédula com tal hospitalidade… E pela
pressão que estava a ser exercida no seu braço que eu não conseguia ver do que se
tratava.
- Ah, bom... Obrigado... Acho eu. – Entrei e ela tentava arduamente fechar a porta,
mas alguém a estava a travar. Até que resolvi intervir – A porta não te parece que
precisa de um pouco de óleo? Estará empenada não? – Fiz-lhe um ar maldoso.
- É, tens mesmo razão. Nem vale a pena me importar muito com ela, tudo se resolve
bem rápido... Hoje em dia há soluções para tudo. No nosso caso... até para a morte! –
Abri um enorme sorriso em resposta. – Então e o que te fez vir cá?
- Agora é que reparei, estás mais pálida... Essa cor assenta-te que nem uma luva. –
Voltei a sorrir-lhe em ar de regozijo.
- Sim, é isso. Ando a fazer umas dietas e a usar uns produtos que estão a dar
resultado...
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- Queria era que me ajudasses a descobrir aquilo que falamos da outra vez... – Não
me quis alongar… Afinal de contas alguém estava a ouvir a nossa conversa. Quem
quer que fosse não precisava de saber dos meus assuntos.
- Olha, podias ir a uma biblioteca... Acho que o melhor é que vás a uma em especial,
que tem de tudo para ser encontrado. Vou só escrever-te num papel o local dela...
Pegou num pedaço de papel e escrevinhou:
“Estou aqui em apuros. Preciso que me tragas um lanche para recuperar as forças.
Traz-me amanhã. Aproveita e pesquisa-me as bibliotecas que existem pelas
redondezas. Eu te ajudarei depois de recuperar tudo.”
Mal peguei no papel já ela me estava a mandar para fora do quarto sem mais nem
menos. Fechou-me a porta na cara e eu fiquei embasbacada a olhar para aquele
estranho aparato.
Fechei-me no quarto… Sentei-me na minha poltrona e observei com atenção o que o
bilhete de Sheftu dizia.
Hum… Eu sabia que estava qualquer coisa de errado. Esta noite seria atarefada…
Caçar e pesquisar… A primeira agradava-me imensamente pois estava faminta e
ajudando Sheftu estaria a ajudar-me a mim também… A segunda era completamente
um tédio. Não tinha vontade absolutamente nenhuma de pesquisar o que quer que
fosse. Muito menos bibliotecas… Mas se quisesse descobrir quem era aquele maldito
Saint teria de mexer rapidamente os dedos.
Levantei-me velozmente e peguei no meu escorpião novamente. Na busca de uma
sombra que me auxilia-se nesta minha demanda. Voltei para a poltrona e fiquei
totalmente confortável, toquei na minha pequena preciosidade e coloquei-a na minha
perna direita. Fechei os meus olhos à procura de inspiração. Senti o meu pequeno a
subir a minha perna. Ferrei um dente canino no meu lábio, aquele bichinho inoportuno
estava a subir a minha perna… E fazia um formigueiro enormíssimo!
Por fim acabei por me abstrair e pensava em tudo sobre aquela noite… Todas as
recordações, na esperança de que me ocorresse algo. E no meio de todo aquele
pensamento uma frase surgiu-me à mente… E tenho nome de santo… Nome de santo,
família… Será coincidência? Ou terá algo a ver?
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Peguei novamente no computado e procurei biblioteca em Moscovo que tivesse a
listagem das famílias mundiais… Todos as que vi não tinham nada do que eu
procurava. Apenas livros de escritores antigos, novos, livros escolares, romances,
terror, erótico… Tudo e mais alguma coisa sem jeito nenhum…
- Para que é que têm tantos livros inúteis…
Revirei os olhos em sinal de tédio, até que me apareceu:
(…) senhor Kill (…) milhares de rublos gastos em infinitas colecções (…) a nível
mundial (…)
- Tanto dinheiro desperdiçado em livros… Se se dedicasse a outras coisas…
No site constava a seguinte introdução:
Todos os magníficos livros de senhor Kill estão na Biblioteca de Lenine em
Moscovo. Foram gastos milhares de rublos gastos em infinitas colecções. Desta fazem
parte livros específicos a nível mundial. Dos quais sobre, Santo Graal, linhagens de
famílias mundiais, historias de Homero, Virgílio e manuscritos únicos de Da Vinci, os
Templários entre muitos outro da mesma e outras categorias.
Esperamos a sua visita…
Nem precisei de ler mais! Esperem-me mesmo!! Era exactamente aqui que eu tinha
que ir! A Biblioteca de Lenine!
Mas agora é melhor dedicar-me ao que eu realmente tenho jeito… CAÇAR!!
Peguei no meu casaco mais quente e voltei a colocar “K” (o escorpião) no seu sítio.
Iria sair rapidamente do quarto para me conseguir alimentar antes do nascer do sol
sem ter problemas nem correr riscos desnecessários.
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Volto-me para a porta e mal rodo a maçaneta quando oiço um grito estridente e louco
vindo de Carmen…
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EP14 - "WHEN HELP IS NEEDED part II" By Carmen
A viagem fora um suplício, não conseguia mexer nem respirar ou piscar os olhos.
Parecia uma estátua de pedra. Quando os vampiros levam com as estacas, eles não
morrem apenas ficam imobilizados, sem qualquer ponta de acção, claro que depende
de vampiro para vampiro a força que tem para ver-se livre…eu não a tinha!
Quando paramos não havia visão de onde estava, fui pegada ao colo e levada para
dentro. Sei que estava numa rua vazia, pois não sentia movimento em lado algum. Sei
que fui levada para uma espécie de cave pelo cheiro a mofo, e sabia que ninguém iria
encontrar-me
Puseram-me me cima de uma mesa suja e fria, a minha cabeça tombou para o lado e
pude ver várias seringas, tubos de plástico, frascos grandes com um numero infinito de
presas, tubos de ensaio mas, o que mais chocou foram a quantidade de pequenas
garrafas, como aquelas que se encontram em mini-bares, cheias de sangue.
― Ora bem…- Disse o homem atrás de mim. ― Amor, prepara tudo.
― Sim, querido. - Ouvi a mulher a remexer e remexer em coisas de metal. ― Já está.
― Óptimo! Ajuda-me a passa-la para ai
Os dois pegaram-me, um pelos pés e o outro pelos braços, contaram até 3 e deitaram-
me numa outra mesa de metal frio. A minha cabeça pendeu para a direita e eu vi os
vários utensílios; bisturis, alicates, serras, berbequins…
― Tira-lhe as correntes…- Pediu o homem.
A mulher pegou nos meus pulsos e puxou a corrente que prata que fritava a na minha
pele. Deitou-a de lado e depois abriu-se os braços, prendendo-os de cada lado com
cintos.
― Agora...- Disse o homem. ― Vamos a parte interessante.
Tirou uma agulha e espetou-a mesmo no meu braço, ligando-lhe um tubo logo de
seguida: Fez o mesmo no meu outro braço e no pescoço, não tardou até pelos tubos
passarem o líquido vermelho e espesso, todos em direcção a três sacos diferentes.
Sentia-me a enfraquecer a cada gota.
― Vamos ganhar fortunas! – Dizia a mulher toda contente.
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― Pois vamos…- Respondeu o homem. ― Ora, deixa-me ver…onde está o alicate?
― Está ai, querido.
O homem pegou num e logo o largou.
― É pequeno demais, amor. O grande?
― Humm…- A mulher andou pela sala a vasculhar. ― Aqui está.
― Oh beleza! – Senti-o a aproximar-se da mesa e abanou algo a frente dos meus
olhos. ― Estás a ver isto? É um alicate. O que faz? Não serve para muita coisa mas,
por exemplo, agora serve para eu arrancar-te essas lindas presas…
Ele virou-me a cabeça de modo a que eu o encarasse.
― Ora bem, abre a boca e diz “Ah!”
O que se passou a seguir aconteceu tão rápido, que nem eu tenho a certeza do que
aconteceu. O alicate já estava em volta da minha presa direita, quando ouviu-se um
estrondo imenso, o equivalente a portas a abrir.
― Mas que…?
Não houve tempo para perguntas, havia muito barulho. Parecia ser uma luta pois
ouvia o som de socos, chutos e pontapés e gemidos de dor pela parte do homem e os
gritos de horror da mulher. Depois o que pareceu ser dois tiros e um silêncio
impenetrável, mas ainda conseguia ouvir o coração da mulher a bater forte e mais um.
― FILHO DA MÃE! – Gritou ela.
― Sim, um pouco…- Respondeu o desconhecido. ― Agora, solta-a…
― Não!
Ouviu-se um clique e a mulher assustou-se.
― Queres mesmo acabar como o teu…chuchu?!
Ela demorou, mas acabou por se aproximar da mesa. Tirou os tubos todos, e as
amarras ia tirar as estacas mas…
― Não! – Disse o desconhecido. ― Deixa-as.
― Porquê?! Porquê que a salvas?!
― Não é da tua conta! – Respondeu duramente. ― Já agora, esse fio não é teu…
― É sim…
Ouviu-se o som de dois tiros, seguido de gritos assustados da parte da mulher.
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― Não, não é. Passa-mo – A mulher parecia não se mexer. ― AGORA!
Ela soltou um gritinho, tirou o fio e mandou-o ao desconhecido.
― Agora, vai…- Disse ele. ― Vai antes que te mate.
Ouvi passos a correr, enquanto ela subia as escadas e ia porta fora.
Ele aproximou-se de mim e viu o meu estado. Depois olhou para os meus olhos e eu
senti-me a desfalecer, ele tinha uma cara bela, uns grandes olhos verdes, lábios
rosados e cabelo aloirados mas, naquele momento observava-me com alguma raiva.
Abriu o seu casaco e tirou uma outra seringa com um líquido invisível, enfiou a agulha
no meu braço espalhando o líquido pelas veias.
― Assim não corres risco de ficares com infecção devido as estacas…- Quando
acabou atirou a seringa para longe. O seu olhar parou na mala que estava no chão
junto a porta, apanhou-a, deixando cair pesadamente junto a minha perna. Abriu-a e
espreitou para dentro, tirou a caixa negra e abriu-a. Os seus olhos iluminaram-se ao
ver as minhas queridas Desert Eagle.
― Belo par…- Voltou a colocar a caixa dentro da mochila, fechou-a e meteu-a as
costas. ― Não te preocupes, não vais precisar delas.
Voltou a encarar-me, por momentos pareceu estar cheio de dúvidas. Então, fez um
gesto com a cabeça como quem diz “deixa lá isso”, pegou-me ao colo e levou-me dali.
Esta viagem foi mais calma, eu ia deitada no banco detrás do carro com os olhos
presos no banco do condutor. Conseguia ver-lhe o cabelo castanho claro, de vez em
quando olhava para mim pelo espelho retrovisor. Conseguia sentir o efeito daquela
injecção, já conseguia piscar os olhos e a respiração – embora não necessária num
vampiro – voltava a regularidade.
Como chegamos ao hotel não sei, simplesmente não sei. Muito menos como
conseguiu ele levar-me até a penthouse sem ninguém reparar. Não prestei atenção a
isso. Quando dei por mim estávamos no elevador de serviço, até a penthouse. Quando
saímos ele percorreu todo o corredor comigo ao colo. Estranhei o facto de ele saber
todos os caminhos do hotel. Será que trabalhava ali!?
Quando chegamos a porta, ele ajoelhou-se e colocou-me no chão com o máximo
cuidado.
Eu parecia uma morta, com o meu olhar vidrado e a minha cabeça virada para a
porta, se não fosse pelos meus gemidos de dor, de vez em quando, poderia até ser
enterrada naquele instante.
Eu podia ver algumas sombras debaixo da porta, estava alguém na sala, ia tentar
perceber quem era, quando senti uma respiração pesada perto do meu ouvido. Era a
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boca dele, do desconhecido, que estava mesmo perto, senti uma mão no meu cabelo e
outra na perna.
Falou numa voz grossa e baixa, respirando contra o meu ouvido.
― Não penses que faço isto por pena ou simpatia…- Apertou-me mais o cabelo e
falou mais baixo. Senti-me a tremer e algo parecido a um fogo a queimar-me no
estômago. ― É só para ter o prazer de ser eu a matar-te… A tua carcaça é
minha,Carmen.
Afastou-se e virou a minha cara, olhou bem dentro dos meus olhos, enquanto eu
perdia-me nos dele. A sua boca a centímetros da minha, de tal modo que eu conseguia
sentir o seu hálito quente na minha pele. Ele fechou os olhos e encostou a sua testa a
minha como se lutasse com a vontade própria, como se tivesse em sentimento algo
completamente diferente do que a razão deixava. Ele roçou a testa na minha, os seus
lábios rasarão os meus.
Soltou um suspiro pesado, largou a minha cabeça e levantou-se.
Começava a sentir-me mais forte, o suficiente para articular umas quantas palavras.
Virei a cabeça, como se pesasse toneladas e vi-o enquanto se ia embora num andar
imponente e certo.
― Quem…és…?!
Ele parou de repente, não esperava ouvir a minha voz, isso é certo. O seu coração
deu um salto de susto. O homem mistério virou-se para trás, ficando de perfil com um
ar carregado.
― Não sabes?!
Demorei a responder.
― N…Não…
Ele olhou para mim com alguma surpresa mas, voltou a sua mascara dura e
insensível. Voltou-se para a frente e seguiu o seu caminho, abriu a porta da escada de
emergência com violência e saiu.
Eu tinha forças a cada longo segundo que passava, devo ter ficado ali deitada a porta
da penthouse uns bons minutos. Conseguia ver a maçaneta da porta reluzente e
prateada a chamar por mim; Queria estender o braço para alcança-las mas, o
formigueiro era tal que não conseguia mexer-me
Novamente momentos passaram até que consegui, mexer os dedos, depois o braço.
Num momento de coragem estendi o braço e alcancei a maçaneta com a ponta dos
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dedos. Rodei-a e empurrei-a a porta com um bocadinho se força, como se isso
adiantasse muito, na verdade a porta pouco se mexeu.
Grunhi de raiva, girei sobre mim mesma e empurrei um pouco mais a porta, com o
braço e ela lá abriu mais um centímetros. Estava a sentir-me mais forte, por isso dei
um encontrão maior a porta e ela escancarou-se. Voltei a girar ficando de barriga para
cima. Comecei a rastejar, pela sala de barriga para cima, apoiei-me em algo que não
consegui identificar para conseguir meter-me de pé; As minhas pernas formigavam e
estavam fracas. Quando ergui os olhos vi-me ao espelho, estava com a minha camisa
vermelha manchada do meu sangue escuro e as duas estacas a saírem do meu peito. Os
meus olhos estavam vermelhos sangue, tinha a testa húmida e – por mais estranho que
pareça – estava mais pálida do que o normal, um tom amarelado adoentado. Senti
comichão na garganta e soltei uma tosse ruidosa, que amparei com a mão. Quando
olhei para ela vi o meu sangue vermelho escuro.
― Oh…- Limpei a mão na camisa e olhei para o meu peito reflectido no espelho.
Reparei que uma estava menos afundada que a outra, por tanto tratei de tentar puxa-la.
Agarre-a com as duas mãos, e puxei…ao ouvir o som de sucção e a falta de ar súbita,
parei, aquilo metia-me medo.
Olhei em volta na esperança de ver alguém mas, era estranho o apart estava as
moscas. Fui atacada por uma nova tontura e agarrei-me ao móvel, que parecia uma
cómoda ou assim.
Respirei fundo, agarrei a estaca novamente. Tomei uns segundos, depois puxei-a
com toda a força. A dor bruta que passou pelo meu corpo apanhou-me de forma
violenta, caí de joelhos apertando o móvel entre os dedos e engoli o grito. Olhei para a
estaca na minha mão, toda ela de madeira, bem desenhada e com a ponta em prata.
Um autêntico veneno.
Voltei a erguer-me, respirei fundo. A sala andava a roda, por isso quando me
desloquei ia agarrada as paredes. Tropecei no que parecia ser uma cadeira, derrubei
um candeeiro e fiz cair um quadro da parede.
Tropecei nos meus pés, caindo com força no chão. Não conseguia respirar, sentia
formigueiros pelo corpo todo, e o sangue era abundante. Todo ele manchava a carpete
a minha volta.
― Socorro…- A minha voz saiu apenas um fio, um fio rouco e baixo. Tão baixo que
fiquei na dúvida se tinha ou não falado mesmo. ― Socorro…alguém…por favor…
Olhei para o corredor e vi-o vazio, sem nada nem ninguém. Nunca tinha reparado
mas, as escadas ficavam estupidamente longe. Era preciso as minhas forças todas,
mesmo que fossem poucas.
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A árdua tarefa de me arrastar até ao primeiro degrau demorou imenso. Sentia as
minhas forças a voltar mas, mesmo assim o formigueiro não cessava. Apoiei-me no
corrimão – agora sim, percebia o porquê de ali estar. – e levantei-me. As escadas
pareciam dançar a minha frente e por pouco caía de cara no degrau mas, consegui
apoiar-me com a mão direita.
Meti um pé em cima de um degrau, seguido do outro e lá consegui subir lenta, mas
muito lentamente.
― Socorro…- Pedi novamente, quando cheguei quase ao cimo. Onde estava toda a
gente?! Esta casa estava cheia de almas perdidas a toda a hora, era simplesmente
impossível não ter um momento de sossego, no entanto agora estava tudo vazio.
Não me consegui aguentar e caí de vez, quando cheguei ao meu patamar. A
respiração era pesada, mal conseguia abrir os olhos, o formigueiro aumentava. Voltei-
me para cima, encarando o tecto todo branco.
Inspirei fundo, precisava de ajuda. Precisava de tirar aquela estaca do meu peito, que
me queimava e não me deixava raciocinar. A estaca que trespassava o meu coração
como um queijo mole é trespassado por uma faca. Senti uma comichão na garganta e
não consegui evitar tossir, devo ter cuspido mais sangue por senti o sabor metálico.
Estava em pleno desespero.
Precisava de ajuda, por isso inspirei fundo e tentei levantar-me novamente. Quando
estava de pé, apoiada no corrimão, usei toda a minha força.
― SOCORRO! ONDE RAIO ANDAM VOCÊS SUAS CRIATURAS SEM
CORAÇÃO…
Ouvi o som de duas portas abrirem-se, ao lado vi Samantha, ela olhou para mim com
um ar de horror. Aproximou-se de mim e segurou-me.
― Carmen…
Uma outra porta, a minha frente, abriu-se de repente e vi algo, ou melhor alguém que
não esperava ver. Pelo ar que Samantha fez, tambem ela estava espantada.
Já eu, não podia acreditar! Logo, ele!
― Eric?!
Ele tambem olhava para mim com espanto total, o seu olhar desviou-se para o meu
peito, com uma estaca no lugar do coração.
O meu olhar desviou-se para o movimento atrás dele; Vi Sheftu de joelhos na cama,
olhando para mim com total horror.
― Oh meu Deus…o que te aconteceu!?
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A resposta a pergunta, nunca chegou. Só sei que tive uma sensação de leveza, depois
tudo ficou negro e a última coisa que ouvi foi o grito de susto que chamou por mim!
― CARMEN!
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EP 15 – “Freedom” by Sheftu
Tinha perdido a noção das horas, a única coisa que sabia era que estava aqui,
totalmente perdida entre este asno e a minha fraqueza. Mas que vinha a ser tudo isto?
- Agora que já estiveste eternidades a tentar matar-me de tédio podes deixar-me
entrar, ou é complicado para a tua encenação de humano parvo e asqueroso? – Minhas
palavras pareceram fazer efeito, ele estava com o olhar desfocado em mim, parecia
haver liberdade suficiente para que eu saísse dentre o seu corpo e a mísera grade. Não
precisei de olhar para trás para saber que o seu olhar vago permanecia a observar o
horizonte, com suas mãos amparadas na grade. Para um ser humano, ser misterioso era
uma parte que traria curiosidade. A mim simplesmente me fazia pensar que ele era
mais louco do que eu pensava...
Esta seria a primeira vez em que iria pensar em tudo o que se tinha passado desde
que saíra de casa desde a última vez. Nunca pensei em ter tal acto de traição, daquela a
quem tanto protegi e tanto escondi de todos, principalmente daquele a quem ela agora
defendia.
Sentei-me na cama. Por mais incrível que fosse, agora parecia totalmente apetecível.
Encostei-me, revivendo cada parte de um passado bem próximo onde minha morte
tinha sido tomada por este homem, fazendo-me fraca, tomando meu sangue e o
prendendo num anel. Como vou agora matar meu criador, vil mestre sedutor de
criaturas fracas, com a minha meia-irmã fazendo de seu escudo protector? Teria de
arranjar um grupo, que pudesse ajudar-me a dizimar qualquer rasto destes dois. Nada
seria poupado e seu sangue estaria perdido para sempre.
Estaria tão mergulhada em minha mente que pouco reparei naquele homem que tinha
voltado para dentro, não tinha temido a minha fuga. Eu poderia bem ter tentado
escapar, mas não. Ele estava junto a mim, novamente a olhar meu olhar duma forma
vaga, perdido algures onde eu não sabia bem onde...
Sua pulsação permanecia normal, sua respiração estava totalmente calma e sua
expressão seria a mais serena possível. O que estaria ele a ver? Como se estivesse
perdido algures, mas desta vez mais longe de mim. Me levantei um pouco, ajoelhada
na cama para que pudesse me aproximar mais um pouco para que pudesse ler aqueles
olhos vagos.
Rapidamente a sua expressão focou-se em mim, fazendo seu momento vago
desaparecer tão rapidamente como havia aparecido. Já não havia nada para ver, mas
seu braço já me tinha agarrado, para que não me movesse, mal meu corpo começou a
voltar para onde estava. A surpresa se apoderou de minha face, sua respiração aquecia
meu nariz de tão próximo que agora estava...
A mão agora se tinha apoderado de minhas costas, resgatando meu corpo como seu
prémio, reclamando meus lábios como seus, marcando território onde ninguém jamais
poderia tocar sem que lhe fosse dada a sentença de morte. Sim, ele iria morrer, ele
teria de morrer...
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Meu corpo permanecia imóvel por uns momentos, eu o controlava bem, queria
mostrar-lhe cada parte do desprezo e ódio que sentia por ele. Seu dedo flutuava
lentamente sobre as minhas costas, parando sem razão aparente... Não tinha eu
consciência que estava agora a sustentar as minhas coxas, tinha reclamado o meu
próprio prémio antes que a morte lhe chegasse, seria meu, até que a morte lhe
chegasse. Até que eu lhe mostrasse a morte.
Não era um beijo simples, seu jeito seco e arrojado tinha cravado em mim uma sede,
uma fome dele que não poderia controlar... Sentia um sorriso crescer em seus lábios,
eu tinha tomado o controlo, eu queria tomar o controlo dele e de nós. Seu dedo voltou
a mover-se em minhas costas, formando uma palavra... “Eric” era tudo o que ele
escrevia com o seu dedo enquanto éramos consumidos pelas carícias que começavam
a nascer entre beijos suaves, ardentes e odiosos...
― SOCORRO! ONDE RAIO ANDAM VOCÊS SUAS CRIATURAS
DESNATURADAS… - Ouvimos alguém berrar além da porta, rapidamente estava de
novo na cama de joelhos, observando Eric sair pela porta e ir ao encontro de alguém,
certamente da pessoa que teria pedido ajuda...
Não conseguia acreditar em tudo o que acabara de fazer, como me odiava, como era
detestavelmente horrível cada segundo que lembrava agora com demasiada
intensidade. Eu precisava de fugir, precisava de sair daqui o mais rapidamente
possível... Não era apenas uma questão de fuga, eu precisava de liberdade. Estas
quatro paredes já eram uma tortura permanente.
Era Carmen quem tinha gritado por socorro, estava com uma estaca em seu coração e
incrivelmente mais fraca do que eu... Ele estaria demasiado ocupado para correr atrás
de mim, seria o momento ideal para escapar. Não pensava voltar nunca mais, seria
uma nova vida. Longe de tudo isto, longe de todos...
Samantha me olhava com extrema surpresa, fazendo-me recordar da conversa que
tivemos à umas horas atrás... Seria o melhor, tendo pelo menos alguém que me
pudesse ajudar caso ainda não estivesse forte o suficiente para andar o mais
rapidamente possível sem me cansar muito. A luz! Já não faltariam muitas horas até
que ela voltasse, teríamos de ser rápidas, para que pudéssemos ir o mais longe dele
possível.
O que se passou de seguida foi com a maior rapidez possível, segurei o braço de
Samantha e pedi com o olhar que saísse comigo. Ela ficou um pouco na dúvida, não
sabia se devia sair ou ficar para ajudar a Carmen. Na realidade ela estava mesmo um
pouco mal... Prioridade: escapar de uma vez por todas desta prisão. Sim, era isso
mesmo, arrancar Samantha daqui e arranjar um pretexto para que ela venha. Não
quero estar em total descontrolo perto dos humanos, seria um grande risco andar por aí
a ser descoberta.
- Mas que é isto... – Disse Samantha, mal lhe agarrei o braço e tentei empurrar-la
para fora da penthouse comigo, sem grande sucesso. Estava mesmo fraca, raios!
- Não fales, anda apenas comigo... – Procurei com rapidez uma forma de a puder
levar de lá o mais rapidamente possível – Não queres a minha ajuda?
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Ela olhou para mim espantada, com certeza eu seria a última pessoa que alguma vez
a iria ajudar. E esta seria talvez a única hipótese que eu teria de escapar. Não podia
esperar mais, por isso comecei a seguir em frente. Se ela não fosse comigo, então iria
mesmo sozinha.
- Mas onde é que tu vais... – Disse Samantha, já a seguir-me e a entrar no elevador.
Afinal sempre conseguia tudo o que quisesse, ela não era de todo uma causa perdida.
- Chegaste a pesquisar sobre o teu passado? – Perguntei sem grande vontade, o que
mais queria era escapar dali, não importando o que fosse fazer de seguida, desde que
saísse dali.
- Sim, encontrei aqui perto uma biblioteca em que parece existir uma colecção rara
de livros antigos. Parece que um louco qualquer rico lhe apeteceu comprar uma
colecção inteira de cada país, um louco! Quantas jóias e roupas eu não compraria com
o dinheiro que ele gastou em uns míseros livros!
- Miseros livros que te podem ajudar... Então será lá onde iremos! É muito longe
daqui? – Fiz questão de nem começar uma guerra de conflitos intelectuais, estava com
pressa... O sol não demoraria muito tempo a surgir.
- Não, não... Chegamos lá rápido. Até vais ver que gostas do sítio, é muito escurinho,
tal como nós gostamos. – Deu um sorriso grande, visto que estávamos agora a
caminho. Seria com de ver a cara dos seres humanos caso ela tivesse dito que
tínhamos de nos esconder do sol. Nos achariam umas fãs loucas ou acreditariam? Não
me importava nada de matar uns quantos para mostrar a minha loucura, andava
sedenta. Mas não poderia alimentar-me assim sem regra, traria demasiadas
consequências, mais do que as que desejo.
Segui seus passos, em que o tempo parecia ser cada vez mais difícil de suportar. A
minha fome era tanta como a minha fraqueza. Eu sabia que Samantha iria por fim ao
meu holocausto pelas ruas de Moscovo caso eu me lembrasse de começar. Porém as
atenções ficariam em foco nesta cidade, tamanho o derrame de sangue. Ainda me
lembro da época do domingo sangrento, em que poderia surgir de novo por outras
razões, e acabaria por perder o controlo e não sei se alguém me conseguiria travar.
Finalmente tínhamos chegado à biblioteca, na sua entrada estavam, dois seguranças
certamente estariam mais do lado de dentro. Homens de farda, prepotentes e com
certas capacidades de defesa. Em suma, um lanche perfeito para quem estava cheio de
fome – como eu.
- Boa tarde, em que vos posso ser útil? – Disse um velho bibliotecário, observando
atentamente cada traço de Samantha. Pelo que parecia não era apenas eu que estava
cheia de fome...
- Bem, gostaríamos de ver a secção sobre as linhagens das famílias mundiais, se faz
favor. – Samantha tinha estudado bem o que precisava para encontrar o que procurava.
- É uma pena minha senhora, não temos autorização para dar acesso a tais escritos.
Fazem parte da secção privada do Senhor Kill e não há autorização para os ver sem
que seja o próprio. – Samantha riu e fez uma pose a que um homem se desmancharia.
Mas o velho era demasiado medroso, temia que sua vida estivesse em risco e seu
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emprego caso desse a alguém o acesso à colecção privada do dono da sua biblioteca. –
Desculpe mas nada posso fazer mais.
- Então agradeço, voltaremos noutra altura para que o seu patrão nos possa dar a
permissão. Fica aqui com o meu número e depois telefone-me quando ele estiver
disponível para entrarmos em contacto. – Samantha já se tinha voltado para trás, mas
eu não iria voltar para casa, não importa o que tivesse que fazer.
Rapidamente quebrei o pescoço do bibliotecário, vendo os dois guardas que estavam
por dentro a se virarem a mim. Ouvi os passos de Samantha atrás de mim, enquanto
um dos guardas vinham em minha direcção, arrancando-lhe o coração fora com a
minha mão, deixando-o passar para Samantha. O segundo guarda deu um berro de
terror, chamando a atenção dos outros guardas que se encontravam lá fora. Parti mais
uns pescoços, até que não sobrassem mais testemunhas... Agora poderia beber um
pouco, estava fraca e cansada de tanta festa. Agora era a hora do banquete do festim.
- Olha o que tu acabaste de fazer!!! – Eu olhei para Samantha abismada, ela agora
sentia pena pelos vis humanos? Rapidamente mudei de pensamentos quando a vi a
olhar para o seu vestido, enquanto o homem passou por mim, deveria ter passado a
mão pelo vestido dela enquanto caíra, talvez a tentar pedir ajuda. O fundo do seu
vestido estava um pouco manchado de sangue. Eu sorri. – Sabes, este vestido foi
muito caro! É a alta moda de Moscovo e tu mo estragas-te, não dá para sair esta nódoa
dele! Tens que arranjar uma forma de o consertar, era o único vestido deste estilo no
mundo!
O seu paleio de modelo já me estava a enervar, há muito tempo que não me
alimentava, nem tinha noção de quantas horas foram. Estava com fome, merecia
alimentar-me com calma. Mas não! Tinha que me tirar o apetite com as suas
paspalhices fúteis.
- Pronto, problema resolvido! – Disse rapidamente, mal me levantei a rasguei a parte
do vestido que tinha a mancha.
- EU MATO-TEEEE! – Seu grito foi loucamente interessante, arrancou-me uma
gargalhada. Como era ridículo o seu jeito de ser!
- Vim aqui para te ajudar a descobrir o teu passado ou para fazer um desfile de
moda? – Tentei tornar a minha voz num tom casual, mas não conseguia esconder as
minhas gargalhadas.
Ela seguiu contra mim, eu arquei a sobrancelha e olhei severamente. Ela não estaria
em pensar me atacar? Eu não estava totalmente recuperada, mas lhe traria bastante
aflição caso o fizesse. Ela parou tão rapidamente como a minha expressão, aguentou
uns segundos, talvez a pensar no que fazer.
- Bem, então vamos em frente descobrir o que se passou na minha vida... – Disse,
caminhando em direcção à sala em que certamente estariam os livros da futura
verdade.
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EP 16 – “Help From Hell” By Samantha
- SOCORRO! ONDE RAIO ANDAM VOCÊS SUAS CRIATURAS
DESNATURADAS…
Logo agora que eu ia sair aparece Carmen a gritar desta maneira pela casa. Corri para
ver o que se passava e o que estava a minha frente era uma Carmen completamente
fraca com uma estaca espetada o seu coração com tal precisão que parecia mentira tal
trabalho. Mas o mais estranho de tudo era o homem que estava ao pé dela. Era o
mesmo que se encontrava no quarto da Sheftu da última vez que lá estive. O cheiro
não enganava. Mas não era humano de certeza!
Virei-me e vi Sheftu que me olhava como se estivesse a pensar em algo bem mais
profundo que em Carmen e eu estava completamente surpresa com toda aquela
histeria. Tudo se passou em menos de nada, a minha intenção era sair da penthouse o
mais depressa possível pois breve estaria a amanhecer, porém o que se passou me
arrastou para fora desta mas de uma maneira bem diferente.
Quando dei por mim tinha Sheftu a agarrar no meu braço e a dar a intenção de que se
queria ir embora o mais rapidamente possível. Hesitei pois Carmen estava em muito
mau estado e precisava rapidamente de ajuda ou poderia mesmo… Morrer.
- Mas que é isto... – Disse-lhe estupefacta.
- Não fales, anda apenas comigo... Não queres a minha ajuda?
Olhei para ela em plena consciência de que precisava mesmo da ajuda dela E quando
ela entrou no elevador eu já estava mesmo a trás dela - Mas onde é que tu vais...
- Chegaste a pesquisar sobre o teu passado?
- Sim, encontrei aqui perto uma biblioteca em que parece existir uma colecção rara
de livros antigos. Parece que um louco qualquer rico lhe apeteceu comprar uma
colecção inteira de cada país, um louco! Quantas jóias e roupas eu não compraria com
o dinheiro que ele gastou em uns míseros livros!
- Míseros livros que te podem ajudar... Então será lá onde iremos! É muito longe
daqui?
- Não, não... Chegamos lá rápido. Até vais ver que gostas do sítio, é muito escurinho,
tal como nós gostamos. – Fiz um enorme sorriso.
A verdade é que me agradava bastante o local. Esperava não termos problemas para
ler aqueles livros todos. Eu estava a ficar fraca para matar e Sheftu estava ainda com
pior aspecto que eu. Definitivamente esta tinha sido mesmo uma altura errada para
fazer esta pesquisa.
Caminhamos o mais rapidamente até a biblioteca de Lenine, ficava a poucos minutos
do hotel. Sheftu vinha mesmo a trás de mim mas eu consegui muito bem sentir as
vibrações do seu corpo e como ela se pudesse já se teria posto a matar algumas almas
que aqui passassem na rua. Mas para nossa sorte, ou azar, não havia ninguém nas ruas
a estas horas.
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- Boa tarde, em que vos posso ser útil? – Disse um velho bibliotecário observando-
me com uma casa esquisita.
- Bem, gostaríamos de ver a secção sobre as linhagens das famílias mundiais, se faz
favor. – Eu tinha tudo bem estudado, não poderia me enganar senão ele iria desconfiar
que estaríamos a tramar alguma coisa.
- É uma pena minha senhora, não temos autorização para dar acesso a tais escritos.
Fazem parte da secção privada do Senhor Kill e não há autorização para os ver sem
que seja o próprio. –
Eu sorri e tentei fazer uma pose que talvez o persuadisse e o fizesse mudar de ideias
mas não resultou – Desculpe mas nada posso fazer mais.
- Então agradeço, voltaremos noutra altura para que o seu patrão nos possa dar a
permissão. Fica aqui com o meu número e depois telefone-me quando ele estiver
disponível para entrarmos em contacto.
Entreguei o meu número e virei as costas. Mas rapidamente me arrependi. Oiço um
estalo enorme que me congelou completamente. Sheftu tinha acabado de partir o
pescoço do bibliotecário. Voltei-me para ver se a parava mas ela estava totalmente
louca e sedenta de sangue. Um dos guardas foi em auxílio do bibliotecário mas teve
ainda mais azar. Esta arrancou-lhe o coração que passou mesmo perto de mim e desta
feita o segundo guarda que se dirigia para ela deu o grito de horror tão estridente que
conseguiu chamar a atenção dos outros guardas que se encontravam nos seus postos.
Ela foi rápida como ninguém. Acabou com todos os guardas num ápice e daí bebeu
algum sangue, no entanto, alguns segundos depois apercebi-me do que ela tinha feito e
estava capaz de a matar.
- Olha o que tu acabaste de fazer!!! – Olhei para a minha roupa que estava coberta de
sangue daqueles nojentos guardas. - Sabes, este vestido foi muito caro! É a alta moda
de Moscovo e tu mo estragas-te, não dá para sair esta nódoa dele! Tens que arranjar
uma forma de o consertar, era o único vestido deste estilo no mundo!
Ela levantou-se velozmente e disse: - Pronto, problema resolvido! – Rasgando a
roupa na parte que estava manchada de sangue.
- EU MATO-TEEEE! – O meu grito foi de loucura. Como é que ela se atrevia fazer-
me uma coisa daquela!
- Vim aqui para te ajudar a descobrir o teu passado ou para fazer um desfile de
moda? – Dizia-me tentado disfarçar as gargalhadas mas eu conseguia entender
perfeitamente o que ela estava a fazer.
Avancei para ela com a intenção de a desancar ou esmurrar mas ela olhou-me
severamente e eu pensei duas vezes antes de fazer algo que me prejudicasse. Ela já
tinha recuperado algumas das suas forças e era capaz de me trazer alguns problemas
neste momento, por isso decidi não avançar mais com aquilo que ela mais tarde
chamaria de vingança. Sim, porque ela não iria ficar impune e se rir as minhas custas.
- Bem, então vamos em frente descobrir o que se passou na minha vida... – Disse-lhe
movendo-me em direcção à sala em que estariam os livros sobre a minha vida.
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Passamos por estantes enormíssimas com milhares de livros mas não seria difícil
encontrar o que eu precisava.
Numa porta encontrava-se uma placa que dizia: Ala restrita. Propriedade de Sr. Kill
- Anda. É por aqui. – Disse-lhe sem graça.
- Sim. – Respondeu-me prontamente.
Quando entramos naquela sala era completamente improvável o que ali se
encontrava. Era um vislumbre para os olhos. Eu própria não estava a acreditar nos
meus próprios pensamentos.
- Uau… – Foi a única coisa que saiu da minha boca.
- Desculpa?? – Sheftu olhou para mim extasiada com a minha expressão e com o
meu deslumbre pela sala. – Desde quando é que tu gostas e interessaste por livros
Samantha?
- Desde nunca. Não gosto. Aliás, eu odeio. Mas olha-me bem para esta sala! – Olhei
em volta para todos os seus adornos em dourado. Eu amava a escuridão mas aquela
claridade tinha alguma magia nela.
- Estás definitivamente a passar-te. És uma vampira tresloucada e inconstante!
- Olha pensa o que quiseres pouco me importa sabes?!
- Pronto enlouqueceu de vez! Eu acho que a falta de sangue e sexo na tua vida te está
a deixar variada. A quanto tempo é que não te alimentas?
- Já perdi a noção dos dias. Depois da noite com o Daniel nunca mais tentei caçar.
- Está explicado.
Olhei para ela com ar de agonia, mas não me iria deixar abater. Comecei a percorrer
a sala em busca do livro que me interessava. Sheftu foi na direcção oposta para me
ajudar a encontrar o ou os livros de me diriam a verdade. Quem me diriam o que tinha
sido a minha vida humana antes desta morte.
Alguns minutos passaram e eu não encontrara nada sobre linhagens de famílias.
Comecei a pensar que era tudo mentira. Que este Sr. Kill na verdade não possuía os
livros que eu necessitava, que era tudo uma mentira.
Mas ai a minha vingança seria feroz! Matá-lo-ia com as minhas próprias mãos!
Aquele presunçoso e idiota…
- Samantha!!!
- O quê?? Porque estás a gritar assim? Eu oiço perfeitamente bem! – Corri na sua
direcção.
- Não sejas ridícula! Vê o que eu encontrei! – Olhou para mim como se fosse a dona
da razão e eu odiei-a por isso.
Apontou para uma estante que se encontrava mesmo a sua frente enumerada da
seguinte forma, Número 83 – Linhagens Mundiais.
- Então? Já te interessa o facto de estar a gritar??
- Não vou comentar ok?
Ela olhou para mim e riu-se.
- Onde está a piada? – Perguntei-lhe aborrecida.
- Como tu me odeias quando eu tenho razão.
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- É mesmo. Como eu te odeio quando tens razão.
- Então vá. Pega no livro.
Mas qual deles? Eram imensos mas talvez fosse mais fácil do que pensei. Os livros
estavam etiquetados. Cada 10 livros uma letra. O meu olhar caiu rapidamente na letra
S. Abri aquele espesso livro. Estava empoeirado por dentro, ninguém diria pelo seu
aspecto exterior. Dirigimo-nos para uma mesa ali perto e procurei o meu apelido mas
fiquei estupefacta ao contactar que aquele livro era só e apenas sobre a minha família.
Sheftu arqueou uma sobrancelha e disse: - Bem parece que tens uma família bem
grande.
- É, estou a ver que sim. Isto vai dar pano para mangas.
- Ou não. Olha aqui – indicou-me uns números no canto superior esquerdo de cada
página. – Não vês? São datas. Basta procurares a data do teu nascimento humano e
pronto. Vês quem era a tua família directa.
- Mas eu não sei, lembras-te? Não sei nada. Só sei o que me aconteceu a partir do
momento em que me transformei!
Ela revirou os olhos já com ar de stress e nervos.
- Tu realmente Samantha!
- O que??!! – Eu já me estava a começar a passar com os seus comentários.
- Tu deves ter sido transformada com mais ou menos 22 ou 23 anos! Logo se foste
transformada em 1790… Fazer as contas… - Começou a desfolhar o livro – deve ter
sido em 1767 ou 68. – Começou a desfolhar ainda mais rápido até que parou. – Aqui.
Olhei para a página, 1768, era o ano do meu nascimento terreno. Naquela folha
estavam todas as crianças daquela família que tinham nascido naquele ano. Não eram
muitos por isso o meu nome foi facilmente detectado no meio de tão poucos.
Samantha Davis Saint 1768 – 1790
Filha de Theodore Saint. Inglês, nascido em 1730 (ver pagina 30)
Arabella Davis Saint. Inglesa, nascida em 1733 (ver pagina 33)
Foi morta numa violenta briga entre a mãe e um homem anti-cristão, com apenas 22
anos (não se sabe quem era esse homem).
- É assim que eu morri? Por causa de uma estúpida briga? – Estava e entrar em
estado de combustão. Os meus nervos estavam a flor da pele.
- Samantha tem calma. Lembra-te que os humanos não acreditam em vampiros,
bruxas e ou fantasmas e a verdade e que nós somos bem reais.
- Mesmo assim. Deve haver aqui um fundo de verdade no meio disto tudo.
- Não digo o contrário. Mas talvez esta briga tenha sido para tentar te proteger ou
algo assim.
- Pois, talvez…
Folheei para trás algumas páginas na esperança que dissesse mais algo sobre a minha
mãe e o meu pai.
Arabella Davis Saint 1733 – não se sabe o ano da morte
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Inglesa, casada com Theodore Saint (ver página 30)
Dois filhos, Samuel Davis Saint (ver pagina 58) e Samantha Davis Saint (ver pagina
68)
Eu tinha um irmão. Não podia acreditar no que os meus olhos liam. Aquela história
estava a tornar-se casa ver mais estranha.
- Com quem tão tinhas um irmão e mais velho ainda por cima.
- Isto está a tornar-se uma descoberta bem mais estranha do que aquilo que eu estava
a pensar…
- Vai ver sobre o teu pai! – Disse-me toda entusiasmada. Eu não acredito que ela
estava a achar aquilo divertido. Não era uma novela nem nenhum romance!
- Tem calma!
Theodore 1730 – 1799
Inglês, casado com Arabella Davis (ver página 33)
Dois filhos, Samuel Davis Saint (ver pagina 58) e Samantha Davis Saint (ver pagina
68).
Filho de pai templário tendo este também seguido as pisadas do pai até a morte.
Morreu a lutar contra infiéis.
Os meus olhos não estavam a ler isto. Totalmente improvável tal coisa! Templário??
Eu era filha de um templário! Impossível!!
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EP 17-"FLASHBACK" By Carmen
Acordei de sobressalto, olhando para todos os lados. Parecia que tinha acordado de
um pesadelo, respirava ofegantemente e sentia-me ainda tonta. O que me tinha
acontecido? Como tinha lá chegado? E que cheiro enjoativo era aquele ali no meu
quarto? Coloquei as mãos na cabeça, tentando situar-me mas, ainda senti uma tontura
mais forte.
Aos poucos a lembrança trouxe-me os mercenários; A armadilha, a estaca, a mulher
com o meu fio ao pescoço, o homem que queria tentar tirar as minhas presas e…ele!
Aquela sombra que tinha salvado a minha vida, não por simpatia, segundo ele dissera
nem por pena mas sim, para ter o prazer de matar-me mais tarde. “A tua carcaça é
minha, Carmen!”
A voz dele ecoava na minha cabeça, como martelos pneumáticos e tocava como um
disco estragado. Mas, que mal fizera eu para merecer tanto ódio?
Percorri o meu quarto com o olhar, tudo parecia igual, tirando o facto de eu estar na
cama – objecto que eu nunca usava – da minha janela estar fechada e do cheiro
enjoativo que ali pairava. Foi então que vi, junto a janela algo a queimar. Incenso.
Ah…esperem…Incenso!? No meu quarto?!
― Mas que raio…?
Afastei os lençóis, coloquei os pés no chão e fiz força para levantar-me, quando senti
uma valente tontura que me fez sentar outra vez pesadamente no colchão, assolada por
nova fraqueza.
Veio-me a memória toda a dor, o medo, o ficar sem ar durante todo aquele tempo.
Lembrei-me da viagem de carro descuidada, com curvas apertadas e o balancear. Do
sangue que passou pelos tubos de borracha e que caiam em sacos no chão. Daquela
sombra, daqueles olhos verdes e do calor da sua boca rosada a pairar sobre a minha. O
jeito como a sua mão apertava os meus cabelos num misto de ódio e desejo ao mesmo
tempo.
Instintivamente levei a mão a minha flor-de-lis mas, não a tinha ao pescoço.
― Oh não…
Ele tinha-a! A minha flor-de-lis e as minhas armas! Todos objectos que alguma
estiveram em contacto comigo ele tinha-os, era uma maneira pérfida de me encontrar
onde quer que me escondesse. Eu não tinha saída! Mesmo sem o meu fio protector
coloquei a mão ao meu pescoço, onde normalmente ele estaria, como forma de me
acalmar. Quem és? Quem és? Quem? E porque raio deixavas-me tão inquieta?
O meu braço roçou num pedaço de tecido, olhei para baixo e vi o local onde estava o
meu coração com um penso. Novamente fui assolada por novas perguntas: A última
coisa que me lembro foi, ser amparada por Samantha e ver Sheftu no quarto e…não,
não era possível! Só podia ter sido a minha imaginação. Ou será que não?
Olhei para janela, ainda estava escuro lá fora mas, não por muito tempo, os primeiros
raios de sol começavam a mostrar-se e nós, vampiras, tínhamos que estar dentro de
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casa. A rua permanecia deserta, sem nada nem ninguém a vista, totalmente caída no
silêncio. Por momentos tive saudades do meu tempo de humana em que podia dormir,
horas e horas sem nunca acordar…comparando com o presente, que nem sei o que
significa dormir.
A porta do meu quarto abriu-se e, entrou quem pensava ter sido só um sonho. Eric.
Sim, Eric antiga paixão dos meus primeiros anos como vampira.
Ao vê-lo fiquei ainda mais confusa.
Ele parou a observar-me.
― Oh, isto é constrangedor…- Disse fechando a porta atrás de si. Trazia um copo de
whisky na mão e uma caneca na outra. ― Carmen, eu sei que nós tivemos bons
momentos mas, mesmo assim é melhor tapares-te…
Olhei para mim mesma, vi que estava nua. Completamente nua. Rapidamente voltei
para debaixo dos lençóis tapando-me. Enquanto Eric olhava para chão em sinal de
respeito.
― Tiraste-me as roupas? – Perguntei sem qualquer mensagem subliminar
Eric riu-se, levantou o olhar e aproximou-se da cama.
― Convenhamos, não há ai nada que já não tenha visto, certo? – Estendeu-me a
caneca azul. ― Bebe.
Olhei para a caneca desconfiada.
― O que é isso?
― Veneno. Estou a ver se te mato de vez…- Ironizou ele. Mostrou um sorriso
característico e abanou a caneca um pouco. ― É sangue, génio.
― De quem?
― Isso importa?
― Vindo de ti, importa sempre.
Eric suspirou, estendeu ainda mais a caneca.
― Meu. Não reclames, não é a primeira vez que bebes e tu precisas de forças. ―
Relutante, eu aceitei a caneca. Vinha cheia do líquido vermelho escuro e logo dei
conta de como tinha fome, olhei para Eric a procura de alguma coisa e ele limitou-se a
levantar o copo de whisky na minha direcção. ― Bota abaixo!
Ele bebeu o seu whisky e eu levei a caneca aos lábios. O sangue de Eric, era algo
simplesmente divinal. Doce, fino, uma mistura de raças e géneros diferentes que lhe
davam um toque especial. Bebi sofregamente, até a última gota. Assim que acabei foi
como se tivesse sido percorrida por uma corrente eléctrica.
― Ainda sabes bem…- Disse eu num tom rouco, saboreando cada gota do sangue
que ainda ardia na minha boca.
― Obrigada…
Eric puxou uma poltrona colocou-a ao lado da minha cama. Sentou-se com as pernas
cruzadas, de um jeito descontraído e observou-me com o seu ar curioso.
― Mas que…o que raio fazes aqui, Eric?!
― A cuidar de ti. Afinal, tinhas aí uma bela estaca…- Debruçou-se e apanhou o
pedaço de madeira do chão. Dei por mim a encolher-me de medo. ― Foi difícil
tirar,estava mesmo enterrada. Ainda bem que desmaiaste com a dor. Mercenários…
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Aquilo tudo estava a fazer-me uma confusão desgraçada! Não sabia se era do facto
de Eric estar ali ou da electricidade que percorria dentro de mim devido ao seu sangue!
Aquilo era surreal!
Abanei a cabeça, tentando concentrar-me!
― Eric! – O tom da minha voz fez com que ele olhasse para mim com um ar algo
surpreso. ― O que fazes aqui?! A sério e sem mentiras!
Ele largou a estaca e debruçou-se para a frente com o copo entre mãos, com um
brilho especial nos olhos. Um brilho que eu já tinha visto anos antes e que deixava
sempre um frio na barriga
― O que aconteceu, Carmen?! – Eric levantou-se, aproximou-se e veio sentar
mesmo ao meu lado na cama. Ignorara por completo a minha pergunta. ― Tu nunca
saís assim, de cabeça quente e no entanto hoje…
― Não me respondeste a minha pergunta.
― Nunca respondo.
― Mas, quero resposta.
Ele observou-me por segundos. Eric lia as pessoas como se fossem totalmente
transparentes. Deu um trago whisky, para depois deixar o copo em cima da cómoda,
voltando-se para mim.
― Tu tens problemas…- Aproximou a sua cara da minha, a procura de mais
qualquer coisa. Eu desviei o olhar. ― E, se a minha memória não falhar e se ainda
julgar conhecer-te como conheço, diria que foste falar com o Lawrence. E o Lawrence,
disse algo que te pôs a pensar…
― Eric!
― Diz-me, o que te perturba.
Agora sim, lembrava-me o porquê da nossa “relação” não ter sido mais do que umas
quantas loucas noites de puro sexo. Eric tinha a capacidade de levar alguém a loucura,
fazer uma pessoa arrancar cabelos, saltar de um prédio…ele irritava imenso!
Apertei os lençóis contra o meu corpo.
― Não tens nada a ver com isso!
― Carmen…- Senti os seus dedos tocarem-me no queixo elevando-o. Encontrei os
seus olhos observadores e curiosos. ― Se tens problemas, diz-me.
Eu engoli em seco. O facto de Eric estar ali deixa-me confusa e desnorteada. Apertei
ainda mais os lençóis em volta do meu peito. Apesar do nosso relacionamento já ter
acabado, ele tinha uma presença muito forte que não deixava de me intimidar.
Sempre soubera que ele era especial, que era diferente, afinal ele era meio humano e
meio vampiro mas, sempre houvera algo mais. Ele era místico. Tinha a sua própria
aura.
De facto havia algo que estava na minha mente. Lembrei-me de que Lawrence
mencionara a hipnose. .
― Sim? – Perguntou Eric ao ver a minha batalha mental. ― Hum…tens algo para
perguntar-me…
― Pára com isso! – Deu-lhe uma chapada no braço. ― Irrita-me.
Eric soltou uma risada feliz, levantou as mãos em sinal de rendição.
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― Desculpa.
Eu ajeitei-me na cama, apertando mais os lençóis contra o meu peito, no entanto,
Eric continuou para a observar-me.
― O que sabes sobre hipnose?!
― Tudo e mais alguma coisa.
― Convencido!
― Nem por isso. Sei mesmo.
― Sabes, se funciona connosco?
― Com vampiros?
― Sim.
Ele cruzou os braços e mostrou um ar desconfiado.
― Aposto que não me perguntas apenas por curiosidade. O que se passa?
― Não desistes, pois não?!
Eric encolheu os ombros.
― Tu é que perguntas-te! ― A verdade é que contei-lhe a história, de que estava a
ser seguida por uma sombra, que não me deixava em paz. De que reconhecia o cheiro
e das memórias súbitas que vinham como acréscimo mas, que não sabia quem ele era.
Eric observou-me curioso. ― Interessante. O que tem isso a ver comigo?
― Tu disseste que…- Calei-me instantaneamente. Já sabia o que ele queria. ―
Queres que te peça, não é?
Ele voltou a encolher os ombros.
― É contigo! – Ele abanou a perna, como se aquilo não o afectasse minimamente. ―
Não deixa de ser um problema interessante.
― Ó sim, é fascinante como tudo! ― Ironizei. Só queria ver-me livre daquilo tudo.
― Ajudas-me?
Voltou a sorrir-me, levantou-se e cruzou os braços.
― Ena, isto é diferente da Carmen de a uns anos que não pedia ajuda a ninguém. Era
toda cheia de atitude, implacável, selvagem…- Ele olhou para os pés, como se tivesse
vergonha. ― Onde está a Carmen, que correu comigo?
― Nunca corri contigo, Eric! Tu é que procuravas a pessoa errada e eu convidei-te a
ir embora…― Olhei para a porta. ― Parece que é a Sheftu que procuras. Como vão as
coisas? Ela já te mordeu ou tentou tirar-te um pedaço?
Quando olhei para ele novamente, vi-o de maxilar cerrado. Quando olhara para mim
vi o que pareceu ser raiva nos olhos e aí dei-me conta que tocara num ponto crucial. O
que foi que Sheftu fizera?
― Ela fugiu.
Não evitei largar uma sonora gargalhada, que fez Eric sentir-se ainda pior.
― Ora, não deixa de ser engraçado, Eric! Procuras esta “mulher” toda a vida e
quando a apanhas, ela foge de ti! É no mínimo engraçado…- Ajeitei o lençol a minha
volta. ― Tu não chegas para a Sheftu.
― Ah, aqui está a Carmen que conheço. A cabra. – A sua voz não traduzia uma
piada. Ele falava por desdém. ― Agora, vinha a parte em fazíamos sexo…já estás sem
roupa, o que facilita!
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Apertei mais os lençóis em volta do meu corpo. Instalou-se um silêncio entre nós, era
sinal de que ambos tínhamos passado os limites um do outro mas, que não iríamos
pedir desculpa. Nunca pedíamos. Aquele silêncio, era uma maneira de acalmar os
ânimos.
Olhei para ele e vi-o ainda de ar carregado. Apertei os lençóis contra a minha pele
nua.
― Olha, se não me queres ajudar…
Eric sentou-se a minha frente.
― Eu ajudo-te mas, no fim vais tu ajudar-me com algo.
Franzi a sobrancelha. Não gostava que me cobrassem favores e ele sabia disso.
― No quê?
― Não te preocupes, vais saber quando eu quiser.
Estava pronta a reclamar daquela “ordem” dada a Eric mas, ele não me deixou.
Colocou as duas mãos dos lados da minha face, com os dedos embrenhados nos meus
cabelos ruivos. As suas mãos eram quentes e suaves, e de imediato, senti o efeito do
seu calor; Comecei a ficar sonolenta, senti um formigueiro a subir pelo corpo acima, a
minha cabeça descaía para a frente, embora ele a segurasse com agilidade. Só queria
fechar os olhos mas, não tinha sono algum.
― Olha para mim, Carmen. – Com dificuldade ergui os olhos e enfrentei-o. Dei por
mim, sem conseguir desviar, sentia-me obrigada a fita-lo. ― Consegues ouvir-me?
― S-sim.
― Óptimo. – Apertou mais as mãos em volta da minha cabeça, senti o meu corpo a
ficar mole. O lençol apertado a volta do meu corpo descaiu quando as mãos tambem
caíram sobre o meu colo mas, nem isso fez Eric desviar o olhar. ― Vais ouvir apenas
o som da minha voz, okay?
― Hum…Sim…
― Agora, concentra-te naquilo que queres saber. A altura exacta que queres
relembrar…
Fechei os olhos e assim que o fiz foi como se tivesse visto um clarão gigantesco de
uma floresta. Depois de uma casa de madeira.
O impacto daquelas imagens fora tão grande que, assustei-me e abri os olhos. Sentia-
me afogueada mas, mesmo assim Eric continuava a olhar para mim calmamente.
― Está tudo bem. Podes ir…
Coloquei as minhas mãos por cima das mãos de Eric, que permaneciam nos lados da
minha face. Olhei para ele, naquele momento senti que todas as minhas barreiras
estavam derrubadas e ouvi-me dizer algo, que nunca tinha dito a ninguém.
― Tenho medo.
Senti as suas mãos pressionarem mais a minha cabeça.
― Não tenhas, eu estou aqui…
Então, fechei os olhos e entreguei-me ao clarão da floresta.
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EP18- "Parllare Italliano" By Sheftu
Passamos por várias estantes de livros, certamente que nenhuma delas teria o que
nós procurávamos.
- Anda. É por aqui. – Disse-me Samantha. Segui o seu olhar que dava parauma
porta com uma placa que dizia: Ala restrita. Propriedade de Sr. Kill.
- Sim. – Respondi-lhe.
Quando a porta se abriu e entramos na sala, era um tanto para o quanto
deslumbrante...
- Uau… – Disse Samantha com um certo deslumbre. Como isso era possível?!
- Desculpa?? – Questionei-a extasiada com a sua expressão perante o deslumbre
pela sala. – Desde quando é que tu gostas e interessaste por livros Samantha?
- Desde nunca. Não gosto. Aliás, eu odeio. Mas olha-me bem para esta sala! –
Olhei em volta em todo o seu redor. A claridade era significante em toda aquela
sala dourada.
- Estás definitivamente a passar-te. És uma vampira tresloucada e inconstante!
- Olha pensa o que quiseres pouco me importa sabes?!
- Pronto enlouqueceu de vez! Eu acho que a falta de sangue e sexo na tua vida te
está a deixar variada. A quanto tempo é que não te alimentas?
- Já perdi a noção dos dias. Depois da noite com o Daniel nunca mais tentei caçar.
- Está explicado.
Olhei para mim com ar de agonia, mas – como era de esperar – não se deixou
abater pelo que se passava com ela. Começou a percorrer a sala à procura da verdade
que poderia estar em qualquer livro desta sala. Eu decidi seguir a direcção oposta.
Quem me diriam o que tinha sido a minha vida humana antes desta morte.
Primeiro comecei por observar as estantes, todo e qualquer coleccionador costuma
organizar cada colecção que tenha... Apenas teria de saber como este a organizaria...
Parecia que as estantes estariam numeradas, cada uma delas tratando apenas de um
assunto... Agora bastava encontrar uma estante que fosse simplesmente a ideal:
Linhagens Mundiais. Ainda demorei alguns minutos até que a encontrasse, mas aqui
estava “ Número 83 – Linhagens Mundiais”.
- Samantha!!!
- O quê?? Porque estás a gritar assim? Eu oiço perfeitamente bem! – Corri na
minha direcção.
- Não sejas ridícula! Vê o que eu encontrei! – Olhei-a com total confiança no que
dizia e seu olhar simplesmente me matou lentamente em seu pensamento. Por mais
que o desejasse, era-lhe impossível agora.
- Então? Já te interessa o facto de estar a gritar??
- Não vou comentar ok? – O seu jeito meio rabugento por ter sido eu a descobrir a
primeira parte da solução simplesmente divertiu-me, não consegui conter-me e
simplesmente me ri.
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- Onde está a piada? – Perguntei-me um pouco aborrecida com a minha diversão.
- Como tu me odeias quando eu tenho razão.
- É mesmo. Como eu te odeio quando tens razão.
- Então vá. Pega no livro. – Mais valia despacharmos isto, antes que ela ainda
mudasse de ideias ou alguém nos descobrisse lá.
Samantha ainda demorou uns momentos até se decidir em pegar num livro espesso.
Estava empoeirado por dentro apesar da sua boa aparência exterior. Era simplesmente
isso que era necessário: algo com idade suficiente para encontrar-mos algo sobre ela.
Dirigimo-nos para uma mesa ali perto e ela procurou o seu apelido mas, para minha
surpresa, todo o livro era sobre a sua família.
- Bem parece que tens uma família bem grande. – Constatei o facto, realmente a
família dela era enorme.
- É, estou a ver que sim. Isto vai dar pano para mangas.
- Ou não. Olha aqui – indiquei-lhe uns números no canto superior esquerdo de cada
página. – Não vês? São datas. Basta procurares a data do teu nascimento humano e
pronto. Vês quem era a tua família directa.
- Mas eu não sei, lembras-te? Não sei nada. Só sei o que me aconteceu a partir do
momento em que me transformei!
Revirei os olhos, simplesmente era ridículo como aquela cabeça conseguia
simplesmente ter pó lá dentro...
- Tu realmente Samantha!
- O que??!! – Disse já um pouco alterada.
- Tu deves ter sido transformada com mais ou menos 22 ou 23 anos! Logo se foste
transformada em 1790… Fazer as contas… - Comecei a desfolhar o livro – deve ter
sido em 1767 ou 68. – Comecei a desfolhar ainda mais rápido até que encontrei a
pagina 1768. – Aqui.
Naquela folha estavam todas as crianças daquela família que tinham nascido
naquele ano. Não eram muitos por isso o seu nome era facilmente detectável, até para
ela que parecia estar a dormir.
Samantha Davis Saint 1768 – 1790
Filha de Theodore Saint. Inglês, nascido em 1730 (ver pagina 30)
Arabella Davis Saint. Inglesa, nascida em 1733 (ver pagina 33)
Foi morta numa violenta briga entre a mãe e um homem anti-cristão, com apenas
22 anos (não se sabe quem era esse homem).
- É assim que eu morri? Por causa de uma estúpida briga? – Estava a começar a
notar-se cada vez mais os seus nervos à flor da pele.
- Samantha tem calma. Lembra-te que os humanos não acreditam em vampiros,
bruxas ou fantasmas e a verdade e que nós somos bem reais. – Tentei acalma-la, sem
grande efeito. Pelo menos tinha tentado!
- Mesmo assim. Deve haver aqui um fundo de verdade no meio disto tudo.
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- Não digo o contrário. Mas talvez esta briga tenha sido para tentar te proteger ou
algo assim.
- Pois, talvez…
Folheou para trás algumas páginas na esperança que dissesse mais algo sobre a sua
família.
Arabella Davis Saint 1733 – não se sabe o ano da morte
Inglesa, casada com Theodore Saint (ver página 30)
Dois filhos, Samuel Davis Saint (ver pagina 58) e Samantha Davis Saint (ver
pagina 68)
Ela tinha um irmão?! Aquela história tornava-se cada vez mais estranha.
- Com quem tão tinhas um irmão e mais velho ainda por cima.
- Isto está a tornar-se uma descoberta bem mais estranha do que aquilo que eu
estava a pensar…
- Vai ver sobre o teu pai! – Disse-lhe com entusiasmo. Era algo extremamente
revelador e curioso. Bem interessante...
- Tem calma!
Theodore 1730 – 1799
Inglês, casado com Arabella Davis (ver página 33)
Dois filhos, Samuel Davis Saint (ver pagina 58) e Samantha Davis Saint (ver
pagina 68).
Filho de pai templário tendo este também seguido as pisadas do pai até a morte.
Morreu a lutar contra infiéis.
Após alguns momentos de espanto, descoberta bastante curiosa. Uma templária ao
meu lado, quem diria... Um corpo morto-vivo de futilidade, que nem nome de vampira
merece ter, pertencer a tão misteriosa história! Muito pouco se podia dizer sobre o
assunto, era necessário procurar mais afundo por pistas... E qual seria o sítio ideal?
Hum...
- Já sabes quais serão os nossos próximos passos? – Perguntei, ainda a pensar no
que deveríamos fazer. Tudo teria de ser apenas uma coisa: escapar o mais rapidamente
possível disto tudo...
- O quê? Próximo passo? – A sua voz espantada apanhou-me desprevenida... O que
raio andava por aquela cabeça?! Ah, certamente uma futilidade qualquer, como
sempre...
- Sim, próximo passo... Não queres descobrir o teu passado? Não há forma melhor
do que procurar por pistas... Qual será o melhor local para encontrar ficheiros sobre os
templários...
Seguiram-se de uns momentos de silêncio... Minha vida tinha sido longa o
suficiente para estar presente em mais variados casos da humanidade... Mas onde teria
eu estado nessa época? Se bem me lembro, algures pela Irlanda, na época em que
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ainda não tinha perdido o rasto do meu criador... Se bem me lembro, havia uma
criança que tinha nascido de uma mulher – tal como minha mãe – que não se lembrava
quem teria sido o seu pai. Não poderia ser o meu criador, a criança já aparentava ter
nascido à semanas, pelos seus anos de meio-vampiro. Sabia bem da escala temporal
dos nascimentos pois defendi minha irmã até ao dia em que ela cresceu e a deixei ir...
Tendo-me tentado matar há tão pouco tempo, parecendo já mil anos de uma guerra
que ainda agora começou. Era sangue do meu passado, aquele que já não voltará mais.
- O Vaticano! – Disse Samantha, aumentando a sua voz e dando um rápido salto. –
Já sei! Talvez haja algo no Vaticano!
- Tem lá calma... Tu tens a certeza? Sabes que podem existir por lá pessoas ao
corrente da nossa existência! – Tentei não dar muita importância ao assunto, sempre
teríamos de ir para algum lugar. Qualquer que fosse serviria para que saíssemos deste
local, bem longe de tudo isto.
- Não importa, desde que consigamos descobrir alguma pista... Vens comigo?
- Se quiseres mesmo ir... Alguém tem que te ajudar a não estoirar com o cartão de
crédito, ainda corremos o risco de decidirem-te pesquisar pelas quantias que lá
gastas... – A cara dela estava simplesmente a dizer-me o que eu queria ouvir, estava
novamente com vontade de me matar.
- QUE HORROR!!! ALGUÉM TELEFONE PARA A POLICIA! SOCORRO!!!
- Parece-me que afinal não podemos sair já... – Disse calmamente, me levantando
para observar o que se passava... Deveria ser hilariante.
- Espera aí! Tu não estás a pensar ficar aqui o dia todo a observar o horror e o medo
que lhes provocaste com o teu trabalhinho pois não?! Nós temos de sair daqui
rapidamente antes que nos encontrem e nos queiram levar para a esquadra! Tu sabes
muito bem que ainda faltam umas quatro horas para a noite.
- Pois, e sairemos por onde? Alguma ideia Miss Fútil desmancha prazeres??
- Não sei... Temos de arranjar alguma forma. Também já falta pouco para a noite
vir... Mal possamos, seguimos viagem rumo ao Vaticano. Não podemos perder tempo.
- Que tal a canalização? Nos focos de luz nós nos desviamos, e ninguém se
lembrará de ver pois estará tudo intacto e sem impressões digitais. Vai a frente que eu
trato de tudo. – Sorri alegremente ao ver a sua cara, certamente iria desistir. Mas a
realidade é que era crucial a nossa saída, não fossem nos encontrar... – Vá, eu prometo
que te compro um vestido novo mal cheguemos a um hotel em Itália. Pode ser?
- E também tenho direito a tudo o que é necessário para que use o vestido sem
qualquer queixa ou volta atrás? – A sua expressão parecia de outra pessoa, totalmente
irreal! Bem sei que me ia arrepender, mas acenei-lhe em tom afirmativo. – Assim já
gosto mais... Então vamos! – Rapidamente desceu, deixando-me assim livre para
arrumar tudo com rapidez e juntar-me a ela...
Começamos a nossa caminhada rumo ao inicio de nossa viagem. Mal o sol se pôr
poderíamos
- Vamos voltar para trás, isto é simplesmente nojento! – A voz de Samantha
mostrava que poupava o máximo de respiração possível para não ter noção do real
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cheiro destas condutas, sorri levemente para que ela não reparasse e voltei-me para
ela.
- Não, não penses que vamos voltar atrás. – Tentei manter a minha expressão séria
ao vê-la a tentar pousar o mínimo do pé no chão, a tentar não tocar em nada com o seu
corpo. – Agora é que querias ter umas asinhas de morcego não era? Aguenta que daqui
a pouco já saímos daqui, não sejas ridícula. Depois ficas como nova...
- Vais pagar-me muito caro por isto! – Ao dizer isto, não repara no passo que dá e
enfia o seu pé num buraco escondido pela sujidade – Isto é tão nojento! Tira-me
daqui... Preciso de um banho, de roupa brilhante e a mais cara possível!!! Tu
trouxeste-me para o meu pior pesadelo... – Não consegui controlar-me e aí comecei a
gargalhar, poderia ficar dias aqui com ela só para que a ouvisse com as suas lamúrias.
Totalmente irónico. - Ainda demoramos muito a subir?
- Se quiseres morrer ao sol, subimos já. Mas tu primeiro, claro!
- Não, obrigada... Ainda demora muito até o sol se pôr?
- Tendo em conta que ainda desceste a pouco, cerca de umas três horas...
- Ainda? Mas já estamos aqui há tanto tempo!
- Queres que minta e que diga que já está quase?
- Não, obrigada. Preferia não estar aqui.
- Não estás aqui... Isto é tudo apenas uns momentos da tua eterna vida. Aguenta-te.
- Tens a certeza que só estamos aqui à uns minutos?
- Sim, tanta certeza como a de que se não te calas durante as próximas horas,
estarás tramada comigo.
- Não sei o que podes fazer, ainda não recuperas-te totalmente as tuas forças...
- Pois não, mas tenho os meus cartões de credito e tu não. Por isso, retiro o que
disse e não te deixo comprar nada.
- NÃO! Tu não eras capaz de me fazer isso!
- Tão simples como tirar um doce a uma criança... Ou melhor, até que é mais
simples. E nada podes fazer contra isso a não ser estar calada.
- Mas...
- SHIUU... Qual foi a parte do silêncio que não entendeste?! – Nada mais foi dito,
prosseguíamos rumo à saída de Moscovo. Mal o sol se pusesse, iríamos o mais
rapidamente possível para Itália, antes que o sol se voltasse a pôr. O que nos favorecia
eram os fusos horários, chegaríamos por volta das dez horas a Itália, dando-nos
bastante tempo para procurar pistas antes que o sol voltasse...
- Trouxeste o teu telemóvel? É que eu me esqueci...
- Tinha de ser não era, mesmo ao teres ido comprar roupa de propósito só para a
viagem, ainda tinhas de te esquecer de um telemóvel! – Eu ainda estava um pouco
atordoada de tantas roupas que me tinham passado pela frente... Por ela ficaríamos a
noite toda, mas não tinha tempo, por isso agarrei numa camisola e numas jeans e lhe
dei. Queixou-se um pouco, mas rapidamente se calou ao olhar para mim... Não
tínhamos tempo para as Samanthices!
- Eu não vinha de vestido para aqui! Tinha de arranjar algo que se adequasse ao que
íamos fazer... Mas diz-me, tens ou não?
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- Para que o queres?
- Para chamar o dono de uma loja para que me venha ajudar a fazer umas
comprinhas para esta noite.
- És absolutamente incrível! Não consegues ser mais ridícula?
- Não sei se ridícula é vestir bem a cada momento da minha vida... Mas se o for,
então que seja mesmo. Tenho que estar sempre o melhor possível, essa sou eu. Agora,
passa para cá o telemóvel! – Disse, estendendo a mão. Boa! Seria mais uns grandes
minutos totalmente colocados ao lixo! O que realmente importava é que agora estava
bem longe, novamente livre! Libero e felice male!
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EP19-"The damn drain" By Samantha
- Já sabes quais serão os nossos próximos passos?
- O quê? Próximo passo? – Aquela pergunta apanhou-me desprevenida. Para onde
raio queria ela que eu fosse?
- Sim, próximo passo... Não queres descobrir o teu passado? Não há forma melhor do
que procurar por pistas... Qual será o melhor local para encontrar ficheiros sobre os
templários...
Sucederam-se alguns minutos em que nenhuma de nós duas falou. Eu não fazia ideia
o que se passava pela cabeça de Sheftu, mas na minha ocorriam mil e uma coisas. O
mais estranho de tudo até nem era o facto de eu ser filha de templários. O que me fazia
a maior confusão de todas era o facto de o nome da minha mãe não me ser estranho.
Talvez fosse apenas uma vaga memória do passado. Algo que despertava em mim
saudade ou nostalgia. Mas não. Era bem mais que isso. Arabella era mais que minha
mãe. Algo na minha vida vampírica se tinha passado com ela. Talvez não com o nome
que eu achava mas que isso não impedia der ter sucedido algo entre nós. No meio de
toda esta confusão a minha cabeça consegui se lembrar do único sitio onde de certeza
se encontrariam documentos sobre a minha família.
- O Vaticano! Já sei! Talvez haja algo no Vaticano!
- Tem lá calma... Tu tens a certeza? Sabes que podem existir por lá pessoas ao
corrente da nossa existência!
- Não importa, desde que consigamos descobrir alguma pista... Vens comigo?
- Se quiseres mesmo ir... Alguém tem que te ajudar a não estoirar com o cartão de
crédito, ainda corremos o risco de decidirem-te pesquisar pelas quantias que lá
gastas...
Olhei-a com ódio. Era nestas alturas em que eu odiava profundamente Sheftu e a sua
maneira de ser. Mas não ia pensar muito mais tempo sobre isso, pois do lado de fora
da porta ouvimos um grito estridente.
- QUE HORROR!!! ALGUÉM TELEFONE PARA A POLICIA! SOCORRO!!!
- Parece-me que afinal não podemos sair já...
- Espera aí! Tu não estás a pensar ficar aqui o dia todo a observar o horror e o medo
que lhes provocaste com o teu trabalhinho pois não?! Nós temos de sair daqui
rapidamente antes que nos encontrem e nos queiram levar para a esquadra! Tu sabes
muito bem que ainda faltam umas quatro horas para a noite.
- Pois, e sairemos por onde? Alguma ideia Miss Fútil desmancha prazeres??
- Não sei... Temos de arranjar alguma forma. Também já falta pouco para a noite
vir... Mal possamos, seguimos viagem rumo ao Vaticano. Não podemos perder tempo.
- Que tal a canalização? Nos focos de luz nós nos desviamos, e ninguém se lembrará
de ver pois estará tudo intacto e sem impressões digitais. Vai a frente que eu trato de
tudo. Vá, eu prometo que te compro um vestido novo mal cheguemos a um hotel em
Itália. Pode ser?
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- E também tenho direito a tudo o que é necessário para que use o vestido sem
qualquer queixa ou volta atrás? – Ela hesitou mas acenou afirmativamente – Assim já
gosto mais... Então vamos!
- Vamos voltar para trás, isto é simplesmente nojento! – Suster a respiração não
estava a resultar lá muito bem pois sempre vinha aquele cheiro imundo as minhas
narinas.
- Não, não penses que vamos voltar atrás. Agora é que querias ter umas asinhas de
morcego não era? Aguenta que daqui a pouco já saímos daqui, não sejas ridícula.
Depois ficas como nova...
- Vais pagar-me muito caro por isto! – Ao dizer isto, enfio o pé num buraco
enormíssimo – Isto é tão nojento! Tira-me daqui... Preciso de um banho, de roupa
brilhante e a mais cara possível!!! Tu trouxeste-me para o meu pior pesadelo...
Ela ria a gargalhada mas eu realmente não estava a ver a piada naquilo tudo! Quando
eu pudesse ela ia ver. Ia-mas pagar!
- Ainda demoramos muito a subir?
- Se quiseres morrer ao sol, subimos já. Mas tu primeiro, claro!
- Não, obrigada... Ainda demora muito até o sol se pôr?
- Tendo em conta que ainda desceste a pouco, cerca de umas três horas...
- Ainda? Mas já estamos aqui há tanto tempo!
- Queres que minta e que diga que já está quase?
- Não, obrigada. Preferia não estar aqui.
- Não estás aqui... Isto é tudo apenas uns momentos da tua eterna vida. Aguenta-te.
- Tens a certeza que só estamos aqui à uns minutos?
- Sim, tanta certeza como a de que se não te calas durante as próximas horas, estarás
tramada comigo.
- Não sei o que podes fazer, ainda não recuperaste totalmente as tuas forças...
- Pois não, mas tenho os meus cartõe de crédito e tu não. Por isso, retiro o que disse e
não te deixo comprar nada.
- NÃO! Tu não eras capaz de me fazer isso!
- Tão simples como tirar um doce a uma criança... Ou melhor, até que é mais
simples. E nada podes fazer contra isso a não ser estar calada.
- Mas...
- SHIUU... Qual foi a parte do silêncio que não entendeste?!
Nada mais foi dito até à saída. Eu estava completamente possessa com ela. Nunca
mais me iria meter numa destas com ela! Nunca!
Prosseguimos o nosso caminho até que me lembrei…
- Trouxeste o teu telemóvel? É que eu me esqueci...
- Tinha de ser não era, mesmo ao teres ido comprar roupa de propósito só para a
viagem, ainda tinhas de te esquecer de um telemóvel!
- Eu não vinha de vestido para aqui! Tinha de arranjar algo que se adequasse ao que
íamos fazer... Mas diz-me, tens ou não?
- Para que o queres?
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- Para chamar o dono de uma loja para que me venha ajudar a fazer umas comprinhas
para esta noite.
- És absolutamente incrível! Não consegues ser mais ridícula?
- Não sei se ridícula é vestir bem a cada momento da minha vida... Mas se o for,
então que seja mesmo. Tenho que estar sempre o melhor possível, essa sou eu. Agora,
passa para cá o telemóvel!
Estendeu-me o telemóvel de má vontade. Mas tinha que ser.
- Estou?
- Estou sim? Daqui Ms. Saint, queria falar com o Mr. Curt.
- É o próprio. Quem deseja falar comigo?
- Ethan! Já não me reconheces?
- Não posso? Samantha? A que se deve tal honra do teu telefonema? Algum desastre
de moda? – Gargalhou ao telefone.
- Sempre com piadas. Mas é quase isso. Preciso de roupa urgentemente.
- A estas horas?
- Qualquer hora é indicada para se escolher boa roupa. Mas se não estás interessado
no negócio não tem problema, há quem necessite do dinheiro mais que tu. Uma…
- Hey, hey! Acalma a cavalaria. Eu não disse que não. Só achei anormal esta
chamada tão tardia.
- Não importa. Desde que seja para já.
- Já? Então mas não estavas de viagem?
- Estava dizes bem… Estou exactamente onde tu estas.
- Na minha casa? – Perguntou-me assustado.
- Achas? Estou no Vaticano, mas tive um passeio muito pouco agradável pelos
esgotos. Preciso que me auxilies.
- Bem… Estou deveras espantado… Ms. Saint num esgoto? Ora aqui está algo que
eu pensava nunca ouvir dizer…
- Ethan, pára com a brincadeira ok? Podes me ajudar ou não?
- Posso! Sabes bem que sim Samantha.
- Então pronto. Queres te encontrar onde? No meu atelier ou na minha casa? Tanto
num lado como noutro tenho todo o que necessitas.
- Pode ser no teu atelier se não te importares. Eu já sei onde fica, torna-se mais fácil
para mim.
- Ok então. Dentro de 15 minutos estou lá.
- Está bem então. Só para avisar que levo companhia…
- Nem penses! Não te quero com homens na minha presença!
- Não sejas idiota! Não é homem nenhum! É hum… Uma amiga. – Olhei para Sheftu
que levantou uma sobrancelha e movimentou os lábios com espanto onde se lia
“amiga?”, olhei para ela e pisquei o olho.
- Uma… Amiga? Hum… Está bem então. Daqui a quinze minutos no atelier.
Desliguei o telemóvel e devolvi-o a Sheftu.
- Pronto, já está. Ele estará daqui a 15 minutos no atelier. Estaremos lá a essa hora. É
muito perto daqui.
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- Não importa Que raio de historia foi aquela de eu ser tua amiga??
- Oh… Ele estava com baboseiras ao telefone. Quando disse que levava companhia
ele pensou que era um homem…
- Vá-se lá saber porquê não é… - Ela gargalhou. – Bem vamos andando então?
- Temos tempo… Em 5 minutos colocamo-nos lá.
Enquanto caminhávamos para o nosso destino eu estava indecisa se haveria de lhe
contar o meu encontro estranho de Halloween…
- Sheftu acho vou fazer uma viagem – disse-lhe um pouco indecisa.
- Vais para onde? – Perguntou-me intrigada com a minha súbdita revelação.
- Isso não importa. Depois de tudo isto que descobri e do que posso a vir a descobrir
tenho mesmo que sair de Moscovo.
- Mas…
Cortei-lhe a palavra – Nem mas nem meio mas. É assim, eu vou ter de comprar um
carro novo já que o meu foi destruído e vou desaparecer daqui por uns tempos. Mas
não muito. Tu e a Carmen não se livram de mim assim com tanta facilidade! – Soltei
uma gargalhada – Eu só preciso de investigar e reflectir mais sobre esta história toda.
E já que o Daniel desapareceu tenho de fazer tudo sozinha. E vou a procura de uma
pessoa…
- Do Louis? – Perguntou-me perspicazmente.
- Sim. Nunca te cheguei a contar… Foi ele que me mandou o vestido do
Halloween… Ele esteve lá. Aliás, ele foi à festa. Tenho a certeza.
- Como podes ter tanta certeza? – Perguntou-me desconfiada.
- Ele não aparecia assim do nada sem me espiar. Eu sei como ele é. Além disso eu
tenho a certeza que o vi.
- Na festa?
- Sim.
- E porque não foste atrás dele?! - Disse-me completamente surpreendida com a
minha atitude.
- Eu fui como é mais que óbvio! Mas ele escapou-me! Sempre foi muito mais rápido
do que eu alguma vez serei… - Olhei para um grande relógio que se encontrava na
rua… Tinham exactamente passado apenas 5 minutos de caminho. Teríamos de
esperar mais uns 10 até o Ethan aparecer…
Aqueles 10 minutos pareceram uma eternidade. Ninguém dizia nada. Parecia que
ambas estávamos com pensamentos muito mais profundo que sobre a roupa… Até eu
nem estava a ligar muito bem aquilo tudo. Ninguém me tirava da cabeça o Louis e em
relação a isso eu não podia fazer nada.
De repente de uma esquina, vê-se um volto enormíssimo… Sheftu mandou um salto
e colocou-se me posição de ataque, mas eu não.
- Ethan, pára com a brincadeira. Estás a assustar aqui a Sheftu.
- Raios para ti Samantha! Nunca te consigo assustar!
- Tenho um bom olfacto amigo… Já devias saber!
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Caminhou para mim e abraçou-me com carinho. Já não o via a tanto tempo. Sheftu
olhava-nos surpreendida com tal ternura no nosso olhar… Mas é normal que isso
acontecesse.
- Como é que são tão amigos? – Baixou a voz e disse-me. – Ele é um humano não te
esqueças.
Desatei a rir.
- Qual a piada?
- A piada é que ele sabe muito bem que eu sou uma vampira!
- Ele o quê?
- Sim eu sei. – Ele entreviu. – A Samantha era uma conhecida da minha tia. Ela
também era vampira e eu sempre me dei muito bem com ela. – Sorriu a o ver a cara de
espantada chapada na cara de Sheftu.
- Mas…
- A sério, isso é uma longa história, e pela conversa ao telefone não me parece que
vocês tenham tempo.
- Lá isso é verdade! Sempre despachado este garoto!
- Sabes bem.
Seguimo-lo até ao atelier, e aquilo de luz apagada era um bocado sombrio, mas
quando a luz acendeu… Era totalmente um paraíso!
- Sei que preferem sem luz, mas de outra forma eu não vejo. – Gargalhou. – Portanto
tem que ser assim.
- Não tem qualquer problema. Eu quero algo…
Cortou-me a palavra – Elegante, exuberante e para arrematar… Confortável.
Acertei?
- Sabes bem.
- Então e o que vos trás por cá? Deve ser muito excitante para arrancar a Samantha
de onde quer que ela estava…
- É sim, mas não é para te contar agora. Sê rápido por favor.
- OK, OK… Sempre apressada a madame.
Ele escolheu rapidamente duas mudas de roupa. Seria o suficiente. Experimentei a
primeira. Uma saia de cintura subida, preta, uma blusa roxa e uns sapatos de salto.
- Finalmente uns sapatos, Já estava a ficar farta de botas.
- Imagino que sim! Escolhi roxo… Presumo que continue a ser a tua cor favorita.
- Sim claro. É perfeito. E a outra roupa?
- Está aqui. Este vestido preto justinho parece-me bem… Que tal?
- Deslumbrante como sempre.
- Não vais experimentar?
- Não há tempo para isso. Além do mais, eu confio em ti. Portanto estou a vontade.
- Ainda bem.
Sheftu observava-nos com desdém… Tenho a certeza que ela achava aquilo
completamente desnecessário.
- E a menina? Não vai querer nada?
- Não. Eu não preciso de tanta futilidade junta. Estou bem assim…
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- Mas está imunda. Desculpe a expressão mas é a verdade.
Ela olhou para a sua roupa. Era inegável. Ela estava completamente suja por causa
dos esgotos.
- Está bem, está bem! Pode ser umas calças de ganga pretas, e uma camisola preta
também.
Ele escolheu algo muito chique e exuberante. Ela torceu o nariz mas aceitou.
- Estás despachada. Vamos embora.
- Sim claro. – Virei-me para ele. – Meu querido, obrigada por te teres levantado a
estas horas por causa de nós. Agradeço-te imenso.
- Ora, não importa. Por ti sabes bem que o faria novamente.
- Eu sei que sim – Sorri e dei-lhe um beijo na face. – Até breve.
- Até breve Samantha.
Saímos da loja, e dirigimo-nos rapidamente para o Vaticano. Fomos muito rápidas
como é óbvio. Quando chegamos tínhamos um alarme do qual o código parecia
impossível de decifrar.
- Como fazemos agora?
- Assim… – Sheftu espetou um valente murro no alarme e ele desligou. – Que tal?
- Andas a ver filmes a mais é o que te tenho a dizer.
- Resultou, portanto vamos lá.
Caminhamos durante um bom bocado. Felizmente e sabe-se lá como, não
encontramos guardas nenhuns.
- Mas que estanho… Não está aqui ninguém… - Disse-lhe desconfiada.
- Realmente é estranho.
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EP20- "To kill or to be killed…That is not a question!" By Carmen
Abri os olhos de repente, enfrentei o céu. Não tinha cor normal mas sim um
acinzentado esquisito. As nuvens estavam grossas em sinal de chuva breve mas, não
foi isso o que mais estranhei mas, sim as arvores gigantes que pareciam perfurar as
nuvens de tão altas que eram. Onde estava eu? Rebolei sobre mim, sentindo as folhas
e os galhos partirem sob o meu peso e levantei-me. Vi a minha frente, escondida por
entre as árvores uma casa de madeira com uma caixa de correio que dizia ROSS;
Até mim a brisa fria da noite trouxe um cheiro doce que se assemelhava a morangos
acabados de apanhar e como se estivesse hipnotizada cambaleei em direcção a casa.
Senti uma vontade louca de entrar, uma vontade de irromper pela casa adentro mas,
agarrei-me a um árvore enquanto era consumida pelo desejo de sangue, sentia aquele
fogo a subir garganta acima.
Agarrei-me a um tronco de árvore e comecei a descasca-lo com as minhas unhas
lutando contra a vontade e foi então, que a porta da casa de madeira se abriu. O
cheiro doce invadiu rapidamente e eu inspirei profundamente de olhos fechados,
guardando a brisa. Quando abri os olhos vi a uma mulher a porta da casa, trazia um
vestido comprido azul-escuro e um casaco preto leve, carregava uma cesta de roupa
vazia, provavelmente iria recolher os trapos que se abanavam no estendal. Ela era
linda! Parecia um anjo de cabelos loiros e pele clara. Um anjo de cheiro doce e
pescoço desnudado.
Voltei a agarrar o tronco de árvore com força, o cheiro dela era embriagava-me por
completo. Conseguia sentir a pulsação de onde eu estava, estava louca para saltar-lhe
ao pescoço e beber todo aquele sangue, que me estava a deixar maluca!
Mas, algo aconteceu que me deixou desnorteada. Fui derrubada por um encontrão
forte que me deixou cair ao chão de cabeça.
― Mary, foge! Esconde o Dean!
Dean?! Quem era esse Dean?!
Levantei a cabeça, só a tempo de ver a minha presa entrar dentro de casa
assustada.
Senti uma mão fechar-se em volta dos meus cabelos, fui elevada do chão a força
toda e encostada a uma árvore. A minha frente estava um homem forte e de barba
rija, numa mão vi-o segurar o que parecia ser um pedaço de madeira, enquanto a
outra tinha descido para o meu pescoço e apertava-o com toda a força.
― Vais morrer, sanguessuga! – Avisou-me ele. Porquê que os humanos eram tão
burros a esse ponto? Não deixei-me intimidar nem um pouco e, num movimento
rápido, trespassei-lhe o peito e agarrei o seu coração entre a minha mão. Encarei os
seus olhos castanhos, enquanto via a sua vida desaparecer. A sua cara mostrou
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surpresa, choque, medo a cada aperto maior que eu dava. Por fim, farta daquela
brincadeira, arranquei o coração e o corpo do homem caiu ao chão inanimado. Atirei
aquele órgão idiota para o lado, limpei aquele sangue imundo no meu vestido ainda
mais imundo e lancei-me em direcção a casa. Só queria beber aquele sangue.
Abati a porta com um pontapé forte, que a arrancou das dobradiças, a minha presa
soltou um berro de horror. Estava encostada ao guarda fato, toda encolhida cheia de
medo. De certo modo aquilo só me excitava ainda mais, corri para o guarda-fato,
agarrei-a pelos cabelos loiros e arrastei-a pelo chão. Ela gritava, esperneava,
berrava mas, lá consegui controla-la quando me sentei em cima dela e agarrei o seu
pescoço. Puxei a sua cara para junto da minha, olhando bem no fundo dos seus olhos
verdes.
― Não te preocupes…vais sentir…só uma leve picada…- Fiz as minhas presas
descerem e mordi o seu pescoço branco. Ela gritou ainda mais, arfou e murmurou
algo que desconcentrou-me.
― Dean…vinga-nos…
Quando ouvi aquilo mordi com mais força, ela gemeu de dor e por fim calou-se. O
seu coração enfraquecia a cada gota que tirava dela, o seu corpo ficava mais mole a
cada chupão. Em poucos minutos, ela já não tinha sangue algum dentro dela, por isso
larguei o seu corpo com violência, enquanto apreciava o sangue que ainda queimava
na minha garganta.
Observei-a ali, caída sem nenhuma vida dentro dela e não vi aquele brilho que antes
tinha-me ofuscado e todo aquele cheiro doce tinha desaparecido. Era apenas um
cadáver seco e feio.
Ouvi movimento atrás de mim e voltei-me rapidamente. Era um miúdo, não devia ter
mais do que 10 anos que me observava com um brilho nos olhos e punhos cerrados.
Os seus olhos eram grandes, verdes e o cabelo acastanhado, com algumas sardas na
cara. Olhei-o de cima abaixo, ainda tinha alguma fome mas, não ia atacar um miúdo.
― Matas-te os meus pais!
Levantei-me de cima da sua mãe, e encarei-o com um sorriso.
― Se serve de consolação, o teu pai é que me atacou e a tua mãe…bem, ela
simplesmente fugiu. – Passei por cima do corpo inanimado, encaminhando-me para a
porta.
― Eu vou matar-te! – Parei ao ouvir aquela ameaça a mim, de tão nova voz. Voltei-
me para o encarar e vi o ódio na sua cara. ― Vou encontrar-te e matar-te!
Eu sorri maleficamente. Virei as costas.
― Boa sorte, puto.
E bati com a porta.
Quando voltei a mim tive a mesma sensação de uma pessoa que aguenta a respiração
debaixo de água até não poder mais.
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128
― Calma! – Demorei a dar-me conta que estava de volta ao meu quarto e que Eric
ainda segurava a minha cabeça. ― Calma, Carmen. Não te levantes...
― Larga…Larga-me…Larga-me…
Eric deixou a minha cabeça e novamente lancei-me numa tentativa de tentar pôr-me
de pé. Assim que me levantei, desmoronei em direcção ao chão mas, fui segurada
quando pensava que ia comer o tapete.
― Qual é a parte de “não te levantes” que não entendes?
As mãos de Eric estavam em volta da minha cintura, agarrando-me com força.
― Larga-me! Eu estou bem! – Tentava afastar as suas mãos do meu corpo mas, ele
não deixava.
Chegou a um ponto em que Eric, vira-me e faz com que eu o enfrente, ele olha-me
directamente no fundo dos meus olhos.
― Vê-se! Olha, ainda estas meio grogue…- Ele puxou-me de novo para a cama. ―
Fizeste uma grande viagem ao teu passado, tens de descansar.
Ajeitou-me na cama, puxando os lençóis para cima tapando o meu corpo ainda
desnudado. Não que o incomodasse, nas suas palavras ele já tinha visto tudo aquilo,
Eric era simplesmente um cavalheiro. Esperou que eu voltasse ao normal ficando a
encarar-me no silêncio.
Ainda tinha cravado na minha mente a cara do rapaz que, apesar de novo, já conhecia
a raiva e o ódio. Tão novo, apenas 10 anos e queria usar a minha pele como escudo.
A voz de Eric soava longe, muito longe. Apenas tinha em mente a cara do rapaz, do
miúdo, da criança que tinha um ódio crescente pela minha pessoa.
― Dean…
Ao ouvir o seu nome sair da minha boca, fui percorrida por um arrepio na espinha.
Encolhi-me na cama, ao dar-me conta que aquilo não iria ter fim nunca. Só havia uma
opção.
― Oh meu Deus…- Senti que Eric estava de pé, provavelmente de braços cruzados.
Eu continuava de olhos pregados nos lenços mas, senti os seus olhos colados em mim.
― Essa cara! Essa cara significa que estás a magicar uma má ideia. E antes sequer de
a mencionares eu digo, logo que não!
― Tem que ser, Eric.
Ele bufou.
― Eu sabia…- Começou a caminhar pelo quarto. ― Carmen, não tens que te sentir
culpada por teres morto dos pais do miúdo. Tinhas fome, não comias a dias…
― Como é que sabes?
Eric voltou-se para mim.
― Hum…eu conseguia ver…a tua memoria…- Ele parecia um pouco embaraçado
com aquela revelação. ― Faz parte…do processo…
― Uau…quando eu pensava que não podias ser mais esquisito…
Ele sorriu-me constrangido, coçou a cabeça e suspirou.
― Não te culpes, Carmen.
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― Não é isso, Eric! Sei que estava esfomeada, é só que…- Calei-me e comecei a
imaginar Dean, a sorrir enquanto eu queimava ao nascer do sol. Não pode evitar uma
sensação de vertigem.
― Continua…
― Só que não vai acabar! Ele sabe quem eu sou, sabe como encontrar-me, sabe
como onde estou! Ele é um fantasma, trouxe-me aqui e ninguém o viu. É impossível
encontrares o cheiro dele na minha roupa, porque ele esconde-se! ― A minha voz saiu
determinada. Quando olhei para ele, vi o seu olhar de surpresa. ― Nem pensar que
vou deixar intimidar-me por uma”sombra”. Vou mata-lo, antes que ele resolva matar-
me.
Eric olhou para mim com um ar de espanto total.
― Ai, agora virámos assassinos?
― Ele vai matar-me!
― E tu tens medo, como disseste, de uma “sombra”?
― É uma questão da lei do mais forte, matar ou ser morto!
― E isso justifica assassinato?
― Sim!
― Desde quando? Tu não és uma assassina, Carmen! Tu és…
― Eu não entendo! – Interrompi-o bruscamente com a minha voz elevada. ― Se ligo
demasiado aos meus sentimentos humanos sou um fracasso como vampira. Se encarno
o meu lado vampírico sou uma cabra sanguinária! Se fosse a Sheftu…
Será que ele estava a ter a mesma sensação que eu tinha no peito, de que subitamente
voltamos ao passado e estávamos a ter uma discussão como um suposto “casal”?
― Porquê que tens sempre que a meter ao barulho? Ao menos ela não tenta chacinar
gente inocente.
― Ela não precisa de tentar, Eric, ela faz logo e não te vejo a correr atrás dela
impedindo-a! Porquê que dificultas isto?
― Porque não és a Sheftu, tu és a Carmen! Ela pode ser até uma cabra sanguinária
mas é a natureza dela! Tu não és assim, estás a agir por desespero…quando ages
assim, nunca saí nada bem!
― Não finjas que me conheces, Eric!
― Ena, obrigada pela parte que me toca, miúda!
Novo silêncio entre nós, que substituía o pedido de desculpa. Eu cruzei os braços e
afundei-me nas almofadas, enquanto Eric permanecia de pé com os braços cruzados.
― Pensa bem…- A sua voz estava num tom mais baixo do que o normal. ― Ele não
te matou, salvou a tua vida!
― Para poder faze-lo mais tarde, Eric! Eu sou um alvo a abater e sinceramente,
prefiro mata-lo a morrer nas mãos dele! Agora…- Encarei-o com toda a determinação.
― Vais ajudar-me ou não?
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Foi então que a porta se abriu de rompante e Pan apareceu. Era uma mulher alta, que
sempre se vestia de preto, com o cabelo aos caracóis imensos e uns grandes olhos
verdes e venenosos. Uma cobra venenosa.
― Hey, Eric…- Os seus olhos pararam em mim, nua debaixo dos lençóis e em Eric
que estava a centímetros da minha cara. ― Interrompo?
― Sim! – Exclamei irritada.
― Não. – Respondeu Eric mais calmo.
Pan cruzou os braços com um ar superior.
― Então?
Eric suspirou e afastou-se de mim lentamente, ficou sentado a minha frente. Olhou
para mim num olhar cúmplice e logo voltou-se para Pan.
― O que se passa?
― Queres mesmo que diga? – Pan olhou para mim e ergueu a sobrancelha. ― A
frente dela!?
Fiz um ar de ofensa extrema. Pan era a mulher – ou pelo menos aparentava ser uma
mulher – mais detestável em todo o universo. Era manipuladora, arrogante, irónica e
para além do mais venerava Eric como se fosse um Deus.
O pior, era que Eric alinhava mas, não pelos motivos que Pan ansiava. Afinal,
alguém precisava de ser o bode expiatório na trama.
Eric levantou-se da cama lentamente, encaminhou-se para a porta e saiu, Pan saiu
logo a seguir não sem antes mandar-me um sorriso idiota.
Voltei a encostar-me a cama, aconchegando-me as almofadas gigantescas e fofas.
Vi-me num local espaçoso e escuro. A música ia aumentando de volume, e ao mesmo
tempo eu mexendo o meu corpo ao som da batida, com movimentos leves e sensuais.
Dançava para mim, não para os outros. Passei as mãos, pelas ancas, pelas pernas e
voltei a subir, sempre com um leve remexer, até as mãos se levantarem no pico da
música. Tinha os olhos fechados, e sentia cada nota a subir-me pelo sistema e a tomar
conta de mim como nunca antes. Sempre adorara dançar mas, naquele momento
sentia-me mais livre do que alguma vez me sentira em humana. Tinha os olhos
fechados mas conseguia ver as luzes do local; amarelas, verdes, azuis, vermelhas…ao
mesmo tempo com sombras que se mexiam rapidamente, provavelmente outras
pessoas.
Com as mãos, ao mesmo tempo que balançava o corpo de forma sensual, levantei os
cabelos acima da cabeça, para depois larga-los levemente. Os meus braços abriram-
se como se eu estivesse a dar boas vindas ao ritmo que fluía por mim. Abanei a
cabeça, de um lado para o outro levando o cabelo aos olhos. Os braços voltaram a
envolver o meu corpo num abraço enquanto me movia sensualmente.
Foi então, que senti alguém colar-se a mim, por detrás. Senti um reforço do abraço
que dava ao mim mesma e como o corpo seguia os mesmo movimento que o meu.
Senti mãos quentes a descerem para a minha cintura puxando-me para mais perto,
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continuando o movimento extremamente sexual. Uma respiração quente aproximou-se
do meu ouvido, senti um peito musculado contra as minhas costas e, como as mãos
que agarravam as minhas coxas eram fortes.
Eu continuava a mexer-me ao som da música que tinha uma batida única, fortificada
por sons de baixo e guitarra em uníssono. Subitamente, não era eu que ditava os
movimentos mas, quem me segurava. Senti a sua boca a beijar-me no ombro, depois o
pescoço e, com especial demora, a marca das dentaduras do meu criador debaixo da
minha orelha. Absorvi aquele calor com todo o desejo e vontade possível, entregando-
me completamente aquele calor irreal.
Não aguentava mais, precisava de ver quem era. E como se adivinhasse o meu
pensamento o vulto fez-me girar. Caí com a cara mesmo no seu peito, subitamente,
tive vontade de abrir os olhos e ver quem era, mas estava a gostar tanto daquele
anonimato sensual e incomum. Continuamos assim, ainda durante uns segundos.
Sentia-lhe cada centímetro debaixo da roupa
― Olha para mim…
Como se estivesse sobre hipnose, abri os olhos ao ouvir aquela voz em tom baixo e
super sensual. Levantei os olhos, vi o seu pescoço, depois o queixo com a barba
recentemente feita, os lábios rosados mesmo sobre as luzes, o nariz perfeito e
totalmente de acordo com a sua cara, a seguir vieram os olhos…verdes, grandes,
profundos capazes de olhar através de uma alma.
Reconheci a sua cara mas, mesmo assim não me afastei, e o facto de nos olhar-mos
por segundos, apenas fez com que ele me puxasse para mais perto e iniciasse-mos a
nossa dança. Aproximou a sua cara da minha, as nossas testas tocaram-se, as nossas
respirações estavam em total harmonia. Ambos sabia-mos o que fazer, e talvez quais
as consequências desse acto mas, nem por isso ditamos o fim.
Os seus lábios roçaram os meus, muito levemente e, como se subitamente o tempo
tivesse parado e só nós estivéssemos ali, senti-o a aproximar-se mais...
Eu simplesmente não o queria largar…
Acordei completamente desnorteada sem saber, o que raio estava a acontecer? O que
era aquilo? Não podia ser um sonho, os vampiros não sonham…nem dormem quanto
mais! Mas, mesmo assim não pude abanar aquela sensação de premonição. Seria isso?
Uma premonição? Com…Dean? E o pior…porquê que eu não me queria largar?
Porquê que eu só o queria ter perto de mim?
O que se estava a passar?
A porta abriu-se de repente e eu encolhi-me debaixo dos lençóis ainda sobre o efeito
daquele estranho momento
― Eric, vais mesmo fazer isso? Perseguir aquela louca novamente…
― Tem de ser, Pan. Deixa-la sozinha é o que mesmo que anunciar o fim do
mundo…- Disse Eric aproximando-se da minha cama.
― Mas, qual é a tua obsessão por ela? É simplesmente idiota.
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Eric ia sentar-se quando parou o gesto a meio. Voltou a erguer-se, voltou-se para Pan
com o ar mais sério possível.
― Faz um favor, Pan. Guarda os teus tristes comentários para ti. – Puxou as calças
de ganga um pouco para cima e sentou-se na cama no espaço a minha frente. ― Agora
faz-te útil e prepara as coisas, sim?
Eu olhei para Pan e vi o seu ar presunçoso desaparecer, ao ver o tom asqueroso com
que Eric lhe falava, para no fim abrir a porta e sair, fechando-a com alguma
malvadez.
Perdi-me novamente naquela imagem cada vez mais esbatida da minha sensual dança
com…Dean. Não conseguia deixar de achar que aquilo tudo era super irreal.
Senti aqueles olhos observadores pregados em mim.
― Ainda não desistis-te da ideia de ires atrás do Dean, certo? Ires numa missão
suicida…ou homicida.
― Tu não entendes…
― Certo, imaginemos que eu até possa ajudar-te, arranjar maneira de o encontrar
mas, explica-me uma coisa, ó génio! – Disse com um ar incrédulo. ― O dia está a
nascer, como esperas ir lá fora?
Eu mordi o lábio perante aquela dificuldade mas, no segundo seguinte tive uma ideia
ainda mais luminosa e, como sempre, o sexto sentido de Eric falou mais alto e
imediatamente levantou-se.
― Faz-me um…
― Não! – Ordenou imediatamente com um ar sério. ― Não mesmo, Carmen!
Eu fiquei parva com a maneira como ele me olhava e mostrava o seu desagrado.
― Qual é o teu problema?
― O meu problema é tu só teres ideias parvas, Montenegro! – Sempre que Eric se
chateava a sério, chamava-me pelo meu sobrenome. Algo irritante mas, que ele
adorava fazer. ― Não só queres ir atrás de alguém que te quer matar, como queres um
feitiço para andar sobre o dia! Que mais queres?
― Eu quero acabar com isto!
― Agindo de cabeça quente? Não dá! Para não falar na infantilidade que isso
demonstra da tua parte…
Inconscientemente, estendi a mão ao candeeiro que estava na mesa-de-cabeceira e
atirei-o contra Eric. Porquê que ele não me ajudava? Porque raio tinha que ser
tão…tão…Eric!
Graças aos seus reflexos rápidos, ele desviou-se e o candeeiro desfez-se em mil
pedaços com um barulho imenso. Eric ficou a olhar espantado para os cacos no chão,
voltou a sua cabeça para mim e vi o seu olhar espantado.
― Como eu disse: Infantil. – Repetiu com um tom azedo.
Encaminhou-se para a porta com passo rápido.
― Eric, por favor…
A minha voz fê-lo parar com a mão na maçaneta.
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― Faz-me um favor, Carmen; Não te metas em problemas. Não posso salvar-te a
toda a hora.
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EP21- “Please Kill me, Burning Sun!” by Sheftu
Ofereci-lhe o telemóvel de má vontade de má vontade, se não fosse completamente
necessário, jamais lhe teria dado. Mas as promessas são para se cumprir... E aqui estou
eu, a cumpri-las...
- Estou? – Disse, mal atenderam a chamada. - Estou sim? Daqui Ms. Saint, queria falar
com o Mr. Curt. – Fez-se um silêncio, seguida me uma outra resposta... - Ethan! Já não
me reconheces?
Conversa trivial, não sei porquê mas estava a pensar nele, o que estaria a fazer neste
momento? O mais incrível era a razão pela qual me passava agora isso pela cabeça,
supostamente não devia sequer me lembrar da sua existência, quanto mais tê-lo na
minha cabeça... Mas os seus lábios nos meus, as suas mãos sobre a minha cabeça,
impedindo-me de negar o nosso maldito momento. Um beijo que teimava em não me
sair da cabeça, um homem que não me deixava em paz, desgraçada a hora em que
apareceu na minha vida.
- Está bem então. Só para avisar que levo companhia… - Falava Samantha, me
fazendo voltar à realidade – Não sejas idiota! Não é homem nenhum! É hum… Uma
amiga. – Olhou para mim, observando a minha indignação, “amiga?” disse em silêncio
com os meus lábios recebendo como resposta um piscar do olho.
- Pronto, já está. Ele estará daqui a 15 minutos no ateliê. Estaremos lá a essa hora. É
muito perto daqui.
- Não importa Que raio de historia foi aquela de eu ser tua amiga?? – Quis por tudo em
pratos limpos, não fosse ela pensar que nos iríamos dar bem...
- Oh… Ele estava com baboseiras ao telefone. Quando disse que levava companhia ele
pensou que era um homem… - Tentou justificar-se...
- Vá-se lá saber porquê não é… - Gargalhei, mudando de tema de conversa antes que
ela tentasse retaliar. – Bem vamos andando então?
- Temos tempo… Em 5 minutos colocamo-nos lá.
Durante o tempo que caminhávamos, sentia que ela estava um pouco inconfortável
com algo, talvez achasse que havia algo a dizer-me ou simplesmente havia algo que a
perturbava...
- Sheftu acho... Vou fazer uma viagem – Disse-me por fim, com um pouco de
indecisão.
- Vais para onde? – Questionei-a intrigada... O que estaria aquela cabeça a magicar?
- Isso não importa. Depois de tudo isto que descobri e do que posso a vir a descobrir
tenho mesmo que sair de Moscovo.
- Mas…
- Nem mas nem meio mas. É assim, eu vou ter de comprar um carro novo já que o
meu foi destruído e vou desaparecer daqui por uns tempos. Mas não muito. Tu e a
Carmen não se livram de mim assim com tanta facilidade! – Interrompeu-me, soltando
uma gargalhada, prosseguindo... – Eu só preciso de investigar e reflectir mais sobre esta
história toda. E já que o Daniel desapareceu tenho de fazer tudo sozinha. E vou a
procura de uma pessoa…
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- Do Louis? – Perguntei.
- Sim. Nunca te cheguei a contar… Foi ele que me mandou o vestido do Halloween…
Ele esteve lá. Aliás, ele foi à festa. Tenho a certeza.
- Como podes ter tanta certeza? – Desconfiei um pouco, procurando tirar mais dados...
- Ele não aparecia assim do nada sem me espiar. Eu sei como ele é. Além disso eu
tenho a certeza que o vi.
- Na festa?
- Sim.
- E porque não foste atrás dele?! – Estava completamente surpreendida com a sua
atitude, era ridículo, ver alguém e simplesmente não agir, deixar que as respostas
ficassem por dar, dúvidas sobre dúvidas...
- Eu fui como é mais que óbvio! Mas ele escapou-me! Sempre foi muito mais rápido
do que eu alguma vez serei…
Eu compreendia essa sensação de incapacidade, todas aquelas horas no meu próprio
quarto me relembraram momentos da minha vida humana, daqueles que qualquer ser –
humano ou não – jamais iria alguma vez na vida esquecer, por mais que me sentisse
livre, querendo fazer com que o meu rasto se perca o mais rapidamente, um pouco de
mim permanecia com a sensação de que continuava presa. Não via a hora de que esse
sentimento desaparecesse, de que pudesse novamente respirar de alívio sem que a sua
sombra, seus traços, seu corpo permanecesse na minha mente. Tal tortura, tal loucura...
A abrasadora necessidade de o matar para que tudo volte ao normal. Agora apenas
restava saber como fazê-lo, arranjar a pior forma possível e mais demorada para o fazer.
Porque o seu fim seria um prazer para mim, fazia questão que isso se tornasse verdade!
Rapidamente vi um vulto erguer-se das sombras, será que ele me tinha conseguido
seguir? Não era possível, não iria deixar a Carmen a definhar apenas para me manter
como sua prisioneira, para além de que se me tivesse seguido, certamente já estava
novamente presa no meu próprio quarto, à mercê da monotonia e tortura constantes
dele.
- Ethan, pára com a brincadeira. Estás a assustar aqui a Sheftu. – Disse Samantha, me
dando um pouco de paz. Sim, estava livre...
- Raios para ti Samantha! Nunca te consigo assustar!
- Tenho um bom olfacto amigo… Já devias saber!
O homem caminhou para Samantha e abraçou-a com carinho. Mas agora ela era uma
amiguinha de humanos?!
- Como é que são tão amigos? – Baixei a voz e disse-lhe. – Ele é um humano não te
esqueças. – Desatou-se a rir com o que eu tinha dito. Não via humor em nenhuma das
minhas palavras... – Qual a piada?
- A piada é que ele sabe muito bem que eu sou uma vampira!
- Ele o quê? – Perguntei confusa.
- Sim eu sei. – Entreviu o homem. – A Samantha era uma conhecida da minha tia. Ela
também era vampira e eu sempre me dei muito bem com ela. – Sorriu ao ver a minha
cara de espanto.
- Mas…
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- A sério, isso é uma longa história, e pela conversa ao telefone não me parece que
vocês tenham tempo.
- Lá isso é verdade! Sempre despachado este garoto!
- Sabes bem.
Seguimo-lo até ao ateliê, um pouco sombrio com a luz apagada, mas quando a luz
acendeu… Era totalmente exuberante!
- Sei que preferem sem luz, mas de outra forma eu não vejo. – Gargalhou. – Portanto
tem que ser assim.
- Não tem qualquer problema. Eu quero algo…
– Elegante, exuberante e para arrematar… Confortável. Acertei? – Interrompeu-a,
continuando a própria frase dela... Ela era fácil de ler como olhar-se a um espelho.
- Sabes bem.
- Então e o que vos trás por cá? Deve ser muito excitante para arrancar a Samantha de
onde quer que ela estava…
- É sim, mas não é para te contar agora. Sê rápido por favor.
- OK, OK… Sempre apressada a madame.
Ele escolheu rapidamente duas mudas de roupa, tentando agrada-la com o habitual
requinte seu característico.
- Finalmente uns sapatos, Já estava a ficar farta de botas. Comecei a ouvir as suas
respostas, moda! Que mais haveria de os unir... Fatiotas e acessórios... Ridículo.
- Imagino que sim! Escolhi roxo… Presumo que continue a ser a tua cor favorita.
- Sim claro. É perfeito. E a outra roupa?
- Está aqui. Este vestido preto justinho parece-me bem… Que tal?
- Deslumbrante como sempre.
- Não vais experimentar?
- Não há tempo para isso. Além do mais, eu confio em ti. Portanto estou a vontade.
- Ainda bem.
- E a menina? Não vai querer nada? – Perguntou-me o homem.
- Não. Eu não preciso de tanta futilidade junta. Estou bem assim… - Respondi
curtamente.
- Mas está imunda. Desculpe a expressão mas é a verdade.
Observei a minha roupa, realmente não podia dizer que estava limpa. Depois de umas
caminhadas pelos esgotos, não tive qualquer vontade de trocar-me – na realidade nem
pensei nisso, estava mais preocupada em escapar o mais rapidamente possível.
- Está bem, está bem! Pode ser umas calças de ganga pretas, e uma camisola preta
também. – Assumi, resolvendo aceitar.
Ele procurou algo por entre as roupas, trazendo um vestido vermelho curto com um
decote arrojado que se iniciava num ombro, deixando o outro em descoberto. As
sandálias lembravam-me os tempos antigos, indo os seus fios negros pela canela acima.
Porque haveria eu de vestir tal coisa? Torci o nariz por uns momentos, mas acabei por
aceitar, sempre era melhor do que andar imunda pelas ruas, chamaria demasiado à
atenção...
- Estás despachada. Vamos embora. – Perguntei-lhe mal me vesti.
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- Sim claro. – Respondeu-me, virando-se para ele. – Meu querido, obrigada por te
teres levantado a estas horas por causa de nós. Agradeço-te imenso.
- Ora, não importa. Por ti sabes bem que o faria novamente.
- Eu sei que sim – Sorri e dando-lhe um beijo na face. – Até breve.
- Até breve Samantha.
Saímos da loja, e dirigimo-nos rapidamente para o Vaticano. A noite não demoraria
muito a vir, teríamos de nos resgatar do sol antes que fosse tarde demais... Quando
chegamos, tínhamos um alarme do qual o código parecia impossível de decifrar.
- Como fazemos agora?
- Assim… – Disse, esmagando o aparelho e desligando-o. – Que tal?
- Andas a ver filmes a mais é o que te tenho a dizer. – Gracejou.
- Resultou, portanto vamos lá.
Caminhamos durante um bom bocado, sem que encontrássemos vivalma para que eu
me divertisse... Onde estariam todos? - Mas que estanho… Não está aqui ninguém… -
Disse-lhe desconfiada.
- Realmente é estranho.
- Olha, acho que está ali alguém.
- Pois está. Se for um guarda mato-o já!
- Tem lá calma! Cheira lá bem…
- O que tem? – Perguntei meia confusa...
- Cheira! Acho que conheces… - Atendi ao seu pedido, para o meu horror. Eu
conhecia bem quem era, demasiado bem para o meu gosto...
- Que estás aqui a fazer? – A pior coisa possível de acontecer, como não deixava de
ser, veio com tanta rapidez como eu me tinha livrado dela. Eric, o meu pesadelo.
- O que achas que estou aqui a fazer? É óbvio, não é? – Seu tom arrogante fez-me
revirar os olhos. Estava farta de o ver a minha frente, farta de estar no mesmo local que
ele, farta de saber da sua existência.
- Não és tu aquele que estava a ajudar a Carmen? – Observei a expressão de Samantha,
nem reparara o olhar matador que eu agora fitava nela. Porque tinha ela de fazer
perguntas? Porquê?! Pelo menos seria o momento ideal para livrar-me dele
rapidamente... Tanta tortura, tantas horas... Tinha de pensar em algo rapidamente antes
que fosse impossível escapar.
- Meu caro, prefiro morrer... – Corri o mais rapidamente possível, tentando me livrar
destra cruz que agora teimava em me procurar. Mas ele não iria ter jamais o que
desejava. Jamais. E eu me encarregaria disso...
- NÃO, ONDE VAIS SHEFTU?! NÃO FAÇAS ISSO!!! – Ouvi os berros de
Samantha, certamente a não saber a razão pelo que eu o fazia. Tambem não precisava
de saber.
- Aff, mulheres... Espera aqui que eu vou buscá-la, não te preocupes que eu trato dela.
– Ouvi-o já de longe, certamente demoraria pouco tempo para seguir os meus
rapidamente, teria de arranjar uma solução o quanto antes...
Não conhecia qualquer caminho que me levasse à salvação, se me escondesse ele
certamente me encontraria... talvez este fosse o fim da minha vida, era preferível morrer
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a ficar eternamente nesta prisão. Liberdade, era tudo aquilo que eu apreciava, se não a
tivesse o melhor seria mesmo acabar com o pouco que eu tinha. Um final perfeito para
uma pessoa desprezível como eu. Morta por mim mesma, esperando que o meu fim me
liberte.
Corri o mais rapidamente para as ruas do Vaticano, esperando que o sol acabasse
comigo, que tudo isto tivesse um fim. Não importava se me veriam ou não, acabava
morta de qualquer forma! Certamente pensariam em mim como uma pessoa a arder...
Respirei profundamente e dei-me totalmente ao destino que tinha traçado para mim. A
cada passo que dava, aproximando-me da minha própria morte, aquela que eu agora
mais desejava como nunca dantes na minha vida, sentia que a paz finalmente viria. Não
importando o que se passasse de seguida, me livraria de tudo aquilo que me persegue
aqui na terra. Livre de tudo e de todos estes desprezíveis.
- Larga-me! – Bufei, Eric tinha acabado de me conseguir alcançar e me agarrava o
braço, me obrigando a encarar a sua face.
- Tu estás mesmo disposta a fazer esta loucura? Avançando assim sem qualquer
vontade de não seguir em frente? – Me largou o braço, cruzando-os no seu peito e
esperando o próximo passo que eu fosse dar.
- Sim, desde que me livre de ti para sempre. Seria o melhor que teria na vida, livrar-me
de ti. – O que eu disse quase que saiu como um sussurro, quase inaudível para um ser
humano, mas pela expressão de Eric parecia que tinha sido o bastante para ele ouvir.
- Tudo bem, se queres isso segue em frente, vai! Eu não farei nada para te parar, mas
estarei do teu lado. – Um sorriso saiu dos seus lábios, havia algo que ele ainda tinha na
manga, mas eu não ia deixar que ele me proibisse de me livrar dele, isso jamais!
- Não me vais impedir, de jeito nenhum! – Mal disse isto, comecei a correr o mais
rapidamente possível. Minhas forças tinham quase voltado, poderia correr o suficiente
para que ele não me apanhasse e pudesse finalmente ter paz! Imaginava como seria bom
morrer... Nem que fosse queimada pela luz do sol... Seria a melhor coisa que poderia
fazer, e nada nem ninguém me impedia. Era hora de eu avançar para os raios da paz
eterna! E a paz habitará em mim aquando da verdadeira morte me atingir... Um sorriso
se abria a cada passo que dava em direcção ao mundo... Serei livre.
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EP22- “Saint or Russian” By Samantha
- Olha, acho que está ali alguém.
- Pois está. Se for um guarda mato-o já!
- Tem lá calma! Cheira lá bem…
- O que tem?
- Cheira! Acho que conheces…
Ela inalou e ele apareceu mesmo diante nos nossos olhos.
- Que estás aqui a fazer? – Ela ficou louca ao vê-lo ali. Só não entendi porquê….
- O que achas que estou aqui a fazer? É óbvio, não é? – Ele foi arrogante com
ela… Ela limitou-se a revirar os olhos.
- Não és tu aquele que estava a ajudar a Carmen? – A interrogação fingida estava
escarrapachada na minha cara.
- Meu caro, prefiro morrer...
- NÃO, ONDE VAIS SHEFTU?! NÃO FAÇAS ISSO!!! – Gritei para ela sem
entende porque é que ela desatou a correr como uma louca para longe de mim e do
desconhecido.
- Aff, mulheres... Espera aqui que eu vou buscá-la, não te preocupes que eu trato
dela.
Limitei-me a encolher os ombros, estava completamente confusa. Bom, ao menos
estava no sítio certo.
- Não vou esperar nada. – Pensei alto. – Como ela é, é capaz de fugir dele durante
horas. Acho que vou começar a procura do que vi aqui fazer.
Eu tinha de encontrar rapidamente a parte onde falava sobre os templários.
Realmente nem sei bem porque é que me estava a interessar tanto por este assunto.
Tinha a certeza que iria descobrir algo que não me ia agradar e ia ficar fula da vida.
Mas enfim, o que fazer? A minha teimosia e curiosidade são maiores!
Aquelas prateleiras estavam completamente imaculadas. Deviam ser limpas todos
os dias de certeza absoluta. Mas havia algo naquele cheiro que me dava umas dores
enormíssimas na cabeça.
- Mas que cheiro, credo…
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Procurei rapidamente sobre os templários. Mas quando caminhava para lá houve
uma secção que me saltou a vista. Criaturas míticas e irreais, o que será isto?
Quando li o índice fiquei completamente estupefacta. Falava de dezenas de
criaturas. Lobisomens, bruxas, fantasmas, zombies e como é obvio. Vampiros.
Saltei rapidamente para esse secção e falava sobre as coisas mais absurdas como a
forma como achavam que se matavam vampiros, e o mais ridículo… Achavam que
os vampiros tinham desaparecido da face da terra… Como é ridículo!
Sentei-me numa das mesas que estava próxima de mim. Pousei o livro e li um
pouco mais sobre o que havia sobre os da minha espécie mas houve uma parte
completamente inacreditável… Num dos capítulos sobre vampiros, falava sobre os
mais perigosos de todos os tempos.
Muitos nomes que lá apareciam eu não conhecia, outros sim. Mas fui um que me
saltou a vista e a atenção. Louis… Como era possível?
- Não estou a acreditar – Murmurei – Ele? Perigoso? Perigoso é imp…
Nesse momento desmaiei… Não um desmaio como nos humanos, era uma espécie
de um transe. E foi logo a minha mente parar no Louis…
Num dia de Inverno, muito frio, senti-me sozinha na gigantesca cama de cetim,
achei muito estranho. Olhei para o relógio... Eram 15 horas da tarde e o meu
apaixonado encontrava-se sentado no chão, com as pernas dobradas e os braços
cruzados.
- Louis? Porque estás aí? Vem dormir, não te esqueças que tens que descansar.
Esta noite vamos caçar...
- Espera, eu já me deito. - A sua voz estava baixa e parecia triste.
- O que se passa? - Perguntei preocupada.
- Não se passa nada minha querida Samantha...
Fui para o fundo da cama, coloque os braços a volta do seu pescoço e dei-lhe um
beijo na orelha.
- Diz-me o que é... Eu já te conheço, sei que não estás bem... Conta-me.
- Não sei. Sinto-me melancólico. - Fez um ar triste, cabisbaixo.
- Mas no que estas a pensar? Falta-te algo? Precisas de ajuda?
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Ele riu e disse-me: Não me falta nada... Tenho-te aqui comigo e isso basta para
mim.
- Então mas...
- Nada a sério. - Deu um beijo no meu braço e encostou a cara. - Está tudo bem.
Voltemos para dentro da cama. Está demasiado frio...
- Nós não sentimos frio! - Ri-me com o seu comentário. - Bela maneira de
mudares de assunto facilmente. Mas não penses que me enganas, sei bem qual a tua
ideia. Só acontece porque eu deixo.
- Eu sei que sim, nem era essa a minha intenção. - Voltou a beijar-me mas desta
vez na cara. - Vá, dorme.
- Então e tu?? - Mordi o lábio em sinal de espera.
- Que apressada que a senhora está hoje!
- E tu estas demasiadamente estranho.
- Nós somos estranhos lembraste? - Sorriu para mim.
- Sim eu sei meu querido. – Abracei-o com ternura e puxei-o. – Vá, anda.
- Pronto está bem…
Levantou-se do chão, puxou-me e beijou-me intensamente. Um tal beijo da qual a
excitação me alcançou, mas não esta noite. Esta noite seria de descanso e não de
prazer infelizmente. Deixei que deitasse-me e me aconchegasse nos lençóis. Agarrei
o seu braço, não o queria deixar ir embora. Ele deitou-se ao meu lado, beijou o meu
pescoço e acariciou a minha cara… Acho que adormeci assim pois realmente não
me lembro de mais nada que tenha acontecido depois disso.
Quando acordei o meu apaixonado levantado. Preparava-se para a nossa caçada.
- Porque não me acordaste Louis?
- Estavas tão bem a dormir. Não te quis acordar. – Sorriu para mim com aquele ar
meigo só dele.
- Já tens ideia para onde vamos?
- Ainda não sei. Queres longe ou perto? – Começou-se a rir. Não me estava a
apetecer nada andar muito.
- Não sejas palerma! Só me quero alimentar. Desde que esteja contigo estou bem.
- És um amor Samantha… Vá… Vai-te vestir, põe-te bonita.
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- Estás a chamar-me de feia?
- Não, na verdade eu só queria que estivesses ainda mais linda do que aquilo que já
és. Parece-te assim algo tão errado?
- Não, não!! – Comecei a rir – Ai como eu gosto de ti!
- Gostas? – Fez um ar super escandalizado, mas ironicamente. – Não fazia a
mínima ideia!
- Gosto muito. Quando me fazes feliz, quando me deixas passada dos carretos,
aborrecida ou até mesmo quando me deixas triste, eu amo muito na mesma.
- Desculpa?!
- Desculpo o quê?
- Nunca te tinha ouvido a dizer isso…
- Isso o quê? - Realmente não estava a entender o que é que ele estava a querer
dizer com aquilo.
- Que me amavas.
- Ah! Amo, mas qual é o espanto? Não sabias?
- A verdade é que não…
- Como não? A forma como te falo, te trato. O sexo e tudo mais… Nada disso
achas que tem significado para mim? – Saí do quarto, ia mesmo assim em roupa de
dormir para a rua.
- Amor…! Espera! – Correu para mim e agarrou-me um braço.
- Larga-me!!! Como podias não saber que eu te amo, quando eu te amo mais que
tudo no mundo???!
- Espera, por favor! Porque não me ouves?! Eu só quis dizer que nunca me tinhas
dito isso! Será que não entendes? – Abraço-me com ternura e beijou-me na boca –
Eu amo-te! Amo-te mais que tudo. Para meu espanto. Eu nunca pensei ficar tão
ligado a alguém como estou a ti. Não magoes nem firas o meu… Hum coração.
- Pois, mas tu não tens coração.
- Samantha! Acorda por favor! Diabos me levem! Não me faças isto! Eu amo-te e
sempre amei e amarei! Nunca, mas nunca duvides disso.
- Eu desculpo amor. Precisas de acreditar mais em mim, só isso. É esse o teu
problema. Nunca confias.
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- Eu confio em ti. Juro que sim!
Beijamo-nos como se fosse o último beijo que daríamos. Sentia as suas mãos a
percorrerem o meu corpo. Nas minhas pernas, a subirem até as ancas e apertar-me
com força para junto do seu corpo. Beijava loucamente a minha boca, o queixo e o
pescoço, o meu peito semi-desnudado.
Colocou-me em cima dele e enquanto, agora eu beijava o seu pescoço e o seu peito
ele apertava o meu traseiro com prazer. Isso deixava-me doida. Ele sabia muito bem
do que eu gostava….
A volúpia crescia nele a olhos vistos. E eu podia muito bem sentir isso. Era o que
eu queria, desejava, o que ansiava. Aquele meu homem era de uma sensualidade
extrema. De uma postura que não dá simplesmente para explicar. Cada toque, gesto,
beijo ou expressão tinham um significado, um propósito. Nada era deixado de lado
nem era feito à toa. Era tudo perfeito…
Nada como uma discussão para ser curada com uma boa dose de sexo. Neste caso
amor. Um amor completamente improvável entre vampiros. Esquecemos a caçada e
todo o mundo lá fora a nossa volta. És perfeita, ele disse-o naquela noite. Um amor
nada sórdido. Tão perfeito como ele me chamara.
Mandei um grito estridente quando acordei.
- O que raio foi isto? Maldito cheiro!
Nesse momento entrou alguém.
-Quem está aí?? - A voz perguntou...
Oh não! Então e agora? Como vou fugir? Não quero matar ninguém… Não hoje!
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EP23- “A lesson to be, maybe…” By Carmen
― Ahhhh! Raios! – Gritei irritada. Como é que era impossível fazer um favor,
destes? Qual era o problema de Eric? Acreditava piamente, que se fosse Sheftu ele
faria com um sorriso nos lábios.
Já me sentia melhor depois de uma viagem ao meu passado, afastei aos lençóis e
coloquei os pés no chão devagar e levantei-me. Apanhei o meu roupão vermelho
caído em cima da poltrona e vesti-o, sentindo aquela seda contra a minha pele fria.
Encaminhei-me para a janela onde os primeiros raios de sol apareciam por detrás
dos telhados. Toquei num botão junto a janela e os vidros começaram a escurecer a
pouco e pouco – mais um dos nossos caprichos vidros fumados de tal modo que não
deixassem o sol passar. Encostei a cabeça ao vidro que ia escurecendo a pouco e
pouco e respirei fundo. Não tirava aquele nome da cabeça.
― Dean…Dean…Dean…- Dei por mim a repetir o seu nome como um louco
repete que não é louco.
Fechei os olhos e vi a sua cara jovem e inocente com um olhar fervendo de raiva.
O mesmo olhar que, em adulto, me tinha encarado e desejado a minha morte. Passei
a mão pelo cabelo, recordando a força com que ele me segurara antes. Senti a boca
seca ao recordar a sua voz perto do meu ouvido. E arrepios ao lembrar-me dos seus
lábios tão pertos dos meus.
― Hey, miúda…- Reconheci a voz feminina que estava a porta e senti um revolver
de estômago.
― Pan…― Suspirei. ― Pensei que tivesses ido com o Eric.
― Ele não me deixou. – Respondeu ela meio azeda. ― Parece que agora vive só
para aquela, Sheftu…
Reconheci o seu azedume em relação a Sheftu, podia não morrer de amores por
aquela vampira mas, ninguém – especialmente Pan – falaria mal dela na minha
presença.
― Não gostas da Sheftu?
― Não é o tipo dele.
Voltei-me com um ar desconfiado, cruzei os braços ao peito. Meu Deus, como o
passado tinha sempre como voltar de diversas formas.
― Oh e deixa-me adivinhar, tu és o tipo do Eric?
― Nunca disse isso.
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― Mas, não te vejo a negar, Pan.
Ela mordeu o lábio como se quisesse engolir algo que lhe veio a mente.
― Só vim oferecer-te ajuda…
― Ajuda? – Pan, a oferecer ajuda? Estaria o mundo a acabar?
― Sim…- Ela fechou a porta e encostou-se. ― Ouvi-te, a discutir com o Eric.
Pareces que andas a procura de um tal de Dean…eu posso ajudar-te.
― Como?
― Eu tenho uns contactos aqui e ali. Conheço gente, que conhece gente e, posso
encontra-lo para ti. E o melhor, o Eric não tem que saber…nem vai imaginar.
― Isto não tem nada a ver com o Eric, Pan! Não sei se reparaste mas, eu e ele já
não estamos juntos…
Ela riu-se claramente.
― Tudo bem. – Desencostou-se da porta, voltou-se e agarrou a maçaneta. ―
Desculpa, qualquer mau jeito…
Não sei porquê, mas ao ver aquela oportunidade de encontrar Dean – mesmo
sendo através de Pan – fez-me mexer. Num movimento rápido, fechei a porta
impedindo a sua passagem.
― Espera…- Pedi eu. Porquê que o meu sentido de caçadora gritava na minha
cabeça. Olhei para os olhos verde cobra da Pan. ― O que tens em mente?
Ela sorriu vitoriosamente. Tirou o telemóvel do bolso, discou uns quantos números
e levou o telemóvel ao ouvido. Começou a falar com a outra pessoa, numa língua
que eu não entendia; Talvez fosse a língua da zona terra, que ninguém ao certo sabia
qual era mas, sabia que não poderia ser boa coisa.
Pan continuou a falar e afastou-se caminhando para a janela.
Deixei-me ficar encostada a porta. A sensação de rever Dean deu-me um revolver
de estômago mas, algo que até estava ansiosa por ver acontecer.
Vi Pan a debruçar-se sobre a minha mesa, tirou um papel e caneta e escrevinhou
qualquer coisa. Depois, voltou a repetir para ter a certeza de que a informação
estava correcta e no fim, agradeceu.
Suspirou e voltou-se para mim, aproximou-se de mim com o papel esticado.
― Volto já. – Abriu a porta e saiu com um sorriso. ― Não te mexas,
Carmenzita…
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Saiu com o seu ar presunçoso e todo um estilo maléfico típico de uma cabra sem
vida. Eu abri a mão, e vi um papel rabiscado:
Hotel D’Rouge, quarto 133.
Sob o nome de Arthur Montenegro.
A minha irritação gritou ainda mais, aquele bandalho usara o nome do meu pai
como nome falso! Como pudera?! E porquê? Quem pensava ele que era? Senti uma
súbita vontade de estilhaçar o seu pescoço, de arrancar o seu coração sem o mínimo
de piedade, de sugar todo o seu sangue.
Num acesso de completa raiva fechei o punho e atirei um soco gigantesco a
parede. Mas, que raio! Aquele homem iria pagar por estar a atormentar-me desta
maneira. Ninguém jogava contra mim daquela maneira. Ninguém atormentava a
minha mente assim e invadia o meu espírito!
Pan esteve ausente durante toda a amanhã, e enquanto ela não voltava eu resolvi
sair do meu quarto. Abri a porta e percorri o corredor, parei em frente ao quarto de
Sheftu e vi-o um pouco desarrumado e nenhum sinal dela. Continuei em frente e vi
o quarto de Sam com a porta entreaberta, empurrei com um só dedo e não vi
ninguém lá dentro.
― Estranho…
Entrei no quarto de Samantha e carreguei no botão para esfumar os vidros, o sol já
estava cada vez mais forte. O quarto de Samantha continuava intocável, apenas
reconheci algumas roupas em cima da cama – nomeadamente o vestido que sujara
momentos antes – e sapatos por ali caídos. O meu olhar desviou-se para o aquário
onde estava o grande escorpião de Samantha e não pude deixar de observa-lo
enquanto caminhava sobre as rochas. Senti uma vontade imensa, de ter um daqueles
ferroes para poder espeta-lo em Dean assim que o visse.
Saí do quarto de Samantha fechando a porta atrás de mim, percorri o corredor com
o meu roupão vermelho a esvoaçar atrás de mim. Quando me aproximei das escadas
lembrei-me da dor passada ali a bocado, reparara que as manchas de sangue
deixadas pelo meu ferimento tinham sido limpas. Agarrei-me ao corrimão e desci
aquilo com a facilidade que antes me faltara, percorri o mesmo corredor passando
pelos quartos vazios de Claire e Verónica que haviam partido repentinamente.
Entrei na sala grande e um pouco iluminada, tratei de carregar no botão para que os
vidros escurecessem e logo o brilho do sol esfumou-se.
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Sentei-me pesadamente no sofá, liguei a televisão apenas por distracção e logo
retirei-lhe o som, deixando apenas a imagem de uma apresentadora a falar.
O sofá como o resto da mobília era fofo e confortável, coloquei os pés em cima da
mesa flectindo os joelhos, deixando-os a vista. Inspirei fundo – mais por hábito que
necessidade – e deixei-me vaguear pela mente vazia por si só. E, apenas uma
imagem aparecia a minha frente.
― Dean…- Repeti a mim mesma. Quando dizia o seu nome um calor subia-me
pelas pernas acima. ― Dean…
O nome não parava de ecoar na minha mente.
Daí a pouco Pan estava de volta com um sorriso nos lábios e um frasco na mão.
Fiquei a olha-la estupefacta.
― Eu sei que me odeias…- Aproximou-se de mim ― Mas, tenho um “bilhete”
para ires lá fora.
Levantei-me incrédula.
― Tens o feitiço?
― Sim. – Tirou do bolso a sua mão, mostrando um pequeno frasco com um
líquido de tonalidade verde. ― Aqui está.
Aproximei-me para pegar no frasco mas, assim que estendi a mão, Pan voltou a
guardar o frasco.
― O que foi?
Ela observou-me por segundos, parecia estar a pensar para si mesma. Vi os seus
olhos verdes cobra, brilhar com um laivo maléfico enquanto analisava-me a cada
instante.
Até que por fim, voltou a entregar-me o frasco.
― Aqui tens…
Estendeu-mo, eu segurei-o sempre com o meu sexto sentido aos berros.
Passei por ela, voltei a percorrer o corredor, subir as escadas até ao meu quarto;
Encaminhei-me para detrás do biombo de onde atirei o roupão e comecei a escolher
roupa.
Depois de encontrar roupa interior vermelha, a minha cor favorita, encontrei uma
camisa com manga ¾ preta com um decote em V e começava a procurar calças.
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Parei. Por segundos ponderei se aquela era a melhor decisão a tomar. Estaria eu a
agir de cabeça quente? Seria aquela a melhor estratégia a tomar?
Só sei que vesti as calças e sai detrás do biombo, encontrei Pan sentada na minha
cama com as pernas cruzadas a remexer no seu cabelo aos caracóis. Quando me viu
exibiu um sorriso.
― Sabes conduzir? – Perguntei.
― Claro, que sei! – Exclamou como se fosse algo óbvio. ― Porquê?
― Sinto que não consigo ainda conduzir…- Disse aproximando-me da cama. ―
Portanto, tu levas o Mustang. Eu dou-te as instruções…
― Claro…- Pan levantou-se, era mais ou menos da minha altura.
Ignorei aquela resposta carregada de ironia e cinisco. Pan irritava só pelo facto de
respirar!
Peguei no frasco que tinha deixado em cima da mesa, e observei o líquida verde.
― Quanto tempo?
― Deve dar-te para umas boas horas…- Disse segura de sí.
Ergui uma sobrancelha super desconfiada.
― Tens a certeza?
― Se não quiseres…- Estendeu a mão na minha direcção. ― Podes devolver-mo.
Deixei aquela boca passar, não tinha paciência para chatear-me com ela. Tomei o
pequeno frasco entre mãos e tirei-lhe a rolha. Levei o frasco ao nariz, por mais que
pareça, até tinha um cheiro leve e enigmático.
― Que cheiro é este?
― Isso interessa?! – Perguntou Pan um pouco impaciente. ― Bebe!
― Okay...
Ia levar o frasco a boca quando Pan ergueu a mão.
― Deixa-me so salienter, o quão má ideia isto és e como o Eric não vai ficar
satisfeito...- Disse ela.
Não liguei ao que ela disse. Eu era senhora de mim mesma e não precisava de
amas secas. Se Eric ficava incomodado, paciencia. Eu é que não podia deixar-me
derrotar facilmente.
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Bebi o líquido esverdeado, que com muito espanto, não sabia a nada mas deixava a
boca muito seca. Deixei o “não sabor” assentar na minha boca e olhei para Pan.
― Nota-se alguma coisa? – Perguntei irónica.
― Só há uma maneira de descobrir…
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EP24-“That kind of Death” By Sheftu
Tinha em minha mente a dor que deveria ser morrer pelo sol, corri até que dei conta
que nada sentia, nada de dores nem queimaduras. Estava plenamente normal, sem nada
de diferente.
- Mas como?! – Bufei, olhando-o a seguir-me com um olhar vitorioso.
- Sabes que eu te conheço melhor do que qualquer ser que tenha existido nesta terra e
que poderá existir. Certifiquei-me que ficarias em segurança, mesmo de ti! – Sorriu com
seus lábios a se alegrarem profundamente, indo de encontro a mim, tentando se
aproximar mais.
- NÃO TE APROXIMES!!! AFASTA-TE DE MIM!!! – Comecei a andar para trás,
tentando escapar dele, a minha pior guerra... De todos os tempos, o meu pior pesadelo.
Sim, ele me conhecia, mas como e porquê?
- Tem calma, não te vou fazer nada do que não queiras... Deixa-me ajudar-te... –
Estendeu a sua mão para tentar alcançar-me, dei mais passos para trás e perdi o
equilíbrio. Ele rapidamente me apanhou, me abraçando e ficando apenas a uns meros
centímetros de mim...
- Deixa-me em paz! – Comecei a abanar-me para tentar me libertar, mas quando mais
me abanava mais ele se juntava para que não pudesse ter forma como escapar.
- Sabes que não é assim tão simples... – Ele serrou os lábios e fechou os seus olhos por
uns momentos, tentei me libertar de novo e acabei por conseguir fazer com que ele
perdesse o equilíbrio, caindo junto a mim para a fonte que estava bem atrás de mim. –
Isto era totalmente desnecessário. – Seu tom seco fez-me observar a sua face, que
olhava profundamente para mim, para meus olhos que agora fitavam os dele também.
Sua expressão era completamente desconcertante, não via a hora da sua morte. Apesar
de que agora queria saber porque o sol não me tinha queimado até à morte, mas seus
olhos me faziam pensar noutra coisa, me faziam lembrar dum tempo que nunca tinha
tido... Precisava urgentemente de me livrar desta sina que teimava em perseguir-me sem
qualquer razão aparente.
- Agora podes deixar-me? Já tens o que querias?
- Não, ainda não tenho o que eu quero. – Seus olhos ainda não tinha saído dos meus
nem por um segundo, sai voz tinha sido o firme o suficiente para que eu não tivesse
qualquer dúvida: Ele era determinado. Detestavelmente curioso.
- Então o que queres? – Tentei aparentar tanta firmeza como a dele, mas não estava a
pensar claramente neste momento. Talvez pelo sol, sei lá...
- Vais dizer-me que não sabes o que eu quero? Se não sabes então trata de descobrir
por ti mesma, não vais arrancar nada daqui. – Sorriu alegremente ao ver a minha cara de
espanto, já chegava. Fartei-me. – Onde pensas tu que vais? – Segurou-me de novo junto
a ele, tentando fitar o meu olhar de novo, segurando meu queixo para que pudesse ver
claramente. – Tu sabes muito bem que não irás a lado algum. Nem a morte te levará de
mim, jamais.
- Como podes ter tu tanta certeza disso?
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- Tratei de ter a certeza. Nunca morrerás ao sol, estacas raramente te farão muito mal,
apenas umas dores leves e pouco mais e quando às dentadas da minha cunhada, estás
livre de morrer...
- Como é que isso é possível?! Que me fizeste?!
- Nada que precises de saber. Isso é comigo. – Fez um sorriso torto e largou-me,
levantando-se e estendendo a sua mão para que eu o acompanhasse, me levantei sozinha
e comecei a seguir o meu próprio caminho. – Onde pensas tu que vais?
- E quem pensas tu quem és para me perguntares tal coisa?!
- Talvez sou a única pessoa aqui que não se tentou suicidar hoje, por isso faça favor de
seguir comigo!
- Quem pensas tu quem és?! – Dei por mim junto a ele, lhe segurando o pescoço com a
minha mão, a apenas uns segundos de o estilhaçar totalmente... E ele nem se movera um
passo sequer, sorria a olhar para a minha expressão de indignação.
- Assim já gosto mais... Vamos então? – Segurou minha mão com as suas e tirou-a
subtilmente do seu pescoço, rodeando-a com a sua, tentando entrelaçar as mãos.
- Não, não vamos. Larga-me a mão faz favor!
- Mas não sou eu que estou a agarrar-te. – Sorriu alegremente pelo que acabava de
pronunciar em voz alta, se eu pudesse tinha corado. Mesmo assim a minha mão teimava
em não fazer o que eu queria. – Então querida, problemas? Colou a mão? Chega-te a
mim, que ficamos a espera que descole. – Dizendo isto começou a gargalhar e a
aproximar-se, eu queria me mover mas não tinha como, meu corpo não respondia a nada
que eu queria.
- Piacerebbe essere fotografata con i paesaggi più belli del Vaticano? – Disse um
fotógrafo que tentava convencer-nos a tirar fotos pelas paisagens do Vaticano...
- No, grazie per la vostra simpatia. – Não deixaria com toda a certeza a possibilidade
de estar junto dele por muito tempo, teria de escapar daqui o mais rapidamente possível.
- Oh, amor, não sejas assim para o homem. Deixa lá que ele tire alguma vantagem da
nossa passagem por cá. Afinal de contas não é todos os dias que tiras fotografias, visto
que nunca tiraste nenhuma.
- Talvez porque não quero qualquer prova da minha existência deste mundo, mas nem
sei porque estou a falar contigo! És horrível!
- Não querida, somos os dois horríveis. Não vês, ficamos tão lindos juntos. É só amor!
– Abraçou-se mais a mim e virou-se para o fotógrafo, respondendo-lhe antes que
pudesse desistir de nos cravar algum para se alimentar. - Spiacente, mia moglie, lei è un
po 'di temperamento. Mi piacerebbe a decollare le nostre foto, ma anche voluto prendere
la macchina. Pagare ciò che si desidera per esso.
- Tinhas que dizer uma coisa dessas! Eu digo-te o temperamento... Afinal para que lhe
vais comprar a máquina? É ridículo.
- Tu não querias a tua imagem espalhada pelo mundo, por isso terei essas fotos para
mim. Depois também terás as tuas...
- Não quero isso para nada... Se me mandares algumas eu queimo-as.
- Sim. Claro querida... É mesmo isso que vais fazer. Se não te conhecesse até que
acreditava.
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- Mas quem disse que me conheces?!
- Eu. E eu te conheço. Vá, não vamos fazer esperar o homem. Venham lá as
recordações! – Sorriu subtilmente com o seu sorriso malvado de sempre, misturado com
um certo tom de vitória. Matar este homem só para que me livrasse de Eric apenas iria
trazer bastantes atenções, e Samantha já tinha trazido atenções que chegassem...
Que cruz esta que vou carregando sobre mim... Quando acabarei com tudo isto? Teria
de arranjar rapidamente um plano para que tudo pudesse voltar ao normal...
Não há nada que mais deseje do que o ódio e a ira que me consomem a toda a hora se
torne presente no mundo, despedaçando todo e qualquer homem. E porque os homens
são incomparáveis, por serem uma raça de escumalha bem baixa, devem ser erradicados
da vida e tornarem-se momentos do passado. Não há nada melhor do que ver o terror do
ser humano a nascer de seus olhos, crescendo e se tornando realidade a cada nova morte
que vou criando. Porque a arte de matar pelo horror nunca morrerá, porque a arte de
matar é perfeita, ceifando vidas desprezíveis e ignorantes.
- Onde é que eu estou?! – Disse levemente ao abrir meus olhos e a observar Eric
sentado numa poltrona em minha frente. Olhei em volta e vi um quarto, plenamente
normal, com uma janela grande para uma vista que certamente não fazia parte de
Moscovo, nem do Vaticano...
- Estás em minha casa. – Disse ele serenamente, continuando a observar-me.
- E posso saber onde isso é? Será muito difícil responder?
- Não necessitas de saber mais nada além do que eu te disse. – Seu tom cordial
começava a enervar-me. Quem é que pensa ele que é?!
- Não podes ser mais prestável e deixar-me em paz? – Tentei usar a lógica, já que ele
tanto me tenta ajudar a não morrer, poderia ajudar a livrar-me dele. Era simples e
perfeitamente racional.
- Eu o faria caso o desejasses, o que não é o caso. – Deu um sorriso torto e ergueu-se,
seguindo rumo à varanda. Eu segui-o por instinto, eu tinha de o convencer de que estava
errado, eu não o queria.
- Mas eu não te quero, quanto mais longe estiveres melhor!
- Então olha para isto... – Disse, fitando o labirinto que estava mesmo em frente à
varanda em que agora estávamos, continuando – Sheftu, tu és tal como este labirinto,
por mais que não queiras te afastar de mim, acabarás sempre a chegar ao mesmo. Tal
como se entrares no labirinto chegas sempre ao seu centro, por mais voltas que dês,
acabarás por encontrar o seu centro. E podes não me querer, mas me desejas. Por mais
que negues a ti mesma...
- Então e onde queres chegar com esta conversa parva? – Quanto mais rápido metesse
tudo em pratos limpos mais facilmente me livraria dele.
- Olha para mim... – Falou levemente, à espera que eu cedesse ao seu pedido.
- Para quê? – Respondi rispidamente.
- Olha para mim de uma vez por todas! – Desta vez o seu tom sereno tinha-se diluído
em raiva. Perfeito, que se vá embora então.
- Não preciso de olhar para ti. Preciso apenas que desapareças da minha vida.
- Então vamos ficar assim? – Suspirou ele.
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- Assim como? Nós não ficamos nada, porque eu me vou embora e tu ficas cá.
- És simplesmente chata sabias? – Disse, talvez mergulhado em pensamentos, pois a
sua voz estava tão baixa que não sabia se era para eu ouvir. Senti uma pressão no meu
queixo tão rapidamente que quando dei por mim já estava com os olhos dele colado aos
meus, tamanha a fúria e a raiva que sentia neste momento, tamanha a profundidade,
tamanho o ardor...
Comecei a piscar os olhos, e parecia que seus olhos me tinham congelado a alma e
todo o meu corpo tinha seguido o mesmo caminho, eu queria recuar... Meu corpo não
deixava-se mover para longe deste hediondo homem.
- Podes largar o meu queixo? – Tentei proferir as palavras o mais coerentemente
possível. Estava com uma certa dificuldade em pensar. Talvez estivesse drogada, não
sei...
- Não... Estou aqui a meio de uma coisa... Hum... Por onde começo...
- Começa por desaparecer, pod... - Minhas palavras foram cortadas pela sua respiração
que se aproximava de mim, impedindo que meu olhar se distanciasse, deixando que
nada mais fosse sentido a não ser o seu olhar, a sua respiração e o seu corpo que agora
se juntava ao meu.
Eu queria que ele me largasse, queria que eu o deixasse... Meu braço segurava o seu
pescoço para que não pudesse escapar de meus lábios, enquanto o outro rasgava
ferozmente qualquer traço de roupa que houvesse entre a sua pele quente e minha mão.
Suas mãos apertavam minha cintura para mais perto dele e do seu sentimento sobre tudo
isto, provocando-me um bufar meio rouco antes de saltar e rodear-me em seus quadris...
Rapidamente entramos para o quarto demasiado quente, demasiado pequeno, demasiado
dele... Atirou-me agilmente sobre a sua cama, sorrindo e mordendo maliciosamente o
seu lábio inferior. Ergui-me e puxei-o para cima de mim, para que tomasse o cálice,
para que esta fosse a sua última acção antes da sua morte.
Ouvi uns passos bem de perto da porta, uma batida também... Eric barafustou alguma
coisa entre respirações e continuou a beijar-me e a aproveitar cada momento, cada parte
das nossas peles se cruzavam agora, misturando o calor com o frio, sendo
absolutamente trevas sobre a luz que provinha da janela. Mais uma batida, desta vez
com mais força...
- Vai embora! – Berrou Eric, sorrindo de novo para mim e segurando meu rosto com
suas mãos, observando-me por uns breves momentos até que se ouviu outra batida,
novamente mais forte e agonizante.
Rapidamente me ergui, deixando Eric pelo chão, abrindo a porta e observando um
homem de média estatura a olhar para mim de queixo caído, não pensei duas vezes,
arranquei-lhe fora o coração com a minha mão direita e empurrei o seu corpo em
direcção a Eric e corri sem parar... Precisava de ir para longe, de ir para bem longe...
Enquanto corria com o coração daquele homem, me surgira na mente cada sensação
pelas quais acabara de me deixar viver. Seu cheiro em meu corpo ainda se fazia notar,
ainda conseguia sentir cada parte da minha pele meia aquecida por ele, detestavelmente
memória que não conseguia esquecer, que me fazia querer voltar atrás para acabar com
o que tínhamos começado.
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Não me importava minimamente para onde ia, seguia uma trilha qualquer sobre as
árvores que seguiam na floresta que rodeava a casa, apenas queria ir para o mais longe
possível para que pudesse de novo voltar e matá-lo. As roupas não me faziam qualquer
falta, nunca mais as queria voltar a ter, o seu cheiro nunca iria sair delas, estaria sempre
a memória viva de toda esta merda que tinha acontecido. Eu em odiava por ser tão
estúpida, tão estúpida ao ponto de me deixar ir e dar-lhe tudo menos a sua morte. Ele
merecia morrer, ninguém jamais será vivo enquanto tentar mexer assim na minha vida,
ele era toda a encarnação do ódio em mim. O diabo feito homem, aquele que ousara
tocar-me e sorrir de vitorioso. Sua morte seria a última coisa que eu faria, mas um dia
acontecerá!
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EP25- “The Dark Angel is Back” By Samantha
- Já perguntei! Quem é que está aí.
- Eu, bem… – O que raio ia fazer agora ainda nada estava esclarecido. Como ia dar a
volta a este idiota.
- Fale!
- Escusa de me estar a gritar comigo! Eu estou aqui porque… – Não sabia que
desculpa inventar por isso achei melhor acabar logo ali com o caso e desaparecer o mais
depressa possível. Nesse instante alguém apareceu por trás de uma gigantesca estante.
- Liev. O que pensas que estas a fazer? Parece-me que estas a assustar a minha
convidada.
- Peço desculpa senhor. Eu não fazia ideia e como ela não me respondeu eu julguei
que tinha entrado à socapa.
- Não nada disso. – O vulto aproximava-se cada vez mais sem sair da sombra. – Podes
ir eu fico com ela a partir de agora.
- Com licença então.
Afastou-se de mim e saiu pela porta mais próxima.
- Samantha, Samantha… Já encontraste o que procuravas? Ou ainda te falta algo?
- Como e que sabes o meu nome?? – Levantei-me rapidamente para tentar entender
como é que aquele estranho sabia o meu nome.
- Continuas na mesma. Já não sabes com quem falas?
- Aparentemente não. – Disse disfarçando o meu nervosismo. – Quem quer que sejas
não me assustas. Só espero que não sejas um dos amigos do Ethan para me tentar
assustar. Ele já sabe que isso não resulta. Ou pelo menos já deveria saber. Ou então
pediu que viesses aqui para eu te poder matar… Também seria uma boa solução para
acabar rapidamente contigo…
- Não, não sou nenhum dos amigalhaços do Mr. Curt. Mas parece que desconfias que
ele te quer fazer algo de mal.
- Não. Ele simplesmente gosta de pregar partidas. E continua a achar que me consegue
assustar…
- Ele não. Mas eu talvez de “mate” de susto. E talvez sem arrependimentos. Porque
afinal de contas estavas a rever um dos nossos episódios de deveriam ficar bem
guardados e só para nós. Até gritaste o meu nome quando estavas nesse transe.
Fiquei ainda mais pálida do que o habitual. Os demónios na minha cabeça começaram
forçosamente a correr para o meu peito e atentar sair, arduamente, por um lugar que não
dava. E o maldito cheiro que pairava no ar estava novamente a dar-me náuseas.
- Então o que se passa? Já te recordas de quem sou?
- Cala-te. Cala-te!! CALA-TE!
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O grito ecoou por toda a sala e deve se ter feito ouvir nas outras salas. Cai de joelhos e
arfava loucamente.
- Tem calma por favor. – Ele aproximou-se mais de mim, tanto que o seu rosto estava
quase fora da sombra que o tapava.
- Não te aproximes mais!! Nem mais um passo Russian!
- Ahhh… Afinal já sabes quem eu sou…
Eu estava louca. Lívida de ódio pelo que me estava a acontecer. Como poderia ser, ao
fim de tanto tempo de espera e de procura ele estava aqui. Logo aqui onde eu nunca
esperaria tão infortúnio prazer.
Ele caminho para mim e estava muito perto quando eu levantei um braço e o mandei
para.
- Não te mexas nem mais um milímetro que seja ou podes ter a certeza que eu te ataco!
- Não precisas de ser tão agressiva. Sei que estas aborrecida mas não é necessário tal…
- Aborrecida??!! ABORRECIDA?! MAS TU ESTÁS A GOZAR COMIGO? Achas
que eu estou simplesmente aborrecida? Não… Eu estou totalmente possessa de ódio!
De raiva e de nojo de ti!
- Não precisas de exagerar querida…
- Não preciso de exagerar?! – O meu ar era de total espanto e resignação. – Tu
desapareceste sem dizer nada! Nem uma carta, uma palavra, um beijo… NADA! Nada
de nada! O que eu te procurei, o que eu sofri. Quis morrer por não te ter mais! Por achar
que já não me amavas, que te tinhas ido embora porque já não me querias!
- Samantha… – Ele chegou mais perto e colocou-se de joelhos a minha frente.
Agarrou a minha mão gélida e disse – Não foi por isso que eu me fui embora. Não
penses mal de mim.
E no mesmo instante aconteceu algo que eu nunca esperaria que me acontecesse.
Quando os meus olhos bateram nos dele foi como se uma imensa alegria me tivesse
atravessado. E os meus olhos cederam as lágrimas. Nunca em mais de 200 anos de
existência eu tinha chorado. E esperava que nunca mais acontecesse. Estas lágrimas
queimavam-me os olhos e as maçãs do rosto quando rolavam pela minha cara. Era
doloroso.
- Minha querida. – Passou as mãos pelo meu rosto limpando as lágrimas. – Sei que
queres ouvir todas as explicações mas não agora. Aqui não. Mas de uma coisa eu te
garanto… Voltei e não me vou embora, pelo menos não sem te avisar e explicar os
meus motivos, se for caso de ser necessário de voltar a acontecer.
- Odeio-te Louis. Sabes disso.
- Sei… – Beijou a minha mão e continuou. – Mas acredito que aquele amor que dizias
sentir por mim ainda perdura. Por isso peço-te por tudo o que aconteceu entre nós e pelo
que pode vir a acontecer… Não me desprezes nem me deixes a sofrer.
- É o que tu mereces!
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- Eu sei… Mas não faças o mesmo que eu fiz. Fui um imbecil. Não se vai repetir. Eu
juro.
O tempo que se seguiu foi doloroso. Eu já não o conseguia fintar da mesma maneira e
queria desesperadamente que ele desaparecesse da minha frente. No entanto, a mais
pura das verdades, é que eu amava aquele homem como nunca amei nenhum outro e
queria poder ficar com ele.
- Podes ficar. Mas não penses que te perdoo… Ainda terá muito que penar… –
Levantei-me e puxei-o para mim. – Espero que estejas preparado para isso.
- Estou. Sabes que sim. – Abraçou-me calorosamente e olhou-me nos olhos. – És a
pessoa que mais me fascinou até agora, sabias? E tu sabes que eu já conheci muita
gente.
- Sim, eu sei. Mas não entendo esse tal fascínio – disse-lhe ironicamente – E porque
afinal me dizes isso agora.
- Achas que esta é a altura ideal para falar Samantha?
- É a altura perfeita como qualquer outra.
- Não queres aproveitar para ires ver sobre o que andavas a procura?
- Na realidade… Não.
- Como não? – Ele ficou muito espantado com a minha reacção. – Não queres saber
mais nada?
- Por agora não. Mais tarde procuro. E tenho de falar com uma pessoa que
recentemente descobri que era da minha família.
- Outro Saint?
- Sim outro Saint! – Disse entre gargalhadas. – Mas fala lá porque estás assim tão
fascinado.
- Persistente a rapariga!
- Mulher.
- Sim, mulher. – Ele riu. – Porque… Adoro aquilo que és. És linda por fora e por
dentro. És amorosa, és carinhosa, és adorável… E sinceramente… Adoro esse teu lado
possessivo. – Brincou com os meus cabelos e eu olhei-o com ar de gozo pelo que ele me
disse.
- Fala a serio!
- Mas eu estou. Tu não vês pois não?
- Não vejo o quê?
- Espera.
- O que se passa?
- Não estás a ouvir? Vamos embora. Vem aí gente. Não te preocupes, saímos pela
porta da frente nas calmas. Eles não nos vão aborrecer… Fiz-me amigo de algumas
pessoas cá dentro. Se soubessem quem eu sou… – Sorriu. – Provavelmente me
deixariam andar aqui a passear!
- Calculo que não. Mas tu também sempre tiveste esse dom.
- Qual? – Franziu as sobrancelhas desconfiado.
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- De persuadir as pessoas.
Disse-o assim. Tão simples quanto isto. Ele colocou o braço a volta dos meus ombros
e do meu pescoço. Saímos sem qualquer problema. Aliás… A senhora que se
encontrava na portaria ainda disse:
- Até amanha Sr. Saint.
- Saint?
- Tinha de colocar um apelido a altura… – Sorriu-me.
Ele tinha o carro estacionado perto da entrada. E dirigimo-nos rapidamente para lá.
- Um Corvette Stingray? – Abri a boca extasiada.
- Claro. Esta beleza foi cara. Mas vale cada dólar.
- Tu és completamente louco, sabias?
- Tinha uma vaga ideia. Porém tinha ouvido dizer que tu gostavas.
- Não vás por aí!
- Pronto! Já cá não está quem falou.
Entrámos no carro e ele dirigiu como eu nunca o tinha visto a fazer. Parecia que estava
a fugir. Com muita pressa mesmo. Foram apenas 15 minutos de viagem pelo que me
pareceu. Com um silêncio desconcertante. Para mim, na verdade, sabia muito bem.
Saber que o tinha de novo comigo. Que poderia estar descansada que ele não iria a lado
nenhum. E para mim isso era o mais importante. Só desejava falar com ele o mais
depressa possível. Mas naquele pequeno tempo eu não o iria fazer. Estava a saber
demasiadamente bem aquele nosso momento silencioso.
Ele parou em frente um enorme casarão. O portão abriu automaticamente. Não estava
a acreditar no que os meus olhos viam.
- De onde vem isto tudo?
- O que é que tu achas que eu andei a fazer neste anos todos?
- Hum… Tens empregados?
- Tenho sim. Queres algo?
- Só quero saber como te tratam para eu fazer o mesmo.
- Aqui tenho o meu nome verdadeiro. Mas mesmo que não tivesse podias-me tratar
como tu quisesses.
Parou o carro e quando entramos dentro de casa veio logo uma empregada.
- Mr. Russian, deseja algo?
- Sim. Pede que tragam as roupas da madame para casa.
- É para já. - A governanta saiu e eu perguntei.
- Roupas? Quais roupas?
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- Aquelas que trazias contigo. Deixaste-as caídas no chão antes de entrares na sala
reservada. Eu apanhei-as e coloquei-as no carro.
- Imagina se eu não tivesse vindo contigo…
- Eu calculei que, mesmo chateada, viesses. – Ele simplesmente sorriu. Isso para mim
bastou.
- Então e agora?
- Agora vamos continuar a conversa que deixamos a meio. – Ele agarrou na minha
mão e puxou-me para a escadaria. Entramos numa sala que parecia um pequeno
escritório. Muitos livros e duas poltronas. - Então diz-me lá. O que queres saber.
- Primeiro, quero que acabes o que estavas a dizer.
- Quando te disse que és adorável e tudo mais?
Eu só acenei.
-Eu disse isso porque é a verdade. Tu sabes os meus sentimentos por ti, e isso faz-me
ver para lá do que se vê.
- E depois sou eu e as minhas filosofias, não é Louis?
- Sim é! – Ele gargalhou. – Tu tiras-me do serio. E isso, eu não consigo compreender.
Mexes comigo como nunca ninguém o fez.
- No entanto, foste embora sem dar uma explicação.
- Eu sei. Fui embora sem te dar uma explicação. E a única coisa que eu te posso dizer
é, desculpa.
- E não só…
- Então que mais?
- Quero saber o motivo para me teres abandonado.
- Estas a ver esta casa? Lutei para a ter. Ok, foi um tanto ou quanto roubada, mas ainda
assim é minha. E é com isto que eu desejo desde que me tornei vampiro.
- Como assim?
- Eu em humano era rico Samantha. Não que o dinheiro me atraísse muito, mas
gostava de depois de um dia cheio de loucuras de entrar num sitio ao qual eu chama-se
de lar para ter o meu repouso e depois de me ter transformado isso tudo mudou. Eu não
me controlava ao pé dos criados e matava-os sem pudor. As pessoas começaram a ter
medo de mim e eu acabei por abandonar aquela casa assim como tudo o que tinha.
- Mas isso eu sabia. Onde é que eu entro nessa história toda?
- Não compreendes? Tu és a minha fraqueza! Enquanto eu estivesse ao pé de ti eu
nunca conseguiria fazer nada da minha vida. Aquela fantasia que vivias ao qual
chamavas de amor, e eu também o sentia, no fundo era o meu pesadelo pessoal. Eu além
de vampiro sou homem. E o que eu mais queria era dar-te o que mereces e tens direito.
- E achas que para isso precisavas de me ter abandonado?
- Desculpa, mas era. Tu enfraqueces-me.
- Mas eu não tenho poderes que te possam enfraquecer.
- Na realidade até tens. Esse amor que sentes por mim e que me fazes sentir é quase
como se fosses um amuleto de azar. Mas cessasse todo o azar quando estou contigo. Tu
enfraqueces-me e ao mesmo tempo tornas-me mais forte.
- Baralhas-me mas compreendo-te.
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- Tu sabes porque é que eu fico assim quando estou ao pé de ti?
Eu calculava o que ele ia dizer mas ainda assim queria o ouvir dizer, queria sentir esse
prazer. Essa gigantesca felicidade que se ia apoderar de mim e acenei negativamente
para ele.
- Minha pequena e bela Samantha. Isto acontece porque… Porque eu amo-te.
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EP26- “I tremble for my beloved enemy” By Carmen
As portas do elevador abriram-se e a frente estendia-se o hall de entrada do hotel já
quase todo iluminado com os raios de sol a entrada. Nunca tinha reparado como as
cores do hotel se intensificavam de dia.
Pan saiu primeiro do que eu e seguiu em frente toda confiante com o seu fato preto
curto e casaco comprido de cabedal. Vi-a aproximar-se do porteiro e entregar as
chaves do meu carro para que o fossem buscar.
― Vens, Carmen? – Perguntou alto o suficiente para todos os presentes olharem
para mim como se fosse a primeira vez. De facto até era, nenhuma de nós – as
vampiras pelo menos – saía do quarto de dia. Nunca saíamos. Todos os empregados
de hotel observavam-me com um espanto disfarçado de curiosidade e até vi uma
recepcionista a pegar o telefone e a discar um numero já meu conhecido. O do
Concierge Sr. Dubois.
Lá avancei, um pouco receosa para a luz que já se afirmava lá fora. Enquanto
percorria o hall de entrada, as pessoas iam “descongelando” e voltando ao seu
ofício. Quando cheguei ao porteiro ele tambem fez-me uma vénia ao de leve com a
cabeça ai que respondi com um sorriso timido.
Pan ao meu lado continuava imponente. O arrumador trouxe o carro e Pan, recebeu
a chave, contornou o meu querido Mustang negro e ficou parada do lado do
condutor.
― Carmen! – Chamou ela. Fez-me sinal para que saísse da protecção da entrada
do hotel para o carro que ardia debaixo do sol de Inverno
Inspirei fundo e dei o primeiro passo e saí para a luz. De imediato senti o efeito,
comecei a sentir um calor que aumentava. Fiquei ali, a espera de queimar como um
fósforo quando me dei conta que, afinal, eu estava quente mas, não ardia.
Olhei para as minhas mãos, brancas como cal e levei-as a cara. Eu estava quente
mas, não ardia. Absorvi todo aquele calor saboroso que o sol transmitia para mim,
havia imenso tempo que eu não conhecia aquele brilho especial, não sabia o que era
o calor, não sabia o que era a luz. Encarei o mundo ao meu redor. Eu estava quente
mas, não ardia!
O som da buzina do meu carro fez-me despertar, logo corri para lá e entrei,
sentando no lugar do passageiro mas, nada disse.
Pan olhou para mim curiosa.
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― Estranho…- Disse ela. Eu encarei-a e vi o seu olhar curioso. ― Até pareces
mais humana! Assustador…
― Cala-te…- Voltei-me para a frente com um ar sério. - Leva-me ao hotel
D’Rouge.
Aquilo que vimos não era um hotel mas, sim um motel. Um motel mais rasca e de
baixo nível alguma vez visto em tantos anos de vampira. A fachada estava
decadente, o prédio já não tinha qualquer cor, alguns estores estavam partidos e
tortos, sem falar na placa com o nome do hotel que já nem tinha luzes.
― Queres que entre? – Perguntou Pan ao meu lado.
― Não. Dá a volta e espera por mim nas traseiras…- Agarrei o manípulo da porta.
― Não vou demorar.
Fechei a porta do carro, ao mesmo tempo que Pan partia pelo beco e virava a
esquerda. Avancei para o hotel, empurrei a porta com o pé e entrei. A decoração por
si só já era terrível, aquilo era decadente e um atentado a humanidade.
Coloquei-me a escuta e não ouvi ninguém ali, sem mais delongas, saltei por cima
do balcão e aproximei-me dos cubículos, procurando com o olhar a chave do quarto
133. Para meu espanto total, para além de ter muito correio publicitário, vi a chave
do quarto.
Voltei a passar por cima do balcão, e subi as escadas que davam para um segundo
andar. Subi cada degrau com cuidado máximo, as tábuas rangiam sob os meus pés, a
carpete tinha manchas, o papel de parede mostrava humidade e despegava-se. O
corrimão estava carcomido e faltava-lhe partes. O cenário sempre fora este até
chegar ao primeiro andar e tive uma visão do corredor; Era longo, as portas dos
quartos eram negras, com luzes de presença por cima. Mesmo sendo de dia, aquele
corredor era uma total escuridão. Quem escolheria viver assim?
O cenário não mudara até ao terceiro andar. Quando cheguei ao corredor longo e
escuro, avistei o quarto de Dean, era o último. Para lá me encaminhei com toda a
certeza e confiança de que apenas um de nós dali sairia. Ou eu ou ele. Ou um
humano ou o vampiro.
Meti a chave na fechadura e rodei-a, a porta abriu-se facilmente e eu empurrei-a
mais, para poder entrar. O quarto era degradante a combinar com o resto do hotel.
Vi uma cama de casal ainda desfeita, comida em cima da mesa ainda por acabar, a
televisão estava ligada mas sem som, e roupa por ali espalhada. Aquele era o seu
mundo; desorganizado, inacabado e silencioso.
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A porta atrás de mim começou a ranger, sinal de que se fechava e eu virei-me
logo. Fui contra a parede com violência, e encarei os seus olhos verdes de raiva.
― Estás viva…ou algo do género. – Disse ele sorridente. ― E o mais estranho, a
caminhar sob o sol…Afinal, ter bruxas como serventes sempre ajuda…
Atirei a minha cabeça para trás e desferi uma valente cabeçada, empurrando-o; Ele
cambaleou para trás e eu voltei a ataca-lo: um soco forte com a direita, outro logo a
seguir com a esquerda e um chute no estômago que o fez embater contra a cómoda e
cair de joelhos. Dean levantou os olhos com um ar raivoso e eu sorri abusadora.
― Esta é a parte em que te dás conta em que deixares-me viva foi o pior erro da
tua vida.
― Talvez não…
Num gesto rápido investiu contra mim com uma forte carga de ombro que levou-
me contra a mesa redonda onde havia a comida inacabada. O impacto teve mais
força nele do que em mim, pois vi-o agarrar o ombro direito; Eu tentei afastar-me
mas, ele foi mais rápido, segurou a minha cabeça, levantou-me e atirou-me contra a
parede com força. Antes sequer de raciocinar ele já me segurava pelos cabelos,
desferiu-me dois socos com a mão esquerda com toda a força, depois fez com a
minha cabeça embate-se contra a parede uma, duas, três vezes; Sem saber como eu
larguei-me dele e devolvi-lhe um novo soco, agarrei a sua cabeça e levei-a ao meu
joelho; Ele caiu ao chão atordoado, e eu aproveitei o momento de fraqueza, enxotei-
o uma e outra vez com toda a força. O meu pé foi atrás e enterrou-se nas suas
costelas de tal forma que as ouvi estalar e ele soltou um grito. Fiquei ali a observa-
lo, sentindo-me totalmente poderosa e forte, vi-o rastejar pela carpete suja arfando
por ar, não hesitei e pisei as suas costas com a minha bota uma e outra vez. Ele
deixou-se ficar quieto, totalmente cansado e arrumado.
Passei por cima dele, quando o meu pé ia levantar ele segurou com força,
prendendo o meu gesto. Eu caí com força na carpete, logo voltei a sentir aquele peso
em cima de mim; Fui virada de barriga para cima e encarei os seus olhos verdes tão
perto que teve o mesmo efeito que um soco no peito, mesmo assim não deixei que
me afectasse. Deixei que a cabra sanguinária tomasse controle.
― Uhm…- Disse encarando-o com desafio. ― Olha como estás crescido e forte.
Bem, diferente do que quando tinhas 10 anos, Dean.
A sua expressão mudou um bocado.
― Pensei que não te lembrasses de mim, Carmen.
― A mente é algo maravilhoso. – Observei-o bem, sangrava do nariz, da boca e
tinha um corte na sobrancelha. Sem contar com o ombro deslocado e as costelas
partidas. ― Tu estás todo partido. Parece que o bebé não tem muitos truques.
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― Tenho mais truques do que imaginas…- Ele mexeu-se em cima de mim e não
deixei de sentir um salto de emoção. Aquele movimento de quadril fora muito
provocador. ― E, não sou um bebé como pudeste sentir.
Encaramo-nos durante alguns segundos, ele com um ódio fervoroso e eu tambem.
A sua respiração contra a minha boca e eu dava por mim a adorar o seu hálito
fresco.
Vi o brilho de algo pela minha visão periférica, empurrei Dean com uma nova
cabeçada e saí debaixo dele, estiquei a mão e apanhei o que parecia ser uma tesoura
de prata debaixo da cómoda já torta. Ao mesmo tempo, Dean voltava a agarrar-me
pelo pé, puxou por mim, virou-me de barriga para cima e…ficou parado.
― Não vim aqui brincar, Dean…- Naquele momento eu tinha a ponta da tesoura
de prata encostada ao seu pescoço, mesmo contra uma veia. Dean ficara parado,
com a respiração suspensa. ― Tens duas coisas que minhas: as minhas armas e a
minha flor-de-lis. Onde estão?
Ele encolheu os ombros, baixou o olhar.
― Vieste aqui buscar os teus pertences?! A sério?
Pressionei a tesoura ainda mais.
― Cala-te! Limita-te a responder...
― Vendi-as! A sério! Como achas que comprei estas botas fantásticas? - Encostei
mais a tesoura ao seu pescoço. De repente, ao ver aquela veia a pulsar, senti vontade
de o morder. Ele reparou. ― Então, Carmen? Estás a tentada a uma gota do meu
sangue?
Eu encarei os seus olhos verdes.
― Não cheiras tão bem quanto a tua mãe e temo que o teu sangue seja tão mau
quanto o do teu pai.... – Provoquei-o. Consegui sentir um laivo de ira. Encostei
ainda mais a tesoura ao seu pescoço. ― As minhas coisas, Dean ou…
― Ou o quê? Vais matar-me? Tu não tens…
O que aconteceu a seguir, não sei como foi. Foi rápido demais. Cravei a tesoura
que, outrora estava encostada ao pescoço, mesmo no ombro de Dean. Ele berrou de
dor, ficou vermelho e as veias pulsaram ainda mais.
Controlei-me mesmo assim.
― Desculpa, interromper o teu raciocínio, Dean…- Disse com ar culposo fingido,
enquanto enterrava a tesoura no seu ombro. ― Mas, eu quero mesmo as minhas
coisas…
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― Sua cabra…- Disse ele aguentando a dor.
― Sim, muito…- Dei um giro a tesoura e ele gemeu ainda mais. Não sabia porquê
mas, aquilo tudo estava a dar-me um enorme prazer. ― Onde estão?
Ele olhou para mim, pareceu ler o que eu sentia nos meus olhos e mexeu o quadril
com vigor. Eu senti aquela sensação de soco no estômago, e ele riu-se
maliciosamente. O seu sorriso era demais, contornado por aqueles lábios carnudos
rosados…
― Segunda gaveta…da…- baixou a sua voz até um sussurro que me arrepiou toda.
― mesa de cabeceira, Carmen.
Eu empurrei logo, para depois levantar-me. Voltei a enxota-lo, e ele contorceu-se
de dor. Encaminhei-me para aquele pedaço de mobília, puxei uma gaveta e
encontrei o que procurava. As minhas armas, estavam ali paradas com os canos
paralelos, prateadas e com as minhas inscrições CM na base. As balas estavam
mesmo ao lado.
― Lindo menino…- Voltei-me para trás, vi-o agora sentado com a mão na tesoura.
Tinha um ar cansado e perdedor. ― A flor?
Ele deixou-se ficar sem responder, colocou a mão na tesoura e tirou-a. Até eu
achei aquilo um pouco arrepiante, quando a tinha de fora atirou-a para o lado com
raiva. Levantou-se lentamente ainda a cambalear devido a porrada que levara,
aproximou-se da cama. Ficou mesmo a minha frente, debruçou-se sobre a cama,
meteu a mão debaixo da almofada e tirou a minha flor.
― Aqui está.
― Porquê que está debaixo da tua almofada?
― O que posso dizer? És especial…
Mostrou o seu horrível sorriso irónico. Estendi a mão, mas ele desviou a flor do
meu alcance, agarrou-me pela cintura e puxou-me para cima da cama. Voltou a ficar
por cima de mim, iniciamos uma luta de mãos, em que ele tentava agarrar os meus
pulsos e eu tentava que ele não me apanha-se. Por fim, ele segurou os meus pulsos
ao lado da minha cabeça e aproximou-se de mim, de tal modo que eu consegui
distinguir o tom verde-claro dos seus grandes olhos.
Senti o seu corpo colado ao meu.
― Isto é tão errado…Sinto-me como se estivesse em Atracção Fatal…
― És patético, Dean! Porquê que tens…- Aí algo distraiu-me. O som de pneus, a
chiar e um carro a partir em alta velocidade. ― PAN!
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166
Fiz com que Dean saísse de cima de mim, e corri para a janela pútrida a tempo de
ver, o meu Mustang…sim, o meu querido carro a sair a alta velocidade, pelo beco e
a virar a esquerda…
Pan tinha-me deixado! Aquela cabra!
Inclinei-me para seguir a direcção do carro com o olhar e quando o fiz, senti uma
picada forte na mão. Afastei-me do parapeito e olhei para a minha mão, vi-a em
carne viva.
― Ups…- Ouvi a voz de Dean dizer com um tom de ironia. ― Queimaste-te. Isso
quer dizer que….
― O feitiço…- Disse eu ainda em choque ao ver a minha pele. ― Acabou.
Pan tinha-me dado um feitiço de pouca duração para ir na direcção de Dean e
praticamente suicidar-me. Aquela cabra!
Senti Dean mover-se em cima da cama. Ouvi os seus passos irem até a porta, e
depois o trinco. Quando me voltei, ele estava encostado com um ar esquisito.
― Isso quer dizer, que estás presa aqui.
Eu praticamente voei contra ele.
― Deixa-me sair!
Dean agarrou-me pelo pescoço, e encostou-me a parede.
― Lamento, Carmen. Mas, a única maneira de saíres daqui. É por aquela janela.
…- Olhou para a janela aberta com o sol quente a bater. ― Quanto é que apostas
que antes de chegar ao chão, viras cinza?
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167
EP27-“Your blood” By Sheftu
Corri por pouco tempo, precisava urgentemente de pensar no que fazer. Precisava de
esperar pela noite para que poucos me pudessem ver neste estado, já tinha atraído
demasiadas atenções no Vaticano e não fazia intenção de trazer ainda mais para aqui.
Levantei-me e fechei os olhos, deixei-me levar pela sensação de sentir o vento sobre
a minha pele e o sol quente que fazia com que eu parecesse mais humana, para desgraça
minha. Inspirava e expirava levemente, tentando captar o aroma da floresta que me
rodeava. Sentia-me bem e em sintonia com tudo isto que era renovado para mim, há
quanto tempo eu não sentia tudo isto? Era como se voltasse aos meus momentos de
ignorante alegria, quando a minha mãe ainda era viva, antes de meu criador germinar-
lhe a morte em seu ventre.
Sentia ainda um pouco de seu cheiro sobre a minha pele, por mais que tentasse,
sempre iria ter essa memória em mim. Um deslize, uma derrota, um pesadelo. Tentava
não senti-lo na minha pele, tentar captar tudo o que me rodeava agora, toda a Natureza,
toda a vida que agora poderia ver iluminada pela minha única salvação – o sol seria
minha arma para me livrar de Eric, caso ele não estivesse um passo a frente de mim. Se
o sol não me mataria, então haveria algo que me pudesse matar? Precisava de descobrir,
talvez se entrasse novamente no seu jogo perigoso demais para a minha mente, pudesse
retirar subtilmente essa resposta. O melhor seria mesmo matá-lo, acabar com ele. Um
jogo de estratégia e inteligência no qual estava ao mesmo nível que ele para jogar, o que
era a primeira vez na minha inteira morte que havia possibilidades de perder.
Ia-me perdendo pelos pensamentos que invadiam a minha cabeça, o quanto eu
adorava descobrir uma resposta rápida e em meu favor para este quebra-cabeças. Mas
eu estava novamente forte, aquele sangue que bebera me tinha permitido voltar ao
normal... Era a altura ideal para o matar, só tinha de arranjar uma forma bastante
dolorosa de o fazer.
Ouvi uma pulsação bem conhecida de longe, rapidamente se aproximando de mim,
fazendo com que um sorriso surgisse em meu rosto. Não tinha nada preparado, porém a
sua morte viria tão lenta e dolorosamente que o tempo se tornava eterno até que
chegasse perto de mim. Este seria o último jogo dele.
- Estás aqui à minha espera? Não devias de estar já a quilómetros de distância?
- Não meu querido, eu decidi desistir de fugir e entregar-me a ti completamente... –
Meu sorriso resplandeceu e eu vi a sobrancelha dele erguer ligeiramente enquanto
colocava seus braços nos seus quadris.
- O que tens na manga, diz-me...
- Não sei se reparaste meu caro, eu não tenho mangas... – Ele fitou-me com uma
expressão indecifrável, olhando de cima a baixo, esperando que eu fizesse alguma coisa.
Extremamente inteligente e astuto, merda!
- Sim, claro que reparei. Também reparei no meu empregado que atiras-te para cima
de mim antes de saíres disparada. Sujaste-me, sabias?
- Oh, que pena... E tinhas de mudar a roupa antes de me vir raptar de novo?
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- Sabes como é, sempre do bom e do melhor para a minha esposa... – Piscou-me o
olho e começou a rir-se, tinha perdido a noção do que é aceitável.
Aproveitei o momento dele de descontracção e agarrei-lhe os dois braços, impedindo
que ele fugisse ou tentasse alguma coisa, alcancei o seu pescoço com a minha mão
direita, marcando assim a sua sentença para ainda hoje. Mas ainda não era a hora de o
matar, ainda podia jogar um pouco com ele antes que sua vida fosse simplesmente
tirada por aquela a quem ele tentava tornar um inferno. Seria a primeira justiça que faria
em minha vida, e esperava que fosse a última. O mundo seria melhor sem ele, não há
espaço para ele no mesmo universo que o meu.
- Eu bem sabia que iria sair alguma coisa como esta... – Seu sorriso se tinha tornado
numa expressão séria, sua voz falava suavemente. – Apenas gostava de te aconselhar
vivamente a não fazeres o que tens na mente. Não é por mim que o digo, o melhor para
ti é não prosseguires...
- O melhor para mim?! O melhor para mim é que desapareças da minha vida, isso
sim! E já que não o fazes por conta própria, resolvi dar-te uma pequena ajuda. –
Suspirou, murmurando algo e serrou seus dentes. Não tinha entendido ao certo o que ele
tinha dito, se é que tinha dito algo... – O que foi agora? Estás finalmente com medo?
- Simplesmente não me ouves... Se é isso que queres, vai em frente então! – Suspirou
uma segunda vez e olhou directamente para o meu olhar, seu tom carregado de
confiança me fazia recuar um pouco. Havia algo que não estava certo...
- O que tens na manga desta vez? Que irá acontecer?
- Se nada fizeres a não ser o que te peço, nada acontece... Deixa-te de criancices e faz
o que é melhor para ti. – Abriu mais os seus olhos em busca de algo que eu não fazia a
mínima ideia do que era... Sorriu levemente e esperou mais um pouco, como se tivesse
noção das dúvidas que me assaltavam o pensamento, mas isso seria impossível. – Vejo
que começas a entender o que é melhor para ti...
- O que queres tu dizer com isso? Sinceramente acho que conseguiste fugir de um
manicómio e agora meteste na cabeça que eu sou o teu novo brinquedo. Mas falta algo
nessa tua forma de ver, EU NÃO SOU NENHUM BRINQUEDO!!!
Voltei-me para seguir o meu rumo, já não havia mais nada a dizer, agora era a hora
em que o deixaria vivo. Se ele fosse inteligente se afastava de mim, se não o fosse, o
meu ódio acabaria por o matar....
Senti a sua mão a envolver o meu braço, fazendo-me voltar de novo para ele,
impedindo-me mais uma vez de me ir embora. Seu rosto estava severo, e sua mão
também o demonstrava, mas estava firme. Não entendia minimamente nada disto, nem
queria na realidade entender... Talvez a resposta fosse aquela a que eu nunca quereria
encontrar. Sorriu para mim e largou meu braço, como se eu fosse apenas um rato de
laboratório que estava a ser testado. Não ia ficar perto dele nem mais um segundo, desta
vez correria, não ia deixar que ele me apanhasse. Eu estava mais forte, corria bastante
depressa para a idade que tinha... Sorri, ao pensar na minha idade... Uma perfeita
múmia, digna de ser o inferno no mundo.
Embati num tronco? Fiquei meia zonza com o embate, mas não tinha caído, algo me
segurava. Quando meus olhos se abriram e observei o tal objecto que se tinha embatido
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contra mim, bufei discretamente e tentei afastar-me sem grande sucesso pois suas mãos
me seguravam os quadris e seu rosto estava a poucos centímetros do meu. Seu sorriso
provocador respirava sobre a minha testa, um tom quente que se prolongava para todo o
meu corpo deixando-me completamente desamparada perante toda a irracionalidade que
começava a passar pelos meus pensamentos...
- Assim já começo a gostar... – Sua voz enrouquecida viajava pelos meus ouvidos
como música, como se nada mais houvesse a fazer a não ser embalar-me e deixar que os
momentos se passassem, que os erros fossem cometidos. Mas eu não podia permitir que
o meu corpo obrigasse a minha mente a sucumbir perante o ser mais odioso, o pior
pesadelo de sempre... – Talvez seja a hora de deixarmos os pensamentos para depois, há
algo mais importante a ser feito...
Seu sorriso se desaguou em meus lábios, ordenando fidelidade aos seus movimentos,
arrebatando todo o meu corpo para si, esbarrando-me contra uma árvore fria, deixando-
me cercada de desejo...
Minhas mãos tinham ganho vida própria, minha mente estava completamente
desnorteada a cada nova pele descoberta, a cada novo movimento em sincronização
completa entre nossos corpos. Seu perfume mais uma vez se entranhava em mim,
deixando-me perdida algures pelo inferno, fazendo com que o calor se tornasse infernal
ao longo da pele que ia descobrindo lentamente e cautelosamente dele...
- Afinal não é assim tão complicado pois não? – Segredou Eric no meu ouvido,
deixando meus lábios abertos e alcançando rapidamente meu pescoço, mordiscando
lentamente, beijando com doçura e calma...
Voltou novamente para os meus lábios enquanto eu alcançava todo o seu ardor e
resgatava todo o seu corpo apenas para mim. Nossos beijos calmos e lentos rapidamente
começaram a aumentar o desejo, passando rapidamente para apertos loucos de paixão e
total loucura... Senti meu pescoço a ser apertado contra os seus lábios, sendo sugado e
mordiscado com suavidade, fazendo com que tudo em mim perdesse o total controlo,
fazendo com que meu corpo fosse dele, deixando que tudo seguisse rumo ao infernal
desejo que se acentuava cada vez mais...
Meus dentes se juntaram ao seu pescoço, ainda ele beijava fortemente o meu,
pedindo sem qualquer pudor que seu sangue fosse meu, que tudo fosse meu. Seu sangue
suavemente me molhou a boca, quente e doce, criando em mim uma enorme vontade de
o embeber sem pudor...
Passava suavemente sobre a minha garganta, apurando ainda mais o seu cheiro em
mim, deixando que meu corpo começasse a ceder lentamente, tirando de mim as forças
que necessitava para beber mais e mais desse cálice, quão saboroso, sublime, irreal!
Senti algo a puxar-me para perto de si, meus braços já não o rodeavam, seu pescoço
tinha fugido de minha boca, queria mais... Queria mais! Tentei puxá-lo de novo mas não
o conseguia, por mais força que fizesse, por mais desejo que tivesse, nada conseguia
fazer...
- Eu devia ter calculado... – Ouvi ao de longe uma voz agressivamente irritada,
sentindo o meu corpo a ser elevado, apenas deixei que me levassem... Preferia morrer
logo de uma vez, tudo ISTO NÃO ERA O QUE EU QUERIA! Por mais que meu corpo o
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desejasse, eu o odiava com todas as minhas forças, ou era isso que eu queria acreditar...
Um inferno de desejo e loucura, um enorme mar de ódio e morte. Eu um dia o mataria,
isso era o que iria acontecer, por mais que tudo se invertesse... Ele morreria, tinha de
morrer...
Sentia meu corpo quente, rodeado por quem eu certamente não queria nem pensar no
nome... Mal eu recuperei os meus pensamentos, comecei a vaguear no que se tinha
sucedido. Fenomenalmente caótico para mim, demasiado avermelhado para toda esta
situação. Seus lábios começaram a beijar a minha testa, aquela que se encontrava
amparada pelo seu peito, demasiado perto do seu pescoço, demasiado perto da sua
pele... Talvez pudesse permanecer um pouco quieta, antes que voltasse novamente à
realidade: Ele era um alvo a abater...
Movi minha cabeça, deslocando todo o meu corpo ao desencontro do dele, abrindo
os olhos e vendo-o ali, ainda sem roupa, observando-me atentamente... Estaria a
procurar algum sinal de fuga, talvez me conhecesse o suficiente para saber que eu não
escaparia, não agora... Como a raiva e o ódio podem transformar-se em algo tão caótico
para mim?
- Podes abrir os olhos, que eu não te mordo por me teres dado uma dentada... – A sua
suavidade me fez observá-lo, sorridente e confiante, como se soubesse da trama que se
passava... Uma guerra eterna entre mim e meu corpo. Estava fraca de novo, do que teria
sido? Algo que ele me tinha dado ou do seu sangue?
- Porque me sinto mal? Vais voltar a enfraquecer-me para eu não fugir até muito
longe?
- Não comeces por aí... Fizeste isto a ti mesma. – Sua mão tentou alcançar a minha,
mas eu a afastei... – Eu tentei te avisar, mas já sabes que não me ouves... Deixa que as
coisas sejam o que são...
- NÃO! – Gritei rapidamente, fechando os meus olhos e os segurando com toda a
força com as minhas mãos.
- Está certo... Se não queres aceitar a verdade, ela um dia chegará a ti. E eu tenho
tempo para que isso aconteça. – Eu não fiz menção de me mover sequer um passo e o
silêncio apoderou-se, deixando que cada momento se tornasse ainda mais doloroso a
passar... Parecia que a teimosia não era apenas uma característica minha, ficaríamos
eternidades aqui sem grandes dificuldades...
- Desculpe interromper senhor Manen, mas tenho aqui ao telefone o senhor
Humbert... Ele diz que é urgente, não sei se quer atender ou... – Tinha entrado uma
criada, com um telefone na mão, tinha erguido o meu olhar perante ela, seus olhos me
fitaram com serenidade e sua boca bloqueou aberta, mas sem medo.
- Sim, sim... Eu atendo... – Respondeu-lhe, esperando que ela viesse ao seu encontro
para receber o telemóvel. Mas pelo que me parecia, ela não se moveria por uns tempos,
parecia petrificada. Eric também deve ter tirado a mesma conclusão pois rapidamente se
levantou, pegando na mão dela e ouvindo tudo o que saía do outro lado. Não disse mais
nada, sua expressão já dizia o suficiente, algo que não gostava mesmo nada de saber
tinha acontecido...
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- Sabes o que se passa? – Levantei-me e aproximei-me da empregada... Cruzei os
braços à espera que aquela mulher acordasse do choque e me respondesse.
- Não, minha senhora... Permite-me que lhe pergunte algo? – Demorou cerca de uns
cinco minutos até conseguir dizer algo, mas seus olhos se abriram e finalmente teve
coragem para abrir a boca.
- Podes perguntar o que quiseres... – Respondi sem grande entusiasmo, mas
disfarçando com um sorriso meio fechado.
- A senhora é descendente da Madame dos quadros de família do Senhor Manen?
- Que quadros? – Perguntei levemente, apesar de estar repleta de curiosidade não
queria demonstrá-la.
- Eu posso jurar que você se assemelha à Madame... Poderia até jurar que eram a
mesma pessoa, não fosse ela já ter existido há alguns anos...
- Podes mostrar-me esses quadros? Estaria muito grata se me mostrasses...
- Claro senhora, siga-me...
Mas que vinha a ser isto?! Quadros parecidos comigo? Como poderia ele ter tal
coisa?! Eu nunca na minha morte, há mais quatro mil anos, pousei para um quadro
sequer. Não há qualquer registo de mim que não seja completamente apagado depois de
deixar de necessitar dele. Era impossível que tal coisa existisse, a empregada devia de
ter visto muito mal aqueles quadros. Também não importa, eu acabaria por vê-los com
os meus próprios olhos. Descobrir a verdade, sempre...
Estava quase a sair da porta, para segui-la, quando ela recua, voltando-se de novo
para mim e olhando-me com um pouco de surpresa.
- Minha Senhora, você não se irá vestir antes de sair deste quarto?
- Ah, claro! Nem tinha reparado... Não sabes onde podem estar as minhas roupas
pois não? – Como era óbvio, já nem me lembrava que não estava vestida... Também
não era algo que me importasse muito.
- Creio que as suas roupas foram para o lixo. Estavam um pouco degradadas, o
Senhor Manen nos pediu para providenciar novas roupas para si. Estão todas no
armário, ao lado das roupas dele... Pensava que estava ao corrente das mudanças... –
Seu olhar inquiridor não me importava minimamente perante as coisas que acabava
de ouvir. Ainda bem que agora tinha conhecimento dos seus planos, assim já estava
pronta a os contrariar. Não viveria aqui com ele por nada, preferia a morte total, caso
a conseguisse.
- Sim, apenas não estava ao corrente das novas roupas... Pensava puder ir buscar as
minhas à minha casa anterior, mas pelo que parece Eric tem outros planos para mim...
A minha resposta pareceu deixar a empregada satisfeita, por isso segui rumo ao
armário, para retirar algo que me servisse para ver os tais quadros. Deparei-me com
imenso vestuário de senhora: vestidos e casacos pendurados, camisolas, calças e...
Lingerie?! Fechei os meus olhos por uns breves momentos, com que então ele estava
a tentar tomar conta da minha morte...
Vesti algo confortável, as primeiras calças de ganga que me apareceram à frente e
uma camisola de cor vermelha. Toda aquela roupa apostava forte em decotes
arrojados e provocantes. Simplesmente ridículo, supostamente ele saberia o que eu ia
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achar de tudo isto, visto que diz que me conhece. Não tem qualquer direito de mandar
em mim, muito menos me fazer como refém pela eternidade! Era louco,
completamente...
- A senhora tem a certeza que não quer levar um casaco? Está um pouco frio, não
pode adoecer... – Questionou-me preocupada, eu não consegui não sorrir... Uma
vampira apanhar doenças... Sim, eu andava doente, mas essa doença não se apanhava
e a cura era apenas uma...
- Eu estou bem, leva-me à sala de que me falaste...
- Certamente senhora...
Depressa chegamos ao nosso destino, a rapariga tinha um pouco de receio ao abrir
a porta pois com certeza calculava que o que eu fosse ver se tornasse um choque para
mim. Sinceramente, já espero tudo deste homem. Ridículo, conhecer-me totalmente e
eu não recordar-me minimamente dele. Mais cedo ou mais tarde acabaria por
descobrir quem ele era e algo me dizia que atrás desta porta saberia essa resposta.
Instinto ou não, a verdade virá ao de cima.
- Não consegues abrir a porta?
- Não, minha senhora... Esqueci-me de lhe referir que apenas o Senhor Manen tem
a chave para esta sala. – Baixou a sua cabeça, envergonhada por se ter esquecido
desse PEQUENO pormenor.
- E não sabes onde ele guarda a chave?
- Creio que o Senhor a usa sempre, é estritamente proibida a entrada...
- Então como sabes sobre os quadros? – Pensei que uma resposta que parecia
parva para mim pudesse retirar mais informação útil desta mulher, talvez tenha sorte,
talvez não me diga nada de importante... Mas pelo menos retiro alguma informação
dela antes que ela deixe de existir, e creio que pudesse ser mais perto do que ela
julgava...
- O Senhor permite a minha entrada apenas para limpar, quando ele está por casa.
- Está certo... – Fiquei uns momentos a pensar. Sim, uma resposta desnecessária.
Havia muitas formas de ver os quadros... Podia arrancar a porta fora num instante,
mas não queria assustar a mulher.
O meu sorriso alargou, começava a formular uma ideia simplesmente deslumbrante,
completamente entusiasmante... Seria a última vez que estaria nesta casa, disso podia ter
eu certeza!
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EP28- “His Fucking Dream” By Samantha
Fomos para o quarto e a contrario do que se podia esperar dormimos. Não durante
muito tempo pois acordei com o Louis aos berros.
- Que raio se passa contigo? Porque estavas a gritar?
- Não é nada querida. Só um pesadelo…
- Só um pesadelo? Disseste que ias ser sincero comigo portanto começa a desenrolar
a língua. Porque é que estavas a gritar?
- É uma longa história.
- E eu curiosamente tenho uma eternidade para te ouvir.
- Por favor Sama…
- Nem por favor nem meio por favor, fala de uma vez.
- Não vais desistir pois não?
- Ao menos tens a consciência que não.
Ele olhou para mim um pouco abalado, e por um segundo estive prestes a ceder, mas
algo me fez acordar e deixar que ele começasse a falar. E o que eu ia ouvir era algo que
eu nunca esperaria…
- Eu, como tu bem sabes por que sofreste na pele isso, desapareci durante estes anos
todos. Mas não foi só isto que eu consegui. Adquiri conhecimentos e passei por
experiencias que te iam deixar com os cabelos em pé. – Fez uma pequena pausa e
continuou. – Cerca de dois ou três anos depois de me ter ido embora encontrei um grupo
de vampiros que viviam todos juntos, e presumo que continuem. A verdade é que eu
não estava a espera do que se ia passar. Eu tinha ouvido que naquela zona estavam a
aparecer pessoas mortas sem causa aparente. Eu presumi logo que seriam vampiros pois
a frequência com que apareciam corpos e os locais eram mais que óbvios para mim. O
que me causa muita confusão é que os mortos não eram feitos a noite mas sim durante o
dia. Mas eles lá arranjariam alguma maneira.
- Durante o dia?
- Sim, mas já vais entender. Bom, eu fui à procura desse grupo e interessava-me falar
com eles principalmente porque queria saber como o faziam. O que descobri foi
estonteante Samantha. Muito mesmo. Eu acabei por viver com eles durante, apenas,
dois anos. Eram muito poucos. Rebbeca e Charles, eram os novatos. Julie e Patrick, um
casal. Jason, era o mais parecido comigo. A madame Von Krull. E mais uns 2 se não me
engano. Não os vi muito nesse tempo que lá estive.
- Porquê?
- Eram muito reservados. A madame é que lhe levava os corpos.
- Criados…
- Não. Apenas eles eram muito estranhos mesmo. Como te estava a dizer, foi com
estes cinco que convivi e aprendi e vi coisas fantásticas e outras que preferia não ter
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visto nem vivido. A Rebbeca era um doce, – olhei para ele com desdém – Hey! Não
fiques ciumenta! É a verdade. Não, se calhar, da maneira que eu quero te dizer. Ela não
devia ter mais que meio século. Muito jovial, muito menina e muito controlada. Sim,
controlada. – Disse ao ver a minha cara de espanto. – Ela tinha de se alimentar como
qualquer um de nós, mas para uma vampira praticamente recém-nascida ela
ultrapassava-nos a léguas. Ela passeava entre os humanos como se nada fosse. Só
quando tinha aqueles acessos de fome profundo é que era complicado. Mas ainda assim
ela acalmava-se, corria o mais depressa que podia sem dar nas vistas para poder
procurar uma vítima. E fazia uma coisa que eu nunca vi outro vampiro fazer…
- O quê?
- Ela voava.
- Ela o quê? – Desatei as gargalhadas. – Estas a brincar Louis, só pode.
- Se me contassem eu também não acreditaria, no entanto é a mais pura das verdades.
Como viviam num sítio alto, aliás, num prédio, ela tinha fácil acesso a grandes correntes
de ar. Ela sempre dizia, vou voar vou voar!, e ela conseguiu. Eu vi. Ela andava a fugir
do Jason, ela era brincalhona e andava sempre a pregar pequenas partidas e naquele dia
ele passou-se completamente da cabeça com ela. Foram para a rua e ele corria para ela
totalmente furioso. Cheguei a temer o pior, acredita. Mas o que parecia ser o azar dela,
transformou-se em pura sorte. Ela correu o mais que pôde para longe dele, no entanto
foi dar um beco sem saída. Ou melhor… Um género de uma ribanceira. A única
hipótese dela era salta… E saltou. Foi lindo Samantha. Lindo. Desceu de cabeça para
baixo como se estivesse a fazer pára-quedismo. Teve de colocar os pés uma, duas ou
três vezes no chão para dar impulso, mas voou… Assim… Aquela criatura voou…
- Quase não acredito no que me estas a dizer.
- Eu compreendo-te. Se me dissessem ia ter a mesma reacção. Mas foi a coisa mais
maravilhosa que eu vi.
- Então e que mais?
- Então depois o Charles. Se todos tentavam não dar nas vistas, ele, garanto-te, dava
bastante. Simplesmente pela maneira de se vestir… Gótico. Cabelo comprido, um
pouco abaixo do meio das costas, sempre se preto, uma gabardine até aos pés, e umas
grande botifarras. Muito pacifico, mesmo. Curiosidade… Estava a ficar embeiçado por
uma humana que vivia lá perto. E o mais engraçado é que ela também.
- E dele é só isso?
- Sim, e o casal também não tem nada que se lhe diga. Eram um casal. Muito sóbrios,
“crentes” do que queriam.
- Então e a madame Von Krull?
- Pois, essa é uma personagem e tanto. Ela não era apenas uma vampira. Era bruxa.
- Bruxa?!
- Sim. Ela mantinha casa isolada da entrada de estranho, nada conseguia penetrar
aquelas paredes, tanto de fora como de dentro. E ela dava-nos algo para tomarmos a
uma certa hora. Cada um com a sua e apenas de dois em dois dias. E foi ai que eu
descobri como é que eles andavam na rua durante o dia.
- A Carmen também tomou uma.
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- Quem é a Carmen?
- É uma das vampiras com quem vivo. Mas ela não tem sempre que tomar. Bebeu
uma vez e pronto.
- Normalmente, depois de eu investigar sobre o assunto, seria assim. Mas eu penso
que ela não queria que os vampiros saíssem da “asa” dela e então mantinha-os assim.
Como ela era a única que sabia fazer a mistela podia os manter por lá durante muito
tempo até algum se cansar e ir embora. E foi, também por esse motivo que me fui
embora.
- Assim sem mais nem menos?
- Não propriamente. Fui embora por aquilo que aconteceu ao Jason. Quanto mais se
tomava a poção mais descontrolados ficávamos, e isso reflectia-se no nosso
comportamento.
- Presumo que aja mais…
- Claro. Eles tomavam aquilo a muito mais tempo que eu. E o Jason há muito mais
que Rebbeca e o Charles. O que aconteceu foi num dia de Verão. Havia uma festa
qualquer e Rebbeca, como é óbvio, queria se ir divertir. Nasceu numa época diferente.
Ainda tinha aquilo dentro dela. E então fomos os quatro. Eu falava com o Jason e ela e
Charles estavam mais a frente, sempre na brincadeira. Levava-a as cavalitas e tudo
mais. Eram como dois irmãos. Sempre as torras mas depois estava tudo bem.
- Parece-me divertido.
- Oh se eram! Muito mesmo. Continuando. Misturamo-nos com os humanos e
estávamos à vontade, tínhamos apagado a fome umas horas antes portanto não haveria
problemas, mas nada faria prever o que aconteceu a seguir Samantha. Foi uma loucura,
de um momento para o outro, uma fome incontrolável, assomou os quatro! O meu único
pensamento foi que tinha que sair dali rapidamente. E ao que parecia a eles os três
também. Corremos desesperadamente para junto da nossa casa. Charles foi o primeiro a
entrar no prédio, seguido de mim e de Rebbeca que era que estava mais calma. Eu bati
freneticamente a porta de um vizinho e mal este abriu a porta eu ataquei-o sem pudor.
Foi rápido e limpo. E saciou-me a fome repentina e quase incontrolável para mim. Fui
para a casa da madame logo de seguida.
- Então o que é que isso tem tudo de tão estranho? Era apenas fome.
- O estranho foi o que aconteceu ao Jason. Ele chegou mais tarde, desorientado, sem
saber o que pensar e contou-nos o que se tinha passado. Que tinha descido as escadas ao
lado do prédio, atacado uma senhora, mas que não estava satisfeito e que foi a procura
de mais. Encontrou uma jovem seguiu-a pensando que estava sozinha. Mas afinal ia se
encontrar com alguém que estava dentro dum carro, namorado ou assim. Mas que
mesmo assim não hesitou… Atacou os dois. E desatou a correr para casa, mas quando
estava quase a chegar a entrada viu a senhora que tinha atacado antes, levantada e a
falar com o marido. E deu-lhe ideia que ela o tinha reconhecido.
- Isso sim é grave!
- Sim, é. Mas não foi o pior.
- Não? Ainda há mais?
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- Tinha que ser. Depois de ele nos contar tudo foi a vez da madame Von Krull ter a
palavra. Algo como isto, Estás condenado, e quem te condena sou eu. Sei que parece
ridículo, porém ela condenou-o mesmo.
- Como?
- Queres mesmo saber?
- Quero.
- Ela prendeu-o em casa.
- Só isso?
- Deixa-me acabar. Ele só podia estar no quarto dele. E todas a noites era consumido
pelo fogo. Primeiro o pentagrama que estava desenhado numa parece do seu quarto, nos
pés da cama entrava em combustão e ardia. Depois a parede do lado esquerdo, formava,
com o fogo, uma cara horripilante, mesmo para nós. Gritava com ele coisas terríveis. As
chamas começavam a pegar na cama e de seguida todo ele ardia. Todas as noites.
- Todas? Ele ardia todas as noites?
- Sim… Não o suportei por muito tempo. Ao fim de um mês daquilo acabei por me
vir embora, mas nunca esqueci. Aquele desgraçado do Jason. A culpa foi toda da
madame. E desde essa altura que sou assombrado por estes pesadelos. No início era
muito mais frequente. Mas confesso que já à muito que não acontecia.
- Meu querido – Abracei-o e dei um pequeno beijo nos seus lábios. – Não penses
mais nisso. Já não vais ter que ouvi-lo nunca mais.
- Eu sei. Mas isso não significa que vá sair da minha cabeça.
Olhei-o amedrontada. Ele realmente estava muito mal. Pálido como a cal. Ainda
mais que o habitual.
-Não te quero chatear nem deixar triste mas eu breve terei que partir.
- Vais para Moscovo?
- Tenho que ir. Separei-me da Sheftu quando apareceu o Eric. Epa anda uma grande
confusão entre eles os dois e, ao que parece, a Cármen também. Já não entendo nada…
E além se quero estar aqui contigo tenho que ir a penthouse buscar as minhas coisas. –
Sorri para ele.
- Mas aqui tens tudo e podes ter ainda mais.
- Eu sei querido mas tenho coisas insubstituíveis.
- Está bem então. E quando voltas?
- Assim que poder. Espero não ser muito tempo. Não me quero voltar a separar de ti!
- Acho bem que não! Mas queres que vá contigo?
- Não. Eu trato de tudo sozinha.
- Tenho a certeza que sim querida Samantha, tenho a certeza que sim…
- Por falar em Moscovo… O que é que o senhor, meu amado, andou a fazer por
Moscovo no Halloween? – Ergui uma sobrancelha em sinal de que estava na brincadeira
com ele.
- Eu??! – Disse-me muito espantado. – Eu não fui a lado nenhum! – Deitou-me a
língua de fora a brincar comigo.
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- Não sejas palerma. Foste lá fazer o quê?
- Fui te ver.
- Ver-me? Mas tu nem sabias onde eu estava.
- Por acaso até sabia…
- Como?
- Mandei algumas pessoas atrás de ti. Não consegui evitar de numa altura tão
inevitavelmente nossa que eu não te desse nada. Ao menos gostaste?
- Amei!! O vestido era lindo. Mas fiquei tão à toa quando li o bilhete. A serio, não
estava mesmo nada a espera.
- Eu sei que não. E o pior é que ainda me seguiste!
- Obviamente! Deu-me ideia que eras tu mas fugiste.
- Ainda não estava preparado para te encontrar minha pequenina.
Sentei-me no seu colo, de frente para ele e sussurrei-lhe ao ouvido: - Qualquer altura
tinha sido boa. Desde que fosse o mais cedo possível… – Sorri e dei-lhe um beijo na
boca.
- Então e vou ter direito a alguma coisa antes de te ires embora? – Disse-me sorrindo.
- Alguma coisa do quê?
- Disto…
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EP29-“Fatal” By Carmen
― Deixa-me, sair! – Exclamei com fulgor, empurrei-o de volta e Dean agarrou-me
pelo pescoço.
― Não...- Olhou-me no fundo dos meus olhos e sorriu. ― Hum...estás a começar a
ter aquela sensação de que não devias ter vindo atras de mim, certo? Devias ter
ouvido o Eric. Ele é a voz da razão..
― Como é que sabes do Eric?
Ele suspirou enfadado.
― Eu sei tudo da tua vida...- Ele aproximou o seu corpo ao meu e eu senti de novo
aquele soco de desejo no estômago. ― Tinha de saber ou seria um “perseguidor”
que se preze, certo?
Chegou ao ponto de não haver qualquer espaço entre nós. Eu conseguia sentir
cada centímetro do seu corpo, ouvir o seu coração a bater bem perto e o seu cheiro
inebriante. Senti a sua mão a largar-me o pescoço, a descer pelo meu peito até
chegar as minhas coxas e aperta-las ainda mais.
― Se queres matar-me...- Tentei manter-me firme. ― Porque não fazes agora?
Agarra-me...leva-me lá para fora, assim...vês-me queimar...como um fósforo...
Ele exibiu um sorriso típico, como se a ideia o tentasse.
― Não...eu não sou assim...isso faria de mim um monstro, Carmen! Eu cá se faço
coisas, é com classe...- Tocou com a ponta dos dedos na minha testa. ― Jogos
psicológicos. Enrolar-te na minha teia. Sem saberes, caminhas a passos largos para o
teu fim...e nem imaginas...- Com o dedo indicador pressionou a minha têmpora. ―
Como tu és uma criatura fascinante...
― Como assim?
― Convenhamos, Carmen! Estamos aqui a meia hora, mais coisa menos coisa e
por duas vezes pudeste matar-me mas, não o fizeste...não consegues matar-me...-
Ele aproximou a sua boca da minha. ― Não me consegues matar e isso dá-me
vantagem...Vou fazer-te torcer e dobrar até não aguentares e pedir que eu te mate
Senti algo a comichar dentro do meu peito e a minha voz saiu num tom baixo.
― Isso não vai acontecer.
― Não tenhas tanta certeza...Afectei-te de tal modo que vieste a minha
procura...― Encolhe os ombros num gesto natural mas, cheio de arrogância. ― Eu
sei, sou especial...
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Como quem tenta acender um isqueiro sem gás, foi assim que a minha raiva foi
crescendo; A cada tentativa uma faísca, outra faísca, e mais uma mas, ao ouvir
aquelas palavras foi igual ao lume que aparece por fim.
Senti uma raiva imensa dentro de mim, que explodiu como explode um fogo-de-
artifício lá em cima. Principalmente, raiva de mim mesma, por me deixar levar pelos
seus jogos psicológicos
A raiva em mim crescera e ele reparou pelo olhar vivo que troquei com ele. Agora
ele despertara o pior em mim. A minha mão afastou-se do seu peito ao empurra-lo
com violência e o dois caímos ao chão. Eu fiquei por cima dele com aquela raiva
toda a borbulhar que nem lava dentro do meu ser.
Não sei o que ele viu mas, o seu ar presunçoso desaparecera por completo e agora
estava totalmente surpreso, o seu ritmo cardíaco aumentara drasticamente: um claro
sinal de medo.
Aproximei a sua cara da minha.
― Não penses que me conheces, Dean. Não te passa aquilo que sou capaz de
fazer. Julgas que és o primeiro a passar no meu caminho? Eu como coisas como tu
todos os dias...Eu mato-te num piscar de olhos!
Com uma mão apertei a sua ferida resultado da tesourada; Ele berrou de dor, que
julguei que até lá fora se ouvira mas, mesmo assim não deixei de apertar aquele
ombro. Observei-o com atenção, vi como ficara vermelho, as veias pulsaram no
pescoço e o corpo contorceu-se de dor.
― Sentiste? - Apertei mais e ele berrou mais alto. Entusiasmada com a dor que lhe
causava, mandei um valente murro a sua lateral.
― Isto não é nada, comparada a dor que eu posso causar-te...
Lembrei-me do seu ombro deslocado e, com toda a força concentrada na palma da
mão, empurrei-o.
― Eu forço-te de todas as maneiras até chegar ao ponto em que tu pedes
misericórdia, Dean.
Com o joelho pressionei as suas costelas partidas e o seu berro foi ainda pior. Os
seus olhos mostravam as lágrimas de dor e eu não podia estar mais divertida.
― Diz! Implora que eu pare, Dean..- Um novo aperto na ferida, ele tentou afastar
o meu braço mas, afastei-o. Pressionei ainda mais ele engoliu um momento de dor.
― Diz: “Carmen, eu desisto...”
Ele arfava quando tentou falar.
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― Carmen...- engoliu em seco. Agarrou o meu braço de jeito, puxou-me para o
lado e sentou-se em cima de mim. ― Vai-te lixar.
Preparava-me para voltar a acerta-lo com toda a força, quando a porta se abriu de
rompante e um bando de sombras entraram no quarto. Eram três homens misteriosos
que separaram Dean de mim, e atacaram-no com toda a força; Nem o conseguia ver,
apenas via punhos e pontapés a voarem na sua direcção. Deixei-me ficar no lugar, a
olhar para aquela cena estranha. Senti um aperto ao ver aquilo, mas porquê? Porquê
que cada soco que ele levava tinha o mesmo peso, como se fosse eu a leva-los.
Porquê que doía tanto se não era eu que apanhava?
Algo mais forte moveu-se em mim, e quis ajuda-lo. Afastar aquelas sombras que o
atacavam mas, fui parada por uns braços fortes.
― Larguem-me! - Dei um encontrão a quem me segurava. ― Larga-me!
― Carmen, sou eu! - Reconheci a voz como sendo a de Eric mas, mesmo assim
afastei-me dele.
― Mas, que raio pensas tu que fazes?! Afasta-os dele, imediatamente!
Ele olhou-me com um ar assustado, eu devia ter um ar mesmo do pior.
― Carmen, precisas de te acalmar...
― Cala-te e faz o que eu digo, Eric!
― Okay! - Disse ele. Olhou para os três, estalou os dedos e eles afastaram-se de
Dean. Eu voltei-me para encara-los e vi-o no chão em pior, estado do que antes. O
meu aperto aumentou, ele estava mesmo mal. ― Pronto, agora vamos. Temos que
cuidar de ti. Precisas de beber alguma coisa, tens os olhos raiados de sangue e temos
que cuidar dessa mão.
Eu não ouvia nada do que ele dizia, limitava-me a olhar para o corpo de Dean
encolhido no chão, de olhos fechados. Senti os braços de Eric envoltos do meu
ombro, conduzindo para a porta e, como se fosse um robô deixei-me ir pelo
movimento. Passamos pelos destroços de uma mesa de jantar, pelas gavetas da
cómoda, pelas cadeiras até saímos para o corredor. Eric disse qualquer coisa e os
homens seguiram a nossa frente, em passo rápido desaparecendo em segundos.
― Deixa-me ver essa mão... – Pediu Eric.
― Estou bem...
― Não acredito que a idiota da Pan fez uma coisa destas e depois desaparece!
Juro, que por vezes não sei porquê que ela anda por aqui! Idiota da mulher...
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As palavras de Eric iam passando pelos meus ouvidos sem fazerem sentido. Ele
parecia estar chateado e, fez uma jura algures pelo meio e, praguejou umas quantas
vezes mas, sinceramente não liguei. A minha mente ainda estava presa a Dean,
caido no chao devido aos ataques repentinos. Aquele aperto não me abandonara.
Sem dar conta, já tínhamos voltado ao hall de entrada e eu parei nas escadas.
― Bom ver-te de pé, Carmen. - Disse Sheftu, entrando no hotel com um vestido
preto novo. ― Xiii...tas cheia de sede. Olha-me para esses olhos.
Eric desceu as escadas e dirigiu-se a ela. Os dois discutiram algo em surdina e eu
agarrei-me as escadas. Agora, notava a minha sede e como a garganta queimava
desejosa de uma boa dose de sangue. Sangue humano.
― CARMEN! - A sua voz fez-me olhar para cima e vi-o de pé, no topo das
escadas encarar-me de um modo estranho. ― Não...
Os meus olhos devem ter mostrado uma surpresa total. Aquilo era um pedido
disfarçado. Aquele “não” era um pedido para que eu ficasse. Não queria que eu me
fosse embora. O quê?!
Então, tão rápido que nem um piscar de olhos, algo passou-me ao lado e quando
me dei conta Sheftu tinha derrubado Dean.
― NÃO!
Subi as escadas com igual rapidez, e quando lá cheguei já Sheftu tinha as presas de
fora a milímetros do pescoço de Dean. Estiquei a perna e mandei um valente
empurrão a Sheftu, ela rebolou para o lado e eu aproveitei; Puxei-a pela cabeleira
loira e encostei-a a parede com tanta força que saltou um bocado.
Sheftu olhava para mim com um ar esfomeado.
― Se quiseres morder alguém, fica-te pelo Eric...― Dei-lhe um novo empurrão.
― Encostas um dedo no Dean e eu arranco-te a cabeça.
Ela largou uma enorme gargalhada como se não quisesse acreditar.
― Não tens força para enfrentar-me. Dou cabo de ti...
Encarei-a bem no fundo dos seus olhos e vi-a vacilar durante segundos, percebia
que eu não estava a brincar.
― Não...me...provoques, Sheftu. Eu sei modos de magoar vampiros que nem te
passam...
― Que tremo toda!
Olhei-a de cima abaixo.
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― Treme, sim...numa múmia como tu, que tem os ossos como pó, não é difícil
fazer vergar...- Encarei-a com mais intensidade. ― Quebras num estalar de dedos!
A vampira ia avançar para mim mas, eu recuei um passo e Eric meteu-se entre nós.
― Chega! - Ordenou ele, mas não olhava para mim, somente para Sheftu. Ele
estendeu o dedo para as escadas. ― Sheftu, vai.
― O quê?!
― Vai! - Pediu novamente. Os dois trocaram olhares raivosos e logo depois,
Sheftu lá acabou por descer as escadas. Enquanto passava, fez questão de dar um
pequeno chute a Dean e eu estive mesmo para saltar-lhe em cima mas, Eric agarrou-
me pelo braço. Sheftu abriu um imenso sorriso e saiu a gargalhar escada abaixo. ―
Fica ai...
Eric largou o meu braço, aproximou-se de Dean que ainda estava caído no chão,
segredou-lhe algo que não pude ouvir mas, sabia que não era nada de bom. O seu
olhar mostrava puro desafio e Dean não se mexera mais.
Voltou a erguer-se, estendeu-me a mão num gesto convidativo. Demorei, mas lá
segurei a sua mão. Eric puxou-me lentamente e os dois descemos as escadas, ainda
tentei olhar para trás mas, o meu corpo não respondeu a vontade.
Felizmente, Eric parara o carro numa parte sombria, e pude ir a pé mas, a correr.
Quando entramos no gigantesco Hummer cinzento de vidros fumados vinha toda a
fumegar. Eric sentou-se ao meu lado, Sheftu ia no banco da frente, virada para nós
com um ar de poucos amigos. Parecia meditar seriamente nalgo.
Eric deu sinal e o carro moveu-se, afastando-se do hotel.
O percurso até a penthouse foi totalmente silencioso, continuava a sentir os olhos
de Sheftu cravados em mim.
― Carmen...- Disse Eric. Eu voltei-me para ele e estendeu-me uma garrafa
prateada. ― Não faças perguntas.
― Eric, sabes que não gosto que me dês o teu sangue...
Ele abriu um sorriso gigante e, chegou-se mais perto.
― Não sejas tola, eu preciso de ti inteira, Carmen. - Meteu a garrafa entre as
minhas mãos. ― E sangue, repõe-se! Agora, bebe.
― Estou assim tão mal?
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― Hedionda! Faz anos que não te via assim tão sedenta e irada. ― Olhou bem no
fundo dos meus olhos. ― Tens os olhos totalmente vermelhos agora. És um
fenómeno a estudar, Carmen.
Limitei-me a sorrir, abanei a cabeça ia beber quando me lembrei de algo, ele é que
devia estar chateado comigo, afinal eu tinha traído a sua confiança e tinha-me
arriscado só por pura vaidade e no entanto, Eric estava tudo menos chateado.
Parecia aliviado, contente por me ver bem...
Levei a garrafa a boca e bebi o seu sangue. Não pude de deixar sentir o arrepio
característico de quando bebia o seu sangue. Tão doce e com sabor a algo mais.
Voltei-me para Sheftu e o seu olhar transmitia um misto de sentimentos, tinha o
semblante de tal forma carregado, como se odiasse estar de fora e não percebia o
que se passava ali. E eu adorar a sua ignorância completa.
Não demorou muito a chegarmos ao hotel, o Hummer parou mesmo em frente a
porta do hotel mas, não saímos.
― Temos que arranjar maneira de saíres, Carmen. - Disse Eric pensativo.
― E a Sheftu? - Perguntei.
― Não é preciso... - Abriu a janela e colocou o braço de fora. Nada. Não havia
queimaduras nem fumo. Nada. ― Eu não preciso de feitiços.
― Isso não faz de ti uma melhor vampira. - Aliciei eu. ― Torna-te apenas uma
aberração...algo esquisito...
― Motivo de inveja.
― Para quem não tem algo melhor que invejar.
― Como tu.
Desta vez, eu ia responder mas, senti a mão de Eric a tocar-me no braço, pedindo-
me que parasse. Sheftu pareceu registar aquele gesto e o seu ar carregado aumentou.
Olhei para fora e vi a silhueta de Samantha a formar-se na entrada, mal me viu
lançou-me um aceno solidário que eu estranhei mas, respondi. Ela, não se
aproximou muito da porta, limitou-se a ficar um pouco atrás a nossa espera, parecia
ansiosa provavelmente tinha novidades.
A seguir tudo se moveu em câmara lenta; a terra tremia com um abano forte, vi
Samantha a desequilibrar-se do salto e a cair ao chão, juntamente com as pessoas em
volta. Fomos todos apanhados de surpresa com o abanar repentino. O barulho era
imenso, entorpecia os ouvidos e, repetia-se várias vezes. Depois pequenas bolas
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brilhantes a caírem do céu, saltitando pelo chão. Agucei o olhar, tentei ver o que era
e reconheci logo o material...
― Vidro?
E depois, peças mais grossas caiam sobre o carro com um impacto violento. Susto
total quando um grande pedaço de madeira cai mesmo do lado de fora do vidro.
Mas, o que estava acontecer? De onde vinham estes materiais? Ouviu-se um novo
abanão, vi gente a cair e a correr, procurando abrigo.
Olhei do outro lado da rua e vi carros que travavam repentinamente, embatendo
uns nos outros. E, no edifício em frente, vi no reflexo das janelas o que parecia ser
uma vermelha bola de fogo, vinha lá de cima.
Voltei o olhar para Samantha e vi-a gritar qualquer coisa aos altos berros, caída no
chão. O barulho continuava, ao mesmo tempo que as coisas a nossa volta caiam
como chuva de meteoros. Demorei a perceber o que Samantha queria dizer mas,
quando percebi logo que vi que algo estava terrivelmente mal. Os seus lábios
gritavam:
― SAÍAM DO CARRO!!
Ao mesmo tempo que uma sombra repentina se sobrepunha sobre o carro. Algo
vinha para cima de nós. Momentos depois, foi como se o mundo se tivesse
desligado, tudo ficou negro, não me conseguia mexer e os gritos inundavam-me os
ouvidos.
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EP30- “Disaster on and on” By Sheftu
Se queria que tudo corresse exactamente como eu desejava, teria de ser o mais
rápido possível antes que alguém pudesse sequer tomar consciência do que estaria
prestes a fazer... A empregada ainda estava a observar-me, talvez esperando que eu
dissesse qual seria o nosso próximo passo. Meu sorriso ainda se alargou mais,
pensando em puder ou não salvá-la de tudo isto. Pensei um pouco em todos estes
últimos dias, da minha fuga com a Samantha, da reacção que ela teve em Itália...
- Podes fazer-me um favor? – Disse-lhe, sorrindo ainda mais. Certamente nunca
negaria nada do que eu lhe pudesse pedir, o que era óptimo!
- Diga minha senhora...
- Poderias ir à cidade mais perto comprar-me um vestido negro que seja o mais
arrojado possível?
- Mas, Senhora... Eu não tenho forma como comprá-lo... E não tem no armário
nenhum vestido que a satisfaça? – Eu sorri ainda mais, tinha de ser o mais discreta
possível, simpática e mandona.
- Eu te darei o meu cartão de crédito e viajarás agora mesmo. Leva o meu
telemóvel que deve estar no quarto de Eric para caso necessite de comunicar contigo.
- Se é o seu desejo senhora... – Baixou sua face e esticou o braço à espera do
cartão. Mal lho dei ela partiu para o quarto, fazendo tal e qual o que lhe tinha pedido.
Simplesmente esta mulher me alegrava, seria ela capaz de fazer tudo sem questionar
nada? Ou haveria certas coisas que a fariam recuar?
- Sim, é o meu desejo. Vai rapidamente, necessito imenso desse vestido. – Mal
minha frase acabou, já ela tinha saído do meu campo de vista, agora era a hora da
festa!
Arranquei a porta rapidamente, entrando para o suposto salão que Eric tanto
protegia. Meus olhos se arregalaram quando se dirigiram para o quadro à minha
frente, por cima da lareira. Era simplesmente eu, mas numa época diferente...
Observei o resto das paredes, a maioria dos quadros eram da tal “madame” que a
empregada tinha falado. Essa seria supostamente eu, aquando da hora em que estive
por cá. A hora em que salvei um menininho e o entreguei a uma família de
feiticeiros... Minha boca se cerrou, minhas mãos se fecharam fortemente, minha
cabeça finalmente tinha desvendado tudo isto. Ele era o menino...
Minha mente tentou relembrar-se novamente do plano traçado. Não importa quem
ele poderia ser, o que importava realmente era o que se tinha tornado, no que ele me
tinha tornado.
Procurei por toda a casa, toda ela era formada à base de madeira. Isso facilitaria o
meu trabalho, tudo o que pertencia ao passado iria desaparecer. Tentei encontrar uma
garagem, para que pudesse ter um pouco de gasolina ou gasóleo para espalhar por
toda a casa.
Eric estava encostado a um carro, ao telefone, pelo que eu estava a entender
parecia que Carmen se tinha metido em sarilhos e agora ele estava a tentar arranjar
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forma de salva-la sem levantar muitas suspeitas. Mas porque ele ajudaria Carmen?
Acreditava que havia algo mais que não ainda não sabia nesta história toda... Ele
começou a caminhar em direcção à floresta, desligando o telemóvel e seguindo
rapidamente, desaparecendo pouco tempo depois... Comecei novamente a respirar,
tinha travado tudo o que era humano em mim para que ele não desse pela minha
presença. Mas agora era a hora de por mãos ao trabalho! Respostas viriam depois!
Esperava calmamente perto da casa encostada a uma árvore, à espera que Eric
aparecesse de novo. Os gritos de horror que se ouviam lá dentro me faziam sorrir, um
verdadeiro espectáculo!
- SHEFTU! – Algo me dizia que a festa ainda agora tinha começado... Virei-me
para a área em que a voz me tinha chegado e vi toda aquela fúria descontrolada a
aproximar-se. Seu rosto estava duramente fechado e todo o seu corpo tenso. Sim,
tinha tocado mesmo em algo que ele gostava...
- Sim, que desejas? – Perguntei sorrindo, vendo-o a apenas uns pequenos metros
de mim, tinha parado. Talvez para tentar controlar-se, afinal de contas estava
totalmente descontrolado. O que era óptimo de se ver, simplesmente perfeito!
- Porque fizeste isto? – Disse, levantando o seu braço para a casa em chamas sem
sequer olhar.
- Pensava que estavas com frio, por isso resolvi aquecer-te um bocadinho... Não
gostaste da surpresa? – Meu olhar certamente deveria de estar a brilhar. Uma situação
que me divertia, e não conseguia esconder-lhe.
- E resolveste incendiar a minha casa? – Passou a sua mão pela sua cara, olhando
de novo para mim... Parecia um pouco mais calmo, apesar do rosto permanecer duro.
– Encontraste os quadros, não foi? Destruíste a casa por causa dos quadros... É
mesmo algo que deveria esperar de ti!
Virou-me as costas, ficou imóvel por uns minutos que pareciam mais séculos. Que
estará ele a fazer? Observou por uns minutos a casa e ligou a alguém, pedindo que
nos fosse buscar rapidamente. Poucos segundos depois já estava ele como sempre...
Pegou no meu braço e seguimos rumo a uma estrada de terra, chegando a um
helicopetro. Mas que bela comitiva!
Entramos e seguimos viagem, não sabia bem onde mas também não perguntei.
Eric observava a paisagem que passava rapidamente pela janela, seu silêncio
demonstrava que aquela casa deveria ser algo que me traria graves consequências.
Não tinha importância, eu faria tudo de novo se fosse necessário.
Finalmente tínhamos aterrado, Eric agarrou a minha mão e me puxou para fora,
estávamos de novo em Moscovo. Tinha um Hummer cinzenta com uns três corações
a bater... Seria lanche? Eric olhou para mim com um tom bastante grave que me
surpreendeu, o que tinha eu feito? Ah, certo... Incendiei a casa. Mas pelo menos
mandei a rapariguinha comprar-me um vestido, tinha-a salvado a ela. Deveria de
contar não?
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- Leva-nos para uma loja de roupa de senhora, faz favor. – Pronunciou Eric ao
marmanjo que conduzia. Que iríamos fazer agora? Incendiar uma casa de moda?
Mais uma vez Eric olhou para mim, parecia querer responder-me a algo só que eu
não tinha dito nada...
- Sai. – Disse Eric para mim, depois de termos parado mesmo em frente de uma
loja e ele ter saído, esticando uma mão para que eu me segurasse. Absolutamente
ridículo, mas lhe daria um pouco de paz, a casa já tinha sido bastante por hoje.
Era de dia ainda, um dia até bastante radioso... Entramos na loja e Eric seguiu
directamente a um vestido negro, chamando a vendedora com a mão.
- Gostaria de levar este vestido. – Disse ele, agradavelmente à mulher.
- É para levar já ou enviaremos para sua casa? – Perguntou, bastante profissional.
Pudera, estávamos numa requintada loja de Moscovo.
- É para vestir. – Respondeu-lhe, virando-se para mim. – Vai com a Madame e
veste-te. Eu esperarei aqui.
Fiquei surpresa com as palavras dele. Para que precisava eu de um vestido?! A sua
expressão demonstrava grande seriedade em cada palavra que ele dizia. Fui sem dizer
nada, vesti-me e voltei. Ele já não lá estava, saí para a rua e também o Hummer tinha
desaparecido. Completamente estranho...
Por breves momentos pensei nas opções que tinha: voltaria para a penthouse ou
seguiria Eric para ver o que se passava. Ainda nem tinha decidido e já procurava
pelos seus batimentos cardíacos. Comecei a caminhar, várias pessoas me observaram,
como se nunca me tivessem visto. Sim, era verdade, mas não deixava de ser estúpido.
O som estava cada vez mais perto, parecia que provinha de um motel
extremamente horrível, com a fachada decadente, sem qualquer cor, alguns estores
estavam partidos e tortos, sem falar na placa com o nome do hotel que já nem tinha
luzes. Parecia um filme de terror... Fazia-me rir! Bem, havia agora aquela hora em
que eu entrava e tudo acontecia...
― Bom ver-te de pé, Carmen. - Disse um pouco surpreendida, ao ver Eric e
Carmen descendo pelas escadas. O aspecto dela deixava muito a desejar... ―
Xiii...tas cheia de sede. Olha-me para esses olhos.
Eric olhou-me com um pouco de rancor ainda, vindo rapidamente em minha
direcção, parando mesmo próximo de mim e tentando falar-me de uma forma que
Carmen não pudesse ouvir.
- Vieste agora pegar fogo aqui também? – Murmurou ele, quase inaudível.
- És incrível! – Respondi quase num sufoco.
- Eu é que sou incrível? Fui eu que incendiei a minha casa e ainda sorria? – Sim,
ainda estaria chateado por muito tempo...
- Claro que foste tu... Não foste tu que tinhas os quadros?
- Supostamente uns quadros que não seriam para veres...
- Pois, calculei que sim...
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- Então já sabes?
- Sei o quê?
- Sabes muito bem do que estou a falar.
- Não sei não...
- Olha...
- CARMEN! – Rapidamente minha cabeça se dirigiu para de onde vinha o som,
um ser humano dirigindo-se a Carmen. Estaria Eric aqui para ajudá-la com algo mal
resolvido? - Não...
Corri o mais rapidamente rumo a esse ser medíocre, não tinha muito mais a
destruir, seu estado já era degradante, mais do que um ser humano habitual. Apenas
uma dentada e tudo se resolveria... Prostrei-o no chão e, instintivamente, o homem
tentava conseguir defender-se sem grande sucesso. Sorri rapidamente antes de dar-lhe
o último momento de vida... Seu cheiro era verdadeiramente interessante, seu sabor
talvez fosse ainda melhor!
― NÃO! – Gritou Carmen... O quê?! Que se passa com ela? Ah, o seu sentido
humano... Ridícula.
Empurrou-me dele, puxando-me pelo cabelo e encostando-me à parede... Isto sim,
ele em risco a despertava algo que custava ver em dias normais. Seria algo a testar
várias vezes, bastante engraçado. Teria já provado o seu sangue? Era incrível, caso
ela o usasse como seu banco de sangue. Se o fosse, eu iria rapidamente descobrir.
Talvez seu sangue valesse a pena para que continuasse vivo... Absolutamente
intrigante...
- Se quiseres morder alguém, fica-te pelo Eric...- Empurrou-me novamente. Sim,
estava decidida em mantê-lo vivo, mas porquê? - Encostas um dedo no Dean e eu
arranco-te a cabeça.
Não consegui suster a gargalhada que rapidamente saiu de minha boca, era incrível
ouvir essas palavras da sua boca... Afinal sempre havia alguma parte sem pudor nela,
precisava apenas de ser bem moldada... Talvez com mais raiva ainda, talvez...
- Não tens força para enfrentar-me. Dou cabo de ti... – Respondi-lhe numa
tentativa de a enfurecer mais... Até onde ela iria? Talvez não era a melhor altura para
fazermos isto, creio que há muito ainda por descobrir antes de alguma de nós acabar
com a outra... Para uma próxima vez, sim... Uma próxima vez!
- Não...me...provoques, Sheftu. Eu sei modos de magoar vampiros que nem te
passam...
- Que tremo toda! – Ahahah... Era absolutamente agradável, tanta fúria, tanta
raiva... Pena ser tudo provocado por um mero humano. Ela devia de ser assim mais
vezes, absolutamente!
- Treme, sim...numa múmia como tu, que tem os ossos como pó, não é difícil fazer
vergar...- Encarou-me com mais intensidade. - Quebras num estalar de dedos!
Uma coisa era brincar aos heróis, outra bem diferente era tocar no meu passado!
Afinal, não era possível uma próxima vez... Teria de ser agora! Carmen rapidamente
deu um passo para trás, vendo-me a começar a avançar sobre ela... Isto iria prometer!
It’s show time!
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- Chega! - Ordenou Eric, metendo-se entre mim e ela, olhando para mim
furiosamente e estendendo o dedo para as escadas. ― Sheftu, vai.
- O quê?! – Respondi impulsivamente. Era injusto!
- Vai! - Pediu novamente. Olhei para ele enraivecida, com uma promessa de que
isto não iria ficar assim tão simplesmente, ele me olhou de volta, estava ainda
bastante furioso com a minha pequena brincadeira. Desci as escadas e não resisti, dei
um pontapé no homem deitado no chão. Isto sim era algo de útil! Sorri largamente e
gargalhei alegremente, por mais que quisessem, eu faria o que quisesse. Estavam com
sorte de eu ainda estar fraca. Mas isso não seria por muito tempo...
Saí do motel e sentei-me no interior do Hummer, esperaria por aqueles dois até
que decidissem sair. Era de dia ainda, mas o sol não me atravessava a pele, o carro
tinha sido estacionado na sombra. Como era ridículo esperar!
Passados alguns minutos, Eric e Carmen finalmente tinham chegado, entrando na
parte de trás do carro. Como se teriam tornado tão cúmplices? Será que tudo isto,
desde que conheci-a, não passava de um simples trabalho? Estariam os dois a
desenharem algum esquema todos estes anos que eu não soubesse? Era impossível...
Não era nada disso que estava a acontecer. Não podia...
- Carmen...- Disse Eric, fazendo Carmen voltar-se para ele, dando-lhe uma garrafa
prateada. ― Não faças perguntas.
― Eric, sabes que não gosto que me dês o teu sangue...
Ele abriu um sorriso gigante, chegando-se mais perto dela. O que se passava aqui
que eu ainda não tinha apanhado?
― Não sejas tola, eu preciso de ti inteira, Carmen. - Meteu a garrafa entre as suas
mãos. ― E sangue, repõe-se! Agora, bebe.
― Estou assim tão mal?
― Hedionda! Faz anos que não te via assim tão sedenta e irada. ― Eu
simplesmente estava num meio de um pesadelo surreal, e nem dormia! ― Tens os
olhos totalmente vermelhos agora. És um fenómeno a estudar, Carmen.
Havia algo nestes dois que eu não entendia, não conseguia compreender nada do
que se passava. Não me parecia que sequer se importassem com isso. Simplesmente
adoravam ignorar-me. Brilhante! O sangue dele era apenas mortífero para mim, logo
eu que o quero matar mais do que tudo neste mundo!
Mas como estes dois se conheciam?! E porquê tudo isto, tanta proximidade e total
liberdade... Não sei porquê, mas não gostava mesmo nada disto tudo. Este momento
começava a enervar-me.
Quando finalmente olhei para a janela, o Hummer já tinha parado em frente a porta
do hotel mas, não saímos.
- Temos que arranjar maneira de saíres, Carmen. - Disse Eric pensativo.
- E a Sheftu? – Perguntou ela. Ah, agora já se lembrava de mim?! Pois, há pouco
não parecia mesmo nada que se importava sobre o assunto...
- Não é preciso... - Abri a janela e coloquei o braço de fora. Sua cara de espanto
fez-me sorrir. ― Eu não preciso de feitiços, para nada.
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- Isso não faz de ti uma melhor vampira. – Acusou-me, sentia que talvez houvesse
um tom de ciúmes. - Torna-te apenas uma aberração...algo esquisito...
- Motivo de inveja. – Sim, era o que ela mais tinha neste momento.
- Para quem não tem algo melhor que invejar. - Contestou, tentando mudar de
assunto, mas não!
- Como tu. – Sorri, tinha mesmo batido no sítio certo. Via que ia começar a festa...
Rapidamente o meu sorriso desapareceu ao ver Eric tocar-lhe no braço, pedindo
silenciosamente para parar. Absolutamente incrível! Quem era ele para se meter em
tudo?! Quem?! Vi o olhar de Carmen bater no meu, virando-se rapidamente para a
janela, fazendo-me seguir a direcção do seu olhar.
Samantha aparecia na entrada, longe dos raios de sol, para que não virasse cinza.
Pelo seu olhar, algo me dizia que tinha encontrado mais novidades... Era apenas uma
questão de tempo para que tudo fosse dito.
Rapidamente tudo tremeu, Samantha caiu no chão e todas as pessoas que a
rodeavam. Acredito que ninguém esperava tal coisa, mas de onde todo este barulho
provinha? Observei mais atentamente e vi que algo tinha explodido, algo do nosso
hotel pois caiam vidros e alguns fragmentos de outros materiais.
- Vidro? – Ouvi Carmen dizer, simplesmente estupefacta com esta situação, como
todos nós.
― SAÍAM DO CARRO!! – Gritou Samantha nos alertando para o risco que todos
nós já devíamos de calcular. Algo vinha ao encontro do carro.
Começaram a cair objectos mais pesados sobre o carro, saí rapidamente e me
escondi nas sombras sem que ninguém pudesse ver-me. Passado poucos segundos
também Eric estava do meu lado, mas havia algo de errado...
Olhei para o Hummer, não podia acreditar no que via, um enorme objecto de betão
caía directamente no carro, e Carmen ainda estava lá dentro! Eu não acreditava que
ela pudesse ter ficado lá dentro, não podia ser!
- Tem calma que tudo se resolve rapidamente... – Disse-me Eric, observando a
minha expressão com preocupação. Sim, eu devia de estar com uma cara digna de se
ver!
- Eu estou calma... – Ele suspirou, seguindo para o local do acidente, tentei segui-
lo, mas ele me pediu com a mão que permanecesse onde estava. O que tinha sido tudo
isto?!
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EP31-“Travel to Home” By Samantha
Puxou-me mais para junto de si. Os seus lábios beijavam-me suavemente mas com
fervor. As suas mãos acarinhavam todo o meu corpo e aquela pele gélida parecia tornar-
te quente à medida que roçava na minha. Era um frenesim de emoções quentes,
arrepiantes, delirantes, deslumbrantes… Era incrível pois sempre que estávamos os dois
no nosso mundo parecia tudo o resto completamente irreal. Nós éramos a fonte de
prazer um do outro, éramos vivacidade, energia, éramos o calor. O pecado de cada um.
As coisas que fazíamos juntos eram tão humanas que me deixavam fora de mim.
Naquele dia, ele fez-me sentir como nunca me tinha acontecido… E tenho a certeza que
ele estava a sentir-se da mesma maneira. Ele pegou em mim e arrebatou-me contra uma
parede do seu quarto, continuava a beijar-me na boca como à muito não sentia. A minha
perna estava a volta da sua anca, apertava-o contra mim ainda mais, as minhas mãos ora
agarravam o seu cabelo de ouro, ora arranhavam as suas costas e braços.
Passava a mão por entre as minhas pernas e tocava-me devagar. Sentiu o meu desejo por
ele. Aquele desejo que ansiava há tanto tempo, e ao se apercebe do que eu tanto ansiava,
arrancou toda a minha roupa, rasgando-a, e entrou em mim.
Que momento memorável! Era completamente inesquecível. Seria algo que nunca mais
sairia da minha mente. Nunca! Pois doces prazeres são isso mesmo… Doces. É como
beber aquele sangue fresco pela primeira vez. Um fervilhar de emoções dentro do corpo
gélido. Como aquele sangue que não nos sai da cabeça, o mais intenso, afrodisíaco e
demolidor!
Durou horas o nosso conforto a dois. Pareceu-me infinito. Mas quando acabou
necessitava de mais. Não, por não estar satisfeita, mas simplesmente porque dentro de
alguns momentos eu iria embora na derradeira força do meu viver. O meu amado e
conquistador.
- Quando pensas partir?
- De dentro me breve… – O meu ar era cabisbaixo.
- Porque esse sentimento tão desolador. Estávamos tão bem. Algo correu mal?
- Sim… – Olhei-lhe nos olhos. – Vou ter que me ir embora.
- Ora – Sorriu-me com aquele ar terno que tinha. Agarrou o meu rosto – Não precisas de
ficar assim. Depois de fazeres o que tens a fazer em Moscovo sempre podes vir ter com
o teu príncipe! – Deitou-me a língua de fora.
- Mesmo convencido! – Ri da sua maneira encantadora de me animar.
Abraçou-me, levantou-se e começou a vestir-se.
- Porque te estas a vestir?
- Queres que vá todo nu para junto das empregadas?
- NÃO! – Saltei rapidamente e agarrei-o – Ai de ti, Louis!
- Achas mesmo minha doida? – Beijou a minha testa.
- Bem, bem. Vê lá se ainda agora cheguei já me tenho que chatear contigo. – Fiz uma
cara muito seria. Olhamos um para o outro e desatamos a rir.
-Devias-te vestir também.
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- Sim, eu sei. Bem e preciso de roupa.
- Samantha… Tens um armário cheio de roupa. Nem que vás com a minha!
- Nem pensar!
- Era assim tão mau?
- Horrível! – Sorri novamente.
- Ai tu não mudas… E ainda bem.
Ele era absolutamente incrível. Aguentava tudo. Tudo! Não sei como tem paciência para
mim.
Dirigi-me até ao armário que ele dizia haver roupa para mim. Era absolutamente
estonteante! Tanta coisa… Tal como no meu. Apesar disso a minha escolha não foi
difícil.
Vestido, claro. Mas desta vez bem mais discreto. Cinzento claro, até ao joelho e a fazer
balão. Uns sapatos pretos com um pequeno salto alto. Definitivamente muito discreto.
Tomei um banho muito relaxante. Á memoria só apareciam imagens minhas e do Louis.
Todos os momentos bons, maus. As saudades de abraça-lo, beija-lo, acarinha-lo… Era
incontestável o quão apaixonada estava por aquele homem. Incontestável o quanto eu
tinha sorte de ele me amar. Tão completo.
Ele apareceu no exacto momento em que me estava a acabar de calçar.
- Estás linda…
- Achas? Estou discreta, não pareço eu.
- Acredita, estás maravilhosa.
Aproximou-se de mim, agarrou-me pela cintura e beijou-me.
- Sinto-me tão livre. – Disse-lhe mexendo no seu cabelo.
- Porquê?
- Porque estou nos teus braços. Sou livre! Posso cair pois sei que me agarras! Por isso
sou livre.
Ele riu – És uma poetisa! E começares a escrever?
- E escrevo!
- Falas a sério?
- Sim. Se tiveres um computador mostro-te já.
- Por esta é que eu não esperava.
- Sabes, há muita coisa pela qual tu não estás á espera mas que acontece…
- Lá isso é verdade.
Saímos do quarto e ele mostrou-me o seu escritório. Para um escritório tenho que
admitir que era bem grande! E numa bela secretária ali estava o computador.
- Olha só. – Liguei o computador e fui directamente ao meu blog. – Então? Que tal?
- Como é que eu nunca descobri isto?
- Não faço ideia! Mas já existe a algum tempo!
Mostrei tudo o que tinha escrito mas o que mais lhe saltou a vista foi um. E ele leio-o
em voz alta o que me deixou mesmo muito envergonhada.
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“Amo o jeito como me olhas
Como sorris para mim
Amo como me controlas
Como deixas o meu coração a bater
Cada vez que olho para ti
Amo a forma como me agarras
E me deixas sem respirar
Amo como me beijas
E me fazes pedir por mais
Amo quando te fazes de desentendido
E como me deixas desorientada
Amo essa tua falsa inocência
Amo esse rosto de anjo
Amo como se não houvesse mais nada
Cada centímetro seu!!!”
Quando acabou de ler parou e fechou os olhos.
- Isto era sobre mim?
- Era. Era e é.
- Epá…
- Sim, odiaste, já sei.
- Achas mesmo?
- Calculo que sim!
- Amor… Está lindo!
- Não está nada!
- Não sejas palerma!
- Não sou! É a verdade! – Abraço-me com ternura. – Perfeita.
Estava no meu mundo. Meu mundo eterno.
- Preparei uma coisa para ti. – Disse-me quando estávamos a caminhar para a saída, pois
eu ia perder de novo o meu apaixonado.
- Preparas-te o quê?
- Jacto!
- Desculpa?
- Enquanto te estavas a vestir liguei a um dos meus funcionários. Tens um jacto, pronto
para descolar quando lá chegares.
- Estás a gozar?
- Não! Fica bem pertinho daqui.
- Perfeito então. Ainda lá chego de noite!
Ele pegou no carro e em menos de cinco minutos chegamos ao aeródromo.
- Mr. Russian! Bons olhos o vejam! Esta deve ser a Senhorita Samantha.
- Sim, é.
- Finalmente. Prazer em conhece-la!
- Muito obrigada. – Disse sorrindo para aquele desconhecido que parecia-me conhecer
muito bem.
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Entramos os dois no jacto.
- Mas toda a gente me conhece?
- Claro! Se nunca mulher nenhuma entrou lá em casa, e eu falo sempre de ti. Parece-me
bastante óbvio.
- És terrível!
Beijei-o e sentei-me num dos lugares. Quando ia a sair ele disse. – Breve voltaremos a
vermo-nos. – E foi a última coisa que disse antes de o avião deslocar.
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EP32-“Oh yeah, Sheftu!” By Carmen
Acordei sobressaltada e aos berros. Não sabia onde estava, nem reconhecia
nenhuma forma. Sentia-me toda arrepiada, assustada e nervosa, sem a ponta de
orientação. Olhei em panico para o que estava a minha volta.
Vi Samantha a sair da escuridão com o seu vestido. Ela sorria-me.
― Então, miuda. Estás bem?
― Onde estou?
― Na morgue.
― Morri?
― Sim, porque os vampiros morrem, Carmen! - Ironizou ela. Deu-me um leve
empurrão. ― É um breve esconderijo, até a confusão acalmar.
― Qual confusão?
Samantha suspirou. Saltou para cima do que parecia ser uma cama de metal e
cruzou a perna.
― Do hotel, a explosão...- Samantha ergueu a sobrancelha ao ver que eu não
estava a reagir. ― Do que te lembras?
Olhei em volta, tentando recordar-me da ultima coisa que tinha visto. Tinha uma
dor de cabeça imensa mas, por fim lá veio alguns flashes de imagem.
― Barulho. Vidros a cair. E...vi-te a gritar...― Olhei para ela. ―
Espera...Explosão?!
― Explodiram com a penthouse. - Explicou Samantha. ― O Eric diz que foi uma
fuga de gás...
― E tu não acreditas.
Samantha encolheu os ombros, largou um gigantesco suspiro.
― Tenho a minha teoria...- Voltou-se para trás, agarrou um molho de roupas e
atirou-mas. ― Veste. Fui eu que escolhi o vestido.
Olhei para a roupa caida nos meus joelhos, ali estava um belo vestido vermelho
fluido de mangas largas.
― Porquê um vestido novo?
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― Porque a tua roupa está...- Samantha analisou-me. ― Horrivel! E, segundo
porque vamos mudar de casa.
― Vamos? Para onde?!
― Não faço a minima. O teu amigo Eric, é todo cheio de segredos e misterios. -
Olhou para a porta e a seguir para o relogio. ― Ele e a Sheftu sairam.
― A muito tempo?
― Coisa de meia hora. - Disse Samantha. ― O Eric estava mesmo preocupado
contigo.
― Está sempre. Até em demasia...- Olhei em volta e vi o local onde estavamos.
Para alem da minha mesa e a mesa onde Samantha estava deitada, havia mais duas
cobertas por um pano azul. Um lavatorio, um frigorifico velho, um espelho
encardito e oito gavetas gigantes embutidas na parede.A decoração era sobria, toda
em ela num azul desmaiado a cair para o braco, e para além de uns quantos
diplomas na parede não havia mais nada. ― Onde é que o Eric foi?
― Não disse. Apenas pediu para manter-te debaixo de olho. ― Olhei para Sam
com suspeita. ― Acredita, ele praticamente fez-me ficar aqui plantada. Se não
estivesse sol lá fora, ter-te-ia abandonado...mas, não. Pensa nisto como um gesto
egoista da minha parte.
― Obrigada. - Disse eu. ― Sabes se morreu alguém?
― Para alem de “nós”? Ninguém, apenas uns acidentados que levaram com os
destroços em cima...
― Subtil...
― Muito! - Ela saltou de cima da mesa. ― Veste-te, eles não tardam aí. O sapatos
estão aí debaixo.
Peguei pelas mangas e levantei-o, era um lindo vestido. De facto, Samantha tinha
um bom gosto. As mangas do vestido, eram largas, prendia-se na cintura com uma
faixa mais escura banhada com algumas pedras brilhantes, para depois alargar e
parar em cima dos joelhos. Os sapatos eram de salto alto mas, em plataforma e
abertos a frente. Vesti-o com gosto.
― Hum...- Samantha estava admirada. ― Agora, diz-me porque não te vestes
assim no teu dia-a-dia?! Confesso, que ficas mais bonita.
― És a minha personal stylist, Sam.
Vi-a hesitar ainda, sob a alcunha mas, logo lhe passou.
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― Pode até ser mas, cobro caro, minha querida. - Olhou para o meu reflexo no
espelho. ― Fazer as pessoas lindas tem o seu preço. Falta-te algo...
Vi-a olhar para o meu pescoço nu e, automaticamente lembrei-me da minha flor de
lis, para a seguir lembrar-me de Dean e do seu estado. Em como o tinha deixado. E,
novamente fui assolada por um vazio.
― Dean...
― O quê?
― Hã?! Nada...Hum...a flor? Bem, deve estar na penthouse.
― Não, tu tinha-la quando saiste. De certeza que não a perdeste por ai?
Eu suspirei.
― Deixa a flor, Sam.
Eu ri-me, e ela riu-se tambem. Não sabia o que era aquilo, talvez o inicio de uma
futura amizade mas, Samantha pareceu-me genuina naquele momento e nada
arrogante ou “nariz empinado” apenas uma vampira simpatica.
Então, ouvimos o que parecia ser o som de um carro a derrapar a alta velocidade,
portas a bater e logo a seguir uma discussão entre vozes. Foi fácil identifica-las,
como era obvio, era de duas pessoas apenas: Sheftu e Eric. Seja qual fosse a
discussao as vozes, vinham altas e os berros eram tais que mal se conseguia
identificar o topico da conversa.
(…)
― Que eu saiba, eu é que devia de estar chateado com tudo isto! Deixaste-me
furioso sabias?
― Tanto me faz.
― Fala de uma vez por todas comigo, Sheftu! Deixa-te de criancices!
―Não tenho nada a te dizer.
― Mas porquê tudo isto?! Só por causa dos meus quadros?
― Os teus quadros?! Pois, aquilo me parecia mais os meus quadros!
― Não, eram os meus quadros! Os quadros que tu destruíste juntamente com toda a
minha casa! Pensas que isto vai ficar assim é?
― Não vai não. Porque eu ainda agora comecei.
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― Sabes muito bem onde tudo isto acaba, Sheftu! Nós os dois sabemos como tudo
isto acaba.
― NÃO!
― Agora já sabes, não há nada que possa fazer-te voltar atrás Eu sei muito bem o
que vejo!
O silencio foi intenso entre os dois. E eu dei comigo e com Samantha a olhar
fixamente para a porta na expectiva de algo acontecer. A seguir tão rapidamente, a
porta da frente abriu-se mostrando a luz lá de fora e a silhueta de Eric a formar-se a
entrada. Mal, viu que nós escutava-mos a discussão ficou meio embaraçado. Sheftu
veio logo a seguir.
― Ainda bem que estás de pé. - Disse Eric. ― Belo vestido...
― Graças á Samantha. - Disse eu. Olhei para os dois tentando perceber o que se
passava. ― Está tudo bem?
― Sim...
― Não! - Exclamou Sheftu.
― SIM! - A voz de Eric elevou-se, e por momentos vi-lhe um laivo de irritaçao
para com Sheftu. Depois voltou-se para mim com o seu melhor sorriso novamente.
― Estás linda!
― Oh chega! - Ordenou Sheftu. Avançou ficando entre mim e Eric. ― Dizes tu
que eu sou criança, o que chamas a isto?! Vocês os dois, cheios de mel e
proximidade. Porquê?!
Não evitei em largar um sorriso gigante.
― Ciumes, Sheftu?
Samantha riu-se com aquela boca Senti- a sentar-se na mesa outra vez com as
pernas cruzadas, fascinada por aquele cenario. Sheftu virou-se para mim
automaticamente com os olhos a faiscar.
― Eu dou-te os ciumes...
― Okay! - A voz de Eric elevou-se novamente e a atenção foi toda virada para ele.
― Se queres saber, eu digo-te: A Carmen e eu temos uma historia. Uma longa
historia. Conhecemo-nos a algum tempo e tivemos uma relação...
Subitamente Sheftu adquire um ar gélido, como uma mumia que era. Voltou-se
para mim lentamente com os olhos azuis a faiscar.
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Naquele momento senti um enorme aberta para fazer Sheftu descer do seu
pedestal. Portanto, encostei-me a mesa, mesmo perto de Samantha, cruzei os braços
ao peito e meti a minha mascara de má. Estava pronta a dar um magnifico golpe no
seu orgulho.
― Yep, eu e o Eric, namoramos...quer dizer...gosto mais de dizer que fomos
amantes durante muito tempo. Decadas! Claro que acabámos e recomeçamos vezes
e vezes...- Sorri ao lembrar-me de cada vez em que eu expulsava-o ou que ele se ia
embora depois de uma discussão acessa onde voavam objectos. ― Mas, foi bom
enquanto durou...
― Oh meu Deus...- Disse Samantha sorridente. ― Isto é melhor que novela!
― Cala-te!! - Ordenou Sheftu raivosa.
― Hey, não me odeies só porque soubeste que não és a primeira dele...- Ela atirou
o cabelo para trás. ― Tinhas bom gosto, rapaz.
Eu toquei Samantha no braço pedindo-lhe que parasse, aquele momento era meu
― Foi a muito tempo mas, ainda me lembro...Estava eu num bar algures em
França, hum...foi em Paris...estava a procura de alguém para beber. Estava
aborrecida de morte, ninguem ali chamara a minha atenção, ninguem era especial!
Preparava-me para me ir embora, quando o vi entrar...Todo vestido de negro, com
um casaco comprido e o cabelo apanhado. Devo ter ficado com um ar de idiota a
olhar para ele mas, parece que resultou porque captei a sua atenção. - Voltei-me
para Sheftu, adorar a sua cara e a sentir-me puramente má. ― A partir daí fora o
inicio de muitas noites de sexo...muitas mesmo! E viajamos tanto! Inclusive,
chegamos a viver juntos na Irlanda...
O silencio foi instantaneo. Sheftu ficou parada no seu lugar, com os punhos
cerrados e a cara fechada num ar de pura irritação. Ela abanou a cabeça, o seu olhar
saltou de Samantha – em cima da mesa com um ar divertido – para mim, que
continuava com um ar superior e até Eric que estava a distancia dela. Voltou-se para
a porta e quando saiu, fez questão de bater com a porta de tal modo que a fez sair
dos encaixes.
― Ena! - Samantha olhou para Eric e depois para mim. ― Por esta, admito, não
esperava! Fizeram o meu dia, não há nada melhor do que ver a Sheftu cair do seu
pedestal...
Voltei-me para Eric, que estranhamente, sorria ou melhor, ria-se. Ria-se sozinho
de algo que lhe metia graça. Quando viu que eu o observava, não conseguiu apagar
o que sentia.
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― Oh não te preocupes, que isso passa-lhe. Entretanto, preparem-se, meninas...-
Disse ele sorridente mexendo nos bolsos do casaco. ― Arranjei-nos uma casa. Uma
mega casa.
Achei interessante o facto de Eric se incluir como novo morado da casa.
Estendeu-nos o papel que mostrava uma enorme estrada que dava a uma mansão
de estilo Vitoriana rematada por uma floresta em volta. De facto a casa era linda,
grande e encaixava perfeitamente na paisagem. Tinha um ar mistico.
― Okay...- Disse Samantha. ― E isto é aonde?
― Éscocia! - Exclamei eu ao ver a localização, nas legendas. ― Vamos para a
Éscocia?!
Quando levantei o olhar, Eric ia a caminho da porta com um sorriso na cara.
Piscou-nos o olho e saiu, sem dar mais explicação.
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EP33- “Really, Carmen?!” By Sheftu
Permanecia inquieta sobre as sombras, à espera que tudo ficasse resolvido, que
conseguissem tirar Carmen do carro sem que nada lhe acontecesse. Por mais que me
custasse a admitir eu me sentia ligeiramente preocupada com aquela pseudo-vampira.
Eric tentava incessantemente convencer a todos que Ela estaria morta, que já não
haveria motivo para tentarem tira-la agora, que ele mesmo trataria de nossos corpos e
faria os funerais necessários para tal. Carmen parecia inconsciente, talvez o embate
lhe tivesse batido forte o suficiente para que ela se mantivesse assim por umas horas.
Vi-o a fazer uma chamada, não tomei atenção ao que ele dizia, mas rapidamente
compreendi, mal vi uns homens de negro levarem todos os corpos, certamente
tentaria arranjar alguma forma de conseguir tirá-las de lá sem que não se
transformassem em cinza.
Entrou para dentro do hotel, ou o que restava dele, e segredou algo à Samantha
enquanto fingia tentar ouvir o seu coração a bater. Depois fez um sinal aos seus
homens e eles se aproximaram, trazendo um saco e colocando-a lá. Não tinha sido
apenas o Hummer que se despedaçara com destroços, mais dois carros estavam quase
tão miseráveis como aquele carro. Vi o cuidado que teve ao tirar o corpo de Carmen,
não entendia de onde provinha tanto afecto e dedicação neste dois mas também não
queria nem pensar o que levava a essa situação. O que estaria a passar-se comigo?!
Enquanto tirava Carmen, os raios do sol eram totalmente absorvidos pelo saco que
seus homens seguravam entre ela e a sua possível segunda morte... Tão rapidamente a
tiraram, colocando-a dentro do saco e levando-a para a carrinha de onde seus homens
tinham vindo. Ele estaria sempre preparado para tudo?! Sorri, não tudo... A casa dele,
simplesmente... puff! E ele nada pode fazer...
Ele me olhou com um certo rancor nos olhos enquanto ainda eu me ria, me
dizendo que era a hora de sairmos de cena. Corri rápido, apesar de não ser muito
necessário, para que as câmaras não me pudessem captar. Dentro da carrinha tinham
três sacos, mas apenas dois estavam completamente cheios. O outro parecia cheio,
Eric o abriu um pouco quando observou o meu olhar curioso: Areia, algo que
simplesmente me fazia rir... Areia ocupava o que seria o meu corpo, irónico. Ficamos
os dois na parte de trás com Samantha que tinha acabado de sair do seu saco,
encostados às paredes, em silêncio... Eu não queria falar, não tinha mais nada a falar e
nem sequer iria abrir a minha boca.
Rapidamente chegamos a um local, as portas foram abertas, observava com
preocupação o saco que continha Carmen, foi ele mesmo que a levara para dentro,
deitando-a numa mesa da velha morgue a que tínhamos chegado.
Ele olhou para mim e depois para Samantha, um dos seus homens entrara para
segredar algo ao seu ouvido que nós conseguíamos ouvir na perfeição: o carro para a
viagem tinha acabado de chegar. Mas que viagem? O que estaria preparado para nós?
- Miss Saint, espero que compreenda que terá de cá ficar com Carmen. Eu e Sheftu
voltaremos rapidamente. – Disse Eric, suave e melodiosamente para ela. Todo o seu
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corpo se arrepiou com a voz dele... Mas quando todo este pesadelo acabaria?! Queria
que me deixassem em paz para puder causar o que sempre causo...
- Não, prefiro ir com vocês. Não tenho mesmo nada aqui a fazer. – Respondeu ela
rapidamente.
- Creio que não poderá sair sobre a luz do dia. – Respondeu-lhe pacientemente.
- E Sheftu pode? – Perguntou-lhe indignada com a injustiça que parecia sentir,
plenamente normal para algo fútil como ela.
- Claro que posso... – Ri-me sem vontade. Na realidade não queria puder, se
tivesse virado cinzas não teria agora que me deparar com tudo isto.
- Sim, ela pode. – Respondeu Eric num suspiro, olhando para mim. Sentia que
havia algo mais que o incomodava, mas também não queria saber o que era. – Peço-te
imensamente que fiques aqui a cuidar de Carmen. Nós não vamos demorar muito,
rapidamente voltaremos...
- Fico porque não tenho como sair.
- Agradeço-te imenso. Olha, eu um dia compensar-te-ei. – Respondeu-lhe Eric.
Sim, tinha captado toda a essência dela: recompensas.
- Tens a certeza? – Perguntei-lhe, desconfiada. Era demasiada bondade... O que se
passava aqui?! Não tinha qualquer ideia do que fosse... Talvez nem quisesse saber,
apesar de estar duplamente morta para o descobrir.
- Claro que tenho. – Respondeu-me sem sequer me olhar, observando a
inconsciente. – Agora temos de ir, não deveremos demorar muito tempo.
Saímos os dois da morgue e já havia outro carro à nossa espera. Mas quantos
veículos ele tinha disponíveis por dia? Um pouco convencido demais não?
- Precisamos de falar, estarei aí dentro de momentos. – Disse Eric com uma voz
dura, ao telefone com alguém que certamente estaria prestes a conhecer.
A viagem foi totalmente silenciosa, também não tencionava falar sequer... Tudo o
que fosse dito seria sobre aquela maldita casa, por isso nem valia a pena abrir a boca.
Senti o seu olhar em cima de mim, também já não me importava... Observava a
paisagem que era o melhor que tinha a fazer do que perder-me em pensamentos. Sim,
esperar que daqui a pouco chegaríamos onde tínhamos de ir.
Entramos numa mansão, bastante relevante, alguém com posses certamente...
- Nos encontraremos com um vampiro conhecido meu, espero que nada digas a
não ser o estritamente necessário. Não necessito de mais problemas pelos próximos
séculos, faz-me o favor de manter essa boca fechada.
- Como queira o senhor. – Gracejei da estúpida tarefa por ele dada. Se não queria
que eu viesse, que não me trouxesse simplesmente. Para quê agarrar-me desta forma
se nem sequer deseja estar perto de mim? Ridículo, anormalmente viciado.
- Ainda bem que entendeste. Agora só espero que o faças que tudo se tornará mais
simples.
Antes que eu pudesse responder, já estava um homem à nossa frente a observar-me
atentamente. Pela aparência seria um vampiro já com alguma idade respeitável, seus
olhos azuis se realçavam contra o seu cabelo branco colocado para trás com gel, sua
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classe parecia não se ter perdido com os anos... Talvez fosse um vampiro como deve
ser, classe e subtilmente demoníaco... O que importava agora era saber o que
quereríamos com ele.
- Ela é a tal? – Perguntou o vampiro com um olhar torno para Eric.
- Sim. Mas não foi para isso que cá viemos. – Respondeu rispidamente. Bem,
parecia-me que a relação deles seria bastante animada. Que óptimo!
- Desculpe as maneiras deste homem, Madame. Apesar da idade ainda não
aprendeu como se comporta perante uma senhora como você. Meu nome é Sir
Lawrence Attwood. – Disse com toda a classe, pedindo a minha mão delicadamente
para a beijar.
- Não temos tempo para estas coisas, Lawrence. – Interrompeu Eric, colocando-se
entre nós, fazendo com que o vampiro recuasse uns passos.
- Vejo que continuas como sempre, sem quaisquer maneiras.
- Não importam as maneiras. Iremos finalmente ao que interessa ou continuarás a
tentar adiar o que tenho para pedir? – Continuava no seu tom ríspido de
anteriormente, simplesmente não se davam bem. Diria até que se matariam se não
fossem os dois ter códigos éticos, algo que eu definitivamente não tinha.
- Certamente, sigam-me...
Fomos os três até uma sala, o vampiro fez menção para que me sentasse na
poltrona à frente dele, sentando-se de seguida Eric do meu lado direito.
- O que vos trouxe por a minha humilde casa? – Perguntou o vampiro, após uns
momentos longos de silêncio.
- É pouco provável que tenhas ainda conhecimento, mas a penthouse em que
Carmen vivia teve uma explosão. Como deves calcular, ela não morava lá sozinha e
temo que os restantes moradores estejam em risco, por isso serei breve. Necessitamos
de uma casa.
- Hum...e no meio disto tudo presumo que a Carmen esteja bem. – Respondeu o
vampiro perante o que Eric narrou.
- Sempre esteve. – Respondeu friamente.
- Isso é discutivel, Eric... – Falou, arregalando os olhos.
-Tens alguma coisa a dizer-me, Lawrence? Porque se tens desembucha!
- Não, meu caro nada que já não saibas... – Respondeu a meio de um riso torto.
Apenas alguns minutos depois voltou à sua pose de classe e continuou - Pois bem,
então tereis a vossa casa para morar. Não sei porque razão cá vieste. – Respondeu
com classe, apesar da real tensão que se sentia entre estes dois.
- Teria caso não me tivessem incendiado a casa. – Ainda se sentia um pouco de
desprezo quando falava do acontecimento. Não tinha qualquer importância.
- Então que quereis de mim? Sempre podereis comprar mais, não sou eu aquele
que nada tem? – Respondeu ironicamente, certas rixas do passado pareciam querer
aflorar, mas pelo que parece Eric estava mesmo decidido a sair daqui sem qualquer
grande aparato.
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- Penso que não necessitais da vossa casa, e como estão todos os moradores dados
como mortos, creio que Carmen terá de se esconder, juntamente com todos os que
estão em risco.
- Entendo... Será que tereis tempo para me explicar melhor o enredo de toda esta
situação? – Parecia agora que ambos sabiam que algo tinha passado de errado. Sim, o
que teria sido?
- Mal o possa to direi. Agora necessito que me digas se poderemos fazer de tua
casa como nossa ou procuraremos outra solução. – Eric parecia ter bastante pressa, ou
simplesmente não suportava toda esta situação.
- Certamente... Poderás dizer que a casa será a minha herança a Carmen, já está na
altura daquelas paredes ganharem alguma vida.
- Fico agradecido. – Disse Eric, levantando-se sem sequer se despedir. Apenas a
uns passos da porta, voltou-se para trás, olhando-me.
- Sim, claro que estás agradecido. Espero ter noticias tuas brevemente, há alguns
pontos que temos que retocar.
- Sim, claro. – Respondeu Eric prontamente. Eu estava à nora, não sabia de nada
do que se tinha passado aqui. – Vens?
- Sim, já vou. – Respondi-lhe rapidamente.
- Desejo a si muita paz e paciência... Que dê bem cabo da paciência dele, que ele
bem merece. – Disse-me o vampiro, beijando em minha mão. Seguindo-nos até à
entrada, e se despediu nas sombras.
Entramos de novo no carro e um novo silêncio se alastrou. Permaneci a maior
parte do tempo a pensar em tudo o que se tinha acabado de se passar... Mas não
demoraria muito até que chegássemos ao nosso ponto de partida.
- Olá, gostaria que preparasses o helicóptero para daqui a uma hora, estarei de
partida mal aí chegue. – Desligou o telemóvel e senti novamente os seus olhos em
mim. – Iremos viver para a Escócia... Alguém tentou fazer com que vocês saíssem da
vossa casa para que pudessem vos apanhar mais facilmente. Mas eu não irei permitir
que façam nada.
E o silêncio novamente retomou o clima do carro, não fiz qualquer intenção de
responder. Neste momento a única coisa que me importava era o vazio que preenchia
a minha cabeça. Ser um corpo morto pelo menos uma vez nesta minha morte.
- Tens aqui os teus novos documentos, todas estarão dadas como mortas. Espero
que não te importes que te tenha dado o meu nome, já que me destruíste a casa, pelo
menos terás que aceitar o pequeno preço, Senhora Manen... – As paisagens
simplesmente me aclareavam a cabeça de todo e qualquer pensamento, gélida e vazia
como a neve... Um novo silêncio se prolongou por uns segundos... - Sheftu, fala
comigo sai agora do carro que preciso de falar contigo...
- Não precisas nada. Eu não quero falar contigo. – Respondi-lhe friamente, não
tinha qualquer importância nada do que pudesse dizer.
- Sei que não queres, mas temos de falar. – Agarrou o meu braço e virou-me em
direcção a ele.
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- Não há nada para falarmos. – Continuei com o mesmo olhar vazio que observava
a paisagem, simplesmente não ia dar importância.
- Não estou com paciência. É a última vez... Sheftu anda lá para fora.
- Não vou. Prefiro ficar sozinha.
- Tu é que pediste... – Dizendo isto, puxou-me para fora do carro, pegando-me ao
colo.
- Que queres? – Respondi sem vontade, para que me voltasse a colocar no chão. E
assim o fez, estava novamente sobre os meus pés. Finalmente!
- Temos de falar... – Prosseguiu ele.
- Então fala. – Não consegui calar-me, ele merecia tudo aquilo que lhe fazia.
- Vais ser assim é? – Acusou-me com um tom meio azedo.
- Vou. – Respondi prontamente.
- Que eu saiba, eu é que devia de estar chateado com tudo isto! Deixaste-me
furioso sabias? – Sua voz elevou-se, começava agora a enervar-se. Não iria aturar
isto, segui o meu caminho em direcção à morgue.
- Tanto me faz. – Respondi-lhe, já que me seguia de perto.
- Fala de uma vez por todas comigo, Sheftu! Deixa-te de criancices!
- Não tenho nada a te dizer. – Repeti.
- Mas porquê tudo isto?! Só por causa dos meus quadros? – Gritou ele.
- Os teus quadros?! Pois, aquilo me parecia mais os meus quadros! – Elevei a
minha voz ao mesmo nível. Quem pensava ele que era?!
- Não, eram os meus quadros! Os quadros que tu destruíste juntamente com toda a
minha casa! Pensas que isto vai ficar assim é?
- Não vai não. Porque eu ainda agora comecei.
- Sabes muito bem onde tudo isto acaba, Sheftu! Nós os dois sabemos como tudo
isto acaba. – Eu nem queria pensar no que as suas palavras queriam dizer, mas minha
mente trapaceou-me e começou a imaginá-las por mim... O desespero começava a
crescer, infinitamente.
- NÃO! – Berrei com todas as minhas forças.
- Agora já sabes, não há nada que possa fazer-te voltar atrás... Eu sei muito bem o
que vejo! – Sorriu levemente, ainda irritado. Mas sentia-se um ar de vitória que não
era o meu, isso simplesmente me enojava.
O silêncio foi intenso, até que Eric seguiu para dentro da morgue, dando a
discussão por encerrada. Por mim nunca teria começado, mas agora deveria ser a hora
de começarmos a traçar as nossas novas vidas, algures pela Escócia. Samantha e
Carmen observavam Eric atentamente, olhando de imediato para mim, mal notaram a
minha entrada. Era provável que tivessem ouvido algo da nossa pequena conversa...
- Ainda bem que estás de pé. - Disse Eric. - Belo vestido...
- Graças á Samantha. – Respondeu Carmen, continuando a observar-nos tal como
tínhamos entrado. - Está tudo bem?
- Sim... – Disse Eric.
- Não! – Respondi.
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- SIM! - A voz de Eric elevou-se, acentuando um pouco a sua raiva da conversa
anda há pouco acabada, voltando a fitar Carmen com um sorriso no rosto... O que se
passaria entre estes dois?! - Estás linda!
- Oh chega! - Ordenei, ficando entre eles os dois. - Dizes tu que eu sou criança, o
que chamas a isto?! Vocês os dois, cheios de mel e proximidade. Porquê?!
- Ciúmes, Sheftu? – Gracejou Carmen, apostaria que devia de ter algo na manga e
que o usaria com todo o prazer. Idiota.
Samantha riu-se, divertindo-se com toda esta situação e aconchegando-se melhor
na mesa que tinha perto dela. Olhei para Carmen totalmente enervada. Quem pensava
ela que era para me fazer sentir tal coisa?! Ciúmes?! Tentei não valorizar muito as
suas provocações juntamente com os risos divertidos de Samantha.
- Eu dou-te os ciúmes... – Respondi o mais calmamente possível. Caso fosse
necessário realmente começar com o seu verdadeiro óbito não havia problema, seria
lenta e eficazmente.
- Okay! – Disse Eric, chamando à atenção todas para o que ele dizia. ― Se queres
saber, eu digo-te: A Carmen e eu temos uma história. Uma longa história.
Conhecemo-nos a algum tempo e tivemos uma relação...
O quê?! Mas quando pensavam eles me dizerem?! Absolutamente ridículo, só a
ideia deles... Ah! Que ódio!!! Olhei para Carmen e seu sorriso aberto, completamente
deliciada com a minha reacção. Eu devia, eu devia... Aff! Ridículo.
- Yep, eu e o Eric, namoramos...quer dizer...gosto mais de dizer que fomos
amantes durante muito tempo. Décadas! Claro que acabámos e recomeçamos vezes e
vezes...- Sorriu enquanto continuava a narrativa. Minha mente começou a divagar
entre imagens indesejadas, tentava afasta-las mas não o conseguia. – Mas, foi bom
enquanto durou...
― Oh meu Deus...- Disse Samantha sorridente. ― Isto é melhor que novela!
― Cala-te!! – Ordenei-lhe antes que houvesse algum acidente.
― Hey, não me odeies só porque soubeste que não és a primeira dele...- Ela atirou
o cabelo para trás, declarando vitória. ― Tinhas bom gosto, rapaz.
Carmen tocou-lhe no braço, fazendo sinal e sorrindo, e continuou o seu momento.
― Foi a muito tempo mas, ainda me lembro...Estava eu num bar algures em
França, hum...foi em Paris...estava a procura de alguém para beber. Estava aborrecida
de morte, ninguém ali chamara a minha atenção, ninguém era especial! Preparava-me
para me ir embora, quando o vi entrar...Todo vestido de negro, com um casaco
comprido e o cabelo apanhado. Devo ter ficado com um ar de idiota a olhar para ele
mas, parece que resultou porque captei a sua atenção. – Voltou-se para mim,
completamente radiante com a minha expressão. ― A partir daí fora o inicio de
muitas noites de sexo...muitas mesmo! E viajamos tanto! Inclusive, chegamos a viver
juntos na Irlanda...
O silêncio apoderou-se da sala e minha mente não parava de me perturbar, era
totalmente inacreditável tudo aquilo que sentia. Não queria acreditar, e nunca na vida
iria aceitar, jamais! Nada disto mudaria nada. Olhei para Samantha, totalmente
divertida com tudo isto, e Carmen permanecia a sentir-se vitoriosa. Eu não tinha
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paciência para aturar estas coisas. Ciúmes?! Como poderiam pensar isso. Eu não ia
admitir tal coisa. Eric era, era... Absolutamente miserável! Não via a hora de ter tudo
isto acabado, fazia questão que tudo acabasse. Ridículo, como é que isto aconteceu?
Ah, completamente odiável. Voltei-me, ele tentava esconder o seu sorriso para que eu
não visse. Sorriso de quê?! Ele iria pagar-me por tudo isto!
Mal sai, encostei-me à parede fechando os olhos e sentindo o sol na minha pele
fervente, entre o sol e a minha raiva não sabia qual deles seria pior. Respirei
calmamente, inspirando e expirando para que voltasse ao estado normal. Por mais que
tentasse as suas palavras não me saiam da cabeça... Mas o que se passava comigo? O
que seria tudo isto? Eu sei, não quero simplesmente saber de nada! Suspirei uma
ultima vez e aproximei-me do carro, teria uma nova vida em outro local, precisava
completamente de me divertir... Mal lá chegasse trataria de me alimentar com todo o
habitual divertimento e o mais horroroso possível.
Sim, um novo lar me esperava! E não seria uma parvoíce como esta que me
incomodaria, eu não permitia que isso acontecesse! Nunca!
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EP34-“Better It’s Impossible” By Samantha
A viagem durou algumas horas mas nada que não se passasse bem. Observava o
céu límpido, negro e estrelado. Era assim que todas as noites deveriam ser.
Mal aterremos, tinha um carro a minha espera para me transportar até ao hotel.
- Foi um prazer finalmente a conhecer menina Samantha. – Disse o mesmo homem
com um enorme sorriso na cara.
- Obrigada. – Retribui o sorriso. Sai do carro.
Subi até à penthouse e quando sai do elevador, um homem ia a entrar, mas olhou
para mim com ar de medo. Que estranho… Nem o conhecia, apesar da sua cara não
me ser estranha. Entrei no meu quatro e inspirei bem fundo. Senti um cheiro que não
era habitual no meu quarto. Talvez por ter estado tanto tempo fora tenha ganho um
cheiro característico de Moscovo.
Peguei numa pequena mala e coloquei lá dentro alguma roupa. K teria que cá ficar
por agora, depois pediria para me o enviarem para Itália. Tinha tudo o que precisava.
Mudei de roupa, para um vestido roxo. Tinha de ser um pouco mais quente para
não levantar suspeitas. E um casaco. Já não o vestia a mesmo muito tempo.
Tinha descido até a entrada do hotel, mas tinha demorado tanto tempo que já era
de dia. Olhei para um Hummer que se aproximava e vi Carmen, Sheftu e Eric.
Mantive-me na sombra para que os raios de sol não me atingissem. O observei-os
para tentar entender o que se passava. De repente o chão tremeu e cai tal como toda a
multidão que se encontrava à minha volta.
Tinha descido até a entrada do hotel, mas tinha demorado tanto tempo que já era
de dia. Olhei para um Hummer que se aproximava e vi Carmen, Sheftu e Eric.
Mantive-me na sombra para que os raios de sol não me atingissem. O observei-os
para tentar entender o que se passava. De repente o chão tremeu e cai tal como toda a
multidão que se encontrava à minha volta.
- SAÍAM DO CARRO! – Foi o que gritei no meio de toda aquela agitação.
Mantive-me no chão e vi um enorme pedaço de betão cair mesmo em cima do
Hummer. Não tinha a certeza se tinham saído todos do carro. O pânico estava
instalado e vi muita gente desmaiada e outros aos berros completamente exaltados.
Vi Eric a aproximar-se de mim. Baixou-se e…
- Finge que estás completamente morta, vamos te tirar daqui para que não apanhes
sol nem sejas apanhada.
Os homens colocaram-me dentro de um enorme saco preto e levaram-me.
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209
Esperei algum tempo e quando achei que já podia sair, abri o saco e encostei-me
achei aquele silêncio extremamente gélido.
Rapidamente chegamos ao local que nos era destinado. Uma morgue. Ele pegou
num saco onde deveria estar Carmen e levou-a para dentro seguido de nós duas.
Deitou-a numa maca e observou Sheftu e a seguir a mim. Um dos empregados entrou
e segredou ao seu ouvido, O carro já está pronto para a viagem. Não entendi o que ele
quereria dizer com aquilo. Talvez Sheftu já soubesse. Afinal era muito íntimos. Mas
ao contrário das minhas intenções foi Eric que me dirigiu a palavra.
- Miss Saint, espero que compreenda que terá de cá ficar com Carmen. Eu e Sheftu
voltaremos rapidamente. - Disse numa voz tão suave que arrepiava.
- Não, prefiro ir com vocês. Não tenho mesmo nada aqui a fazer.
- Creio que não poderá sair sobre a luz do dia.
- E Sheftu pode?
- Claro que posso...
- Sim, ela pode. – Suspirou. - Peço-te imensamente que fiques aqui a cuidar de
Carmen. Nós não vamos demorar muito, rapidamente voltaremos...
- Fico porque não tenho como sair.
- Agradeço-te imenso. Olha, eu um dia compensar-te-ei. – Tinha chamado a minha
atenção pela primeira vez.
- Tens a certeza? – Perguntou Sheftu desconfiada.
- Claro que tenho. – Disse observando Carmen. -Agora temos de ir, não deveremos
demorar muito tempo.
Saíram rapidamente. Já sabia que isto ia durar. Sentei-me numa maca afastada de
Carmen e pensava no que tinha sido as minhas últimas 48 horas. Magnificas.
Coloquei a mão no bolso do meu casaco e senti algo lá dentro. Estranho, não tinha
metido nada dentro dos bolsos. Tirei de lá de dentro um fio com a inicial “S”, era do
Louis de certeza. Eu não tinha tal fio. Mas o que fazia isto dentro do bolso do meu
casaco? Na parte de trás dizia, Uma liberdade que elimina a vida não é liberdade. O
que quereria isto dizer?
Ainda estava a pensar no assunto quando a ouço a gritar feita louca. Sai da
escuridão e falei.
- Então, miúda. Estás bem?
- Onde estou?
- Na morgue.
- Morri?
- Sim, porque os vampiros morrem, Carmen! - Ironizei – É um breve esconderijo,
até a confusão acalmar.
- Qual confusão?
Suspirei e saltei para cima da maca de metal, cruzando as pernas.
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210
- Do hotel, a explosão... – Ergui a sobrancelha em sinal de espera – Do que te
lembras?
- Barulho. Vidros a caírem. E...vi-te a gritar… - Olhou para mim. -
Espera...Explosão?!
- Explodiram com a penthouse. – Expliquei. – O Eric diz que foi uma fuga de
gás...
- E tu não acreditas.
Encolhi os ombros e larguei um enorme suspiro. Era mais que óbvio que não
acreditava naquele disparate da fuga de gás.
- Tenho a minha teoria... – Agarrei em algumas roupas que tinha atrás de mim e
lancei-lhas para ela vestir. - Veste. Fui eu que escolhi o vestido.
- Porquê um vestido novo?
- Porque a tua roupa está... – Olhei-a de cima a baixo. - Horrível! E, segundo
porque vamos mudar de casa.
- Vamos? Para onde?!
- Não faço a mínima. O teu amigo Eric, é todo cheio de segredos e mistérios. –
Olhei para a porta e de seguida para o relógio na esperança que já faltasse pouco para
o anoitecer. - Ele e a Sheftu saíram.
- A muito tempo?
- Coisa de meia hora. O Eric estava mesmo preocupado contigo.
- Está sempre. Até em demasia... – Ela olhou para toda a sala, pensativa e disse. -
Onde é que o Eric foi?
- Não disse. Apenas pediu para manter-te debaixo de olho. – Olhou-me
desconfiada. - Acredita, ele praticamente fez-me ficar aqui plantada. Se não estivesse
sol lá fora, ter-te-ia abandonado...mas, não. Pensa nisto como um gesto egoísta da
minha parte.
- Obrigada. Sabes se morreu alguém?
- Para alem de “nós”? Ninguém, apenas uns acidentados que levaram com os
destroços em cima...
- Subtil...
- Muito! – Saltei de cima da maca – Veste-te, eles não tardam aí. Os sapatos estão
aí debaixo.
Ela observou o vestido, fiquei na dúvida se lhe tinha agradado ou não. Mas
naquele momento não era importante.
- Hum... – Estava muito admirada com a silhueta dela. - Agora, diz-me porque não
te vestes assim no teu dia-a-dia?! Confesso, que ficas mais bonita.
- És a minha personal stylist, Sam.
Hesitei com o facto de me chamar Sam mas achei que não valia a pena barafustar.
Quando mais me arreliasse pior ela faria.
- Pode até ser mas, cobro caro, minha querida. – Olhei-me num espelho… Perfeita
– Fazer as pessoas lindas tem o seu preço. Falta-te algo... – Observei o seu pescoço.
- Dean...
- O quê?
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211
- Hã?! Nada...Hum...a flor? Bem, deve estar na penthouse.
- Não, tu tinha-la quando saiste. De certeza que não a perdeste por ai?
- Deixa a flor, Sam.
Começamos as duas a rir. Foi um pouco estranho aquele momento, mas
rapidamente foi quebrado com a paragem de um carro e da discussão que se fez ouvir
com o bater das portas…
- Que eu saiba, eu é que devia de estar chateado com tudo isto! Deixaste-me
furioso, sabias?
- Tanto me faz.
- Fala de uma vez por todas comigo, Sheftu! Deixa-te de criancices!
- Não tenho nada a te dizer.
- Mas porquê tudo isto?! Só por causa dos meus quadros?
- Os teus quadros?! Pois, aquilo me parecia mais os meus quadros!
- Não, eram os meus quadros! Os quadros que tu destruíste juntamente com toda a
minha casa! Pensas que isto vai ficar assim é?
- Não vai não. Porque eu ainda agora comecei.
- Sabes muito bem onde tudo isto acaba, Sheftu! Nós os dois sabemos como tudo
isto acaba.
- NÃO!
- Agora já sabes, não há nada que possa fazer-te voltar atrás Eu sei muito bem o
que vejo!
Deu-se um silêncio desolante entre os dois. Eu e Carmen estávamos a fixar a porta
na esperança de que algo acontecesse. Eric foi o primeiro a entrar logo seguido de
Sheftu. Ficou um bocado encavacado quando percebeu que nós tínhamos ouvido a
discussão.
- Ainda bem que estás de pé. Belo vestido...
- Graças á Samantha. Está tudo bem?
- Sim...
- Não! - Exclamou Sheftu.
- SIM! – A sua voz suava irritada para com Sheftu. - Estás linda!
- Oh chega! - Ordenou Sheftu. Avançou ficando entre Carmen e Eric. - Dizes tu
que eu sou criança, o que chamas a isto?! Vocês os dois, cheios de mel e
proximidade. Porquê?!
- Ciúmes, Sheftu?
Ri-me com aquela boca que parecia mais que obvia. Voltei a sentar-me na maca.
Queria assistir a este filme na primeira fila.
- Eu dou-te os ciúmes...
- Okay! - A voz de Eric elevou-se novamente e a atenção foi toda virada para ele. -
Se queres saber, eu digo-te: A Carmen e eu temos uma história. Uma longa história.
Conhecemo-nos a algum tempo e tivemos uma relação...
Sheftu bloqueou. Olhava para Carmen com os olhos a faiscar de ódio. Esta estava
calma e encostou-se mesmo ao meu lado. Cruzou os braços e começou a
desbobinar… - Yep, eu e o Eric, namoramos...quer dizer...gosto mais de dizer que
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212
fomos amantes durante muito tempo. Décadas! Claro que acabámos e recomeçamos
vezes e vezes... Mas, foi bom enquanto durou...
- Oh meu Deus... – Disse sorridente. - Isto é melhor que novela!
- Cala-te!! - Ordenou Sheftu raivosa.
- Hey, não me odeies só porque soubeste que não és a primeira dele... - Atirei o
cabelo em sinal de desprezo. Olhei para ele. - Tinhas bom gosto, rapaz.
Carmen tocou no meu braço pedindo-me para parar.
- Foi a muito tempo mas, ainda me lembro...Estava eu num bar algures em França,
hum...foi em Paris...estava a procura de alguém para beber. Estava aborrecida de
morte, ninguém ali chamara a minha atenção, ninguém era especial! Preparava-me
para me ir embora, quando o vi entrar...Todo vestido de negro, com um casaco
comprido e o cabelo apanhado. Devo ter ficado com um ar de idiota a olhar para ele
mas, parece que resultou porque captei a sua atenção. A partir daí fora o início de
muitas noites de sexo...muitas mesmo! E viajamos tanto! Inclusive, chegamos a viver
juntos na Irlanda...
Ouve um silêncio desconcertante. Sheftu ficou parada no seu lugar, com os punhos
cerrados e a cara fechada num ar de pura irritação. Abanava a cabeça. Observou-me e
a seguir os seus olhos bateram em Carmen. Eu realmente estava a achar imensa piada
aquilo tudo. Adorava ver vampira cair do seu trono. Sheftu voltou-se para a porta e
quando saiu, fez questão de bater com a porta. Mas foi com tanta força que a fez sair
dos encaixes.
- Ena! - Olhei para Eric e depois para Carmen. - Por esta, admito, não esperava!
Fizeram o meu dia, não há nada melhor do que ver a Sheftu cair do seu pedestal...
Carmen observava Eric. Realmente havia ali algo.
- Oh não te preocupes que isso passa-lhe. Entretanto, preparem-se, meninas... –
Disse-nos vasculhando algo dentro dos bolsos. - Arranjei-nos uma casa. Uma mega
casa.
Ele deu-nos um papel onde mostrava uma enormíssima mansão. Era simplesmente
perfeita.
- Okay... E isto é aonde? – Perguntei-lhe.
- Escócia! Vamos para a Escócia?!
Foi a última coisa que Carmen disse antes de Eric sair.
Aquela casa era maravilhosa. Pena que eu fosse provavelmente estar muito pouco
tempo por lá. Louis esperava-me…
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Momentos Especiais Ebook: Dean Ross
“Dean...vinga-nos...”
Despertei do pesadelo. Tinha no peito o meu coração aos saltos, as minhas mãos
tremiam com violência. Entrelacei as mãos tentando acalmar-me, respirando fundo.
Todas as noites era a mesma história, a minha mãe visitava-me nos sonhos com o seu
ar angelical num vestido branco lindo que conjugava bem com o seu cabelo loiro e
depois dizia-me a mesma frase que ecoava pela minha cabeça antes que cair para o
vazio.
Os pesadelos, esses sempre os tive, antes em doses reduzidas mas, desde que
apanhara o seu rasto em Espanha, nas ruas de Barcelona que se haviam intensificado.
Era sinal, da minha ansiedade, do meu desespero e da minha sede de vingança.
“Dean...vinga-nos...”
Comprimi as palmas das mãos contra os meus olhos, tentando acalmar os nervos e
esquecer a imagem da minha mãe morta. Respirei fundo, encostei a cabeça ao volante e
larguei o corpo; Nem cheguei a ficar assim um minuto quando o meu telemóvel
começou a vibrar em sinal de alarme, segurei-o entre os dedos e vi a hora; A noite era
uma criança e ela já estava a porta para mais uma noite de caçada. Vi uma caneta preta
caída junto do meu pé, apanhei-a comecei a torce-la entre os meus dedos.
Foi então que vi algo reluzir pelo rabo do olho, voltei para lá e vi-a sair do elevador.
De cada vez que ela aparecia eu não conseguia ficar indiferente e não acha-la uma
criatura fascinante: Antes de tudo – e era impossível não admiti-lo. - Ela era linda!
Tinha os cabelos ruivos com leves ondas que iam até a meio das costas, os seus olhos
claros – não sei ainda a cor – viam-se ao longe. A sua forma era elegante, esbelta,
sensual mas, o mais perturbante era a maneira como parecia humana; Era pálida,
obviamente e a cor dos seus olhos denunciavam o seu ar sobrenatural mas, mantinha
gestos tão humanos! Mesmo agora, enquanto esperava pelo carro não para de se mexer
como uma humana faria, passava a mão pelo cabelo ou mexia o pé ou coçava a
cabeça...era incrível! Que raio de ser era aquele que fingia ser humano? Que criatura
era aquela?
O meu coração batia depressa sempre que a via, sentia o meu sangue a borbulhar nas
veias sempre que apanhava aquela assassina ainda de pé. Sonhava com o dia em que
ela morreria nos meus braços. Sonhava com o dia em que todo aquele peso de
responsabilidade por um último pedido, desapareceria do meu peito. Sonhava com o
dia em que podia em pensar em tudo menos nela, porque tinha a certeza de que estava
morta e enterrada.
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Lá se meteu no carro e seguiu em alta velocidade, rangendo os pneus; Eu fui atrás
apenas com uns metros de distancia e observando-a de longe. Ainda demorou muito
tempo até encontrar o bar ideal e estava como ela gostava: a abarrotar de homens.
Estacionei a uns metros de distância e vi-a no carro segundos depois saiu e caminhou
confiante para o bar; Abriu a porta e entrou.
Eu não entrei, não queria correr o risco dela reconhecer-me e eu virar o seu novo
jantar. Não demorou muito, quando queria ela até era rápida na sua escolha; Trazia um
idiota pelo braço, ele parecia feliz e radiante pensava que ia ter a noite da sua vida com
uma bela ruiva mas mal lhe passava que iria morrer dali a nada. Os dois saíram na sua
pickup velha e seguiram pelo caminho mais deserto. Segui-os sempre com a máxima
discrição não querendo levantar suspeitas sobre mim. Momentos depois a pick up
parou, eu passei por eles fingindo ser apenas mais um transeunte e estacionei uns bons
metros a frente.
Saí do carro com uma garrafa de whisky na mão para proteger-me do frio crescente,
deu um gole valente e senti o líquido a percorrer cada milímetro do meu corpo. Aquele
sim, era o meu único vicio. Desde que esta jornada começara que eu não fizera mais
nada senão procurar por ela e beber whisky...já nem devia ter fígado, por esta altura.
Tomei um novo gole para aquecer o espírito quando ouvi o berro de terror.
― Carmen...Carmen...Carmen.
Coloquei a garrafa dentro do carro, abri o porta-luvas e tirei um pequeno saquinho de
ervas. Coloquei-o no bolso do casaco, era uma boa forma de disfarçar o meu verdadeiro
odor e deixa-la ainda mais confusa. Segui caminho para a mata coberta pela neve. A
medida que ia avançado os berros iam ficando mais próximos até que cessaram por
completo. Conseguia vê-la ao longe a alimentar-se do idiota como um animal se
alimenta da sua presa, senti-me tão mal que tive de me encostar...fiquei tapado pelo
tronco enquanto a ouvia alimentar-se. Meu Deus! Que nojo! Voei imediatamente para o
dia em que os meus pais morreram, ela tinha feito o mesmo com eles. Assassina. Irias
morrer brevemente.
“Dean...vinga-nos...”
― Eu sei, mãe...- Respondi tentando acalmar o meu coração. ― Eu sei...
Ouvi passos atrás de mim, voltei-me e o meu olhar encarou o seu quando ela parou e
observou-me de cima abaixo. Estava confusa, tinha a roupa suja e as presas ainda de
fora. Ficamos assim durante segundos eu a olhar para Carmen e ela a devolver-me o
olhar. Foi então que a vi a inspirar profundamente, tentando captar o meu cheiro e a
partir dai perceber quem eu era. Então, corri até ao meu carro com toda a força, meti-
me lá dentro e parti com o coração aos pulos.
Ia a alta velocidade pela estrada fora, agarrando o volante com toda a força; Tinha o
coração aos pulos e mal conseguia conter-me. Ia de tal modo rápido que perdi o
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controle do carro e dei por mim a derrapar no pavimento gelado. Parei o carro no meio
da estrada, e dei por mim em frente ao hotel. Raios! Todos os caminhos agora vinham
dar a esta porra?
Olhei para o relógio, Carmen deveria chegar dentro de momentos. Com o carro
contornei a rua e parei num beco escuro o mais longe possível da entrada. Conseguia
ver a rua, e a entrada do hotel era a única luz forte naquele momento. Observei os dois
coitados – os porteiros – que ficavam de tocaia a porta num fato vermelho e chapéu
ridículo, as portas giratórias que nunca paravam com gente sempre a entrar e a sair. A
entrada em toda brilhante com a mobília topo de gama e cheio de figuras do high
society a passear. Uma palavra: Nojento.
O seu carro apareceu distraindo-me, desliguei as luzes e escondi-me no banco mas,
apenas o suficiente para vê-la entrar totalmente distraída. Vi-a empurrar as portas
rotativas, a parar em frente ao elevador com um ar pensativo, que logo se transformou
em irritação quando o concierge veio ter com ela. Eu queria vê-la. Não sabia porquê
mas, queria vê-la por isso saí do carro com todo o cuidado e descrição. Tentei manter-
me na sombra. Encostado a parede do beco, agachando-me atrás de um contentor e
levantando apenas a cabeça para vê-la. Ela fez um gesto com o cabelo, voltou-se para o
concierge ao mesmo tempo que a porta se abria, mandou uma resposta qualquer e
subiu.
Imediatamente sai atrás do caixote, atravessei a estrada desviando-me de alguns
carros que guinchavam os pneus a minha passagem furtiva e parei a porta do hotel.
Mesmo em frente as escadas molhadas com flocos de neve. O elevador ia no 4º andar, e
a partir daí contei mentalmente o resto dos andares e contornei o hotel; A penthouse
ocupava um andar inteiro – caprichos! - e o quarto dela ficava do outro lado; Do lado
em que o sol nasce. Que ironia!
Quando cheguei, olhei para cima a tempo de ver a luz do seu quarto acender, e a sua
figura a formar-se no quarto. Fui andando para trás até encostar-me a um candeeiro a
observa-la. Era clara a sua irritação, vi da maneira como ela agarrava o lado das janela,
foi então que o seu olhar baixou até mim. Tivemos novamente aquele momento de
troca de olhares, que mesmo estando a uma distância absurda, pareceu percorrer-me a
alma mas, tive-me forte e sério.
― Isso...- Disse para mim mesmo. ― Sente o medo...
Segundos depois vi que ela corria para fora do quarto e eu tinha de pensar rápido.
Lembrei-me da caneta no meu bolso, virei-me para o poste coberto de anúncios e
escrevinhei uma frase simples mas que sabia que teria uma impacto nela que jamais
esquecia.
“Eu disse que te encontrava, Carmen.”
Simples. Curto. Claro. Ela iria perceber logo. Ouvi passos ao longe e corri, para um
canto escuro onde me enfiei. Não um canto qualquer, mas tinha que ser dentro do
caixote do lixo de modo a poder disfarçar o meu cheiro. Felizmente este estava vazio,
so tive que me agachar e, obviamente aguentar o fedor.
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Não me atrevi a espreitar mas, pelo arrastar dos passos percebi que ela andava as
voltas, queria saber quem era, estava desesperada. Daí a segundos tinha-se ido embora,
novamente, irritada e de mau humor como sempre. Finalmente, tinha conseguido
plantar a semente do desespero no seu ser.
Empurrei a porta do bar, entre num ambiente quente e abafado, a musica da jukebox
era mais alta que qualquer conversa. Passei pelas pessoas em pé, ou sentadas em
bancos altos em mesas redondas até aproximar-me do balcão. Não foi preciso procurar
muito, ali estava ele: Rodeado de raparigas que se babavam constantemente com o seu
truque de girar garrafas. Vestia uma t-shirt preta apertada, tinha o cabelo mais curto nas
laterais com uma crista na cabeça. Sorria sempre que atirava uma garrafa ao ar e a
apanhava depois de uma volta ou fazia girar os copos e apanhava-os quando parecia
que iam cair. Abanava agora a bebida que tinha no seu shaker preto, conseguia ouvir as
mulheres em volta do balcão a suspirar com cada mexedela; Por fim, agarrou num copo
alto, deu mais uma volta ao shaker e largou a bebida cor-de-rosa para dentro do copo.
Ouviu-se um bater de palmas e ele sorriu ainda mais.
Eu bati no balcão duas vezes, o seu olhar encontrou o meu e acenou com a cabeça.
Respondi-lhe apontando com o queixo para a porta. Saí de novo para a rua fria,
contornei o edifício e empurrei uma porta vermelha. Percorri um corredor escuro, subi
umas escadas e entrei no que parecia ser um estúdio, com janelas altas, soalho de
madeira, tecto alto. Percorri aquela divisão, ao fundo via-se uma cama de casal baixa e
desfeita – sinal de acção recente – estava acompanhada por duas mesas-de-cabeceira e
a poucos metros de distância um varão. Um varão de stripper.
― Gostas? Mandei instalar a pouco tempo.
― Porquê? - Perguntei eu.
― Porquê?! És deste mundo, primo? É isto que está na moda, nem sabes a
quantidade de mulher que já escorregou naquele varão...
Eu voltei-me e encarei Frankie, o meu primo mais novo. Como é que um tonto
daqueles poderia ser o grande investigador sobrenatural – ou caçador como ele dizia –
que era? Impossível!
― Dispenso detalhes, Frankie. - Avancei para a poltrona que ficava no centro da sala.
― Descobriste alguma coisa?
― Sabes o que ficava bem: “Olá, Frankie, meu primo favorito...”
― Como se, o facto de eu dizer isso, far-te-ia mais feliz.
― Daria mais alegria ao meu dia.
― Bem, talvez noutra altura. Agora, importaste de me dizer algo de interessante?
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Frankie levantou-se, avançou até a cama e de lá puxou uma grande mala castanha – a
mala onde ele colocava todas as suas investigações e casos resolvidos. De lá tirou um
papel azul enrolado, e uma pasta preta.
― Prepara-te, Dean. A partir de hoje sou o teu novo Deus. - Disse ele com um ar de
convencido. Eu ri-me. Era impossível não rir-me com Frankie.
― Deixas-me ser eu a decidir isso?
― Não...- Ele avançou para a pequena mesa de chá, em frente a minha poltrona; Lá
desenrolou o papel azul e eu não podia acreditar. ― Aqui está a planta do hotel – com
todas as saídas – e a planta da penthouse.
Escorreguei da poltrona para ver melhor a planta.
― Como é que conseguiste?
― Mas, tu ainda tens dúvidas de que eu sou o melhor caçador que existe?
Frankie ajoelhou-se ao meu lado, para ler-me a planta do hotel. Os caminhos eram
bastante fáceis, perguntava-me se eles tinham-nos feito assim de propósito ou
simplesmente tinha passado ao lado. A penthouse – ao contrário dos outros andares –
tinha um elevador privado, o meu problema seria se encontrasse com ela a subir. Será
que iria reconhecer-me? Imaginei como seria o nosso encontro...apenas via sangue,
muito sangue...o meu sangue.
― Toma. - A voz de Frankie despertou-me e eu vi-o com uns papéis na mão. ― O
perfil da tua querida.
Tomei os papéis na mão e li-os de relance; continha a sua arvore genealógica,
informação pessoal, quando se tornara vampira e por onde tinha andado. Mas, um
nome captou a minha atenção.
― Que nome é este? Eric Manen?
Frankie levantou-se, parecia um bocado encavacado. Foi encostar-se a uma das
janelas com os braços ao peito.
― Pode-se dizer que seja o ex-namorado da Carmen. O relacionamento durou
décadas e foi muito intenso, segundo a minha fonte mas, não se falam a algum tempo.
― Hum...- O seu perfil não dizia muito sobre si. ― Onde anda agora?
― Não sei. A minha fonte não me diz.
Olhei para Frankie de sobrolho franzido.
― Desde quando tens uma “fonte”?
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― Olha, desde sempre! Como achas que sei o que sei?
― A tua “fonte” consegue encontra-lo?
― Sim...- Frankie desencostou-se ao perceber o que quis dizer. ― Olha, tu deixa-te
de ideias malucas, Dean! Já te basta ires atrás da Carmen, agora queres o Eric?
Encolhi os ombros, não me fazia diferença.
― Preciso de conhece-la e este Eric, pode ajudar-me! Pode dizer-me quem é a
Carmen, como chegar a ela! Frankie, para destrui-la tenho que conhece-la.
― O meu primo é suicida!
― Deixa-te de dramas!
Suspirei, observei de novo o perfil de Eric. Tudo aquilo fazia-me sentir algo aqui
dentro que não sabia o que era. Carmen, com um namorado de longa data como melhor
amigo? Tudo aquilo fazia-me confusão. Tinha que descobrir mais sobre este Eric...Não
podia ter obstáculos na minha frente. O meu objectivo era matar Carmen, e eu iria
consegui-lo.
― Posso atrever-me a dizer que esta ideia é puramente idiota? - Perguntou Frankie.
― Porque, olha que é!
― Se tu tivesses perdido os teus pais como eu perdi, saberias o que sinto.
― É verdade, eu não sei...nem cheguei a conhece-los, mas Dean, olha para ti. -
Voltei-me para Frankie, vi que estava deveras preocupado comigo. Aquele miúdo,
mesmo sendo mais que novo que eu apenas uns anos, fazia-me sentir sempre como se
ele fosse o mais velho. ― Estás desgastado, cansado. Deixa isto de lado...
― Deixar de lado!? Este monstro matou os meus pais a sangue frio a minha frente,
achas que devo “deixar de lado”? Estás a gozar? A minha mãe...
― Eu sei, ela pediu para que a vingasses, tudo bem. Mas, isso não significa que
tenhas que morrer tambem, Dean, porque é isso que vai acontecer! O que iria a tua mãe
pensar, ao ver-te assim obcecado, cansado? A tua mãe e o teu pai não iriam querer isto
para ti...
― Que seja...- Respondi friamente levantando-me. ― Foi o último desejo da minha
mãe, e eu vou cumpri-lo. Ela vai pagar.
― Isto é obsessão, Dean! - A voz de Frank ecoou de tal modo pelo apartamento, que
parecia uma voz sem corpo. Teve tal impacto em mim que ponderei por segundos se
era ou não. Seria?
Os passos de Frankie aproximando-se de mim, fizeram-me despertar do súbito
delírio.
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― Frank, o assunto é meu, a morte é minha...portanto, limita-te a fazer o que peço,
sim?
Frankie contornou-me, ficando depois a minha frente; éramos os dois da mesma
altura, e tínhamos ambos a mesma estrutura. Quem não nos conhecesse atreveria a
dizer que éramos irmãos mas, visto a lupa as diferenças eram claras: Frankie tinha a
pele mais morena, cabelo preto em crista e olhos azuis. Usava as melhores roupas,
atraia mulheres como um íman e era alma de uma boa festa. Ao contrário de mim...eu
não sabia quem eu era.
― Só te digo para o teu bem, Dean. Tu és como um irmão para mim, só quero o teu
bem.
― Oh Deus...- Disse eu revirando os olhos. Peguei no meu casaco e, nas folhas. ―
Vou-me embora antes que comecemos a partilhar sentimentos e a falar das nossas
boysband favoritas.
Frankie riu-se divertido, e eu avancei para a saída.
― Espera! - Eu parei mesmo a porta. Frankie vinha na minha direcção com um ar de
aviso. ― Ouvi dizer que há mercenários na cidade.
― O que fazem cá?
― O que achas? Não achas o facto de “cinco mulheres, ricas, lindas que só saem a
noite” tem peso na presença deles? Oh, sem esquecer na taxa de mortalidade
masculina...- Frankie assobiou um tom ascendente ao mesmo tempo que erguia o
indicador. ― Subiu muito.
― Elas ai são descuidadas...
― Menos a Carmen! - Exclamou Frank. ― Ela ainda tem dentro de si algumas ideias
de caçadora. O facto de queimar os corpos com sal e gasolina...Ah! pelo que li ela é
herdeira de uma longa linhagem de caçadores. Sabias que o pai dela foi um dos grandes
caçadores da Idade Média? E ela tambem não era má...
― És fã?!
Aquela adoração súbita por Carmen, estava a irritar-me. Dava-me coceira.
― Não, a sério! Ela era mesmo boa, matou 24 vampiros e todos eles grandes chefes...
― Sim, sim...ela é fantástica!
― E é! - Parei olhando para Frankie surpreso, ele sorriu culpado. ― É verdade! O pai
dela foi um grande caçador e ela seguiu as suas pisadas...não podes negar, Dean! A
Carmen é fantástica.
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Revirei os olhos, não queria acreditar naquilo. Não queria que aquilo fizesse sentido
na minha cabeça. Por isso, tratei de mudar de conversa.
― Porquê que me dizes isto tudo?
― Porque os mercenários têm um faro pior que um cão sarnento. Foi só para avisar, a
não ser que queiras que alguém se adiante e mate a tua Carmen.
― Ela não é minha, Frankie!
― Hum...isso é subjectivo.
Entre nos instalou-se um silencio esquisito. Frankie tinha deixado no ar uma subtil
ideia, que eu tinha medo do seu desenvolvimento.
― Não abuses, Frank.
― Hey...- Frankie ergueu as mãos em tom de rendição. ― Tu sabes bem o que quero
dizer.
Frankie limitou-se a sorrir, como se não tivesse dito nada demais. Ia continuar a
minha provocação quando bateram a porta e uma bela morena com um casaco preto
comprido, mostrava-se. Tinha cabelos aos caracóis claramente falsos, imensa
maquilhagem, uma gargantilha ao pescoço e batom vermelho. Nos pés via-se umas
botas de salto fino com correntes desenhadas. Voltei-me para Frankie e ele encolheu os
ombros.
― Já sei...já sei...- Disse eu. Passei pela jovem, reconhecendo o cheiro a perfume
barato e cigarros. ― Boa noite, Frankie!
― Fica longe de sarilhos, primo.
Fechei a porta atrás de mim, ainda a tempo de ouvir risos da parte de Frankie.
Provavelmente a mulher tinha uma boa surpresa debaixo daquele roupão.
Continuei o meu percurso a pé, para lado nenhum. Sentia que naquele momento o
melhor a fazer era simplesmente espairecer. Queria fugir a tudo isto que me acontecia
de maneira tão súbita.
Andava pelas ruas desertas daquele bairro conhecido pelos seus altos e baixos, ruas
tortuosas, casas antigas e degradas que partilhavam a renda com o bar ao lado. A
calçada, com a humidade estava escorregadia e por varias vezes, quase caia estatelado
no chão mas, sempre mantinha o equilíbrio. Ri-me. Ao menos a andar conseguiria
manter o equilíbrio, não?!
Fiz uma curva, contornando o edifício velho e meio descaído, quando algo prendeu a
minha atenção. A rua ia a descer até dar a estrada lá em baixo mas, não era isso que
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tinha a minha atenção mas sim, a agitação que provinha de uma espécie de garagem da
qual vinha uma luz intensa.
Encostei-me a parte mais sombria e observei a cena toda: Primeiramente vi o homem
que entrava e saía a pressa toda, falava alto e no que parecia russo. Estava agitado,
excitado, super feliz com algo. Abriu as portas totalmente e a luz que saiu da garagem
intensificou-se. A mulher saiu a seguir, tinha uns longos cabelos loiros – claramente
falsos – e exibia uma jóia muito brilhante ao pescoço. Uma jóia vermelha. Que brilhava
tanto como a luz que saia da garagem. O pior, é que eu reconhecia a jóia...mas, de
aonde?
O homem contornou a carrinha mas, não antes de dar um sonoro beijo a mulher.
Aproximou-se da carrinha, abriu a porta detrás e sorriu, ficou assim a contemplar o
conteúdo durante momentos, antes de se voltar para a mulher e mandar-lhe um outro
beijo. Casal apaixonado, aquele. Então, o homem puxou algo de dentro da carrinha e
po-la sobre o ombro como um saco de batatas. Carregou o peso do vulto, ate a luz e
reconheci-lhe a forma. Era uma mulher.
― Carmen...- Foi levada para dentro pelo homem, e a mulher a seguir fechou a
porta.
Não, aquela não podia ser Carmen. Ela estava no hotel ainda a bocado a tinha visto ir
para lá e agora encontrava-se, ali? A confusão que se instalava em mim era enorme!
Tirei o telemóvel do bolso e pensei ligar para Frankie mas, depois lembrei-me do varão
de stripper e calculei que afinal ele poderia estar acompanhado. Ajudar-me seria a sua
última opção.
Disquei então o nome do hotel e assim que a recepcionista se apresentou eu apressei-
me na pergunta.
― Sim, sim...queria falar com Carmen Montenegro, se faz favor...- Pedi eu com
urgência.
― Um momento, por favor...- Os minutos foram eternos. O silêncio do outro lado da
linha estava a dar cabo de mim em todos os sentidos. ― De momento a senhorita
Carmen não se encontra. Deseja deixar algum...
Não deixei a frase acabar, desliguei o telemóvel e corri rua abaixo ia sempre
escorregando e ameaçando cair a todo o momento foi ai que parei de vez.
O que estava eu a fazer? A salva-la? A salvar a assassina dos meus pais? O quê? Não,
nem pensar! Então, lentamente passo a passo comecei a recuar mas, então a conversa
veio-me aos ouvidos. Parecia vir do subsolo, olhei para baixo e vi o que parecia ser
uma conduta de ar; Agachei-me e escutei.
― Ora bem…- Disse o homem. ― Amor, prepara tudo.
― Sim, querido. - Ouvi a mulher a remexer e remexer em coisas de metal. ― Já está.
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― Óptimo! Ajuda-me a passa-la para ai
Foi então que algo se ligou na minha cabeça, não podia deixa-los matar Carmen! Essa
era a minha função! Era a minha vingança!
Voltei a correr rua abaixo, de tal modo que escorreguei no passeio e fui ao encontro
do carro de cara contra o vidro. Aquela carrinha preta era maciça, toda ela com as
janelas fumadas, contornei-a e abri a porta detrás. Para meu choque ali encontrava-se
uma caixa cheia de estacas com a ponta de prata e uma outra com seringas, com
algumas garrafas de éter.
― Mercenários...- Disse para mim mesmo.
Estendi a mão para uma das seringas, puxei uma garrafa de éter para perto e enchi as
seringas com o liquido. Segundo Frankie, aquilo funcionava como uma espécie de
analgésico para os vampiros. Em apenas uns minutos, voltariam a ser seres sem
qualquer pingo de humanidade, quando isto era inserido no corpo depois de levar com
uma estaca. Coloquei a seringa no bolso de dentro do casaco, voltei a contornar a
carrinha, acabando do lado do condutor.
Foi então que vi, em cima do banco um arma, um revolver de 45mm. Ergui o
cotovelo e parti o vidro, peguei na arma e verifiquei se tinha balas, para minha sorte até
tinha. Coloquei a arma debaixo da roupa.
Aproximei-me da grande porta de metal, ouvi as vozes abafadas e nem percebia o que
se passava ali mas, tinha que tira-la dali. Tinha de tira-la. A porta grande estava
encostada, e eu abria-a. A luz vinha ao fundo de umas escadas e eu descia-as devagar,
sempre protegido pelas sombras. A porta que dava para a cave estava entreaberta.
As vozes estavam mais próximas.
― Vamos ganhar fortunas! – Dizia a mulher toda contente.
― Pois vamos…- Respondeu o homem. ― Ora, deixa-me ver…onde está o alicate?
― Está ai, querido.
Ouvi o homem remexer ainda mais e depois queixou-se.
― É pequeno demais, amor. O grande?
― Humm…- A mulher andou pela sala a vasculhar mulher calou-se durante um
bocado. ― Aqui está.
― Oh beleza! Estás a ver isto? É um alicate. O que faz? Não serve para muita coisa
mas, por exemplo, agora serve para eu arrancar-te essas lindas presas...Ora bem, abre
a boca e diz “Ah!”
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223
Eu abri a porta com um enorme pontapé, fiz com que uns objectos barulhentos
caíssem no chão, causando imenso estardalhaço. O homem olhou para mim surpreso,
tinha um enorme alicate de metal na mão.
― Mas que…?
Ele aproximou-se de mim rapidamente, tentando acertar-me com um soco eu desviei-
me e dei-lhe eu mais dois deixando desnorteado. Agarrei-o pelo colarinho e dei-lhe
uma cabeçada valente que fez com que o homem gemesse de dor mas, ele era
igualmente forte e assim que viu uma aberta agarrou-me pela cintura e atirou-me contra
o chão com força. Senti as minhas costelas baterem com força, o homem fechou o
punho e desferiu dois socos na minha lateral. Consegui apoiar os meus pés na sua
barriga, fiz com que ele se afastasse de mim, com essa aberta foi o suficiente para tirar
a arma debaixo da minha roupa, apontei-lhe ao peito e quando ele se aproximava eu
disparei duas vezes. Ele tomou o impacto das balas, para depois cair no chão imóvel
com um ar de espanto.
O grito da mulher inundou os meus ouvidos, quando me voltei para encara-la, ela
tinha um ar de puro ódio.
― FILHO DA MÃE!
― Sim, um pouco…- Respondi cansado. O meu olhar percorreu a sala e encontrou o
corpo de Carmen, estava caído em cima da mesa. Agora que reparava, ela tinha um
corpo fantástico... ― Agora, solta-a…
― Não! - Respondeu a mulher loira
Eu levantei-me, ainda a sentir o peso da arma na minha mão sem pensar apontei e
tirei a segurança. A mulher encolheu-se de susto. Olhei para o corpo do homem inerte e
esvaziando sangue no chão.
― Queres mesmo acabar como o teu…chuchu?!
Ela demorou, mas acabou por se aproximar da mesa. Tirou os tubos todos, que
ligavam o seu corpo a sacos de sangue, a seguir retirou as amarras. Esticou a mão para
retirar as estacas mas, eu interrompi-a.
― Não! – Respondi eu, apontando-lhe a arma. Se retirasse as estacas, Carmen
poderia voltar a ter forças, não iria deixar isso acontecer. ― Deixa-as.
― Porquê?! Porquê que a salvas?!
― Não é da tua conta! – Respondi duramente. Os meus olhos desceram para o seu
pescoço e agora sim, reconhecia a jóia vermelha. ― Já agora, esse fio não é teu.
Ela levou a mão ao pescoço, num gesto que nem era seu!
― É sim…
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224
O meu dedo ainda coçava contra o gatilho e como que instantaneamente, voaram
duas balas que se cravam nuns vidros em cima da cabeça da mulher. Ela gritou
assustada e eu sentia-me o dono do mundo.
― Não, não é. Passa-mo – Respondi calmamente. Estendi a mão a espera do fio mas,
a mulher parecia não se mexer. ― AGORA!
Ela soltou um gritinho, tirou o fio e atirou-o. Apanhei-o habilmente e fechei-o entre
meus dedos, aquilo ser-me-ia útil num futuro próximo.
― Agora, vai…- Disse rudemente fazendo um gesto com a cabeça. ― Vai antes que
te mate.
Ela desatou a correr escada acima como pequena criatura irritante que era. Eu baixei
a arma, não era uma sensação que gostava de ter na mão. Fazia-me sentir iguais aqueles
assassinos maníacos que matam todos sem qualquer razão.
Voltei-me para a mesa e vi-a deitada de costas para mim. Observei com atenção as
suas curvas e, pela primeira vez em muito tempo senti um nervoso miudinho.
Lentamente dei passo ante passo até a mesa de metal, ela parecia uma autêntica estatua;
não mexia nenhum membro, não piscava, não respirava parecia um pedaço de pedra
cal.
Aproximei-me, reparei na sua cara e algo pesado abateu-se sobre o meu ser. Já a tinha
visto milhentas vezes, como era obvio e aquela cara não se esquecia mas, havia algo
diferente nela agora. Os seus olhos cinzentos vazios e estáticos, o seu cabelo ruivo
espalhado em cima da mesa e a sua pose era digna de ser retratada num quadro. Havia
ali algo de especial naquela cara...
Como é que aquele ser que agora estava ali tão quieto e impotente tinha sido a
assassina dos meus pais?
Inspirei fundo, e retirei a seringa do meu bolso; Peguei no seu braço frio e inerte e
enfiei a agulha fundo. Como se tivesse tido uma pergunta imaginária, eu dei uma
resposta.
― Assim não corres risco de ficares com infecção devido as estacas…
Atirei a seringa para longe, ao mesmo tempo que tentava controlar-me para não
cometer alguma loucura ali mesmo! Olhei em volta e vi todos os tipos de instrumentos
de tortura que havia. Eu podia acabar com ela facilmente...podia acabar com tudo
ali...ficaria livre de tanto peso...com um simples...
Afastei-me daquela cama de metal deambulando pela sala, tentando tirar aqueles
pensamentos da minha cabeça. Foi então que reparei numa mala preta junto a aporta,
aproximei-me pegando-a pela alça e larguei-a com força em cima da cama de metal
junto a perna de Carmen. Abri-a, dei uma espreita para dentro e reparei numa caixa
negra que peguei trazendo para fora. Era de madeira escura e com um trinco dourado:
abri-a e fiquei surpreso ao ver aquelas Desert Eagle. Lindas. Fantásticas.
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― Belo par…- Voltei a coloca-las dentro da caixa, e depois dentro da mochila. Meti
a mochila as costas. ― Não te preocupes, não vais precisar delas.
Voltei a encara-la, por momentos tentando ver se tinha algum movimento, algum
sinal de vida e nada. Encolhi os ombros, fiz escorregar as minhas mãos por debaixo do
seu corpo frio e ergui-a da cama de metal.
Como aqueles idiotas tinham desertado do local deixando a carrinha completamente
abandonada e como o meu carro estava longe, fiz questão de levar aquela traquitana
velha. Com alguma dificuldade, abri a porta da carrinha e coloquei Carmen no banco
atrás do meu. Coloquei-a com todo o cuidado possível, não queria que aquelas estacas
se enterrassem mais podendo danificar os seus órgãos internos.
Corri a porta fechando-a com alguma força a mais, entrei no lado do condutor e liguei
o carro que estremeceu ao rodar da chave. Inspirei profundamente antes de arrancar rua
abaixo, iria precisar de toda minha força para controlar o meu desejo de mata-la mesmo
ali.
A viagem fora calma, de vez em quando eu olhava pelo espelho retrovisor prestando
atenção a cada movimento de Carmen – reparara que já conseguia piscar os olhos, que
o seu peito perfeito já se movia conforme a respiração. Aproximávamo-nos do hotel e
diminui a velocidade. Podia parar ali num canto, podia acabar com ela num instante.
Olhei para o relógio, o amanhecer estava a vir, poderia esperar e atira-la para fora do
carro vendo-a queimar nos primeiros raios. Podia mata-la tão facilmente...
Carmen voltou a inspirar profundamente, arrancando-me daquela tentação ruim.
Avancei um pouco mais, passando pela fronte do hotel. Se a minha memória
fotográfica ainda funcionava correctamente, as traseiras era a melhor maneira de
transportar aquela criatura. Se fosse um cobarde insensível, deixa-la ali na neve seria a
primeira opção mas daí ocorreriam duas coisas: Carmen seria descoberta, isso faria
lançar um gigantesco alerta e todos os caçadores – de perto e de longe – viriam ao seu
encontro e, Carmen seria morta por outrém e não por mim. Visto que depois um alerta
seria lançado sobre mim e todos os policias perseguir-me-iam e eu acabaria preso.
Portanto, as traseiras eram a melhor opção.
Levei-a para dentro do hotel, empurrei a pesada porta das traseiras com o pé e entrei.
Havia um corredor gigantesco onde ao fundo se via a cozinha agitada, não iria seguir
por ali a menos que quisesse ser apanhado. Voltei-me para a esquerda e segui para o
que seria o quarto de serviço onde as empregadas iam abastecer os carrinhos. Não era
bem um quarto mas, mais um corredor cheio de prateleiras com toalhas, sabões,
champôs e tudo mais. Quando atravessei essa secção percorri um novo corredor escuro
onde se via uma porta metálica. Carreguei no botão e as portas abriram-se, entrei com
Carmen ao colo e carreguei no último andar.
Enquanto subíamos, mandei-lhe uma espreita e vi o se olhar estático ainda, mesmo
que respirasse. Aquela luz a sua cara parecia tão branca, que salientava o cinzento dos
seus olhos. E um pensamento óbvio passou-me pela cabeça: Ela era linda.
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Abriram-se as portas, e ao fundo de um corredor de carpete cor de vinho estava uma
porta branca, tirando a porta vermelha viva da escada de incêndio que ficava mesmo a
direita. Aproximei-me com passos certos e confiantes, quando chegamos baixei-me o
mais possível deitando-a com todo o cuidado.
Ela parecia uma morta, com o seu olhar vidrado com a cabeça voltada para a porta, se
não fosse os seus raros gemidos de dor poderia ser enterrada naquele momento.
Observei o seu corpo, perfeito e muito bem construído. Olha-la ali caída dava-me uma
comichão na barriga, no peito, fazendo o meu coração bater tão forte contra o peito que
tinha medo que saltasse caso eu dissesse alguma coisa. Aproximei-me da sua cara,
observando-a com atenção; O seu cheiro veio ter ao meu encontro, era doce e leve
quase imperceptível, concentrava-se mas no seu peito, no pescoço e debaixo do ouvido.
Adorava aquele cheiro. Senti a minha mão, ganhar vida e a percorrer a sua perna
direita, a outra fechara-se em torno do seu cabelo. Eu adorava aquele cheiro.
Queria mata-la.
― Não penses que faço isto por pena ou simpatia…- A minha voz saiu grossa, em
tom baixo e reparei que os meus alicerces tremiam. Porquê?! Porquê que se sentia o
meu estômago a vibrar? Porquê que me sentia inebriado pelo se cheiro? Não! A razão
sobrepõe-se aos sentimentos! ― É só para ter o prazer de ser eu a matar-te… A tua
carcaça é minha, Carmen.
Afastei-me dela apenas o suficiente para ler os seus traços. A sua pele tinha um ar tão
frágil, parecia ser tão suave; Estava tentando a toca-la, a sentir o frio da sua pele. Por
momentos o tempo pareceu parar e eu fui consumido por um fogo de tal modo forte,
que ardia no meu peito, que descia pela barriga abaixo. Era de tal forma intenso, que
parecia tomar controle de todos os meus sentidos. Parecia que era ele a conduzir. O
apetite sobrepusera-se a razão.
Queria mata-la.
Aproximei-me o suficiente para sentir o ar leve sair da sua boca. Cristo, as coisas que
eu podia fazer com ela naquele instante. Já não pensava em mata-la apenas pensava
em...toma-la. Possui-la.
Ela soltou um novo suspiro pesado, que me arrancou do apetite devolvendo-me a
razão. Dei conta que eu todo tremia, que o meu coração batia depressa de tal modo que
inundava os meus ouvidos. Fechei os olhos, soltei um suspiro de controlo de tal modo
forte que o meu corpo se largou mas, tive forças para me levantar.
Coloquei-me de pé dando mais uma olhada ao seu corpo, antes de me voltar e
percorrer o corredor. Ainda me sentia agitado por aquele turbilhão de sentimento.
― Quem…és…?!
Ao ouvir a sua voz fraca, rouca e sem qualquer poder, eu parei. O meu coração deu
um deu um salto de susto. Ela não sabia quem eu era? Como? Ela tinha que saber! Ela
destruiu a minha vida logo tinha que saber quem eu era!
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― Não sabes?!
― N…Não…
Ela deveria ter visto a mascara fria e dura que se tinha posto na minha cara. Naquele
segundo arrependera-me de a ter salvo, poderia voltar atrás e girar aquelas estacas
destruindo os seus órgãos. Mas, não...ainda não! O meu plano não correria assim.
Limitei-me a abrir a porta da escada de incêndio que ficava ali mesmo ao lado e saí.
Desci as escadas com a cabeça a ferver, as minhas botas ecoavam pelo chão das
escadas a cada passo e eu fazia questão de bater com força nos corrimões de metal
branco. Ia com tal força bruta que nem dei conta que já tinha chegado a porta que me
dava para a zona das empregadas. A frustração era tal que empurrei-a com força. Ouvi
um grito assustado que me fez parar de repente; A minha frente estava uma jovem loira
oxigenada com toalhas na mão e um ar surpreso.
― Dean?
. Cheguei a Moscovo a coisa de 8 meses, pouco tempo depois de Carmen ter chegado
e um homem tem necessidades. E ela, para conhecer-me, teria sido uma das que
correspondera as alturas de carência.
Era alta, esbelta, com um corpo perfeito. Os cabelos longos e loiros paravam pelo
ombro, a franja tocava-lhe mesmo nas sobrancelhas, salientando os olhos verdes. Tinha
largado as toalhas para dentro do enorme carrinho de limpeza e encarava-me com uma
mão na anca.
― Oh...olá!
Qual era o nome dela?
― Lembraste de mim?
Fiz uma breve viagem mental: lembrava-me do corpo, da cara e da noite fantástica
mas...o nome escapava-me.
― Claro!
Ela abriu um sorriso não notando o meu esquecimento.
― Que fazes aqui?
― Vim...- Não podia dizer a verdade, obviamente. Portanto procurei algo
minimamente parecido. Tinha muita energia acumulada e precisava de liberta-la. ― A
tua procura.
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― A sério?
― Claro! - Meu Deus, eu merecia um Óscar! ― A que horas sais?
O seu sorriso aumentou ainda mais, as bochechas coraram levemente.
― Daqui a uma hora.
Avancei para ela com o máximo de charme, segurei o seu queixo e pousei-lhe um
beijo sensual. Pude senti-la estremecer, olhei bem no fundo daqueles olhos verdes.
― Tens planos para esta noite?
― Não...- Passou com o dedo pelo meu peito abaixo. ― Tens alguma sugestão?
Dei-lhe um outro beijo e enlacei-a pela cintura. Quando falou a sua voz soou melosa.
― Na tua casa?
― Sim
― Vou lá ter.
― Espero bem que sim.
Largou um suspiro pesado, separou-se de mim e agarrou no carrinho de limpeza.
Começou a empurra-lo e eu encostei-me a parede deixando-a passar. Observei as suas
curvas que se moviam de propósito, enquanto entrava para dentro do elevador.
Mas, algo aconteceu que me deixou desnorteado, quando ela se voltou eu não vi a
misteriosa mulher loira mas, sim uma bela ruiva pálida de olhos claros e sorriso gentil.
Ela acenou-me a medida que as portas se fechavam.
Pisquei os olhos varias vezes, tentando concentrar-me e ainda vi a tempo a loira a
sorrir-me, antes de se fecharem as portas. O meu sangue gelara nas minhas veias. O que
fora aquilo?
Depois de livrar da velha carrinha dos mercenários, apagando todos os vestígios quer
humanos quer sobrenaturais, voltei ao meu carro. Procurava no porta-luvas a minha
garrafa de whisky, precisava de beber qualquer coisa. Dei goles grandes aguentando o
máximo da bebida enquanto a sentia a percorrer-me o espírito todo. Olhei para o lado e
vi a mochila que continha as armas de Carmen. Abri e tirei uma das pistolas. Podia
vende-las. Valeriam bastante no mercado negro, eram leves, modificadas. Peguei nas
balas e observei.
― Humm...- Não reconhecia aquele tipo de balas. Eram diferentes e não foram feitas
para aquela pistola mas, porque raio iria Carmen ter estas balas? Como teste, tirei um
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carregar e coloquei na arma. Para meu espanto, servia perfeitamente. ― Mas, que raio
é isto?
Tirei o carregador, separei uma bala e tirei uma fotografia. Iria manda-la a Frankie,
talvez ele soubesse o que era.
Voltei-me para encarar a pobre desculpa para uma casa, o motel onde vivia. Motel?
Nem sequer sabia que nome dar aquilo! Saí do carro, encaminhei-me para o motel e
mal empurrei a porta o cheiro a frito veio ao meu encontro; Um cheiro enjoativo,
seguido de uma cantilena qualquer em russo que se ouvia no fundo.
Como sempre, o balcão estava as moscas por isso limitei-me a saltar por isso para ir
buscar minha chave. Subi as escadas sem cuidado correndo o risco de cair por ali
abaixo. Cheguei ao meu andar e caminhei pelo corredor escuro onde se ouviam todo o
tipo de coisas. De gemidos, a gritos, a televisão com o volume demasiado alto até ao
silêncio sepulcral do meu quarto.
Rodei a chave duas vezes antes de a porta se abrir. Entrei e depois tranquei-a. Encarei
o meu quarto na escuridão. Estranho, conseguia mover-me melhor no escuro, conhecia
cada canto daquele quarto, já o tinha decorado desde a 8 meses de estadia. Estiquei a
mão para acender a luz mas, deixei ficar a escuridão. Assim não tinha de enfrentar a
metáfora da minha vida num quarto destruído.
Atirei a mala com as pistolas para o chão e tirei o casaco, sentindo algo pesado no
bolso. Meti a mão e tirei o colar de Carmen que mesmo no escuro aquilo brilhava
ligeiramente; Aproximei-me da janela, mesmo a luz amarelada da rua conseguia ver os
detalhes do contorno em prata, as pétalas da flor tinha as pétalas e o caule em vermelho
e um buraco no meio. Do tamanho de um berlinde, seria propositado?
Levantei o olhar para a rua, conseguia ver o hotel lá ao longe. Um dos edifícios mais
altos de Moscovo com o seu letreiro em cima e todo branco. E, pensar que ela estava a
poucos minutos de viagem. E pensar, que ainda a pouco a tinha tido perto de mim e
podia mata-la mesmo ali. Não, a sua hora iria chegar...
O som de um carro a aproximar-se captou a minha atenção. Era um taxi e parou
mesmo em frente ao motel, dele saiu a minha amiga não-identificada com um belo e
curto vestido preto. Cá de cima o meu cabelo oxigenado, parecia branco. Pagou ao
taxista e entrou no motel.
Imaginei-a a subir as escadas, agarrando o corrimão com a sua mão suave,
remexendo-se toda por debaixo daquele vestido justo, com o salto a ecoar em cada
degrau, o perfume no ar, o cabelo ruivo a esvoaçar atrás de si...
Bateram a porta e eu sobressaltei-me. Meti o fio debaixo do colchão e encaminhei-me
para a porta. Quando abri, foi impossível não sentir uma ponta de entusiasmo.
― Hey...
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Ela calou-me com um beijo. Bem, tendo em conta que eu tambem não estava com
muita vontade para preliminares, correspondi ao beijo com agressão. Puxei-a pela
cintura para dentro, fechei a porta com o pé e encaminhamo-nos no escuro.
― Acende a luz, Dean...- Pediu ela melosa. ― Não vejo nada!
― Não tens que ver...- Disse eu. As minhas mãos percorriam as suas pernas, e iam
subindo coxa acima. ― Tens que sentir.
Levantei-a do chão, como sabia que havia uma mesa sentei-a ali. As minhas mãos
percorram a parte detrás do vestido e puxei o fecho para baixo, em meros segundos ela
já não o tinha e, para algum espanto, notei que não trazia roupa interior. A seguir ela
ajudou-me a tirar a minha t-shirt preta para depois beijar-me com urgência. Sentia o
calor da sua boca na minha, ela estava mesmo no ponto, queria fazer tanto ou mais do
que eu.
Levei-a da mesa para a cama onde os dois caímos enrolados em beijos apaixonados,
pressionei o meu corpo contra o corpo dela que já fervia de entusiasmo e vibrava a cada
toque meu. As suas mãos procuraram o fecho das minhas calças de ganga despindo-me
a seguir; Já não havia nada entre nós, era simplesmente pele com pele. Carne com
carne. Éramos dois seres perdidos no desejo infinito. Afastei-me dela, peguei nos
joelhos, puxei-a para mais perto. Ela estava mesmo por debaixo de mim, voltei a deitar-
me sobre ela lentamente sentindo o seu corpo vibrar ao sentir o meu.
No meio de tanto desejo e luxúria fundimo-nos; Ela era quente, viva, calorosa e pedia
sempre por mais. Eu fazia-a pedir por mais. O único som do quarto era o da nossa
respiração em uníssono. As mãos dela percorriam o meu cabelo, depois desciam pelas
costas parando na zona da bacia que ela fazia questão de agarrar, como se quisesse
mais de mim.
A única luz que entrava pelo quarto era a da rua, com aquele tom meio amarelado e
doentio mas mesmo assim conseguia ver a sua cara de desejo embora estivesse voltada
para a parede. Toquei-lhe na cara fazendo com que ela se voltasse para mim, beijei-a ao
mesmo tempo que me fundia com ela.
Quando me separei, vi-lhe um rosto diferente, já não era a loira de olhos verdes; A
pele era branca mortalmente branca, os olhos de um cinzento brilhante, lábios carnudos
e entreabertos estavam pintados num batom vermelho agora esborratado, o cabelo ruivo
suado que se colava a sua testa e se espalhava pela minha almofada. As feições que ela
fazia durante o acto só lhe davam mais realidade, a maneira como mordia o lábio, ou
fechava os olhos ou arqueava o corpo ou soltava um gemido mais agudo. Eu não queria
acreditar...Era Carmen! Parei todo e qualquer movimento, naquele momento olhava
para ela espantado. Era ela sim! A mulher que naquele momento gritava o meu nome
era Carmen!
Ela quando viu que eu a reconhecera abriu um sorriso gigante, senti as suas pernas
enrolarem-se ainda mais em volta da minha cintura, ela aconchegou-se debaixo de
mim. Eu não consegui evitar soltar um arfar quando senti a sua mão a tocar o princípio
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do meu género. Eu olhei para o seu corpo perfeito, sem falhas e branco, dei-me conta
que esperava por mim.
Como se tivesse sido acesso uma fogueira os meus movimentos aumentaram de
intensidade. Apesar de ouvi-la dizer o meu nome, eu não parava muito pelo contrário,
agarrei-a com mais força e apertei-a contra mim. Senti a sua mão no meu cabelo mas,
tirei-a, apertei-a contra o colchão. Não sabia porquê queria aperta-la, não queria deixa-
la fugir. Voltei a encara-la o seu ar de êxtase, só pedia por mais e eu investia ainda
mais. Agarrei a cabeceira da cama para apoio e não parei, Carmen virou a cara para a
parede, estava ofegante e foi então que se começou a rir. A rir as gargalhadas sem fim.
Estava a adorar.
Não sabia porquê mas, aquela visão tinha-me dado mais alento! Sentia-me atraído.
Sentia desejo. Sentia Carmen.
Logo cedo, acordo com os primeiros raios de sol em cheio nos olhos. Fechei-os e
voltei-me para o outro lado para o encontrar vazio. Para além disso, tinha uma dor de
cabeça que não sabia de onde vinha. Parecia que tinha levado com uma coisa pesada na
cabeça
Ouvi barulho e olhei para baixo. Ao fundo da cama a mulher mistério vestia-se de
costas para mim. Voltei-me na cama vendo-a colocar o vestido lentamente tapando o
corpo. Com agilidade levou a mão atrás das costas e subiu o fecho. Ia voltar-se para
apanhar qualquer coisa quando me viu a olhar para ela com vontade.
― Bom dia...- Disse eu simpático. Ela ignorou-me por completo continuando a
procurar algo no chão. ― O que procuras?
― Os meus sapatos.
― Já vais embora?
― Sim
― Ora, penso que podes ficar mais um bocado.
― Posso...- Ela voltou-se com um ar irritado. ― Mas, não vou ficar.
Aquela atitude matinal era estranha, sentei-me na cama.
― Qual é a tua?
― A minha? Isso pergunto eu a ti!
― Desculpa?
Ela aproximou-se da cama.
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― Sabes como me chamo, Dean? - Ai eu calei-me. Não sabia o nome dela, aliás o
seu nome foi a última coisa na qual pensei naquele momento. Ela abanou a cabeça. ―
Não acredito...
― Essa pergunta tem algum fim?
― Tem! - Exclamou ela. ― Sabes o que me chamaste ontem?
Eu revirei os olhos, encostei-me as almofadas e coloquei as mãos atrás da nuca.
― Chamei-te muitos nomes,...
― Carmen! - Gritou ela. Eu fiquei totalmente estático. De tal modo que nem tive
como responder. ― Sim, foi isso que me chamaste ontem a noite: Carmen! Não uma,
não duas mas todo o tempo...
O meu coração parou. O quê?
― Não, chamei nada...Isso é invenção!
― Invenção? - Ela contornou a cama ficando ao meu lado, apoiou o pé subiu o
vestido podia ver-se nódoas negras em toda a coxa. Ela estendeu os braços na minha
direcção, viu-se ainda mais nódoas e arranhões. Afastou o cabelo loiro, mostrando o
pescoço vermelho. Eu fizera aquilo? ― E isto tambem são invenções?
Olhei para ela com total espanto, como é que aquilo tinha acontecido? Abanei a
cabeça e levantei-me para o outro da cama.
― Eu não fiz isso...
― Então quem fez?!
― Já devias ter isso! Estava escuro...
A sua cara ficou sem reacção.
― O quê?
― Sabe-se lá por onde andas e com quem! Depois metes as culpas em cima de mim?
Eu não te fiz isso, Miss Seja Qual For o Teu Nome!
Ela agarrou numa almofada e atirou-ma, apanhei-a com uma mão.
― Meu idiota! Filho da mãe! - Apontou-me o dedo. ― Vais paga-las, Dean!
Pegou nas suas coisas com rapidez, encaminhou-se para a porta. Ela saiu, bateu com
a porta com tanta força que fez tombar alguns objectos.
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Eu levei as mãos a cabeça, eu não podia ter feito aquilo Não podia. Lembrava-me
muito bem da noite passada com detalhes e nada daquilo tudo acontecido, aliás não a
tinha visto reclamar, ela gritava por mim...mas, eram gritos de prazer, certo? Voltei-me
para a cama e recordei a noite passada, vi-me deitado por cima da mulher loira num
momento intenso; Fechei os olhos tentando relembrar. Vi a cara que ela fazia era de
prazer, não era? Claro que era! Lembrei-me de sentir as suas pernas em volta da minha
cintura, as suas mãos nas minhas costas, a sua boca na minha...o calor, o desejo, o
tesão, a luxúria...Carmen, mostrava-se mais do que satisfeita durante o acto mas, havia
um problema...
― Ela não era a Carmen.
Depois da estranha noite, não tinha vontade para fazer coisa alguma. Tomei um
banho demorado, daqueles que ficamos debaixo da água apenas a namora-la, como
quem tenta limpar qualquer sentimento de repulsa de si próprio. Deparei-me com a
minha figura em frente ao espelho, estava a ficar magro demais ainda não comera nada
de decente desde que encontrara Carmen na floresta. Desde que a encarara nos olhos,
não tinha tido apetite para nada sólido e com sabor decente. O meu cabelo aloirado
estava grande já, não muito mas o suficiente para incomodar-me. Gostava de tê-lo curto
e espetado, não assim com algumas farripas mais compridas; Se fosse corajoso o
suficiente pegaria na minha lamina e raparia os lados da cabeça deixando so aquela
fileira central, ficando com uma crista á moicano. Louco. Ponderei se fazia ou não a
barba, gostava dela assim com alguns dias de crescimento, ficava-me bem e eu nem era
vaidoso.
Vesti as minhas calças de ganga rasgadas nos joelhos e uma t-shirt preta. Quando sai
da casa de banho, reparei que o sol hoje brilhava forte e até produziria algum calor se
estivesse para ai virado.
Saí rapidamente para ir comprar qualquer coisa para comer. Quando voltei, enfrentei
o meu quarto ainda desarrumado. Meu Deus, eu era a epítome da perdição humana.
Tirei o casaco, deixando-o em cima da cadeira abri o saco e tirei de lá uma bela sandes;
Encaminhei-me para a cama e liguei a televisão, apenas por curiosidade para me
manter informado não por necessidade de informação. O mundo era uma desgraça,
contem-me algo novo!
O meu telemóvel, caído em cima da cama vibrou como sinal de mensagem., Estiquei-
me para apanha-lo, abri a tampa e vi uma nova mensagem de voz. Não era preciso ser
um génio para adivinhar de quem seria.
― “ Olá, primo...sou eu...o Frankie! Caso não te lembres ou assim...É só para saber
se estás vivo, provavelmente estás só não atendes as minhas chamadas por despeito...-
Silencio por segundos e depois um longo suspiro. ― Dean...que hei-de fazer contigo?
Enfim, liga-me...dá-me um sinal, primo! Não me deixes preocupado...Adeus.”
Não pude deixar de me sentir tocado pela preocupação de Frankie. Nunca deixava de
me surpreender com a sua preocupação a meu respeito. Encostei-me a cama, olhando
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para a televisão enquanto a jornalista russa sobre um casal encontrado morto em casa e
a sensação de deja vu foi impossível.
***
Depois da morte de meus pais, a primeira coisa que pensei foi que iria parar a um
orfanato, posto para adoração e acabar os meus dias lá ou arranjar uma família. Não
sabia qual temia mais.
Acabei por ir parar a uma casa de acolhimento gerida por padres. Passava os dias
enfiado no quarto, mal comia e andava sempre metido em brigas...sabe-se lá quantas
reguadas levei ou quantas vezes foi obrigado a ficar de joelhos sobre milho como
penitencia. Mas, não importava, assim que pusesse pé fora do castigo voltava a fazer a
mesma coisa. Os padres não sabiam o que fazer comigo, castigos não funcionavam,
punições também não, muito menos proibirem-me de certas regalias como hora de
brincar ou a sobremesa. Eu voltaria a fazer o mesmo! Falei com conselheiros,
psicólogos, psiquiatras, psicanalistas e todas as outras denominações mas, nada alterava
o meu comportamento rebelde. Era a minha maneira de fazer luto aos meus pais, não
deixar que nada de afectasse, lutar, lutar, lutar nem que isso significa-se ficar numa sala
escura apenas com um colchão velho a soluçar devido as cintadas no lombo.
Fora num desses dias, em que estava de castigo por ter andado a bulha no recreio com
um puto mais novo por causa do jogo de berlindes – ele mereceu, ora! - Que um dos
padres, professor de matemática, veio buscar-me. Eu gostava particularmente deste
padre, não era como os outros; Tinha a pele em tom de chocolate, grandes olhos negros
e cabelo aos caracóis. Não andava de batina como os outros mas sim com a camisa
preta e o colarinho branco. Ao contrário dos outros, este Padre – cujo nome escapa –
era mais benevolente sentava-se comigo e conversava, apesar daquilo tudo que eu
fazia. Era um padre que entendia a minha mágoa, pois tambem tinha perdido não só os
pais mas, toda a família num daqueles massacres algures em África.
Esse padre veio buscar-me, com um sorriso nos lábios.
― Dean. - Disse num sotaque cerrado. ― Vem, meu filho.
Estendeu-me a mão. Eu demorei a levantar-me para aceita-la, ainda me doía as costas
depois daquela sessão de cinto que o padre mais velho, que cheirava a naftalina tinha
feito questão de dar.
Agarrei a sua mão, e ele levou-me pelos corredores fora a passo rápido. Subimos as
escadas até ao seu gabinete sem nunca me largar a mão, quando chegamos a porta ele
parou. Baixou-se ao meu nível e arranjou-me a roupa.
― Vais para um sítio melhor. - Ajeitou-me a gravata azul, penteou o meu cabelo,
sacudiu-me a camisa branca. ― Vieram buscar-te. Portanto, sorri.
O quê?! Vieram buscar-me?! Teria sido adoptado? Voltou a levantar-se, abriu a porta
e entrou. Eu fiquei parado do lado de fora, não me atreveria a entrar, estava pregado ao
chão! Vi o padre a falar de perfil para mim, estava a falar com alguém sentado a sua
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mesa isso é certo. O medo tomou conta do meu coração, não sabia o que fazer. Estava
preso ao chão!
― Dean...-Chamou-me o padre com a mão e o sorriso virados para mim. Eu engoli
em seco. ― Vem conhecer a tua família.
Respirei fundo antes de dar o primeiro passo, só passavam coisas idiotas pela cabeça;
Os meus futuros pais podem ser de tudo, desde boas pessoas que somente queriam o
meu bem e a quem eu provavelmente iria destruir a vida devido ao meu comportamento
errado ou alguém da minha laia.
Entrei na sala quente, parando ao lado do padre. A dois anos atrás estava com os
meus pais a começar uma vida em New Jersey, com um estilo de vida afastado da
sociedade capitalista, afastado de tudo o que corrompia o ser humano. Perto da
natureza como gostava a minha mãe e agora lá ia eu ser entregue a estranhos.
― Não sejas timido...- O padre fez com que eu encarasse a minha nova família. Mas,
não tirei os olhos do tapete. Conseguia ver os pés de um homem sentado numa cadeira
com botas a cowboy pretas e vermelhas escuro, ao lado uma mulher de sapatos altos e
meias pretas com uma criança ao colo. A curiosidade foi mais alta, lá levantei os olhos
e encarei os dois seres. A mulher mostrou-me o sorriso mais carinho que alguma vez
vira e o homem tinha um ar emocionado. Levantou-se e avançou para mim, assim que
se levantou no teu no seu gigantesco cinto a dizer Texas. Bem, já se dizia que no Texas
tudo é maior.
Colocou um joelho do chão e observou a minha cara. Tinha cabelo comprido
aloirado, grandes olhos azuis como os da minha mãe, cara de sorriso fácil e um nariz
fino que lhe assentava muito bem. O seu casaco era castanho, as calças pretas, com
uma gravata vermelha.
― Meu Deus, és a cara da Mary...- Disse com voz rouca e um claro sotaque do sul.
Passou a mão pelo meu queixo, enquanto via que as lágrimas vinham-lhe aos olhos. ―
Sou o teu tio, rapaz. Irmão da tua mãe.
Eu estranhei. A minha mãe nunca mencionara ninguém da sua família, aliás, nunca
sequer tinha visto imaginado que a minha mãe tinha irmãos. Sempre a conheci sozinha,
na companhia de meu pai.
― A minha mãe não tinha irmãos...
O homem acenou positivamente.
― Eu e a tua mãe não nos falávamos a algum tempo e...- Engoliu em seco, desviando
o olhar para o chão. Uma ideia surgiu-lhe na mente e rapidamente olhou para o padre.
― Pode deixar-nos a sós?
― Com certeza. Estarei lá fora...
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Esperou que o padre saísse, e assim que a porta se fechou, o meu tio voltou a atenção
para mim.
― Porquê que vocês não se falavam? - Adiantei-me ao meu “tio” ele sorriu ao ouvir
o som da minha voz e o meu ar determinado. Não iria baixar a minha guarda tão
facilmente.
― A Mary, era um espírito livro. Não gostava de ficar presa a nada. - Fez uma breve
pausa. ― Eu sei o que aconteceu a tua mãe e ao teu pai. Foram mortos por um
vampiro, Dean. Sabes o que são?
― Sei. - Respondi com determinação. ― São mortos, sensíveis ao sol, que bebem
sangue das pessoas.
Uma das razoes para os meus castigos, fora por ler livros que falavam do sobrenatural
como lobisomens, múmias e até vampiros. Os padres achavam que me estava a desviar
do real e por isso, punham-me de castigo.
― Vê só...- Disse a mulher com orgulho. ― Fala como um de nós.
― É verdade. - Concordou o meu tio. ― E tem a mesma postura tambem.
Determinado, sem medo. Se alguma vez quiser, será óptimo!
― Óptimo? - Repeti eu. ― No quê?
O meu tio levantou-se do chão, voltou para perto da mulher dando-lhe um beijo na
cabeça. Colocou a sua mão no ombro dela, e a mulher afagou-lhe a mão. Era um
casamento cheio de amor.
― Eu e a minha mulher, Hannah, matamo-los como profissão. Tecnicamente
chamam-nos Investigadores do Paranormal mas, gostamos mais de nos intitular como
Caçadores.
― Então...- Pela primeira vez desde que chegara, eu avancei na direcção deles. ―
Vocês matam vampiros?
― Tanto vampiros como muitos outras criaturas. - No seu colo dormia uma criança,
devia ter uns nove anos. Ela notou o meu intenso olhar e sorriu. ― A propósito, este é
o teu primo Frankie. Ele esta cansado da viagem, não aguentou mas, esta ansioso por
conhecer-te, Dean. Serão grandes amigos.
Olhei para os três, aquilo fazia-me confusão. Subitamente, arranjara um tio e um
primo, e já tinha uma futura proposta de trabalho. Uau, e o meu dia nem tinha
começado.
― Vão adoptar-me?
― Vamos levar-te connosco, Dean. - Disse a mulher. Hannah era linda por si só,
morena de cabelo apanhado de olhos verdes escuro, lábios grossos pintados de
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vermelho. Tinha um ar exótico, as suas raízes poderiam ser muito bem latinas ou
índias. ― Somos a tua nova família.
― E se não quiser ir?
O meu tio olhou para a Hannah, depois para Frankie que dormia nos braços da
esposa. Pareceu pensar durante segundos, depois voltou a encarar-me.
― Não és obrigado...mas, aposto que não queres passar o resto dos teus dias a ser
açoitado, pois não?
A resposta era mais do que óbvia.
― Okay. Eu vou...- Respondi baixinho. ― Quero matar a assassina que matou os
meus pais. Vou destrui-la.
O meu tio avançou para mim, colocou uma mão no meu ombro.
― A sede de vingança é uma névoa traiçoeira a razão, Dean. Uma das regras
essenciais para ser um bom caçador: Não deixar a razão ― tocou-me na cabeça ―
submeter-se ao emocional. ― Tocou-me no peito.
“ Queres encontrar a vampira? Tudo bem, eu ajudo, a Hannah ajuda e até o Frankie
dá uma ajuda mas, os teus sentimentos...essa vingança toda, essa raiva vai ter que ficar
sob controlo ou quando vires que as buscas não vai dar a lado algum...enlouqueces.
Vi que Hannah se levantava com Frankie ao colo.
― E, sinceramente, Dean um hospício custa muito.
Ela riu-se, mostrando uma fileira de dentes brancos e perfeitos. Linda de facto, a
seguir a minha mãe, seria a mulher mais linda que já vira. O meu olhar voltou-se para o
meu tio.
― Como te chamas?
― Michael. - Respondeu ele. ― Michael Dean.
***
Fora ai que descobrira que a minha mãe dera-me o segundo nome do seu irmão.
Enquanto crianças eles foram muito chegados, mas assim que Mary se apaixonara pelo
meu pai a família separou-se. O meu pai não era aceite, no seio da família por ser um
nómada, um sem vida que andava a percorrer o país numa carrinha pão de forma. Isso
irritou o meu avô, e a minha mãe saiu de casa deixando um lar amoroso para trás e
embarcando com o meu pai na velha carrinha branca e azul da Volkswagen.
Viver com estes novos parentes a principio não fora fácil mas, eles entendiam.
Durante os primeiros anos, dos 12 aos 14 tanto Jeffrey como Hannah ajudaram na
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minha procura de Carmen mas, claro como o ele tinha-me avisado mesmo no inicio eu
quase enlouqueci. Tinha 15 anos, não tinha qualquer pista sobre o paradeiro de
Carmen. A minha raiva aumentara, todas as noites era visitado por aquele ultimo
momento em que a minha mãe gritara por mim.
Era impossível não relembrar como tudo acontecera, estava dentro de casa sentado
numa cadeira a comer cereais, quando o grito da minha mãe sobressaltou-me. Vejo-a
correr pela janela com o cabelo loiro a esvoaçar atrás mas, tudo em camera lenta. Não
conseguia deixar de ficar ansioso mesmo sabendo o que vinha a seguir; A porta abre-se
tambem de devagar e a minha mãe entra a correr mas, muito lentamente. A sua voz
ecoa na minha cabeça.
“Esconde-te. Esconde-te e por Deus, não saias!”
Empurrou-me, eu caio da cadeira e limitei-me a olhar para ela sem entender.
“VAI, DEAN!”
Com o seu berro, eu movi-me. Levantei-me do chão num salto, corri para a cama dos
meus pais e fiquei lá de baixo. Não me mexi, encolhi-me todo o mais que podia durante
todo aquele barulho de gritos e passos pesados dentro de casa. Quando ouvi a frase da
minha mãe, apenas um silvo de palavras, o meu sangue gelou. As lágrimas queimavam-
me a face de tal modo que não consegui evitar o seu rolar. Com força de vontade e
segurança, lá rastejei de debaixo da cama, movi-me devagar, cuidadosamente e quando
vi o cenário não evitei em tropeçar em mim mesmo. A minha mãe estava caída no chão
com uma mulher por cima dela, subitamente parecia que o meu espírito se tinha
desligado do meu corpo e adquiri uma personalidade fria. Tudo o que era belo e
colorido tinha desaparecido, não via mais cores apenas cinzentos. Aos 10 anos a sede
de raiva, vingança brotou dentro de mim.
Levantei os olhos para aquele ser que se ria vitoriosa de ter morto os meus pais,
pensei que fizesse o mesmo comigo mas, depreendi que não. Não era essa a sua praia.
Por ameacei-a: Jurei, que ia encontra-la, que mata-la e como resposta aquele ser
nojento respondeu-me:
Boa sorte, puto!
Naquele momento, Carmen tinha assinado a sua sentença de morte. A sua vida
chegaria ao fim.
Os anos passaram e passaram; Vivi com os meus tios durante anos e quando a morte
os levou, não deixei de tomar a dor de Frankie como minha, chorando-os. Consolei-o,
emprestei-lhe o meu ombro e os nossos laços foram fortalecidos, vira nele um irmão a
proteger. Frankie arranjara onde ficar por ainda ser menor, tinha apenas 15 anos e eu já
nos 17, a semanas dos 18 resolvi seguir o meu caminho. Frankie, ficou com o seu
padrinho um outro caçador experiente e mais velho, enquanto eu – no auge do meu
egoísmo – saí da cidade de Hanson, no Texas á boleia. Cheguei a Dallas, onde arranjei
o meu primeiro emprego numa loja de mecânica. Juntei dinheiro suficiente para tirar a
carta e arranjar um pedaço de lata velho.
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Assim fiz-me a estrada recolhendo pedaços de informação aquando da breve
passagem de Carmen pelos Estados Unidos; A taxa de mortalidade tinha aumentado no
Sul, isso é óbvio mas, dela mesmo nada havia. Apenas índices e nada mais. Até que
depois de anos sem qualquer pista decidi desistir. A sensação de falhanço era enorme,
constante e não me abandonava. Sentia que tinha desiludido os meus pais, a vitória era
de Carmen, que tinha matado e depois ido embora. Fiquei de tal modo mal que fechei
todos as saídas para o mundo, permaneci perdido sem qualquer forma de contacto anda
errante por aqui e por ali, a beber que nem um louco, a fumar – vício que ainda mal
deixei – e o pior com uma vida sexual horrível. Entrar em bares, trocar olhares com
uma fêmea excitada, dar-lhe umas quantas num beco e depois ir-me embora da cidade.
Detestava aquela vida mas, era a que eu tinha. 25 Anos e a minha vida era uma
desilusão!
Estava sentado ao balcão do bar na ponta, do outro lado estava sentada uma bela
morena de cabelo curto e óculos; Trazia um top com um belo decote mostrando uns
seios fartos que se moviam a cada movimento dela. Estava com as amigas, todas elas
tambem com boas formas mas, aquela morena tinha a minha atenção. Poisei a minha
bebida e encarei aquele decote com desejo, quando ergui os olhos ela olhava para mim
vitoriosamente, puxou o braço de uma amiga disse qualquer coisa sobre mim – as duas
voltaram-se na minha direcção. – e a seguir sorriam uma par a outra. A morena com o
decote levantou-se e caminhou até mim, eu nem olhava para a cara apenas para aquele
decote imenso que dava-me um formigueiro. Ela aproximava-se e quando chegou por
fim, antes se quer de abrir a boca algo meteu-se entre nós. Estava de costas para mim,
trazia um casaco de cabedal preto e o cabelo em crista quando ouvi a sua voz, não
evitei sorrir.
― Desculpa, querida. Mas, eu preciso dele.
― Mas…
― Noutra altura.
Com alguma pena vi-a ir-se embora mas, quando o indivíduo se voltou com um
sorriso típico a tristeza foi-se embora. Era Frankie. Mais alto, mais forte, mais
velho…Puxou o banco e sentou-se mesmo ao meu lado, não apagando aquele sorriso
idiota.
― Estragaste a minha noite. – Anunciei eu.
― Oh, duvido. Ela era uma prostituta, meu. E nada de jeito, olha que já comi
melhor…
Ignorei o seu comentário infantil, fiz sinal ao empregado que me trouxesse um novo
copo.
― De certeza que não vieste até aqui para falares de mulheres.
― Aí é que te enganas, primo. Tenho grandes novidades e são sobre uma mulher. – O
barman colocou um copo a sua frente, com whisky e Frankie bebeu de um só trago.
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Encarei-o com curiosidade notável mas, ele como sempre levando tudo na brincadeira,
desviou o olhar e manteve silêncio.
― Que novidades? – Insisti.
― Acerca da Carmen.
― Tecnicamente, ela não é uma mulher, pelo menos não é humana. – Disse a mim
mesmo. Voltei a concentrar-me no copo com whisky e gelo. Já ia no 4º.
― A má vontade não te fica bem. – Respondeu-me Frankie. ― Continuando,
― Hum? Dean, é a Carmen. Vampira que matou os teus pais...
― Eu sei quem é, Frank! Não sou idiota...
Botei abaixo o whisky.
― Claro, só estás bêbado!
― Hey! - Voltei-me para Frankie com o dedo apontado. ― Tu é que viste a minha
procura, puto. Não te devo nada, portanto, bem podes ir embora.
― Não sou puto, Dean! - Exclamou ele indignado. Eu encolhi os ombros, por essa
altura o barman passava e eu pedi-lhe nova ronda. ― Ah e deixe a garrafa.
Ele assim o fez, deixou a garrafa de Johnny Walker Blue no balcão, mesmo quando ia
agarrar e meter no copo, Frankie parou-me.
― Tens razão, não me deves nada. Muito pelo contrário eu devo-te mil e uma coisas,
Dean... - Tinha um raciocínio a continuar mas interrompeu-o, aquele não era o seu
campo. Apanhou a mochila do chão, abriu-a e retirou umas quantas folhas. ― Eu sei
que procuras-te mas, eu sou melhor nisto do que tu.
― Não há ai nada que eu já não tenha encontrado...Ela desapareceu no mundo!
Desapareceu, Frankie. Com sorte, está morta...- Ri-me da baboseira que disse. ―
Morta, isso sim seria hilariante.
― Oh...- Disse Frankie surpreso. ― 'Ta certo. Mas, ela não esta morta.
As suas palavras apanharam-me de surpresa, parei de beber e fiquei estático. Frankie
ao ver que as suas palavras tinham tido efeito, ficou ainda mais calado.
― Vais dizer-me onde ela está ou esperas convite?
― Eh, malcriado! - Frankie olhou para o copo e ergueu a sobrancelha. ― Estou a
espera.
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Suspirei, afastei o copo e esperei para ficar mais lúcido. Quando por fim consegui,
virei-me para Frankie. Ele abriu a mochila, tirou dois bilhetes e sorriu.
― Moscovo.
― Moscovo?! Ela está lá?
― Não! Vou lá por causa do festival da cerveja, Dean! Octoberfest! Einstein...
― Já percebi.
― Ainda bem! - Exclamou Frankie, levantando-se. ― Vamos, o avião parte dentro
de uma hora.
― Uma hora? Frankie...- Chamei-o. Ele voltou-se lentamente com um sorriso na
cara. ― Eu não disse que ia.
― Oh...claro...- Frankie meteu a mochila as costas. ― Porquê que não páras com este
jogo de “não quero saber”, quando ambos sabemos que aceitaste no momento em que
disse que o nome dela?
― Conheces-me bem de mais.
― Eu sei...- Frankie suspirou. ― Sou um génio.
Despertei desta viagem psicológica com um som familiar. Um motor que eu já
conhecia. Um som reconhecível a distância. Um Mustang Shelby 2009.
Com o pé na cama, levei a cabeça para fora da janela e aí vi o carro preto e discreto.
Se isso não me chocasse o suficiente, Carmen saiu dele sem sequer deixar sair fumo. O
meu coração caiu ao chão. Oh Deus...
Precisava de pensar como deve ser. Carmen vinha ao meu encontro, eu nunca me
sentira tão em pânico como neste momento. A fome abandonou-me, a sede também e a
minha mente ficou livre de qualquer banalidade do passado. Subitamente, senti o meu
estômago a engolir-se a si próprio, conseguia ouvir passos nas escadas. Ela estava
próximo.
Enquanto deambulava pelo quarto, tropecei na mochila de Carmen com as pistolas
dentro. E aí percebi! Eu fora burro o suficiente para traze-las comigo, secalhar ela
vinha buscar os seus pertences e aproveitaria para acabar comigo. Não, eu não tinha
deixado nenhuma pista sobre quem eu, tinha sempre apagado todos os meus vestígios
então…como ela tinha chegado aqui?!
Coloquei-me atrás da porta com um salto e inspirei fundo. O tempo pareceu parar,
movia-se tão lentamente que me fazia sentir enjoado. Encostei-me a parede de tal modo
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que me senti embutido nela, pior ainda quando ouvi as chaves rodar na fechadura –
raios! Pro inferno o dono e as chaves sobresselentes!
Ela entrou e naquele momento, vi-a de perfil. O seu cabelo ruivo dava-lhe pelo meio
das costas, tinha mais ondas do que me lembrava e, embora fosse mais baixa do que eu
ainda era alta. A sua beleza era inevitável. Baixei os olhos para o seu corpo e vi-lhe as
curvas perfeitas debaixo das calças; Um corpo como uma ampulheta, a sua pele lisa e
pálida, um tronco perfeito nas medidas certas, um traseiro fantástico, umas pernas
longas e fortes. Meu Deus, Carmen era sensual. Uma bomba ruiva.
Desequilibrei-me com o pensamento obvio, e encostei-me demais a porta fazendo-a
ranger e ela virou-se logo. Empurrei-a com força contra a parede e perdi-me nos seus
olhos cinzentos por segundos mas, voltei a reencontrar-me.
― Estás viva…ou algo do género. – Disse sorridente. ― E o mais estranho, a
caminhar sob o sol…Afinal, ter bruxas como serventes sempre ajuda…
Não acabei a minha frase, Carmen desferiu-me uma valente cabeçada e a seguir
empurrou-me. Cambaleei para trás e antes de poder pensar levei um soco forte da
direita e outro da esquerda, no fim com um pontapé no estômago que me levou contra a
cómoda. Caí de joelhos tentando recuperar o meu ar. Carmen estava a irritar-me, e ela
mostrava um sorriso vitorioso nos lábios carnudos.
― Esta é a parte em que te dás conta em que deixares-me viva foi o pior erro da tua
vida.
― Talvez não…
Investiu contra mim com uma valente carga de ombro que me levou contra a mesa
redonda, derrubando a comida inacabada. O impacto teve tanta força que senti o meu
ombro deslocar-se, ignorei a dor e segurei a sua cabeça, levantei-a e empurrei-a contra
a parede. Segurei-a pelos cabelos e devolvi-lhe os socos, como se soltasse toda a raiva
em mim; Voltei a segurar na sua cabeça ruiva e investi-a na parede, uma, duas três
vezes. Sem saber bem como ela largou-se de mim e devolveu-me um soco com tanta
força que me desnorteou ergueu o joelho e deu-me uma joelhada mesmo na têmpora.
Não evitei cair ao chão e sentir-me atordoado neste momento de fraqueza, Carmen
chutou com toda a força. Senti a sua bota enterrar-se nas minhas costelas de tal forma
que senti-as estalar e gritei. Fiquei ali no chão, girei sobre mim rastejando pela carpete
suja, pedindo por ar; Carmen no auge do seu poder, pisou as minhas costas uma e outra
vez. Com aquele golpe deixei-me ficar imóvel, estava terrivelmente cansado e
arrumado. A minha cabeça zunia, as minhas costelas gritavam e o meu ombro não
havia como deixar de doer. Eu não sabia o que fazer para parar a dor.
Vi o seu pé passar a passar por cima de mim e num gesto agarrei-o, e puxei-o
trazendo Carmen para baixo, assim que ela caiu eu voltei-a de barriga para cima e cai
por cima dela. Os seus olhos cinzentos estavam mais brilhantes que nunca. Meu Deus,
eu estava hipnotizado mas, deixei o poder esvair-se de mim. Não me podia deixar
afectar.
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― Uhm…- A sua voz veio baixa e sedutora. ― Olha como estás crescido e forte.
Bem, diferente do que quando tinhas 10 anos, Dean.
Não pude deixar de me espantar. Ela a momentos não me conhecia.
― Pensei que não te lembrasses de mim, Carmen.
― A mente é algo maravilhoso. – Tinha um claro ar de provocação nos lábios.
Aquilo era o seu ambiente. ― Tu estás todo partido. Parece que o bebé não tem muitos
truques.
― Tenho mais truques do que imaginas…- Tive um flash repentino da noite passada
em que eu a possuía violentamente, isso fez-me mexer no meio das suas pernas.
Consegui vê-a arfar com aquele gesto. E eu aproveitei... ― E, não sou um bebé como
pudeste sentir.
Encaramo-nos durante alguns segundos, eu com um ódio fervoroso e ao mesmo
tempo um desejo, e ela com algo que eu não sabia identificar. Ela tinha alguns cortes na
cara, algum sangue escorria-lhe da cabeça, de cima da sobrancelha mas, apenas
pequenos cortes. Sentia-me tão vitorioso por faze-la sangrar do seu próprio veneno. Só
sabia que o seu hálito fresco vinha contra a minha boca e eu tinha uma vontade louca
de...
Ela mexeu-me tão rápido que apenas vi sombras, mas, mesmo assim ainda consegui
agarrar pelo seu pé e puxei-a para debaixo de mim. No entanto, antes de pensar tinha a
lamina de uma tesoura debaixo do meu queixo segurada pela mão firme de Carmen.
― Não vim aqui brincar, Dean…-A ponta daquela tesoura estava mesmo contra uma
veia no meu pescoço. Eu fiquei parado sem qualquer movimento. ― Tens duas coisas
minhas: as minhas armas e a minha flor-de-lis. Onde estão?
― Vieste aqui buscar os teus pertences?! A sério?
Senti a pressão da tesoura depois do meu comentário acesso.
― Cala-te! Limita-te a responder...
― Vendi-as! A sério! Como achas que comprei estas botas fantásticas? - A tesoura
encostou-se mais. O meu olhar apanhou o de Carmen, quando ela contemplava a minha
veia; Ela tinha vontade de me apanhar. ― Então, Carmen? Estás a tentada a uma gota
do meu sangue?
― Não cheiras tão bem quanto a tua mãe e temo que o teu sangue seja tão mau
quanto o do teu pai... – Aquela boca fez-me rosnar e a pressão no meu pescoço
aumentou. ― As minhas coisas, Dean ou…
― Ou o quê? Vais matar-me? Tu não tens…
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A dor foi tão rápida e intensa que mal tive tempo para disfarçar a dor. A tesoura
cravou-se de tal modo no meu ombro que travou os meus movimentos.
― Desculpa, interromper o teu raciocínio, Dean… Mas, eu quero mesmo as minhas
coisas…
― Sua cabra…- Rosnei engolindo a dor.
― Sim, muito…- Para piorar, e como um jogo de tortura ela agarrou a tesoura e deu-
lhe meio giro. Eu gemi ainda mais. ― Onde estão?
Quando encarei Carmen, vi-lhe um brilho especial nos seus olhos. Ela estava adorar
aquilo, até senti o seu aperto na tesoura a afrouxar o que me deu espaço para mexer-me
novamente. Ela respirou fundo e eu ri-me, o olhar de Carmen deslizou para os meus
lábios, parecia que queria comer-me. Aproximei a minha cara da sua, ela encolheu-se
no tapete
― Segunda gaveta…da… mesa-de-cabeceira, Carmen.
Fui logo empurrado com violência e ela levantou-se. Enquanto passava, fez questão
de dar-me um valente pontapé. Observei enquanto se aproximava da mesa-de-cabeceira
e viu os seus objectos. A curva que ela fazia enquanto procurava nas gavetas era
simplesmente perfeita.
Sentei-me no chão, ainda meio tonto e vi enquanto ela observava as suas armas, ainda
inteiras.
― Lindo menino… A flor?
Não respondi, aquela tesoura estava a incomodar-me. Sem qualquer demora agarrei-a
e puxei. Vi um fio de sangue a seguir o metal e depois atirei o raio da tesoura para
longe. Levantei-me ainda a cambalear afinal, aproximei-me dela e fiquei mesmo a sua
frente, debrucei-me sobre a cama , mesmo debaixo da almofada e tirei o fio.
― Aqui está.
― Porquê que está debaixo da tua almofada?
― O que posso dizer? És especial…
Mostrei-lhe um sorriso irónico, e quando ela estendeu a mão para apanhar a flor e eu
tirei-a do seu alcance, com o outro braço puxei-a pela cintura e caímos os dois em cima
da cama. Voltei a ficar por cima dela, adorava aquela sensação de poder e iniciamos
uma estúpida luta de mãos; Lá consegui agarrar os punhos dela, afasta-los e prende-los
do lado da sua cabeça.
Sentia cada fibra do seu corpo junto ao meu e eu adorava. Podia torce-lhe o pescoço
mesmo ali.
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― Isto é tão errado…Sinto-me como se estivesse em Atracção Fatal…
― És patético, Dean! Porquê que tens…- Aí algo aconteceu. Carmen ficou alerta
subitamente. ― PAN!
Fui empurrado de cima dela, ela correu para a janela e seguiu o olhar para ver o carro
desaparecer. Por momentos ela não tinha entendido o que acontecera nem eu! Quem
era a Pan? E porque raio tinha ela fugido com o carro de Carmen, tinha que perguntar a
Frankie...Não sabia quem era Pan mas, naquele momento estava no topo de apreciação.
Inclinou-se para seguir o carro mas, algo aconteceu, e ela retirou a mão com um grito.
Afastou-se do parapeito e olhou para a mão, eu espantei-me ao ver que estava vermelha
e em carne viva. Oh meu Deus! Carmen, já não era imune a luz solar, se eu quisesse
podia atira-la da janela! Era a minha oportunidade, para tortura-la mais um bocado.
― Ups… Queimaste-te. Isso quer dizer que….
― O feitiço…- Completou ela. ― Acabou.
O som da vitória queimava na minha cabeça! Levantei-me de cima da cama,
caminhei para a porta e fiz questão de virar o trinco. Encostei-me a porta com toda a
segurança.
― Isso quer dizer, que estás presa aqui.
Não demorou a perceber o que quis dizer, ela passou por cima da cama e veio na
minha direcção.
― Deixa-me sair!
Ela chegou a mim, agarrei-a pelo pescoço com força e prensei-a contra a parede.
― Lamento, Carmen. Mas, a única maneira de saíres daqui. É por aquela janela. …-
Olhou para a janela aberta com o sol quente a bater. ― Quanto é que apostas que antes
de chegar ao chão, viras cinza?
― Deixa-me, sair! – Ordenou-me com um empurrão que eu devolvi.
― Não...- Olhei para o fundo do cinza dos seus olhos. ― Hum...estás a começar a ter
aquela sensação de que não devias ter vindo atras de mim, certo? Devias ter ouvido o
Eric. Ele é a voz da razão.
― Como é que sabes do Eric?
― Eu sei tudo da tua vida...- Aproximei-me mais dela. Juntando o meu corpo ao seu.
― Tinha de saber ou seria um “perseguidor” que se preze, certo?
Chegou ao ponto de não haver qualquer espaço entre nós. Eu conseguia sentir cada
centímetro do seu corpo e o seu cheiro inebriante era o que mais me envolvia.
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Automaticamente a minha mão largou o seu pescoço, passou pelo volume do seu peito,
pela barriga até parar naquelas coxas torneadas e aperta-las entre os meus dedos. Ela
enxotou-me mas, eu prendia ainda mais e ri-me.
― Não vejo a piada!
― Não?! Ora, eu vejo e mato-me a rir...Principalmente, da tua fraqueza.
― Qual fraqueza?!
― Convenhamos, Carmen! Estamos aqui a meia hora, mais coisa menos coisa e por
duas vezes pudeste matar-me mas, não o fizeste...não consegues matar-me...- Aqueles
lábios fizeram-me aproximar-me ― Não me consegues matar e isso dá-me vantagem...
Não percebi o perigo quando ela falou tão baixo.
― Isso não vai acontecer.
― Não tenhas tanta certeza...Afectei-te de tal modo que vieste a minha procura... Eu
sei sou especial...
Não sei como foi, não me apercebi. Ela subitamente ficou muito calada,
extremamente calada. Cravou os olhos em mim e pude ver em como a cada palavra que
eu cuspia eles ia escurecendo, as veias em volta dos olhos começaram a pulsar, os seus
olhos ficaram totalmente vermelhos escuros, de tal modo que eu não reconheci a
criatura a minha frente. Senti que tocara num nervos essencial ao mexer com ela
daquela maneira.
Levei um outro empurrão violento, mas ela caiu em cima de mim. Subitamente ela
parecia ter a força de mil cavalos e eu não me conseguia mexer preso debaixo do seu
corpo. O pânico começou a acumular-se quando a sua cara se aproximara da minha.
― Não penses que me conheces, Dean. Não te passa aquilo que sou capaz de fazer.
Julgas que és o primeiro a passa no meu caminho? Eu como coisas como tu todos os
dias...Eu mato-te num piscar de olhos!
A sua mão agarrou a ferida do resultado da tesourada. Não aguentei soltar um berro
de dor que ecoou pelas paredes do quarto mas, isso fez com que o seu aperto
aumentasse.
― Sentiste? -Perguntou toda excitada. A seguir fechou o punho e mandou-me um
valente murro nas costelas. ― Isto não é nada, comparada a dor que eu posso causar-
te...
Logo quando pensava que toda aquela dor não poderia piorar, ela agarra com força o
meu ombro deslocado.
― Eu forço-te de todas as maneiras até chegar ao ponto em que tu pedes
misericórdia, Dean.
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Berrei até sentir as lágrimas a queimarem-me os olhos quando o seu joelho se forçou
contra as minhas costelas.
― Diz! Implora que eu pare, Dean. - Um novo aperto na ferida, agarrei a sua mão
para tentar afasta-la do braço mas, ela não se mexeu. ― Diz: “Carmen, eu desisto...”
― Carmen...- Tomei algum tempo para respirar. ― Vai-te lixar.
Ela preparava-se para me atacar novamente quando a porta se abriu de rompante e
fomos separados por um bando de sombras. Puxaram Carmen de cima de mim e a
seguir levantaram-me do chão, empurraram-me contra a parede e eu voltei a cair, a
seguir foi um festival de pontapés e socos de todos os lados e nem eu percebia o que se
passava. As minhas costelas enterraram-se mais dentro de mim, o meu ombro
deslocou-se ainda mais e o sangue não para de escorrer.
Chegaram-me aos ouvidos os gritos de Carmen, tentei ver o que acontecia mas o
ataque era tal que mal me mexia. Apenas ouvia-a.
― Larguem-me! - Ordenava com toda a segurança. ― Larga-me!
― Carmen, sou eu! - Não reconhecia a voz. Era masculina e tinha um leve sotaque
estrangeiro que não conseguia reconhecer.
― Mas, que raio pensas tu que fazes?! Afasta-os dele, imediatamente!
Houve um silêncio repentino e de tal modo que só se ouviam as respirações ofegantes
dos homens em cima de mim.
― Carmen, precisas de te acalmar...
― Cala-te e faz o que eu digo, Eric!
Eric! Aquele era Eric?!
― Okay! - Disse ele. De repente os homens separam-se de mim e eu pude respirar
finalmente. Mantive-me de olhos fechados no chão sem saber como me mexer, nem se
o queria fazer. ― Pronto, agora vamos. Temos que cuidar de ti. Precisas de beber
alguma coisa, tens os olhos raiados de sangue e temos que cuidar dessa mão.
Os passos das pessoas a abandonarem o quarto, era a única coisa em meus ouvidos.
Demorei a perceber que Carmen se ia embora, que ela estava a percorrer o corredor
com Eric a tagarelar acerca de alguma coisa e liguei a esse pensamento algo animal.
Algo fez com o que meu coração acelerasse. Carmen ia-se embora. Ela não podia ir!
Ela era minha!
Lutei contra mim mesmo para me mexer durante segundos que pareceram eternos.
Não conseguia nem sequer mover-me sobre mim mesmo. O braço fazia-me confusão,
parecia que sentia o osso a roçar no outro, e isso dava cabo de mim.
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248
Lá consegui, com muita luta e perseverança ficar de joelhos no chão. Levei um braço
ao peito, enquanto o outro servia de apoio para me levantar, e, logo quando estava já de
pé desequilibrei-me mas, a tempo suficiente agarrei-me na porta do quarto. Precisava
de voltar a meter aquele ombro no local. Regulei a respiração, contei até três
mentalmente e depois mandei uma investida contra a parede. Senti um estalar quando o
osso voltou ao lugar, passei toda a minha dor para a madeira apertando-a por entre as
minhas mãos. Raios, já me tinha esquecido como doía deslocar o ombro!
Resolvi seguir pelo corredor, meio a cambalear, meio tonto ainda sem saber bem
onde estava.
Aquele instinto animal dentro de mim, gritava pelo seu nome. O sentimento tinha-se
sobreposto ao racional, estava a ponto de enlouquecer.
Desci as escadas aos tropeções e, quando cheguei eu vi-a no fundo das escadas de
costas voltadas para mim, enfrentando a entrada enquanto Eric acudia Sheftu que
parecia super divertida com algo.
Ao vê-la ali de costas, o meu instinto animal, apaixonado, sobrepôs-se e gritou por
mim.
― CARMEN! - Ela voltou-se logo, estava surpresa por ver-me ali de pé. ― Não...
Não! Não! Dizia o meu sentido; Não vás. Não me deixes...
Ela mostrou um ar surpreso perante o meu pedido, e até eu estava surpreso. O meu
olhar desviou-se para o que parecia ser Sheftu a correr escada acima, numa rapidez
incrível. Levei um empurrão tal que caímos os dois, as suas presas a centímetros de
mim prontas a cravarem-se em mim.
― NÃO!
Ouvi passos a correr e depois Sheftu voou de cima de mim, rebolou pelo chão e eu vi
Carmen a puxa-la pelo cabelo loiro e a encosta-la a parede com tanta força que saltou
um bocado.
O pior nem era isso. Carmen acabara de me salvar. Ela salvara-me...
― Se quiseres morder alguém, fica-te pelo Eric...― Carmen dera-lhe um novo
empurrão. Parece que Sheftu é que andava com Eric agora. ― Encostas um dedo no
Dean e eu arranco-te a cabeça.
Aquilo apanhou-me desprevenido por completo. Ela estava a defender-me. Porquê?
Se ela tinha ido ali, provavelmente, para enfrentar-me e acabar comigo, se Sheftu me
tivesse atacado era logo um problema resolvido.
A gargalhada maléfica distraiu-me.
― Não tens força para enfrentar-me. Dou cabo de ti...
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― Não...me...provoques, Sheftu. Eu sei modos de magoar vampiros que nem te
passam...
― Que tremo toda!
― Treme, sim...numa múmia como tu, que tem os ossos como pó, não é dificil fazer
vergar...- A maneira como Carmen falava mostrava que sabia do que falava. Não tinha
medo de Sheftu. ― Quebras num estalar de dedos!
Quando pensei que fosse estoirar uma briga, Eric meteu-se no meio. Raios, partam
aquele homem irritante que se mete em todo o lado! Separou-as.
― Chega! - A sua ordem dirigira-se especialmente para Sheftu. ― Sheftu, vai.
― O quê?!
― Vai! - Pediu novamente. Os dois trocaram olhares raivosos e logo depois, Sheftu
lá acabou por se afastar. Passou mesmo por mim, não sem antes fazer questão de me
dar um chute na perna e a seguir a sorrir como uma vitória pessoal. Carmen estava
pronta para a briga se Eric não lhe tivesse pedido para ficar quieta.
A seguir o seu olhar encontrou o meu, Eric analisou-me de cima abaixo. Avançou
com passo certo e agachou-se mesmo a minha frente. Tinha um claro desprezo nos
olhos e nojo, eu fiz questão de lhe devolver. Não tinha medo daquele sujeito.
― Basta tocares um dedo sequer nela que eu não prometo que fiques vivo por muito
mais tempo, mesmo que ela me peça. - Voltou a olhar-me de cima abaixo. ― Estás
avisado.
Mas quem é que ele pensava que era?! Estava a gozar com a minha cara, não?! Eu era
claramente mais forte do que ele, para alem de aparentemente ser mais velho e um
pouco mais alto, ele devia saber uns truques mas, eu já mágico.
Mostrei-me o meu sorriso mais cínico.
― Vai-te lixar, meu!
Eric parece adorar aquela resposta ao que me mostra tambem um olhar de desafio.
― Das duas, uma: ou és um idiota completo ou queres mesmo morrer. Considera-te
avisado!
Voltou a erguer-se, estendeu a mão num gesto convidativo a Carmen. Demorou, mas
lá acabou por aceitar a sua mão. Eric guiou-a lentamente, os dois passaram por mim de
mão dada e desceram as escadas. Carmen, não olhou para trás uma única vez.
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Assim que ouvi a porta fechar-se o meu coração caiu ao chão. Limitei-me a ficar no
chão sentindo a dor em cada parte do corpo. Quando me levantei parecia feito de
plasticina; Arrastei-me degraus acima até ao corredor do meu andar, por fim lá
consegui chegar ao meu quarto que continuava com a porta escancarada. Entrei e fechei
a porta com um pontapé pesado. Raios, costelas partidas!
Aproximei-me da janela a tempo de ver o carro preto a contornar a rua e a
desaparecer. A seguir, como um boneco encaminhei-me para a casa de banho para
cuidar de mim. Assim que me vi ao espelho, não consegui deixar de rir. Estava desfeito
e o pior, tinha levado uma abada de uma rapariga! Sabia que cuidar de mim, iria
demorar um bocado e precisaria de muita coragem, por isso voltei a sala e apanhei do
chão – caída perto da cama – uma garrafa de whisky. Levei-a para a casa de banho
comigo e sentei-me na borda da banheira. Tirei a tampa e bebi quase metade de um só
trago, soltando a seguir um suspiro.
Tirei a camisa, vi na minha lateral uma gigantesca nódoa negra, aquilo não era bom
mas, com um pouco de gelo curava-se rapidamente; A seguir, olhei para o meu ombro
deslocado, estava um pouco inchado e vermelho mas, tambem passaria; A ferida do
outro ombro era mais grave, o sangue vinha agora até a mão num rio espesso e
vermelho; Com agulha, linha e uma garrafa de whisky lá cozi a ferida. Doeu imenso
mas, no fim lá estava eu com um curativo de linha preta, tinha um ar horrível mas era o
que havia no momento. Depois fui limpar a ferida do lábio, da sobrancelha, da testa, a
pouco e pouco tinha mais ar de vencedor do que vencido.
Saí da casa de banho e, só ai percebi a confusão que ficara o meu quarto. Parecia que
uma manada tinha passado por ali várias vezes; As cadeiras estavam partidas, a estante
derrubada, buracos na parede...boa!
Apenas um nome veio ao meu encontro:
― Frankie!
― Hey, primo! Já estava preocupado.
― Onde estás?
― No posto de sempre. Em frente ao hotel.
― A Carmen já chegou?
― Nã...espera… como sabias que ela tinha saído? ― Perguntou Frankie. ― Viste-a.
― Ela veio cá.
― Quando disses “cá” referes-te...
― Ao meu quarto de hotel.
― E ainda estás vivo?
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― Sim.
― Woooow...Brutal. Estás bem?
― Um bocado trucidado mas, pronto...- Suspirei e sentei-me na cama, ignorando a
picada de dor. ― E falei com o Eric. Ele ameaçou-me.
― Oh, não acredito! Disse que te matava se te aproximasses da Carmen, outra vez?
― Exacto.
― Txiii...excelente!erá que ele namora com ela ainda e isso foi tipo uma ameaça de
um gajo com ciúmes?
― Parece que não. O Eric anda com a Sheftu agora, pelo menos pela maneira como a
Carmen disse…
Frankie soltou uma gargalhada divertida.
― Caramba, Dean!
― Fascinante! - Ironizei. ― Ela já chegou?
― Não, ainda...esquece, ela vem ai. - Ouviu-se o barulho de um motor de
automóvel. ― Uau, que carro. Não sabia que os vampiros andavam tão bem de vida,
este Hummer é tão caro! Olha-me para aquelas jantes...Pergunto-me o que este Eric
fará da vida. É cheio da guita...
― Se reparares todas elas têm dinheiro.
― Exacto. Mas, como? Será que são mafiosas? - Frankie riu-se. ― Vampiras
mafiosas!
― Frank!
― Não é impossível, primo.
― Puramente idílico.
― Okay...- Disse Frankie acabando com a discussão. ― Não batas mais no ceguinho.
― A Carmen?
― Oh, está no carro. Juntamente com...a vampira loira e o gajo...
― Eric. - Só de prenunciar o seu nome senti algo a subir-me pela garganta acima.
Senti vontade de levantar-me e aproximar-me da janela aberta. Observei ao fundo o
edifício do hotel, todo ele espelhado. ― Estão a fazer alguma coisa?
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― Agora? Nada! Pararam o carro em frente ao hotel...a vampira loira está com má
cara.
― Tem sempre.
― Acho que ela tem ciúmes...
― Porquê?
― O Eric e a Carmen estão muito juntos. Ele deu-lhe uma coisa para beber...wow! -
Frankie tinha um tom de voz de puro fascínio. ― O que se passou com os olhos dela?
― Ela irritou-se.
― E, novamente, pergunto como raio estás vivo, Dean?! - Deixei a pergunta sem
qualquer resposta. Enquanto o barulho se acumulava em volta de Frankie. ― Hum...
― O que foi?
― Estão ali uns tipos que eu conheço lá do bar.
― Que tipos? - Perguntei.
― Uns seguranças...estão a falar com uma outra rapariga que frequenta o bar. Mas,
o que raio estão aqui a fazer? - Explicou Frankie. Pensei na loira que passara a noite
passada comigo, ainda não me lembrara do seu nome. ― Se eles estão aqui, é porque
vai haver problemas.
― Como assim?
― Oh eles são gajos da pesada. Sabes como é, eu trabalho no bar e vejo tudo o que
se passa e eles…- Frankie suspirou ruidosamente. ― Não são para brincadeiras.
― Okay...- Disse voltando a focar-me em Carmen. ― O que está acontecer agora?
Ouviu-o a suspirar ruidosamente.
― A vampira loira continua de má cara.
― Tem sempre.
― Como é que ela se chama mesmo?
― Sheftu. Ela atacou-me. - Fechei os olhos tentando recordar. ― E a Carmen
protegeu-me.
Frankie fez um silêncio por segundos.
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― Mas, hoje foi um festim ai no teu hotel! Meu Deus. Espera...a Carmen protegeu-
te? A assassina dos teus pais, protegeu-te?
― Sim...
― Uau.
― Estamos quites agora...- Continuei. ― Eu salvei-a e agora ela salva-me.
― O quê…?
Subitamente deixei de ouvir Frankie. O ruído veio de todos os lados e abanou o
edifício da raiz a ponta; O impacto fez-me cair ao chão, comas mãos em cima da
cabeça e o dia tornou-se tão intenso que ardia os olhos. O ar quente pairou sobre mim
durante segundos. As janelas explodiram e os estilhaços caíram em cima de mim, a
terra tremeu por meros segundos e depois parou.
Quando me levantei vi a enorme parede de fumo que vinha do topo do hotel, o meu
coração caiu ao chão. Procurei o meu telemóvel no chão, apenas me vinha a imagem de
Frankie.
― Frank? Frank? Estás ai? - Ouvia imenso barulho, mas nada que se assemelha-se a
sua voz. ― FRANK, RAIOS RESPONDE!
Passando alguns segundos, senti um restolhar no telemóvel.. Respirei fundo.
― Dean...- Mais tosse e restolhar. A voz de Frankie estava rouca e longe. ― Dean?
― Frank, estás bem? O que aconteceu?
― Uma explosão...Oh Deus...
― O que foi?
― Estou a sangrar.
Não podia deixar Frankie ficar ali a sofrer com aquilo tudo.
― Eu vou para ai.
― NÃO...- Frankie gritou tão alto ao telefone que eu fiquei parado.
― Não posso deixar-te ai.
Começaram a ouvir-se ambulâncias, policias, bombeiros e tudo mais a passar tanto
em volta do meu hotel como ao telefone.
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― Não venhas, está uma confusão desgraçada e...- Houve um silencio total, onde
apenas se ouviam ambulâncias, ruído e coisas do género. ― O que é aquilo? O que é
que ele está a fazer?
― O quê? O que se passa? Frankie, fala comigo...
― É o...
Novo silencio, aquelas longas pausas estavam a dar cabo de mim, Frankie estava
ferido, provavelmente com gravidade e eu aqui parado, como um otário.
― Hum...não sei...não sei o que estou a ver...a Carmen...
Lembrei-me dela. Da Carmen. Como estaria? No momento tinha a mente dividida.
― O quê?
Mais ruído e ambulâncias a passar. Voltei-me para a televisão e via agora jornalistas
a reportarem o acontecido, o local estava totalmente destruído.
― Hum...Dean, olha tenho de ir. Não saías daí.
― Mas...e tu?
― Não, estou bem! Não é muito grave, só tenho que ver uma coisa...Não saías daí,
Dean!
― Porquê?
Silêncio total e tão rapidamente como atendera o telemóvel, assim desligou.
O dia passou lentamente, sem qualquer notícia de Frank embora eu seguisse
atentamente o acontecimento pela televisão. Não havia mortos mas, o número de
feridos tendia a aumentar; Pela televisão vi carros revirados, tantos destroços que era
impossível saber o que era utilizável e o que já era lixo.
Com os meus nervos em franja, peguei numa garrafa de whisky, sentei-me na cama e
comecei a bebe-la. Ao mesmo tempo prestava atenção na televisão e dava uma olhada
ao telemóvel, na espera que Frank desse noticias.
Depois do dia, veio a tarde e com a tarde veio o princípio da noite; Já ia na minha 3a
garrafa de whisky, a notícia já estava mais do que gasta não havia mais nada a
acrescentar e eu já esperava o pior com a falta de notícias de Frankie.
Mas, então algo aconteceu. Aproximei-me da televisão, subi o volume e tentei
perceber através do meu russo pouco fluente.
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― Noticia de ultima hora: No rescaldo da explosão no Hotel Marriott que ocorreu
esta tarde, a polícia dá a agora conta de três mortos, ainda não se sabe mais
informações sobre esta notícia e em breve voltaremos com mais actualizações.
Aquela noticia apanhou-me de surpresa.! E pensar que o meu primo, pode ser um
deles.
― Oh Frankie...- Passei a mão pela cabeça, pensando no pior e imaginando o pior.
Meu Deus.
As horas trouxeram a noite cerrada e já eram 21:30, quando Frankie empurrou a porta
do meu quarto; Não disse nada, vinha com alguns cortes na cara, trazia o que parecia
ser uma ligadura em volta da barriga e um ar de extrema fatiga.
― Frankie!
― Estou bem!
Ele entrou atirando o casaco e as chaves do carro em cima da mesa e suspirou
cansado.
― De certeza?
― Claro que não! Caiu-me um gigantesco pedaço de betão no capô do carro! - Puxou
uma cadeira e sentou-se pesadamente. ― Raios, ainda por cima, nem sei como mas
levei com algo e quase que me vi sem tripas.
Encaminhei-me para a porta, agora que sabia que Frankie estava bem uma outra
pergunta queimava dentro do meu ser.
― Vais explicar-me porque raio não querias que eu la fosse?
― Não fazias ali nada, se fosses…
― És suicida, agora?
Frankie elevou o olhar para mim. Eu não sabia identificar o que via nele. Então,
rapidamente Frankie levantou-se e tentou acalmar-me.
― Não tenho boas notícias.
― Como assim?
― Eu procurei-a por todo o lado...
― O quê?
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― Procurei, Dean. Juro que procurei mas, não há sinal dela. ― Demorei a perceber
de quem ele falava. Com tanta correria e emergência, tinha-me esquecido por completo
de Carmen! Quando Frankie anunciava não ter boas noticias, senti o meu sangue
escapar-se das veias, o meu coração parou e o ar pareceu desaparecer. ― A Carmen,
não está em lado nenhum
― O quê? - ― A minha voz mal se ouviu. Comecei a sentir uma tremura a abater-se
sobre mim de tal modo que tive de me sentir na cama. ― Não pode ser. Explica-te.
― Dean...
― Diz-me o que viste, Frank! - Exigi irritado. Nada daquilo fazia sentido na minha
cabeça, algo estava errado.
― Assim que ocorreu a explosão, eu vi o Eric a colocar os corpos dentro de uma
carrinha preta...parece que o impacto foi de tal modo forte que deixou a Carmen
K.O...ele pegou nos corpos dela, da Sheftu e da Samantha e meteu-as dentro de uma
carrinha. Eu segui-os mas, perdi-os de vista.
― Frank...
― Desculpa, Dean. A carrinha não tinha qualquer identificação e foi tudo tão rápido
que nem tenho a certeza do que vi ainda! Mas, mesmo assim depois de os ter perdido
de vista, procurei outra vez e nada...- Frank avançou mais uns passos até mim. ― Eu
falei com a polícia e ouvi um relatório de que havia mortos. Quatro mortos, meu!
― A Carmen é uma vampira, ela não morre!
― Ela desapareceu! Não quer ser encontrada, porque eu revirei esta cidade e não a
vi!
― Não pode ser...- Senti o álcool a subir-me pela garganta acima. ― Não pode ser...
― Dean!
― NÃO! - Berrei eu. ― Ela está aqui. Procura- a!
― Não há onde procurar, primo. - A voz de Frankie sumiu-se.
― Há sim! Ela anda por ai...morta não está, Frank!
― O que é isto? - Frankie olhava atentamente para as garrafas caídas no chão do meu
quarto. Garrafas de whisky completamente vazias. ― Bebeste isto?
― Não é essa a questão.
― Bebeste isto tudo, sozinho?!
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― Sim! Mas, a questão é onde está a Carmen! Ela não pode ter desaparecido...-
Levantei-me rapidamente, tentando fazer valer o meu ponto de vista mas, tropecei em
mim mesmo e cai ao chão. Deixei-me ficar enquanto era tomado com um acesso de
pânico.
― Dean...
― Deixa-me. - Afastei a mão de Frank que tentava ajudar-me a por de pé. Ele
permaneceu ali a observar-me.
― Ela desapareceu, não há rasto nem dela nem das outras vampiras. Parece que nem
existiram. A única coisa que sobrou foi o carro e mesmo esse esta destruído...- Frankie
segurou uma garrafa. ― Estou preocupado contigo e com a bebida. Três garrafas,
Dean.
Eu não o ouvia, levantava-me lentamente do chão...não o queria ouvir...não o queria
ouvir!
― Encontra-a.
Frankie aproximou-se de mim e segurou a minha cara entre mãos.
― Deixa-a, Dean! Ela faz-te mal...deixa-a
Olhei para aquele puto tentando percebe-lo mas, a irritaçaõ foi maior. Num impulso
empurrei-o.
― Cala-te, seu idiota não sabes do que falas!
― Calma...
Voltei a empurra-lo, consegui erguer-me apesar da tontura.
― Dei-te uma tarefa simples! SIMPLES! E tu deixa-la fugir...só tinha de mantê-la
debaixo de olho!
― Oh desculpa, estava ocupado a tirar pedaços de metal do meu corpo! Lamento, se
perdi a tua amada num momento de vaidade meu!
Fechei o punho e tentei acertar em Frankie mas, a falta de desequilíbrio fez-me falhar
e cai nos meus joelhos. Senti o mesmo que o mundo cair-me nas costas, fiquei no chão
durante segundos assimilando o que acontecera. Não a queda, nem a bebida mas, a
sensação que vinha com ela.
― Olha, para ti...- Frankie ajudou-me a levantar. ― Estás desgraçado.
Larguei-me dele com violência, apanhei o meu casaco e as chaves do meu carro.
― Dean...- Frankie seguia atrás de mim corredor fora. ― Onde vais?
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― Deixa-me em paz! Deixa-me, Frankie! Achas que consegues isso, seu fedelho
imaturo?
Ele recebeu as palavras como um soco e ficou parado junto a porta.
― É a bebida a falar.
― Como queiras...- Passei por ele com um encontrão forte e segui caminho.
O choque fora ainda maior quando cheguei a local da explosão. A rua estava deserta,
o hotel sem qualquer sinal de vida e os destroços ainda permaneciam ali caídos. Saí do
carro, atravessando a rua a passo rápido, a policia ainda ali estava a averiguar o que
acontecera, juntamente com jornalistas que reportavam o caso ao publico. Como da
outra vez, ao invés de entrar pela porta da frente, dei a volta ao edifício e entrei pelas
traseiras; Percorri o mesmo caminho mas, o elevador agora apenas ia até ao 7º andar a
partir daí até ao 15º apenas tinha que utilizar as minhas pernas.
Enquanto subia as escadas, sentia a necessidade de parar; Sentei-me nos degraus
recuperando o ar e deixando passar o enjoo de subir ás voltas. Apetecia-me um cigarro,
apalpei os bolsos e encontrei um maço meio destruído, roubei um cigarro e acendi-o
com o isqueiro velho que eu tinha. Sentado nas escadas a fumar, relaxava-me tanto que
por momentos, tinha-me esquecido de todos os meus problemas: de Carmen, da morte
dos meus pais, da discussão com Frankie…
Frankie. Esse primo, que sempre me apoiara e estivera comigo em todos os
momentos, tanto maus como bons, agora eu tinha-o magoado. Quantas vezes tinha ele
aturado as minhas asneiras, deslizes, porcarias e eu quando ele comete apenas uma
falha, eu culpo-o, deixo-o a sua sorte. Sentia-me muito arrependido.
Segurei o cigarro por entre os lábios, preparando-me para subir os últimos degraus
até ao 15º andar. Assim que fechei era clara a destruição; não havia corredor de entrada
– o mesmo onde eu tinha deixado Carmen estava agora coberto de entulho,
chamuscado e irreconhecível. Percorri o corredor, e pensar que ainda a momentos ali
estive.
Quando entrei na penthouse, não reconheci nenhum objecto, a explosão fora de tal
modo intensa que chamuscara todos os móveis da casa. Não havia sala, naquele
momento, apenas um monte de móveis chamuscados e irreconhecíveis. Para não falar
do gigantesco buraco na parede da sala que dava para a rua. Com cuidado aproximei-
me da borda, podia ver a cidade inteira, os policias lá em baixo atarefados e até o meu
hotel que espreitava por entre os outros edifícios. O vento era tal, que comeu metade do
meu cigarro antes sequer de poder aproveitar.
Voltei para dentro, percorri o outro corredor e vi as escadas tambem destruídas. Lá
em cima deveriam ser os quartos, portanto resolvi subir ultrapassando todos os
obstáculos e correndo o risco de me magoar seriamente. No fim, valera a pena, o
primeiro quarto que vira fora o seu – o de Carmen. Todo ele decorado em tom
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vermelho, a sua cor favorita agora encontrava-se tom cinzento com marcas das chamas
que tinham lambido paredes e cortinas. Dali já não restava nada seu.
Pisei algo, debrucei-me para apanhar o que parecia ser um roupão de seda vermelha;
Num momento de loucura levei o roupão ao nariz e cheirei-o, ainda tinha a sua
presença. Novamente não queria acreditar que algo lhe pudesse ter acontecido. Carmen
era uma vampira. Não morria. Ela estava viva, apenas tinha fugido. Agora, de quê? Ou
de quem? De mim? Não, eu apenas um humano insignificante, não o suficiente para
amedronta-la fazendo fugir…certo?
O meu pensamento fugiu quando ouvi barulho, aparentemente ainda havia gente na
penthouse por isso, tratei de sair dali. Não queria ser visto.
Fiz o caminho de volta o mais rápido e discretamente possível mas, quando cheguei
ao carro reparei em quatro homens grandes e carecas que conversavam discretamente.
Um deles estava encostado a minha lata velha.
― Desculpa, podes sair? – Pedi gentilmente num russo já gasto.
Ele ergueu a sobrancelha, olhou para os amigos e depois para o carro.
― Este é o teu carro?
― Sim, e agradecia que saísses para poder ir-me embora.
Um deles tocou-o no braço e disse qualquer coisa mas, foi rápido demais para eu
perceber. Os quatro olharam para mim surpresos e senti-me avaliado. Demorou mas o
tal acabou por se desencostar do carro o suficiente para eu entrar e pôr-me a caminho.
Ia muito bem na estrada, não ia muito rápido, muito pelo contrário até seguia na
velocidade normal por mais tentador que fosse circular numa auto-estrada praticamente
vazia. Dirigia em silêncio, como gostava de fazer quando precisava de aclarar as ideias;
Foi então, que notei um movimento estranho atrás de mim. Luzes intensas. Um carro
daqueles, grandes aproximava-se a alta velocidade do mim; Um grande jipe preto sem
qualquer identificação vinha rapidamente.
Mantive a velocidade e não fiz qualquer sinal de pânico mas, algo me dizia que
aquilo não era bom. Nada bom. O meu instinto berrou quando vi que o jipe se colocava
ao meu lado. O jipe negro pôs-se ali, ao lado direito, seguindo a mesma velocidade que
eu…durante segundos nada aconteceu mas, então vi uma janela a abrir-se e o que
parecia ser um cano de arma a sair pela janela. As janelas desceram e vi os mesmos
sujeitos de a bocado com grandes armas estendidas até mim, antes sequer de ter uma
reacção uma chuva de tiros caiu sobre o meu carro. Encolhi-me o mais que pude mas,
as balas eram tantas que, se não me acertaram naquele momento, fora por pura sorte.
Travei o carro repentinamente, vi-os seguir uns metros e depois o jipe parou também.
Fiz inversão de marcha e segui na direcção contrária, com o jipe no meu alcance. Desta
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vez eu já seguia em alta velocidade mas, o jipe era mais rápido e não demorou muito
até cair sobre mim uma nova chuva de tiros; As balas arrebentaram com o para
choques, os faróis ficaram em estilhaços, a janela de trás desfez-se em milhares de
cacos e o vidro da frente tambem mas, não se destroçou apenas ficara rachado. Eu não
conseguia ver nada, tinha que tirar aquele vidro dali, ajeitei-me e empurrei o vidro com
o pé, dois pontapé e aquilo saltou para fora. A visão que eu tive a minha frente
assustou-me, a quantidade de carros que vinha na minha direcção era inexplicável.
Todos apitavam em pânico.
Senti as rodas detrás a explodirem sob os tiros, perdi controlo do carro e embati no
rail com força soltando faíscas. Girei o volante em demasia e por pouco não embati
num carro, ao mesmo tempo que me desviara de um outro que vinha na minha
direcção. Aos ziguezagues pela auto-estrada, embati num outro carro preto, o impacto
foi tão forte que senti o carro a deslizar pelo alcatrão. Fiquei assim atravessado na auto-
estrada, tentando recuperar o fôlego e sentindo a dor do impacto a fazer-se notar; Olhei
para o lado e vi o jipe a aproximar-se ainda. Tentei dar a chave mas, o carro parecia que
tinha empanado. Uma, duas, três vezes e apenas a quarta o carro roncou e eu saí a alta
velocidade com o jipe ao meu encalço. Não sei como mas, o jipe preto não me perdera
de vista e os tiros tambem continuavam. Agora eram tantos que eu tive de me encolher
no banco e não via nada a não ser o volante.
O jipe, então deixa de ficar atrás de mim e fica ao meu lado encostando-me cada vez
mais ao rail. Os tiros cessaram e eu levantei-me, só para ver que na minha direcção
vinha um enorme camião. Girei o volante de modo a empurrar o jipe mas, não
conseguia o jipe era mais pesado e a minha direita apenas tinha rail. O camião apitava e
apitava mas, eu não tinha como sair dali. E a distância ia encurtando.
― Oh Deus…
E de um clarão de luz, passei para a escuridão total.
***
Rebolei na cama, abri os olhos perante a luz incandescente que trespassava as janelas
altas. O dia estava brilhante e quente. Preguei os olhos na visão da cidade e não deixei
de me sentir bem. Estava tão leve, calmo e em paz. Tudo estava certo.
Voltei-me para a esquerda observando o corpo deitado ao meu lado; ela estava deitada
de barriga para baixo com o lençol a tapar apenas da cintura para baixo, deixando as
costas descobertas. Não consegui evitar. Aproximei a minha boca da sua pele e comecei
a beija-la coluna acima, afastei o lençol e colei-me a ela; A sua pele era tão macia, nada
fria e cheirosa. Um perfume natural que não conseguia apagar da minha memória.
Cheguei ao seu pescoço e mordi com vontade, não queria o seu sangue afinal não era
vampiro era só para tê-la mais perto, queria faze-la parte de mim.
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― Para um humano, tens muita energia…
― Tu és a minha energia.
Ela voltou-se de barriga para cima e eu não consegui evitar aquele soco no estômago
quando me deparei com a sua beleza. Afastei-me para ver o seu corpo nu e de proporções
perfeitas; seios firmes, ventre liso, pernas longas e aquilo tudo era meu. Aquela beleza
ruiva era minha.
Ela tinha aqueles cabelos ruivos como fogo, estendidos sobre a almofada, os seus olhos
cinzentos brilhavam mais do que nunca e o seu sorriso era incandescente. Tinha um ar
de curiosidade estampado na cara, estendeu a mão e tocou a minha cara.
― O que foi?
Ela passou um dedo nos meus lábios e sorriu-me calorosamente.
― Isto é um sonho.
― Porquê que achas que isto é um sonho?
― Devido a nossa condição.
Afastou-me com gentileza, levantou-se da cama e encaminhou-se para a janela do
quarto. Ela ficou na luz incandescente e toda a sua pele se iluminou ainda mais.
― Sejamos sinceros: tu queres matar-me pelo que fiz aos teus pais, Dean. E eu não
estou disposta a deixar-me ser apanhada por um ser humano, por isso, também quero
matar-te. Odiamo-nos.
Não disse nada, sabia que o que ela dizia tinha uma ponta de verdade. Sentei-me na
cama observando o seu corpo de costas.
― E, olha em volta. Desde quando eu posso ficar no sol e não me queimar ou este
lugar…não é o meu quarto, nem o teu…as cores…a luz…Isto é um sonho!
Caímos ambos no silêncio sem saber exactamente o que dizer.
― Então, não quero acordar. Que fique em coma o resto da minha vida…
Ela voltou-se para mim com um ar surpreso.
― O quê?
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― Se isto é um sonho como tu dizes, então significa que quem manda aqui são os
nossos sentimentos, os nossos desejos mais profundos. Eu sei que, no momento em que
acordar, vou voltar a odiar-te, vou querer matar-te. E, sinceramente…- sorri timido –
não é isso que eu quero neste momento.
Levantei-me e caminhei para ela, quando me aproximei tomei-a nos meus braços
dando-lhe um beijo apaixonado.
― Quando eu acordar, provavelmente não vou lembrar-me disto e tenho a certeza que
vou meter-me na estrada e procurar por ti. A minha sede de vingança só vai aumentar e
eu vou querer-te morta. – Encarei os seus olhos cinzentos. ― Neste momento, eu quero
tudo menos ter-te longe de mim, Carmen.
Ela sorriu. Um sorriso que abanou o meu mundo por completo. Sentia-me despedido
de emoções e palavras, cada vez que ela agia como agia.
― Eu também não te quero longe de mim, Dean. E, eu lamen…
― Shhh! – Fi-la calar-se com um beijo outra vez. ― Não fales, não digas acerca
disso. Só quero aproveitar.
Beijei-a com todo o meu amor e desejo, senti a sua boca na minha. Apertei-a contra
mim, não queria larga-la. Quando nos separamos ela tinha uma clara cara de felicidade,
voltou-se para a janela e tocou no vidro.
― Onde estamos?
― Não sei. Não reconheço a vista.
― Nem eu…- Ela calou-se por segundos, vi que pensava em algo. ― Não sentes uma
espécie de paz interior? Como se tudo estivesse certo, como se este fosse o nosso
destino…percebes, o que quero dizer?
― Acho que sim.
― É como se o facto de eu estar contigo, fosse algo certo. Ninguém para julgar,
apontar o dedo ou assim. Só nós! Sinto-me leve…
Ela largou-se de mim, correu para cima da cama e começou aos saltos. Como uma
maluca a pular em cima da cama.
― Carmen…
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― Sinto-me bem, Dean! – Continuava a pular em cima da cama. ― Não te sentes
bem?
Eu não respondi, estava espantando pela visão de ter Carmen a saltar em cima da
nossa cama. Limitei-me a sorrir e a cruzar os braços, por fim ela parou de saltar.
Avancei para a cama e parei mesmo na borda.
― És uma criança.
Ela fez um ar de ofensa e debruçou-se para a frente com o dedo apontado.
― Tecnicamente, sou mais velha do tu.
― Eu tenho 26 anos, tu tens 24…aos olhos de um cidadão comum, eu sou mais
velho!
Voltou a erguer-se, aproximou-se da borda da cama com as mãos nas ancas e um
olhar superior.
― Pois eu não sou comum, mortal. Eu sou vampira!
Num gesto rápido, puxei-a por um braço, segurei-a pela cintura e cai com ela em cima
da cama. Carmen, soltou uma gargalhada tão viva que não hesitei em rir também.
Passado a sessão de riso, voltamos a encarar-nos, pude ler nos seus a paixão e amor
que me tinha, mesmo sem falar conseguia ver nos seus gestos. Gentilmente, passei os
dedos pela sua cara, afastei o cabelo do seu pescoço e observei as marcas das presas do
seu criador. Perguntei-me se aquele seria o preço a pagar se eu quisesse ficar com ela
eternamente. Aproximei a minha boca da marca e beijei suavemente.
Ficamos assim, pelo que pareciam ser horas. Ambos sentíamos que tínhamos tudo o
que era preciso; apenas nós os dois. Encarei Carmen por segundos eternos, apenas
trocando carícias, sentindo cada parte da sua pele. Sentia as mãos dela percorrerem as
minhas costas, os braços e o peito.
O nosso desejo um pelo outro aumentou; sentei-me encostado a cabeceira da cama e
ela sentou-se no colo, beijamo-nos de novo. A sua pele na minha era macia, as suas
mãos a percorrerem o meu corpo e as minhas que não deixavam os seus cabelos fogosos.
Eu queria-a tanto. A respiração dela no meu ouvido, deixava-me com mais vontade
ainda. Os meus lábios estavam a centímetros dos dela, os seus chamavam por mim, toda
ela chamava por mim eu conseguia sentir…e eu queria-a.
― Carmen…- A minha voz saiu num sussurro. ― Eu quero-te. Eu quero-te…
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Ela olhou para mim surpresa. Os seus dedos percorreram os meus lábios.
― Com um vampiro, não é o mesmo que com um humano, Dean. Posso magoar-te.
― Não podes, não. Tu és a única pessoa que não pode magoar-me. ― Aproximei a
minha boca do seu pescoço. ― Tu és minha, Carmen. Só minha…
Com isto deitei-a de novo na cama, com todo o cuidado. Observa-a tentando descobrir
algum gesto que não quisesse que eu continuasse mas, ela não fez nada. Queria-me
tanto ou mais do que eu a ela. E, quando me fundi no seu ser tudo parecia fazer mais
sentido ainda. Nós éramos perfeitos um para o outro. Era tudo perfeito.
Os nossos movimentos eram coordenados, naquele quarto apenas se ouviam os nossos
gemidos e respiração ofegante. Aproximei a minha boca do seu ouvido, sussurrei o seu
nome, carregado de desejo e excitação, dizia o quanto a queria, o quanto a desejava.
Afastei os cabelos molhados da sua cara, quando que as suas presas tinham baixado,
aproximei o meu pulso da sua boca.
― Morde. – Ordenei. Ela agarrou o meu pulso e mordeu com afinco, senti o sangue a
escoar de mim mas, em vez de me enfraquecer apenas tornou-me mais forte e os meus
movimentos aumentaram. Sentia-me a chegar ao cume.
Carmen sugava o meu sangue com vontade, eu conseguia senti-lo a fluir de mim.
Observava enquanto ela não deixava escapar nem uma gota e como me encarava com
vontade sem sentir vergonha. Largou o meu pulso e olhou para mim, tinha a boca
vermelha, saboreava o líquido que ainda restava. Aquilo em mim, surtiu ainda mais
efeito e beijei-a sentindo o sabor do meu sangue mas, não me importava. Ela olhou para
mim com os olhos brilhantes, com a boca a centímetros da minha, agarrou a minha
nuca.
― És meu…és meu agora…Dean…
― Sim…sou…só teu…
― Eu e…tu…ah…eu e tu…
― Só nós, Carmen…
***
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Quando o ar entrou pelos meus pulmões senti vontade de vomitar.
― Dean?! Dean!? – A voz vinha de longe mas, era firme e aproximava-se. ― Oh
estás a acordar! MÉDICOS!
A voz afastou-se por segundos, acompanhada por passos pesados. Não sabia o que eu
tinha na boca mas, assim que mo tiraram eu comecei a sentir ainda mais vontade de
vomitar mas, não saia nada. Senti uns dedos a tocarem-me nos olhos, levantaram-me as
pálpebras e uma luz encandeou-me. O mesmo procedimento foi feito no meu outro
olho. Abri os olhos e o médico estendeu uma caneta a minha frente.
― Следуйте ручку с его глаз.
― O quê? – A minha voz saiu tão rouca que eu não reconheci.
― Ele quer que sigas a caneta.
Assim fiz, segui aquela caneta da esquerda para a direita e depois de volta. O médico
examinou-me e depois saiu do quarto. Olhei para mim mesmo, vi fios a saírem do meu
braço, a minha perna levantada no alto, os monitores a minha volta. Não sabia onde
estava, comecei a sentir uma onda de pânico. Em minha volta um dos monitores
começava a apitar. Demorei a perceber que a pessoa que me segurava era um médico
moreno e alto. Eu olhei para ele com um ar assustado, não sabia o que me tinha
acontecido. Como tinha ido ali parar?
― Calma. Descanse. – Voltou-se para trás e chamou a enfermeira. A mulher loira
entrou com uma seringa, espetou-a no meu braço. A sonolência tomou conta do meu
corpo e antes sequer de ter tempo de protestar caí num sono profundo.
Acordei com um ressonar no ouvido, demorei a perceber que vinha mesmo perto de
mim. Abri os olhos, virei a cabeça e deparei-me com Frankie sentado numa poltrona
dormindo profundamente. Não consegui resistir.
― FRANK! – Gritei o seu nome e ele assustou-se. Vi-o a olhar para todos os lados
com o um ar desorientado sem saber muito bem o que fazer.
― Mas que…- Ele olhou em volta e viu-me. O seu olhar iluminou-se de felicidade,
levantou-se da poltrona e ficou de pé ao meu lado. ― Estás acordado.
― Sim…
― Como te sentes?
― Com dores. – Disse eu. Estendi a mão e toquei na minha cabeça, senti o que
parecia ser ligadores. ― O que me aconteceu?
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― Meteste-te com quem não devias…- Disse Frankie. Olhei para ele e vi um claro ar
de desaprovação.
― O que me aconteceu, Frankie?
Ele a princípio não me respondeu, meteu as mãos nos bolsos, encaminhou-se para a
porta, abriu-a e fez sinal. Quando voltou, vinha com dois polícias fardados.
― Boa noite, Sr. Ross. – Disse um deles num tom cordial. ― Queríamos fazer-lhe
umas perguntas.
― Acerca? – Perguntei.
― Do seu acidente. O facto de estar vivo agora é um milagre, e embora em
recuperação queríamos fazer-lhe breves perguntas. ― O homem remexeu no seu bloco
de notas. ― Como é que tudo se passou, Sr. Ross?
Eu fiquei calado por segundos, não me conseguia lembrar. As únicas imagens que me
vinham a cabeça era de estar em frente a uma luz solar quente com alguém em meus
braços olhando para a vista imensa a nossa frente. Com uma perfeita sensação de paz.
Tudo menos o acidente.
― Sr. Ross. – Olhei de novo para o polícia. Ele tinha uma fotografia na mão. ―
Conhece esta jovem?
A minha mente iluminou-se logo. A empregada mistério do hotel.
― Sim, mas não me recordo o nome…
― Natalya Petroskvykia. – Interrompeu Frankie com o seu tom ainda frio. ― Dean,
sabias que a Natalya tinha ligações a máfia Russa?
O meu coração, se não tivesse ligado a máquinas, provavelmente teria deixado de
bater. Estava em choque.
― Máfia Russa?
― Exacto. – Confirmou o outro polícia. ― Cremos que o carro que os perseguia era
da máfia e que a sua morte terá sido encomendada por Natalya.
O outro polícia aproximou-se do fundo da minha cama com olhar sério.
― O que fez, Sr. Ross, para merecer tal castigo?
Eu engoli em seco. Não sabia o que responder.
― Srs. Agentes, o meu primo está cansado e com falta de memória, provavelmente
não se lembrará de certos detalhes…- Anunciou Frankie.
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― Ninguém se esquece o porquê de ter a máfia no seu encalço, Sr. Sheppard. – Disse
um outro polícia. ― Deve-lhes dinheiro, Sr. Ross?
― Não. – Respondi secamente. ― Eu não brinco com mafiosos.
― Eles adoram brincar consigo, isso é certo. – Disse o outro.
Troquei olhares rápidos com Frankie e ele mexeu-se.
― Srs. Agentes, o meu primo precisa descansar afinal, ser abalroado por um camião
não é algo fácil…
― Com certeza. - Sem saber como os polícias recuaram uns passos. Com um ar de
total conformidade. ― Voltaremos quando se encontrar melhor, agradecíamos que não
fosse a lado algum nos próximos dias, Sr.Ross. Podemos precisar de si.
Os policiais saíram deixando-nos no silencio. Frankie voltou-se para mim
― Sabes, eles podem ser ocos o suficiente para saber o que andam a fazer mas, eu
sei…- Frankie aproximou-se da cama.
― Não fiz nada que ela não quisesse.
― Não é isso que ela diz, Dean! – Exclamou Frankie.
― O que é que ela diz?
― Lá pelo bar, ela enche a boca e diz que tu a violaste. Que ela foi lá, ao teu quarto
de hotel, sob o pretexto que tu querias falar come ela e depois…
Eu encarei Frankie com desconfiança.
― Confias em mim, ou na cabra mafiosa?
― Eu vi as marcas no corpo dela, Dean! – Acusou Frankie. ― Eu cheguei ao bar e
vi-a mostrar aquelas marcas horríveis…
Eu mostrei um sorriso amargo, encostei-me nas minhas almofadas. Sentia dores leves
na lateral, o meu braço tambem não se movia devido aos curativos e a minha cabeça
começava a latejar.
― Tudo bem, acredita nela. Não sou da tua família nem nada…claro…faz sentido….
Frankie ficou meio tocado com a minha mágoa, voltou a aproximar-se da cadeira
puxou-a e sentou-se.
― Acredito em ti, primo. Claro que sim…- Cruzou a perna. ― Apesar de me
achares um fedelho imaturo.
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Claro, a discussão.
― Frank, eu…
― Esquece, Dean. Não adianta lamentar-nos, de nada vale, certo?
― Mas, eu lamento. A bebida…
― Tens boa solução, deixa de beber. Por esta altura nem deves ter fígado…
Olhamos um para o outro com um olhar cúmplice. Estava claramente perdoado pelas
idiotices que tinha dito. Olhei em volta para o quarto de hospital, nem acreditava que
estava nas condições em que me encontrava.
― A quanto tempo estou aqui?
― A noite e madrugada toda. Já foste apelidado d’O Resistente! Os médicos estão
espantados contigo…afinal, quantas pessoas conseguem resistir a três paragens
cardíacas no teu estado?
― Três?!
― Mesmo, primo! Não sei onde estavas mas os médicos iam perdendo-te por três
vezes, onde quer que estivesses, não querias voltar. – Disse Frank, o seu sorriso
desvaneceu-se por segundos. ― Não voltes a fazer isso, Dean. Praticamente és a única
família que eu tenho e se resolves bater as botas…
― Prometo não faze-lo.
Frankie olhou para mim agradecido. O seu telemóvel começou a tocar, ele olhou
surpreso para quem exigia a sua atenção, levantou-se de um salto e atendeu.
― Pan?
Reconheci aquele nome de algum lado mas, não sabia da aonde. Pan. Aquilo fazia
sentido na minha cabeça. Quando é que tinha ouvido falar? Frankie, não olhou para
mim, limitou-se a sair do quarto com urgência.
Não sei quanto tempo em linha Frankie demorou, entretanto caí novamente no sono.
O meu sono fora completamente branco, apenas tinha minha imagem abraçado a
alguém em frente a uma vista maravilhosa, os dois cobertos pela luz incandescente do
sol. Estava tudo tão bem, tão certo. Perfeito.
― Dean! – A voz de Frankie espantou-me do sono. Demorei a focar-me na sua
imagem. ― Encontrei-a.
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― Frankie…não estás a fazer sentido…
― Oh, primo acorda! – Frankie empurrou a minha perna para o lado e sentou-se. ―
Eu sei onde ela está. A Carmen.
Eu fiquei a olhar para Frankie muito seriamente, a princípio não apanhei muito bem o
que ele queria dizer. A minha cabeça ainda estava numa confusão total mas, aquele
nome fez sentido na minha cabeça.
― Aonde é que ela está?
― Apanhei o rasto do cartão de crédito do cartão de crédito da Sheftu na Irlanda. –
Disse Frankie. ― Mas, segundo a minha fonte, já tem uns dias…
― Vamos embora, então! – Afastei os lençóis, tentei levantar-me da cama mas, a
minha perna não estava curada. Faltou-me forças, ia caindo mas, Frankie segurou-me.
― Raios…
― Primo, acho que ainda não consegues…
― Frank! – Agarrei a sua cara entre mãos. Não sabia porquê mas, tinha que ir atrás
de Carmen, tinha um alerta gigante na minha cabeça que pedia para ir atrás dela. ― Eu
tenho que ir…
― Dean, não estás em condições; Olha para ti! Acabaste de sair ileso de embate
contra um camião!
Aquilo não me importava. Não queria saber. Só queria ir atrás de Carmen, fosse qual
fosse a minha condição.
― Não interessa, arranja maneira, Frank! Não posso arriscar perdê-la de novo…
Frank ajudou-me a regressar para a minha cama com todo o cuidado possível. Sentei-
me na cama.
― Mesmo se pudéssemos ir, a policia…
― Desde quando isso é um problema para ti? - Frankie olhou para mim surpreso. –
És ou não um caçador, Frank!? Tu conheces gente que conhece mais gente, basta um
telefonema teu e estamos na Irlanda ao amanhecer. Eu não posso perdê-la, primo…não
posso.
― Vais mata-la? – Perguntou-me Frank friamente. ― Vais?
Noutra altura teria eu respondido sim, antes sequer de meu primo acabar a frase mas,
no momento em que abri a boca o som foi outro.
― Não sei…
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― Dean…
― Apenas tenho a certeza de uma coisa, primo: Eu tenho de encontrar a Carmen. Ela
é minha. – Aquelas palavras fizeram sentido para mim. Ao pronuncia-las foi como se
tivesse um deja vú. Uma imagem relâmpago percorreu a minha mente, julguei ter
ouvido um suspiro do meu nome e aquilo fez ainda mais sentido. ― Ela é só minha.
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A sabedoria era tudo aquilo que eu já tinha conquistado, minha sede pelo
conhecimento me fizera quem sou hoje: um homem que sabe o que quer e que fará
todas as impossibilidades para o conseguir. E eu bem sabia que a hora estava próxima,
eu o sentia...
Todos estes anos a seguir os passos de Gustav – um dos mais velhos vampiros de
todo o sempre, senão o mais velho que eu conhecia – me fariam uma hora chegar onde
toda a minha vida ansiava: a batalha em que minha vida sempre se silenciou, desejando
loucamente que se atravessasse em mim e me despedaçasse em momentos.
A coragem nunca tinha chegado, permanecia espiando o velho vampiro, aquele que
criou a quem eu devo tudo o que sou e tenho, esperando que numa das horas a coragem
me preenchesse e encontrasse aquela a quem eu queria agradecer por tudo o que me
deu. Estaria eternamente grato pela verdadeira e eterna vida que me dera. Eu acreditava
que um dia conseguiria ter a força para falar-lhe frente a frente, e esse dia tinha
finalmente chegado, mas não da melhor forma...
Tudo começou com uma chamada, estava na varanda do meu quarto, como habitual,
a observar as árvores que flutuavam defronte dos meus olhos.
- Estão em Moscovo, andaram às voltas mas acabaram por ficar num cemitério
abandonado nas redondezas. Creio que andam em busca de algo. – Disse Henry, o
melhor investigador de seres não humanos do mundo. Tinha aprendido a técnica com a
sua família, passada de geração em geração.
Não era necessário dizer mais, eu sabia bem quem eles queriam... Mas havia
diferenças, nunca tinham tentado apanha-la anteriormente... Isso ainda me tornava mais
apreensivo, qual seria a carta na manga que ele teria? Por mais que tentassem eu nunca
permitiria que lhe fizessem algum mal, tal como em tempos de outrora ela fizera isso
por mim.
Quando os avistei, permaneci bem afastado, sem qualquer rasto, para que não me
pudessem encontrar. Estaria de vigia por todo o tempo que fosse necessário, não
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importava realmente quanto tempo seria necessário permanecer aqui. O cemitério não
era muito grande, a rua para ele estava completamente em desuso, o local perfeito para
quem não queria ser encontrado por ninguém, a não ser pela pessoa que queriam que
encontrasse.
Pouco mais de dois dias tinham passado desde que estávamos aqui acampados –
tinha trazido Pan comigo, precisaria dos seus poderes de defesa caso algo corresse mal –
quando finalmente houve alguma movimentação que me interessasse. Gustav e uma
mulher começaram a seguir rumo à entrada do cemitério, ficando os restantes um pouco
mais atrás, todos atentos a apenas um local de onde vinha um ser sobre as sombras... A
mulher rapidamente correu em sua direcção, tentei aproximar-me mais um pouco mas
senti uma mão a segurar-me pelo braço.
- Não faças isso, sabes que te estás a arriscar demasiado só por causa desta mulher. –
Disse Pan com o seu tom preocupado, passando várias imagens de fins massacrantes
para mim.
- Pensava que sabias que eu não era assim tão fraco. Mas não importa, caso necessite
tu me defendes... Agora deixa-me ir. – Ordenei.
- Mas... – Olhei para ela para que ela tivesse agora certeza do que eu tinha acabado
de ordenar. – Está certo, eu fico aqui como defesa...
Largou o meu braço e baixou a cara, nos seus pensamentos apenas se via a ordem
que tinha acabado de dar. Ela sabia muito bem como esconder-me o que pensava, tinha
sido o primeiro exercício de defesa que lhe tinha ensinado, para que ninguém que
conseguisse fazer o mesmo que eu pudesse interferir no seu mundo com uma simples
leitura da sua mente. Ela sempre desejara aprender mais do que os simples exercícios de
defesa, mas eu via em sua ganância um enorme obstáculo, caso tivesse todos os
conhecimentos que eu tenho, um dia se tornaria uma arma contra mim mesmo e todos
aqueles que se opusessem às suas extravagancias.
Enquanto eu me aproximava daquelas duas criaturas, Gustav também se aproximava
rapidamente... Me escondi a alguns metros deles, para eu pudesse entrar em cena
quando fosse necessário. O vampiro se ria alegremente, ao lembrar-se da manipulação
mesquinha que tinha feito à sua própria filha, tomando-a como amada, criando uma
eterna ilusão que a fazia virar-se contra a sua própria irmã. Ela era a irmã de Sheftu?!
Como era possível?! Minha mente tentou procurar mais detalhes na cabeça da sua irmã,
mas nada mais existia em sua mente a não ser as promessas apaixonadas do seu amado
caso conseguissem Sheftu. Até ela parecia não saber ao certo porque tanto Gustav
queria a vampira sua irmã, até havia um pouco de ciúmes em sua cabeça.
Tentei resgatar a minha mente das suas cabeças e retornar a minha atenção ao que
estava a acontecer. Tudo o que se passou de seguida não consegui simplesmente evitar,
por mais rápido que tivesse sido, sendo de imediato seguido por Pan... Sheftu avançou
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contra Gustav, sua irmã veio para junto dela e a lançou por terra, juntando a sua boca ao
seu pescoço, mordendo-o, deixando o veneno alterado dela se misturar em pelo corpo...
Corri o mais rapidamente, arranquei o seu corpo moribundo dos braços daquela
criatura nojenta, como poderia ela ser da mesma espécie que eu?! Peguei em seu corpo
com todo o cuidado e corri o mais rápido possível, tentando afastar-me deles para que
Sheftu não fosse resgatada como seu prémio. A mulher correu e agarrou-me, atirando-
me por terra e fazendo com que o corpo que tinha em meus braços rebolasse no chão, o
sangue deveria estar a apoderar-se rapidamente do seu corpo, não restariam muitas
horas até que isso a matasse.
- Não penses que a vais levar de mim... – Disse à vil mulher, serrando os meus
dentes.
- E quem pensas ser tu? Ela é da minha família, faço com ela o que me apetecer! –
Riu histericamente, como se desse esta batalha como ganha.
- Sou aquela pessoa a quem nunca deverias ter visto. E agora que viste vais passar a
temer-me. – Respondi friamente, lançando-lhe um feitiço de ataque, deixando-a por
terra a arquear-se de terror. Olhei para o lado e vi finalmente Pan a chegar. – Um pouco
tarde não? – Respondi com um pouco de aridez no meu tom.
- Não precisaste muito de mim, creio eu... – Respondeu abafadamente ao olhar a
meia-vampira por terra.
- Sabes muito bem que não é apenas com esta amostra que estamos a lutar. De onde
esta veio, mais nos procurarão... Temos de nos apressar que ela precisa de ajuda
rapidamente antes que não a possa salvar. – Voltei-me para pegar novamente em seu
corpo, continuando o caminho até a sua casa.
- E para que temos de a salvar? – Perguntou indignada.
- Nem te vou responder a tal coisa! – Disse num tom casual, antes que minha
paciência desaparecesse... Aproximei-me do ouvido de Sheftu e sussurrei. - Aguenta,
rapidamente chegaremos a casa e um amigo meu nos ajudará… Tudo se resolverá.
- Eric, achas que é muito grave? – Questionou-me novamente Pan, parecendo
interessada na saúde dela. Pensava que talvez me pudesse enganar, tentava esconder
todas as possibilidades de eu o saber, mas não precisava de ler o que ela escondia para
saber a verdade. Ela queria que este corpo sobre as minhas mãos desaparecesse e que
minha vida fosse apenas dela, eu o sabia.
- Preciso que vás buscar a minha mala à minha suite e tragas ao quarto dela, e arranja
o mais rapidamente possível uma cama, necessito de ter lá uma para a tratar... – Disse
brevemente, apressando o passo e sem dar qualquer hipótese de questões ou
reclamações de Pan. Por vezes me fartava dela, apesar de as suas capacidades serem um
pouco úteis em algumas situações...
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Mal chegamos ao seu quarto a coloquei suavemente na poltrona que lá tinha para que
pudesse pensar livremente. Observei o seu corpo inconsciente, a sua face, o seu cabelo...
Nada tinha mudado desde a última vez que nos tínhamos visto, mas parecia que havia
algo nela que agora me chamava mais à atenção. Conseguia perder-me em pensamentos,
deixar que a minha mente flutuasse como outrora nunca o tinha feito. Havia quem
chamasse isto de amor, eu nunca o tivera. Paixões avassaladoras sim, agora amor...
Nunca pensara realmente que isso fosse possível.
Mas agora não seriam horas para pensar em tais coisas, era custoso ter que deixar de
a observar, mas eu estaria sempre aqui para o fazer agora que tinha coragem para fazer
parte novamente da sua vida. Não como uma criança indefesa, mas como um homem.
Um homem para a mulher que necessitava de mim, seu criador agora tinha interesse
nela e enquanto me mantivesse por perto, nada fariam. Eu fiz questão de demonstrar o
que sou capaz, e serei capaz de o fazer até ao final da eternidade.
Eu me lembrava que cada pedaço de sangue que ela tivera na vida em seu corpo
estava guardado algures perto da sua vida, mergulhado em rosas. Apenas teria de
encontrar aquele que fosse o da sua mãe, talvez fosse uma tarefa impossível, mas para
mim nada era impossível.
Jamais esta fórmula tinha sido usada por alguém, me tinha garantido o meu antigo
pai – o mago a quem Sheftu me deu para ser criado – que me treinara todos os dias da
sua vida, até que nada pude fazer a não ser deixá-lo partir.
Seria necessário o sangue original da pessoa em questão ou de alguém que fosse um
familiar próximo, o sangue de um meio-vampiro, para que nenhuma das características
do passado e do presente fossem alteradas e, por fim, o sangue afectado. Tudo se
tornaria numa mistura homogénea injectada pelo seu corpo, com uma seringa feita de
prata, para que seu corpo pudesse deixar que sua pele fosse atravessada. Não sei quais
os efeitos secundários. Pelo que meu pai me tinha contado acerca da teoria, dizia-se que
qualquer vampiro que tivesse sido abraçado por tal fórmula, seria capaz de avançar
sobre o sol. Não havia muito a que recear, por cada decisão que teria em frente, a morte
total dela seria sempre uma hipótese, pelo menos eu iria tentar...
Procurei pelo quarto algo que pudesse esconder as rosas, facilmente encontrei o
vagão dentro do guarda-fatos, abri-o e deparei-me com um enorme sorriso no meu
rosto: todas as rosas estavam separadas de uma rosa apenas, que seria certamente a da
sua mãe...
Bateram à porta, me silenciei, aproximando-me da porta para ver quem seria. Abri-a
de rompante e deixei a pessoa entrar com rapidez.
- Aqui está o que me pediste. – Disse Pan, toda sorridente para mim, virando-se para
a poltrona e desfazendo rapidamente o sorriso. – Eu nem sei porque te dás tanto ao
trabalho para algo como isso...
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- Não tens nada que saber, não tens nada haver com o assunto. Quando vem a cama?
- Virá dentro de minutos, por isso trata de arranjar uma desculpa para estares aqui.
Eu apenas disse que era necessária uma cama para esta penthouse, agora o resto é
contigo.
- Obrigado. Agora, se não te importas... – Respondi, abrindo a porta e convidando-a
a sair.
- Sim, quando precisares já sabes...
- Sei, sei. – Respondi enquanto a via a sair de cara baixa – Ah, e mais uma coisa!
- Sim?! – Disse toda sorridente, elevando o seu olhar bem perto do meu.
- Não voltes mais, apenas quando te pedir. Não quero que desconfiem de nada.
- Ah, claro... – O desapontamento notava-se a raios de quilómetros. Era uma
sonhadora, demasiado sonhadora. Mas depois facilmente tudo mudaria para ela,
arranjaria outro objecto de adoração.
Agora seria a hora de tratar da fórmula! Abri a minha mala e retirei dela o que seria
necessário, com uma seringa de prata retirei um pouco do seu sangue afectado,
colocando-o num frasco, juntando a ele o meu próprio sangue e umas pétalas da rosa.
Misturei tudo, colocando de novo na seringa e infiltrando no seu sangue. O seu corpo
estremeceu um pouco enquanto o líquido fluía sobre o seu corpo. Inseri um pouco da
mistura num lenço, molhando mais concentrado a parte que ficaria perto da dentada,
colocando-o em seu pescoço. Não fazia a mínima ideia do que poderia acontecer,
apenas restavam as horas para que pudesse o saber... Apenas as horas...
Seu corpo estava tão próximo do meu que meus pensamentos não paravam de
divagar, deixava que a minha imaginação tomasse conta de mim, mesmo sabendo que
tudo isto seria uma total batalha que teria de travar a cada dia. Eu conhecia a mulher que
estava deitada do meu lado...Começou a perder a rigidez, estaria prestes a acordar, por
momentos minha respiração cessou, no meu abdómen começava a sentir o frio próprio
de ansiedade. Seria duro mas eu estaria preparado para tudo.
Moveu-se, abrindo os olhos, ainda sem reparar na minha presença, tocando na
mordidela, tentando tira-lo... Minha mão tocou na sua, segurando-a para que não o
tirasse. Senti toda a sua pele a tornar em meu corpo uma reacção pouco desejável nesta
situação. Não era nem a altura nem o momento ideal para tal coisa...
Seu olhar focou-se agora em mim, em seus pensamentos memorizava cada traço
meu, o que não me ajudava em nada ao descontrolar a minha reacção ainda mais. Mas a
sua atenção focou-se no anel que trazia, aquele no qual acabara de preencher com o seu
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sangue como recordação de todo este momento. Pensava numa forma de como escapar
de mim, como era curioso ouvir seus pensamentos agora que sabia como o fazer... Na
altura em que era apenas uma criança, ainda não tinha aprendido nada sobre tudo aquilo
que o mundo me tinha para dar. Mas tudo aquilo que o mundo não me queria dar estava
mesmo agora à minha frente e eu a tinha resgatado.
Tentou levantar-se, sendo rapidamente travada por mim. Enquanto pudesse saber
cada passo dela, poderia defendê-la. Via em seu olhar e lia toda a sua raiva que
começava a fervilhar dentro dela. Era uma mulher inteligente, procurava soluções desde
as mais simples às mais complexas. Ver os passos que ela queria seguir era
simplesmente como uma diversão... Poderia fazer isto para toda a minha vida.
Tornava-se totalmente interessante ouvir cada pensamento que saía do seu
pensamento, tanta destreza e impulsividade... Tanta graciosidade maldita. Enamorava-
me a cada novo pensamento, sentindo que a felicidade seria difícil, mas por fim seria
nossa!
- E se deixasses destes teatrinhos e me dissesses o que estás a pensar? É
incrivelmente interessante ver-te aí imóvel, totalmente calada à espera de um momento
para te livrares de mim. – Questionei divertido, queria ouvir a sua voz... Necessitava de
ouvir a sua voz. Ela me achava enjoativo por ter feito tal pergunta... Mas nada dizia,
pensava, pensava... Mas nada dizia. – Vais dizer-me que além de te ter mordido a
garganta a tua maninha também te arrancou a fala?
- Pára de ser ridículo. Já sabemos que andaste a fazer bem o trabalho de casa, que
sabes muito bem quem sou. Agora falta saber o que raio deseja aqui. Já tens o que
queres – Parei por uns momentos, observando o meu sangue tão perto do seu dedo, um
dedo que eu queria ver rapidamente quebrado – Sua voz me trazia tantas recordações...
E se a pudesse ouvir para sempre? E podia...
- Parece-me que faltam as apresentações, posso saber tudo sobre tão admirável
senhora, mas não sabeis minimamente quem eu sou. Não gostaríeis de saber qual meu
nome? – Sorri, pelo que parecia, não me reconhecia minimamente... Seria apenas mais
uma carta na manga que teria para esta nossa dança...
- Tal nome não me faz qualquer diferença.
- És absolutamente incrível! – Respondi um pouco impressionado. Uma perfeita
batalha, interessantemente perturbador!
- Sou, não sou?
- Ah! Ridícula. É absolutamente ridícula esta conversa. – Virei-me de costas para ela,
esta conversa começava a animar-me de uma forma que não necessitava ainda. Seus
pensamentos se focaram atentamente na minha pulsação, à procura de respostas, sempre
à procura de respostas... – E se parasses de escutar o meu coração por uns momentos?
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Poderias agir um pouco como humana alguma vez na vida? – Sussurrei, esperando pela
resposta, tentando acalmar-me um pouco...
- Mas, meu caro, eu não sou humana. Não me queiras ofender. – A sua resposta
surpreendeu-me totalmente. Partes que no passado existiram, pareciam agora bem
apagadas dela. Eu não ia permitir que ela se deixasse morrer assim, eu bem sabia como
ela era, ela bem sabia que tudo isto apenas tinha uma justificação. Pensei no que lhe
poderia ter originado esta mudança, que a fizesse criar uma parede sobre ela, a resposta
parecia-me óbvia perante o que tinha acontecido no dia anterior... Em minha memória
voltaram as imagens dela prostrada pelo chão, sendo quase morta pela sua própria
irmã...
- Não te preocupes que eu te mostrarei o que é ser humano. Vais sentir-te tão humana
quanto eu. – Aproximei-me dela sorridente, eu sabia que tudo isto acabaria por se
resolver... Bastava saber como o fazer, mas isso viria com o tempo e eu era paciente...
Cuspiu-me em cima, voltando de novo ao seu velho jeito torto de ser. – Óptimo, já
começamos a nos entender.
- Sim, damo-nos que é uma maravilha! Nunca pensei viver sem ti! Oh, que saudades!
– Aproximou-se de mim e beijou-me. – Ah, que saudades de ti!
- Ai estás com saudades, é? Então eu tiro-tas, com todo o prazer. – O seu beijo tinha
acabado de me dar uma vontade louca de continuar, de mostrar-lhe que era tão humana
como eu. Mas ainda não era a hora, tinha de controlar-me e ser paciente... O dia
chegaria. Aproveitou-se do momento e tentou alcançar a porta para conseguir escapar,
corri rapidamente e travei-a mesmo antes de a conseguir abrir... - Oh, que pena. Cheguei
aqui ao mesmo tempo que tu. Já não podes escapar. Ah! E nem penses em beber do meu
sangue que não resolve nada... – Sorri, sendo cuspido novamente, duas vezes seguidas.
Eu permaneci a sorrir, quando eu conseguia mexer com ela, seu cérebro simplesmente
parava de pensar correctamente. – Interessante... Consegues cuspir de uma forma muito
engraçada, pena não teres saliva não é?
- Sim, é uma pena! Adoraria encher a tua cara, cuspiria até não puder mais... Para
que tivesses alguma coisa que prestasse nessa tua carcaça humana.
- Então veremos sim? Veremos se tenho mais alguma coisa que gostes tanto... Agora
paremos com estas piadinhas, sabes que eu adoro ter de te aturar minha querida, mas
tens que voltar para o teu descanso eterno. – Empurrei-lhe de volta à cama, ainda não
tinha a certeza que ela pudesse andar em pé por muito tempo...
- Sim, tem algo que eu adoraria... Já viste a beleza que era ver a tua vida a ser
despedaçada lentamente em minhas mãos? Ou até simplesmente ver-te a definhar
lentamente, bem à minha frente. A tua morte é uma bênção para a minha. Tua sorte é eu
estar assim... Mas não durará muito essa sorte.
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- Já imaginaste que simplesmente podes não conseguir nada além de um sonho.
Pudesses tu dormir sobre o assunto, mas não. Tu sonhas comigo, eu tratarei de te ouvir a
sonhar.
- Sim, sonharei vezes e vezes sem conta a hora em que nunca mais te verei... Um
sonho que poderia se tornar realidade. Seria... – Coloquei o meu dedo sobre a sua boca,
estava alguém a dirigir-se em direcção à porta...
- AI! – Berrei instintivamente com a dentada que ela me tinha dado. Olhei para ela
com uma ponta de raiva, ela tinha de ser sempre assim?! O meu sangue sangrava, mas
pelo que parecia ela não tinha sentido nem um pouco do seu sabor... Ela já estava fraca
que chegasse, não precisava de piorar. – Tu não penses que sais assim a ganhar! Vais
ver como sabe bem o meu sangue... – Tentei dizer algo que tivesse sentido, mas nada
mais do que vê-la sobre o meu domínio... Talvez ela merecesse às vezes sentir o que
teria caso ingerisse o meu sangue.
- Já vou! – Respondeu Sheftu à batida, seguindo em direcção à porta. Eu a segurei
pelo braço, me escondendo atrás da porta.– Ah, és tu? Entra, fica à vontade! – Em sua
mente começava a desenhar milhares de opções de fuga daqui... Não sabia ela que em
qualquer uma delas eu saberia mesmo antes dela a puder fazer...
- Ah, bom... Obrigado... Acho eu. A porta não te parece que precisa de um pouco de
óleo? Estará empenada não? – Perguntou a mulher que entrou, tendo logo reparado que
alguém estaria no quarto escondido. Sheftu sorriu em sua mente, usando logo de
imediato essa pessoa como sua aliada nesta situação...
- É, tens mesmo razão. Nem vale a pena me importar muito com ela, tudo se resolve
bem rápido... Hoje em dia há soluções para tudo. No nosso caso... até para a morte! –
Respondeu, pensando que eu não iria descobrir nada do que estava a pensar. – Então e o
que te fez vir cá?
- Agora é que reparei, estás mais pálida... Essa cor assenta-te que nem uma luva. –
Começaram as duas a tentar esconder-me o novo esquema que começavam as duas a
traçar. Se não pudesse saber do que estariam a falar, eu ficaria totalmente à toa... Era um
pouco brilhante, tinha de admitir.
- Sim, é isso. Ando a fazer umas dietas e a usar uns produtos que estão a dar
resultado...
- Queria era que me ajudasses a descobrir aquilo que falamos da outra vez... –
Parecia que precisava de ajuda, talvez Sheftu a ajudasse, já que pensava usá-la como
bilhete de fuga... Mas incrivelmente pensou numa forma de me matar, neste exacto
momento. Ela sim era um espécime digno de se conhecer... Acabou por desistir, sabia
que seriam mais os riscos do que as hipóteses de sucesso. Não consegui não sorrir...
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- Olha, podias ir a uma biblioteca... Acho que o melhor é que vás a uma em especial,
que tem de tudo para ser encontrado. Vou só escrever-te num papel o local dela... –
Começou a pensar no que escrever no papel, era um bilhete a pedir comida e ajuda, pois
estava em apuros... Inteligente e eficaz.
- Quem era? – Perguntou-lhe, agarrando o seu braço com força para que ela me
fitasse. – Bela jogada, essa do bilhete... Que escreveste? Achavas mesmo que eu não iria
saber que farias de tudo para saíres daqui? Não vais conseguir, já te estou a avisar para
que não cries muitas esperanças. Teu destino é ao meu lado para todo o tempo sem
fim... Estás destinada a isso.
- Não deves subestimar-me meu caro... Imaginação não me falta, posso matar-te de
mil e uma maneiras, o prazer será simplesmente maravilhoso. – Minha mão fechou seus
lábios, deixando-me ali a fitar os seus olhos, à procura de algum indicio que me dissesse
o que ela poderia sentir além do que pretende fingir que sente. Ela fechou os olhos e eu
a larguei, esperando que ela abrisse os olhos. Abri caminho para que ela voltasse para a
cama, mas ela seguiu para a varanda... O que iria ela fazer lá? Rapidamente a segui
curioso, ela não era burra para tentar fugir por lá.
Agarrei o seu braço, ela virou-se para fitar-me e eu empurrei-a para fora da janela,
empurrando-a até que ficasse encostada à grade. Meu corpo se colou ao dela,
começando de novo a habitual sensação de posse. A mão dela tocou o meu braço,
subindo lentamente por ele, fazendo-me deseja-la cada vez mais, tornando a minha
mente cada vez menos racional, deixando que o desejo se apoderasse de mim. Tentou
escapar, para puder voltar para o quarto mas eu não a deixei...
- Preparada para a segunda volta? – Questionei sem que realmente fosse uma
pergunta.
- Não, agora deixa-me entrar. Se vossa excelência assim o permitir, é claro! Não
desejo causar-vos qualquer incómodo. – Sorri abertamente, começava a divertir-me. Na
sua mente começavam a nascer palavras de total terror, eu lhe causava mais incómodo
do que outra pessoa qualquer. Bastava saber qual das duas razões a faria sentir-se
assim...
- Não, quero fazer algo primeiro... – Sorri ainda mais abertamente, ouvindo a sua
mente a ficar ainda mais enegrecida...
Ficamos por bastantes horas, em que ela pensava e eu apenas ficava sorridente a
sentir e ouvir cada pedaço dela e da sua mente...
- Agora que já estiveste eternidades a tentar matar-me de tédio podes deixar-me
entrar, ou é complicado para a tua encenação de humano parvo e asqueroso? – Fiquei
ainda a pensar nos momentos, deixando-a passar... Por agora seria tudo, mas as
respostas acabariam por chegar...
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De rompante o seu pensamento me remeteu de novo para o presente, começava agora
a pensar em tudo o que tinha-se passado no cemitério, marcava-lhe imenso esta traição
da sua própria irmã, rendida à manipulação de Gustav. Realmente era terrível, tudo o
que ela tinha vivido, e ainda nem tinha consciência do passado dela... Ainda faltaria
imenso por descobrir, mas um dia estaria tudo bem entre nós, era a promessa silenciosa
que eu lhe fazia...
Sentei-me no seu lado, ela estava completamente resgatada pelas suas memórias que
nem reparara em mim. Deixei-me levar pelos meus próprios pensamentos, pensando
com ironia em tudo isto que se passava... Uma nova vida sobre a antiga, a começar da
mesma forma que a primeira...
Poucos segundos me demoraram a perceber que os seus pensamentos agora se
focavam em mim, foquei e vi-a mesmo frente a mim, procurando no meu olhar algo...
Seu corpo começou a recuar e eu agarrei-lhe o braço, para que não o fizesse.
Aproximei-me ainda mais dela, sentindo duplamente tudo o que se passava entre o que
eu sentia e o que ela pensava...
Minha mão agora se apoderava de suas costas, aproximando o seu corpo do meu,
beijando-a intensamente... Seu corpo permaneceu imóvel por uns momentos, flutuei
meu dedo lentamente sobre as suas costas, segurando-a pelas coxas, beijando-a com
ainda mais intensidade. A cada toque sentia cada vez mais vontade de lhe tocar, como
se o desejo nunca cessasse nem parasse... Era uma loucura total.
Sorri levemente aquando da hora em que seu corpo finalmente tinha-se apoderado do
meu, sentindo a mesma fome, aclamando o seu desejo e desfazendo-o em acções. Sim,
agora sabia a razão da sua reacção, ela me queria tanto como eu a queria. Ela era minha
mesmo antes de o aceitar, não havia qualquer retorno, não havia qualquer saída.
Desenhei lentamente o meu nome em suas costas, o repetindo vezes e vezes sem conta,
nossos desejos se afundariam num amor desprendido de tudo, em algo derradeiro e
duradouro... Era uma questão de tempo, as carícias não seriam nada mais do que notas
de música para mim... Agora me afundaria nelas, vivendo-as intensamente...
― SOCORRO! ONDE RAIO ANDAM VOCÊS SUAS CRIATURAS
DESNATURADAS… - Alguém berrava além da porta, eu reconhecia a voz!
Instintivamente corri até à porta, abrindo-a e deparando-me com Carmen no chão, com
uma estaca mesmo em seu coração e manchada do seu sangue...
― Eric?! – Perguntou ela mal me viu, prostrada no chão, precisando imensamente da
minha ajuda... Mas o que ela fazia aqui?!
― Oh meu Deus…o que te aconteceu!? – Perguntei indignado. – CARMEN! -
Berrei, pegando no seu corpo e procurei o seu quarto, que por curiosidade era
exactamente ao lado do de Sheftu. A deitei na cama e prossegui à remoção da estaca
que ainda permanecia no coração. Coloquei um penso, retirando as roupas e limpando o
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seu corpo. Saí para que pudesse fazer uma chamada, ela necessitava de repousar
bastante antes de lhe dar o meu sangue para que se curasse.
- Necessito que me encontres o paradeiro de Sheftu Nubia. O mais rapidamente
possível, é completamente urgente. – Informei Henry, com o máximo de calma
possível.
- Serei o mais rápido possível. Brevemente terei o que necessita.
Desliguei o telefone e procurei algo que me pudesse refrescar um pouco, e aproveitei
para tirar também um pouco do meu sangue para que ela pudesse ficar curada mais
rapidamente, mas onde iria colocar? Fui à cozinha e vi uma caneca, seria simplesmente
a quantidade necessária para que tudo ficasse normal...
Enquanto passava pela sala, reparei que estava lá uma garrafa de whisky com copos à
sua volta. Seria complicado aguentar tudo isto sem reforços, necessitava de me entreter
para que não corresse como um louco à procura de Sheftu. Suspirei e peguei num bom
copo de whisky, voltando para dentro do quarto. Carmen já tinha voltado do seu estado
inconsciente, estava agora sentada sobre a cama sem qualquer roupa que tapasse o seu
corpo. Totalmente apetecível, absolutamente errado...
- Oh, isto é constrangedor… - Disse fechando a porta. - Carmen, eu sei que nós
tivemos bons momentos mas, mesmo assim é melhor tapares-te…
Baixei o meu olhar à espera que ela se tapasse, noutra época teria toda a vontade de a
ver assim, mas não desta vez... Tudo tinha mudado.
- Tiraste-me as roupas? - Perguntou-me, fazendo-me elevar o meu olhar sorrindo e
aproximei-me da cama...
- Convenhamos, não há ai nada que já não tenha visto, certo? - Ofereci-lhe a caneca
azul, à espera que ela a pegasse. - Bebe.
- O que é isso? - Perguntou desconfiada.
- Veneno. Estou a ver se te mato de vez… - Trocei dela, sorrindo e abanando a
caneca. - É sangue, génio.
- De quem?
- Isso importa? – Perguntei sem grande vontade.
- Vindo de ti, importa sempre. – Suspirei perante a sua resposta, estendendo mais um
pouco a caneca...
- Meu. Não reclames, não é a primeira vez que bebes e tu precisas de forças. –
Finalmente tinha aceitado a minha oferta. Agora ela tomava consciência da fome que
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tinha, olhando para mim à procura de alguma coisa. Ah! O copo de whisky, levantei o
copo, tentando dar forças para que começasse a beber. ― Bota abaixo!
Comecei a beber o meu copo enquanto instantaneamente ouvia os pensamentos de
Carmen, ela começava a lembrar-se do sabor que meu sangue lhe trazia, tentando criar
palavras mudas sobre o seu sabor.
- Ainda sabes bem… - Disse-me num tom rouco, saboreando cada gota do sangue
que ainda permanecia na sua boca.
- Obrigada… - Respondi.
Procurei algum local para me sentar, vi uma poltrona e puxei-a para perto da cama,
sentando-me descontraidamente. Afinal de contas havia muito que se saber sobre toda
esta situação, o que se tinha passado?!
- Mas que…o que raio fazes aqui, Eric?! – Perguntou-me finalmente sem rodeios.
- A cuidar de ti. Afinal, tinhas aí uma bela estaca… - Debrucei-me para apanhar o
pedaço de madeira do chão, fazendo Carmen encolher-se de medo. ― Foi difícil tirar,
afinal estava mesmo enterrada. Ainda bem que desmaiaste com a dor. Mercenários…
Sua mente tentava arranjar resposta para a grande confusão que sentia, procurando
qualquer hipótese possível. Abanou a cabeça para tentar ganhar concentração e voltou
ao ataque. A sua mente estava preparada para me esfolar vivo com tantas questões sem
resposta...
― Eric! – O seu tom autoritário simplesmente surpreendeu-me. Porque tanto ela
necessitava de saber? Não tinha importância para ela. ― O que fazes aqui?! A sério e
sem mentiras!
Tentei não pensar muito na resposta, comecei a entreter-me com o copo entre as
mãos, para que passasse um pouco mais de tempo... Um pouco de tempo e estaria
pronto para voltar à situação em que estávamos, era apenas não pensar no assunto...
- O que aconteceu, Carmen?! – Levantei-me, aproximando-me e sentando-me ao seu
lado na cama. Agora estava completamente preparado para escapar à pergunta, ela me
conhecia bem de mais... Seria um pouco complicado. ― Tu nunca sais assim, de cabeça
quente e no entanto hoje…
- Não me respondeste a minha pergunta.
- Nunca respondo.
- Mas, quero resposta. – Observei-a por momentos, procurando em seus pensamentos
algo que pudesse usar para escapar a toda esta inquirição. Bebi mais um pouco do
whisky, pousando o copo em cima da cómoda e voltando ao ataque.
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- Tu tens problemas… - Aproximei a minha cara da dela, a procura de mais qualquer
coisa que os pensamentos não dissessem. Ela desviou o olhar, havia algo que ela queria
esconder de mim, inutilmente... - E, se a minha memória não falhar e ainda julgar
conhecer-te como conheço, diria que foste falar com o Lawrence. E o Lawrence, disse
algo que te pôs a pensar…
- Eric! – Tinha acertado em cheio! Jackpot!
- Diz-me, o que te perturba. – Pedi calmamente.
- Não tens nada a ver com isso! – Disse-o rispidamente, apertando-se aos lençóis.
- Carmen… - Toquei em seu queixo e elevei-o até que o seu olhar tocasse no meu,
pedindo-lhe que me contasse, que confiasse em mim... - Se tens problemas, diz-me.
Tinha surtido efeito, ainda causava bastante impacto nela apesar de todos estes
anos... A realidade é que sentia exactamente o mesmo. A sua mente começou a lembrar-
se de umas palavras de Lawrence sobre hipnose, toda a minha mente se espantou sobre
essa memória. Mas se era isso, então tinha de ser falado...
- Sim? – Perguntei-lhe o mais naturalmente possível. ― Hum…tens algo para
perguntar-me…
- Pára com isso! – Deu-me uma chapada no braço. ― Irrita-me.
Soltei uma risada, estávamos como nos velhos tempos... Levantei as minhas mãos
em sinal de paz...
- Desculpa. – Disse, coçando a minha cabeça e mostrando o meu melhor sorriso,
fazendo-a ainda apertar-se mais contra os lençóis. Sim, isto seria fácil.
- O que sabes sobre hipnose?!
- Tudo e mais alguma coisa. – Respondi sem grande vontade.
- Convencido!
- Nem por isso. Sei mesmo.
- Sabes, se funciona connosco?
- Com vampiros?
- Sim. – Cruzei os meus braços, já sabia bem o desfecho de tudo isto. Inaceitável. -
Aposto que não me perguntas apenas por curiosidade. O que se passa?
- Não desistes, pois não?! – Encolhi os ombros, não era natural de mim desistir,
jamais seria...
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- Tu é que perguntas-te! – Contou-me tudo o que se tinha passado, de ser seguida por
sombras, toda a situação que vivia agora. Eu bem sabia que teria de ser algo parecido
com isso, nada mais “Carmen” do que isso...
- Interessante. O que tem isso a ver comigo? – Respondi, sem grande vontade.
- Tu disseste que… - Calou-se instantaneamente. Já sabia o que eu queria. ― Queres
que te peça, não é?
― É contigo! – Encolhi os ombros e abanei a perna, como se não fosse anda comigo.
Mas na realidade preocupava-me imenso toda esta situação... - Não deixa de ser um
problema interessante.
― Ó sim, é fascinante como tudo! ― Ironizou, querendo ver-se livre de todo este
problema, com a minha ajuda... ― Ajudas-me?
Sorri um pouco, pensando muito sinceramente sobre o assunto, levantando-me e
cruzando os braços finalmente disse:
― Ena, isto é diferente da Carmen de a uns anos que não pedia ajuda a ninguém. Era
toda cheia de atitude, implacável, selvagem…- Olhei para os pés, um pouco
envergonhado com as minhas próprias palavras. ― Onde está a Carmen, que correu
comigo?
― Nunca corri contigo, Eric! Tu é que procuravas a pessoa errada e eu convidei-te a
ir embora…― Olhou para a porta, continuando. ― Parece que é a Sheftu que procuras.
Como vão as coisas? Ela já te mordeu ou tentou tirar-te um pedaço?
Porque tinha ela de tocar neste assunto? Não estávamos tão bem a falar dos seus
problemas?! Ela não tinha o direito de falar dela desse jeito, simplesmente não tinha!
- Ela fugiu. – Respondi amargurado, sendo rapidamente respondido com uma sonora
gargalhada, fazendo-me sentir ainda mais enervado com toda esta situação. E eu nunca
mais recebia o raio da chamada! Que raiva!
― Ora, não deixa de ser engraçado, Eric! Procuras esta “mulher” toda a vida e
quando a apanhas, ela foge de ti! É no mínimo engraçado…- Atacou-me, ajeitando o
lençol à sua volta. ― Tu não chegas para a Sheftu.
― Ah, aqui está a Carmen que conheço. A cabra. – Respondi da mesma moeda, se
ela queria seguir por estes caminhos, então seguiríamos! ― Agora, vinha a parte em
fazíamos sexo…já estás sem roupa, o que facilita!
Apertou ainda mais os lençóis em volta do corpo, ficando um enorme silêncio entre
nós. Os limites tinham sido ultrapassados, mas também ambos merecíamos. Mas o que
queria ela dizer com eu não a merecer?! Estará louca?! Ela não a conhece, não me
conhece... Ela não sabe nem entende nada!
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- Olha, se não me queres ajudar… - Começou a dizer, interrompendo o silêncio...
Sentei-me à sua frente, pensando numa ideia que me acabava de vir à cabeça...
Talvez uma óptima ideia até.
- Eu ajudo-te mas, no fim vais tu ajudar-me com algo. – Disse, observando logo a sua
expressão... Tinha a sobrancelha franzida, detestava as condições propostas, mas não
tinha outro remédio...
- No quê? – Perguntou-me.
- Não te preocupes, vais saber quando eu quiser. – Comecei a segurar-lhe a face com
uma mao de cada lado, começando com a hipnose. Se era isso que ela queria, era o que
iria ter! Mas com os seus devidos préstimos. O seu corpo começou finalmente a relaxar,
deixando que o processo começasse... Sua cabeça começava a descair, mas eu a
segurava. Tinha tudo sobre controlo. - Olha para mim, Carmen. – Ergueu os olhos com
uma certa dificuldade mas finalmente me fitou. Iria começar a sessão... - Consegues
ouvir-me?
- S-sim. – Respondeu.
- Óptimo. – Apertei mais as mãos em volta da cabeça, ficando ainda mais relaxada.
― Vais ouvir apenas o som da minha voz, okay?
- Hum…Sim…
- Agora, concentra-te naquilo que queres saber. A altura exacta que queres
relembrar…
- Está tudo bem. Podes ir… - Acalmei-a, depois de ter começado a aparecer as
primeiras imagens um pouco desfocadas... Ela colocou as suas mãos em cima das
minhas, olhando para mim seriamente...
- Tenho medo. – Pressionei ainda mais a sua cabeça para que ela conseguisse sentir-
me melhor.
- Não tenhas, eu estou aqui… - Tentei acalmá-la, deixando-a ir para onde desejava...
Sem medos, completamente liberta...
E então se iniciou a sua viagem para o passado algures distante... E eu fechei meus
olhos juntamente, para que ambos vivêssemos o que pudesse acontecer. Ela necessitaria
de ajuda caso fosse necessário.
Abri os olhos de repente, enfrentei o céu. – Eu sabia bem que não era eu que
estava a vivenciar tudo isto, que vivia este momento na pele de Carmen, sentindo e
vivendo tudo o que ela estava a recordar-se – Não tinha cor normal mas sim um
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acinzentado esquisito. As nuvens estavam grossas em sinal de chuva breve mas, não
foi isso o que mais estranhei mas, sim as arvores gigantes que pareciam perfurar as
nuvens de tão altas que eram. Onde estava eu? Rebolei sobre mim, sentindo as folhas
e os galhos partirem sob o meu peso e levantei-me. Vi a minha frente, escondida por
entre as árvores uma casa de madeira com uma caixa de correio que dizia ROSS;
Até mim a brisa fria da noite trouxe um cheiro doce que se assemelhava a
morangos acabados de apanhar e como se estivesse hipnotizada cambaleei em
direcção a casa. Senti uma vontade louca de entrar, uma vontade de irromper pela
casa adentro mas, agarrei-me a um árvore enquanto era consumida pelo desejo de
sangue, sentia aquele fogo a subir garganta acima.
Agarrei-me a um tronco de árvore e comecei a descasca-lo com as minhas unhas
lutando contra a vontade e foi então, que a porta da casa de madeira se abriu. O
cheiro doce invadiu rapidamente e eu inspirei profundamente de olhos fechados,
guardando a brisa. Quando abri os olhos vi a uma mulher a porta da casa, trazia um
vestido comprido azul-escuro e um casaco preto leve, carregava uma cesta de roupa
vazia, provavelmente iria recolher os trapos que se abanavam no estendal. Ela era
linda! Parecia um anjo de cabelos loiros e pele clara. Um anjo de cheiro doce e
pescoço desnudado.
Voltei a agarrar o tronco de árvore com força, o cheiro dela era embriagava-me
por completo. Conseguia sentir a pulsação de onde eu estava, estava louca para
saltar-lhe ao pescoço e beber todo aquele sangue, que me estava a deixar maluca!
Mas, algo aconteceu que me deixou desnorteada. Fui derrubada por um encontrão
forte que me deixou cair ao chão de cabeça.
― Mary, foge! Esconde o Dean!
Dean?! Quem era esse Dean?!
Levantei a cabeça, só a tempo de ver a minha presa entrar dentro de casa
assustada.
Senti uma mão fechar-se em volta dos meus cabelos, fui elevada do chão a força
toda e encostada a uma árvore. A minha frente estava um homem forte e de barba
rija, numa mão vi-o segurar o que parecia ser um pedaço de madeira, enquanto a
outra tinha descido para o meu pescoço e apertava-o com toda a força.
― Vais morrer, sanguessuga! – Avisou-me ele. Porquê que os humanos eram tão
burros a esse ponto? Não deixei-me intimidar nem um pouco e, num movimento
rápido, trespassei-lhe o peito e agarrei o seu coração entre a minha mão. Encarei os
seus olhos castanhos, enquanto via a sua vida desaparecer. A sua cara mostrou
surpresa, choque, medo a cada aperto maior que eu dava. Por fim, farta daquela
brincadeira, arranquei o coração e o corpo do homem caiu ao chão inanimado.
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Atirei aquele órgão idiota para o lado, limpei aquele sangue imundo no meu vestido
ainda mais imundo e lancei-me em direcção a casa. Só queria beber aquele sangue.
Abati a porta com um pontapé forte, que a arrancou das dobradiças, a minha
presa soltou um berro de horror. Estava encostada ao guarda fato, toda encolhida
cheia de medo. De certo modo aquilo só me excitava ainda mais, corri para o
guarda-fato, agarrei-a pelos cabelos loiros e arrastei-a pelo chão. Ela gritava,
esperneava, berrava mas, lá consegui controla-la quando me sentei em cima dela e
agarrei o seu pescoço. Puxei a sua cara para junto da minha, olhando bem no fundo
dos seus olhos verdes.
― Não te preocupes…vais sentir…só uma leve picada…- Fiz as minhas presas
descerem e mordi o seu pescoço branco. Ela gritou ainda mais, arfou e murmurou
algo que desconcentrou-me.
― Dean…vinga-nos…
Quando ouvi aquilo mordi com mais força, ela gemeu de dor e por fim calou-se. O
seu coração enfraquecia a cada gota que tirava dela, o seu corpo ficava mais mole a
cada chupão. Em poucos minutos, ela já não tinha sangue algum dentro dela, por
isso larguei o seu corpo com violência, enquanto apreciava o sangue que ainda
queimava na minha garganta.
Observei-a ali, caída sem nenhuma vida dentro dela e não vi aquele brilho que
antes tinha-me ofuscado e todo aquele cheiro doce tinha desaparecido. Era apenas
um cadáver seco e feio.
Ouvi movimento atrás de mim e voltei-me rapidamente. Era um miúdo, não devia
ter mais do que 10 anos que me observava com um brilho nos olhos e punhos
cerrados. Os seus olhos eram grandes, verdes e o cabelo acastanhado, com algumas
sardas na cara. Olhei-o de cima abaixo, ainda tinha alguma fome mas, não ia atacar
um miúdo.
― Matas-te os meus pais!
Levantei-me de cima da sua mãe, e encarei-o com um sorriso.
― Se serve de consolação, o teu pai é que me atacou e a tua mãe…bem, ela
simplesmente fugiu. – Passei por cima do corpo inanimado, encaminhando-me para
a porta.
― Eu vou matar-te! – Parei ao ouvir aquela ameaça a mim, de tão nova voz.
Voltei-me para o encarar e vi o ódio na sua cara. ― Vou encontrar-te e matar-te!
Eu sorri maleficamente. Virei as costas.
― Boa sorte, puto.
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E bati com a porta.
Abri os meus olhos surpreendido com aquele momento, Carmen também voltou do
seu passado, sufocando sem ter bem noção onde estava...
- Calma! – Ordenei-lhe. ― Calma, Carmen.
- Larga…Larga-me…Larga-me… - Respondeu-me instintivamente, tentando
afastar-se. Libertei a sua cabeça, e ela tentou levantar-se numa tentativa falhada...
Segurei-a mesmo antes de cair no tapete.
- Qual é a parte de “não te levantes” que não entendes? – Tentei fazer-lhe ver o
estado que ela estava, ainda a segurando com força.
- Larga-me! Eu estou bem! – Tentava afastar as minhas mãos do seu corpo, sem
grande efeito.
Virei-a na minha direcção para que me enfrentasse, olhando para o fundo dos seus
olhos intensamente.
- Vê-se! Olha, ainda estas meio grogue… - Puxei-a de novo para a cama,
advertindo-a. - Fizeste uma grande viagem ao teu passado, tens de descansar.
Na sua mente, passava vezes e vezes sem conta a imagem daquele rapaz que jurara
vingança... Vezes e vezes sem conta, criando teorias e tentando procurar uma
justificação dessa aparição para tudo isto que se passava agora no presente...
- Dean… - Pronunciou, estremecendo por todo o corpo, encolhendo-se na cama,
pensando na melhor solução para tudo isto...
- Oh meu Deus…- Desabafei, ouvindo todas aquelas parvoíces que passavam pela
sua cabeça. - Essa cara! Essa cara significa que estás a magicar uma má ideia. E antes
sequer de a mencionares eu digo, logo que não!
- Tem que ser, Eric. – Respondeu, tentando justificar-se pela ideia... Eu bufei, não
conseguia aprender nada com a sua própria forma de viver a vida?
- Eu sabia… - Comecei a divagar pelo quarto. ― Carmen, não tens que te sentir
culpada por teres morto dos pais do miúdo. Tinhas fome, não comias a dias…
- Como é que sabes?
Eric voltei-me para ela, contaria ou não contaria a verdade?
- Hum…eu conseguia ver…a tua memoria…- Estava um pouco embaraçado com a
situação, era uma invasão da privacidade... - Faz parte…do processo…
- Uau…quando eu pensava que não podias ser mais esquisito… - Respondeu sem
raiva, ainda bem... Sorri meio constrangido, e suspirei...
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- Não te culpes, Carmen. – Garanti-lhe.
- Não é isso, Eric! Sei que estava esfomeada, é só que…- Calou-se, imaginando
Dean a sorrir enquanto ela queimava ao nascer do sol. Tendo uma sensação de
vertigem.
- Continua… - Tentei tirar-lhe daquele pensamento que parecia torturá-la...
- Só que não vai acabar! Ele sabe quem eu sou, sabe como encontrar-me, sabe
como onde estou! Ele é um fantasma, trouxe-me aqui e ninguém o viu. É impossível
encontrares o cheiro dele na minha roupa, porque ele esconde-se! ― Ela estava
completamente determinada, era surpreendente! Como é que ela podia pensar dessa
forma? Ainda por cima ela que sempre condenou tais actos... ― Nem pensar que vou
deixar intimidar-me por uma”sombra”. Vou matá-lo, antes que ele resolva matar-me.
Os seus pensamentos tornados em palavras me espantavam ainda mais...
- Ai, agora virámos assassinos? – Tentei chamar-lhe à atenção...
- Ele vai matar-me! – Tentou justificar-se.
- E tu tens medo, como disseste, de uma “sombra”?
- É uma questão da lei do mais forte, matar ou ser morto!
- E isso justifica assassinato?
- Sim!
- Desde quando? Tu não és uma assassina, Carmen! Tu és…
― Eu não entendo! – Interrompeu-me bruscamente com a voz elevada. ― Se ligo
demasiado aos meus sentimentos humanos sou um fracasso como vampira. Se
encarno o meu lado vampírico sou uma cabra sanguinária! Se fosse a Sheftu…
Era incrível! Sheftu, Sheftu, Sheftu, Sheftu... Não sabia estar calada? Não?!
- Porquê que tens sempre que a meter ao barulho? Ao menos ela não tenta chacinar
gente inocente. – Tentei justificá-la.
- Ela não precisa de tentar, Eric, ela faz logo e não te vejo a correr atrás dela
impedindo-a! Porquê que dificultas isto? – Respondeu com determinação. Quem era
ela? A Carmen não seria de certeza...
- Porque não és a Sheftu, tu és a Carmen! Ela pode ser até uma cabra sanguinária
mas é a natureza dela! Tu não és assim, estás a agir por desespero…quando ages
assim, nunca saí nada bem! – Tentei novamente a chamar à razão...
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- Não finjas que me conheces, Eric! – Entre estas palavras e um soco, não sei qual
deles doeria mais... Até que sei... As palavras... Defenitivamente.
- Ena, obrigada pela parte que me toca, miúda!
E um novo silêncio permaneceu entre nós, Carmen amuava nas almofadas
enquanto eu esperava que ela deixasse de ficar assim... Mas o silêncio estava a
começar a torturar-me...
- Pensa bem… - Tentei novamente mostrar-lhe algo que a fizesse recuar, com toda
a calma possivel. - Ele não te matou, salvou a tua vida!
― Para poder faze-lo mais tarde, Eric! Eu sou um alvo a abater e sinceramente,
prefiro mata-lo a morrer nas mãos dele! Agora… - Encarou-me com toda a
determinação. ― Vais ajudar-me ou não?
A porta se abriu sem aviso e Pan apareceu... Que queria ela agora?
- Hey, Eric…- Os seus olhos pararam em Carmen, nua debaixo dos lençóis e em
mim que estava a centímetros da sua cara. - Interrompo?
- Sim! – Exclamou irritada.
- Não. – Respondi com mais calma.
Pan cruzou os braços à espera de uma resposta final...
- Então?
Suspirei e sentei-me à frente de Carmen, olhando para ela, seguindo de Pan.
Esperava que ela me dissesse porque tinha vindo.
- O que se passa? – Disse ao ver que nunca mais ia abrir a boca.
- Queres mesmo que diga? – Pan olhou para Carmen e ergueu a sobrancelha. ― A
frente dela!?
Levantei-me lentamente e saí pela porta, à espera que Pan me seguisse para
finalmente me contar o que se passava... Rapidamente ela se pôs à minha frente, com
os braços cruzados a pedir alguma explicação que certamente não lhe iria dar.
- O que se passa? – Perguntei de novo. Detestava repetir-me.
- Henry me pediu para te avisar que descobriu o paradeiro da Sheftu. – Respondeu,
ficando silenciosa...
- Sim? Continua...
- Tens a certeza que queres mesmo saber? – Perguntou um pouco incomodada.
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- Se não tivesse a certeza não tinha pedido a informação... Prossegue...
- Não devias de ir atrás daquela louca... Sabes o que ela fez, sabes? – Fez uma
pequena pausa, ficando nervosa o suficiente para perder a fala por uns momentos,
recuperando-a rapidamente. – Matou sem qualquer discrição todas as pessoas que
estavam numa biblioteca aqui em Moscovo, ao todo cinco seres humanos foram
dizimados por aquele monstro... Como...
- BASTA! – Ordenei-lhe, começando a ficar irritado. Fechei os meus olhos para
tentar acalmar-me, abrindo-os de novo. – Vais dizer-me para onde ela seguiu ou vai
ser preciso eu telefonar ao Henry para saber?
- Eu digo-te, não sei porque perdes tanto tempo com ela, ela nem te merece... Mas
eu digo-te.
- Quem determina quem me merece sou eu, por isso espero que os comentários
pessoais comecem a diminuir ou deixarei de necessitar dos teus préstimos...
- Desculpe, tentarei me controlar melhor. Apenas acho que não deveria de se dar
tanto ao trabalho...
- Já disse que não quero comentários pessoais. – Interrompi-a. – Agora diz-me,
onde ela se encontra?
- Está no Vaticano, pelo que o Henry pôde apurar... – Respondeu depois de um
profundo suspiro.
Que faria ela lá? Queria matar-se de vez? Ah, ela estava muito enganada! Não ia
escapar assim tão facilmente. Eu trataria de não o permitir.
- Muito bem, ficarás aqui com Carmen, para caso surja alguma complicação que
eu irei ao encontro de Sheftu. – Respondi, virando-lhe costas e seguindo novamente
para o quarto. Estava mais calmo agora que sabia onde ela estava, podia finalmente
revê-la...
- Eric, vais mesmo fazer isso? Perseguir aquela louca novamente…
- Tem de ser, Pan. Deixa-la sozinha é o que mesmo que anunciar o fim do
mundo…- Respondi-lhe sem grande paciência. Comecei a aproximar-me de Carmen
para lhe explicar a situação...
- Mas, qual é a tua obsessão por ela? É simplesmente idiota. – Ergui-me, mesmo
antes de me ter sentado. Já a tinha avisado mais do que uma vez hoje...
- Faz um favor, Pan. Guarda os teus tristes comentários para ti. – Puxei as calças
de ganga e sentei-me na cama à frente de Carmen. ― Agora faz-te útil e prepara as
coisas, sim?
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Finalmente atendeu a algo do que lhe tinha dito, mesmo tendo batido fortemente
com a porta à saída. Olhei para Carmen mal notei onde os seus pensamentos fluíam...
O que estaria a passar por aquela cabeça que agora parecia tão oca?
- Ainda não desistis-te da ideia de ires atrás do Dean, certo? Ires numa missão
suicida…ou homicida.
- Tu não entendes…
- Certo, imaginemos que eu até possa ajudar-te, arranjar maneira de o encontrar
mas, explica-me uma coisa, ó génio! – Disse-lhe com um ar incrédulo. ― O dia está a
nascer, como esperas ir lá fora?
Ela mordi o lábio perante o problema mas rapidamente lhe veio uma ideia à
cabeça, fazendo-me levantar rapidamente.
― Faz-me um…
― Não! – Ordenei imediatamente com um ar sério. ― Não mesmo, Carmen!
Ela fiquei parva com a maneira como eu a olhava e mostrava o meu desagrado.
Não era óbvio?!
- Qual é o teu problema?
- O meu problema é tu só teres ideias parvas, Montenegro! – Parvas e
completamente incrédulas! - Não só queres ir atrás de alguém que te quer matar,
como queres um feitiço para andar sobre o dia! Que mais queres?
- Eu quero acabar com isto!
- Agindo de cabeça quente? Não dá! Para não falar na infantilidade que isso
demonstra da tua parte…
Instintivamente me desviei de um candeeiro que vinha em minha direcção, tomei
apenas uns milésimos de segundo para perceber que tinha sido atirado por Carmen.
Ouvi o som do candeeiro a bater na parede e observei os cacos no chão espantado,
voltei-me de novo para Carmen. Será que ela estava a voltar ao que era ou
simplesmente tinha endoidecido de vez?
- Como eu disse: Infantil. - Repeti com um tom azedo, encaminhando-me para a
porta rapidamente. Tinha mais coisas a fazer do que estar a aturar criancices.
- Eric, por favor… - Pediu ela.
- Faz-me um favor, Carmen; Não te metas em problemas. Não posso salvar-te a
toda a hora. – Disse-lhe, parando por momentos com a mão na maçaneta, saindo
pouco tempo depois.
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Saí da penthouse, já tinha um carro à minha espera com Pan encostada à porta com
cara de quem não gostava mesmo nada da ideia.
- Ficas a supervisionar Carmen. Não a deixes fazer nenhuma loucura, okay?
- Como queiras... Boa viajem, volta depressa... – Respondeu-me, seguindo para
dentro do hotel.
Sentei-me no banco de passageiros e mandei seguir caminho... Ainda demoraria
umas belas horas a lá chegar, apenas esperava que não perdesse o rasto dela. Minha
memória rapidamente sentiu os calafrios das horas que fazem falta, recordando cada
pedaço do seu corpo, cada parte da sua pele que bruscamente tocava na minha com
todo o desejo, com toda a dedicação escondida, com todo aquele amor que tão grande
é. Meus olhos se fecharam, para que as memórias se apoderassem de mim e me
fizessem voltar ao passado.
Eu iria busca-la, resgatando-a de novo para o seu verdadeiro lugar. Ela sabia disso,
sentia cada pedaço que nós somos, mas negava-se a aceitar. Quando chegará a hora
em que seu amor será totalmente rei, deixando que a mágoa desapareça suavemente?
Eu esperaria quantas vidas fossem precisas, e chegará o dia em que a felicidade ficará
em nós. Mas agora era a hora de descansar, longos dias viriam até que a bonança
finalmente nos alcançasse...
Certamente que tudo passaria de um sonho, mas eu desejaria que fosse verdade.
Via Sheftu aproximando-se, sorrindo tal como o fazia a cada momento que
partilhámos na minha infância. Eu simplesmente queria viver o sonho, por mais que
fosse apenas uma ilusão, por mais longe que estivesse da realidade, não iria desistir!
Nós merecíamo-nos, era algo que eu tinha a certeza absoluta.
A cada passo que dava ficava mais próximo, cada vez mais lentamente, causando
tortura em mim, deixando-me completamente louco. Meu corpo exclamava por ela,
cravando toda aquela sensação de felicidade que conseguia ter quando estávamos
juntos. Este jogo infernal apenas nos fazia sentir ainda mais vivamente tudo aquilo
que amamos, excitantemente incalculável para qualquer humano, completamente
inaceitável. Mas o que realmente importava eram aqueles sorrisos de vitória cravados
nos nossos rostos, o prazer que emanava de nossos corpos a cada respiração ofegante
que traçássemos um no outro... A entrega total, um no outro, para toda a eternidade.
O sonho começava a ficar cada vez mais leve, sentindo que acabaria brevemente
por acordar. Desejava permanecer, senti-la em mim, viver apaixonadamente cada
segundo que ambos vivíamos com determinação e fúria própria de quem ama e vive o
que ama. Não de um jeito qualquer, mas na nossa forma de ser...
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Abri os meus olhos e vi que a noite começava agora a aclarear... Ainda faltaria
muito para que voltasse a encontrá-la, mas eu a iria rever e tomá-la para mim de
novo. Um dia ela acabaria por aceitar tudo aquilo que sente por mim e, até lá,
permaneceria do seu lado, recordando-a que por mais que fuja, a solidão será sempre
impossível. Eu sempre estarei por perto...
Mal cheguei a Itália, seguindo rapidamente para o Vaticano, ela não estaria muito
longe, mas será que ela já descobrira que pode andar sobre a luz do sol? Caso o
tivesse descoberto, poderia já ter partido... Eu queria acreditar que não haveria razão
para que ela já o soubesse, não havia como descobrir a não ser tentar a morte. Meus
olhos se fecharam e minha mão passou sobre eles, ao pensar nessa hipótese... A
minha sorte é que ela estava bem defendida, quase totalmente indestrutível.
Procurei num jornal o lugar no qual encontraram os corpos, tentei captar o seu
cheiro, tentar obter alguma pista dela, mas nada conseguia encontrar. Ela sempre
tinha sido bastante cuidadosa, principalmente agora que anda fugida, tinha ainda mais
razões para o ser...
Lembrei-me de algo, ela não tinha vindo sozinha... E se a outra também fosse uma
vampira, as duas teriam de se esconder... Então qual seria o melhor local para se
deslocar caso o sol nos matasse? Eu ainda iria saber porque estariam elas por cá,
completamente perigoso e uma total loucura, se não chamar suicídio a tal acto...
Segui para as catacumbas, talvez fosse o único lugar onde poderiam estar longe do
sol e de tudo aquilo que podiam ter chamado à atenção. Acreditava que não
demoraria muito tempo sem a ver...
- Que estás aqui a fazer? – Perguntou-me rispidamente mal me sentiu, começava
agora a vê-la de vermelho, sua beleza sobre o vestido captava toda a atenção de
qualquer um. Assentava-lhe que nem uma luva, as suas pernas realçavam, fazendo
com que o desejo quisesse apoderar-se de mim mesmo, querendo-a como minha,
resgatando-a completamente... Senti algo mais do que isso no meu corpo, como se
uma paz tivesse vindo para mim, como se agora tudo pudesse voltar à anormalidade
natural...
- O que achas que estou aqui a fazer? É óbvio, não é? – Respondi da forma que ela
mais merecia.
- Não és tu aquele que estava a ajudar a Carmen? – Senti toda a fúria de Sheftu
intensificada, ao observar a Samantha que tinha acabado de me falar. Via a confusão
que pairava sobre ela, que se conjugava quase na perfeição com todo este momento.
Sheftu apenas pensava nalguma forma de se livrar novamente de mim, parecia não
pensar em mais nada a não ser isso, completamente absorvida pelo que a incomodava.
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Eu era tudo aquilo que ela nunca na vida desejaria ter, tudo aquilo que por mais que
tente correr fará sempre parte dela, incondicionalmente...
- Meu caro, prefiro morrer... – Disse, correndo loucamente pensando em tornar-se
simplesmente em cinzas. O seu único objectivo era afastar-se de mim, afastar-se de
tudo aquilo que ela sente, afastar-se dela mesma. Porque muito mais do que eu, muito
mais do que somos, ela não conseguia conviver com ela mesma, criara uma máscara,
uma máscara que caía a cada momento que sua morte se entregava ao amor. Algo que
ela aprendera a desprezar toda a sua vida.
- NÃO, ONDE VAIS SHEFTU?! NÃO FAÇAS ISSO!!! – Berrou Samantha, ao
tomar consciência para onde ela seguia.
- Aff, mulheres... Espera aqui que eu vou buscá-la, não te preocupes que eu trato
dela. – Disse calmamente, tentando acalmar um pouco Samantha. Ela não sabia, mas
Sheftu estava a salvo, por mais que tentasse não estar, sua morte continuaria nesta
terra por bastante tempo – eu tomaria conta dela...
Quando estava apenas a uns passos da luz, ainda sobre as sombras, começou a
seguir calmamente, como se duma marcha nupcial se tratasse, entregando-se por
completo à sua morte total, que a levaria deste mundo para sempre. Sentia-se aliviada
mesmo sem sequer ainda ter vivido o suplício da morte, eu me aproximava para cada
vez mais perto dela, não consegui deixá-la seguir em frente, segurando-lhe o braço e
pedindo num tom calado que soubesse que eu a amava, para que não o tentasse...
- Larga-me! – Bufou mesmo ao ver a minha face, que agora a obrigava a fitar...
Seus olhos transmitam o medo que vivia de sentir tudo isto que somos. Medo, esse
bem maior do que o de se atirar aos raios do sol.
- Tu estás mesmo disposta a fazer esta loucura? Avançando assim sem qualquer
vontade de não seguir em frente? – Libertei-a, deixando que ela mesma tomasse o seu
caminho. Depois acabaria por lhe mostrar o nosso rumo, qualquer que fosse a decisão
que ela tomasse...
- Sim, desde que me livre de ti para sempre. Seria o melhor que teria na vida,
livrar-me de ti. – Suas palavras saíram de um sussurro, meu corpo sentiu um aperto
agonizante. Talvez me sentisse um pouco magoado, não o podia negar, mas era
necessário que tudo fosse ultrapassado, principalmente o que a proibia de deixar-se
levar por tudo isto.
- Tudo bem, se queres isso segue em frente, vai! Eu não farei nada para te parar,
mas estarei do teu lado. – Não consegui esconder um leve sorriso, o que aconteceria
quando ela soubesse sobre os raios do sol? Bem, parece que não iria demorar muito
tempo para eu o descobrir...
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- Não me vais impedir, de jeito nenhum! – Concluiu, começando a correr com
rapidez, parecia que as suas forças tinham voltado. Talvez o sangue humano a fazia
voltar de novo, mas ela nem sabia que as suas forças seriam redobradas... Se não
fosse pelo meu sangue, ela me mataria facilmente. O seu ponto fraco, a minha
salvação... Não via a hora em que a minha salvação deixasse de ser o meu sangue e
passasse a ser ela, uma questão de tempo, paciência, mesmo muita paciência...
Caminhei lentamente para a sua direcção, estava de pé, à espera que algo acontecesse
de olhos fechados, tinha parado ao lado de uma lagoa que me lembrava a sua
personalidade: temível, natural e totalmente belíssima...
- Mas como?! – Questionou-me, completamente surpreendida, calculando logo que
seria obra minha, seu olhar mo dizia. Tinha ganho esta batalha, e ela tinha tomado
consciência disso... Felicidade, ainda faltavam muitos passos para que ela realmente
acontecesse, mas era mais um passo, um pequeno passo mas valioso para nós.
- Sabes que eu te conheço melhor do que qualquer ser que tenha existido nesta
terra e que poderá existir. Certifiquei-me que ficarias em segurança, mesmo de ti! –
Sorri, aproximando-me lentamente dela...
- NÃO TE APROXIMES!!! AFASTA-TE DE MIM!!! – Gritava, recuando alguns
passos, fazendo-me ir mais rapidamente para que ela não pudesse fugir. Era ridículo
este receio que ela tinha por mim, não sabia ainda quem eu era apesar de já saber que
eu a conhecia e que não havia muito que ela pudesse fazer, mas mesmo assim
tentava... Que teimosia!
- Tem calma, não te vou fazer nada do que não queiras... Deixa-me ajudar-te... –
Estendi de novo a minha mão, à espera que ela tomasse consciência de que podia
confiar em mim. Mas não, ainda recuou mais, perdendo o equilíbrio, consegui segurá-
la para que não caísse na água.
- Deixa-me em paz! – Começou a tentar libertar-se, fazendo-me aproximar cada
vez mais. Eu sinceramente gostava disto, não tinha como negá-lo.
- Sabes que não é assim tão simples... – Apertei os meus lábios e fechei os olhos
por uns momentos, começava a perder um pouco o controlo de mim mesmo. Não era
nem a hora nem o momento para pensar nestas coisas... Mas como ela me torturava!
Moveu-se com mais força, fazendo-me perder o equilíbrio, caindo com ela na fonte. –
Isto era totalmente desnecessário. – Apontei um pouco alterado, sua pele estava ainda
mais próxima de mim, molhada, demasiado próxima... Ela olhou para mim, com
certeza tinha notado algo em mim. Ficamos os dois assim, apenas o seu olhar me
importava agora, se me concentrasse o suficiente poderia despir-lhe a alma...
- Agora podes deixar-me? Já tens o que querias?
- Não, ainda não tenho o que eu quero. – Respondi com firmeza, era a verdade.
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- Então o que queres? – Perguntou-me directamente, sem desvios e com uma certa
curiosidade... Curiosidade e algo mais, se não estava enganado, eu não era o único
que estaria a sentir-me bem aqui....
- Vais dizer-me que não sabes o que eu quero? Se não sabes então trata de
descobrir por ti mesma, não vais arrancar nada daqui. – Sorri com alegria, ela estava
completamente espantada, talvez ela ainda nem acreditasse no que estava a acontecer.
– Onde pensas tu que vais? – Afastou-se um pouco da minha pele, fazendo intensao
de se ir embora, eu não a ia deixar... Voltei a colar-me nela, segurando o seu queixo
para que não tentasse fugir dos meus olhos, ela tinha que sentir o que eu sentia... – Tu
sabes muito bem que não irás a lado algum. Nem a morte te levará de mim, jamais.
- Como podes ter tu tanta certeza disso?
- Tratei de ter a certeza. Nunca morrerás ao sol, estacas raramente te farão muito
mal, apenas umas dores leves e pouco mais e quando às dentadas da minha cunhada,
estás livre de morrer...
- Como é que isso é possível?! Que me fizeste?!
- Nada que precises de saber. Isso é comigo. – Sorri um pouco e libertei-a,
levantando-me e lhe estendendo a mão para que se erguesse também. Como seria de
esperar, levantou-se pelo próprio apoio e seguiu em frente. – Onde pensas tu que
vais?
- E quem pensas tu quem és para me perguntares tal coisa?!
- Talvez sou a única pessoa aqui que não se tentou suicidar hoje, por isso faça
favor de seguir comigo!
- Quem pensas tu quem és?! – Disse, movendo-se rapidamente até mim e
segurando o meu pescoço, mais um pouco e teria sido o final da minha vida. Eu
sorria, ela estava indignada por eu nem ter recuado um passo sequer. Assustava-lhe
tamanha certeza que eu demonstrava ter, e não conseguia de facto matar-me... Algo a
tinha feito parar, e eu desconfiava que sabia o que era...
- Assim já gosto mais... Vamos então? – Segurei a sua mão, retirando-a lentamente
e entrelaçando na minha, uma união perfeita... Não conseguia acreditar como ela
ainda não tinha aceitado isso. Abri a minha mão, sentindo a dela cercar a minha com
mais força, não querendo que ela se afastasse... Afinal não era bem como eu pensava,
mesmo com a sua mente a tentar contrariar, todo o seu corpo mostrava que o que nós
vivíamos era real.
- Não, não vamos. Larga-me a mão faz favor! – Pediu-me totalmente apavorada...
Era incrível como a sua mente trabalhava...
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- Mas não sou eu que estou a agarrar-te. – Sorri abertamente pela verdade. – Então
querida, problemas? Colou a mão? Chega-te a mim, que ficamos a espera que
descole. – Ironizei, deixando que a gargalhada saísse finalmente da minha garganta,e
aproximei-me. Ela não se movia, seus pensamentos gritavam para que seu corpo se
movesse, mas ele simplesmente permanecia exactamente como estava.
- Piacerebbe essere fotografata con i paesaggi più belli del Vaticano? – Disse um
fotógrafo, tentando convencer-nos a tirar fotografias pelas paisagens do Vaticano...
- No, grazie per la vostra simpatia. – Respondeu Sheftu rapidamente, o que já seria
de esperar...
- Oh, amor, não sejas assim para o homem. Deixa lá que ele tire alguma vantagem
da nossa passagem por cá. Afinal de contas não é todos os dias que tiras fotografias,
visto que nunca tiraste nenhuma.
- Talvez porque não quero qualquer prova da minha existência deste mundo, mas
nem sei porque estou a falar contigo! És horrível!
- Não querida, somos os dois horríveis. Não vês, ficamos tão lindos juntos. É só
amor! – Abracei-me mais a ela e respondi ao fotógrafo. - Spiacente, mia moglie, lei è
un po 'di temperamento. Mi piacerebbe a decollare le nostre foto, ma anche voluto
prendere la macchina. Pagare ciò che si desidera per esso.
- Tinhas que dizer uma coisa dessas! Eu digo-te o temperamento... Afinal para que
lhe vais comprar a máquina? É ridículo.
- Tu não querias a tua imagem espalhada pelo mundo, por isso terei essas fotos
para mim. Depois também terás as tuas...
- Não quero isso para nada... Se me mandares algumas eu queimo-as. –
Respondeu-me amuando. A sua cara era tão engraçada quando amuava... Abri um
enorme sorriso, ela parecia mesmo um anjo... Um anjo infernal, o cocktail perfeito
para o meu mundo...
- Sim. Claro querida... É mesmo isso que vais fazer. Se não te conhecesse até que
acreditava.
- Mas quem disse que me conheces?!
- Eu. E eu te conheço. Vá, não vamos fazer esperar o homem. Venham lá as
recordações! – Sorri, sabia que tinha ganho mais uma batalha... Estaria dividida,
como estará sempre durante os próximos tempos...
- Eu. E eu te conheço. Vá, não vamos fazer esperar o homem. Venham lá as
recordações! – Sorri, sabia que tinha ganho mais uma batalha... Estaria dividida,
como estará sempre durante os próximos tempos...
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Apesar de tudo, mascarou a sua frágil derrota e começamos a tirar as fotografias.
O fotógrafo pareceu estar consciente da beleza que se deparava do meu lado, fazendo-
me sentir um pouco de ciúmes, mas algo eu teria a certeza, ela era minha.
Entreguei ao homem
- Onde é que eu estou?! – Disse levemente ao abrir meus olhos e a observar Eric
sentado numa poltrona em minha frente. Olhei em volta e vi um quarto, plenamente
normal, com uma janela grande para uma vista que certamente não fazia parte de
Moscovo, nem do Vaticano...
- Estás em minha casa. – Disse ele serenamente, continuando a observar-me.
- E posso saber onde isso é? Será muito difícil responder?
- Não necessitas de saber mais nada além do que eu te disse. – Seu tom cordial
começava a enervar-me. Quem é que pensa ele que é?!
- Não podes ser mais prestável e deixar-me em paz? – Tentei usar a lógica, já que
ele tanto me tenta ajudar a não morrer, poderia ajudar a livrar-me dele. Era simples e
perfeitamente racional.
- Eu o faria caso o desejasses, o que não é o caso. – Deu um sorriso torto e ergueu-
se, seguindo rumo à varanda. Eu segui-o por instinto, eu tinha de o convencer de que
estava errado, eu não o queria.
- Mas eu não te quero, quanto mais longe estiveres melhor!
- Então olha para isto... – Disse, fitando o labirinto que estava mesmo em frente à
varanda em que agora estávamos, continuando – Sheftu, tu és tal como este labirinto,
por mais que não queiras te afastar de mim, acabarás sempre a chegar ao mesmo. Tal
como se entrares no labirinto chegas sempre ao seu centro, por mais voltas que dês,
acabarás por encontrar o seu centro. E podes não me querer, mas me desejas. Por
mais que negues a ti mesma...
- Então e onde queres chegar com esta conversa parva? – Questionou-me
frontalmente.
- Olha para mim... – Pedi levemente.
- Para quê? – Questionou-me rispidamente.
- Olha para mim de uma vez por todas! – Desta vez não tinha sido um simples
pedido. Ou ela fazia o que lhe pedia, ou não responderia por mim. Irritava-me a
mania que ela tinha de me contradizer nestas situações...
- Não preciso de olhar para ti. Preciso apenas que desapareças da minha vida.
- Então vamos ficar assim? – Suspirei.
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- Assim como? Nós não ficamos nada, porque eu me vou embora e tu ficas cá.
- És simplesmente chata sabias? – Desabafei, não haveria outra forma, o seu feitio
não me deixava que a pudesse ajudar. Custava-lhe encarar-me, talvez porque sabia
qual era a verdade e não a queria simplesmente aceitar. Ela acabaria por ter de o
aceitar, mais cedo ou mais tarde. Meus dedos tocaram em seu queixo, o levantando
até que seus olhos fitassem os meus. Via nela a fúria e a ardente loucura que passava
sobre a sua mente neste momento, eu conseguia entender. E queria que isso mudasse,
que tudo se tornasse mais simples e sem tantos obstáculos por parte dela...
Sua mente começava a perder terreno perante tudo aquilo que os seus sentimentos
a conduziam. Piscava os seus olhos constantemente, certamente para que tentasse
escapar do efeito que estava a dar neste ambiente de grande tensão. Começava
finalmente a compreender mais, a perder-se mais... Eu gostava que tudo isto estivesse
a acontecer...
- Podes largar o meu queixo? – Disse subtilmente, tentando escapar ao nosso
momento.
- Não... Estou aqui a meio de uma coisa... Hum... Por onde começo...
- Começa por desaparecer, pod... – Começou a dizer, fazendo-me calá-la com os
meus lábios. Segurei o seu pescoço, retirando todo e qualquer traço de vestes que me
impedissem de senti-la, fazendo-a finalmente desistir e resgatar-se em meus quadris.
Não perdi tempo para pensar, apenas queria que este momento acontecesse, aqui,
agora. A sua mente andava perdida algures pela batalha do que queria e do que
necessitava, sempre a querer deixar-me, sempre a desejar a minha morte,
completamente perdida pelo que somos, tal como eu... A única coisa além de mim
mesmo que me fazia sentir a nossa força, sem que as dúvidas me assolassem, era o
desejo aberto que ela mostrava. A sua mente tentava lutar inutilmente, o seu corpo me
pedia cada vez mais que tomasse posse dela, arrancando as minhas roupas, agarrando
ferozmente o meu pescoço para que não a parasse de beijar. Necessitava de senti-la
ainda mais perto, puxando-a totalmente para mim, mostrando-lhe o desejo que crescia
em mim, fazendo-a bufar de prazer ao saltar para mim e cercar-se sobre os meus
quadris. Levei-nos para dentro do quarto, colocando-a sobre a cama, sorrindo e
observando tudo aquilo que já era meu, completamente disponível para mim,
mostrando que eu tinha razão... Tudo o que éramos era real, por mais que ela o
negasse...
Agora todos os seus pensamentos me extasiavam, tinha-se finalmente entregue ao
nosso momento, erguendo-se e puxando-me para cima dela, desejando que eu a
tomasse como minha, desejando a minha morte... Uns passos se fizeram ouvir para a
porta, seguindo-se de uma batida.
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- Raios, só sabem interromper... Não têm mais nada que fazer na vida, mas que
raio de sorte. – Reclamei quase inaudível, rapidamente antes de voltar para os seus
lábios. Seu corpo estava completamente entregue ao momento, se aquecendo sobre a
minha pele, perdendo-se sobre o meu presente desejo, fazendo-me sentir um aperto
grave, tinha de tomá-la como minha, o desejo aumentava, apenas queria tê-la como
minha... Outra batida, desta vez com mais força...
- Vai embora! – Berrei, sorrindo e segurando o seu rosto com minhas mãos,
observando-a por uns breves momentos até que se ouviu outra batida, novamente
mais forte e agonizante. Sheftu ergueu-se, prostrando-me pelo chão, deixando-me
com todo aquele desejo ainda bem vivo em mim, querendo que ela me tomasse, que
eu a tomasse... Não conseguia pensar em mais nada, rapidamente tinha o corpo do
homem em mim, Sheftu tinha escapado mais uma vez, eu não conseguiria segui-la
assim, precisava de apagar este fogo, necessitava de congelar-me, tentando esquecer a
sua pele a roçar na minha sedutoramente, os seus lábios a clamarem por mais
intensidade, por mais amor...
- Preciso de um banho, bem gelado... – Desabafei para mim mesmo, levantando-
me, retirando o corpo morto de cima de mim, indo para a casa de banho...
Deixei que a água fria escorresse pelas minhas costas, suspirando. Logo teria de ir
ao encontro dela, não seria muito difícil encontrá-la pois conhecia bem esta floresta...
Enquanto me vestia, mais calmo agora, pensava no que se tinha passado há pouco.
Poderia viver toda a eternidade a experimentar as mulheres que vão surgindo pelo
mundo, mas apenas uma me levava completamente à loucura, não o podia negar.
Sheftu era minha, eu era dela. Não havia como negar, não havia saída, por mais que
alguma vez nas nossas mortes o tentassem.
Aproximei-me da floresta, e meu corpo novamente reagia ao perfuma que
emanava, conseguia senti-la, cheirá-la... Mesmo que a distância fosse grande, eu
sempre estaria ligado a ela, seus pensamentos me ocupavam a mente, conseguia ouvir
a sua mente de longe, sabendo da imensidão que este nosso momento lhe tinha
causado. Ela estava confusa, amedrontada. Era algo de novo para ela, como para
mim... Mas o problema estava em tudo o que ela tinha vivido, aprendera a odiar o
mundo, conseguindo afastar tudo o que fosse amor e entrega, libertando-se daquela
que me tinha ajudado, se defendendo e ficando impenetrável. Sentimentos não a
magoavam, não a moviam, o único objectivo que ela tinha na vida era matar o seu
criador, Gustav...
Até que eu voltei na sua vida, mas ela não sabe que eu voltei, apenas me conhece
como a pior maldição dela, tudo aquilo que ela arrancou de si, todo o seu coração, eu
o tinha trazido, eu tinha feito com que ela se tornasse novamente fraca. E ela não
queria permitir sentir, não queria... Por isso a única solução é odiar-me, convencer-se
que me odeia...
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Mas ela verá a grandiosidade que nos abalou, ela saberá que o nosso amor não é
nada que a faça mais fraca, muito pelo contrário... A nossa força será a chave para
tudo, eu bem sei do que falo... Sinto tudo aquilo o que digo, essa é a minha prova, a
verdade.
Enquanto lhe seguia o rasto, deparei-me ao vê-la à minha espera. Estava confiante,
certamente já teria algum esquema em mente, o que ela não sabia é que por mais que
tentasse, por mais que desejasse abandonar tudo aquilo que a tornava humana, os seus
sentimentos floresciam e tornariam tudo aquilo que ela toma como uma causa que
vale a pena como perdida...
- Estás aqui à minha espera? Não devias de estar já a quilómetros de distância?
- Não meu querido, eu decidi desistir de fugir e entregar-me a ti completamente...
– Arqueei sobrancelha, a sua ironia era surpreendente... A mesma Sheftu de sempre,
tal como eu sempre a conheci... Seria uma questão de tempo para que tudo voltasse ao
normal, eu acreditava piamente nisso.
- O que tens na manga, diz-me...
- Não sei se reparaste meu caro, eu não tenho mangas... – Fitei-a, observando
atentamente cada expressão, cada pensamento que a sua mente germinava. Ela
percebera que eu sabia que havia algo errado, que estava a perder.
- Sim, claro que reparei. Também reparei no meu empregado que atiras-te para
cima de mim antes de saíres disparada. Sujaste-me, sabias?
- Oh, que pena... E tinhas de mudar a roupa antes de me vir raptar de novo?
- Sabes como é, sempre do bom e do melhor para a minha esposa... – Pisquei-lhe o
olho, rindo-me ao ver que reparava em meu corpo. Por mais que ela negasse, não
conseguiria esconder o óbvio.
Agarrou-me os dois braços, impedindo que fizesse qualquer movimento,
alcançando o meu pescoço com a sua mão, pensando na melhor forma de me matar.
Mas algo a impedia, apesar da sua mente tentar disfarçar, eu bem sabia a resposta,
podia senti-lo bem dentro de mim, no meu íntimo.
- Eu bem sabia que iria sair alguma coisa como esta... – Pausei por um momento. –
Apenas gostava de te aconselhar vivamente a não fazeres o que tens na mente. Não é
por mim que o digo, o melhor para ti é não prosseguires...
- O melhor para mim?! O melhor para mim é que desapareças da minha vida, isso
sim! E já que não o fazes por conta própria, resolvi dar-te uma pequena ajuda. –
Suspirei.. – Quando chegava a hora... – Desabafei sem som, teria de ter força, a
batalha é longa e árdua, mas acabaremos por conseguir ultrapassar tudo isto. – O que
foi agora? Estás finalmente com medo?
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- Simplesmente não me ouves... Se é isso que queres, vai em frente então! –
Suspirei novamente e olhei directamente para o seu olhar, fazendo-a recuar um
pouco... As horas acabariam por passar, fazendo com que tudo se ultrapassasse.
- O que tens na manga desta vez? Que irá acontecer?
- Se nada fizeres a não ser o que te peço, nada acontece... Deixa-te de criancices e
faz o que é melhor para ti. – Procurava algo nela que me fizesse sorrir, algo que
rapidamente aconteceu, apesar da sua mente ser forte, sua alma conseguia superá-la...
Uma aliada que teria bastante em conta... – Vejo que começas a entender o que é
melhor para ti...
- O que queres tu dizer com isso? Sinceramente acho que conseguiste fugir de um
manicómio e agora meteste na cabeça que eu sou o teu novo brinquedo. Mas falta
algo nessa tua forma de ver, EU NÃO SOU NENHUM BRINQUEDO!!!
Virou-me costas, querendo escapar novamente de mim mas eu não iria permitir tal
coisa, agarrei o seu braço e voltei-a para mim. Toda a sua mente permaneceu
extremamente confusa, nem ela mesma tomava consciência de tudo aquilo que
sentíamos. Sorri, largando o seu braço, já não havia razão para temer que ela tentasse
escapar. Ela travava a pior guerra que alguém poderia ter, mas eu estava aqui... Não a
iria abandonar.
Correu novamente pela floresta, tentando escapar ao desejo que começava a
embeber-nos. Ela podia ser mais rápida do que eu, mas eu conhecia-a e a estas terras
como ninguém, pouco depois ela embatia em mim, desnorteada.
Ainda estava um pouco desnorteada, até que tomou consciência que não tinha
caído apesar do embate. Abriu os seus olhos azuis bem directamente nos meus, me
dando uma sensação estranha eu todo o meu corpo, tal profundidade, tal severidade...
Toda aquela raiva e amor num só corpo, me atraíam como íman, eu a amava pelo que
seria, por mais que isso fosse uma completa loucura.
Tentou afastar-se, mas minhas mãos a juntavam mais a mim, estando o seu rosto a
poucos passos do meu. Eu sorria, ela sabia exactamente o que estava a acontecer, e
desta vez faria com que não pudesse escapar. Mais cedo ou mais tarde ela tinha de
aceitar-nos, e aí poderia ver que afinal a felicidade eterna existe, por mais obstáculos
que possam existir. Eu respirava sobre a sua testa, fazendo com que tudo aquilo que a
sua mente criava, todas as armas que criara nela, fosse quebradas, uma por uma,
lentamente...
- Assim já começo a gostar... – Desabafei no seu ouvido, lendo a reacção do seu
corpo e da sua mente, vendo-a a tecer justificações para se deixar levar, tendo uma
grande luta em si mesma, perdendo tão loucamente a razão, dando liberdade aos
sentimentos... Deixando que eu pudesse dar mais uns passos. – Talvez seja a hora de
deixarmos os pensamentos para depois, há algo mais importante a ser feito...
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Aproximei rapidamente meus lábios aos dela, tomando-os como dono, acariciando
cada parte da sua pele branca, aquela que tantas tentações me dava... Empurrei-a para
uma árvore para que não pudesse escapar, consumando assim nossos desejos,
implorando em cada toque a sua paixão, permitindo assim que seu corpo se libertasse
das opressões e finalmente se entregasse a tudo aquilo que somos, deixando que o
incomparável fogo nos arrebata e faça em nós chamas de verdade e amor.
Suas mãos ganharam vida própria sobre o corpo que já tinha dado como dela,
permitindo que cada pedaço de si fosse aquecido pelo meu calor, que cada parte de
mim fosse enfurecidamente fervida por cada movimento que as suas mãos tomavam
sobre a pele.
- Afinal não é assim tão complicado pois não? – Segredei-lhe ao ouvido, deixando
os seus lábios e alcançando rapidamente seu pescoço, mordiscando lentamente,
beijando com doçura e calma... Saboreando cada pedaço da sua pele, aproveitando
cada segundo deste momento ao máximo, deixando que ela pudesse também saborear
o que lhe provocava, voltando novamente para os seus lábios quando ela alcançava a
minha paixão, fazendo com que arqueasse de fervor.
Beijos calmos e lentos que aumentavam cada vez mais o desejo de todo este fogo
se consumir ao máximo, apertando loucamente toda esta paixão, sentindo a total
loucura que éramos, que sentíamos, que vivíamos... Finalmente ela se tinha entregue
por completo ao meu pedido, ela me salvava a cada segundo, ela me amparava e me
fazia entregar tudo de mim, sendo totalmente um só corpo, uma só voz... E essa voz
seria cada toque, cada beijo, cada som que nossos corpos davam em uníssono, em
total harmonia e repletos de loucura...
Seus lábios tomaram o meu pescoço, beijando com gravidade, aquela que nos unia,
aquela que nos ardia bem cá dentro... Senti seus dentes a perfurar minha pele, pedindo
um pouco do líquido que corria enlouquecido pelas minhas veias, torturado por ela,
fervilhando de amor...
Sua boca sugou ainda mais rapidamente, pedindo o sangue o mais rapidamente
possível, desejando sentir mais e mais do seu sabor em sua boca, mas algo começava
a correr mal... O que tinha ingerido, o que tentava ingerir ainda mais, começava a
retirar-lhe as forças, fazendo com que o seu corpo cedesse sobre os meus braços,
perdido, sem força. Ela tentava usar as forças que lhe restavam para embeber mais e
mais de mim, querendo tomar o meu sangue de novo...
- Eu devia ter calculado... – Bufei, amparando o seu corpo, seguindo novamente de
rumo a casa. Eu devia ter tentado controlar-me, deixar que corra o risco de beber o
meu sangue não é algo que eu devo permitir que aconteça... Sua vida tinha sido salva
através do meu sangue, por isso a sua vida apenas acabaria pelo meu sangue. Ironia
ou simplesmente uma consequência da sua transformação, tornava-se grave permitir
que ficasse sem forças por minha causa.
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Deparei-me com o seu rosto ainda desnorteado, como podia causar tanta dor
apenas por tentar salvar-lhe a vida... Erros todos cometem, mas um dia todos estes
pequenos deslizes podem acabar com as nossas vidas, tão simplesmente... Eu não
podia deixar que tal coisa acontecesse, não podia deixar...
Segui rumo a casa, permanecendo o mais silenciosamente aprofundado em mim
mesmo. Como eu gostava que tudo pudesse correr da melhor forma, mas às vezes
toda aquela força que este amor me dá a toda a hora, às vezes... Por vezes penso que
seria melhor que minha vida nunca tivesse realmente acontecido, fui um selo de
morte para aquela que nunca conheci, supostamente a mãe de um monstro que a
matou. Agora tudo o que sou, aquilo que me faz orgulhar umas ou outras épocas, tudo
isso se esvoaçava e fazia-me desejar que nada disto acontecesse.
Mas esse sentimento durava por pouco tempo, o sorriso da minha alma e da minha
vida estava onde eu queria – não como eu queria, mas continuava a estar. Observei
novamente o seu rosto enquanto pousava o seu corpo na cama, não demoraria muito
até que as suas forças lhes voltassem, dando de novo a sua habitual forma de estar,
uma força de vida num ser que tinha morrido há tanto tempo.
Abracei-me junto ao seu corpo, sentindo a sua pele fria sobre a minha, esperando
que a fera voltasse à consciência. Seus pensamentos não demoraram muito tempo a
acordarem do silêncio que para mim parecia mortal, fazendo com que rapidamente
meus lábios iniciassem numa demanda pela descoberta das sensações, continuando o
que estava por acabar. Sua mente oscilava entre a grande vontade de me matar e de
me ter. Um dia, desejava eu que estivesse bem perto, ela acabaria por entender que o
que queria estava sempre do seu lado. Não iria desampará-la por mais que ela
desejasse a distância, a sua linha de defesa iria corroer-se até que permitisse a minha
entrada na sua vida, já que estava derradeiramente a preencher a minha.
Voltou-se para mim, observando-me e fechando os seus olhos, para minha
perdição. Eu queria vê-los, queria sentir toda aquela furiosa paixão que fluía na sua
mente...
- Podes abrir os olhos, que eu não te mordo por me teres dado uma dentada... –
Falei com calma, fazendo-a observar-me curiosa. A sua curiosidade seria a minha
eterna aliada, eu bem conhecia todos aqueles caminhos que ainda me faltavam para
que sua mente tomasse finalmente consciência de tudo aquilo que vivemos. E esse dia
chegará, se não chegar então que a morte me apanhe, que me estilhace e me desfaça
pelas horas em que vivi. Nada sem ser tudo aquilo que amo e sinto me importa, tudo
se baseia nesse amor derradeiro, de total entrega, de completa loucura. Porque o amor
é incomparável e eterno.
- Porque me sinto mal? Vais voltar a enfraquecer-me para eu não fugir até muito
longe?
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- Não comeces por aí... Fizeste isto a ti mesma. – Tentei tocar-lhe, sem sucesso. –
Eu tentei te avisar, mas já sabes que não me ouves... Deixa que as coisas sejam o que
são...
- NÃO! – Gritou rispidamente, ao fechar e segurar seus olhos com toda a força que
podia. O conflito já vivia nela, aquela batalha seria difícil de se travar, sua morte a
tinha feito mágoas, e a vida que deixara para trás as suas marcas. Eu sabia bem de
tudo isso e estaria aqui, não a iria deixar que aguentasse tudo na solidão que sempre
cria em sua volta, antes a maior das torturas do que permitir tal coisa.
- Está certo... Se não queres aceitar a verdade, ela um dia chegará a ti. E eu tenho
tempo para que isso aconteça. – Disse, apoderando-se um enorme silêncio. Lia em si
todas aquelas lutas, toda aquela violência que sentia em si mesma, uma destruição
que sempre a consumia a toda a hora, que se encarrega de a tornar fria, de fazê-la
esconder tudo aquilo que vive em si. Era essa a sua maior arma, mas também a sua
enorme fraqueza...
- Desculpe interromper senhor Manen, mas tenho aqui ao telefone o senhor
Humbert... Ele diz que é urgente, não sei se quer atender ou... – Entrava uma criada,
com um telefone na mão, abrindo a sua face com total admiração perante Sheftu,
certamente lhe lembrava algo, aqueles quadros que pintara em novo, desejando que
minha mente nunca se esquecesse sequer de um traço dela.
- Sim, sim... Eu atendo... – Respondi, tentando não fazer caso da sua total
incredibilidade perante o que via com os seus próprios olhos. Levantei-me, pegando
no telemóvel e saí do quarto. Quem seria? Ah, Henry. O que seria desta vez... – Podes
dizer.
- Creio que estás ocupado, mas acredito que o que vou dizer é importante...
- Sim, podes dizer...
- Tenho tentado contactar Pan, mas ela não responde nem dá qualquer sinal de
vida. Achas que devo começar a tentar descobrir o que ela fez desta vez?
- Acredito que não gostarei nem um pouco do que acabarás por descobrir, meu
velho... Mas sim, entra em contacto com as pessoas habituais e encarrega-te que
descobrem o que se passa o mais rapidamente possível.
- Dentro de minutos saberei, deixei uns amigos meus a observar, apenas preciso de
uns minutos para saber ao certo o que se passou.
- Sê rápido, até já. Espero notícias. – Disse, desligando.
Custava-me ter de deixar esta casa assim, ainda agora tínhamos chegado e
partiríamos logo de seguida. Tinha de preparar o carro e também chamar algum
transporte para Moscovo. Não sei porquê, mas havia algo que não iria gostar mesmo
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nada... Por vezes Pan me irritava com os seus actos de criança mimalha, apenas por
pensar ser minha aprendiz, acreditava realmente que teria total controlo sobre mim.
Estava completamente enganada se a ia deixar sair impune. Não faz a mínima ideia
do que lhe vou fazer desta vez. Ridícula esta forma de estar constantemente a vingar-
se pelo que lhe contradigo, começo a fartar-me...
- Sim, já tens algo? – Atendi mal o telemóvel tocou, à espera que tivesse uma má
notícia.
- Tenho e creio que não vais gostar mesmo nada. É sobre a Carmen.
- O que se passou? O que tem a Carmen?! – Perguntei ligeiramente alterado.
- Pan levou-a durante a luz do dia, sem nenhum arranhão... Mas depois
abandonou-a num hotel debilitado, e levou o que parecia ser o carro da Carmen. Um
dos homens ficou de vigia no hotel, e parece que ela ainda não saiu de lá.
- Se eu a apanho... Diz-me onde isso fica que vou lá ter, manda para lá os homens
que puderes, talvez precise de ajuda.
- Está no Hotel D’Rouge, os homens irão buscar-te. Quando chegas?
- Iremos pelo ar, tenta não levantar muitas suspeitas. Uns três devem bastar.
Quando estiver a partir aviso-te.
- Está certo, tem calma... Não faças nada de louco.
- Não te preocupes, já sabes como sou.
- É por isso mesmo que me preocupo ainda mais...
- Está certo, agora vai tratar do que te pedi. – Ordenei, indo em direcção à floresta.
Necessitaria de ajuda caso Pan tivesse feito alguma loucura, só esperava que tudo isto
não acartasse graves consequências para Carmen. Aposto que tinha ido directamente
para onde Dean estivesse. Mas o que queria ele afinal? Teria o maior cuidado com
ele, caçadores com sede de justiça sempre se tornavam parvos mas também loucos.
Nem queria imaginar o que podia fazer caso ela desse um passo em falso....
- Arranja-me um helicóptero para daqui a meia hora e vem buscar-me à estrada
sul, não quero causar suspeitas. – Pedi, enquanto acabava de chegar à pequena casa
no meio da floresta, batendo calmamente a porta de madeira.
- Entra, estava à tua espera... – Respondeu uma voz feminina de dentro.
- Então, já deve saber ao que cá vim... Desculpe a ausência.
- Sim, meu caro, eu sei... Andaste ocupado, demasiado ocupado tenho de te dizer...
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- É, provavelmente já deve calcular ao que vim... Conseguiu? – Perguntei, com
uma certa ponta de alegria... Raramente me alegrava por ela saber sempre tudo o que
me trazia aqui, mas agora era diferente. Acenou apenas a cabeça, observando-me com
um pouco de preocupação. – Há algo que te preocupe?
- Perdem-se vidas, perdem-se memórias. Tua fúria florescerá, não muito longe,
não muito longe... Vai e leva o que vieste buscar, não lhe digas para que serve pois
essa hora estará longa, apenas vai e não voltes antes das horas malditas voltarem.
- Eu não... – Tentei falar mas ela interrompeu-me com a sua mão, hoje não era dia
para perguntas, apenas para respostas ao que não perguntava...
- Sei que não entendes, mas a hora que tanto anseias brevemente chegará. Não tão
breve como a fúria e os gritos de terror. Vai, segue o teu caminho e apenas volta
quando chegar a hora em que precisares. Não te esqueças o que cá vieste buscar, sei
que darás na hora indicada, fá-lo em silêncio. Respira fundo, vai e segue o teu
caminho.
Saí da sua casa e observei o objecto negro que tinha retirado de um pedaço de
cabedal que o cobria. Seus olhos vermelhos pareciam duas chamas, duas chamas
feitas para arderem, para fazerem grandes estragos no futuro. E como essas chamas
realçavam sobre o negro, o sol incidia perfeitamente...
Embrulhei novamente o objecto sobre o cabedal e coloquei-o no bolso fundo do
meu casaco. Mas as suas palavras não faziam qualquer sentido para mim... Fúria e
gritos de terror?! Mas o que raio seria? E a hora que eu tanto ansiava, nunca tinha
duvidado das palavras dela, nunca nestes anos que nos conhecemos se enganou em
nada do que disse. Mas as suas palavras faziam-me temer e jubilar. Como algo tão
oposto poderia ajudar-me a algo?
Enquanto me aproximava de casa, uns sons estranhos ecoavam pela floresta,
fazendo com que eu corresse ainda mais, para que chegasse mais rapidamente. Algo
me dizia que o que a velha senhora me tinha dito estava a acontecer, agora faltava
saber o quê.
Não me faltou muito tempo para que realmente soubesse, ouvia gritos, ouvia
chamas a lavrarem sobre a madeira antiga, observei atónico... Inacreditável,
inconcebível... MAS PORQUE RAIO?! PORQUÊ?!
- SHEFTU! – Gritei, de olhos fechados para que não me descontrolasse, para que
não sequer me recordasse do que se passava mesmo à minha frente. Era um colossal
genocídio, aquelas pessoas que morriam pelas labaredas ainda vivas, outras que já
deviam ter morrido pelo fumo inalado, as memórias todas a serem queimadas, minha
vida apagada, meu mundo que construí, tudo aquilo que tinha sonhado, tudo... Tudo
aquilo estava a ser totalmente devorado, um genocídio de pessoas, um genocídio do
meu passado...Algo me dizia que a festa ainda agora tinha começado... Abri os meus
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olhos e observei-a encostada a um tronco a deliciar-se com todo este momento, a
deliciar-se com o que via em mim, a sentir prazer pela destruição que criava. Segui
até ela, tentando controlar-me, tudo o que dissesse seria depois absorvido e criado
como uma defesa contra nós. Já nem sabia mais se queria mesmo que houvesse algo,
era ridícula esta infantilidade toda nela. Ridícula!
- Sim, que desejas? – Perguntou sorridente. Até em seus pensamentos permanecia
totalmente deliciada, já não pela destruição que fazia, mas sim pelo meu sofrimento...
- Porque fizeste isto? – Perguntei, indicando o centro de tudo o que estava a
acontecer.
- Pensava que estavas com frio, por isso resolvi aquecer-te um bocadinho... Não
gostaste da surpresa?
- E resolveste incendiar a minha casa? – Tentei acalmar-me, estava completamente
fora do controlo, sim... Eu ia conseguir superar este momento, ela um dia iria ver que
tudo isto tinha sido um grande erro! Mas não terá sido uma vingança? Será que ela
encontrou as minhas memórias? Certamente... É mesmo dela. Raios. – Encontraste os
quadros, não foi? Destruíste a casa por causa dos quadros... É mesmo algo que
deveria esperar de ti!
Virei-lhe as costas para tentar ver o que tinha em mente, o que iríamos fazer agora.
Carmen precisava de ajuda! Não podíamos demorar muito tempo, estaria em perigo...
Pelo menos enquanto a ajudava podia esquecer-me um pouco disto.
- Estou, afinal não necessito do carro. Encontro-vos daqui a cinco minutos, espero
que estejam prontos a descolar, ok? – Falei mal ouvi uma voz a responder do outro
lado, desligando logo de seguida mal ouvi uma resposta afirmativa.
Voltei-me de novo para ela e peguei-lhe no braço, seguindo caminho ao
helicóptero que esperava que estivesse rapidamente preparado. Tentei me acalmar
enquanto caminhávamos, mas sempre que fechava o olhar era como se as chamas me
ofuscassem a mente e o olhar, respirava fundo, tão fundo... Mal chegamos estavam
logo todos prontos a descolar, limitei-me a fazê-la entrar e a verificar a paisagem
durante todo o tempo que a viagem tinha durado. Eu não queria pensar mais no
assunto, não agora, não queria enervar-me. Era de calma, calma que eu precisava...
Eu lia a sua mente que não demonstrava qualquer mágoa pelo que tinha acabado
de fazer, mas o meu silêncio mexia com ela, mas permanecia a tentar convencer-se de
que nada mudaria, que voltaria a fazer o mesmo, sempre igual, sem mudanças.
Veríamos isso daqui a umas semanas, veríamos!
Quando aterramos, segurei-a pela mão levei-a para fora, lendo na sua mente que já
tinha consciência do Hummer cinzenta que nos esperava, pensando que os
passageiros seriam lanche? Sinceramente, observei-a com um tom carregado que a
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surpreendeu, não sabia o que eu conseguia saber... Pensou que lhe tinha dado aquele
olhar por ter incendiado a casa, suspirei em soslaio e continuei a ler a sua mente...
Afinal não estava tudo perdido, sentia-se bem por ter feito a rapariga comprar-lhe
um vestido, salvando-lhe a vida. Tentando não se sentir culpada, já se sentindo,
mesmo que nem a si mesma o quisesse aceitar.
- Leva-nos para uma loja de roupa de senhora, faz favor. – Disse ao condutor,
ouvindo de novo um gracejo silencioso de Sheftu sobre algo como incendiar uma
casa de moda. Revirei os meus olhos, observando-a com uma certa tentação para lhe
dizer algo, mas decidi não me pronunciar. Não queria que ela soubesse que a minha
mente conseguia ler a dela, não iria revelar isso ainda, não era a hora para isso...
- Sai. – Disse-lhe, depois de ter saído e esticando-lhe a mão para que saísse. Ela
aceitou, decidiu poupar-me por causa dos estragos feitos por hoje. Muito bem, pelo
menos teria um pouco de descanso...
Ela tinha reparado no tempo, um dia radioso, como a sua mente o dizia... Entramos
na loja e segui de imediato a um vestido negro, tal e qual ela tinha pedido à menina
que tinha salvado das chamas. Não queria ela um vestido? Então bem que o teria, tal e
qual o tinha pedido.
- Gostaria de levar este vestido. – Assinalei agradavelmente à mulher.
- É para levar já ou enviaremos para sua casa? – Perguntou-me com
profissionalidade.
- É para vestir. – Respondi, virando-me agora para a Sheftu. – Vai com a Madame
e veste-te. Eu esperarei aqui.
As minhas palavras a surpreenderam, não entendia minimamente o que eu estava a
fazer. Tentou ver algo em mim que lhe pudesse dizer a razão, mas na minha face não
demonstrei qualquer palavra. Sem sequer reclamar, voltou-se para a madame e seguiu
com ela para que fosse então vestir-se. Aproveitei para sair, estava na hora de salvar
alguém extremamente teimoso e completamente louco...
Mal entrei no Hummer, mandei arrancar para o Hotel. Demorou apenas uns
segundos até que o encontrassem, degradante e horrível. Lembrei-me da imagem que
Carmen tinha do Dean na sua mente, só podia ser ele que estivesse em tal local.
Temia pelo que estivesse a acontecer.
Entramos pelo hotel, não havia ninguém à entrada que me pudesse dizer onde ela
poderia estar... Tínhamos de ser rápidos, tentei captar a mente de Carmen, que parecia
divertir-se com uma luta que estava a ter com Dean, corri rapidamente pelas escadas,
tentando chegar o mais rapidamente a ela, havia altos e baixos na luta que ouvia por
ela. Parecia que os dois experimentavam um tipo de ritual de luta... Ela estava a
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adorar tudo aquilo que sentia, quer quando tomava vantagem quer quando a perdia,
desejosa de ter a vantagem novamente. Era uma loucura que lhe podia custar a vida.
Ele tinha acabado de tomar de novo o controlo da situação, tinha agora chegado ao
que parecia ser a porta onde estavam, nuns quantos lanços de escadas, no fundo de
um corredor. Abri a porta e rapidamente os meus homens apanharam-no, eu segurei a
Carmen, para sua própria segurança. Incrivelmente, ela tentava soltar-se para
conseguir ajuda-lo, sem que tomasse consciência de que era eu que a segurava...
Completamente vidrada em toda esta situação, nunca a tinha visto de tal forma, seu
lado humano parecia ainda mais seguro neste momento, perdida algures pelo que
guarda do que ela foi...
- Larguem-me! – Deu-me um encontrão. ― Larga-me!
- Carmen, sou eu! – Falei-lhe para que me reconhecesse. Ela afastou-se de mim e
olhou-me.
- Mas, que raio pensas tu que fazes?! Afasta-os dele, imediatamente! – Fiquei
assustado com a sua aparência, com toda aquela dor que via nela. Acreditava que se
fosse humana estaria prestes a ter um ataque, a sua histeria estava completamente
exaltada, não a conseguia ver, perdida algures por aquela dor que a lia, que a via
sentir. Não a dor do seu estado, um estado miserável, mas algo que eu não tinha bem
ainda a certeza do que poderia ser... Seria choque? Traumatizada talvez...
- Carmen, precisas de te acalmar...
- Cala-te e faz o que eu digo, Eric! – Ordenou-me ríspidamente.
- Okay! – Disse, dizendo aos meus homens para pararem com um estalar de dedos.
Ela observou-o no chão, sentindo um aperto em si mesma pelo estado em que estava.
Era incrível o que este homem que está pronto a matá-la a faz ser... Demasiado
assustador, ela não podia aproximar-se mais dele, não podia... – Pronto, agora vamos.
Temos que cuidar de ti. Precisas de beber alguma coisa, tens os olhos raiados de
sangue e temos que e cuidar dessa mão.
Ela permanecia focada naquele homem deitado no chão, como se sofresse
juntamente com ele, segurei-a pelos ombros, levando-a para fora, para minha surpresa
deixou-se levar.
- Um de vocês fica no carro e os restantes procuram pela Pan, ok? – Ordenei, os
homens seguiram em passo rápido à nossa frente, desaparecendo em segundos.
- Deixa-me ver essa mão...- Pedi-lhe.
- Estou bem...
- Não acredito que a idiota da Pan fez uma coisa destas e depois desaparece! Juro,
que por vezes não sei porquê que ela anda por aqui! Idiota da mulher... – Desabafei. –
Se a apanho ela nem sabe o que lhe vai acontecer desta vez. Não vou ingolir isto
facilmente, ela tem muito que se desculpar... Ai tem. Idiota sou eu que a deixo fazer
estragos, dando-lhe sempre novas oportunidades. Mas ela vai ver agora a
oportunidade que lhe vou dar...
- Bom ver-te de pé, Carmen. - Disse Sheftu, ao entrar no hotel enquanto estávamos
no ainda hall. ― Xiii...tas cheia de sede. Olha-me para esses olhos.
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Olhei para Sheftu ainda a sentir um pouco de tudo aquilo que se tinha passado, não
escaparia, eu tinha de lhe falar, tinha de saber... Fui para perto dela, baixando a voz
para que Carmen não ouvisse, já me bastava tudo aquilo que ela agora vivia.
- Vieste agora pegar fogo aqui também? – Murmurei-lhe.
- És incrível! – Respondeu-me, meia irritada por tê-la deixado lá.
- Eu é que sou incrível? Fui eu que incendiei a minha casa e ainda sorria?
- Claro que foste tu... Não foste tu que tinhas os quadros?
- Supostamente uns quadros que não seriam para veres...
- Pois, calculei que sim...
- Então já sabes?
- Sei o quê?
- Sabes muito bem do que estou a falar.
- Não sei não...
- Olha...
- CARMEN! – Observei o homem em cima das escadas, ainda vivo? Não podia ser
por muito tempo... - Não...
Queria ter feito algo, mas fiquei congelado a ver Sheftu a seguir rumo a ele e a
prostra-lo no chão. Às vezes até que podia sentir um certo orgulho de a ter como
minha...
- NÃO! – Gritou Carmen, indo ao encontro deles e salvando-o das presas de
Sheftu, mais uns segundos e puff... Bem que teria de vingar-se como fantasma.
Permaneci quieto, a observar a raiva que Carmen fazia gerar em si mesma aliada à
alegria de Sheftu por a ver a ser finalmente o que a sua natureza lhe chama a ser. Ver
as duas a lutar era até que interessante... Estavam as duas fracas, as duas esfomeadas,
as duas cheias de energia para se matarem ali. Não que isso acontecesse.
- Se quiseres morder alguém, fica-te pelo Eric...― Não consegui não sorrir... ―
Encostas um dedo no Dean e eu arranco-te a cabeça.
Ela largou uma enorme gargalhada como se não quisesse acreditar.
- Não tens força para enfrentar-me. Dou cabo de ti... – Encorajou Sheftu,
provocando-a ainda mais, queria ver até onde a loucura de Carmen ia, e pelo que a
mente dela me dizia, essa loucura sairia bem caro...
- Não...me...provoques, Sheftu. Eu sei modos de magoar vampiros que nem te
passam...
- Que tremo toda! – Encorajou mais uma vez, irritando-a ainda mais. Comecei a
preparar-me para intervir, era muito divertido, mas não queria que nenhuma delas
saísse morta. Sim, porque eu bem sabia qual delas morreria, só o meu sangue mata
Sheftu. Só o meu sangue a enfraquece. Sua pele cura tão rapidamente, é tão dura que
só com o meu sangue se pode cravar algo nela. Carmen era a minha amiga e antiga
amante, tinha carinho e muita história com ela. Ainda a tinha salvado, agora iria
morrer? Não me parecia...
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- Treme, sim...numa múmia como tu, que tem os ossos como pó, não é difícil fazer
vergar... – Replicou Carmen, enfurecendo um pouco a Sheftu. - Quebras num estalar
de dedos!
- Chega! – Ordenei, metendo-me entre elas e tentando acalmar os ânimos. Sheftu
acalmou-se um pouco, pensando novamente no que tinha feito por hoje e sentindo um
pouco de remorsos. Apontei para a saída e continuei. – Sheftu, vai.
― O quê?!
― Vai! – Repeti ainda mais furioso com a situação, ela não ia continuar com isto.
Enquanto descia deu um pontapé ao homem no chão e gargalhou alegremente, tentei
suportar por causa do que a Carmen estava a sentir mas dei um sorriso rápido, antes
de segura-la pelo braço antes que se atirasse à Sheftu. – Fica ai... – Pedi à Carmen,
aproximando-me do homem... - Basta tocares um dedo sequer nela que eu não
prometo que fiques vivo por muito mais tempo, mesmo que ela me peça. Estás
avisado. – Ameacei-o seriamente.
- Vai-te lixar, meu! – Respondeu-me corajoso, não consegui não sorrir com a sua
estupidez.
- Das duas, uma: ou és um idiota completo ou queres mesmo morrer. Considera-te
avisado! – Ficara quieto, nem sequer ousei entrar na sua mente imunda. Ergui-me e
convidei a Carmen a seguir comigo. Sua mente duvidou se realmente deveria ir, mas
lá acabou por aceitar a minha mão e fomos embora, ela desejava olhar para ele mais
uma vez, mas havia algo que não a deixava. Talvez o bom senso, pensei eu...
Corremos com rapidez para o Hummer, mesmo assim quando ela entrava estava a
fumegar. Ao entrarmos a mente de Sheftu era como e gritasse por respostas, fazendo
perguntas silenciosas, tentando descobrir algo que pudesse nos fazer amigos. Não
podia deixar de achar extremamente curioso todo este interesse que ela tinha por nós,
até Carmen tinha notado, não que fosse difícil com ela a observar-nos do banco da
frente com uma expressão pouco amigável. Mandei que seguissem caminho à
penthouse, teríamos sérios problemas, agora que Pan se tinha tornado vingativa...
- Carmen...- Falei, fazendo-a voltar-se para mim, sobre o atento olhar de Sheftu em
casa detalhe, dando-lhe uma garrafa prateada. ― Não faças perguntas.
- Eric, sabes que não gosto que me dês o teu sangue...
Sorri alegremente, aproximando-me mais de perto, vendo o que provocava na
mente de Sheftu, sentindo uma pontada de vingança feita, a sua curiosidade mais uma
vez se aliava a mim...
- Não sejas tola, eu preciso de ti inteira, Carmen. - Meti a garrafa entre as suas
mãos. - E sangue, repõe-se! Agora, bebe.
- Estou assim tão mal?
― Hedionda! Faz anos que não te via assim tão sedenta e irada. ― Observei bem
os seus olhos, como careciam de sangue, e como ouvia a mente de Sheftu tão
claramente... Mas o mais importante agora era que Carmen necessitava do meu apoio,
nem sabia ao certo como tinha ela aguentado tanto, com tanta sede, em tão mal
estado... E nem sentiu realmente a necessidade de beber o sangue daquele homem
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todo partido, era impressionante a capacidade de concentração dela. – Tens os olhos
totalmente vermelhos agora. És um fenómeno a estudar, Carmen.
Minha atenção ia da mente de Carmen, que se admirava por me ver tão aliviado e
contente por a ver bem, e de Sheftu, indignada e revoltada. Todas as questões que a
perturbavam, tantas as dúvidas... Algum dia iriam ter resposta?
Carmen pensava no que sentia quando bebia o meu sangue, feliz pelo que fazia a
Sheftu, a sua ignorância que a punha bastante entretida. Sua ignorância aliava-se a
algo mais que eu gostaria de pensar como ciúme, mas não podia ter certezas sem que
ela as tivesse...
O carro parou, era a hora de seguirmos para dentro de casa... Tinhamos de pensar
em algo que não pudesse torna-la em cinza...
- Temos que arranjar maneira de saires, Carmen. - Disse pensativo.
- E a Sheftu? – Perguntou-me ela. E uma mente se intensificou de ferocidade,
tentei nem ligar muito ao assunto e fiquei calado.
- Não é preciso... - Abriu a janela e colocou o braço de fora, fazendo com que
Carmen ficasse completamente espantada, fazendo-me sorrir brevemente. – Eu não
preciso de feitiços, para nada.
- Isso não faz de ti uma melhor vampira. – Acusou-a, já iriam começar de novo? -
Torna-te apenas uma aberração...algo esquisito...
- Motivo de inveja. – Ripostou-a.
- Para quem não tem algo melhor que invejar. – Contestou.
- Como tu. – Sorriu com triunfo. Estavam ambas prontas para uma nova disputa,
mas rapidamente toquei no braço de Carmen para que parasse, fazendo com que
Sheftu se irritar completamente.
Eu simplesmente permaneci calado, com um olhar vago mas rapidamente voltei a
estar em alerta ao sentir que tudo tremia, seguindo-se de espelhos que caiam em cima
do carro, tendo todas as pessoas caído no chão...
- Vidro? – Ouvi Carmen, completamente surpresa.
- SAÍAM DO CARRO!! – Gritou alguém ao nos alertar, algo vinha ao encontro do
carro.
Saí rapidamente do carro, seguindo Sheftu que se escondia sobre as sombras de
um edifício em frente à sua casa, agora desfeita. Olhei para ela e vi que nada de mal
lhe tinha acontecido, segui o seu olhar e observei a Carmen ainda dentro do carro,
como tinha ela ficado por lá? Queria matar-se? Um pouco tarde para isso... Devia ter
tentado antes de ser morta e transformada...
- Tem calma que tudo se resolve rapidamente... – Respondi aos pensamentos de
Sheftu, preocupado pela sua reacção.
- Eu estou calma... – Suspirei e segui para o acidente, tentando tomar controlo de
tudo, para que não retirassem-na do carro, antes que se transformassem em pó. Senti-
a a segui-me mas pedi-lhe para ficar com a minha mão, elas tinham de desaparecer
até que eu soubesse o que tinha acontecido.
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Observei o hotel e apenas a penthouse parecia ter sido afectada... Era muito
estranho... Eu ouvia cada pedaço da preocupação de Sheftu que se aliavam às minhas,
era necessário conseguir tira-la em segurança e sem dar nas vistas, o mais possível.
Aproximei-me do carro e vi que Carmen estava inconsciente, morta para aqueles que
lhe tocavam, algo já perdido.
- Acreditem em mim, um abado destes, ninguém sobrevive. Não conseguem ver
que ela já está morta? – Tentei convencer o chefe da corporação de bombeiros.
- Nós temos de fazer tudo o que temos ao nosso alcance para salvar as vidas, e
você quem é?
- Eu sou familiar, e queria que me deixassem levar os corpos para um local mais
apropriado.
- Não compreendo porque tenho eu de permitir que o faça... – Acusou-me.
- Se você estivesse na minha situação, veria todo o sofrimento que estou a sentir...
Não vê que impedir-me é impossível? Estou a pedir humildemente que me deixe
levar a minha família comigo, e como pode negar isso a alguém que está em
sofrimento?
- Acha que consegue convencer-me com essa conversa? Ninguém está morto até
que nós o vejamos.
- Então veja, já começa a ficar fria e seu coração já não resistiu ao embate...
Porque necessita você de me proporcionar tanto sofrimento, não acredita que a
família é a minha prioridade? Está a por em causa tudo aquilo que tento fazer pela
minha família? – Tentei olhar bem no seu fundo, tentando captar tudo aquilo que
podia para que levasse os corpos que quisesse... Ele nem os iria ver, apenas com um
pequeno toque... – Não me diga que não tem coração, me deixe levá-las, levar a
minha família...
- Está certo, leve a sua família mas tente não dar muito alarido... – Respondeu
virando-me as costas... – Nem sei porque aceito o pedido deste louco... Sinceramente,
já tive melhores dias...
- Henry, necessito de uma carrinha e de uns sacos para que as vampiras não se
esfumassem à frente de todos, seria catastrófico... E já agora, depois preciso de um
carro para que depois me leve a alguém... – Disse, mal ouvi a sua voz do outro lado
do aparelho.
- É para já, uns cinco minutos e já terei o que necessitas.
- Sê o mais rápido possível... Necessito de rapidez. – Disse, desligando a chamada
e voltando-me de novo para Carmen. Teria de ser bastante rápido, bastante
competente para que nada desse errado. Não queria magoa-la nem chamar a atenção
da população que via o acidente com toda a atenção...
Rapidamente meus homens chegaram e me acenaram com a cabeça. Segui para a
rapariga que vivia com elas, para que pudesse saber se viria comigo ou não.
- Finge que estás completamente morta, vamos te tirar daqui para que não apanhes
sol nem sejas apanhada. – Sussurrei sem que os humanos pudessem captar qualquer
coisa que eu dizia, chamando os meus homens para que procedessem ao resgate
delas.
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Agora seria a parte mais difícil, retirar Carmen sem que nada corresse mal... Levei
um saco que eles tinham trazido, pousando-o ao lado do carro destroçado e
observando em volta, para ver se alguém nos observava. Havia uma mulher que
berrava loucamente dentro de um outro carro que tinha ficado parcialmente
destroçado, ela parecia chamar toda a atenção possível para que eu pudesse ter espaço
de manobra.
Gentilmente abri a porta e amassei tudo o que estava a prender o seu corpo, agora
que estava pronta a sair, peguei no saco com uma mão e o coloquei por cima, fazendo
com que o mínimo de raios solares a afectassem, com uma certa vitória sorri, sendo
ajudado pelos homens que seguravam no saco, pousando outro sobre o meu joelho
para que a colocasse lá. Mal a tirei, rapidamente a cercamos com o saco para que
nada se queimasse... Levamos para dentro da carrinha, colocando-a ao lado do saco
da outra mulher. Rapidamente toda a minha atenção se focou em algo como uma casa
que ardera e num sorriso bem aberto: Sheftu.
Ela rapidamente veio e entrou, questionando-se pelo número de sacos que
permaneciam fechados. Abri o que seria o seu, preenchido com areia, perante a sua
questão em mente, fazendo-a rir.
A mulher saiu do saco, agora que começávamos a seguir caminho para um local
mais indicado, ficamos todos em silêncio até que as portas novamente se abriram.
Peguei no corpo de Carmen ainda dentro do saco, mesmo antes de Samantha ter
colocado o dela pelo corpo para que pudesse correr mal visse para onde iríamos. Era
uma velha morgue, bem no fundo de uma antiga casa que Henry tomara como sua
para estudar alguns corpos, enquanto tentava compreender a natureza humana, mas
tão rápido se fartou que agora apenas as paredes podiam contar o que se tinha
passado...
Pousei o seu corpo numa mesa antiga, observando depois Sheftu e a mulher que
tinham acabado de entrar também... Chegaram ao meu lado e segredaram-me a avisar
que já estava tudo preparado para a viagem. Era a hora que me custava mais,
preocupava-me o que poderia acontecer, mas certamente aceitaria de bom grado a
minha retaliação pela Carmen, tinha de aceitar... Necessitava-mos de algum lugar que
não pudesse ser calculado por ninguém. Acreditava que tudo isto não era apenas uma
pequena figa de gás, talvez quisessem algo, apenas me faltava saber quem e o quê...
- Miss Saint, espero que compreenda que terá de cá ficar com Carmen. Eu e Sheftu
voltaremos rapidamente. – Disse à mulher, fazendo-a arrepiar-se com a minha
melodiosa suavidade...
- Não, prefiro ir com vocês. Não tenho mesmo nada aqui a fazer. – Respondeu-me.
- Creio que não poderá sair sobre a luz do dia. – Retorqui.
- E Sheftu pode? – Perguntou-me com indignação, não achava justo... Não havia
nada a debater.
- Claro que posso... – Sheftu riu-se falsamente para ela, desejando que a morte
realmente pudesse afecta-la através dos simples raios de sol...
- Sim, ela pode. – Suspirei, olhando para ela. Porque tinha de ser sempre assim?
Era sempre tão complicado. Por vezes mais valia não ouvir nada, ter o silêncio da sua
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mente... – Peço-te imensamente que fiques aqui a cuidar de Carmen. Nós não vamos
demorar muito, rapidamente voltaremos...
- Fico porque não tenho como sair.
- Agradeço-te imenso. Olha, eu um dia compensar-te-ei. – Prometi-lhe, fazendo
com que rapidamente toda a sua essência mudasse... Recompensa, a palavra mágica
para ela.
- Tens a certeza? – Perguntou-me Sheftu, desconfiada... Pois, tinha que desconfiar,
não se esperava outra coisa...
- Claro que tenho. – Respondi-lhe sem qualquer sombra para dúvidas. – Agora
temos de ir, não deveremos demorar muito tempo.
Saímos da morgue e entramos no carro para a minha próxima tortura... Iria ser
longo demais para o meu gosto...
- Precisamos de falar, estarei aí dentro de momentos. – Disse a Lawrence pelo
telefone, desligando de imediato.
O silêncio apenas se abria pelos constantes pensamentos dela, que pensava sobre
todo este dia, sobre a casa e sobre os quadros, desejando que esse tema jamais
surgisse, que o silêncio permanecesse porque ela não queria confirmar o que já sabia
que era real. Ela sabia agora de tudo, ou desconfiava. Sua própria mente jogava para
que não se recordasse, para que não desvendasse totalmente as suas suspeitas e que a
observava. Ela sentia os meus olhos nela, observava a paisagem e tentava concentrar-
se apenas nisso, no que via pela janela... Como se soubesse que eu conseguia saber o
que pensava, mesmo sem o saber... Tornava sobre si mesma mistérios, com
consciência de que tudo era real, querendo jamais pensar nisso.
Entramos numa das mansões que Lawrence tomava como dele, fazendo Sheftu
observar bem todos os detalhes por onde passava...
- Nos encontraremos com um vampiro conhecido meu, espero que nada digas a
não ser o estritamente necessário. Não necessito de mais problemas pelos próximos
séculos, faz-me o favor de manter essa boca fechada. – Informei-lhe.
- Como queira o senhor. – Gracejou, achando estúpida o pedido.
- Ainda bem que entendeste. Agora só espero que o faças que tudo se tornará mais
simples.
Mesmo sem que ela respondesse, ouvi o seu som pelo chão. Aqui estava ele,
Lawrence, mesmo à minha frente. Sheftu o avaliava completamente, acertando em
cada detalhe que desenhava na sua mente.
Vejo que trouxeste algo novo... Será para mim? Carne nova para me divertir? As
suas palavras me chamaram a atenção, ia responder mas reparei que não tinham sido
mesmo ditas apesar das ter sentido como punhais vivos de palavras sujas. Olhei-o
vivamente, com uma fúria que o marcou. Está certo, agora sai dos meus
pensamentos. Não deixaremos a Senhora à espera que realmente algo comece.
Acenei sem vontade.
- Ela é a tal? – Perguntou-me em voz alta, desnecessariamente.
- Sim. Mas não foi para isso que cá viemos. – Respondi rispidamente, divertindo-a.
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- Desculpe as maneiras deste homem, Madame. Apesar da idade ainda não
aprendeu como se comporta perante uma senhora como você. Meu nome é Sir
Lawrence Attwood. – Disse com toda a classe, pedindo a sua mão delicadamente para
a beijar. Afinal é ainda mais bela do que a pintavas... Pensou novamente, captando a
minha atenção mais uma vez. Raios! O que raio estou aqui a fazer...
- Não temos tempo para estas coisas, Lawrence. – Interrompi-o, colocando-me
entre eles.
- Vejo que continuas como sempre, sem quaisquer maneiras.
- Não importam as maneiras. Iremos finalmente ao que interessa ou continuarás a
tentar adiar o que tenho para pedir?
- Certamente, sigam-me...
O seguimos até uma sala, pedindo com delicadeza que ela se sentasse na poltrona à
sua frente.
- O que vos trouxe por a minha humilde casa? – Perguntou-nos depois de um
longo silêncio. (aslaifos)
- É pouco provável que tenhas ainda conhecimento, mas a penthouse em que
Carmen vivia teve uma explosão. Como deves calcular, ela não morava lá sozinha e
temo que os restantes moradores estejam em risco, por isso serei breve. Necessitamos
de uma casa.
- Hum...e no meio disto tudo presumo que a Carmen esteja bem.
- Sempre esteve. – Respondi friamente.
- Isso é discutivel, Eric...
- Tens alguma coisa a dizer-me, Lawrence? Porque se tens desembucha!
- Não, meu caro nada que já não saibas... – Relembrou sem grande vontade. - Pois
bem, então tereis a vossa casa para morar. Não sei porque razão cá vieste.
- Teria caso não me tivessem incendiado a casa. – Recordei com um pouco de
desgosto aqueles momentos que se tinham passado apenas há algumas horas.
- Então que quereis de mim? Sempre podereis comprar mais, não sou eu aquele
que nada tem? – Respondeu-me ironicamente, tentando fabricar uma velha briga
habitual. Mas não iria permitir que isso acontecesse, estas guerras não eram para
agora. Prioridades.
- Penso que não necessitais da vossa casa, e como estão todos os moradores dados
como mortos, creio que Carmen terá de se esconder, juntamente com todos os que
estão em risco. – Informei com a maior seriedade possível, sem demonstrar qualquer
ofensa.
- Entendo... Será que tereis tempo para me explicar melhor o enredo de toda esta
situação? – Haverá algo que me estás a esconder? Porque se estás, se é algo
perigoso, eu tenho de saber. Disse-me novamente pela sua mente, acabava por ser
algo a que ele teria um certo direito a pedir, era aceitável.
- Mal o possa to direi. Agora necessito que me digas se poderemos fazer de tua
casa como nossa ou procuraremos outra solução. – Assegurei-lhe.
- Certamente... Poderás dizer que a casa será a minha herança a Carmen, já está na
altura daquelas paredes ganharem alguma vida.
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- Fico agradecido. – Respondi, levantando-me e seguindo para a saída. Vi-me nos
pensamentos de alguém, fazendo-me lembrar que não tinha vindo sozinho. Voltei-me
para ela e observei-a, vendo o que ela tinha em mente... Estaria preocupada? Apenas
curiosa?
- Sim, claro que estás agradecido. Espero ter notícias tuas brevemente, há alguns
pontos que temos que retocar.
- Sim, claro. – Afirmei. Finalmente soube que ela ainda não tinha compreendido
nada, o que me daria um tempo para que lhe chegasse a contar. Talvez bastante
tempo, não havia pressa para ela saber, tudo estava tratado. – Vens?
- Sim, já vou.
- Desejo a si muita paz e paciência... Que dê bem cabo da paciência dele, que ele
bem merece. – Disse-lhe Lawrence, beijando a sua mão. Seguindo-nos até à entrada,
se despedindo nas sombras.
Seguimos novamente viagem para a morgue, mas precisava que tratassem de tudo,
agora que tinha tudo tratado...
- Olá, gostaria que preparasses o helicóptero para daqui a uma hora, estarei de
partida mal aí chegue. – Ordenei, desligando e observando-a. Podia dar-lhe sempre
alguma informação, não toda a que tenho mas a que é possível dar. – Iremos viver
para a Escócia... Alguém tentou fazer com que vocês saíssem da vossa casa para que
pudessem vos apanhar mais facilmente. Mas eu não irei permitir que façam nada.
Nada disse, seus pensamentos se afundaram num vazio. Ela certamente não queria
pensar, não queria saber, não queria viver. Dei por mim a observar as minhas mãos,
preocupadas. Porque é que às vezes parecia que eu era apenas um egoísta, mantendo-
a viva para mim e sem sequer lhe dar a escolha. Eu sei que é para que ela possa ser
novamente quem realmente esconde, mas será que ela quer? Que está preparada para
aguentar as mudanças? Não tenho que duvidar de nada, é claro o que eu tenho de
fazer. Não posso começar a duvidar agora, não agora que a tenho aqui, tão perto do
que poderá ser...
- Tens aqui os teus novos documentos, todas estarão dadas como mortas. Espero
que não te importes que te tenha dado o meu nome, já que me destruíste a casa, pelo
menos terás que aceitar o pequeno preço, Senhora Manen... – O seu silêncio de corpo
e de alma começavam a torturar-me, preferia mil vezes que me matasse como faz
com as suas presas, que me usasse como um brinquedo do que fazer-me isto. Ela já o
sabia, eu tinha a certeza, ela não o podia negar. Não o iria negar agora. - Sheftu, fala
comigo sai agora do carro que preciso de falar contigo...
- Não precisas nada. Eu não quero falar contigo. – Respondeu-me friamente, sem
qualquer vontade de que a conversa continuasse.
- Sei que não queres, mas temos de falar. – Agarrei-a pelo braço e virei-a para
mim.
- Não há nada para falarmos.
- Não estou com paciência. É a última vez... Sheftu anda lá para fora.
- Não vou. Prefiro ficar sozinha.
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- Tu é que pediste... – Tirei-a do carro, pegando-lhe ao colo... Iríamos ter esta
conversa mesmo que ela não quisesse, não podia deixar isto assim. Há coisas que têm
de ser ditas abertamente porque se sentem que existem...
- Que queres? – Respondeu-me desejando que eu a pousasse no chão, e eu assim o
fiz.
- Temos de falar... – Não ia deixar que simplesmente houvesse silêncio.
- Então fala.
- Vais ser assim é? – Acusei-a azedamente.
- Vou. – Mas porque tinha de ser sempre assim?! Sempre, sem excepção... Às
vezes cansa aguentar com isto...
- Que eu saiba, eu é que devia de estar chateado com tudo isto! Deixaste-me
furioso sabias? – Mal me ouviu, dirigiu-se em direcção à morgue.
- Tanto me faz. – Finalmente falou, vendo que não a iria deixar escapar à conversa.
- Fala de uma vez por todas comigo, Sheftu! Deixa-te de criancices!
- Não tenho nada a te dizer.
- Mas porquê tudo isto?! Só por causa dos meus quadros? – Desabafei,
descarregando logo de uma vez.
- Os teus quadros?! Pois, aquilo me parecia mais os meus quadros! – Gritou no
mesmo tom que eu o fizera...
- Não, eram os meus quadros! Os quadros que tu destruíste juntamente com toda a
minha casa! Pensas que isto vai ficar assim é?
- Não vai não. Porque eu ainda agora comecei.
- Sabes muito bem onde tudo isto acaba, Sheftu! Nós os dois sabemos como tudo
isto acaba. – Sua mente finalmente abandonou-se pelos seus pensamentos que
teimava em bloquear, fazendo-a sentir o que não queria e mostrando-me o que ela
travava em si...
- NÃO! – Berrou com todas as suas forças, tentando combater o que a sua mente
quase dava como certo, não queria aceitar, não queria sentir, não queria saber, não
queria nada... Simplesmente não conseguia não querer e não desejar, porque tudo o
que a sua mente divagava era desejo, talvez algo bem mais forte do que ela poderia
contar.
- Agora já sabes, não há nada que possa fazer-te voltar atrás... Eu sei muito bem o
que vejo! – Sorri levemente, captando cada parte da batalha que travava nela. Mas
isso seria para outro tempo, já sabia o que queria. Ela sabia muito bem quem eu era e
sentia o que não queria, por mais que tentasse lutar contra isso, jamais poderia
esquecer tudo isto.
Entrei pela morgue, observando-as a olhar para a porta, fazendo-me olhar também.
Ela tinha entrado também, seria a hora de tratarmos do nosso futuro. Pelos seus
pensamentos, havia grande parte da nossa discussão que tinha sido ouvida, estavam
curiosas com o que se passava.
- Ainda bem que estás de pé. – Tentei disfarçar, Carmen já estava consciente,
óptimo. - Belo vestido...
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- Graças á Samantha. – Respondeu-me Carmen, observando-me a mim e a Sheftu .
- Está tudo bem?
- Sim... – Respondi.
- Não! – Negou.
- SIM! – Falei mais alto, tentando dar como a minha resposta a correcta. Mas
rapidamente voltei-me de novo para Carmen a sorrir... - Estás linda!
- Oh chega! – Senti nela algo que me recordava ter experimentado à pouco,
ciúmes? Ciúmes e curiosidade, algo que gostava que ela sentisse por mim na
realidade... - Dizes tu que eu sou criança, o que chamas a isto?! Vocês os dois, cheios
de mel e proximidade. Porquê?!
- Ciúmes, Sheftu? – Gracejou Carmen, fazendo com que Samantha sorrisse
também. Esta situação divertia-as, eu apenas me limitei a recolher para o meu
silêncio.
- Eu dou-te os ciúmes... – Respondeu-lhe, tentando parecer calma. Na realidade
começava realmente a enervar-se e ainda nem tinha ouvido nada...
- Okay! – Tentei acalmar os ânimos, ao ver que ela estava disposta a dar cabo da
morte de Carmen com as suas próprias mãos, ficando assim com toda a atenção da
sala. ― Se queres saber, eu digo-te: A Carmen e eu temos uma história. Uma longa
história. Conhecemo-nos a algum tempo e tivemos uma relação...
Lia em seu corpo, em sua expressão, nos seus olhos, na sua mente... Esta era uma
realidade que não a agradava em nada e Carmen também tinha reparado nisso,
querendo vigar-se e usar-me em seu favor. Por mim tudo bem, desde que não se
atirasse a mim... Eu bem queria ver a reacção dela...
- Yep, eu e o Eric, namoramos...quer dizer...gosto mais de dizer que fomos
amantes durante muito tempo. Décadas! Claro que acabámos e recomeçamos vezes e
vezes...- Sorriu enquanto continuava a torturá-la. E tinha conseguido o que queria,
Sheftu imaginava-nos os dois em momentos íntimos, em que roupas se tiravam e
peles se toavam, tentando retirar isso da sua cabeça, questionando-se da razão porque
se sentia assim, vivendo um momento bastante revoltante e insultante para ela.
Chegava mesmo a sofrer com cada imagem que imaginava entre mim e Carmen. Não
consegui não sorrir, sentia-me com uma certa felicidade. Ciúmes seriam o inicio de
muita coisa... O tempo começava finalmente a ficar em meu favor... – Mas, foi bom
enquanto durou...
― Oh meu Deus...- Disse Samantha divertida a sorrir. ― Isto é melhor que
novela!
― Cala-te!! – Ordenou-lhe Sheftu, pronta para arrancar cabeças... Mais uma vez
sorri, tentando não fazer qualquer barulho para que atraísse qualquer atenção para
mim. Precisava de apreciar este momento.
― Hey, não me odeies só porque soubeste que não és a primeira dele...- Ela atirou
o cabelo para trás, vitoriosa. ― Tinhas bom gosto, rapaz.
Carmen tocou-lhe no braço, fazendo sinal e sorrindo, declarando como seu este
momento... E eu não fazia intenção do lho tirar...
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― Foi a muito tempo mas, ainda me lembro...Estava eu num bar algures em
França, hum...foi em Paris...estava a procura de alguém para beber. Estava aborrecida
de morte, ninguém ali chamara a minha atenção, ninguém era especial! Preparava-me
para me ir embora, quando o vi entrar...Todo vestido de negro, com um casaco
comprido e o cabelo apanhado. Devo ter ficado com um ar de idiota a olhar para ele
mas, parece que resultou porque captei a sua atenção. – A cada palavra que dizia
sentia cada vez mais prazer pelas expressões dela, ao ouvir cada parte do meu
passado... – A partir daí fora o início de muitas noites de sexo...muitas mesmo! E
viajamos tanto! Inclusive, chegamos a viver juntos na Irlanda...
Ela permanecia calada, apoderando-se um silêncio que era apenas uma aparência,
sua mente gritava, revoltada, desejosa por esquecer tudo e retirar os pensamentos e as
imagens da sua cabeça sem grande sucesso. Ela observou cada elemento da sala,
sendo eu o ultimo, que me ia divertindo com aquelas imagens que se passavam pela
sua cabeça, sentindo uma enorme fúria por mim, declarando uma enorme vingança
que eu desejadamente iria pedir nas nossas horas de loucura e amor total. Apenas
mais uns passos, e ela o sabia, que estaria próximo. Não o aceitava, mas sabia... Saiu
indignada pela porta, batendo com toda a fúria a porta, fazendo-a sair dos encaixes.
- Ena! - Samantha olhou para mim e depois para Carmen. ― Por esta, admito, não
esperava! Fizeram o meu dia, não há nada melhor do que ver a Sheftu cair do seu
pedestal...
Carmen achou curiosa a minha reacção perante tudo isto, estava a rir-me e ela não
o compreendia.
- Oh não te preocupes, que isso passa-lhe. Entretanto, preparem-se, meninas...-
Assegurei-lhe sorridente, procurando o mapa. - Arranjei-nos uma casa. Uma mega
casa.
Ela achava interessante ao ver-me incluir-me como novo morador da nossa casa.
Estendi-lhes o papel que mostrava uma enorme estrada que dava à nossa mansa.
- Okay...- Disse Samantha. - E isto é aonde?
- Escócia! - Exclamei eu ao ver a localização, nas legendas. - Vamos para a
Escócia?!
Saí sorrindo, esta seria uma nova casa para uma nova vida em que tudo iria mudar.
Não apenas o local, mas faria de tudo para que as coisas melhorassem, agora que
havia algum perigo a rondar nas suas vidas, teria de estar atento. Pisquei-lhes o olho
antes de sair, começando a tentar arranjar os possíveis criminosos que poderiam estar
por detrás da explosão da penthouse... Poderia demorar, mas eu descobriria quem
eram e a razão pelo que o fizeram, mas acreditava que não seria mesmo nada de bom.
Infelizmente...
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