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Um Ministério Ideal (Volume 1) - Charles Spurgeon

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E m 1 8 6 5 S p u rg e o n in a u g u ro u a "C o n te re n c la A n u a l" d o C o le q lo d e

P a s to re s , a q u a l fo ra m c o n v id a d o s to d o s o s p a s to re s q u e h a v ia m s id o

p re p a ra d o s n o C o le q lo . E s s a re u n ia o a n u a l e s ta v a d e s tin a d a a o fe re c e r

u m la g o d e u n ia o p e rm an e n te e n tre e le s . D u ra n te to d a s u a v id a , S p u rg e o n

p ro n u n c io u v in te e s e te p a le s tra s p re s id e n c ia is n a C on te re n c la : d o z e d e la s

fo ra m re im pre s s a s a p 6 s s u a m orte , d a s q u a is s e is e s ta o n e s te liv ro .

S e h a v e m o s d e e n te n d e r a tu a lm e n te p o rq u e 0 te ste m un ho e va nq elic o

c h e g o u a u m n iv e l ta o b a ix o , e n e c e s s a r io q u e re tro c e d a m o s a o s e c u lo

d ez en ov e e d es cu bra m o s 0 q u e o c o rre u . E ste v o lu m e n o s c o n c e d e b a s ta n te

lu z a d ic io n a l n e s te a s s u n to , c o m a s o b s e rv a c o e s d o fa m os o p re g a d o r s o b re

a rn u d a n c a d e e n ta s e n a p re c a c a o d o e v a n g e lh o , a c e rc a d o s a s p e c to s d a

"o b ra rn is s io n a r ia ' m o d e rn a , n o q u e s e re fe re a o d e s c u id o d a d o u tr in a d a

s o b e ra n ia d e D eu s e a re s p e ito d a d e c a d e n c ia g e ra l d a p u re z a d o u tr in a ria .

"P ara s e re m p re g a d o re s e fic a z e s d e v e m s e r te o lo c o s a u te n tic o s ."

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UM MINISTERIO IDEAL

Volume 1

ConferEmcias a ministros e estudantes

c. H. Spurgeon

PUBLICA<;OES EVANGELICAS SELECIONADAS

Caixa Postal 1287 - 01059-970 - Sao Paulo, SP

www.editorapes.com.br

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Titulo original:

An All Round Ministry

iI)

~

=( ! )

jNDICE -I :

-

Primeira edicao em portugues:

1991

Segunda edicao em portugues:

2005 Introducao ")

1.Avante! 1 'raducao do ingles:

Edgard Leitao

Revisor:

Antonio Poccinelli4. Fortaleza na fraqueza 79

Cooperador:

Luis Christi anini

6. Mordomos 119

: cZ

Capa:

WirIey dos Santos Correa

Impressao:

Imprensa da Fe

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INTRODUQAO

Embora C. H. Spurgeon seja ainda lembrado como

pregador popular, geralmente se esquece que a influencia

exercida por ele sobre ministros e estudantes de teologia foi

urn fator ainda mais importante, talvez, do que 0 seu pr6prio

ministerio. Hoje e pouco conhecido 0 fato de que ele organi-

zou uma instituicao teol6gica, supervisionou a preparacao

de mais de 800 estudantes, presidiu uma conferencia anual

de ministros, e considerou tudo isso como "0labor e deleite

de minha vida, em relacao ao qual 0 resto do meu trabalho

nao e senao a plataforma; deleite superior ainda ao que

me oferece meu exito ministerial" (Autobiografia, vo1.3, p.127).

Os pontos de vista de Spurgeon quanta ao ministerio,

especial mente com referencia a educacao teol6gica, tern

recebido pouca atencao des de a sua morte, em 1892. A

primeira vista e dificil explicar tal coisa, quando recordamos

que durante 37 anos Spurgeon pregou semana ap6s seman a

a uma congregacao de cerca de 5.000 pessoas. Sera que em

nossos dias, de tao evidente decadencia no poder da pregacao

e frequencia as igrejas, as opinioes de urn homem como ele

nao valem a pena ser conhecidas?

A melhor ilustracao dos pontos de vista de Spurgeon

quanto a preparacao para 0 ministerio e a hist6ria do seu

pr6prio colegio teol6gico. Quase desde 0 in icio do seu

ministerio em Londres, em 1854, para as vastas multidoes,

ele sentiu a carga da necessidade de muito mais pregadores

de energica posicao evangelica, Sabia, como tantas vezesrepetia, que os seminaries sempre haviam tido papel vital no

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UMMINISTERIO IDEAL, Vol. 1 Introducdo

provimento de tais homens. "Honorato e Columba nos dias

antigos, e tambem Wycliffe, Lutero e Calvino na epoca da

Reforma, prepararam os exercitos do Senhor para sua missao.

As escolas dos profetas sao fator primario se se trata de manter

vivo e propagar 0poder da religiao num pais" (Ibid. p.l37).

"Falamos de Lutero e Calvino nos tempos da Reforma,

mas devemos recordar que esses hom ens chegaram a ser 0

que eram devido, em grande parte, a seu poder para gravar a

sua imagem e sua influencia sobre outros homens com os

quais entraram em contato. Se alguem fosse a Wiirtemburg,

nao via apenas Lutero, mas tambem 0 colegio de Lutero, os

hom ens a seu redor, todos os estudantes que estavam sendo

formados em outros Luteros sob sua direcao, 0 mesmo

ocorria em Genebra. Quanto deve a Escocia ao fato de

Calvino ter instruido [oao Knox! Quanto beneficio ternalcancado outras nacoes, advindo da pequena republica da

Suica devido ao fato de que Calvino teve 0 born senso de

perceber que urn so homem nao podia esperar influenciar

uma nacao inteira a menos que se multiplicasse e estendesse

seus pontos de vista, escrevendo-os sobre as tabuas de carne

dos coracoes de homens jovens e fervorosos! As igrejas

parecem ter esquecido disso. A Igreja deveria tornar 0

colegio teologico 0 objeto principal dos seus cuidados"

(Vida e Ohra de C . H. Spurgeon, G.H. Pike, vol. 4, p.356).Informa-nos Spurgeon que pouco depois de haver inici-

ado seu ministerio em Londres, "varies jovens zelosos foram

trazidos ao conhecimento da verdade; e entre eles alguns

cujas pregacoes ao ar livre foram abencoadas por Deus para

a conversao de almas". 0 primeiro destes foi urn moco

chama do Medhurst. Certos membros da igreja disseram ao

pastor que 0 mencionado jovem nao estava preparado para

tal trabalho. Spurgeon entao entrevistou 0moco e recebeu a

seguinte memoravel resposta: "Sr. Spurgeon, eu tenho que

pregar, e continuarei pregando - a menos que 0 senhor me

degole". Isso induziu a Spurgeon a decisao pratica de fazer

algo a fim de preparar tais homens para 0ministerio. Assim,

no ana de 1855 (quando Spurgeon tinha apenas 21 anos e

havia mil pessoas que davam provas seguras de conversao e

desejavam ser admitidas na sua capela) Medhurst comecou

a frequentar cada semana a casa de seu pastor, para receber

varias horas de instrucao teologica, Em 1857 surgiu outro

estudante. Pouco tempo depois 0 numero aumentou para 8;

a seguir 20 e finalmente 70 a 100 alunos, que recebiam urn

curso de dois anos no que chegou a ser conhecido como 0

"Colegio dos Pastores". Em 1891 haviam sido preparados 845

homens. Deles, muitos abriram novos campos e formaram

novas igrejas na Inglaterra, porern muitos outros levaram 0

evangelho aos con fins da terra.

Pode-se interrogar porque Spurgeon formava urn novocolegio quando ja havia tantas instituicoes de formacao

teologica nao conformista. Muitos criam ser tal iniciativa

desnecessaria e divisionista. A resposta dele era, essencial-

mente, por nao haver urn serninario que satisfizesse as

necessidades conforme ele percebia a situacao. Alern disso,

ele se distinguia das demais organizacoes existentes nos

quatro seguintes aspectos:

Primeiro, quanto ao ingresso dos estudantes - Spurgeon

possuia a conviccao de que nao devia aceitar urn homemque n ao estivesse ap to para pregar e, ate onde fosse

possivel discernir, vocacionado por Deus. Nem a capacidade

mental nem os meritos universitarios podiam compensar

a ausencia desses requisitos. "0 grau inferior de pie dade, a

falta de entusiasmo, 0 fracasso na devocao particular e a

ausencia de consagracao" eram fatores negativos intole-

raveis em homens que aspirassem ser servos de Cristo.

Categoricamente ele afirmou: "Nossa instituicao tenciona

impedir que ocupem 0 encargo sagrado os que nao sao

vocacionados para ele. Constantemente estamos rejeitando

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UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 Introduciio

candidatos por duvidarmos de sua aptidao; nesse caso, nada

lhes aproveita educacao, dinheiro ou intercessao de parentes

ou amigos".

Segundo, no que se refere ao plano de estudos da prepara-

<;:aoeologica, havia enfase especial a teologia biblica. George

Rogers, escolhido por Spurgeon para diretor do Colegio de

Pastores, afirmou: "Dia a dia cresce a conviccao de que a

teologia deve ser a materia principal numa instituicao teo-

logica." Spurgeon era cuidadoso ao declarar 0 que entendia

por teologia biblica. ''Afirmamos sem rodeios que a teologia

do Colegio e puri tana. N ossa experiencia e lei tura das

Escrituras nos confirmam na crenca das doutrinas da graca,

tao pouco em moda; minhas opinioes sobre 0 evangelho e 0

modo de preparar os pregadores sao peculiares. Pregadores

das gran des e antigas verda des, do evangelho, ministrosadequados para transmiti-las as massas, podiam ser en contra-

dos mais facilmente numa instituicao onde a pregacao e a

teologia eram as materias principais - e nao os diplomas e

outras laureas da erudicao humana."

Embora 0 proprio Spurgeon nao tenha recebido uma

educacao universitaria normal, desde a infancia recebera na

granja de seu avo urn solido fundamento de teologia calvinista,

e quando iniciou sua pregacao em Londres, demonstrou

novamente - 0 que a maioria havia esquecido desde os diasde Whitefield - que nessa teologia reside 0 verdadeiro poder

de urn ministerio evangelico. Ele sempre entendia haver

uma relacao, muito mais intima do que os homens creem,

entre a pregacao de urn ministro e a sua teologia. 0 que 0

levou a por a antiga teologia em lugar proeminente no

plano de estudos do seu colegio nao era mero interesse

teorico nas doutrinas. "Para serem pregadores eficazes devem

ser teologos autenticos" era 0 axioma que constantemente

repetia aos alunos.Terceiro, quanta a maneira como devem ser preparados

os estudantes, Spurgeon sustentava com firmeza que a instru-

<;:aodeve ser ministrada de forma definida e dogrnatica.

Os professores nao devem ensinar de modo vago e liberal,

apresentando diferentes "pontos de vista", deixando ao aluno

a escolha do que the convier; pelo contrario, precisam decla-

rar de maneira convincente e inconfundivel a mente de Deus

e demonstrar predilecao resoluta pela teologia antiga,

evidenciando-se saturados dela e dispostos a morrer por ela.

Falando em nome de Spurgeon, George Rogers, diretor

do Colegio de Pastores declarou: ''A teologia calvinista deve

ser ensinada dogmaticamente. Nao usamos essa palavra no

sentido ofensivo do termo, e sim como 0 ensino indiscutivel

da Palavra de Deus. Nao simpatizamos com nenhuma das

modernas distorcoes das grandes verdades do evangelho.

Preferimos a teologia puritana a moderna".Spurgeon, porem, defendia que alem do ensino ser

verdadeiro, tambem devia ser fervoroso. "Que especie de

homens devem ser os ministros?" Precis am trovejar quando

pregam, e relampejar quando conversam; devem arder na

oracao, brilhar na vida e consumir-se no espirito, Se nao sao

assim, que poderiam realizar? Se nao forem Sansoes espiritu-

ais, como poderao veneer 0 leao rugidor? Como podem as

portas do inferno ser levantadas dos seus gonzos?

"Entretanto, mesmo conhecendo a verdade e estandoconfirmados nela pela graca divina, nao e trabalho facil

difundir 0 tesouro celestial. Comunicar aos outros 0 ensino

de Deus e service delicado e dificil. Temos de conhecer

primeiro a verdade em nossa propria alma a fim de transmiti-

-Ia eficazmente. Precisamos tambern viver no desfrute

cotidiano dela. So quando 0 Espirito inunda a mente de

urn homem pode esse influir noutras mentes de forma cor-

reta. 0 espirito do evangelho deve estar nele tanto quanto a

sua doutrina."Quarto, a posicao de Spurgeon referente a preparacao

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UMMINISTERIO IDEAL, Vol. 1 Introduciio

teologica divergia bastante do ensino convencional pre-

dominante. Conforme 0 seu entender, 0 objetivo que devia

controlar tudo era a formacao de pregadores poderosos.

Defendia ardorosamente ser indispensavel tornar cada aluno

da instituicao teologica eficiente no pulpito, Ele combateu 0

que denominou "idolatria do intelecto". Na sua epoca havia

exagerado destaque ao prestigio academico e a respeitabili-

dade cultural; muitos demonstravam ganancia por alcancar

diplomas universitarios, havendo por isso uma invasao do

espirito mundano na Igreja, em prejuizo da verdadeira

finalidade da preparacao ministerial. Embora reconhecendo

o valor e 0 devido lugar do cultivo da mente, Spurgeon

declarou: "Ha uma erudicao que e essencial para urn

ministerio eficiente, a saber, a erudicao de toda a Biblia;

conhecer a Deus pela oracao e a experiencia da Sua mise-ricordia". Ainda que contrariasse as opinioes de muitos, ele

acrescentou em termos inconfundiveis: "Nossos homens nao

buscam diplomas universitarios, nem titulos honorificos,

embora muitos pudessem alcanca-los,mas pregar com eficacia,

chegar ao coracao das massas, evangelizar os perdidos; essa

e a ambicao deste colegio; isso, e nada mais. 0 designio do

Colegio de Pastores desde 0 principio tern sido ajudar aos

pregadores, e nao formar eruditos. Que 0 mundo eduque os

homens para os seus proprios propositos, e que a Igrejainstrua aos obreiros para 0 seu service especial. Aspiramos

auxiliar aos homens a proclamar a verdade de Deus, a expor

as Escrituras, a atrair ospecadores e a edificar os santos".

Em 1865, Spurgeon inaugurou a "Conferencia Anual"

do Colegio de Pastores. Ele considerava a semana da Confe-

rencia como uma das mais importantes do ano; dedicava

muito tempo, pensamento, cuidado e oracao ao preparo das

mensagens que dirigia as centenas de pastores e estudantes

que na ocasiao se reuniam, vindos de toda parte do pais.Os ultimos trinta anos do seculo 19 presenciaram uma

triste decadencia do evangelismo, como escreveu Spurgeon

em 1887: "Esta descaindo a uma velocidade vertiginosa".

Apesar de pronunciadas ha mais de urn seculo, estas

mensagens apresentam verdades que jamais envelhecem. Os

fatores espirituais necessaries a urn ministerio poderoso

sao tao independentes do tempo como 0 eram nos dias de

Crisostomo, Latimer ou Whitefield.Numa hora em que estamos presenciando um crescente

retorno a doutrina da Reforma, ha necessidade imperiosa de

que os ministros e estudantes reconsiderem como esta

mensagem deve ser pregada outra vez, com energia capaz de

converter as massas. Dificilmente poderia haver melhor

guia nesse assunto do que C. H. Spurgeon.Abril de 1960

lain Murray

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1

AVANTE

o tema basico desta mensagem se encontra nas palavras

de Deus a Seu servo Moises: "Dize aos filhos de Israel que

marchem." "Para a frente" e a nossa palavra de ordem. ''Avante,

eleitos de Deus!" A vitoria esta diante de voces; sua propria

seguranca esta nessa direcao. Retroceder e perecer. Conhecem

a historia do jovem que, numa povoacao americana, escalou 0

muro da famosa Ponte Natural, gravou seu nome na rocha

acima das iniciais dos seus companheiros, e repentinamente

observou a impossibilidade de descer. Ouviam-se vozes que

gritavam: "Nao olhe para baixo; trate de subir!" Sua (mica

esperanca consistia em subir ate alcancar 0 ponto mais ele-

vado. Subir era terri vel, mas descer significava perecer.

Irmaos, tambern nos encontramos em situacao semelhante.

Pela ajuda de Deus, ja temos chegado a certas posicoes fruti-

feras; descer significa a morte. Para nos avante quer dizer

ate em cima; portanto avancemos. Temo-nos comprometidoirrevogavelmente. Fizerno-Io de todo 0 coracao quando

pela primeira vez pregamos 0 evangelho e declaramos

publicamente: "Sou do Senhor, e Ele e meu". Entao lanca-

mos a mao ao arado; gracas a Deus, ainda nao olhamos para

tras, e jamais devemos faze-lo, 0 caminho aberto para nos e

arar em linha ret a ate terminar 0 suIco, e nao pensar nunca

em abandonar 0 campo ate que 0 Senhor nos chame a Sua

presenca, Voces resolveram dedicar-se ao trabalho do Senhor;

nao consultaram carne e sangue, mas sem vacilacao renun-ciaram a tudo por Jesus; a menos que sejam reprovados, se

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UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1Avante

alistaram em Seu service para 0 resto de suas vidas. Sao os

servos selados de Cristo, e lev am em seus corpos as Suas

marcas. Nao sao livres para servirem a outro; sao soldados

juramentados do Crucificado. Avancar e seu unico caminho;

estao obrigados a percorre-lo. Nao tern armadura para suas

costas; qualquer que seja 0 perigo que enfrentarem, na

retaguarda tern outros dez mil. Trata-se de prosseguir ou ser

desonrados; avancar ou morrer.

Companheiros de armas: somos poucos e temos uma

luta acirrada em perspectiva; portanto e necessario que cada

urn produza 0 maximo e se esforce ate ao limite da sua

resistencia. E mister que sejam a elite da Igreja, e mais ainda,

do universo inteiro, pois nossa era exige os tais; portanto,

estou especialmente interessado em que sejarn os que

avancarn. E preciso que tenham feito progresso nas aptidoes

pessoais e estejam crescendo nos dons e na graca, em capaci-

dade para a obra de Deus, e em semelhanca a imagem de

Jesus. Os pontos que comentarei serao em ordem ascendente.

epoca em que era suficiente que 0 pregador soubesse falar,

mesmo que fosse com pouca gramatica, Ate entre urn povo

onde segundo a tradicao "ninguem sabe nada", 0 professor

escolar e competente e experimentado e a falta de preparo

pora impedimentos que antes nao existiam no service do

pregador, pois quando0

pregador deseja que os ouvintesrecordern 0 evangelho, eles se lembrarao das suas expressces

pouco gramaticais, e as repetirao como motivo de zombaria,

quando 0 que desejariamos e que repetissern aos outros 0

ensino de Cristo com fervor solene.

Amados irrnaos, precisamos nos tornar cultos ate onde

nos for possivel. Antes de tudo, e sf or cemo -no s pa ra adqu ir ir

informacao, espectalmente dos fatos biblicos. Nao devemos limitar-

-nos a urn s o topico de estudo, po is assim nao exercitariamos

toda a nossa capacidade mental. Deus fez 0 mundo para 0

homem, e formou 0 homem com uma mente destinada a

ocupar e a usar 0mundo todo; 0 homem e 0 arrendatario, e

a natureza e por certo tempo sua casa; por que abster-se de

entrar em alguma das suas dependencias? Por que negar-se

a saborear algum dos manjares limpos que 0 grande Pai pas

sobre a mesa? Nosso negocio principal continua sendo estudar

as Escrituras. A tarefa principal do ferrador e ferrar cavalos;

que procure aperfeicoar-se em faze-Io, pois ainda qu~ pudesse

cingir a urn anjo com urn cinto de ouro, fracas sana em seuoficio se nao soubesse fazer e colocar uma ferradura. Pouco

importa que saibam escrever as mais brilhantes poesias, se

nao podem pregar urn serrnao convincente que produza 0

efeito de con solar aos santos e convencer aos pecadores.

Estudem a Biblia a fun do, usando todos os recurs os que

possam obter. Lembrem-se de que os meios que agora estao

ao alcance dos cristaos sao muito mais abundantes do que no

tempo dos nossos pais, e portanto e preciso que sejam eruditos

bfblicos se desejam enfrentar devidamente os seus ouvintes.

Familiarizem-se com toda especie de conhecimentos; mas

I. Primeiramente, havemos de crescer EM NOSSAS

CONQUISTAS INTELECTUAIS. Nunca sera born que

nos apresentemos diante de Deus de modo indigno. Ainda

que nos acheguemos a Ele com nossas melhores obras, nao

merecemos que Ele nos ouca; mas, de qualquer maneira, que

a oferta nao seja mutilada e nem deslustrada por nossa

ociosidade. "Amaras ao Senhor teu Deus com to do 0 teu

coracao" e, talvez, mais facil obedecer do que ama-K) com

toda a nossa mente; por certo, devemos dar-Lhe nossas

mentes tanto quanta nossos afetos, e essas mentes devem

estar bern equipadas, para que nao the ofertemos vasos

vazios. Nosso ministerio exige intelecto. Nao insistirei na

frase tao repetida em nossos dias: "as luzes da epoca"; entre-

tanto, e bern certo que existe muito progresso educacionalem todas as classes, 0 qual aumentara ainda mais, Passou a

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UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 Avante

acima de tudo, meditem dia e noite na lei do Senhor.

Sejam bern instruidos em teologia, e nao facam caso do

desprezo dos que zombam dela porque a ignoram. Muitos

pregadores nao sao teologos, e disso resultam os erros que

cometem. Em nada pode prejudicar 0 mais dinam ico

evangelista0

ser tambem urn born teologo; pelo contrario,pode ser 0meio que 0 livre de cometer enormes disparates.

Hoje em dia ouvimos alguem extrair do seu contexto uma

frase isolada na Biblia e clamar: "Eureka!" como se tivesse

descoberto uma nova verdade; no entanto, nao achou urn

diamante, mas urn pedaco de vidro quebrado. Se comparasse

o espiritual com 0 espiritual, se entendesse 0 significado

da fe, ou estivesse familiarizado com a santa erudicao dos

grandes estudiosos da Bfblia em epocas anteriores, nao se

apressaria tanto em jactar-se de seus maravilhosos conhe-cimentos. Estudemos as grandes doutrinas da Palavra de

Deus, e sejamos poderosos na exposicao das Escrituras.

Estou certo de que nenhuma pregacao durara tanto tempo ou

edificara uma igreja de modo tao excelente como a expositiva.

Renunciar inteiramente os discursos exortativos para limitar-

se aos expositivos seria ado tar extremos desnecessarios,

porem posso assegurar-lhes sem fervor excessivo que se seu

ministerio ha de ser util durante urn longo periodo, tern de

ser expositores. Para tal, tern de entender a Palavra por simesmos, e assim poder comenta-la de modo que 0 povo seja

edificado por ela. Irmaos, saturem-se da Biblia; familiarizem-

-se completamente com osescritos dos profetas e dos ap6stolos.

"Habite ricamente em vas a Palavra de Cristo."

Conscientes desta prioridade, nao descuidem de nenhum

campo deconhecimento. Apresenca deJesus na terra santificou

a natureza; nao considerem imundo aquilo que Deus santi-

ficou. Tudo 0 que seu Pai fez e seu, e devem aprender dEle.

Podem ler 0 diario de urn naturalista, ou a narracao que urnviajante faz das suas experiencias, e achar proveito. Ate urn

manual de botanica ou de alquimia pode, a semelhanca do

leao morto por Sansao, dar-lhes mel. Ha perolas nas ostras,

e frutos doces nas matas de espinhos. Os caminhos da verda-

deira ciencia, especialmente a hist6ria natural e a botanica,

destilam gordura. A geologia, ate onde se ocupa dos fatos, e

nao da ficcao, esta cheia de tesouros. A hist6ria, com asmaravilhosas vis6es que faz desfilar diante de voces, e

eminentemente instrutiva; certamente todas as areas dos

dominios de Deus na natureza transbordam de preciosos

ensinos. Familiarizem-se com todo tipo de conhecimentos,

segundo 0 tempo, a oportunidade e as capacidades pessoais

de que disp6em; nao vacilem em faze-Io por recearem que

possam educar-se demasiadamente. Quando acompanhada

de graca abundante, a erudicao jamais os tomara soberbos,

nem prejudicara sua simplicidade no evangelho. Sirvam aDeus com a instrucao que possuem, e the deem gracas por

soprar atraves de voces, mesmo sendo urn chifre rustico;

contudo, se ha possibilidade de que cheguem a ser uma

trombeta de prata, escolham 0melhor.

E preciso aprender a d is ce rn ir sempre en tre as c oisa s q ue

diferem. Hoje e necessario insistir muito enfaticamente neste

ponto. Muitos correm arras das novidades, encantados com

todas as coisas novas. Aprendam a julgar entre a verdade e as

falsificacoes da mesma, e nao serao levados aos extravios. 0que pede ao Senhor a visao clara por meio da qual possa

perceber a verda de e entender seu sentido, e que por meio do

constante exercicio das suas faculdades obtern urn discer-

nimento exato, esta preparado para ser lider no exercito do

Senhor. Todavia nem todos os ministros estao qualificados

ate este grau. E lamentavel que muitos abracam qualquer

causa que lhes e apresentada fervorosamente. Eles trazem os

medicamentos de qualquer charlatao espiritual que possui

cinismo suficiente para parecer sincero. Repito as palavrasdePaulo aos corintios: "Nao sejaismeninos no entendimento";

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UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1Avante

ponham a prova tudo que a sua fe aspira. Supliquem ao

Espirito Santo que lhes de a habilidade para discernir

entre 0 bern e 0 mal, de modo que possam conduzir a seus

rebanhos longe dos prados venenosos e os levar a pastos

livres de perigos.

Mas se voces tern 0 poder de adquirir conhecimentos,

tam bern de discernir, busquem em seguida a c ap ac id ad e d e

re ter e preservar j irmemente 0 que aprenderam. E lamentavel que

ha homens que se gloriam de ser como cata-ventos; nada

sustentam. Creram ontem, mas nao creem naquilo hoje, nem

o crerao amanha. Estao mudando constantemente. Podem

ser sinceros como afirmam ser, mas qual e a sua utilidade?

Sejam abertos para receber mais verdade, porem muito

cautelosos em subscrever a crenca de que foi descoberta uma

luz melhor do que a do sol.Quanto aos que sempre mudam, 0 que geralmente

necessitam e ser mudados no sentido mais enfatico. 0

" d" / densamento mo erno e representa 0 por pessoas que

causam danos incalculaveis as almas dos homens. Milhares

caminham para a perdicao enquanto tais homens persistem

formando suas teorias. Os que deviam anunciar as "boas novas"

da salvacao persistem "seguindo novas linhas de pensamento".

Os refinados assassin os das almas descobrirao que sua

pretendida "cultura" nao tera desculpa no dia do [uizo. Poramor a Deus, proclamemos como podem ser salvos os homens

. / 'e dediquemo-nos a obra. E hora de estarmos seguros do que

devemos ensinar; do contrario, renunciemos a nossa funcao.

"Cada semana dou forma a meu credo", foi a confissao de urn

desses teo logos. A que sao semelhantes tais inconstantes? Nao

se parecem com aquelas aves de Constantinopla, das quais

se afirma que estao sempre voando, e nunca repousam? Os

nativos as chamam de "alm as perdidas", buscando descanso

sem acha-If). Os homens que nao possuem descanso pessoalna verdade, se sao salvos, e improvavel que se torn em meios

de salvacao para outros. Irmaos, exorto-os a que procurem

saber, e, sabendo, que discriminem; e haven do discriminado,

aconselho-os a que procurem "reter 0bern."

II. Tambern necessitamos de PROGREDIR EM

CAPACIDADES ORATORIAS. Estou comecan do de

baixo; mas todas estas coisas sao importantes, pois e lasti-

mavel se os pes desta imagem sao ainda de barro. Nada e

de pouco importancia se pode ser de utili dade para nossa

grandiosa meta. So por falta de urn cravo, 0 cavalo perdeu a

ferradura, tornando-se assim inutil para a batalha; aquela

ferradura era apenas uma insignificante camba de ferro

que tocava ao solo, mas 0 corcel cheio de vida torna-se imitil

sem ela. Urn homem pode falhar irremissivelmente quanta

a utilidade espiritual, nao por falha de carater, e sim por

urn lapso mental ou oratorio; portanto, insisto novamente

em que devemos melhorar a maneira de expressar-nos.

N em todos podem falar como alguns, e ainda estes

poucos nao conseguem falar conforme idealizam. Se alguem

julga que sabe pregar tao bern quanto deveria, eu 0 aconselho

a abandonar a tarefa. Se 0fizesse, agiria com a mesma pruden-

cia do pintor famoso que quebrou a palheta e disse a esposa:

"Terrninei meus dias de pintor, pois estou satisfeito com 0que

fiz, e portanto estou seguro de que perdi 0 talento". 0 que

acredita haver alcancado a perfeicao na oratoria confunde

a volubilidade com eloquencia e a verborreia com argumen-

tacao, Nao podem ser verdadeiramente ministros eficazes se

nao sao "aptos para ensinar". Voces conhecem ministros que

erraram sua vocacao e que evidentemente nao possuem dons

para a pregacao. Ha irmaos no ministerio cujo falar e

intoleravel; se alguns fossem sentenciados a ouvir os seus

proprios sermoes, seria urn justo juizo para eles; logo clama-

riam como Cairn: "Grande e minha iniquidade para serperdoada". Nao caiamos em semelhante condenacao por

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UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 Avante

algum defeito da nossa pregacao a qual possamos corrigir.

Irmaos, te mo s d e c ultiv ar u m e stilo c la ro . Quando alguem

nao me faz entender 0 que quer dizer, e porque ele mesmo

nao sabe 0 que pretende transmitir. 0 ouvinte mediano que

nao pode seguir 0 curso dos pensamentos de quem fala, nao

deve preocupar-se, mas deve lancar a culpa sobre 0pregador,

o qual tern a responsabilidade de apresentar as coisas

claramente. Se olharem num poco, e esta vazio, parecera

muito profundo; mas se contern agua, verao seu brilho. Creio

que se muitos pregadores sao "profundos", e simplesmente

que se assemelham a pecos nos quais nada ha senao folhas

secas, algumas pedras, e talvez urn ou dois gatos mortos. Se ha

agua da vida em sua pregacao, podera ser muito profunda,

porern a luz da verda de the dara claridade. Seja como for,

esforcem-se em ser simples, de modo que as verda des queensinam possam ser facilmente recebidas pelos ouvintes.

E preciso que cultivemos urn estilo convincente bern

como urn estilo claro; e necessario que sejamos poderosos.

Alguns imaginam que isso consiste em falar com voz forte,

mas eu lhes asseguro que estao equivocados. As tolices nao se

transform am por pronuncia-las aos gritos. Deus nao exige

que gritemos como se falassernos a tres milhoes de pessoas

quando nos dirigimos a apenas trezentas. Sejamos impetuosos

devido a excelencia do nosso assunto e a energia do espiritoque possurmos ao pronuncia-Io, Numa palavra, que nosso

falar seja n atu ra l e v iv o. Renunciemos aos truques dos orado-

res profissionais, ao esforco em alcancar efeitos, 0 climax

estudado, a pausa premeditada, a afetacao teatral, 0 falar

sofisticado e tantas coisas mais que observamos em certos

teologos pomposos que ainda sobrevivem na face da terra.

Oxala tais pregadores cheguem a ser uma especie extinta dentro

de breve tempo, e que todos nos aprendamos uma maneira

viva, natural e simples, de pregar 0 evangelho, pois estoupersuadido de que e provavel que Deus abencoe tal estilo.

Entre muitas outras coisas, temos de cultivar a persuasiio.

Alguns tern grande influencia sobre os homens; entretanto,

outros com maiores dons care cern dela. Nao parecem

aproximar-se das pessoas, nao podem influencia-las e fazer-

-lhes sentir algo. Ha pregadores que dao a impressao de

tomar os ouvintes urn a urn pela gola e introduzem a

verdade em suas almas, enquanto outros generalizam tanto

e se mostram tao frios que parecem estar falando aos habi-

tantes de algum planeta distante, cujos assuntos nao lhes

importam muito. Aprendam a arte de arguir com os homens.

Isso os fara bern se contemplarem ao Senhor constantemente.

A antiga historia classica nos informa que, quando urn soldado

estava a ponto de matar a Dario, seu filho, mudo des de a

infancia, exclamou, subitamente surpreendido: "Nao sabe que

ele e 0 rei?" Sua lingua silenciosa se desprendeu por amor

ao pai, e e bern possivel que a nossa lingua fale fervorosa-

mente quando vern os 0Senhor crucificado pelo nos so pecado.

Se ha palavras em nos, isso as despertara, 0 conhecimento do

"temor do Senhor" deve tambem animar-nos a persuadir aos

homens. Nao podemos fazer outra coisa senao instar com

eles para que se reconciliem com Deus. Observem aqueles

que ganham os pecadores para Jesus, busquem seu segredo,

e nao descansem ate que possam alcancar 0 mesmo poder.

Se, por outro lado, escutam a urn pregador muito admiradoe descobrem que nao ha almas convertidas para a salvacao

sob a influencia do seu ministerio, decidam: "este estilo nao

e para mim, porquanto nao busco ser grande, mas verda-

deiramente util".Que sua oratoria, portanto, melhore constantemente em

clareza, forca logica, naturalidade e persuasao. Tratem de

conseguir urn estilo de oratoria que se adapte aos seus ouvin-

tes. Muito depende disso. 0 pregador que se dirigisse a urn

auditorio instruido com 0 linguajar que usaria a urn grupo devendedores ambulantes, demonstraria ser nescio; por outro

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lado, 0 que pregasse aos mineiros empregando termos

teol6gicos tecnicos e frases de salao, agiria como insensato. A

confusao das linguas em Babel foi mais completa do que

imaginamos. Nao resultou apenas em diferentes idiomas

para as gran des nacoes, mas fez com que a linguagem de

cada classe variasse das demais. Ora, ja que 0 vendedor

ambulante nao pode aprender a linguagem de universi-

dade, que 0 universitario aprenda a maneira de expressar-se

como 0ambulante. "Usamos a linguagem do mercado", dizia

Whitefield, e isso 0honrava muito; no entanto, quando estava

nos saloes aristocraticos, seu discurso fascinava aos nob res

infieis porquanto adotava outro estilo. Sua linguagem era

adequada aos ouvintes, embora nao usasse as mesmas pala-

vras exatamente. Nosso modo de falar precisa ser "tudo

para com todos". 0 maior mestre de oratoria e 0 que pode

dirigir-se a qualquer classe de pessoas de maneira apropriada

a sua condicao, a fim de que seus coracoes sejam alcancados.

Que ninguern nos supere quanta a nossa capacidade de

orat6ria, ou nos sobrepuje no dominio da nossa lingua ma-

terna. Companheiros de armas: nossas linguas sao as espadas

fornecidas por Deus para usa-las para Ele, como se afirma

sobre 0 Senhor: "De sua boca saia uma espada aguda de dois

fios". Que estas espadas sejam real mente agudas. Cultivem 0

poder de orat6ria, e fiquem na primeira fila no campo da

expressao falada. Aperfeicoem-se nessa maneira de falar

correta e ousadamente.

virtu des que precisamos conquistar a qualquer preco. A

autocomplacencia tern ferido seus milhares. Mais vale que

tern amos para que jamais perecarnos as maos dessa Dalila.

Que nossas paix6es e nossos habitos estejarn sob 0 devido

controle; se nao somos donos de n6s mesmos nao estamos

aptos para ser Iideres na Igreja de Cristo.

Precis amos tambem renunciar a toda nocao de nossa

propri a import dnc ia . Gloriar-se, ainda que seja na obra do

Espirito Santo em suas vidas, e aproximar-se perigosamente

da auto-adulaciio. "Louve-te 0 estranho, e nao a tua boca" e

fiquem satisfeitos quando esse estranho tenha 0 born senso

de ficar calado.

Devemos tambem controlar dev idamente nosso iemperamento.

Urn carater viol en to nao e urn mal em si. Os homens que sao

muito acomodaticios, geralmente valem pouco. Nunca lhes

diria: "Sejam homens de carater", mas: "Se 0 tern, controlem-

-no cuidadosamente". Dou gracas a Deus quando vejo urn

pastor com genio suficiente para indignar-se ante a iniustica

e para ser firme pela justica; mas por certo 0 genio e uma

ferramenta de dois gumes e as vezes corta 0 que a maneja.

Se algum irrnao tern a tendencia de indignar-se com demasi-

ada frequencia, considere que nao alcanca nenhum beneficio

disso.

E preciso que d om in emo s n os sa te nd en cia p ela le via nd ad e.

Ha uma enorme diferenca entre a alegria santa, que e virtu de,

e a leviandade geral, que e urn vicio. Ha uma leviandade que

nao tern a suficiente jovialidade para causar risos, mas joga

com tudo; e caprichosa, vazia, irreal. Urna boa gargalhada

nao e mais leviandade do que 0pranto do coracao. Refiro-me

aquelas aparencias religiosas com muita pretensao mais

frageis, superficiais, pouco sinceras no tocante as coisas de maior

importancia, A piedade nao e urn gracejo, nem tao pouco

mera aparencia. Cui dado para nao se tornarem comediantes.Nunca deem as pessoas serias a impressao de nao falar

III. Irmaos, devemos ser ainda mais fervorosos para

PROGREDIR EM QUALIDADES MORAIS. Devemos

elevar-nos ate ao tipo de rninisterio mais sublime. Ainda que

alcancemos as capacidades mentais e orat6rias ja menciona-

das, fracassaremos se nao possuirmos tambern qualidades

morais elevadas. Ha males dos quais devemos desprender-nos,como Paulo sacudiu a vibora da mao, energicamente, e ha

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UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 Avante

seriamente, e que sao meros profissionais. Possuir labios

ardentes e alma gelada e urn sinal de reprovacao, Deus nos

livre de sermos excessivamente finos ou superficiais; que

jamais sejamos os insetos do jardim de Deus.

Ao mesmo tempo, devemos ev ita r tu do q ue se a ssem elh e

a fe ro ci dade do fana tismo. Ao nos so redor ha homens que,

nascidos de mulher, parecem ter sido amamentados por

lobas. Guerreiros desse tipo tern poder para fundar dinastias

de pensamento; mas a bondade e 0 amor fraternal harmoni-

zam melhor com 0 reino de Cristo. Nao devemos estar

sempre em busca de heresias nem tao confiados em nossa

propria infalibilidade que preparemos fogueiras eclesias-

ticas para queimar os que diferem de nos, usando lenha de

prejuizos extremados e suspeitas crueis,

Ha maneirismos e atitudes contra os quais devemos

lutar, pois muitas vezes os pequenos defeitos se tomam a

origem do fracas so, e livrar-nos deles talvez seja 0 segredo da

eficiencia, Devemos adquirir certas faculdades e habitos

morais, ao mesmo tempo em que renunciemos 0 que lhes e

oposto. 0 que nao possui in te grid ad e d e e sp ir uo nunca fara

muito para Deus. Se formos levados pela ambicao ou se

existe algum tipo de acao que nao seja reto, logo naufraga-

remos. Resolvam, queridos irrnaos, a pensar que podem ser

pobres, podem ser depreciados, podem mesmo perder avida, mas nao devem jamais ser desonestos. Que a (mica

politica para voces seja a honradez.

Que possam possuir tambem a g rande c ar ac te ris ti ca mora l

d a b ra vu ra . Nao me refiro a impertinencia, a ins olen cia ou apresuncao; mas a intrepidez verdadeira para fazer e dizer

tranqiiilamente 0 mais apropriado, e para ir ao encontro de

todos os perigos, ainda que nao haja ninguem que os ajude

com uma palavra de animo. Assombra-rne 0 mimero de

cristaos que receiam dizer a verdade aos irmaos. Agradeco aDeus por poder afirmar que nao ha membro da igreja, oficial

eclesiastico ou qualquer pessoa no mundo a quem eu tema

dizer no rosto 0 que diria em sua ausencia. Gracas a Deus,

e com Sua ajuda, devo minha posicao em minha propria

igreja a falta de toda a politica, e ao habito de dizer sempre a

minha opiniao. 0 plano que consiste em tornar todas as coisas

sempre agradaveis para todos, e perigoso e ao mesmo tempo

maligno. Se voce afirma uma coisa a alguem e outra coisa a

outro, urn dia compararao as duas afirmativas e the iulgarao

contraditorio e sera depreciado. 0 homem dubio sera, mais

cedo ou mais tarde, objeto do desprezo dos demais, e com

justica. Assim, pois, sobre todas as coisas, evitem isso. Se

tiverem algo que julguem necessario dizer acerca de alguem,

que a medida do que hao de dizer seja: "Quanto me atreveria

a dizer na sua presenca?" Nao podemos nos permitir nenhu-

rna palavra alern disso, quando censuramos a outrem. Se

adotarem este principio, seu denodo os salvara de mil

dificuldades, e os conceded urn respeito duradouro.

Possuindo a integridade e a bravura, desejaria que fossem

dotados de ze lo invencive l. Que e zelo? Como posso descreve-

-lo? Possuam-no e saberao 0 que e. Sejam consumidos pelo

amor por Cristo, e que a chama arda continuamente; nao

arden do nas reunioes publicas e apagando-se no rotineiro

trabalho cotidiano. Necessi tamos de perseveranca indo rnavel,

zelo obstinado e uma combinacao de teimosia santificada,abnegacao, mansidao sagrada e coragem invencivel,

Destaquem-se tambem naquele poder que e tanto mental

quanto moral, a saber, 0p od er d e c on ce ntr ar to da s a s s ua s [ or ca s

no trab alho a que sa o cha mados. Reunam seus pensamentos,

unam todas as suas faculdades, acumulem as suas energias e

enfoquem as suas capacidades. Dirijam todos os fluxos da

sua alma ate urn canal, fazendo que avancem na forma de

uma corrente unificada. Alguns homens precisam dessa ha-

bilidade. Diversificam-se e por isso fracassam. Convoquemos seus batalh6es e lancem-se sobre os inimigos. Nao tratem

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de ser gran des nisto ou naquilo, de ser "tudo no principio

e nada durante muito tempo"; mas perrnitam que suas

personalidades completas sejarn levadas em cativeiro por

Jesus Cristo, e ponham tudo aos pes dAquele que padeceu

e morreu por voces.

acossados pela tentacao ; gloriam-se como se a batalha

ja estivesse terminada e a vitoria alcancada. Entretanto,

aprendamos 0 que for necessario destes irrnaos; conhecamos

toda a verdade que nos puderem ensinar. Familiarizemo-

-nos com os pontos principais da salvacao e da gloria que

resplandecem neles: os Hermons e os Tabores, de onde

podemos ser transfigurados como 0 Senhor. Nao tern am

chegar a ser excessivamente santos ou demasiadamente

cheios do Espirito Santo.

Eu gostaria que fossem sabios em tudo e capazes de saber

tratar aos homens tanto em seus conflitos como em suas

alegrias, sendo experientes em ambas as coisas. Conhecam

onde os deixou Adao, mas tam bern onde os pode colocar 0

Espirito Santo. Nao se apeguem a uma destas coisas de modo

tao exclusivo que esquecam a outra. Creio que se existempessoas que devem damar: "Miseravel homem que eu sou!

Quem me livrara?" serao sempre os ministros evangelicos,

porque necessitamos ser tentados em todas as coisas, para

podermos consolar aos outros. Certa vez vi, num vagao de

trem, urn pobre homem com a perna apoiada sobre 0assento.

Urn empregado que 0 viu naquela posicao, observou: "Estas

almofadas nao foram feitas para alguem por as botas sujas

em cima". Logo que 0 funcionario se distanciou; 0 homem

a colocou novamente no banco, dizendo-me: "Estou certode que ele nunca quebrou a perna em do is lugares, pois

nesse caso nao seria tao grosseiro para comigo". Quando

ouco irrnaos que vivem comodamente, desfrutando de

privilegios, condenando outros que estao enfrentando ter-

riveis provas, compreendo que agem assim porque ignoram

o que seja suportar as dores das quebraduras que alguns

enfrentam durante toda a sua peregrinacao,

Conhecam 0 h om em em C risto e fora d e C risto. Estudem-no

no seu melhor aspecto e tambem no pior; conhecam suaanatomia, seus segredos e suas paix6es. Tal conhecimento nao

IV . Acima de tudo isso, precisamos PROGRE DIR E MQUALIFICA<_ ;OES ESPIRITUAIS , as gracas que devem ser

produzidas em nos pelo Espirito Santo. Estou certo de que

isso e 0 principal. Outras coisas sao preciosas, mas esta nao

tern preco,

Inicialmente, necessitamos de c onh e ce r- no s a no s me smos.

o pregador deve familiarizar-se com a ciencia do coracao, a

filosofia da experiencia interna. Ha duas escolas de experien-

cia, e nenhuma delas se contenta com apenas aprender da outra;

disponhamo-nos, pois, a aprender de ambas. Uma destas

escolas fala do cristae como daquele que conhece a profunda

depravacao do seu coracao, que entende algo da sua natureza

pervertida e que diariamente experimenta que na sua carne

nao existe 0 bern. "Urn homem nao tern a vida de Deus em

sua alma dizem os que seguem esta escola - se nao sabe e

reconhece isso, se nao 0experimenta arnarga e dolorosamente

dia a dia." E inutil falar-lhes de liberdade e gozo no Espirito

Santo; nao querem possui-Ios. Contudo aprendemos da

unilateralidade destes. Sabem muito do que precis a saber-

-se, e ai do ministro que ignore seu sistema de verdades!

Lutero costumava dizer que a tentacao e 0 melhor mestre

para urn pastor. Este aspecto da questao contem sua parte

de verda de.

Os crentes da outra escola tern em grande estirna, 0que e

justo e benefice, a gloriosa atuacao do Espirito Santo. Creem

no Espirito de Deus como poder purificador, fonte de bencao

para a alma ao torna-la templo de Deus. Mas frequente-mente falam como se houvessem cessado de pecar ou de ser

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UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 Avante

se obtem nos livros; e indispensavel 0 contato pessoal com os

individuos se desejam aiuda-los em sua multipla experiencia

espiritual. S6 Deus pode conceder-Ihes a sabedoria de que

necessitam para tratar prudentemente com eles, mas Ele 0

fara em resposta a oracao de fe.

Entre as aquisicoes espirituais, c on he ce r a qu ele q ue e 0

rem ed io certo p ara to das a s en ferm id ad es h um an as e a coisa

mais necessaria. Conhecam a Jesus. Sentem-se aos Seus pes.

Considerem Sua natureza, Sua obra, Seus sofrimentos, Sua

gl6ria. Deliciem-se na Sua presenca, desfrutem da Sua

comunhao dia ap6s dia. Conhecer a Cristo e entender a mais

excelente de todas as ciencias. Nao podem deixar de ser

sabios se mantiverem comunhao com a Sabedoria Encarnada;

nao podem carecer de fortaleza se estao em con stante con-

tato com Deus. Vivam em Deus; nao se trata de ir a Ele asvezes, mas de habitar nEle. Dizem que onde 0sol nao penetra,

precisa de entrar 0 medico. Onde Jesus nao resplandece, a

alma esta enferma. Banhem-se nos Seus raios e se tornarao

vigorosos no service do Senhor.

"Ninguem conhece 0 Filho senao 0 Pai." Os que van a

Cristo e poem sua confianca nEle, pass am a conhece-la urn

pouco. Ha santos com sessenta anos de experiencia que tern

andado com Ele cada dia, os quais estao crescendo nesse

conhecimento; mesmo os espfritos perfeitos, que ternpermanecido ante 0 Seu trono adorando-O perpetuamente,

ainda nao 0 conhecem plenamente. E tao glorioso, que s6 0

Deus - infinito possui 0 perfeito conhecimento dEle, e por

isso nao ha limites para nosso estudo, nem pobreza em nossa

linha de pens amen to, se fazemos do Senhor Jesus 0 grande

objeto de todos os nossos pensamentos e investigacoes

Portanto, setencionamos ser homens fortes, como resultado

deste conhecimento, con vern que n os to rn emo s s em e lh an te s a

nosso Senhor. Bem-aventurada a cruz na qual sofremos, senela padecemos para sermos feitos a semelhanca de Jesus.

Se alcancamos tal semelhanca, teremos uma uncao mara-

vilhosa em nos so ministerio; e, sem ela, que vale 0 nosso

labor? Em resumo, devemos esforcar-nos para alcancar

santi dade de carater, Que e santidade? Nao e retidao de carater?

Urn estado equilibrado em que nao falta nem sobra nada.

Nao e moralidade, estatua fria e sem vida; santidade e vida.

Precisamos ter santidade; e, mesmo que lhes faltem capaci-

dades mentais (embora espero que nao), e ainda que tenham

poucas faculdades orat6rias (tambem espero que nao), podem

estar seguros de que uma vida santa e em si mesma urn

poder maravilhoso, e compensara muitas deficiencias, E , por

certo, 0 melhor serrnao que 0 melhor dos homens poderia

pregar. Resolvamos ter toda a santidade que se possa alcancar,

toda a pureza que for possivel possuir, e toda a semelhanca

a Cristo que consigamos atingir neste mundo de pecado,confiando na obra eficaz do Espirito Santo. Que 0 Senhor

nos levante a todos a uma plataforma mais elevada e Ele

sera glorificado.

v . Ainda nao terminei a mensagem, porque devo

acrescentar: PROGRIDAM TRABALHANDO REAL-

MENTE. Seremos conhecidos mais pelo que fizemos do

que pelo que dissemos. A semelhanca dos ap6stolos, espero

que nosso monumento seja 0 dos nossos atos. Ha no mundoimimeros bons irrnaos que sao muito pouco praticos. A

doutrina da segunda vinda os empolga de tal modo que

permanecem contemplando 0 infinito e por isso devo

adverti-Ios: "Varoes, por que estais olhando para 0 ceu?" 0

fato de que Jesus ha de voltar nao e razao para estar se

mirando 0 firmamento, mas incentivo para que trabalhe-

mos no poder do Espirito Santo.

Desejamos fatos; acoes realizadas, almas salvas. E inte-

ressante escrever ensaios; mas que almas estao procurandosalvar do inferno? Interessa-me a excelente administracao

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UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 Avante

da sua escola; mas, quantos alunos foram levados a fazer

parte da igreja sob a sua influencia? Alegramo-nos ao ser

inform ados da realizacao de reuni6es especiais; mas quantos

realmente foram nascidos de novo pela inf luencia delas? Sao

os santos edificados? Sao convertidos pecadores? Deus nos

livre de viver comodamente enquanto os milhares estaoperecendo. Viajando pelas estradas nas montanhas da Suica,

verao constantemente os sinais das perfuradoras; assim na

vida dos ministros deve haver a demonstracao do rude labor.

Aconselho-os, irrnaos: facam algo; FA(:AM ALGO. Enquanto

comiss6es gastam tempo redigindo resolucoes, facam algo.

Enquanto as Sociedades e as Uni6es estao preparando cons-

tituicoes, ganhemos almas. Com demasiada frequencia

discutimos, consideramos e ponderamos, enquanto satanas

esta rindo dissimuladamente de nos. Rogo-Ihes a todos quesejam hom ens de acao. Maos a obra e desenvolvamo-nos

como homens. Compartilho da ideia que 0 antigo coman-

dante possuia a respeito da guerra: "Avancar e ao ataque!

Nada de teorias! Ataquem! Formem colunas! Fixem as

baionetas e atirem diretamente contra 0 centro do inimigo".

Nosso unico objetivo e salvar pecadores, e nao devemos

somente falar sobre isso, mas efetua-lo no poder de Deus.

apenas uma vez na vida, e nada sabem a respeito do nosso

Rei. Deixaremos que perecarn? Podemos dormir tranqui-

lamente em nossos leitos enquanto a China, a india e 0

[apao e outras nacoes estao indo para a perdicao? Estamos

limpos do sangue deles? Nao tern nenhum direito sobre

nos? Podemos raciocinar assim: em vez de dizer: "Possodemonstrar que deveria ir?", deveria dizer: "Posso provar

que nao deveria ir?" Quando alguem pode honradamente

argumentar que nao deveria ir, en tao esta limpo, mas nao

de outro modo. Que respondem? Interrogo urn a urn. Nao

lhes estou desafiando num assunto no qual nao me tenho

sinceramente incluido a mim mesmo. Se alguns dos nossos

principais ministros dessem 0primeiro passo, teria urn grande

efeito como estimulo para nossas igrejas, e me interrogo a

mim se devo if. Mas apos analisar todos os angulos daquestao, me convenco que devo permanecer onde estou, e

milhares de cristaos confirmam a minha decisao,

No entanto, estou certo de que iria ao estrangeiro facil,

voluntaria e alegremente se nao estivesse convicto de ficar

aqui. Facarn voces mesmos a experiencia. Temos de evangelizar

os pagaos; Deus tern milhares e mil hares dos Seus eleitos

entre e1es, e urge que os alcancemos, de urn ou outro modo.

Muitas dificuldades ja foram superadas; muitas terras estao

abertas e as distancias se encurtaram. Nao possuimos 0 domde Pentecoste, mas os idiomas sao aprendidos com relativa

rapidez, e a imprensa e urn equivalente satisfatorio para

substituir 0 dom perdido. Os perigos proprios das miss6es

nao deveriam reter a nenhum homem sincero, mesmo que

fossem gran des entraves; mas agora estao reduzidos ao minimo,

Ha centenas de lugares onde a cruz de Cristo e desconhecida,

aos quais nos podemos dirigir sem risco. Quem ira?

Deveriam ir os irmaos jovens de boa capacidade que

ainda nao assumiram os cuidados de uma familia. Cadaaluno do Colegio dos Pastores deve considerar 0 assunto, e

VI. Finalmente, e agora tocarei num aspecto da mensa-gem que me oprime, AVANCEM QUANTO A ESCOLHA

DA SUA ESFERA DE ATIVIDADE. Agora passo a

interceder em favor daqueles que nao podem rogar por si

mesmos, a saber, as grandes mass as do exterior, do mundo

pagao. Os pulp itos existentes ja estao razoavelmente

supridos, mas necessitamos de homens que queiram edificar

em novos fundamentos. Quem ira? Somos, como grupo de

homens fieis, limpos em nossas consciencias em relacao aos

pagaos? Ha milh6es que ainda nao ouviram falar do nomede Jesus. Centenas de milh6es so viram urn missionario

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UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1

entregar-se a obra a menos que haja raz6es concludentes

para nao faze-lo. Tern sido dificil encontrar obreiros dispostos,

mas nao deveria ser assim. Deve haver entre nos espirito de

sacrificio e alguns de nos que estejam prontos para exilar-se

por Jesus. A obra missionaria se enfraquece por falta de

homens. Se estes se disp6em, a liberalidade das igrejas

suprira suas necessidades. Ate que vejamos os companheiros

lutando por Cristo em todas as terras, na vanguarda do

conflito, nao teremos cumprido nosso dever. Creio que se

Deus os mover air, serao os melhores missionaries, porque

farao da pregacao do evangelho a grande caracteristica de

seu trabalho, e esta e a maneira segura em que Deus mostra

o Seu poder.

Quando serao nossas igrejas abnegadas e ativas? Obser-

vern os moravios, como cada homem e cada mulher setransforma num missionario e quanto realizam pelo Senhor

por isso. Captemos seu espfrito. E urn proceder correto?

Entao e certo que 0 possuamos. Nao basta afirmar: "Esses

moravios sao maravilhosos". Nos deveriamos tam bern ser

maravilhosos. Cristo nao os adquiriu de maneira mais

completa do que a nos; eles nao tern 0 dever de sacrificar-

-se mais do que nos. Quando lemos a respeito de homens

heroicos que tudo entregaram por Jesus, nao devemos

apenas admira-los.mas ·imita-Ios. Quem os imitara agora?Os irmaos veern a importancia da questao? Nao haveria

alguns entre voces que estejam dispostos a dedicar-se

totalmente ao Senhor? "Avante!" E 0 apelo de hoje. Nao

ha espiritos audazes para assumir as vanguardas? Oremos

para que durante este Pentecoste (esta conferencia) 0Espirito

possa ordenar: "Separai-me a Barnabe e a Saulo para a obra

a que os tenho convocado".

Subam e voem mais alern nas asas do amor.

2

UM NOVO COMECO

Amados companheiros no service de Cristo, nosso

trabalho requer que estejamos no melhor estado possivel

em nosso coracao. Quando estamos na melhor das condicoes,

ainda somos bastante debeis; portanto, nao descamos do

nivel mais elevado. Como instrumentos devemos toda nossa

capacidade de trabalho a mao divina; ja que os instrumentos

devem ser conservados sempre em ordem, precisamos ter0

espirito isento de ferrugem e nossa mente afiada e anelante

para corresponder a vontade do Mestre. Como nem sempre

estamos a altura dos nossos privilegios, nosso tema e "Urn

Novo Corneco", ou, noutras palavras, uma renovacao, urn

avivamento, urn recomeco, urn retorno ao nos so primeiro

amor, 0 amor de nossos esponsais, quando nossa alma se

ligou a obra do nosso Redentor.

o assunto e de extrema necessidade para todos, porque

op r oc es so d e decadencia e muito faci l. Decair nao exige esforcos;pode conseguir-se sem mesmo desejar; pode ate vir em

oposicao aos nossos desejos; podemos decair sem sequer

perceber, e muito mais facilmente quando nos imaginamos

ricos e prosperos. Mediante uma lei a qual nao temos que

contribuir, gravitamos ate urn nivel inferior. Nao deem corda

ao relogio e logo as pecas deixarao de funcionar, e 0 dina-

mico objeto se tornara imitil, imovel e silencioso, morto

como urn ataude encostado na parede. Administrar bern

uma chacara requer labor con stante e atenta vigilancia, masabandonar a terra ate que nao possa alimentar nem uma

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UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 Um Novo Comeco

ave e coisa facil, coisa que qualquer preguicoso pode realizar.

Basta deixa-la e os campos ferteis se tornado estereis e 0

jardim se transformara em deserto. Assim acontece conosco.

Deixem simplesmente de dar corda a alma com a oracao, e

logo decairao; descuidem somente 0 cultivo do coracao, e os

espinhos e urzes crescerao sem ajuda. Descuidem da sua

vida espiritual e todo 0 ser se ressentira.

Que eu 0 saiba, nao podemos esperar ver energias conti-

nuas em sua plenitude em nenhum de nos. Imagino que

mesmo aquele que arde como urn serafim, experimenta

momentos em que a chama diminui. 0 proprio sol nem

sempre e igualmente poderoso; assim 0 homem cuja luz

brilha mais ate ser dia perfeito, nao demonstra sempre 0

mesmo fulgor, nem esta sempre em meio-dia. A natureza nao

mantem sempre 0 mar em mare alta; vern a mare baixa e 0

oceano atravessa uma fase antes de volver a plenitude das

suas forcas, 0 mundo vegetal tern seu inverno, e desfruta de

urn prolongado sono sob urn leito de neve. Nem a mare baixa

nem 0 inverno sao tempo desperdicado; a mare alta e 0verao

muito devem a mare baixa e as geleiras. Em face da nossa

afinidade com a natureza, tambern teremos nossas mudancas

e nao permanecemos sempre na mesma altura. Nao ha ne-

nhum homem cuja vida seja todo climax. Nao desesperemos

quando estivermos em mare baixa; a preamar da vida chegaracomo sempre, inclusive alcancara urn ponto mais elevado.

Quando estamos sem folhas e aparentemente sem vida,

chegando nossa alma a ser como arvore de inverno, nao

imaginemos que 0 machado nos derribara, porquanto a

subs tan cia permanece em nos, mesmo que tenhamos perdido

as folhas, e dentro em pouco chegara a epoca em que os passa-

ros cantam, sentiremos 0 calor cordial da primavera e nossas

vidas serao novamente cobertas de flores e carregadas de frutos.

Nao e de estranhar que haja pausas e declinios em nossotrabalho espiritual, pois 0 mesmo ocorre nos negocios

humanos. Apesar da atividade e dos esforcos do comerci-

ante, ha periodos quando os negocios estacionam. Ha anos

de grande prosperidade e outros de decadencia; as vacas

magras devoram as vacas gordas. Se os hom ens nao fossem

o que sao, poderia haver constantemente urn progresso uni-

forme, mas e evidente que ainda nao chegamos a este ponto.

Em assuntos religiosos, a historia nos mostra que as

igrejas tern seus dias de abundancia, seguidos por fases de

seca. A Igreja Universal e rodeada destas circunstancias; teve

seus Pentecostes, suas Reformas, seus Avivamentos; mas

nos intervalos chegam pausas penosas, quando ha mais

motivos para lamentacao do que para gozo, quando 0

miserere e mais adequado que a aleluia. Portanto, que nenhum

irrnao se condene a si mesmo por estar consciente de nao

possuir toda a vivacidade da juventude: e possivel recupera-

-la. E natural que 0 agricultor anseie pela primavera, mas

nao se desespere por causa do frio atual; espero que lamentem

todo tipo de decadencia, mas nunca desanimem. Se alguem

anda em trevas e nao ve nenhuma luz, confie em Deus e

espere nEle ate que envie dias mais luminosos.

Receio que muitos de nos nao mantemos a devida

elevacao, mas decaimos mais do que 0 normal. Ha causas

que concorrem para isso, e convem considera-las. Certo

grau de abatimento de espirito pode ser puramente fisico,e proceder da eoaporacdo d o v ig or j uv en il. Alguns possuem

todas as forcas do inicio da virilidade; andam como os

servos, com movimentos rapidos como as aves; mas outros,

de cabelos grisalhos, a idade os tornou sobrios, Os olhos nao

se apagaram, nem se extinguiram as forcas naturais, mas 0

fulgor e a chama da mocidade se foram e na maneira de

falar e de agir ja nao se nota 0 orvalho da manha que era a

gloria das folhas jovens da vida.

Por mim, se fora possivel, permaneceria sempre jovem.Mas isso nao concorreria para meu progresso, de modo

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Urn Novo Comeco

algum. Meus dias de voo se transformaram em dias de car-

reira, e esta esta diminuindo para converter-se num passo

ainda mais lento. E motivo de alento que as Escrituras

parecem indicar que isto e progresso, pois e a ordem prescrita

para os santos: "Levantarao as asas como aguias"; perdem-se

de vista, pela distancia que atingem. Em seus primeiros

serm6es, como levantavam as asas! Seus primeiros esforcos

evangelisticos, que voos de aguias eram! Depois dis so,

diminuiram a marcha, e, por certo, seu passo melhorou;

tornou-se mais firme, e talvez mais vagaroso, como esta

escri to: "Correrao, e nao se cansarao; caminharao e nao se

fatigarao". Deus queira que nao nos fatiguemos; e se nossos

dias de correr ja terminaram, que caminhemos com Ele

como Enoque 0 fez, ate que 0 Senhor nos conduza para 0 lar.

Outra coisa que freqiientemente leva ao abatimento e a

ausencia dos primeiros exitos. Nao quero dizer que seja sempre

assim; mas, em geral, quando urn obreiro se dirige a urn novo

campo ha muitas porcoes sem colher, e recolhe grande colheita,

porem essas depois VaGse escasseando. Se pesca num pequeno

tanque, nao pode alcancar tantos peixes como a principio,

Se estamos num grande metropole, que se assemelha a urn

oceano, podemos estender as redes quanta queiramos; mas

se vivermos numa cidade pequena, logo podemos concluir

a tarefa de conversao direta se0

Senhor abencoar muito, edepois de certo tempo sao raros os frutos porque e limitado 0

numero dos incredulos que vern a pregacao. E possivel que

Deus ja tenha concedido ao irrnao todos quantos determinou

salvar na localidade e e preferivel ir pescar noutras aguas,

N em todos os dias trazemos a rede cheia de peixes, mas

experimentamos tristes intervalos de esforcos infrutuosos e,

entao, nao e de se admirar que 0espirito se torne fatigado.

o 4 esga~ te n atuT (lL de um a o id a ativ a ten de tam bern a

abater-nos. Muitos pensam que temos pouco ou nada a fazeralern de subir ao pulpito e derramar uma torrente de palavras

duas ou tres vezes por semana; mas deveriam saber que, se

nao passassemos muitas horas de estudo diligente, ouviriam

serm6es muito pobres. Ouvi falar de urn irrnao que confia no

Senhor e nao estuda, mas me acrescentaram que os membros

da sua igreja nao confiam nele; desejam que va para outra

parte com seus "discursos inspirados", afirmando inclusive que,

quando estudava, seus serm6es ainda deixavam muito a

desejar, mas agora que lhes da aquilo que primeiro vern aos

labios, sao totalmente insuportaveis. Se alguem quer pregar

como deve, seu trabalho the exige mais do que qualquer outra

atividade debaixo do ceu. Se nos concentramos em nosso

trabalho e vocacao, mesmo entre poucas pes soas, hayed atrito

de alma e desgaste do coracao que afeta mesmo 0mais forte.

Estou falando como quem sabe, por experiencia, 0que e sentir-

-se totalmente esgotado no service do Mestre. Nao importa

quao bem-dispostos estejamos em espirito, a carne e debil; e

Aquele que defendeu carinhosamente a Seus servos ador-

mecidos no jardim, conhece a nossa constituicao e recorda que

somos po. Necessitamos que 0 Senhor nos diga de vez em

quando: "Vinde a parte ao lugar deserto, e repousai urn pouco".

Alern disso, somos propensos a abater-nos q ua nd o n os so

d eoer se torna em retina , devido a sua monotonia. Se nao

vigiarrnos, muito provavelmente diremos a nos mesmos:

"Na terca-feiraa

noite tenho de estar novamente aqui a fimde dar uma mensagem no culto de oracao; na quinta-feira

deverei pregar, mesmo que nao tenha assunto; no domingo

de manha e a noite, pregar de novo. Tambem, os compromissos

especiais; sempre pregar, pregar, pregar. Quao cansativo!"

Pregar deveria ser urn gozo, mas, sem duvida, pode trans-

formar-se em pesada tarefa. A pregacao continua deveria

produzir uma satisfacao constante, mas quando 0cerebro esta

fatigado a alegria desaparece. Perguntamos: como conservar

o entusiasmo? E dificil produzir tanto com tao pouco tempopara a leitura; e quase tao embaracoso quanto fabricar tijolos

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sem palha. Nada pode manter a nossa disposicao sem a

uncao do Espirito Santo.

Nao admira, pois, que alguns irmaos estejam abatidos po r

falta d e a ss oc ia ca o c om o utra s p es so as d e c ora aio a rd en te e e sp irito

congenere. Irmaos, nao podemos viver isolados; por certo,

uma das nossas provas mais penosas e a terri vel solidao em

nossos services mais elevados. Quao agradavel encontrar urn

espirito gemeo com quem manter cornunhao! 0 pior e que,

se poucos nos concedem novas forcas com sua conversacao,

muitos nos cercam com as suas tagarelices, e quando deseia-

mos elevar-nos com temas mais sublimes, somos arrastados atriste murmuracao de uma aldeia. Nao e de estranhar que em

tal ambiente, percamos as forcas enos sintamos abatidos.

Sem duvida, nada disto serve de escusa para cair num

estado de desanimo e e possiuel que verdadeiram ente nossa

decadencia mental sej a 0 r esul tado da nossa pobre suuacao esp ir itua l.

Talvez ten ham os deixado 0nosso primeiro amor, nos afastado

da simplicidade da nossa fe, apostatado no coracao e

entristecido 0 Espirito Santo, de modo que Deus caminha

numa direcao contraria a nos, porque estamos andando de

modo errado. Talvez a chuva nao vern por nao haver oracao,

e os ventos celestiais deixaram de soprar por termos sido

muito indolentes no estender as velas. Acaso nao tern havido

incredulidade que impede a bencao? Habitualmente falamos

de incredulidade como se fora uma aflicao da qual devemos

compadecer-nos, em vez de urn crime que devemos condenar.

Ao fazermos mentiroso Aquele que nos revelou os scgredos

do Seu coracao, e Se tern agastado em abencoar-nos de modo

tao extraordinario, tern que produzir dor no coracao do Pai.

Talvez sentimos menos amor a Jesus do que outrora, menos

zelo na realizacao da Sua obra, e menos angustia pelas almas

dos demais; se isso ocorre, nao admira que desfrutemos menos

da presenca de Deus, e logo nos sintamos abatidos. Se a raiznao e forte, como podem florescer os ramos?

Porventura a negligencia teria se unido a incredulidade?

Temos atendido a carne em seus desejos? Perdemos a in-

timidade com Jesus, a qual noutro tempo desfrutavamos?

Diminuimos 0 fervor com que iniciamos? Nesse caso, 0

egoismo anulara a forca e destruira a capacidade , do service.

Fato terrivel e que as vezes estes abatim entos term inam em

catastrofe. Apos a apostasia secreta vern urn pecado que e

divulgado publicamente, e muitos damam: "Que vergonha!"

Entretanto, 0 mais triste nao e este pecado, e sim 0 estado

geral do coracao daquele homem. N ada se torna mau de

repente. Por certo 0 raio matou a sua vitima; mas a descarga

nao haveria caido sem que houvesse uma previa conjugacao

de elementos que provocassem a tormenta. Quando ouvimos

falar de urn homem que arruinou 0 carater num ato de

loucura surpreendente, podemos conduir, em regra geral,

que sua maldade nao foi senao 0 jorro de enxofre procedente

de urn terreno minado de fogo vulcanico; ou, mudando de

figura, urn leao rugidor que saiu de uma cova cheia de

feras. Se desejam damar, dia e noite, de joelhos, que nao

lhes aconteca nenhum desastre moral, previnam-se contra

o pecado que conduz a ele; on de nao existe a causa, nao

aparece 0 efeito. 0 Senhor nos preservara se constantemente

damamos a Ele que limpe 0 nosso caminho.

Existe urn mal debaixo do sol que e tao terrfvel quanto

uma catastrofe publica - na realidade, e pior para a igreja, num

sentido mais amplo - e e quando 0ministerio e ca rcom ido pelas

larvas espirituais.

Urn anciao hindu me descreveu como os moveis podem

ser devorados pelos cupins. Estes insetos en tram na casa e

devoram tudo, mas aparentemente nada foi tocado. As

estantes e demais objetos permanecem exatamente onde

estavam; a simples vista, tudo esta igual; porem quando se

toea nos moveis, eles se despedacam, pois os cupins oscomeram por dentro. De igual modo, alguns homens seguem

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o ministerio, contudo a alma dos mesmos ja nao existe.

Tern nome de que estao vivos, mas estao mortos. Pode haver

algo pior? Quase seria melhor que houvesse uma explosao e

tudo acabasse, do que ver homens preservando a forma de

religiao depois que a piedade vital desapareceu, espalhando

a morte ao red or, mas tentando manter 0 que se chama uma

posicao respeitavel. Deus nos guarde tanto de uma coisacomo de outra.

ou 0 arminianismo". E 0 que ocorria com aquele propagan-

dista que, num mercado, exibia urn quadro da batalha de

Waterloo, 0 qual, quando interrogado: "Qual e Wellington, e

qual Napoleao?", respondia: "0 que voces quiserem, amigos;

paguem e escolham". Esses mestres liberais estao dispostos

a ministrar qualquer ensino conforme a demanda.

Quando 0 coracao se acha deform ado e a vida espiritualdecai, os hom ens logo adotam erros doutrinarios, nao tanto

porque a mente nao funciona bern, mas porque 0 intimo esta

em mas condicoes. Os desvios da fe sucedem pouco a pouco.

Iniciam dizendo 0minimo a respeito da graca, Administram

doses homeopaticas do evangelho; e maravilhoso que urn

pequeno globule do evangelho salve uma alma, e e grande

misericordia que assim seia, pois do contrario poucos se

salvariam. Mas essas migalhas do evangelho e 0pregador que

as da, nos recordam 0 famoso cao do Nilo, do qual os antigos

diziam que temia tanto os crocodilos que ele bebia no rio

com muita press a e se afastava imediatamente. Estes prega-

dores tern tanto medo dos crocodilos criticos que enquanto

apressadamente tocam na agua da vida do evangelho fogem

em seguida. Suas duvidas sao mais fortes do que suas crencas.

E 0 pior e que, nao so nos dao muito pouco evangelho, mas

acrescentam muito que nao e evangelho. Nisto sao semelhantes

aos mosquitos, dos quais afirmo que nao me importa que me

roubem urn pouco de sangue, mas os combato por causa do

veneno que me introduzem. E coisa prejudicial que alguem

me prive do evangelho, porern que me sature com doutrinas

venenosas, e intoleravel.

Quando os homens perdem todo 0 amor ao evangelho,

tratam de compensar a perda de sua atracao mediante

invencoes proprias de certo brilho. Imitam a vida com 0fulgor

artificial da cultura. E tristemente Iamentavel que qualquer

ideia que alguem propague atualmente logo encontre pessoas

para apoia-la. Se urn erudito escreve algum disparate, logo

Quando os homens chegam a este estado, costumam adotar

algum procedimento para oculta-Io. A consciencia sugere

que algo vai mal, e 0 coracao enganoso atua para encobrir

ou disfarcar a realidade. Alguns 0 fazem d is tr ai ndo -s e com

p as sa te mp os em v ez d e p re ga r 0 evangelho. Nao podem fazer a

obra do Senhor; entao passam a ocupar-se de obra pessoal.

Nao possuem a suficiente honradez para confessar que

perderam 0 poder evangelico, de modo que ado tam urn

passatempo; e esse mal nao parece tao grave quando eles se

contentam com coisas secundarias, as quais nao possuem

outro defeito senao 0de afastar-se do essencial.

o pior e quando urn homem decai de tal modo no seu

coracao e espirito que ndo lhe restam pr inc ip ios , e nao ere mais

em coisa alguma. Nao e fanatico; promete nao ofender a

ninguem. Mantern certos pontos de vista, mas 0 principal e

assegurar urn pastorado e 0 que mais 0 atrai e 0 salario.

Orgulha-se de possuir urn coracao largo e uma receptividade

do espirito. Sua alma esta sendo carcomidal Essa e a realidade

que procura encobrir com esses enganos. Tais pessoas recor-

dam 0 anuncio de certa escola na Franca, cuio paragrafo final

era: "Ensina-se aos alunos a religiao que os pais escolherem".

E algo abominavel quando os ministros chegam a ensinar

qualquer doutrina que os lideres determinarern; ao iniciar 0

ministerio num novo campo, 0 pastor interroga: "Peco que

me informem se a igreja prefere urn calvinismo avancado

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tera aceitacao; nao ha opiniao, por absurda que seja, que nao

sera crida em determinados setores, sobretudo se tern 0apoio

dos chamados cientistas. Pessoalmente, observo 0 esforco dos

novelistas em teologia e tenho procurado extrair 0 que for

possive1 dos seus livros, mas fico surpreendido pelos resulta-

dos, notavelmente infimos, das suas teorias. Muitos jovens

ministros se mostram riescios por abandonar a pesca

apostolica e unir-se a esse desperdicio de esforcos mentais. Que

fizeram esses profissionais da duvida, desde que 0 mundo

iniciou? Que farao> Que podem fazer? Apenas introduzir-se

nas igrejas para semear 0 joio nos pulpitos outrora ocupados

por ortodoxos.

Deus nos impeca que jamais tratemos de encobrir a

decadencia do coracao com inventos de nosso amor-proprio.

Espero que quando 0 nosso ministerio cornecar a perder 0

poder, sejamos levados a cair de joelhos ante 0 nosso Deus a

fim de que Ele nos avive novamente pelo Seu born Espirito.

"Posso ver 0 bendito lugar do meu descanso, e a seguir

voltarei a ele". Este e 0 born conselho aos que estao

conscientes de haver perdido 0 consolo ao abandonar 0

antigo born caminho.

Estou certo de que nao podemos perrnitir-nos estar num

estado de decadencia porque nunca e s ti vemos demasiadament e

vivos. Nossos defeitos e limitacoes, mesmo no melhor dos

casos, sao mais que suficientes para ensinar-nos 0 que seria-

mos se fossemos piores. Posso imaginar alguns hom ens

perdendo parte da sua bravura e ainda permanecendo

valentes; mas se uma pequena porcao da minha bravura

se evaporasse eu seria urn verdadeiro covarde; se perdesse

alguma medida de fe, seria urn lamentavel incredulo, pois

nao me sobraria nada dela.

Irmaos, acaso ja alcancamos nossa devida posicao quando

comparada C01' fl rto~ so~p rime ir oi de al d ogue e sp en iv amos s er ?

Lernbrem-se do objetivo tao e1evado que haviam proposto

ao ingressar no ministerio? Fizeram bern em escolher uma

meta e1evada, pois, se miram a lua dispararao mais alto do

que 0 fariam se atirassem numa sarca. Agiram bern em ado tar

urn ideal eleva do, mas nao farao bern se nao 0 atingirem.

Entretanto, quem consegue alcancar seu proprio ideal? Nao

lhes vern desejos de esconder 0 rosto quando se comparam

com 0 Senhor? Salvou aos outros, e por isso nao pode salvar-

-Se a Si mesmo; nos, porem, somos ze1osos em guardar-nos

a nos mesmos e sempre agimos como se 0 instinto de

conservacao fosse a lei suprema da natureza. Ele sofreu

grande contradicao dos pecadores contra Si mesmo, enquanto

nos nos sentimos provocados se alguem nos contraria no

minimo. Ele amou as Suas ove1has e as acompanhou quando

se extraviaram; mas nos temos diminuta compaixao mesmo

para com os que se reunem no nosso aprisco. Estamos

muitissimo abaixo da verdadeira gloria do Bern-Amado,

e nem sequer alcancamos 0 pobre ideal que dEle temos,

Talvez tenha falado muito extensamente a respeito da

primeira parte do meu tema; proponho-me agora considerar

a n ec es si dad e da g ra ca r enovadora. Se algum de nos desceu das

alturas, e hora de voltarmos a elas. Se caimos do primeiro

amor, e sumamente necessario que renovemos 0 ardor da

juventude. Se retrocedernos, mesmo em pequena medida,

convern que pecamos ajuda para recuperar 0perdido.

E necessario para n Q J § 2 _ P L t 5 P _ r ! : Q _ g Q ? o . Qualquer irrnao cujo

coracao esfriou, cuja fe esta se debilitando e em cujo espirito

mantem diividas, torna-se infeliz. So experimentamos 0

gozo verdadeiro quando andamos com Deus. Afastados de

Cristo, os "chamados para ser santos" sao condenados a des-

dita. Se em qualquer medida se afastaram dEle e se os cerca

a neblina ou sentem frieza, apressem-se a voltar ao brilho

do Sol. Em Cristo podem repousar cheios de gozo; nEleencontrarao toda a bencao e consolo. Digam as suas almas:

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Nunca ern Suas oracoes particulares, nem ern publico na

Sua vida, ou ern Seu ministerio ou ens inos, nos aproximamos

tanto dEle como deviamos; e sem duvida 0 nao alcancar 0

alvo de assemelhar-nos a Ele nos deveria envergonhar e

fazer-nos chocar. Assim, pois, nao devemos permitir-nos a

decadencia.

Por certo, ainda que nao nos comparemos corn 0 nossoMestre, senao somente corn alguns dos nossos irrnaos ministros

(pois alguns deles realizam notavel obra para Cristo)

chegaremos a mesma conclusao, Diversos companheiros tern

resistido gran des desalentos, servin do fielmente ao Senhor;

outros tern conquistado almas para Cristo e cada uma lhes

tern custado enorme abnegacao. Poderia sen tar-me corn deleite

aos pes desses irrnaos dedicados e, contemplando-os, render

gracas a Deus por eles. Encontram-se entre homens de capa-

cidade inferior, de escasso poder, de aptidoes insignificantes;

no en tanto, como tern trabalhado, e de que modo tern orado,

a ponto de serem tao abencoados por Deus! E possivel que

alguns, possuindo dez vezes sua capacidade e oportunidade,

nao realizam algo semelhante ao que eles tern empreendido.

Nao choraremos por causa disso? Podemos permitir-nos

a decadencia?

Amados irrnaos, nao podemos permitir-nos permanecer

num estado inferior ao otimo; do contrario, nossa ta~~B! : ", rzqq,

s e ra b em f ei ta . Houve tempo ern que pregavamos corn todas

as forcas. Ao iniciarmos 0 rninisterio, que pregacao, no que

se refere ao zelo e a vida! Nossa propria humilhacao deve

aumentar ao percebermos que no passado eramos mais reais

e mais intensos do que 0 somos agora. Pode alguem afirmar

que no presente pregamos melhor porquanto ha mais

pensamentos ou mais exatidao nas mensagens ou que usamos

mais eloquencia que ern tempos anteriores; todavia, onde

estao as Iagrimas do inicio do nosso ministerio? Onde estao coracao quebrantado de nossos primeiros sermoes? Onde

estao a paixao, a negacao propria que constantemente sentiamos

quando derramavamos a propria vida ern cada sflaba

pronunciada? As vezes vamos ao pulp ito resolvidos a fazer

como dantes, a semelhanca de Sansao ao ten tar as mesmas

proezas de outrora, ignorando que 0 Senhor se apartara dele,

o que 0 fizera tornar-se tao debil como qualquer outro

homem. Irmaos, que ocorreria se 0 Senhor se apartasse de

nos? Ai de nos e do nosso ministerio!

Nada po de fazer-se sem a atuacao do Espirito Santo, nem

ao menos intentar-se algo de born. Admiro-me de que muitos

evitam pregar 0evangelho ao mesmo tempo que declaram estar

pregando-o. Usam urn texto que deveria entrar na conscien-

cia, mas conseguem falar de tal modo que nem despertam aos

negligentes nem afligem aos que confiam ern si mesmos.

Jogam corn a espada do Espirito como se fossem malabaristas

de circo, ern vez de lancar a espada de dois fios aos coracoes

dos homens, a semelhanca dos soldados quando en t ram ern

combate. 0 imperador Galiano, contemplando urn horn ern

que arremetia varias vezes contra urn touro sem alcanca-lo

enquanto 0povo 0vaiava, chamou-o a parte e, colocando urn

laurel sobre a cabeca, disse: " E urn merito especial que tenha

conseguido errar urn alvo tao grande tantas vezes." Que

premio daremos aos pregadores que nunca alcancam os

coracoes, jamais condenam os pecados dos homens, nuncaconseguem que 0 fariseu abandone a propria justica, nunca

influenciem ao culpado a ponto de se lancar aos pes de Jesus

como pecador perdido? Talvez urn dia possam aspirar a ser

coroado de vergonha por tal crime. Entretanto, cinjam suas

frontes corn a sombra da noite. Sejamos como os canhotos de

Benjamim, que "sabiam lancar pedras corn grande precisao".

Isso nao podemos alcancar a menos que a vida abundante

de Deus perrnaneca ern nos.

Cada urn deve cuidar-se como homem, por causa de simesmo e da sua casa; mas, como ministro, precis a de muito

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UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 Um Novo Comeco

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maior zelo devi do aosque e st ii o sobos s eus cu idados. Certo capitao,

nos mares do SuI, tomava, segundo alguem observou, uma

rota mais larga porem mais segura para entrar no porto.

Quando alguern comentou que ele era demasiadamente

cuidadoso, respondeu: "Levo tantas pessoas a bordo que nao

posso permitir-me correr risco algum". Quantas almas a

bordo dos nossos barcos! Quantos seres de valor incalculavel,

imortais, entregues ao nosso cuidado! Desde que sobre 0

nosso ministerio pesam coisas eternas - a vida e a morte, 0

ceu e 0 inferno - que dasse de pessoas devemos ser? Quao

cuidadosamente devemos ser em referencia a nossa saude

espiritual! Como deveriamos estar sempre em nosso melhor

nivel! Se eu fosse urn cirurgiao e tivesse que operar urn

paciente, jamais tomaria 0 bisturi ou tocaria em seu corpo

quando me sentisse irritado ou timido; nao quisera encon-

trar-me noutra condicao senao a mais tranquila, serena e

segura, quando a menor diferenca poderia significar atingir

urn ponto vital e por termo a uma vida preciosa. Que

Deus ajude a todos os medicos de almas a estarem sempre

em sua melhor forma.

Creio que a m archa da causa de D eus no m undo depe_ nde de

q ue n os a ch emos em e xc ele nte s c on dic oe s. Assim como em dias

passados 0 Senhor levantou homens notaveis para enfrentar

a batalha em prol do avanco da Sua causa, fazendo queSua luz brilhasse por toda a parte, creio que temos de

estar em sucessao direta como defensores da forma mais

pura da verda de evangelica. Foi-nos ordenado transmitir as

geracoes. vindouras 0evangelho eterno que nossos veneraveis

patriarcas nos transmitiram. Ha urn futuro para qualquer

igreja que conserva fielmente as ordenancas de Deus e se

mantenha resoluta em ser obediente a Cabeca do pacto, em

todas as coisas. Nao temos prestigio, nem riqueza nem 0

Estado que nos apoie, porem possufrnos algo melhor do quetudo isso.

Quando se perguntou a urn espartano acerca dos limites

do seu pais, esse replicou: "Os limites de Esparta estao

marcados pelas pontas "das nossas lancas." Algo identico

ocorre em referencia a extensao das nossas igrejas; mas

nossas armas nao sao carnais. Aonde quer que vamos, prega-

mos a Cristo crucificado, e Sua Palavra de solene proclamacao:

"0 que ere e for batizado, sera salvo." Disseram ao espartano:

"Nao tern mural has em Esparta". "Nao", replicou, "as

muralhas de Esparta sao os peitos dos seus filhos." Nao temos

defesas especiais para nossas igrejas, nem leis que nos

amparem, nem credos vigentes; mas temos os coracoes

regenerados, os espiritos consagrados dos hom ens que

resolveram viver e morrer a service do Rei Jesus, e que agora

tern sido suficientes, nas maos do Espirito, para preservar-

-nos de atrozes heresias. Nao vejo como comecou tudo isso,

pois a batalha da verdade iniciou ha muito tempo; e nao

vejo 0 fim, exceto a volta do Senhor e a vitoria eterna. Se sao

dignos da sua vocacao, irrnaos, serao independentes e valo-

rosos e nao se apoiarao demasiadamente em ajuda alheia.

Esparta nao poderia ser defendida por uma raca de covardes

armados com lancas sem pontas; de igual modo, mocos tirnidos

jamais podem empreender algo para Deus. E preciso que

adotem 0 heroismo se desejam enfrentar as exigencias do

presente. Que Deus faca com que os fracos entre voces sejamcomo Davi, e a casa de Davi como 0anjo de [eova (Zac. 12:8).

Antes de conduir, tenho de fazer uma proposicao: que e st a

seja a hora da renooaciio para cada um de nos. Que cada urn

husque urn avivamento pessoal atraves do Espirito divino.

Veremos a oportunidade se consideramos nossapropria naciio .

Busquemos uma situacao em que haja respeito pela justica e

pcla verdade, e nao para orgulho, ambicoes e vantagens. Que

1l~10sejarnos influenciados por ideias falsas a respeito dosgcnuinos interesses, mas pelos grandes principios da justica,

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UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 Um Novo Comeco

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do direito e da humanidade. Fiquemos ao lado dos que

defendem a retidao, 0 amor e a paz.

Rendamos gracas a Deus porque as escolas estao

instruindo 0povo. Ainda que a educacao nao salve as pes soas,

pode tornar-se urn meio para esse fim; po is quando todos os

nossos patrfcios saibam ler a Biblia, podemos esperar que

sem duvida Deus abencoara Sua propria Palavra. E preciso

que homens piedosos possam oferecer-Ihes bons livros,

alimentando assim seus novos apetites com alimento sadio.

Toda a luz e boa, e nos que acima de tudo amamos a luz da

revelacao, estamos ao lado de toda especie de luz verdadeira.

Deus esta levantando 0 povo, e creio que chegou a hora

de aproveitarmos 0 progresso; e ja que nosso negocio e

anunciarmos a Jesus Cristo, quanta mais nos dediquemos

it tarefa, melhor, porquanto a verdadeira religiao e a forca de

uma nacao, eo fundamento de todo governo justo.

Tudo que seja honesto, verdadeiro, arnavel, humano e

moral deve con tar com a nossa ajuda. Somos a favor da

temperanca e portanto nos aliamos ao comb ate de qualquer

vicio que arrufna nosso povo; combatemos a cruel dade con-

tra os animais. Somos decididos defensores da paz e lutamos

fervorosamente contra a guerra, crendo que 0 cristianismo

significa "basta de espadas, de canhoes e de derramamento

de sangue". Estejamos sempre ao lado da iustica.

Por certo estarao de acordo em que nossa santa comunhao

nesta hora feliz deve ajudar a todos nos a subir para urn nivel

mais elevado. Contemplar a muitos dos nossos irmaos anima

e estimula. Ao recordar a santi dade de alguns, a profundeza

da sua piedade, sua perseveranca, me sinto consolado na

crenca de que se 0 Senhor tern fortalecido a outros, Ele

reserva igualmente uma bencao para nos. Que esta "Festa

dos Tabernaculos" seja 0 momenta da renovacao de nossos

votos de consagracao ao Senhor nosso Deus.Iniciemos com 0 arrepen~i ! ! !en tqp() !Jo~ososnq~§(}s erros

defeitos, Que cada urn 0 faca por si. Recordem como 0 antigo

gigante lutou contra Hercules e 0 heroi nao podia vence-Io,

porque toda vez que caia tocava na mae-terra, e recebia novas

forcas, Caiamos tambern sobre os nossos joelhos, a fim de

podermos levan tar cheios de vigor. Volvamos it nossa

primeira fe simples, e recuperemos as forcas perdidas. Como

o enfermo que clamava: "Levem-me aos meus ares nativos, e

logo me recuperarei", e salutar para a alma voltar aos dias da

sua fe primitiva; isso a ajudara a renovar a sua juventude;

parece simploria, mas e a unica maneira.

Prosseguindo, r enovemos no ss a c ons ag rp fI jp . Pensem no

servo israelita, cujo tempo havia terrninado, mas preferia

permanecer no service porque amava ao Senhor. Amamos ao

Senhor e it Sua causa; portanto dediquemo-nos cada vez it

tarefa. Gostariamos que pregassemos o s m e smo s sermoe«; quero

dizer com a mesma forca, 0 mesmo entusiasmo com que

iniciamos a carreira, anunciando aos pecadores quao adora-

vel Salvador haviamos encontrado. 0 povo dizia: "Este jovem

nao sabe muito, mas ama a Jesus Cristo, e nao fala de outra

coisa". Eu gostaria de pregar de novo como no princfpio, e

ainda muito melhor; cria intensamente em todas as palavras

que pronunciava, sem perguntas e duvidas que agora nos

atacam, e sao sempre perdas lamentaveis para qualquer urn.

Voltem it pratica a nte rio r d a le itu ra d a B J bliq , Este livro,quando exam ina do, desperta muitas recordacoes em mim;

suas paginas resplandecem com uma luz que nao posso

descrever, pois estao incrustadas de estrelas que nas minhas

horas sombrias se tomam a luz da minha alma. Nao lia este

volume sagrado para achar urn texto, mas para ouvir a voz do

Senhor falando-me ao coracao; en tao nao era como Marta,

preocupada com os afazeres, mas como Lazaro, sentado com

Jesus it mesa.

Que Deus nos conceda tam bern urn avivamento dosp rim eiro s o bjetivo s d a n ossa c arreira esp iritu al. Entao nao

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UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 Um Novo Comeco

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pensavamos em agradar a homens, pois nosso objetivo era

tao somente agradar a Deus e ganhar almas. Eramos sufici-

entemente energicos para nao cui dar de outra coisa senao do

cumprimento da nossa missao. E assim agora? Agora sabemos

pregar, nao e certo? Cremos que somos eficientes em nossa

arte, Seria melhor que nao nos sentissemos tao bern preparados.

Creio que e melhor subir ao pulpito em fraqueza, mas emoracao, do que ir na forca que confia em si mesmo. Quando

gemo: "Que nescio sou!" abaixo do pulp ito, apos 0 serrnao,

envergonhado de minha pobre tentativa, estou certo de que

e melhor para mim do que quando me sinto satisfeito com

o que fiz. Que senso da responsabilidade tinhamos em

nossos primeiros cultos! Conservamos aquela solen ida de

de espirlto? Oravarnos enrao acerca da escolhs dos hinos e

da maneira de ler as Escrituras; nada faztamos descuidada-

mente pois nos agonizavamos em grande ansiedade. Sempre

lia a Bfblia cuidadosamente em casa, e procurava entende-

-la antes de le-la perante a congregacao, e assim formei urn

habito que jamais abandonei. Alguns dizem: "Passei 0 dia

todo fora de casa, e tenho de pregar a noite, mas posso faze-lo."

Sim, mas nao agradara a Deus que the oferecamos aquilo

que nao nos custa nada. Outros tern uma provisao de sermoes,

e pouco antes de subir ao pulp ito examinam seus preciosos

manuscritos, escolhem urn que parece conveniente, e sem outra

preparacao, 0 leem como mensagem de Deus ao povo. Que

o Senhor nos livre de urn estado de animo em que nos

atrevamos a por sobre a mesa da proposicao 0 primeiro

pao que nos venha a mao. Nao, sirvamos ao Senhor com

crescente cuidado e reverencia.

Seria born que muitos volvessem 4 s s ua s p rimei ra s o ra co es

, g _ ' l } J g i j i q s . . e a tudo 0mais que convem,

Seri a poss iv e l f az e- lo? Sim, irrnaos, e possivel. Podem ter

toda a vida que tiveram antes, e mais ainda pela bencao doEspirito Santo. Cada urn pode ser tao intense como jamais

tenha sido. J a vi cavalos velhos que vao ao pasto e voltam

fortes e vigorosos. Conheco urn lugar onde 0 corcel esgotado

pode ir alimentar-se e voltar para ser atrelado ao carro do

evangelho com forcas restauradas. Senhor, renova Tuas

misericordias antigas, e, como Fenix, nos levantaremos das

nossas cinzas!

Talvez lhes custe muito para serem restaurados de novo.Bunyan relata que quando 0 peregrino perdeu 0 diploma,

teve de procura-Io, de modo a voltar tres vezes ao mesmo

trecho do caminho, e 0 sol se pos antes de alcancar 0 abrigo.

Mas, custe 0 que custar, e preciso que nos humilhemos

diante de Deus. Talvez tenhamos de renunciar aquela

esplendida teo ria, desse amor a popularidade, a retorica ou

amblfaO, mas uma vez roralmenre subrnissos, Deus nos re-

compensara com muito mais do que a luta pode custar-nos.

Lamento dizer que 0 material de que sou feito exige

que 0 Senhor tenha de castigar-me frequenternente e com

energia. Sou como uma pena de ave que nao escreve a

menos que seja afiada constantemente, e por isso sinto

muitas vezes na minha carne essa disciplina; todavia, nao

lamentarei minhas dores e minhas cruzes, contanto que 0

Senhor me use para escrever nos coracoes dos homens. Esta

e a causa de aflicoes de muitos ministros; sao necessarias

para nossa obra. Em alguns ha uma medida tao pequena

de graca, que necessitam muitas enfermidades e aflicoes

para fazer com que seus dons sejam utilizaveis. Contudo, se

recebemos a graca suficiente para produzir frutos sem sermos

podados continuamente, tanto melhor.

Doravante, irmaos, que sub amos a urn ponto mais

clevado, 0 Senhor tern razao de espera-lo, quando recorda-

1110S0 que Ele fez por nos. Apos vitorias alcancadas, ninguern

deve pensar em render-se. Em vista do que tern os recebido

pcla misericordia do Senhor, jamais devemos arrear a ban-dcira ou dar as costas no dia da batalha. Quando temiam que

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UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1

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Sir Francis Drake fosse naufragar no Tamisa, ele disse: "Como!

Ja atravessei 0 mundo, e agora iria afogar-me num canal?

Nunca". De igual modo afirmo: ja ternos enfrentado aguas

tempestuosas; vamos afundar num tanque de aldeia?

Estamos agora em melhor forma para lutar, po is os golpes

anteriores nos tornaram rijos.

Muitos de voces tern passado provas, tribulacoes eaflicoes, e depois de permanecer tanto tempo nas fileiras,

haverao de ceder, fugindo como covardes? Deus nao permita

tal coisa! Ao contrario, que Ele lhes conceda 0 prazer, nao

so de ganhar almas para Cristo, mas de ver outros alcanca-

dos por sua instrumentalidade prepararem-se para lutar

por Jesus melhor do que voces conseguiram fazer. Recordo

urn exemplo da historia antiga. Diagoras de Rodes ganhou

em seus bons tempos notaveis laureis nos jogos olimpicos.

Tinha dois filhos, os quais educou para a mesma profissao.

Chegou 0 dia em que as suas proprias forcas diminuiram e

nao podia mais lutar pessoalmente, mas acompanhava os

filhos nas lutas e se alegrava ao presenciar as vitorias deles.

Oxala, irrnaos, tenham filhos espirituais que alcancem

gran des vitorias para 0 Senhor, e que possam viver para

testemunhar desses triunfos; en tao poderao dizer como

Simeao: ''Agora, Senhor, despedes 0 teu servo em paz".

No nome do Senhor ergamos novamente os estandartes.

Nosso lema e veneer, Nosso ideal e participar da vitoria do

evangelho do Senhor Jesus Cristo. Tanto podemos atacar

como resistir aos ataques que nos sao lancados. Pela graca

divina, nos sao concedidos energia e paciencia; podemos

agir e podemos esperar. Que a vida de Deus em no s produza

suas forcas mais poderosas, enos faca resistentes ate ao

maximo das possibilidades human as, e entao alcancaremos

a vitoria e daremos toda a gloria dela ao nosso Capitao

onipotente. Amados, que 0Senhor seja com voces!

3

LUZ, FOGO, FE, VIDA, AMOR

Faz anos, urn juiz excentrico e bern idoso, chamado

Foster, saiu para fazer uma viagem durante urn verao sufo-

cante; num dos dias mais torridos daquela estacao se dirigiu

ao grande jurado de Worcester nestes termos: "Cavalheiros

do juri: faz muito calor e estou muito velho; conhecem

muito bern seus deveres; vao e cumpram-nos". A acao e melhor

do que os discursos. Se eu lhes falasse durante uma hora,

dificilmente poderia dizer algo mais pratico do que isso:

"Conhecem seus deveres; vao e cumpram-nos". ''A Inglaterra

espera que cada urn cumpra 0 seu dever", foi a ordem pro-

clamada por Nelson em Trafalgar; preciso relernbrar-lhes

que 0 Senhor espera que cada urn dos Seus servos ocupe

seu posto ate que 0 Mestre volte, e portanto que seja urn

servo fiel? Vao, irrnaos, e cumpram a elevada missao que

Ele lhes confiou, e que 0 Espirito de Deus opere em voces

a boa vontade do seu Senhor!

Os que servem a Deus em verdade recebem 0 privilegio

de experimentar cada vez mais intensamente que "a vida e

real, a vida e fervorosa" se realmente e a vida em Cristo. Nas

horas de gran des dores, fraquezas e depress6es, ocorre-me 0

pensamento que, se me recuperasse novamente, seria mais

intenso do que nunca; se eu tivesse 0 privilegio de subir os

degraus do pulp ito de novo, tomaria a resolucao de abando-

nar toda figura de retorica em meus serm6es, nao pregar

senao a verdade atual e urgente e transmiti-la a congregacao

com todas as minhas forcas, vivendo intensamente e gastando

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UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 Luz, Fogo,Fe, Vida, Amor

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toda a energia de que seria capaz 0 meu ser. Julgo que tam-

bern 0 sentiram quando lhes acometeu a prostracao, Ou

disseram: "Terminou 0 tempo de brincar; e preciso por maos

a obra. Basta de desfiles; agora chegou a guerra. Urge que nao

percamos urn so instante, mas que possamos remir 0 tempo

porque os dias sao maus." Quando observamos a agressiva

atividade dos agentes satanicos, e quantas coisas realizam,deveriamos ficar envergonhados de nos mesmos por fazer

tao pouco para 0 nosso Reden tor, e esse pouco e as vezes

tao mal feito que exige 0 dobro de tempo para corrigir 0 que

fora realizado. Irrnaos, deixemos de lamentar e busquemos

progredir, avancar,

Afirmou notavel filosofo alernao que a vida e apenas urn

sonho. Parece-me que alguns que estao Dr' ministerio devem

ser discipulos des s a filosofia, pois estao sonolentos e seu

espirito e sonhador. Vivem para Cristo de modo tao displicentecomo nunca 0 faria uma pessoa que ambiciona ganhar

dinheiro ou alguern que pretende obter urn diploma na

universidade. Ouvi a respeito de urn certo ministro: "Se eu

agisse em meus negocios como ele no seu ministerio, iria afalencia em tres meses". E lamentavel que haja homens que

se denominam ministros de Cristo, aos quais nunca lhes

ocorre que estao obrigados a demonstrar a maxima operosi-

dade e zelo. Parecem esquecer que lidam com almas que

podem perder-se ou ser salvas para sempre, almas que custa-

ram 0 preco do sangue precioso do Salvador. Nao parecem

ter entendido a natureza da sua vocacao, nem haver captado

a ideia de embaixador de Cristo.

Ha ministros que demonstram 0maximo de vivacidade

quando praticam algum esporte, tomam parte numa excursao

ou tratam de seus proprios negocios, Muitos dorruern em

referencia as realidades e estao despertos para as coisas

efemeras, Considerem 0que Deus tera de dizer aos servos que

fazem bern os seus afazeres particulares e fazem mal os dEle.

Que sera do homem que empregou grande energia em suas

atividades ou distracoes, mas foi descui dado em seu cultivo

espiritual, ativo em seu oficio, e displicente no service de

Deus? Aquele dia 0 declarara! Despertemo-nos, para que

a nos sa fidelidade seja a maior possivel, lutando para

ganhar almas de tal modo como se tudo dependesse de nos,

embora, em fe, repousemos no glorioso fato de que tudodepende do Deus eterno.

Que estejamos despertos e ativos na busca dos perdidos;

fervorosos no espirito como pastores e evangelistas cuja

comida e bebida seja executar a vontade do Senhor. Mas

importa que almejemos crescer mais, realizar melhor. Quem

entre nos nao poderia alcancar maior exito se tivesse mais

disposicao para obte-lo? Quando Nelson servia as ordens do

almirante Hotham, e certo numero de barcos inimigos foram

capturados, disse 0 comandante: " E preciso que estejamoscontentes; alcancamos grande exito". Mas Nelson, que nao

tinha a mesma opiniao, replicou: "Se tivessernos capturado

dez naves e permitido que a decima primeira escapasse,

sendo possivel captura-la, nao consideraria exito". Mesmo

que tenhamos trazido muitos a Cristo, nao devemos atrever

a jactar-nos, pois nos humilha 0 pensamento de que muito

mais poderia ter sido feito, caso fossemos instrumentos mais

aptos para ser usados por Deus.

Alguem pode pensar: "Fiz tudo que podia". Talvez haja

realizado suficiente quanti dade de reunioes ou determinado

mirnero de serm6es, porem poderia ter feito num melhor

espirito as cultos e os serm6es. Alguns ministros poderiam

realizar muito mais se nao se projetassem tanto. A qualquer

irrnao que diga: "Nao sei como pregar mais do evangelho,

pais 0 anuncio constantemente", replicaria: "Nao necessita

pregar maior numero de vezes; poe mais evangelho em seus

serm6es." 0 Senhor, nas bodas de Cana, ordenou: "Enchei

cssas vasilhas d'agua"; imitemos os servos, dos quais lemos:

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UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 Luz, Fogo, Fe, Vida, Amor

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"E as encheram ate em cima". Que nossas mensagens

estejam repletas - sas, condensadas e cheias de gra<;:a.Deem

a congregacao muito 0 que pensar, muita doutrina biblica,

solida, e facam-no cada vez melhor, cada dia, cada ano, para

que Deus seja mais glorificado e os pecadores aprendam

mais claramente 0 caminho da salvacao,

Para 0 seu aperfeicoamento no ministerio, encomendo--lhes cinco elementos que devem estar de modo crescente em

voces. Nao precisam limitar a quanti dade de nenhum deles.

Sao cinco, de modo que podem contar nos dedos; seu valor e

inestimavel, por isso convem recolher e grava-los no coracao:

luz, fogo, fe , vida, amor.

alimento, e quem 0 possui deve alimenta-lo por meio de

leituras e pensamentos, do contrario se atrofiara. Como a

sanguessuga, ele esta sempre clamando: "Mais, mais" e nao

devemos deixa-lo morrer de fome. Se nao experimentam

esse tipo de fome entao e porque nao possuem grande

capacidade mentaL

Procurem ter em alto grau a luz suprema. Acima de todasas coisas, devem ser estudantes da Palavra de Deus, pois este

e urn dos aspectos mais importantes da sua vocacao. Se nao

estudamos as Escrituras e os livros que nos ajudam a entender

a teologia, estamos gastando 0 tempo em outras investigacoes.

Seria nescio 0 individuo que esta se preparando para ser

medico se passasse 0 tempo estudando astronomia. Podera

haver certa relacao entre as estrelas e os ossos humanos, mas

ninguern aprendera muito de cirurgia estudando as cons-

telacoes de Arcturo ou de Orion. Ha, por certo, uma Iigacao

entre todas as ciencias e a religiao, e aconselho a voces que se

esforcem para adquirir conhecimentos gerais, no entanto a

cultura universal sera rna substituta para 0 estudo especial e

devocional das Escrituras e das doutrinas contidas na revel a-

~ao de Deus. Temos de estudar os homens e 0 nosso proprio

coracao; deveriamos sen tar-nos como discipulos nas escolas

da experiencia e da providencia. Alguns progridem porque

o grande Mestre os disciplina severamente, com disciplina

santificada; mas outros nada aprendem por experiencia, vao

indo de erro em erro, e nada aprendem das suas dificuldades

exceto na arte de criar outras. Sugiro a todos a oracao dum

famoso puritano, que, durante urn debate, conforme outros

observaram, estava absorto escrevendo. Os amigos pensavam

que ele tomava notas durante 0 discurso do oponente; mas

quando viram 0 papel, so encontraram estas palavras: "Mais

luz, Senhor! Mais luz, Senhor!" Oxala tenhamos mais luz do

grande Pai das luzes!

Que esta luz nao seja somente a do conhecimento, mas

I. Recomendo-Ihes fervorosamente a aquisicao e

distribuicao de luz.

Para esse fim precisamos obter a luz (Prov. 4:7). Adqui-

ram luz, mesmo do tipo mais comum, pois toda luz e boa. A

instrucao em co is as comuns e valiosa e aconselho aos que

desperdicarn 0 seu tempo, a que se dediquem a essa tarefa.

No Seminario aprendemos a estudar com todas as nossas

faculdades. E (nil ao ministro iniciar a vida publica em lugar

pequeno, on de pode dispor de tempo e calma para ler

constantemente; sabio e 0homem que aproveita esta excelente

oportunidade. Nao so deviamos pensar no que podemos

fazer agora para 0 Senhor, mas no que conseguiremos realizar

se nos aperfeicoarrnos. Ninguern devia supor que sua educa-

~ao esta completa. Ha obreiros muito idosos que prosseguem

nos estudos com esforco e dedicacao inveiaveis. Se alguem diz:

"Estou perfeitamente equipado para meu trabalho, e nao

necessito de aprender mais; vim para ca apos trabalhar tres

anos no lugar on de exercia 0ministerio, e tenho boa provisao

de sermoes, de modo que nao preciso ler mais", eu the diria:

''Amigo, que 0 Senhor the de cerebro, pois voce fala como

urn deficiente neste aspecto". 0 cerebro precisa muito de

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UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 Luz, Fogo, Fe, Vida, Amor

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procurem: tambem a luz do gozo e do bom humor. Ha poder

num ministerio feliz. Urn rosto lugubre, uma voz lastimosa,

maneiras Ianguidas, nao sao coisas que nos recomendam aos

ouvintes; especialmente atraem muito pouco aos jovens. Ha

mentes estranhas que acham a felicidade na suma tristeza,

porern nao sao numerosas. Nao creio que esse tipo de minis-

terio da amargura atraia born numero de almas. Os filhos

da luz preferem 0 gozo do Senhor, pois ja provaram que Ele

Se tornou a sua fortaleza.

Adquiram abundancia de luz, e qu and o a tiv eram obtido ,

espalhem-na. Nao aceitem 0 conceito que 0 mero fervor sem

conhecimento bastara, e que as pessoas hao de ser salvas

simples mente por nosso zelo. Receio que somos mais eficientes

em calor que em luz; mas 0fogo que nao tern luz e de natureza

suspeita e nao vern de cima. Os pecadores sao salvos pela

verdade que penetra no entendimento, alcancando assim sua

consciencia, Como pode 0 evangelho salvar quando nao eentendido? 0 pregador talvez utilize saltos, gritos, golpes e

suplicas; porem 0 Senhor nao esta no vento nem no fogo; a

voz mans a e delicada da verda de e indispensavel para pene-

trar no entendimento e alcancar 0coracao. A congregacao deve

ser ensinada. Devemos "ir e doutrinar as nacoes", fazendo

discipulos entre elas; e nao conheco maneira alguma para

salvar os homens senao que os ensinemos e eles aprendam.

Alguns pregadores, embora sabendo muito, ensinam

pouco porque usam uma linguagem elevada. Lembremos

que nos dirigimos a pessoas que precis am ser orientadas

como criancas; mesmo adultos, a maior parte dos ouvintes

esta ainda na infancia no que concerne as coisas de Deus.

Para receberem a verdade, tern de ser apresentada de modo

simples, de maneira facil de assimilar e guardar na memoria.

Acaso nao tern ouvido serm6es que sao pecas de oratoria, e

nada mais? Contudo quando termina,0

discurso nao satisfeza mente, porque a retorica nao alegra a alma. E preciso que

nao facamos da oratoria 0nosso objetivo. Alguns sao eloqiien-

tes por natureza, e nao lhes e possivel ser de outro modo, como

os rouxinois nao podem evitar de cantar docemente; portanto,

nao os censuro, mas os admiro. Nao e dever do rouxinol

baixar a voz ao mesmo tom que 0 pardal. Que cante com

docura, se 0faz naturalmente. Deus merece a melhor oratoria,

a melhor logica, a melhor metafisica, 0 melhor de tudo;

entretanto, se alguma vez a retorica ernbaraca a instrucao do

povo, seja anatema. Que jamais alguma capacidade ou aptidao

educacional ou mesmo algum dom natural que possuamos

seja estorvo a compreensao do povo naquilo que transmi-

timos. Que Deus nao permita que a nossa erudicao ou estilo

obscureca a luz; pelo contrario, que sempre usemos a

linguagem singela de modo que 0 evangelho resplandeca

livremente em nosso ministerio.

Ha grande necessidade atual de transmitir luz porque ha

muitas t en ta ti va sJero zes d e_qJ!_q,g_q=IC lebscurece-la. Ha muitos

que espalham-as ·t~~v~~por toda a parte. Portanto, irmaos,

mantenham a luz arden do em suas igrejas e em seus pulpitos,

e ergam-na diante dos homens que amam as trevas porque

favorecem seus objetivos. Ensinem a congregacao toda a

verdade. Ha ladr6es de ovelhas que rondam a noite, e se

conseguem seduzir alguns do nosso povo e porque nao

conhecem os principios do cristianismo. Nossos ouvintes

tern uma ideia geral dessas coisas, mas nao 0 suficiente para

proteger-se dos enganadores. Estamos rodeados, nao apenas

dos ceticos, mas de certos homens que devoram os fracos.

Nao deixem que os seus filhos sejam privados de urn santo

conhecimento, pois ha sedutores ao redor que tentam desviar

os incautos. Cornecam chamando-os de "queridos" e term inam

afastando-os daqueles que os conduziram a Cristo. Se tern de

perder algum dos seus ouvintes, que 0 seja a luz do dia e nao

por ignorancia deles. Tais seqiiestradores deslumbram os

olhos debeis com 0 brilho de nov ida des e transtornam as

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mentes fracas com descobertas maravilhosas ou doutrinas

surpreendentes, as quais tendem a divisao, a amargura e aexaltacao da propria seita. Esforcem-se por manter a luz da

verdade arden do, e os Iadroes nao se atreverao a saquearsuas casas.

Feliz a igreja de crentes em Jesus que sabem porque

creem nEle; pessoas que ereem na Biblia e conhecem 0 seuconteudo; creem nas doutrinas da graca e conhecem 0alcance

de tais verdades; sabem onde estao e 0 que sao, e portanto

vivem na luz e nao podem ser enganadas pelo principe das

trevas! Lutem, caros irmaos, para que haja muito ensino em

seu ministerio. Alimentem sempre 0 rebanho com conhe-

cimento e compreensao, e que a sua mensagem seja solida,

contendo alimento para 0 faminto, cura para 0 enfermo e luz

para os que estao nas trevas.

excessivamente frias, porem entre os dois estados. Alguns se

desculpam: "Bern, nao sou 0 mais quente de todos, mas

tambem nao sou 0 mais frio". Tenho suspeitas quanto a

temperatura desses, mas deixo 0 assunto ao discernimento de

cada urn, observando apenas que jamais vi urn fogo que fosse

moderadamente quente. Outros dizem que nao convem ser

extremado, e nisso 0 fogo e certamente culpavel, pois nao so

e intensamente quente como tambem, tern a tendencia de

consumir e destruir sem limites. Quando atinge uma area,

transforma tudo em cinzas e nao ha maneira de conte-Io.

Oxala Deus nos conceda graca para sermos extremados em

Seu service! Que sejamos cheios de urn zelo incontido

pela Sua gloria! Que 0 Senhor nos responda com fogo, e

que esse fogo se derrame primeiramente sobre os ministros

e depois sobre as congregacoes! Pecamos a verdadeira chama

de Pentecoste, e nao as chispas acesas pela paixao hum ana.

N ossa necessidade e a brasa aces a do altar, e nada pode,

substitui-Ia; mas e indispensavel que 0 tenhamos, pois do

contrario nosso ministerio sera em vao,

Irmaos, antes de tudo, temos que nos empenhar para

que a f ogo . a r l i a . § J 1 ' [ , 1 J . ( ! s s ' ! : . t p r 6 p r i a s , ! : 1 1 1 ' f ( l § ~ Poucos pregadores

sao absolutamente frios; temos que ser aquecidos ate ferver,

se desejamos atuar como convem. A vida sempre produz

determinada quanti dade de calor com a possibilidade de

aumentar; ja que possuimcs vida, possuimos tambem

probabilidade de aquecer-nos mais e mais.

Seria horrivel escutar urn sermao que desse a sensacao

de estar sentado sobre a neve ou abrigado numa casa de

gelo. Pode ser bern planejado e bern distribuido, mas a

falha e que con tern madeira, porem falta 0 fogo. E preferi-

vel urn serrnao em que haja menos talento ou ausencia

de profundidade de pensamento, 0 qual da a impressao

de ter saido de urn forno, e como metal derretido abrescu caminho arden do, pots provavelmente nao sera

II. Suplico-lhes que em seu ministerio recebam e usem

abundantemente o j ogo celestial. Sobre este particular, tenho

de falar com cautela, pois temos visto os danos causados pelo

fogo incontrolado, e os perigos do fogo estranho. Embora

lamentando os prejuizos dos excessos, nenhum dos supostos

males do fogo iguala aos da tibieza. Inclusive 0 fanatismo e

preferivel a iridiferenca, Eu me arriscaria aos perigos de urn

adepto de excitacao religiosa antes que ver 0 ar estacionando

por causa de urn formalismo morto. E muito melhor que as

congregacoes sejam demasiadamente ardentes que mornas.

"Oxala foras frio ou quente!", continuam sendo as palavras

de Cristo, aplicaveis tanto ao pregador como aos demais.

Quando urn homem esta muito frio nas coisas de Cristo,

sabemos onde se encontra, mas se outro e considerado dema-

siadamente entusiasta, percebemos em que esfera esta vivendo.

Imagino 0que ocorreria se urn anjo com urn termometro

visitasse nossas igrejas, porque me parece que encontraria

grande parte das mesmas nem totalmente quentes nem

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esquecido, porquanto nada detem 0 fogo.

A energia continua sen do essencial, seja 0 que for que

tenha mudado na oratoria desde os tempos antigos. Quando

interrogaram a Demostenes sobre 0 que e mais importante

na oratoria, sua resposta nao foi "acao", e sim "energia". Qual

a segunda coisa em importancia? -"energia". E a terceira

coisa? - "energia". Estou convicto tambern de que a energiae 0 elemento principal da pregacao, no aspecto humano.

Como os sacerdotes do altar, nada podemos fazer sem fogo.

Irmaos, falem porque creem no evangelho de Jesus; falem

porque sentem 0seu poder; falem sob a influencia da verdade

que estao apresentando; falem com 0Espirito Santo enviado

do ceu; eo resultado nao sera duvidoso.

Recordem-se cuidadosamente que no ss a c hama lu i de ser

a ce sa d o a lto . Nada mais desprezivel que urn mero fogo pin-

tado, ou seja, 0 fervor fingido. Que 0 fogo seja aceso pelo

Espirito Santo, e nao por paixao psicologica, desejo de obter

honras, 0elogio dos demais ou emocao de presenciar gran des

auditorios, Que 0 terrivel exemplo de Nadabe e Abiu afaste

para sempre 0 fogo estranho dos nossos incensorios. Ardam

por haver estado em solene cornunhao com Deus.

Lembrem-se tambern que oto go de qu e necessita mos nos

c on sum ir a s e 0 possu imos ve rdadei ramen te . "Cuidado"! Talv~~

sussurrem os amigos; mas quando este fogo arde nao fare-

mos caso de conselhos. Se nos consagramos totalmente aobra de Deus, nao podemos retroceder. Desejamos ser ofertas

queimadas e sacrificios completos para Deus, e nao ousamos

evitar 0 altar. "Se 0 grao de trigo caindo na terra nao morrer,

permanece; mas se morrer, produz muito fruto." So pode-

mos produzir vida em outros a custa do desgaste do nosso

proprio ser.

Muitos ministros, fervorosos ficam esgotados ate que 0

coracao e0

cerebro chegam ao limite de suas forcas. Todos oshomens eminentemente uteis experimentam sua debilidade

no maximo grau. Quando Deus nos visita com poder para

salvar almas, e como se uma chama devoradora baixasse do

ceu e viesse morar em nosso seio. Herodes foi destruido por

vermes, amaldicoado por Deus; mas ser consumido por

Deus para Seu proprio service e ser abencoado ate 0maximo.

Podemos escolher entre as duas coisas, ser consumidos por

nossas proprias corrupcoes ou pelo zelo da casa de Deus. Nadade vacilar; a escolha de cada urn e ser do Senhor, inteiramente;

servos do Senhor, com ardor, paixao e veemencia, custe 0que

custar. Nossa unica esperanca de honra, gloria e imortalidade

esta no tamanho de nossa consagracao a Deus; como objetos

consagrados, e preciso que sejamos consumidos pelo fogo, ou

rechacados. Afastar-nos da obra da nossa vida a buscar distin-

<;;aonoutra parte, e loucura extrema; a seca nos ameacara, em

nada teremos exito, senao em buscar a gloria de Deus mediante

o ensino da Sua Palavra. "Formei este povo, declara Deus, paraproclamar 0meu louvor", e se nao 0fizermos, faremos menos

do que nada. Para is so fomos criados; e se nao 0 realizarmos,

viveremos em vao,

Como servo de Deus, 0 obreiro e honrado; mas se passa

a envolver-se noutros oficios ou busca seu proprio

engrandecimento, cessa de ser admiravel e passa a viver

insatisfeito, Estao destin ados unicamente a Deus; portanto,

rendam-se totalmente, consagrando-Lhe seu tempo, seus

bens, seu ser. Que 0 fogo da completa consagracao se levante

sobre voces, e assim resplandecerao como a prata derretida.

Nao nos submetamos jamais a vergonha e eterno desprezo

que serao 0destino dos que abandonam 0service do Redentor

pela escravidao do egoismo. Jesus exigiu dos discipulos:

"Negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me",

III. 0 elemento seguinte da nossa meditacao e ate.

Podemos dizer que e 0 primeiro e 0 ultimo assunto. "Sem

fe e impossivel agradar a Deus." Se agradamos a Deus, nao

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e por nosso talento, e sim por nossa fe ,

Atualmente necessitamos de muita fe na forma de

cren fa f ixa . Devemos saber mais do que antes; procuramos

desenvolver, mas nao como alguns, pois nao pertencemos a

escola liberal daqueles que creem pouco ou nada com

conviccao, porque desejam crer em tudo. Alguns nao tern

credo, ou se 0 possuem, 0 alteram tao frequentem ente quenao lhes serve para nada. Variadas sao as crencas e as

incredulidades de alguns, urn aglomerado de conceitos

filosoficos, teorias cientificas, residuos teologicos e invencoes

hereticas,

Quando tais "eruditos" se referem a nos, manifestam

grande desprezo e demons tram crer que somos esnipidos por

natureza. Pode ocorrer que alguem esteja se mirando num

espelho quando julga estar contemplando 0 vizinho pela

janela. Atrevo-me a dizer que nao devemos temer ante aperspectiva de medir forcas com os seguidores do "pensamento

moderno". Seja assim ou nao, a nos nos compete crer. Cre-

mos que quando 0 nosso Deus fez uma revelacao, sabia 0 que

queria e pensava, e Se expressou da maneira melhor e mais

sabia, em linguagem que pode ser entendida pelos que sao

sinceros e desejosos de aprender. Portanto cremos que nao

necessitamos de nova revelacao, e que a ideia que ha de

surgir outra luz e praticamente incredulidade segundo a luz

que ja recebemos, vis to que a luz da verdade e una. Embora

a Biblia tenha sido distorcida e posta a ridiculo por maos

sacrilegas, continua sendo a revelacao infalivel de Deus. 0

aspecto mais importante da nossa religiao e aceitar humilde-

mente 0 que Ele tern revelado. Talvez a forma mais elevada

possivel de adoracao e a submissao de todo 0 nosso ser

mental e espiritual ante 0 pensamento revelado de Deus, 0

entendimento prostrado, ante aquela sagrada presenca, cuja

gloria faz com que os anjos cub ram os rostos. Aqueles que

desejarem, adorem a ciencia, a razao ou seus proprios

raciocinios; contudo nosso deleite e prostrar-nos ante 0

Senhor Deus e dizer: "Este Deus e 0nosso Deus para sempre;

Ele sera nosso guia ate a morte".

Reunam-se em torno do antigo estandarte. Lutem ate amorte pelo evangelho imutavel, po is e a sua vida. Que a cruz

de Cristo esteja sempre em proeminencia, e que todas as

benditas verda des que a cercam sejam mantidas com todoo coracao,

Precisamos ter fe - nao so na forma de credo fixo - mas

tambern na form a de constante dependencia de D eus. Se me

perguntasse qual a mais agradavel disposicao de animo

dentro de toda a gam a dos sentimentos humanos, nao falaria

do poder da oracao, ou da abundancia de revelacao, ou de

gozos arrebatados ou vitoria sobre os espiritos maus;

mencionaria como 0 mais estranho deleite do meu ser, 0

estado em que se experimenta uma consciente dependenciade Deus. Frequentemcnte esta exper ien cia tern vindo

acompanhada de enormes dores fisicas e profundas humi-

lhacoes do espirito, mas e inexplicavelmente agradavel cair

passivamente nas maos do amor e morrer absorvido na vida

de Cristo. E urn de1eite chegar a compreensao de que voce

nao sabe, mas seu Pai celestial sabe; voce nao pode falar,

porern "temos urn advogado"; quase nao pode levantar a

mao, mas Ele opera todas as coisas em voce. A absoluta sub-

missao das nossas almas ao Senhor, 0 pleno contentamento

do coracao ante a vontade e os caminhos de Deus, a segura

confianca do espirito quanta a presenca e ao poder do

Senhor; isto e 0 mais proximo ao ceu que pode ocorrer

conosco. E melhor que 0 extase, pois qualquer urn pode

permanecer nessa experiencia sem esforco ou reacao.

'; 4h , n iio s er n ad a, n ad a;

a pena s pe rmanec e r a os S eus pe s. "

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Nao e uma sensacao tao sublime como voar em asas de

aguia; quanto a docura no entanto ela e profunda, misteriosa,

indescritivel e insuperavel, E uma bern-aventuranca na qual

se po de pensar, urn gozo que nunca parece ser roubado; pois

nao resta duvida de que urn pobre e fragil filho de Deus tern

direito indiscutivel a depender do Pai, direito a nao ser nada

na presenca dAquele que 0 sustem, Gratifica-me pregar nesseestado de animo, como se nao fora pregar, mas esperar que 0

Espirito Santo fale por mim. Presidir dessa maneira as

reunioes de oracao e da igreia, e toda a especie de atividades,

reduridara em sabedoria e gozo para nos. Geralmente

cometemos nossos maiores erros nos assuntos mais faceis,

achando tudo tao simples que nao pedimos a Deus que nos

guie e julgando que nossa propria capacidade sera suficienre.

Todavia, as graves dificuldades, essas no s levamos a Deus.

Bondosamente Ele da aos jovens prudencia e aos simples

conhecimento e discricao por meio delas. A dependencia de

Deus e a fonte inesgotavel da eficacia. Aquele verdadeiro santo

de Deus, Jorge Muller, me surpreende sempre, por ser uma

pessoa que depende tao simples e puerilmente de Deus; mas,

lamentavelmente, a maio ria de nos se julga demasiadamente

grande para que Deus nos use. Sabemos pregar tao bern que

fazemos urn serrnao de qualquer coisa ... e fracassamos.

Cui dado, irrnaos, pois se julgamos que podemos fazer algo

por no s mesmos, tudo que obteremos de Deus sera a

oportunidade de prova-lo, Deste modo, Ele nos examinara, e

nos perrnitira ver nossa .incapacidade. Certo alquimista, que

servia ao papa Leao X, declarou que havia descoberto como

transformar os metais vis em ouro. Esperava receber grande

soma de dinheiro por seu invento, mas Leao nao era tao

bobo; deu-Ihe tao somente uma enorme bolsa para que

guardasse 0 aura que fizesse. Nesta resposta havia tanto

sabedoria como sarcasmo. Isto e precisamente 0que Deus faz

com os orgulhosos; perrnite-lhes ter a oportunidade de fazer

o que se jactavam de poder fazer. [amais soube de alguma

moeda de aura que tenha chegado a cair na bolsa de Leao;

estou certo de que voces jamais serao espiritualmente ricos

pelo que podem fazer com as proprius forcas. Despojem-se

das suas proprias vestimentas, e entao Deus podera compra-

zer-Se em revestir-lhes de honra, mas nunca antes.

E essencial que demonstremos fe em forma de confiancaem Deus. Seria grande calamidade que alguern afirmasse de

v"~~~~7Tem urn excelente carater moral e dons notaveis, mas

nao confia em Deus". Necessidade importante e a fe. 0

apostolo recomenda: "Toman do sobretudo 0 escudo da fe",

Pena e que alguns vao a luta deixando 0escudo em casa. Terri-

vel e pensar num sermao que tivesse todas as qualidades que

urn sermao precisa possuir e, no entanto, constatar que 0

pregador nao confiasse no Espirito Santo para abencoa-lo de

modo a converter almas. Tal mensagem seria va. Nenhum

serrnao sera 0 que deveria ser se the faltar a fe; equivale a

dizer que urn corpo esta sadio quando a vida ja se extinguiu.

E admiravel ver alguem humildemente consciente da sua

propria fraqueza e ao mesmo tempo bastante confiante no

poder divino para atuar por meio das suas limitacoes. Se

intentamos fazer grandes coisas, nao nos excederemos na

tentativa; esperando notaveis feitos, nao cairemos desenga-

nados em nossas esperancas. Alguem interrogou a Nelson

se nao eram perigosos determinados movimentos de seus

navios, e a resposta foi: "Pode ser perigoso, mas em assuntos

navais nada ha impossivel ou improvavel". Atrevo-me a

asseverar que, no service de Deus, nada e impossivel e nada

e improvavel. Empreendam gran des coisas em nome de

Deus; arrisquem tudo, confiados em Sua promessa, e conforme

a sua fe lhes sera feito.

A norma comum em muitas igrejas e a de uma grande

prudencia, Em geral, nao intentamos nada acima das nossas

Iorcas. Calculamos os meios, medimos as possibilidades

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com exatidao economica. Logo concedemos ampla margem

para os imprevistos, e uma porcentagem ainda maior para

nosso comodismo, de modo que realizamos muito pouco

devido nao term os 0proposito de fazer muito. Oxala tivessemos

mais coragem, mais animo, mais "garra". Intentemos grandes

coisas, porque os que confiam no Senhor vencem acima de

todas as esperancas, Este e 0 tipo de fe da qual necessitamoscada vez mais; confiar em Deus de tal maneira, que em Seu

nome ponhamos a mao no arado. E ocioso passar 0 tempo

fazendo pIanos e modificando-os, sem nada fazer; 0 melhor

plano para executar a obra de Deus e realiza-la. Irmaos, se nao

creem em mais ninguem, confiem em Deus sem reservas.

Creiam plenamente. Crer na Palavra de Deus e 0mais razoa-

vel que temos a fazer; e seguir 0 caminho mais simples que

devemos tomar; e a norma menos perigosa que podemos

adotar, inclusive quanto ao cuidado de nos mesmos, pois Jesus

dec1ara: "Qualquer que quiser salvar a sua vida, perde-la-a;

mas 0 que perder sua vida por minha causa, a achara".

Exponhamo-nos a tudo, confiados na fidelidade absoluta de

Deus, e jamais seremos envergonhados ou confundidos.

Voces precisam ter fe em Deus na forma de ,_~ ,~fJ(J &i'lj.a , " ~

Aguardando muitos frutos, pregadores reservam urn lugar

onde pessoas possam ocupar-se com os novos convertidos.

Porventura iniciaremos a semeadura, sem providenciar urn

celeiro? Cristo nos ensina que devemos esperar colher

peixes em nossas redes, e aiuntar frutos em nossos campos.

"Abre bern a tua boca e ta encherei", orden a 0 Senhor. Orern

e preguem de tal maneira que, se nao houver convers6es,

ficarao atonitos, surpreendidos e quebrantados. Busquem a

salvacao dos seus ouvintes com tanta intensidade como 0

anjo que tocara a ultima trombeta buscara 0 desperta-

mento dos mortos. Creiam na sua propria doutrina! Confiem

no seu onipotente Salvador! Contem com 0poder do Espirito

Santo que habita em voces! Dessa maneira verao cumprido

o desejo dos seus coracoes, e Deus sera glorificado.

IV . Passo a falar-Ihes do quarto elemento, a saber, a vida.

o pregador deve ter vida; e indispensavel que tenha v id a e 11l

si mesmo. Voce esta bern vivo, irrnao? Como ministro, esta

completamente vivo? Se existe no corpo humano urn osso

que nao esta vivo, logo se transforma em foco de enferrnidade;urn dente estragado pode causar mais dana do que se imagina.

Nurn sistema vivo, uma porcao morta esta fora de lugar, e mais

cedo ou mais tarde, provocara dores intensas.

Alguns irrnaos nunca parecem estar inteirarnente vivos.

Suas cabecas vivem, sao inteligentes e estudiosos; mas e uma

lastim a que seus coracoes estejam inativos, frios, insensiveis.

Muitos nao percebem novas oportunidades, pois dao a

impressao de que a morte selou os seus olhos; suas Iinguas

estao apenas meio despert as porque vacilam e tropecarn,produzindo em torno deles urn ambiente de sono. Disseram-

-me que se certos pregadores dessem urn golpe ou agitassem

urn lenco de vez em quando, ou ao menos realizassem algo

diferente do habitual, seria urn alivio para a congregacao.

Espero que nenhum de voces se torne mecanico e monotone;

desejo que sejam plenamente vivos dos pes it cabeca, vivos de

cerebro e de coracao, de lingua e de maos, de olhos e de ouvidos.

o Deus vivo deve ser servido por homens vivos.

Esforcem-se para s er vi vo s em tod os o s s eu s d ev er es . Bradford,

o martir, costumava dizer: "Nunca me afasto de nenhum lugar

do service do Senhor ate que me sinta inteiramente vivo e

perceba que 0 Senhor esta ali comigo". Pratiquem esta regra

conscientemente. Ao confessar 0 pecado, prossigam con-

fessando ate que lhes pareca que suas lagrimas estao lavando

os pes do Salvador. Ao buscar 0perdao, continuem buscando

ate que 0Espirito Santo de testemunho da sua paz com Deus.

Ao preparar urn sermao esperem no Senhor ate que tenham

comunhao com Cristo, ate que 0Espirito Santo os faca sentir

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o poder da verdade que tern de apresentar. "Filho do

homem, come este rolo." Antes de tentar transmitir a Palavra

aos outros, que ela penetre em voces. Acaso nao ha demasiada

oracao morta, pregacao morta e atividade religiosa morta,

por todo lado? Atraves de observacoes e tristes experiencias,

tenho chegado a conclusao que 0 comodismo de nada serve

na obra do Senhor.Irmaos, cada urn de nos ha de possuir uma oida. mais

abundante) e esta precis a manifestar-se em todos os deveres

do nosso cargo; a vida espiritual fervorosa se revela na oracao,

no cantico, na pregacao, e ate no aperto de mao e na boa

palavra apos 0 culto. Nao posso suportar longas reuni6es

cujo objetivo e apenas discutir assuntos de ordem, emendas e

regimentos, onde se gastam horas do precioso tempo em

disputas acaloradas, como se 0 destino do mundo inteiro e

do ceu estrelado dependesse de tais debates. E sublime coisa

estar continuamente renovando a juventude, sem cair jamais

na rotina, mas tracando novos caminhos. Alegra-me ver a

vivacidade do jovem associada a gravidade do pai; porem,

acima de tudo mais, me regozijo ao contemplar urn homem

piedoso que conserva 0 entusiasmo, 0 gozo e 0 fervor do seu

primeiro amor. E crime permitir que nosso fogo arda com

tao diminuta chama quando a experiencia nos oferece cada

vez mais abundancia de cornbustivel.

Transbordem vida em todo 0momenta e q ue e ss a v id a s eja

v ista e m sua c on oe rs ac iio c om um . E urn surpreendente estad~

de coisas aquele que faz com que aspessoas boas digam: "Nosso

ministro desfaz no vestibule 0 que realiza no pulpito ;

prega muito bern, mas sua vida nao coincide com os seus

serm6es". 0 Senhor Jesus ensinou que f6ssemos perfeitos

como 0 Pai celeste. Todo cristae deve ser santo; no s temos,

porem uma obrigacao sete vezes maior de se-Io: como

poderemos esperar a bencao divina se nao for assim? Que

Deus nos ajude a viver de tal maneira que possamos ser

exemplos dignos do nosso rebanho!

N esse caso, a nossa vida flu ira para outros. 0 homem que

Deus usa para 0 despertamento e aquele que e pessoalmente

despertado. Que nos e a nossa comunidade sejam como as

fontes ornamentais que temos visto viajando peloestrangei-

ro: a agua salta como repuxo e cai numa concha; quando a

concha esta cheia a cristalina corrente transborda em meiode cintilacoes e cai noutra concha, e 0 processo e repetido

muitas vezes de modo que 0 resultado encanta a vista. Que

em nosso ministerio, irrnaos, as aguas vivas se derramem

sobre nos ate que milhares recebam bencaos e as cornu-

niquem a outros. Isto e 0 que 0 Senhor deseja: "0 que ere

em mim, como diz a Escritura, rios de agua viva correrao do

seu ventre". Que Deus nos encha ate transbordar. Isso e

essencial; precisamos ter vida. Se ha irmaos sonolentos ou

que executam 0 service de modo mecanico e rotineiro, que

despertem. Nossa obra requer que sirvamos ao Senhor com

todo 0 nosso coracao, com toda a nossa mente, com todas

as nossas forcas. Nao e lugar de fazer as coisas parcialmente.

Que os mortos vao e sepultem seus mortos, mas 0 trabalho

entre homens vivos exige vida, vida intensa e vigorosa. Urn

cadaver entre as hostes angelicas nao estaria mais fora de

lugar do que urn homem sem vida no ministerio evangelico.

Deus nao e Deus de mortos, e sim de vivos!

V . A ultima, mas certamente nao a menos importante,

entre todas as coisas de que tenho de falar, e 0amor. Sem duvida,

temos de desenvolver em amor. Para alguns pregadores e

algo dificil saturar e perfumar seus serm6es com amor; suas

naturezas sao duras, frias, asperas, egoistas. Nenhum de nos

e tudo 0 que deveria ser, porern alguns sao pauperrirnos

quanto ao amor. Nao possuem "amor natural" pelas almas

dos homens, como diz Paulo. A todos, mas especial mente

aos mais "dificeis", gostaria de dizer: sejam duplamente

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fervorosos em amor santificado, pois sem isso nao serao

mais do que "metal que ressoa ou cimbalo que retine". 0

amor e poder. 0 Espirito Santo na maior parte das vezes

atua por meio dos nossos afetos. A fe pode muito, mas

amem aos homens para conduzi-los a Cristo, porque 0 amor

e 0 instrumento que a fe usa para alcancar seus desejos em

nome do Senhor do amor.Amem seu trabalho. Nunca pregarao bern a menos que

estejam enamorados disso; jamais prosperarao em qualquer

cargo especial, a menos que amem a congregacao, e quase diria

ao povoado e ao templo. Gostaria que estivessem convenci-

dos de que a sua aldeia fosse a perola da comarca. Sua

capela, com toda a sua simplicidade, deve encantar voces. Seu

local tern capacidade somente para trezentos e vinte pessoas;

porern no seu entender e 0 maior numero que urn homem

so pode pastorear com esperanca de exito; pelo menos repre-

senta uma responsabilidade suficiente para voce. Quando

o amor de uma mae a leva a crer que os seus filhos sao os

melhores da localidade, a faz cuidar melhor da sua limpeza

e das suas roupas; se os julgasse feios e maus, descuidaria

deles; estou convencido de que ate que amemos de coracao

nosso trabalho e nossa gente, nao faremos algo importante. E

uma regra sobre a qual nao conheco excecao: para prosperar

em qualquer atividade e indispensavel que se sinta entusias-

mo por ela.

Devem tambem sentir um intenso amor pelas almas dos

homens, se desejam influencia-Ios para 0 bern. Nada ha que

possa compensar a ausencia disso. Ganhar almas ha de ser

a sua paixao, tern que senti-Io como coisa inata; e preciso

que seja seu alimento, a unica coisa pela qual considerem a

vida como digna de ser vivida. Urge que vamos a busca das

almas do modo como 0 cacador persegue a caca porque

essa atividade se apoderou dele e 0 impulsiona.

Acima de tudo mais, e necessario que sintamos , u 1 n : _

intenso amor a Deus. Urn poder especial nos reveste quando

ardemos de amor a Deus. 0 que falta a maio ria dos homens

eo amor. A graca santificada do amor deve ser mais pregada

entre nos e mais experimentada por nos. Oxala vivessemos

em term os de grande intimidade com 0 Bern-Amado, e

sentissemos sempre 0 Seu amor em nosso intimo! 0 amor

de Deus ajudara ao ministro a perseverar em seu servicequando de outro modo 0 abandonaria. "0 amor de Cristo

nos con strange", disse alguern cujo coracao pertencia

inteiramente ao Senhor.

Se estamos cheios de am or pela nossa obra, amor as

almas, e amor a Deus, suportaremos alegremente a abnega-

cao, que de outro modo se tom aria insuportavel, Sentimo-nos

orgulhosos de que haja tantos homens que devido pregarem

o evangelho, estao dispostos a renunciar profiss6es bern

remuneradas e a suportar privacoes, Nao obstante as prova-

coes, permanecem fieis a Cristo. Toda a honra a esses martires

que aceitam rigorosos sofrimentos por Cristo e Sua Igreja!

Ouvi dizer que 0 diabo, em certa ocasiao, aproximou-se de

urn cristae e the disse: "Tu te chamas urn servo de Deus, mas,

que fazes mais do que eu? Orgulhas-te de jejuar, mas tambem

eu 0 faco, pois nem como nem bebo; nao cometes adulterio;

tao pouco eu". E prosseguiu, mencionando uma longa lista

de pecados dos quais e incapaz, pelo qual podia declarar

estar isento deles. Mas 0 crente por fim the respondeu: "Faco

uma coisa que nunca fizeste: eu me nego a mim mesmo". Nisso

se revela 0 cristae; nega-se a si mesmo por Cristo. Crendo em

Jesus, "considera todas as coisas como perda pela excelencia

do conhecimento de Cristo Jesus, seu Senhor". Irrnaos, nao

deixem 0pastorado porque 0 salario e pequeno. Sua humilde

congregacao ha de ser atendida por alguem. Nao desesperem

quando os tempos se tomam dificeis; dias melhores virao;

entretanto, seu Pai celestial sabe das suas necessidades.

Ouvimos de homens que permaneceram em cidades

74 75

UMMINISTERIO IDEAL, Vol. 1 Luz, Fogo,Fe, Vida, Amor

Irmaos, consagrem-se novamente a Deus. Tragam novas

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assoladas por epidemias, porque podiam ser uteis aos enfer-

mos. Sejam tao fieis a Deus como outros que tern demonstrado

persistencia em sua filantropia. Se de alguma maneira podem

suportar a presente aflicao, fiquem ao lado do seu povo. Deus

lhes ajudara e recompensara, se confiarem nEle. Que 0Senhor

confirme a sua firmeza e lhes console na tribulacao.

Avante, irmaos; prossigam pregando 0mesmo evangelho;mas preguem-no com mais fe, proclamem-no cada dia melhor.

Nao retrocedam; seu posto esta a frente. Preparem-se para

esferas mais amplas, os que servem em lugares pequenos;

porem nao descuidem dos seus deveres por buscar melhor

posicao. Estejam preparados para a oportunidade quando

surgir, tendo a certeza de que 0 cargo vira aquele que e apto

para ele. Nao somos de tao pouco valor que tenhamos de

oferecer-nos em todos os mercados; as igrejas estao sempre

em busca de obreiros eficientes; ha enorme demanda dehomens capazes e uteis.

Nao podem colocar a lampada sob 0 alqueire, nem e

possivel manter alguem realmente habil numa posicao

insignificante. 0 cargo quase nao tern importancia; a aptidao

para a obra, a graca, a capacidade, 0 fervor, 0 animo afavel,

cedo levam 0individuo a ocupar seu devido, lugar. Deus guiara

o Seu servo a posicao certa, se possui a fe para confiar

inteiramente nEle. Faco esta declaracao no final da mensa-

gem porque nao ignoro 0 desalento que se apossa de muitos.

Nao temam trabalhar duramente por Cristo; terrivel sera

o momenta de dar contas para aqueles que pass am comoda-

mente 0ministerio; mas esta reservada uma grande recompensa

aos que tudo suportam por amor aos escolhidos. Nao

lamentarao a pobreza quando Cristo voltar e convocar os

Seus servos. Sera algo gratificante 0 morrer dia a dia no seu

posto, sem afastar-se impelido por ambicoes, correndo de urn

lugar para outro em busca de vantagens, mas persistindo

no local que 0 Senhor determinou.

ligaduras e amarrem uma vez mais 0 sacrificio ao altar. Ainda

que lutem para escapar do cutelo ou temam 0 calor do fogo,

amarrem-no com cordas no angulo do altar, pois ate a morte

e apos a morte somos do Senhor. Que nosso lema constante

seja rendicao completa de todas as coisas a Deus. E que Ele

aceite 0sacrificio vivo, pelo amor de Jesus Cristo, nosso Senhor!Amem.

76 77

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4

FORTALEZA NA FRAQUEZA

Diletos irrnaos, devido ter passado por uma crise de

saude ffsica, extrai meu tema para esta ocasiao das palavras

de Paulo, em 2 Cor. 12: 10 - "Quando sou fraco, entao sou

forte." Nao quero dizer nada novo sobre 0assunto, nem pode-

rei afirmar algo conclusivo a seu respeito. 0 lado debil da

experiencia sera exposto diante de voces; 0 que possa fazer e

orar para que 0 lado forte nao fique oculto. Meus proprios

sentimentos me oferecern urn comentario sobre0

texto, eessa e toda a exposicao que me proponho fazer. Nosso texto

nao esta tao-somente inscrito na Biblia, mas nas vidas dos

santos. Embora nao sejamos apostolos e jamais possamos

alegar possuir a inspiracao de Paulo, e verdade que neste

aspecto particular estamos tao instruidos quanta ele, pois

ternos aprendido por experiencia que "quando sou fraco,

entao sou forte." Esta frase se transformou num proverbio

cristae; e urn paradoxo que ja nao deixa perplexo a nenhum

filho de Deus; e , ao mesmo tempo, uma advertencia e urnconsolo que exorta aos fortes a considerar a fraqueza do

poder, e apresenta ante os fracos 0poder da fraqueza.

Fique entendido, desde 0 inicio, que NOSSO TEXTO

NAo E CERTO EM TODOS OS SENTIDOS EM QUE

PODERIA SER LIDO. Alguns irrnaos sao fracos enfati-

camente e sempre; mas nunca descobri que foram fortes,

cxcetono sentido de serem teimosos e obstinados. Se a teimo-

sia e poder, sao campe6es; e sea presuncao e forca, saogigantes;

79

UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 Fortaleza na Eraqucza

todavia nao sao fortes em nenhum outro aspecto. Ate mesmo 0 Senhor se de tern a perguntar: "Que fazes

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Mu ito s s ao f ra co s, m a s ndo fortes. Ao nos referirmos a eles,

temos de alterar 0 texto: "Quando sao fracos, sao a fraqueza

mesma". Ha urn tipo de fraqueza que convem temermos, a

qual pode introduzir-se insensivelmente entre nos; no

entanto nao vern acompanhada de poder, nem de honra, nem

de virtude; e urn mal, somente urn mal, e0

e continuamente.E seguida de incapacidade para 0 service nas coisas santas, e

de falta de eficacia; e a menos que a graca divina impeca a

calami dade, nascera dela 0 fracas so do carater e a derrota na

vida. Que nunca cheguemos a conhecer a fraqueza de Sansao

apos ter revelado 0 seu segredo e perdido 0 vigor! Ele nao

podia dizer: "quando sou fraco, entao sou forte", pois ao

ouvir: "Sansao, os filisteus vern sobre ti", ja nao conseguiu

feri-los; nao tinha mais forca para proteger-se nem guardar

os seus olhos e alcancar a propria liberdade. Cego, trabalhapenosamente no moinho; 0 heroi de Israel se transformara

em escravo dos incircuncisos. Sem duvida, assim foi, e algo

semelhante pode ocorrer conosco. "Exulta, faia, porque 0

cedro caiu!" Irmaos, e preciso que lutemos contra toda a

fraqueza que leve ao pecado, caso que alguma Dalila seja

tam bern nossa destruicao, Os longos cabelos de Sansao

denotavam sua consagracao, e se algum a vez chegam os a ser

fracos por falta de consagraciio, esta fraqueza sera fatal para

o verdadeiro service. Se 0 que tinha "nada em si e tudo emDeus" descer ate desejar "algo do eu e algo de Deus", sua

condicao e deploravel, Depois de haver vivido para ganhar

almas, se agora vive para juntar prata e ouro, seu dinheiro

perecera com ele; se 0 que foi famoso por sua devocao ao

Senhor se tomar senhor de si mesmo, sera infame; pois estou

convicto de que, embora nao facamos nada de mal aos olhos

dos homens, e grande mal decair de servir a Deus de todo 0

coracao, Isso e 0que faz rir aos demonios e aos anjos admirar-

-se: urn homem de Deus vivendo como urn homem do mundo!

aqui, Elias?" Os santos e os zelosos se afligem quando

observam urn ministro de Cristo ministrado a sua propria

ambicao. So somos fortes a proporcao que nossa consagra-

cao seja perfeita. A menos que vivamos inteiramente para

Deus, nossa fortaleza sofrera grandes perdas, e nossa fraqueza

sera do tipo que degrada0

crente ate0

ponto de os impiosperguntarem com desprezo: "Voce tambern e fraco como

nos? Ficou semelhante a nos?"

Amigos, ha outro sentido em que jamais devemos nos

tomar fracos: em n ossa com un hiio com D eus. Davi descuidou

da sua cornunhao com Deus, e satanas 0 venceu por meio

de Bate-Seba; Pedro seguiu a Jesus de longe, e logo negou a

seu Senhor. A cornunhao com Deus e 0braco direito da nossa

forca, e, se se rompe, somos como agua. Sem Deus, nada

podemos fazer; enos arruinamos em proporcao ao nos sointento de viver sem Ele. Coisa lastimavel e que 0homem que

contemplou 0 rosto do Forte e se fez poderoso, pudesse

esquecer de onde vern sua grande potencia e assim ficar

enfermo e enfraquecido! 0 que interrompe suas visitas a sala

do banquete da cornunhao santificada estara desnutrido e tera

de exclamar: "Que fraquezal" 0 que nao anda com 0Amado

logo sera urn Mefibosete nos pes e urn Bartimeu nos olhos;

tirnido no coracao e trernulo nos joelhos. Se somos debeis

na comunhao com Deus, nos tomamos fracos em tudo.Ha outro tipo de fraqueza que jamais devemos cultivar,

a qual parece estar muito em moda atualmente: a f raqueza

da [e . Isso porque quando sou fraco na fe, nao sou forte no

Senhor. Quando alguem duvida de seu Deus, debilita-se,

Alguns julgam as pessoas cheias de incredulidade e

desconfianca como possuidoras de profunda experiencia,

porern a incredulidade nunca pode ser considerada como

condicao a erninencia em santi dade. A fe e a nos sa arma de

guerra; ai do guerreiro que a esquece! Portanto, procuremos

80 8]

UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 Fortaleza na Fraqueza

discernir entre fraqueza e fraqueza; a fraqueza que e sinal que a sarca seja consumida; e born ser consumido se 0

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de poder e a fraqueza na fe, pois essa e indicacao de de-

cadencia espiritual.

Oxala jamais sejamos fra co s n o amo ". e sim, a semelhanca

de Basilio, possamos nos tomar "colunas de fogo". 0 amor e

o maior poder que 0 coracao humano pode abrigar. Nao devo

comparar0

amor com outras virtudes, de modo a vir depre-ciar qualquer delas; mas de todas as forcas ativas 0 amor e a

mais potente, pois mesmo a fe opera pelo amor. A fe nao

vence os coracoes humanos para leva-los a Jesus ate que use

essa maravilhosa arma, e entao amorosamente os conduz a

Cristo. Quanto necessitamos de amor intenso, amor que seja

pura chama ardente e consumidor! Que tao sagrado fogo

arda no intimo de nosso ser! Que amemos a Deus intensa-

mente e a nossa congregacao por amor dEle! Irmaos, sejam

fortes nisso. Podem estar certos de que se deixarem de amara congregacao a qual pregam e a verdade que foram ordenados

proclamar, 0 estado da igreja sera como urn porta-bandeira

derrotado.

Desejamos - e com que anelo! - ser libertos de toda

fraqueza da vida espiritual. Desejamos deixar para tras a

fraqueza natural em nos, como recem-nascidos em Cristo,

para que possamos ser jovens fortes; ainda mais, necessi-

tamos ser homens maduros em Cristo Jesus, "fortalecidos

no Senhor e na forca do Seu poder". Se somos fracos nesteaspecto, em nada seremos fortes. Como ministros, deveriamos

cobicar toda a fortaleza espiritual que Deus esta disposto a

outorgar. Tomara que 0 Santo Espirito que habita em nos

nada encontre que 0 impeca ou diminua Suas influencias!

Oxala se manifestasse tanto a plenitude da deidade do

Espirito bendito em nossos corpos mortais a semelhanca

de como agiu na segunda Pessoa da Trindade no passado!

Quisera que nossa natureza, como a sarca de Horebe,

ardesse plenamente com a presenca de Deus. Nao importa

Espirito mora em nos e manifesta 0 Seu poder.

Como veern, ha sentidos em que contradizemos

diretamente ao texto, e com isso destruimos seu verdadeiro

significado. Se fosse certo que todos os que sao fracos sao

fortes, poderiamos achar diretamente urn ministerio vigo-

roso invadindo os hospitais, alistando urn exercito em nossosmanicornios e convocando a todos que tern deficiencia

mental. Nao, nao e dado aos timidos e aos incredulos, aos

nescios e aos frivolos, pretender que sua fraqueza mental,

moral e espiritual seja uma plataforma adequada para

a revelacao do poder divino.

Antes de entrar plenamente no meu assunto e preciso

haver uma segunda observacao: PODE-SE DAR AO

TEXTO OUTRA FORMA QUE E CLARAMENTE VER-DADEIRA. "Q ua nd o s ou fo rte , e ntiio s ou fr ac o." Isso e certo,

quase tao certo quanto a declaracao paulina: "Quando sou

fraco, entao sou forte"; admitimos que nao e certo em todos

os sentidos, mas tao correto que eu recomendaria sua aceita-

<;aocomo proverbio digno de ser citado com 0 texto mesmo.

Observem 0 principiante que inicia a pregar num salao

humilde ou numa missao rural, e vejam a ilimitada confi-

anca que ele sente em seu proprio poder. Ele reuniu algumas

ilustracoes e metaforas significativas e as apresenta como s~fora a S um a T eo lo gic a, a propria essencia da sabedoria. E

voluvel e energico, ainda que nao ha nada no que diz. Vejam

como da golpes com os pes e como cerra os punhos. Muitos

o consideram urn fenomeno, pois nao veem causa suficiente

para a confianca em si mesmo que ele exibe. Depois vern

para urn centro maior, e se apresenta na conviccao de que

urn homem notavel esta pisando 0 solo: os habitantes em

breve serao informados de que ha urn profeta entre eles. Logo

surgem cornentarios a seu respeito, mas ele nao e apreciado;

8283

UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 Fortaleza na Fraqueza

seus irmaos nao querem "alegrar-se por urn pouco com a sua bastante forte em si. Sua pregacao e como fogo pintado, que

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luz"; querem apaga-lo. la ouvi urn tal pregador que por

longo periodo falou sem dizer nada. Contudo, quao perfei-

tamente satisfeito restava consigo mesmo! Outros mais

capacitados estao chorando seus defeitos e limitacoes, en-

quanta esse pobre infeliz segloria de seus triunfos imaginaries.

Ele julga que suas capacidades sao transcendentais e vastosos seus conhecimentos. No entanto, pouco a pouco vai

perdendo seu presumido poder. Por outro lado, nos alegramos

ao encontrar 0 jovem timido que precis a ser animado, urn

espirito humilde a quem, no devido tempo, 0 Senhor exalta.

A medida que se dava conta de sua fraqueza, adquiria poder

e des cob ria que quando era forte em sua opiniao, era fraco

em muitos aspectos.

Eu imagino ver outro homem que se julga forte. Em

seu gabinete, Ie as publicacoes mais recentes, procurandoabsorver os pensamentos modernos. Esta em busca de urn

texto. Qualquer que seja, 0 entende perfeitamente. Ele pro-

cura interpreta-lo sem consultar 0 que disseram os homens

de Deus do passado, pois pertenceram a uma epoca de

ignorancia, ao passo que ele vive no "seculo das luzes", neste

mundo de maravilhas, regiao de sabedoria, flor e gloria de

todos os tempos. Quando 0 culto teo logo sai do gabinete e

como gigante cujas forcas se renovaram com vinho novo.

Nao recebeu 0orvalho do Espirito de Deus, nem 0necessita;

bebe de outras fontes. Fala com assombroso poder, sua die-

c;ao e soberba, seu pensamento e prodigioso. Contudo, e tao

debil quanta refinado, tao frio quanta presuncoso; santos e

pecadores ao mesmo tempo percebem sua fraqueza, e

paulatinamente os bancos vazios 0 confirmam. E exces-

sivamente poderoso para buscar ser fortalecido pelo Senhor,

e portanto demasiadamente fraco para trazer bencaos acongregacao. Ele busca outra esfera de service, e outra e

outra; mas em nenhum lugar e poderoso porquanto se julga

a ninguem aquece nem alarma.

Temos conhecido outros homens, nao tao "poderosos",

que reconheciam que nem sequer podiam entender a Palavra

de Deus sem a iluminacao divina, e que se dirigiam ao

grande Pai das Luzes em busca de cornpreensao. Timidos

e assustados, suplicavam ajuda a fim de transmitir ospensamentos de Deus, e nao os seus proprios; e Deus realmente

falava atraves deles e os tomava instrumentos poderosos.

Sentiam-se fracos, porque temiam que suas ideias obstruis-

sem 0 caminho dos pensamentos de Deus, receavam de que

sua mente obscurecesse a Palavra de Deus; entao foram feitos

verdadeiramente poderosos, e pessoas humildes os escutavam,

testificando que 0 Senhor falara por meio deles. Pecadores

iam ouvi-Ios, humilhando-se e por fim entregando-se a Cristo.

Na verdade, Deus atuava mediante aqueles homens.Conheci pregadores muito fracos, e, contudo, tern sido

usados pelo Senhor. Durante muitissimos anos, minha

propria pregacao me era extremamente dolorosa em face

dos tern ores que me assaltavam quando havia de subir ao

pulpito, Em muitas ocasi6es defrontar-me com a congregacao

tern sido algo esmagador. Mesmo a sensacao fisica que

produz essa emocao mental me causa sofrimento; mas esta

fraqueza se tomou in strut iva para mim. Ha muito tempo

escrevi ao meu veneravel avo, relatando muitas coisas que

me ocorriam antes de pregar: disturbios fisicos, tern ores

terrfveis, os quais constantemente me faziam adoecer. 0

anciao respondeu: "Ha setenta an os que prego, e ainda

experimento gran des temores. Fique contente de que seja

assim; po is quando desaparecer a ernocao, e porque 0 poder

ja foi embora". Quando prega-mos sem dar-Ihe importancia,

a congregacao do mesmo modo nao the da importancia, e

Deus nada faz por meio dessa pregacao. A sensacao aterra-

dora de fraqueza nao deve ser considerada urn mal, porem

84 85

UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 Fortaleza na Fraqueza

aceita como util para 0verdadeiro ministro de Cristo. e sensacionais; duvido porem que a proxima geracao diga que

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Observem rzprega4ar que ndo temfardas. Ele leva 0 serrnao

no bolso, e nada mau pode ocorrer senao 0 perigo de algum

ladrao rouba-lo; ensaia todos os movimentos, e tao seguro

quanto urn automate. Nao precis a orar para que 0Espirito 0

oriente na pregacao; embora utilize as formas, os ouvintes

interrogam0

que pode significar aquele discurso. Contemplaa congregacao com a cornplacencia de urn jardineiro que

observa urn ramalhete de flores. Tern algo a dizer, e sabe 0que

sera palavra por palavra, e portanto fala comodamente, e arras

do pulpito esta plenamente satisfeito consigo mesmo, tanto

quanto 0 poderia desejar; a nocao de temor e totalmente

estranha para ele, nao e tao fraco para isso. Observem outro,

aquele pobre irrnao, forcando a mente, lutando de joelhos e

com 0 coracao sangrando; esta bastante assustado por temer

falhar no meio do serrnao e nao atingir os coracoes dos ouvin-tes; mas se prop6e in ten tar 0 que for possivel com a ajuda de

Deus. Podem estar seguros de que alcancara a congregacao e

o Senhor the dara convers6es. Ele depende de Deus, posto

que se reconhece muito fragil em si mesmo. ja sabem qual

dos dois pregadores desejariam ouvir, e distinguem quem e

realmente 0mais forte; 0 fraco e forte e 0forte e fraco.

Certo teologo americano afirmou que a melhor prepara-

~ao para pregar e descansar bern a noite e tomar uma boa

refeicao. Segundo a sua opiniao, uma boa disposicao se tornaajuda eficaz a pregacao. Se nao sabe 0 que e dor de cabeca, e

nao conhece 0 que significa urn coracao dolorido, e nunca

permite que nada estorve 0 equilibrio de sua mente, pode

esperar chegar a ser urn ministro eficiente. Talvez seja assim.

Nao quero depreciar a saude, 0 apetite, 0 espirito agil, e as

vantagens de dormir bern no sabado a noite; entretanto estas

coisas nao sao tudo, nem sequer sao muito. Se possivel, mens

s an a in c o! po re s an a (mente sadia em corpo sadio); mas quando

isso e a base da nossa confianca, se traduz em serm6es formosos

ha resultados frutiferos em ensinos espirituais que alimentem

a alma ou comovam a consciencia, Muitos dos mais nob res

exemplos da nossa literatura horuiletica procedem de

homens que foram capazes de sofrer pacientemente. Os que

demonstraram sentimento mais penetrante, espiritualidade

mais elevada, discernimento mais maravilhoso das coisasprofundas de Deus, muitas vezes tern conhecido pouco da

saude corporal. Calvino trabalhou em meio a penosos

sofrimentos fisicos, e, porventura, conheceremos alguem

semelhante a ele? Robert Hall raramente estava livre de

dores, mas quem falou jamais tao gloriosamente quanto ele?

Conhecemos irmaos que se torn am ainda mais afaveis a

proporcao que se vao debilitando, e que passam aver ainda

mais claramente a medida que os seus olhos se obscurecem.

Irmaos, as forcas fisicas nao sao nosso poder, e ainda podemtornar-se nossa fraqueza. A saude e desejavel, e convem

preserva-la cuidadosamente quando a possuimos; mas se a

perdemos, podemos sentir gozo, aguardando 0 momento de

exclamar com Paulo: "Quando sou fraco, entao sou forte". Epreciso que sejamos provados de uma forma ou de outra. 0

pregador que nao tern uma cruz a levar, 0 profeta do Senhor

que esta sem fardo, e urn servo inutil e urn peso para a igreja.

Seria coisa horrivel ser pastor sem ter cuidados. 0

obreiro vive sobrecarregado de responsabilidade e oprimido

pelos pesares. Talvez 0pequeno tamanho do seu rebanho seja

para voces urn problema diario. Nao pecam para deixar de ser

afligidos. 0 pastor que, pode sempre ir para a cama em horas

regulares, e que costuma dizer: "Nao tenho muitas dificuldades

com meu rebanho", nao e homem que mereca inveja. 0 que

afirma friamente: "No inverno passado morreram tantos

cordeiros; era de esperar. Algumas ovelhas morreram de

fome; e natural, porque faltou pas to, e nao podia evita-lo", eurn tipo de pastor que mereceria ser devorado pelo lobo

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UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 Fortaleza na Fraqueza

mais proximo. Por outro lado, 0 homem que pode exclamar fracos; se julgamos ter alcancado a perfeicao, esta brotando

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como [aco: "De dia me consumia 0 calor, e de noite a geada",

e 0 verdadeiro pastor. E muito irregular em seu descanso;

o unico regular nele e seu esforcado labor acompanhado

dos desenganos, e, contudo, a fe 0 torna Urn homem feliz.

Se cresce a sua fraqueza como pastor e a carga 0 oprime

por completo, nao se assuste por tal fraqueza, po is entaoestara na plenitude do poder; mas quando, como pastor,

se sente forte e diz: "Creio que 0 ministerin e coisa facil",

pode estar bern certo de que voce e fraco.

Permitam-me acrescentar que quando um homem chega a

s er t ao ''f or te '' q ue s e r ef er e c on st an temen te a s ua p ro pr ia s an ti da de ,

entao tambern e fraco. jamais constatei que a pessoa que

possui graca para fabricar bandeiras renha aicancado mais

vitorias como consequencia. Quanto a mim, necessito de toda

a graca que possuo para construir uma espada; preciso detodas as forcas para poder realmente lutar; porem quanta a

urn estandarte para arvorar diante dos homens, nem cheguei

a isso, de fato tenho de ado tar uma posicao bastante humilde

entre os servos de Deus. Algumas vezes tenho-me defrontado

com urn homem "perfeito", e 0 calor dos seus animos me

revelou que embora haja se aproximado da perfeicao entre

seus proprios amigos, nao havia atingido essa posicao elevada

ao ser exposto a urn juizo mais sereno e imparcial entre

estranhos. Jamais me entusiasmo com aquele tipo de perfei-

~ao que fala de si mesma. Ha pouca virtude na beleza que

procura chamar atencao para si; a beleza modesta e a ultima

a exaltar seus proprios encantos. Certo nurnero de pessoas,

em certa ocasiao, estavam gloriando-se nas suas virtu des e

aptidoes, e apenas urn irrnao permaneceu calado. No final,

alguern 0 interrogou: "Nao tern santidade?" "Sim", respon-

deu ele, "mas nunca com que jactar-me." Tenhamos toda a

santidade possivel, e prossigamos ate a perfeicao; porem

recordemos 0 fato de que, quando somos fortes, entao somos

urn pouco de orgulho. Se fizessemos inspecao mais profunda

de nos mesmos, encontrariamos alguma falta de que nos

arrepender ou algum mal contra 0 qual devemos lutar.

Havendo feito ate agora rodeios preparatorios em torno

do texto, aproximemo-nos agora dele: "Quando sou fraco,

entao sou forte".

I.Observamos primeiramente UMA EXPERIENCIA

DEPRIMENTE: "Quando sou fraco". Quando ocorre isso?

N a verdade sempre 0 somos. Existe algurn memento em que

o cristae mais poderoso nao seja comparativamente fraco?

Sem duvida ha determinadas ocasioes em que somos

conscientemente fracos. Tomemos 0 caso de Paulo como

ilustracao. Havia sido arrebatado ao terceiro ceu; todavia

nao podia suportar as revelacoes tao bern como Joao, 0 qual

recebeu suficientes para encher urn livro, ainda que nunca

se deixou envaidecer por elas.

Paulo, porem, nao tinha tantas aptidoes para ser urn

vidente, pois entendia mais de argumentos do que de visoes;

e portanto, quando recebeu uma visao, sentiu-se muito

importante. Guardou 0 segredo por catorze anos; mas para

ele foi algo tao notavel e tao extraordinario, que estava

inclinado a "exaltar-se desmedidamente pela grandeza das

revelacoes"; portanto 0 Senhor enviou, nao a satanas, mas

urn "mensageiro de satan as" - urn espirito inferior e despre-

zivel - nao para lutar contra ele com espada e escudo, e sim

para "esbofetea-Io", como fazem os meninos com os

companheiros de jogos. Voces tiveram alguma vez algo que

os perturbou como uma mosca que zune ao seu redor?

Nao sentiram que a prova estava intensamente aguda, e

ao mesmo tempo de somenos importancia? Teriam sido

capazes de enfrentar urn leao; mas este problema era simples

ganido de cao e os irritava ate ao maximo, e os fazia sofrer.

88 89

UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 Fortaleza na Fraqueza

Paulo nao des creve sua prova como ferida de espada; era mas nao podem transmitir a homens carnais a cornpreensao

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diminuto espinho que penetrara na carne e a irritava.

Esta era a preocupacao de Paulo, e the foi enviada para

mante-lo humilde. Poderia ter-se gabado de lutar contra 0

diabo, porem este "aguilhao na carne" era assunto depri-

mente. Lutar com denodo contra uma grande tentacao e

Janca-la por terra e de tal grandeza que inspira a qualquerurn; todavia e bern diferente quando se e assaltado por uma

coisa tao pequena que nos nos depreciamos por fazer-Ihe

caso, no entanto ela nos irrita mesmo. Voce diz a si mesmo:

"Como sou fraco! Por que estou tao perturbado? Se outra

pessoa reclamasse metade do que eu reclamo devido urn

pequeno aguilhao, eu diria: "Voce e urn tolo!"; no entanto,

aqui estou, urn pregador do evangelho posto a prova por

uma bobagem, e rogando tres vezes ao Senhor que a retire de

mim porque nao posso suporta-la!" Porventura nao nosencontramos alguma vez em condicao identica? Que em tais

ocasi6es confessemos nossa desprezivel fraqueza enos

coloquemos nas maos de Deus, e entao seremos feitos fortes.

Tal tipo de incornodo de aguilhao inflamatorio nao aflige

a todos nos, porque nem todos temos vis6es celestiais; todavia

muitos servos de Deus aprendem a reconhecer sua fraqueza

de outro modo: med iante um sent ido op resso rda r espon sab il id ade .

Nao me entendam mal. Espero que sempre sinta~-~~~a

responsabilidade perante Deus, mas nao sejam levadosdemasiadamente longe por seus sentimentos. Podemos sentir

tao profundamente nossas responsabilidades que chegue-

mos a ser incapazes de carrega-las; podem anular nosso gozo

e tornar-nos escravos. Nao exagerem do que 0 Senhor espera

de voces. Ele nao lhes censurara por nao fazer 0 que estiver

acima das suas forcas mentais e sua resistencia fisica. Exige-se

que sejam fieis, mas nao estao obrigados a alcancar grandes

exitos, Tern de ensinar, porem nao podem obrigar as pessoas

a aprender. Tern de apresentar as coisas com simplicidade,

de coisas espirituais. Nao somos 0 Pai, nem 0 Salvador, nem

o Consolador da Igreja. Nao podemos tomar a responsa-

bilidade do universo sobre os nossos ombros. Se nos

perturbamos com obrigacoes oriundas da fantasia, podemos

descuidar da nossa verdadeira carga. Poderia sentar-me a

meditar ate sentir 0 peso de toda a cidade de Londres sobreos meus ombros, e isto me tomaria incapaz de cui dar da

minha propria igreja. Qual 0 resultado pratico de tomar-se

urn homem responsavel pelo trabalho de vinte? Realizaria

mais ou faria melhor 0 seu proprio service? Se fosse posta

a carga de tres cavalos sobre urn so, ele se esforcar ia

demasiadamente ate ficar exausto. Melhor seria dividir 0

peso com outros. Trata-nos porventura 0 Senhor dessa

maneira? Nao! Somos nos os que nos sobrecarregamos.

Angustiamo-nos como se a salvacao do mundo dependessede que nos esforcemos ate morrer de cansaco. Observem:

nao desejo que deixem de sentir a devida medida de

responsabilidade; mas ao mesmo tempo, levemem conta que

nao sao Deus, nem ocupam 0 lugar de Deus; nao govern am a

providencia, e nem foram eleitos administradores exclusivos

do pacto da graca; portanto, nao atuem como se fossem.

Irmaos, havendo dito 0que antecede como esclarecimento

e para que ninguem caia em desespero, agora pergunto: temos

sentido plenamente a medida de nossa responsabilidade?Nao temos feito 0 que devemos, nem 0 que podemos, nem 0

que convinha fazer; nem tampouco 0 que no poder de Deus

queremos fazer. Talvez tenhamos feito tudo 0 que de nos se

esperava em quantidade; porem que diremos da qualidade?

Talvez tenhamos promovido certo mirnero de reuni6es e

pregado muitos sermoes, no entanto, tern sido feito isto dia e

noite em espirito apostolico e com lagrimas, advertindo aos

hom ens e pleiteando com eles como diante de Deus? Quando

sentidas plenamente, nossas responsabilidades nos esmagam,

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UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 Fortaleza na Fraqueza

e entao somos deveras fracos; contudo esta fraqueza e 0 dos companheiros. Esta e uma privacao extremamente

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caminho do poder. "Quando sou fraco, entao sou forte."

Acaso nao nos sentimos muitas vezes fracos no s en ti do d e

total ind ig nid ad e p ara ser m inistros p or ca usa d a n ossa p rop ria

pecaminosidade? Referindo-se a sua chamada ao ministerio,

Paulo disse: '54i de mim, se nao pregar 0evangelho!" Tambern

podemos afirmar isso; no entanto, algumas vezes sentimos 0

desejo de nunca mais falar de Cristo, e silenciariamos se nao

fosse que a Sua Palavra e como fogo em nossos ossos, 0 qual

nao nos deixa center-nos. Entao pensamos em ir ate ao

extremo ocidente para alguma cabana de troncos ensinar a

uns poucos meninos 0 caminho da salvacao, por nao nos

sentirmos aptos para algo mais elevado. Nossos defeitos e

nossos fracassos se levantam diante de nos e nos sentimos

dolorosamente fracos; entretanto tambern este e 0 caminho

que conduz a forca, "Quando sou fraco, entao sou forte."As vezes estamos deprimidos e debeis po rque no ss a e sf er a

d e t rabal ho nos p ar ec e a ce ntu ad ame nte d ific il. Nao e este 0

momento para divertir-nos quando tratamos das provacoes

tipicas do ministerio. Patos relata dos, e que nos deixam

atonitos, constituem fardos que obreiros tern de carregar dia

e noite. Vejam quanto outros irrnaos que Iutam em outros

campos tern de suportar! Nao conseguem comover auxiliares

da igreja nem influir sobre suas congregacoes, tendo de pre-

gar muitas vezes com 0 coracao oprimido a templos vazios.Se pudessemos colocar certos homens em posicoes que seus

irrnaos ocupam fielmente cercados de gran des desalentos,

chegariam a conhecer-se melhor a si mesmos e deixariam de

orgulhar-se, e em vez de apontar defeitos se maravilhariam

de que seus irrnaos conseguem fazer tanto em tais

circunstancias, Tambem desse modo somos feitos; quando

Deus nos faz entender que nosso ministerio e impossivel sem

Sua ajuda, somos impulsionados a confiar no Seu poder.

Alguns se sentem completamente sos em relacao a comunhao

penosa, e que em muitos casos deprime. Outros experimen-

tam extrema pobreza, enfrentando serias dificuldades para

o sustento da familia. Sei que a pobreza torna 0 homem

extremamente deb iI, por sentir-se forcado a presenciar as

humilhantes privacoes pelas quais passam a sua esposa e os

seus filhos, e isso lhe quebranta0

coracao.Alem dis so, e possivel que venham c r it icas imerec idas.

Pode ser forjada uma escandalosa historia contra voce,

procedente do pai da mentira, e que seja totalmente incapaz

de defender-se. Voce teme que ao tentar apagar a mancha,

pode inutilizar a pagina, Ha coracoes rotos devido a tais

coisas. Quao debeis nos sentimos ness as ocasi6es! Talvez

nos sintamos meio culpados depois de ouvir as acusacoes

repetidas tantas vezes, 0 que pode arrasar qualquer urn.

Sejamos firmes no Senhor nesses momentos!As vezes no s s en timos c omp le tamente s ec os , por achar dificil

encontrar algo novo para os serm6es. Tendo pregado tantas

vezes, cada vez mais se torna mais pesada a tarefa de produ-

zir outras mensagens. "Onde achar 0 material para a nova

pregacao?" - e a pergunta que constantemente nos chega, e

entao reconhecemos a nossa extrema fraqueza, mas tarnbern

isso se constitui 0 caminho do poder. Assim, reconhecamos

a nossa debilidade, humilhemo-nos diante do Senhor,

suplicando-Lhe que nos revista da Sua fortaleza.

II. Termino mencionando A BEN< ;Ao DESTA

EXPERIENCIA: "Quando sou fraco, entao sou forte". Como

e, e como pode ser?

Primeiramente, e quando sou fraco que por certo me

apresso a dirigir-rne para Deus em busca de socorro. Os

coelhinhos mencionados nas Escrituras eram criaturas

insignificantes, mas derrotavam ao cacador, Aprendam a licao

deles: "Os coelhos, povo nao poderoso, constroem suas casas

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UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 Fortaleza na Fraqueza

nas rochas" (Prov. 30:26). Irrnaos, ja que nao sei pensar, me aproxirnar-se 0 pregador, 0 blasfemador 0 insultou com

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escondo arras de uma doutrina que Deus ja pensou por

mim, e como nao sei inventar hipoteses, deixo descansar

minha alma num fato evidente por si mesmo; em vista de

nao conseguir sequer ser coerente comigo, mesmo, oculto-

-me arras do simples ensino do texto, e ali me firmo. E

maravilhoso quao forte se sente em tal esconderijo. Equando pode cornecar a edificar para Deus, pois Ele 0

fara coadjutor com Ele, sua fraqueza sera unida ao poder

eterno, a muralha se levantara rapidamente.

Pros seguin do, direi que somos fortes quando somos

fracos, porque obtemos n os sC fJ orfa m ed ia nte a o ra cd o, e n os sa

fra qu eza e 0 r ne lh or a rg umen to q ue p od emo s u sa r n a su plic a. J aconunca venceu ate que coxeou, ou melhor, ate que caiu. Quando

o tendao se contraiu, 0suplicante triunfou. Sevoce se entrega

a oracao estribado no seu poder, nada obtera; entao apresentesua fraqueza, e prevalecera, Nao ha melhor argumento ante

o amor divino do que a fraqueza e a dor; nada pode prevale-

cer de tal maneira com 0 grande coracao de Deus como 0

seu coracao desmaiado. 0 homem que se poe a orar ate as

lagrimas e experimenta a agonia, e tern a continua sensacao

de nao poder orar, mas sentindo a necessidade de faze-lo,este e 0 homem que vera 0 desejo de sua alma. Nao seria

certo que as maes demons tram mais cuidado pelo filho

menor ou pelo que esta mais enfermo? Certamente nossafraqueza contem 0 poder de Deus, e 0 induz a enviar Sua

onipotencia para socorrer-nos.

Existe outro poder na fraqueza que convem possuirmos.

Creio que quando pregamos consci en te s de nossa frqqU_~~ l! : l_J lrna

fo rc a maravilh o sa s e une a s pal av ra s que pr onutl ci qr no s. Quando

urn famoso evangelista saiu a distribuir porcoes biblicas

entre soldados, havia entre eles urn impio que disse aos

companheiros: "Hoje vou desfazer a mania desse homem

que nos vern visitar com seus livretos", de forma que ao

juramentos horrrveis. Escutando aquelas palavras profanas

o ministro comecou a chorar, externando 0 quanta anelava

pela salvacao daquele hom em. Anos depois se encontrou

com 0 soldado, que the confessou: "Nunca fiz caso dos

seus tratados, nem de nada que 0 senhor disse; mas quando

o vi chorar como crianca, nao pude suporta-lo, e entregueimeu coracao a Deus". Quando dizemos a nossas congregacoes

quao embaracados estamos e 0 quanto almejamos a salvacao

de suas almas, quando lhes pedimos que desculpem nossa

linguagem imperfeita, pois e a expressao de nossos coracoes,

entao creem na nossa sinceridade, pois observam como nosso

interior esta quebrantado, e se comovem pelo que dizemos.

o homem que propaga conhecimentos teologicos nao tern

poder sobre as pessoas; 0 auditorio necessita de pregadores

que saibam sentir, homens de coracao, fracos e debeis quesejam capazes de simpatizar-se com os timidos e afligidos.

E uma bencao que 0 obreiro possa abrir caminho para

as almas a forca de lagrimas, ou mesmo alcancar 0 intimo

dos ouvintes atraves dos sentimentos. Assim, nao temam ser

fracos, mas alegrem-se em poder afirmar com 0 apostolo:

"Quando sou fraco, entao sou forte".

Alern disso, ha outra forma de poder que procede da

fraqueza, pois por meio delas« educa nossa compaix ii o. Quando

somos fracose estamos deprimidos em espirito, e ate nossaalma passa pelo vale da sombra da morte, is so acontece

muitas vezes por causa de outros. Certo domingo de manha

preguei sobre 0 texto: "Meu Deus, meu Deus, por que me

abandonaste?" Mesmo sem afirrna-lo, preguei minha propria

experiencia, ouvindo minhas cadeias soar enquanto falava a

companheiros de prisao em trevas, nao podendo explicar a

razao daquela situacao tao espantosa pela qual me culpava

a mim mesmo. No dia seguinte, procurou-me urn homem

com todos os sinais de desespero no rosto; os cabelos ericados

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UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 Fortaleza na Fraqueza

e os olhos quase a saltar das orbitas. Depois de breve intro-

ducao, ele me disse: "Nunca antes em minha vida ouvi falar

ate que, por fim, descobre urn metodo que os demais podem

julgar tao extravagante quanta ele mesmo; mas 0 pora em

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de alguern que parecesse conhecer meu coracao. Enfrentei

urn caso terrivel, mas ontem pela manha 0senhor me retratou

de corpo inteiro, e falou como se houvesse estado dentro da

minha alma". Pela graca de Deus, salvei aquele infeliz do

suicidio, conduzindo-o a luz e a lib erda de do evangelho.Conto este fato porque talvez as vezes voces nao cheguem a

compreender sua propria experiencia, e os "perfeitos" podem

condenar-lhes por ter tal experiencia, porern que sabem eles

dos servos de Deus? Temos de sofrer muito por causa da

congregacao que esta a nosso cargo. As ovelhas de Deus se

afastam muito, e temos de ir arras delas; as vezes os pastores

vao onde nao pori am ospes se nao estivessem buscando ovelhas

perdidas. Nao fiquem surpresos de ser debilitados para que

possam consolar os debeis, e assim chegar a ser mestres emIsrael, em discernimento dos demais; enquanto em sua propria

opiniao sejam menos que 0menor de todos os santos.

Mais ainda, creio que meu texto e certo quando urn homem

se faz fraco por am or ao lugar especial em que esta cham ado a

trabalhar. Suponhamos 0 caso de urn irrnao colocado no meio

de uma populacao densa e pobre, 0 qual sente a responsabi-

lidade do seu trabalho e a miseria das pessoas que 0 rodeiam,

e as sentem ate 0 ponto de nao poder mais afastar-se dali.

Ele tenta pensar em tern as mais alegres, mas nao con seguelivrar-se do pesadelo da pobreza e do pecado daquela gente.

Acompanha-o de dia, e nao 0 larga a noite; ouve 0 clamor

dos meninos e os gemidos das mulheres; percebe 0 suspirar

dos homens e os lamentos dos enfermos e moribundos,

tornando-se quase monomaniaco em seu desesperado zelo

correspondente ao grande campo de service. E possivel que

tal homem morra de ansiedade; no en tanto, e evidente que

se trata de urn obreiro a quem Deus enviou para abencoar

aquele povo. Ele persistira pensando, orando e planejando,

execucao e toda a comunidade sera beneficiada com ele.

Que bencao, quando Deus coloca urn homem piedoso

no meio de uma massa de miserias e 0mantern ali! Talvez nao

seja agradavel para ele, mas no finallhe trara uma recompensa

enorme. Alegro-me de que Howard sentiu a necessidade depassar pelas pris6es da Europa. Tinha urn lar confortavel, mas

se lancou numa meritoria tarefa atraves de varies paises,

aproximando-se dos prisioneiros e familiarizando-se com

horrores inimaginaveis da vida nas masmorras, e enfrentando

febres nos ambientes infectos dos carceres. Ele volta a casa e

escreve urn livro sobre 0 tema favorito. Logo depois, reinicia

a sua luta e morre como martir pela causa que abracara;

porem valeu a pena ser urn Howard que soube viver e

morrer resgatando seus semelhantes. Howard era forte porser tao fraco a ponto de sofrer pelos encarcerados, executando

reformas enquanto outros apenas falavam a respeito delas.

Irmaos, oxala sejamos fracos de modo semelhante, quase

loucos devido a resolucao incansavel de ganhar almas. Se se

lancarern de maneira absurda e fizerem abalar 0 frio

formalismo, e desprezarem a imbecilidade, voces me darao

grande alegria. Pouco me importa tudo mais se se fizerem de

nescios por causa de Cristo. Quando nossa fraqueza se apro-

xima do fanatismo, tanto mais poder e possivel que tenha.Necessitamos mais dessas mensagens que procedem de urn

coracao ardente como lavas que procedem de urn vulcao.

Quando a verda de nos vence, venceremos pela verdade.

Igualmente, a fraqueza e poder porque muitas vezes a

se ns ac iio d e fr aq ue za em a lg uem d esp er ta to do 0 s eu s er ; 0 que

ha nele aparece entao, fazendo-o ser intenso em todo 0 seu

ser. Certos animais pequenos sao muito mais temiveis na

luta que as gran des feras, por serem ativos e ferozes e por

morderem rapidamente. As pequenas criaturas sao tao vivazes

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UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1

e concentradas no ataque, que lutam com todo 0corpo; garras

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devido a sensacao de debilidade que os faz usar todos os

atomos de forcas que possuem. Porventura nunca viram urn

grande homem, afamado, do qual voces tern pensado quao

poderoso e? Todos reconhecemos sua forca; mas 0 que ele

consegue? Alguem muito inferior, revestido de graca eardor, e desperto para a obra de Deus, realiza muito mais. A

limitacao consciente 0faz viver intensamente para com Deus.

"Quando sou fraco, entao sou forte." Sei que nao posso

fazer muito, portanto farei tudo 0 que posso. Sei que possuo

pouco poder, e por is so usarei todo 0 que tenho. Acaso nao

dizem os comerciantes que "e melhor uma moeda ativa do

que tres ociosas?" Estou seguro de que assirn e . A experiencia

de nossa fraqueza pode mover-nos a uma valentia que do

contrario nao teriamos conhecido. Afastem-se, poderosos,porque nao sao fortes. Aproximern-se, os fracos, para

receberem a ajuda do Senhor contra os poderosos, porquanto

voces sao "firmes no Senhor e na forca do Seu poder".

Finalmente, eis a razao de sermos fortes quando somos

fracos: ou seja,porque 0sacrificio esta sendo consumado. Quando

foi Cristo mais forte do que nunca, a nao ser quando foi mais

fraco? Quando fez estremecer 0reino das trevas, senao quando

foi cravado na cruz? Quando expiou 0 pecado do Seu povo,

senao ao ser traspassado 0 Seu coracao? Quando venceu amorte e derrotou 0 antigo dragao, senao quando Ele mesmo

enfrentou a morte? Sua vitoria ocorreu no paroxismo de

Sua fraqueza, isto e , na propria morte; e ha de ser assim com

Sua tremula Igreja. Esta nao possui poder; e preciso que

padeca, e necessario que seja difamada e escarnecida; entao 0

Senhor triunfara por meio dela. 0 signa vencedor continua

sendo a cruz. Por ela, irmaos, sejamos completamente felizes

em diminuir ate ao fim, para que 0 nosso Senhor e Rei

possa crescer gloriosamente dia a dia.

5

o QUE ASPIRAMOS SERA proporcao que nos tornamos mais amadurecidos,

chega-nos a conviccao de que, se temos de fazer algo pelo

Senhor Jesus, e preciso que 0 realizemos com urgencia. Nao

nos sobra tempo para folgar, nem mesmo para comodidades.

A eternidade parece tao proxima que nao ha desculpas

para atrasos. ' 'Agora ou nunea" soa suavemente nos ouvidos.

N un ca re le mbro m eu prop rio p assa do s em s entir pesar. Conto-me

entre os mais favorecidos dos servos do Senhor, humilhando--me ate ao po enquanto 0 reconheco com gozo. Nao tenho

queixas para apresentar ao meu Deus, mas tenho muitas a

dirigir contra mim mesmo. Parece-rne que naquilo em que

pela graca divina tenho tido exito, poderia ter alcancado em

escala muito maior se eu tivesse sido urn homem melhor.

A falta de fe da minha parte pode haver estorvado e impe-

dido a meu Senhor. Se alimentei aos santos de Deus,

poderia ter exercido tao sagrado ministerio com maior

honra para 0 Senhor, se fora mais apto para 0 uso do SeuSanto Espirito, Como poderia cornprazer-rne com vangloria

no pouco realizado, quando ante os olhos vejo uma massa

incomensuravel de possibilidades que nao aproveitei?

Isso seria sentimento saudavel para os mais jovens, os

quais se entusiasmam com as primeiras vitorias, No entanto,

que subam a urn nivel mais elevado de esperanca, para que

nao cheguem a ficar satisfeitos consigo mesmos, impedindo

assim a perspectiva de uma vida grandiosa. A medida que os

anos nos dao sobriedade, percebemos cada vez mais nossas

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UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 o Que Aspiramos Ser

imperfeicoes e nos sentimos cada vez menos inclinados a

maravilhar-nos com a nossa propria atuacao. 0 olhar

certo e que 0 arquiinimigo ja nao e novidade entre nos. Ja

nao ficamos tao assustados ante essa forma particular de

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retrospectivo significa urn salmo de cordial louvor e urn

profundo suspiro de pesar. Gloria ao Senhor para sempre;

mas para mim, vergonha e confusao de rosto.

Mas, de que nos serve 0 pesar, a menos que por ele nos

elevemos a urn futuro melhor? Os suspiros que nao nos

levantam para urn nivel mais alto equivalem desperdicios de

alento vital. Purifiquem-se, pois, mas nao se desalentem. Re-

colham as flechas que anteriormente cairam longe da meta;

nao as destruam em paixao desesperada, mas procurem

atingir 0alvo com melhor pontaria e forcas mais concentradas.

Utilizem as derrotas para alcancar suas vitorias; aprendam a

obter exitos aproveitando os fracassos; busquem sabedoria

utilizando os desatinos cometidos. Pela graca, se ja prospera-

mos urn pouco, prosperemos mais. Nosso conhecimento deDeus sera ainda maior a fim de que, estando em harmonia

com Ele, nossa vida seja mais vivida de acordo com os Seus

propositos. E possivel que 0 remedio para estes dias maus

esteja proxima de nossa propria restauracao. Quando nossas

proprias tochas produzirem menos fumaca e mais luz celes-

tial, a noite podera tornar-se menos escura.

PERSPECTIVAS

diabolismo que faz furor, pois comecamos a perceber sua

natureza. 0 desconhecido parecia ser terrivel, mas a fami-

liaridade eliminou a sensacao de alarme. A principio, 0

"pensamento moderno" parecia semelhante a urn leao; mais

de perto,0

enorme rei dos animais se assemelhava a umaraposa, e agora compara-lo a um gato selvagem seria demasi-

ada honra. A religiao cientifica e conversa va que nem contern

religiao nem ciencia, Cedo 0 "pensamento avancado" sera

mencionado apenas por alguns ignorantes ou por jovens

ministros independentes. Ha de declinar gradativamente,

ate ao ponto de tornar-se mercadoria desvalorizada.

Observo mudanca de mare; isso nao me importa muito,

pois a rocha sobre a qual edifico jamais sera afetada pelas

mudancas da filosofia humana. Os que se envolveram comas duvidas modernas viram como suas congregacoes se

desvaneciam sob 0 peso destruidor das mesmas; por isso

elas ja nao os fascinam como outrora. E momenta de efetuar

mudanca; os cristaos observam que esses homens "avancados"

nao tern sido notaveis por abundancia de graca, inclusive

chegando a pensar que seus pontos liberais quanto a doutrina

se identificam com um afastamento religioso. A falta de

pureza na fe costuma ser ocasionada pela ausencia de conver-

sao. Se tais homens tivessem experimentado 0 poder doevangelho em suas almas, nao 0 teriam abandonado tao

facilmente para ir em busca das fabulas.

Amantes da verdade eterna, voces nao tern nada a temer!

Deus esta com os que estao com Ele e Se revel a aos que

creem na Sua revelacao. Nao march amos de urn lado para

outro, e sim sernpre a frente ate a vitoria. Surgirao outros

inimigos, como os amalequitas, os heveus, os jebuseus e os

dernais que se levantaram contra Israel; mas, em nome do

Senhor, passaremos a possuir a heranca prometida.

Quanto as perspectivas que temos diante de nos, talvez

me denominem profeta de males; mas nao 0 sou. Lamento as

terriveis falhas dos que se afastam da verdade, desercoes que

se tornaram demasiadamente numerosas para pensar em

detalha-las; no en tanto, nao estou inquieto, e muito menos

desesperado. A nuvem desaparecera como tantas outras, Creio

que as perspectivas sao melhores que antes. Nao creio que 0

diabo seja melhor; nunca esperei tal coisa; mas esta mais velho.

Irrnaos, nao sei se isso e para 0bern ou para 0mal. Todavia, 0

100 101

UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 o Que Aspiramos Ser

APROPOSTA que se afogam. Pensando em beneficiar os demais, almeja-

mos para nos as me1hores bencaos.

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Por enquanto, convern que sigamos trabalhando

tranquilamente. Nossas quimeras terminaram: nao con-

verteremos 0 mundo a iustica, nem a Igreja a ortodoxia.

Recusamos de assumir responsabilidades que nao sao nossas,

pois os nossos verdadeiros encargos sao mais que suficientes.

Certos irrnaos sabios desejam ardentemente reformar sua

denominacao. Saem a batalha marcialmente. Que 0 exito os

acompanhe! Geralmente sao mais sabios quando regressam.

Confesso sentir grande admiracao por meus irrnaos qui-

xotescos, mas gostaria que pudessem demonstrar 0 resultado

de seu valor. Receio que tanto a Igreja como 0 mundo

ultrapassam as nossas capacidades; e preciso que nos con-

tentemos com esferas mais reduzidas. Cada denominacao ha

de seguir seu proprio caminho. Somos apenas responsaveisdentro dos limites das nossas forcas e sera prudente usa-las

visando aquilo que possamos realizar. Alem disso, nao nos

preocupemos com 0 que esta a margem das nossas ativida-

des. Nao importa se nao podemos destruir todos os espinhos

e cardos que flagelam a terra; talvez possamos limpar bern

nossa pequena propriedade. Se nao podemos transformar 0

deserto em pastagens, esforcemo-nos para cultivar duas ou

tres folhas de grama onde antes so havia uma, e isso ja sera

alguma coisa.Consideremos cuidadosamente nossa firmeza na fee nosso

andar em santidade perante Deus. Creio que este nao e urn

conselho egoista, como alguns julgam, mas urn amor

prudente e pratico, que nos leva a considerar nosso proprio

estado espiritual. Almejando fazer 0 melhor possivel e

utilizando os proprios recurs os da maneira mais conveniente,

o coracao lealluta por estar, em todos os aspectos, em posicao

correta diante do Senhor. 0 que aprende a nadar, adquire

urn amo r-proprio louvavel, pois com isso pode ajudar aos

A AMBI<;Ao PESSOAL

Desejo alcancar 0 maximo proveito de mim mesmo.

Talvez nem sequer saiba ainda a maneira de ser otimamente

util, mas gostaria de descobri-lo sem demora. Honestamente

afirmo que se me convencesse de ser mais util fora do pulp ito

do que sobre ele, imediatamente 0 abandonaria. Se houvesse

uma esquina onde eu trabalhasse como engraxate e ali tivesse

a garantia de que Deus poderia ser mais glorificado do que

enquanto dou testemunho perante uma grande congregacao,

agradeceria a noticia e a obedeceria imediatamente. Alguns

jamais podem fazer alguma grande coisa para Deus do modo

que prefeririam, porque nao foram feitos para tal obra. Ascorujas nunca competiriam com os falcoes de dia; mas os

falcoes fracassariam na empresa de cacar ratos nos celeiros. As

pessoas serao muito boas quando estao no seu proprio lugar,

realizando a funcao que lhes e propria; fora desse local,

podem tornar-se urn estorvo. Cada urn, pois, seja fiel a seu

proprio destino! Por que nao seguir a tendencia natural? Que

cada homem esteja onde deve estar; infelizmente, alguns

preferem permanecer onde niio devem estar. Procuremos

descobrir 0 que Deus deseja de nos, e en tao, que 0 facamosintegral mente. De que maneira poderei dar maior gloria a

Deus e ser mais uti! a Sua Igreja enquanto estou aqui?

Resolvam esta questao, e passem a parte pratica.

MAl OR GRA<;A

Algo e in discutivel: glorificaremos mais ao Senhor

se alcancarmos dEle graca abundante. Se possuo muita fe,

de modo a apresentar a Deus a palavra que Ele me deu; se

102 103

UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 o Que Aspiramos Ser

possuo muito amor, de modo que 0 zelo de Sua casa me

consuma; se muita esperanca, a ponto de ter a seguranca de

de pouco tempo. Os pecados de hoje serao os pesares dos

anos seguintes. Urn ligeiro desvio da direcao a seguir pode

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colher os frutos dos meus esforcos; se muita paciencia, de

modo a suportar as dificuldades por causa de Cristo, en tao

honrarei em grande maneira 0 meu Senhor e Rei. Oxala eu

demonstre muita consagracao, estando todo 0 meu ser

totalmente absorto em Seu service; en t ao, ainda que meu

talento seja diminuto, farei que minha vida arda e resplan-

deca com a gloria do Senhor. Este caminho da graca esta

aberto a todos nos. Ser santo esta ao alcance de todo cristao, e

e 0 metodo mais segura de honrar a Deus. Mesmo que 0

pregador nao retina mais que cern pessoas no templo, e possi-

vel que seja urn homem de Deus de forma a que sua pequena

igreja se tome semente seleta, cada individuo digno de ser

pesado em ouro. Talvez 0 obreiro nao seja apreciado por seu

trabalho nas estatfsticas que apresentam as coisas por duziasou centenas; mas naquele outro livro que ninguern pode

alterar, onde os feitos sao pesados em vez de contados, sua

folha de service honrara de modo admiravel a seu Mestre.

implicar mais tarde em esforco penoso. Que 0 Senhor nos

faca obreiros que nao tern do que se envergonhar, manejando

bern Sua Palavra. Vivamos ante os olhos dos seculos, passados

e futuros; sobretudo, que possamos viver como venda 0

Invisivel.

DESPERTAMENTO

NECESSIDADE CONSTANTE

DE SERMOS CUIDADOSOS

Acaso eu necessitaria de lhes apelar afetuosamente,

irrnaos, p ar a q ue d es pe rte m 0 dom que ha em v oc es ? Cultivem

suas aptid6es naturais e graciosas para 0ministerio. 0 pastor

sabe muito mais do que quando deixou 0 Seminario; teria

aprendido tudo 0que devia aprender nesse intervalo? Muitos

dos nossos irmaos chegam a ser mais sabios que seus mestres,e a conhecer melhor ao Senhor. Nao estou tao certo a respeito

daqueles que afoitamente asseveram tais coisas sobre si

mesmos. 0 verdadeiro progresso deve ser calculado pela

medida da humildade. 0 que mais sabe e 0 que reconhece

saber pouco. Todos temos necessidade enorme de estudar

laboriosamente a fim de que nosso ministerio seja eficaz.

o que deixa de aprender tambem cessa de ensinar. 0 que

nao semeia no estudio nada podera colher no pulpito.eu desejo e fa ze r tu do d a m elh or m an eira q uan do e para

o S en ho r. Todos nos preocupamos em realizar muito paraEle, porem ha urn caminho mais excelente. Com ruidosa

atividade pomos maos a obra e edificamos urn muro em

torno da cidade em seis meses, 0 qual caira apos seis dias.

Seria bern melhor fazer mais por fazer menos. 0 trabalho

feito com cui dado e infinitamente preferivel ao superficial.

E born trabalhar para Deus de modo microscopico; cada

porcao da obra e capaz de resistir a mais minuciosa inspecao,

A atividade da Igreja precisa ser efetuada de modo perfeito;

sem duvida seus defeitos serao vistos exageradamente dentro

PESCADORES DE ALMAS

Meu desejo mais intenso e que todos nos sejamos real-

mente pescadores de homens. Todo pregador deve esforcar-se

ao maximo a fim de ser sempre urn instrumento para a

salvacao dos seus ouvintes. A recompensa mais genuina do

nosso trabalho e trazer a vida os que estao mortos. Anelo ver

almas trazidas a Cristo cada vez que prego; 0meu coracao se

romperia se nao visse ocorrer isso. Os homens passam tao

104 105

UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 o Que Aspiramos Scr

rapidamente para a eternidade que e preciso que sejam

salvos com urgencia. Nao abrigarnos qualquer esperanca

capacitados que sao expositores da Palavra e instrutores dos

crentes. Sempre recebemos muito ao ouvi-Ios. Empenham-se

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secreta que permita perder as oportunidades atuais. De todas

as congregacoes deve subir profundo clamor a Deus, a menos

que se vejam continuas conversoes. Se nossa pregacao nao

salva nem uma alma, nao glorificariamos melhor a Deus

como agricultores ou comerciantes? Que honra pode receber

o Senhor de ministros inuteis> A menos que aImas sejam

vivificadas,o Espirito nao esta atuando em nos nem somos

usados por Deus para Seus propositos graciosos. Irrnaos,

podemos suportar ser ineficazes? Podemos estar satisfeitos

em permanecermos estereis?

Lembrem-se que, se queremos pescar almas, e preciso

que atuemos em consequencia, e que nos dediquemos a tal

objetivo. Homens nao pes cam peixes sem deliberar faze-lo,

nem salvam pecadores sem urn determinado alvo. Deus

opera utilizando meios adaptados a Seus fins; sendo assim,

como podera abencoar alguns sermoes? Como, em nome da

razao, podem almas ser convertidas mediante sermoes que

fazem 0 auditorio dormir; pregacoes que contern meras

frivolidades, que insinuam a duvida e conduzem a falta de

crenca em toda a verdade revelada? Pedir a bencao divina

sobre aquilo que nem os hornens bons podem recomendar

e algo improprio. 0 que nao procede do mais intimo do

nosso ser e nao e para nos mensagem do Espirito Santo, naoe provavel que mova os cora<;oes dos outros, ou seja, para

e1es a voz do Senhor.

MESTRES

com coisas de grande preco; sua mercadoria e de Duro de

Ofir. Citam passagens das Escrituras, as quais recebem nova

luz. Especialidades da experiencia crista sao descritas e

explicadas. Concluidas tais mensagens, saimos na conviccao

de que estivemos numa boa escola. Irmaos, desejo que cada

urn de nos exerca urn ministerio assim edificante. Oxala

tenhamos a experiencia, a ilurninacao e 0 esforco necessarios

para vocacao tao elevada! Oh, quanto precisamos de mais

sermoes ricos em instrucao! Analisem muitos dos serrnoes

modernos que fogo, que furia! Quanto brilho e quanta

velocidade! Que e tudo isto? Qual 0propos ito de tal exibicao?

As vezes nos deparamos com serrnoes que sao como

caleidoscopios, de beleza maravilhosa; mas, que contern?

Observem, eles con tern alguns cristais coloridos, urn oudois pedacos de espelho, e outras bagatelas, tudo posto num

tubo. Como cintilam! Que maravilhosas combinacoes! Quao

fascinadoras transformacoes! Ora, que estao contemplando?

Mas apos vinte exibicoes, nada mais terao visto do que viram

na primeira vez, pois na verdade tudo ja foi visto. Alguns

pregadores se destacam por citacoes poeticas; outros sao

excelentes na linguagem burilada, ou na originalidade das

suas divisoes, Muito eloqiiente tudo, e muito sensacional;

sob a direcao da graca, util em sua propria medida; porernquando se trata de salvar almas e de alimentar os salvos, 0

lugar proeminente deve ser ocupado por algo mais solido.

E necessario alimentar 0 rebanho de Deus. Devemos ocupar-

-nos das verdades eternas, alcancando 0 coracao e atingindo a

consciencia. Devemos, de modo efetivo, viver para instruir

uma raca de santos, nos quais 0 Senhor Jesus sera refletido

como em mil espelhos.

Irrnaos, anelo que todos sejamos "aptos para ensinar". A

Igreja nunca tern em demasia labios que "alimenta a muitos".

Deve ser ambicao nossa tornar-nos "bons despenseiros da

multiforme graca de Deus". Conhecemos certos ministros

106 107

UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 o Que Aspiramos Ser

PROGENITORES Sabem esperar ate amanha, pois 0 tempo traz consigo muitos

ensinamentos; tal procedimento pode demonstrar 0 verda-

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deiro e desmascarar 0 falso. 0 pai nao e arrastado daqui para

hi por todo vento de doutrina, nem corre arras de qualquer

novidade propagada pelos ceticos ou fanaticos. 0 pai sabe

o que sabe, apega-se ao que esta comprovado, arraigado e

fundado na fe ,

No entanto, apesar de sua maturidade e firmeza, opai

e sp ir it ua l t ra n sb orda te rnu ra , manifesta intenso amor pelas

almas dos homens. Sua teologia doutrinaria nao 0 impede

jamais de ser humano. Nasceu com 0 proposito de sentir

interesse pelos outros, e seu coracao nao descansa ate que

demonstre tal simpatia. Em certos lugares da nossa costa nao

ha portos; mas noutros pontos ha baias as quais os barcos se

dirigem rapidamente em casos de tempestade. Algumas

pessoas oferecern urn porto natural aberto as almas afligidas;

as amam instintivamente, e confiam nelas sem reservas; elas,

por sua vez, agradecem essa confianca e se poem a disposicao

em beneficio delas. A natureza as equipou com acentuada

compaixao humana, e isso foi santificado pela graca, de modo

que sua vocacao e instruir, consolar, socorrer, e, de inurn eras

maneiras, ajudar aos espiritos mais debeis. Sao esses os homens

de estirpe real que chegam a ser pais amantes na Igreja. Paulo

afirma a respeito de Timoteo: "A ninguem tenho de igual

sentimento, que sinceramente cuide dos vossos interesses".Esta natural solicitude pode ilustrar-se com os sentimentos

das aves para com seus filhotes. Observem como trabalham

diligentemente em favor deles, e quao valentemente os de-

fendem. A galinha com os pintinhos sob as asas configura a

propria valentia. Transforma-se numa ave feroz na defesa de

seus pequeninos; seria capaz de lutar contra urn exercito com

o objetivo de protege-los. 0 homem de Deus, que experimenta

a forca da paternidade sagrada, faria qualquer coisa, possivel

ou impossivel, pelos seus filhos espirituais; de boa vontade

Com verdade diz 0 apostolo Paulo: ''Ainda que tenhais

dez mil aios em Cristo, nao tendes muitos pais." Aos mestres

do tipo geral os chama pedagogos, e afirma que possuimos

miriades deles; mas nao temos muitos "pais". Ninguem tern

mais de urn pai natural, e num sentido mais estrito cada

urn de nos tern urn so pai e sp ir itu al - somente urn. Quao

singularmente certas sao as palavras do apostolo na hora

atual! Ainda temos falta de pais espirituais. Somos pais no

senti do de ter ao nosso redor convertidos que sao nossos

filhos no Senhor. Temos ouvido os c1amores penitenciais e as

oracoes de fe dos que sao nascidos de Deus atraves da nossa

pregacao. Muitos de nos podemos regozijar-nos que 0Senhor

nao nos tern deixado sem testemunho. Nosso ministerio tern

sido imperfeito e debil, mas Deus tern concedido vida a

muitos atraves de nossas palavras.

A relacao entre pais e filhos exige muito de nos. 0 pai d eoe

ser um hom em estaoel e p ro vado . Espera-se que seja de valor

solido e de discernimento substancial. Ha muitos pregadores

que nao podem ser chamados de "pais"; pareceria ridiculo. 0

que dissipa 0 tempo, 0que tern muitas linhas de pensamento,

o hom em de espirito iracundo, sao desclassificados quando

estamos a procura de pais. Para corresponder a ideia de urn

pai sao necessaries elementos como autoridade, afabilidade,dignidade, constancia, carater respeitavel. As gran des verda-

des the sao muito preciosas, pois experimentou 0 seu poder

por muitos anos. Quando algum dos filhos the diz que esta

ultrapassado, sorri ao ver a sabedoria superior deles. De vez

em quando, trata de mostrar-lhes que ele tern razao, ainda que

seja dificil convence-Ios. Os adolescentes creem que os pais

sao nescios; os pais nao creem que os adolescentes 0 sejam,

nao ha necessidade disso. Os verdadeiros pais sao pacientes;

nao esperam achar cabecas maduras sobre ombros imaturos.

108 109

UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 o Que Aspiramos Ser

se sacrifica por eIes. Mesmo que quanto mais arne seja

menos amado, pela potencia da energia espiritual se ve

esta honra especial, veja 0 carninho: trata-se de abnegacao,

paciencia, indulgencia, amor, zelo e diligencia. "Quem deseja

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impulsion ado a esse labor abnegado.

Algum irrnao podera exclamar: "gostaria de ocupar 0

posto de pai na minha igreja, a fim de governa-Ia". Este eurn motivo lamentavel, 0 qual 0 decepcionaria. 0 pai de

familia cedo descobre que sua preeminencia e a de uma

a~.1!:~ga£iiouperior; mais do que uma auto-af ir11 l.afiio.Os melhores

pais orientam real mente, mas nunca discutem a questao:

"Quem e 0 senhor?" Numa casa bern ordenada, "0 nene e 0

rei." Voces nao tern visto como todas as coisas ocupam lugar

secundario por causa dele? A palavra mais carinhosa e reser-

vada ao pequenino personagem, e os movimentos da casa

dependem das necessidades dele. Que significa isso? Significa

que a pessoa mais pobre, defeituosa, debil e sensivel de toda

a Igreja deve governar-Ihe, se e urn verdadeiro pai. Estudara a

mais rebelde, e renunciara ao seu prazer pessoal em beneficio

do mais defeituoso. Coisas aparentemente absurdas pertencem

a familia do amor. Nossos assuntos domesticos devem parecer

ilogicos aos estranhos que nao nos apreciam. Saudo aos

absurdos do amor sagrado. 0 pequenino e rei; 0 mais debil

deve governar nossos coracoes. 0 passo do rebanho inteiro

diminui a fim de que os cordeirinhos nao fiquem para tras,

Procuramos dirigir de forma que ninguem pise 0mais fraco,

e dan do exemplo de total abnegacao propria. Aquele que naopercebe que esta e a lei imperativa do amor, e 0 verdadeiro

segredo da forca, nao e apto para ser pai. Deixemos que os

homens passem por cima de nos, se des sa maneira podem

chegar a Cristo.

Nossa posicao e a de servo de todos. 0 pai ganha 0 pao

de cada dia, 0 traz para cas a e 0 reparte. Nos somos pai e

mae simultaneamente, enos dispomos a desempenhar todas

as funcoes necessarias a favor dos que estao a nosso cargo.

Se voce, irrnao, almeja ser urn pai na Igreja a fim de obter

ser 0 maior dentre vos, seja 0 vosso servo." Um pai deve

possui r sabedori a . . Nisso se enganam muitos, pois aspiram a

posicao honrosa por motivos duvidosos, e assim se tom am

nescios. Irmao, se possuisse sabedoria, que faria com ela?

Porventura a usaria para demonstrar superioridade aos

demais? Nesse caso, voce nao possui sabedoria suficiente. A

sabedoria de urn ministro revela-se em ser sabio para com

outros, e nao astuto para simesmo. Alguns usam a sua sabedoria

de modo imprudente, e sao uma praga para a Igreja onde

deveriam ser uma bencao. Voce desejaria ficar a frente da

igreja para consertar a todos e assim demonstrar sabedoria.

Tal pensamento muitas vezes significa grande loucura. Faz-

-me lembrar de alguern que afirmava: "Nao tenho 0 menor

temor de que os Iadroes penetrem na minha casa. Se notasse a

presenca de urn deles, apertaria urn botao e num instante a

corrente eletrica faria explodir a dinamite escondida na saleta,

a qual destruiria 0 ladrao e toda a casa". Talvez haverao de rir

ante 0raciocinio, mas conheco ministros que tern agido dessa

forma. Lamento conhecer urn irrnao que jarealizou tal facanha

em varias igrejas. Enquanto ele julga haver urn membro,

sobretudo urn oficial, trilhando maus caminhos, poe a

dinamite, fazendo voar tudo peIos ares, cham ando isso de

fidelidade. Mas essa nao e a maneira prudente de urn paiatuar. Se possuimos sabedoria, procuraremos manter a paz

e nos esforcaremos para efetuar mudancas com a suavidade.

Os pais nao matam os filhos por serem pouco filos6ficos,

por nao se aprofundarem muito em teologia ou se tornarem

ate certo ponto desobedientes.

Se aspiramos a ser pais, ep reciso q ue d esejem os atin gir

um a lto g ra u de sa ntid ad e. E conium a pergunta: " E possivel

para os crentes ser perfeitamente santos na terra?" Certo

dia encontrei urn homem descalco e vestido de farrapos.

110 111

UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 o Que Aspiramos Ser

Suponhamos que ele me perguntasse se eu cria que the era

possivel chegar a ser rnilionario; teria respondido que melhor

0

do exemplo dos guias espirituais. Os estranhos podem falar

sem pensar no que dizem, mas os pais sao conscientes da

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pagamento da dormida a noite e depois economizasse a fim

de adquirir urn traje decente. Assim os que discutem acerca

da perfeicao fariam melhor em procurar que suas vidas

correspondessem a profissao crista. Irrnaos, podemos ser

muito mais santos do que somos. Alcancemos primeira-

mente aquela santidade sobre a qual nao ha controversias. Nao

ousamos por limites ao poder da graca divina e afirmar que

urn crente pode atingir certo nivel de graca, porern nao

pode passar daquilo. See possivel uma vida perfeita, esforcemo-

-nos por alcanca-lo. Se podemos possuir uma fe que jamais

vacila, procuremo-Ia. Se podemos andar com Deus como

Enoque atraves de uma longa existencia, nao descansemos

ate consegui-Io. Nao devemos limitar 0Senhor neste aspecto;

se de algum modo ha limitacao, e em nos mesmos. Aspiremos

a santidade de carater e de espirito. Estou persuadido que a

maior influencia que podemos ter sobre nossos semelhantes,

e a influencia que procede da consagracao e da santidade.

Ha mais olhos fixos em nossa vida diaria do que imaginamos,

tanto no lar, como na igreja e no mundo. Se afirmamos ser

ministros do Senhor, nao estranhemos de ser continuamente

observados; mesmo quando julgamos nao haver nenhum

observador perto de nos. Nossas vidas devem ser tais queos homens possam imita-las sem perigo.

J a conhecem a trem end a responsabilid ad e de um p aipara

c om o s filh os ; tal e a nossa. Nao creio que algum de nos se

atreva a dizer a congregacao: "Siga-me em todas, as coisas".

No en tanto, a tendencia e imitar 0 pastor. Nessa tendencia

jaz a base da influencia para 0 santo, e urn terrivel poder

prejudicial para 0mal. Os filhos inicialmente obedecem aos

pais, e assim aprendem a lei do Senhor, e por certo muitos

do tipo mais debil aprendem 0 caminho da santi dade atraves

grande responsabilidade quanto aos filhos. Se a familia nao

esta bern ordenada, 0 pai prudente corneca a emendar seus

proprios caminhos. Se nossa congregacao se descuida ou se

afasta do born caminho, humilhemo-nos e tomemos sobre

nos mesmos a culpa. Se fossemos melhores, por certo os

membros da nossa igreja seriam melhores. De pouco serve

irritar-nos; 0 mais prudente e prostrar-nos diante de Deus

e descobrir a razao pela qual nosso ministerio nao esta

produzindo melhores resultados.

Acho que posso dizer muito mais, tao grande e 0 peso

que me oprime. Acrescentaria que, como 0pai terreno ocupa

o lugar de Deus diante dos filhos, assim nos, como pais

espirituais, em grande medida. Muitas pessoas fracas e

ignorantes nos colocam numa posicao da qual desejariamos

escapar, se possivel, pois detestamos tudo que se asseme-

lha a clericalismo. Lamentamos que haja aIm as simples

que esquecem ver 0 pensamento do Senhor revelado nas

Escrituras, mas nos contemplam como seus guias e mestres.

Admito haver supersticao maligna nisso, mas isso ocorre, e

nao 0 podemos negar. Sem duvida, em muitos casos, atraves

de seu agradecido respeito, os membros da nossa congregacao

aprendem licoes tanto do que fazemos como do que dizemos,

e isso nos deve manter muito cuidadosos, por temer deinfluencia-los para 0 mal. Sejamos santos, para que outros

sejam santos.

P re cis amo s s er amao eis e c or te ze s, pois ate algo insignificante

como apertar a mao ou assentir com a cabeca tern a sua

influencia, Urn membro da nossa igreja revelou que varias

vezes tentou cumprimentar-me a porta do templo, muito

antes de entrar para ouvir-me. 0 gesto de amabilidade e a

atencao recebida 0 fez recordar de mim e 0 impulsionou a

voltar a fim de escutar 0 pregador. Afirmou-me que este

112113

UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 o Que Aspiramos Ser

simples incidente foi 0primeiro laco entre ele e a religiao. Era

bebado, afligido e impio; mas por urn feliz acontecimento

chegara a tornar-se amigo de urn ministro de Cristo, e esse

beijou. Que nossos coracoes transbordem de amor, regozi-

jando-se pelos que 0 buscam! Precis amos ser como aquele

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encontro se tornou 0 primeiro passo para melhores dias.

Nunca sejam rigidos e orgulhosos. Sejam compassivos e

amaveis, Os filhos desejam encontrar bondade no pai; nao

os decepcionemos. Compete-nos ser tudo para com todos a

fim de salvar alguns.

Mesmo em relacao aos que estao fora, devemos mostrar

carinhosa atencao. "prec£~qrrt0~de171(}rtstrarcarinho ilimitado

ain da a qu ele s qu e de sp re za m 0 e va ng elh o. Deve encher-nos de

profunda tristeza 0fato de que os homens rejeitam 0Salvador,

e seguem 0 caminho da destruicao. Se persistem a arruinar-

-se, e preciso que choremos por eles em secreto. Se apos

haver-Ihes pregado a mensagem com amor eles nao se

arrependem, devemos quebrantar os nossos coracoes por nao

haver podido quebrantar os de les . Se Absalao esta na iminen-

cia de perecer, que acompanhemos a Davi ate a camara ao

lado a fim de prantear amargamente, clamando: "Meu filho,

meu filho! - quem me dera morrer por ti, meu filho!" Ja

choraram alguma vez por seus ouvintes, como 0 que chora

pelo ente querido que partiu? Poderiam suportar a ideia

deles comparecerem diante do juizo sem perdao? Poderiam

resistir a ideia da sua condenacao? Nao sei como e possivel

a urn pregador ser muito abencoado por Deus se nao senteagonia quando teme que alguns dos seus ouvintes passem

para a eternidade impenitentes, na incredulidade.

Por outro lado, observem a cena de urn pai que contempla

o filho voltando para casa ao renunciar os seus maus caminhos.

o Novo Testamento apresenta 0retrato divinamente retratado.

Quando 0 prodigo ainda estava a grande dis tan cia, 0 pai 0

avistou. Oxala tenhamos olhos abertos para perceber os que

sao despertados. 0 pai correu a seu encontro. Que nos

esforcemos em ajudar aos que tern esperancal Abracou-o e 0

pai; cheios de amor, sempre na expectativa. Nossos olhos,

ouvidos e pes hao de ser para os arrependidos. Nossas lagri-

mas e braces abertos devem estar prontos para eles. 0 pai

espiritual e 0que dispoe da melhor veste, de aneis e sandalias;

recorda estas provisoes da graca porque se move de amor

para os que regressam. 0 amor e urn teologo pratico, e

cuida de aplicar praticamente todas as bencaos do pacto, e

todos os misterios da verda de revelada.

Visto que voces sao filhos de Deus, sejam tambem pais

em Deus! Que esta seja a paixao ardente de suas almas.

Conver tam -s e em l id er es e camp eo es . Deus lhes conceda a honra

da maturidade, a gloria do poder! Entao esperem valorosa-

mente que Ele ponha sobre voces a carga que tal poder pode

suportar. Necessitamos que voces se comportem varonilmente.Nos dias maus, quando se aproxima 0choque da batalha, tera

que ser sustentado pelos pais, ou nao 0 sera. Nossos irrnaos

jovens e pouco maduros sao valiosissimos como tropas ligei-

ras, abrindo caminho e avancando em terri to rio inimigo;

mas as colunas solidas, que resistem firmemente a ftiria do

ataque, hao de estar compostas principalmente pela velha

guarda. Voces que tern experiencia nas coisas de Deus, voces

os experimentados que lutaram na batalhas do Senhor em

inurneras ocasioes, precisam estar firmes e, tendo feito tudo,ainda terao que resistir. Apelo para voces, pais, para que

defendam 0 fortim ate que 0 Senhor volte. Voces devem

persistir firmes, inabalaveis, "sempre crescentes na obra do

Senhor. Se fracassarem, a quem poderemos recorrer? Sera

como urn "porta-bandeira derrotado".

Caso que voces se tornem satisfeitos em desejar tao

elevada honraria, imaginando que a simples aspiracao se

cumprira, permitam-me lembrar-lhes como viveu 0Salvador.

Jamais Se deteve nos desejos e nas resolucoes, mas Se dedicou

114115

UMMINISTERIO IDEAL, Vol. 1 o Que Aspiramos Ser

a urn service constante. Ele afirmou: "Minha comida e fazer

a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra".

Pes car almas ha de ser comida e bebida para nos. Realizar

De conformidade com a ajuda do Senhor, ponhamos

nosso tudo sobre 0 altar e vivamos so para Ele. Uns sao

convocados para servir no exterior e outros terao de procla-

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a obra do Senhor Jesus deve ser tao necessaria para nos

quanta os alimentos. A obra do Seu Pai e a mesma na qual

estamos empenhados, e nada podemos fazer melhor do que

imitar 0 Mestre. Digam-me, pois, como a realizou 0 Senhor

Jesus. Projetou a construcao de urn enorme taberriaculo,

organizando uma gigantesca conferencia, publicando urn

grande livro, tocando uma trombeta diante dEle ou proje-

tan do algo sensacional? Buscava a popularidade ou aspirava

tornar-se famoso? Naol Chamou aos discipulos, urn a urn, e

os instruiu com cuidadosa paciencia, Para ter urn exemplo

tipico, do Seu metodo, observem-nO fazendo uma pausa

durante 0 calor do dia. Sentou-Se junto ao poco, e Se

dirigiu a uma mulher que nao era contada entre as mais

distintas. Isso parecia trabalho lento e acao muito rotineira.

No entanto, sabemos que foi urn passo justo e sabio.

Aquele tao simples auditorio, Ele nao falou de maximas

engenhosas, como as de Confucio, nem discorreu sobre

filosofias profundas como a de Socrates; mas falou simples

e puramente, com devotado fervor, acerca da vida dela, suas

necessidades pessoais, e da agua da vida por meio da qual

podiam ser supridas tais necessidades. Conquistou 0 coracao

dela, e da mesma maneira a muitos outros; mas0

fez de urnmodo que nao impression aria a muitos. Ele estava acima das

mesquinhas ambicoes de nossos coracoes orgulhosos. Nao

ambicionava uma grande congregacao; nem sequer pediu

urn pulpito. Desejou ser 0 pai espiritual daquela mulher;

para isso, tinha que passar por Samaria, e apesar de grande

cansaco, devia falar-Ihe da agua da vida. Irrnaos, repudiemos

a vaidade. Tornemo-nos mais simples, naturais e paternais amedida que vamos amadurecendo; sejamos absorvidos de

maneira cada vez mais completa na obra de nossa vida.

mar 0 evangelho nos confins da terra. N em todos nos

podemos fazer isso; mas todos devemos viver para 0 Senhor

e dedi car nossas vidas a service de nossos irmaos. Todos os

campos precis am ter seus obreiros consagrados e presenciar

urn heroismo genuino. Pelo fato de pertencermos a Cristo, 0

zelo da casa do Senhor deve devorar-nos.

Gostaria de ter-lhes falado com toda a minha energia,

porern e possivel que minha fraqueza seja usada por Deus

com propositos mais importantes. Minhas dores fisicas

limitam meus pensamentos, os disnirbios organicos emba-

racarn 0 melhor funcionamento mental; mas as ideias estao

aces as, pois meu coracao permanece fiel ao Senhor e dedicado

ao evangelho - como tambern a voces. Que Ele use a cada

urn ate ao maximo da nossa capacidade para sermos iiteis

de modo que possamos glorifica-la atraves da saude ou da

enfermidade, na vida ou na morte. Amem.

116 117

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6

MORDOMOS

"Que o s h omen s nos c on sid er em min is tr os d e Cr is to e mordomos

d os m iste rio s d e D eu s. R eq ue r-se d os m ord om os, q ue ca da um seja

achadofiel" -1 Cor. 4:1-2.

o apostolo anelava ser tido pelo que era, e tinha razao;

pois os ministros nem sempre sao apreciados corretamente.

Geralmente muitos segloriam neles, outros os depreciam. No

inicio de nosso ministerio, quando 0que dizemos e novidade

e nossas energias transbordam, quando ardemos e lancamos

faiscas, passamos muito tempo ern preparar fogos de artificio,

aspessoas sao propensas a considerar-nos seres maravilhosos;

entao e necessaria a palavra do apostolo: "Ninguem se glorie

nos homens" (1 Cor. 3:21). Nao e certo, como insinuam os

aduladores, que ern nosso caso os deuses hajam descido ern

semelhanca de homens; e seriamos idiotas se acreditassemos

nisso. A seu devido tempo, as ilusoes esnipidas serao subs-

tituidas pelos desenganos, e entao ouviremos a desagradavel

verdade mesclada de censuras injustas. Cedo ou tarde,0

tempo produz 0 desencanto, e transforma nossa posicao no

apreco do mundo. Passaram os dias da primavera, e chegou 0

tempo das ortigas. Concluida a epoca ern que as aves cantam,

aproxima-se a estacao dos frutos; mas as criancas nao ficam

tao contentes conosco como quando passeavam por nossos

exuberantes prados, fazendo coroas e grinaldas corn nossas

flores. Talvez nao estejamos percebendo. 0 homem rnaduro

e solido e lento, enquanto 0 jovem cavalga nas asas do

vento. E evidente que alguns tern ideias exageradas do que

1 1 9

UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 Mordomos

nos somos; outros tern ideias de modo demasiadamente

mesquinho; seria muito melhor se todos eles pensassem

sobriamente que somos "ministros de Cristo". A Igreja lucraria,

gloria para nos, mas ponhamos honra nos vasos mais

frageis mediante nossos cuidados. Que os pobres, os debeis

e os afligidos tenham 0 lugar de honra na Igreja do Senhor, e

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nos seriamos beneficiados e Deus seria glorificado, se nos

colocassem no lugar exato enos mantivessem ali, sem apreciar-

-nos em demasia, nem censurar-nos injustamente, mas

considerando-nos em relacao ao Senhor e nao em nossas

proprias personalidades. "Que os hom ens nos considerem

como ministros de Cristo."

nos que estamos fortes levemos suas fraquezas. Quem se

humilha e exaltado; e 0que se faz menos que 0mais inferior,

eo maior. "Quem enferma, que eu nao enferme?", interroga

o apostolo. Se ha algum escandalo a suportar, melhor sofre-

-1 0 do que permitir que ele aflija a Igreja de Deus. Uma vez

que somos, por nossas funcoes, servos num sentido especial,

suportemos alegremente a parte principal de abnegacao e

os trabalhos penosos dos santos.

Entretanto, 0 texto nao nos designa simplesmente servos

ou ministros, mas acrescenta "de Cristo". Nao somos servos

dos homens, e sim do Senhor Jesus. Amigo, se-voce ere que

devido contribuir para meu sustento, estou obrigado a seguir

suas opinioes, esta equivocado. E certo que somos "vossos

servos por Jesus"; contudo, no senti do mais elevado possivel,

nossa (mica responsabilidade e perante Aquele a quem

cham amos Mestre e Senhor. Obedecemos ordens superiores;

mas nao podemos ceder aos caprichos dos nossos companhei-

ros de service, por mais influentes que sejam. Nosso service

e glorioso, porque pertence a Cristo; sentimo-nos honrados

pelo privilegio de servirmos Aquele cujos sapatos nao somos

dignos de desatar.

Afirma-se tambem que somos MORDOMOS. Que e sermordomo? Esta e a nossa funcao. Que se requer de urn

mordomo? Este e 0 nosso dever. Estamos falando agora de

nos mesmos; portanto, facamos uma aplicacao pessoal de

tudo que for dito.

1. Primeiramente, u m m ordo mo e a pen as um se rv o. Talvez

nem sempre se percebe, mas e algo lamentavel que 0 servo

comece a pensar que e 0 amo. E uma lastima que os servos,

quando passam a ser honrados pelos seus mestres, comecam

a inchar-se. Quao ridiculo pode chegar a ser mordomo! Nao

Somos MINISTROS. Esta palavra soa de modo respeita-

vel. Ser ministro e a aspiracao de muitos jovens. Talvez se a

palavra do original fosse traduzida de outro modo, esfriaria

a ambicao deles. Os ministros sao servos: nao sao convidados,

mas criados; nao sao senhores, mas servidores, A mesma

palavra tern sido traduzida "remadores", exatamente os que

movem os remos do banco inferior. Remar numa galera

sempre era trabalho duro; aqueles movimentos rapidos

esgotavam as forcas vitais dos escravos. Havia tres fileiras de

remadores: os do banco superior tin ham a vantagem do ar

fresco; os que ficavam abaixo deles estavam mais escondidos;

mas suponho que os trabalhadores do remo inferior, alern de

exaustos pelo esforco penoso, estavam sujeitos a desmaiar

devido ao calor. Irmaos, contentemo-nos em gastar nossas

vidas ainda que seja na pior das posicoes, se atraves do nossoservice possamos ser instrumentos para que 0 nosso grande

Capitao apresse Sua volta e que possamos ajudar 0 avanco

da embarcacao da Igreja que Ele conduz. Estejamos dispostos

a movimentar 0 remo e a trabalhar durante toda a vida para

que Seu navio singre as ondas. Nao somos capitaes nem

proprietaries do barco, mas apenas remadores de Cristo.

Recordemos que somos servos na casa do Senhor. "0

maior dentre vos seja vosso servo." Estamos dispostos a ser 0

tapete a porta de entrada do nosso Mestre. Nao busquemos

120 121

UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 Mordomos

me refiro a mordomos ou lacaios, e sim a nos mesmos. Se

nos engrandecemos a nos mesmos, chegaremos a ser depre-

ciaveis; nem honramos a nos sa funcao nem exaltamos ao

supervisionar os demais servos, que e tarefa dificil. Antigo

amigo meu, ja com 0 Senhor, me disse em certa ocasiao:

"Sempre tenho sido pastor. Durante quarenta an os fui pastor

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Senhor. Somos servos de Cristo, e nao senhores sobre a

heranca dEle.

Os ministros sao para as igrejas, e nao as igrejas para os

ministros. Trabalhando para as igrejas, nao poderemos ter a

ousadia de considera-las como propriedades a explorar em

beneficio proprio, nem jardins a cultivar segundo nosso

proprio gosto. Alguns falam da forma liberal de governo na

sua igreja. Que sejam liberais com 0 que lhes pertence;

porern que 0 mordomo de Cristo se orgulhe de ser liberal

com os bens de seu Mestre, e coisa bern diferente. Como

mordomos, somos apenas servos de categoria; que 0 Senhor

mantenha em nos urn espirito de plena obediencia! Se nao

temos cuidado em conservar-nos em nosso devido lugar, 0

Mestre nao deixara de admoestar-nos e de humilhar nosso

orgulho. Quantas de nossas aflicoes, fracassos e depress6es

procedem de que nos sentimos demasiadamente orgulhosos!

Estou convicto de que nenhum dos que tern sido honrados

por Deus publicamente desconhece os castigos administra-

dos em secreto, os quais impedem que a carne soberba se

exalte indevidamente. Quantas vezes tenho orado: "Nao me

retires do Teu servico, Senhor!", pois 0mordomo despedido

e objeto de comiseracao entre os servos do Senhor. Noutrostempos era grande e poderoso, cavalgando 0 melhor cavalo;

mas depois de afastado, toma-se menos que 0 mais

insignificante vaqueiro. Vejam quao contente ele se mostra

em ser recebido, como agradecido hospede, nas humildes

casinhas daqueles que outrora 0 admiravam com especial

respeito, quando representava a seu Senhor! Cuidado para

nao serem exaltados demasiadamente, casu contrario serao

aniquilados.

2. 0 mordomo e um servo de tipo especial, pois tern de

de ovelhas, e por outros quarenta, pastor de homens, e 0

segundo rebanho era muito mais pusilanime do que 0

primeiro." Tal testemunho e verdade. Creio ter ouvido dizer

que a ovelha tern tantas enfermidades quantos os dias do

ano; mas 0 outro tipo de ovelha e capaz de ter dez vezes

mais doencas, 0 trabalho do pastor e excessivamente pesado.

Nossos companheiros de service sao assediados por toda

especie de dificuldades; e e deploravel que os mordomos

pouco sabios causam muitas outras desnecessarias, devido

exigirem dos demais aquela perfeicao que eles mesmos nao

possuem. Alem disso, nossos conservos foram sabiamente

selecionados. Aquele que os pos em Sua casa sabia 0 que

estava fazendo; sao escolhidos do Senhor, e nao nossos. Nao

nos compete achar defeitos nos eleitos do Senhor. Entre

alguns e habito comum injuriar a Igreja; mas uma vez que

a Igreja e a noiva de Cristo, e bastante perigoso criticar aamada do Senhor. Nesse aspecto, procuro imitar Davi na sua

atitude em relacao a Saul: nao me atrevo levantar a mao contra

o ungido do Senhor. Muito melhor e que descubramos

nossos proprios defeitos antes que censuremos as falhas alheias.

Alem disso, os membros da nossa igreja sao seres hum a-

nos, e mesmo0

melhor delese

apenas humano, ainda queno melhor sentido. Dirigir, instruir, con solar e ajudar a tantas

pessoas diferentes, sem duvida nao e tarefa simples. 0 que

governa entre os homens, em nome de Deus, deve ser

homem; mais do que isso, precisa ser homem de Deus. Deve

estar dotado da graca, ser de estirpe real, e destacar-se dos

demais em varies aspectos. Os homens acatarao a verdadeira

superioridade, mas nao as pretensoes oficiais. A posicao

superior ha de estar sustentada por atitudes superiores. 0

mordomo precisa saber mais do que 0 lavrador e 0 peao.

122 123

UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1Mordomos

Possuir inteligencia superior a do vigia e do carreteiro, e urn

carater mais eficiente do que a das pessoas comuns as quais

tern de transmitir ordens. Como mordomos, e indispensavel

3. Prosseguindo, lembremos que o s m ord om os s ao s erpQs

sob a s o rd en s mai s imedi at as d o g ra nd e Mest re . Temos de ser como

o mordo~o que diariamente se dirige a presenca do Senhor

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que tenhamos graca abundante, pois do contrario nao cum-

priremos nossos deveres nem alcancaremos promocoes.

Os demais servos se regerao pelo que fazemos. 0 mordomo

apatico, inerte e lento sempre tera a seu redor uma equipede trabalhadores lentos, resultando em serios prejuizos nos

negocios do Senhor. Urn ministro logo se vera rodeado de

pessoas semelhantes. Oxala sejamos sempre atentos e fervoro-

sos no service do Senhor Jesus, para que nossa congregacao

tambern seja consagrada. Li de urn teologo puritano que

demonstrava tal entusiasmo que sua igreja afirmava viver

como se alimentasse de coisas vivas. Que de igual modo

nossa vida seja sustentada pelo Pao vivo!

A menos que sejamos nos mesmos cheios da graca deDeus, nao seremos bons mordomos na orientacao de nossos

companheiros de service. Devemos ser para eles exemplo de

zelo e ternura, constancia, esperanca, energia e obediencia. Epreciso que pratiquemos constante abnegacao e aceitemos

como nossa parte no trabalho 0mais dificil e mais humilhante.

Seremos elevados acima dos companheiros atraves de urn

desinteresse superior. Encarreguemo-nos de ir a frente das

empresas perigosas e de levar as cargas mais pesadas. Precisa-

mos realizar algumas das tarefas mais penosas na Igreja, eservir nos lugares mais duros. Por que nao havemos de estar

dispostos a ocupar essas posicoes? 0 Senhor exaltara aos que

nao escolhem por si mesmos, mas estao dispostos a fazer

qualquer coisa e ir a todo lugar. 0 que vence 0medo na hora

do perigo tera como recompensa 0 privilegio de poder

demonstrar ainda maior coragem. 0 que e fiel no pouco, sera

design ado para urn setor de trabalho de maior importancia

e prova mais severa; este e 0 progresso a que aspiram os

servos leais do nosso Rei.

a fim de receber ordens. 0 simples lavrador nunca vai a casa

do patrao, mas 0 mordomo nao pode deixar de comparec~r

ali. Se falhasse em consultar ao seu senhor, logo cometena

erros e se envolveria em graves complicacoes. Como deve-

riamos repetir constantemente: "Senhor, que queres que eu

faca?" Deixar de buscar a Deus a fim de descobrir e por em

pratica Sua vontade, seria abandonar nossa verdadeira posicao.. )

Que se far a ao mordomo que nunca se comumca com 0 amo.

Ora, fazer as contas e despedi-lol 0 que faz a propria vontade

e nao a do senhor nao pode exercer a funcao de mordomo.

E preciso que estejamos continuamente esperando

ordens de Deus. E indispensavel cultivar 0habito de busca-la

a procura de orientacao. Quao gratos deviamos ser pelo fatodo Amo estar sempre atento a nossa voz! Ele guia a Seus servos

com os olhos; e junto com a dire<_;;aoEle concede tambem 0

poder necessario. Ele tornara nossos rostos brilhantes perante

os companheiros quando mantemos comunhao com Ele.

Nosso exemplo ha de influir a outros para estar as ordens do

Senhor continuamente. Se nossa ocupacao e transmitir-lhes

os pensamentos de Deus, entao estudemos cuidadosamente

os Seus pensamentos. Que ninguem se des cui de no cultivo

do habito de ir ao trabalho sem antes estar em comunhaocom 0 Senhor. Se 0mordomo nao demonstra interesse pelos

assuntos do amo, e se torna obstinado, chegando a inverter

as or dens do seu senhor; se de algum modo se intromete em

negocios improprios, entao os servos que estao sob sua lideranca

aprenderao a ser desleais. 0 Mestre breve voltara, e ai do

mordomo que ao pres tar contas for julgado infiel!

4. Os mor domos e st do con st an temen te p re st an do con ta s. Suas

contas sao dadas a proporcao que marcham. Urn proprietario

cuidadoso exige a conta de receitas e despesas cada dia. E

1 24 125

UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 Mordomos

importante considerar as proprias falhas e defeitos. Isso nos

levara a utilizar melhor 0 tempo em constantes esforcos no

service do Amo a fim de aumentar os Seus bens. Cada urn

deixam de progredir de alguma maneira. Considero 0 esforco

mais necessario e proveitoso 0que dedicamos a nos melhorar

mental e espiritualmente. Seja qual for a sua atividade, acima

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deve interrogar-se a si mesmo: "0 que estou conseguindo

com a minha pregacao? Seria do tipo certo? Estaria dando

enfase aquelas doutrinas que 0 Senhor deseja que apresente

de preferencia? Acaso dedico as almas 0 interesse que Ele

quer que eu demonstre?" E proveitoso analisar assim todas as

areas da vida, e considerar: "Sera que gasto 0 tempo suficiente

com a oracao em secreto? Sera que estudo as Escrituras tao

intensamente quanto devo? Vou correndo a muitas reuni6es;

mas estaria em tudo isso cumprindo as ordens do meu Mestre?

Nao seria possivel que procuro satisfacao para mim mesmo

com a aparencia de realizar muito, enquanto na realidade eu

faria mais se fosse mais cuidadoso na qualidade do servico

do que na quantidade?" Oxala recorramos constantemente

ao Senhor e tenhamos sempre corretas e claras nossas contas

com Ele!

5. Destaquemos 0 ponto principal: 0 m ord om o e o de posi-

ta rio e a dm in is tra do r d os b en s d o s eu s en ho r. Tudo 0 que ele tern

pertence ao senhor, e ele e guarda de tesouros especiais, nao

para que faca deles 0que desejar, mas para que cui de deles, Os

dons de conhecimento, raciocinio, fala e influencia nao nos

pertencem para que nos gloriemos deles, mas os temos em

deposito a fim de administra-los para0

Senhor. 0 dom queganha outros cinco e Seu.

Deveriamos aumentar 0 capital. Todos estariam fazendo

isso? Estariam crescendo em capacidade e desenvolvendo os

dons? Irmaos, cuidem de voces mesmos. Noto que alguns

crescem, mas outros estacionam e se transformam em an6es ,sem desenvolvimento. Lamento que tantos jovens destroem

nossas esperancas; tornam-se extravagantes nos gastos; casam

irrefletidamente, tornam-se presa do mau humor, buscam

opinioes modernas, cedem a preguica ou ao relaxamento, ou

de tudo cuidem de voces mesmos e da doutrina. Os que

negligenciam a mcditacao a fim de viver continuamente

tagarelando, sao muito nescios; assemelham-se a mordomos

que nada fazem na granja, mas falam demasiadamente do

que deveria ser feito. Os caes mudos nao podem latir, mas os

caes prudentes nao estao sempre a latir. Estar continuamente

dando de si e nunca recebendo, leva a vacuidade.

Irmaos, somos "mordomos dos misterios de Deus"; foi-

-nos "confiado 0 evangelho". Paulo se refere ao glorioso

evangelho do Deus bendito que lhe foi confiado. Espero que

nenhum de voces tenha jamais a infelicidade de ser feito

administrador da fe . E uma funcao ingrata. Ao desempenha-

-la, ha pouca margem para a originalidade; verno-nos obri-

gados a administrar nos so deposito com rigorosa exatidao.

Alguem deseja receber mais dinheiro, outro pretende alterar

uma clausula da escritura; mas 0 fiel administrador se apega

ao documento, e 0 obedece. Mesmo pressionado, responde:

"Sinto muito, mas nao redigi 0 documento; sou apenas

administrador de urn deposito, e estou obrigado a cumprir

as clausulas". 0 evangelho da graca de Deus, dizem alguns,

necessita de gran des reformas; porem sei que nao e da minha

conta reforma-lo;0

que me cabe fazer e agir conforme eleafirma. Sem duvida muitos gostariam de fazer uma reforma

na Pessoa de Deus, apagando-O da face da terra, se pudessem.

Reformariam a expiacao ate que desaparecesse. Exigem de

nos grandes transformacoes, em nome do "espirito do seculo",

Asseveram que 0 proprio conceito de punicao do pecado e

uma reliquia barbara da Idade Media; convem modifica-lo,

bern como a doutrina da substituicao, alern de muitos outros

dogmas que cairam de moda. Nada nos afetam essas exigencias;

nosso dever e anunciar 0 evangelho tal como 0recebemos.

126 127

UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 Mordomos

Como depositario, se alguern discute meu proceder,

atenho-me a letra da escritura legal; se alguns discordam, que

apresentem suas reclamacoes ao tribunal correspondente,

6.0 tra ba lh o d o m ord om o c on sis te em d is trib uir o s b en s d e s eu

amo, segundo 0 objet ivo a que esti io dest inados. Ha de retirar coisas

novas e coisas velhas, ha de oferecer leite aos pequeninos e

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pois nao tenho poderes para alterar 0 texto. Somos simples

administrador; se nao nos permitem atuar, encaminharemos

todo 0 assunto a chancelaria celeste. A disputa nao e entre

nos eo pensamento moderno, mas entre Deus e a sabedoria

humana. Dizem: "Mas e absurdo continuar repisando esta

historia antigulssirna!" Nao nos importa a sua antiguidade;

ela veio de Deus, e a repetimos ern Seu nome. Seja qual for

o conceito que tenham sobre ela, encontra-se no Livro do

qual tiramos nossa autoridade. Os mordomos tern de

apegar-se as ordens recebidas, e os administradores precisam

cumprir as condicoes que lhes foram impostas.

Irmaos, nesta hora presente "fomos postos para a defesa

do evangelho". Se ha homens convocados para esse cargo,

somos nos. Vivemos em tempos de inseguranca; muitos

levan tar am as ancoras e estao sendo levados por ventos e

correntes de varies tipos. Precisamos estar bern firmados.

Talvez raciocinios ceticos me hajam arrastado noutros tem-

pos, mas nao agora. Sugerem os inimigos que guardemos as

espadas e cessemos de lutar pela fe antiga? Respondemos

como os gregos replicaram a Xerxes: "Venham, e tomem-nas".

Ate pouco tempo, pens adores avancados tentavam derrubar

os ortodoxos para lanca-los no po; mas ate agora temos sobrevivido a seus assaltos. Sao uns vaidosos que nao conhecem

a vitali dade das verdades evangel icas. Nao, 0 glorioso

evangelho nao perecera jamais. Se havemos de morrer,

morreremos lutando. Se temos de desaparecer pessoal-

mente, novos evangelistas pregarao sobre os nossos tumulos.

As verda des evangelic as farao surgir outros homens

completamente equipados para a batalha. 0 evangelho vive

pela morte. Seja como for, nesta lida, se nao somos vitoriosos,

pelo menos seremos fieis.

carne solida aos amadurecidos, repartindo a cada urn sua por-

~ao oportunamente. Receio que nalgumas mesas os homens

fortes fiquem aguardando a carne por muito tempo e haja

pouca esperanca de que apareca, pois 0que ha ern quantidade

e leite corn agua, No domingo anterior alguem foi escutar

certo pregador, e se queixou de que nao pregou sobre Cristo;

outro explicou que talvez nao era momenta adequado.

Respondo que 0 momento adequado de se pregar sobre

Cristo e cada vez que se pregue. Os filhos de Deus estao

sempre famintos, e nao existe nada que os satisfaca, senao 0

que desce do ceu,

o mordomo prudente ha de manter a proporcao exata.

Apresentara sempre coisas novas e coisas velhas; nem sempre

doutrina, nem sempre pratica, nem sempre experiencia, Nem

sernpre pregara 0 conflito, nem sempre a vitoria, Nao

apresentara urn s o aspecto da verda de, mas uma especie de

visao estereoscopica que fara corn que a verda de se destaque

por evidencia. Grande parte da preparacao dos alimentos

cspirituais consiste na correta proporcao dos ingredientes.

Apresentemos boa porcao de experiencia, sem esquecer

aquela vida superior que consiste numa crescente hum il-

dade espiritual. Demonstrar a fundo nosso minister iorequer muita habilidade, pois a falta de proporcao no que

x c prega tern causado graves danos a muitas igrejas. A vereda

da sabedoria e tao estreita como 0 gume de navalha e para

scgui-Ia necessitamos da iluminacao divina. Nao se toea

harpa usando apenas uma corda. Os servos do nosso Amo

haverao de murmurar se lhes damos somente coelho quente

c coelho frio. Temos de retirar da despensa do Mestre grande

v.iriedade de alimentos apropriados para 0 desenvolvimento

(fa virilidade espiritual. 0 excesso numa direcao e escassez

128 129

UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 Mordomos

noutra, podem produzir muito mal; portanto, usemos 0

peso e a medida, e busquemos direcan,

Irmaos, tomem 0 cui dado de ussr seus talentos para seu

representa 0 seu am o. Quando 0 amo esta longe, todos vern

ao mordomo para receber ordens. 0 que representa urn

Senhor como 0 nosso necessita portar-se bern. 0 mordomo

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Amo, e s6 para Ele. Desejar ser pescadores de almas s6

para que pensem que 0 somos, e deslealdade ao Senhor. : Einfidelidade ao Senhor, mesmo se pregarmos boa doutrina

com 0 objetivo de sermos considerados corretos, ou orarmos

fervorosamente com 0 desejo de sermos conhecidos como

homens de oracao. Temos de bus car a gloria do Senhor com

simplicidade e de todo 0 coracao. E preciso que usemos 0

evangelho do Senhor, a congregacao do Senhor, e os talentos

do Senhor, para Ele e para mais ninguem.

7. 0 m ordo mo de ve se r tambem oguarda da fam ilia do seu

amo. Cuidem dos interesses de todos os que estao em Cristo,

e que todos sejam tao preciosos para voces como seus pro-

prios filhos. Nos tempos antigos os criados se senti am tao

ligados a familia, e de tal modo integrados nos assuntos de

seus amos, que se referiam a nossa casa, nossas terras, nossos

caval os, nossos filhos. Assim e como Q Senhor espera que nos

identifiquemos com Seus negocios santos, e especialmente

deseja que amemos a Seus escolhidos. Nos, mais do que

ninguem, devemos entregar nossas vidas por nossos irmaos,

Devido pertencerem a Cristo, os amamos por causa dEle.

Espero que cada urn possa dizer de coracao:

"Niio lu i cordeiro em T e u rebanho

que eu r ecu sar ia apascentar".

deve agir com muito maior cuidado e prudencia quando

fala por seu senhor do que quando 0 faz por conta propria. A

menos que seja precavido no que diz, 0 senhor pode ver-se

obrigado a declarar: "Voce faria melhor em falar por sua

conta; nao posso perrnitir-Ihe que me represente de maneira

impropria". Amados irmaos e companheiros de servico, 0

Senhor Jesus e mal representado por nos se nao observamos 0

Seu caminho, declaramos Sua verdade e manifestamos Seu

Espirito. Pelo criado os homens deduzem quem e 0 amo;

nao seria justo que assim 0 facam? Nao deveria agir 0

mordomo a maneira do seu amo? Nao podem separa-los,

nem ao amo de seu mordomo, nem ao senhor do seu

representante. Quando disseram a urn puritano que ele era

demasiadamente cuidadoso, replicou: "Sirvo a urn Deus

cuidadoso". Nos temos de ser bondosos, pois representamos

o bondoso Jesus; precisamos ser zelosos, pois representamos

Alguem que Se vestia de zelo como de urn manto. N osso melhor

guia,quando estivermos inseguros sobre 0 que havemos de

fazer, se achara na resposta a pergunta: "Que faria Jesus?"

Imitem a Jesus, que nao falava de Seus proprios pen-

samentos porern dos do Pai. Assim, atuarao como deve fazer

urn mordomo. Nisso se firmam sua sabedoria, seu consolo

e seu poder. Mesmo se nos acusarem de loucos, estamos

certos de estar observando as ordens do Senhor. Os queixosos

nao podem acusar ao mordomo: ele age conforme a deter-

minacao de seu superior. Nossa consciencia esta limpa e

nos so coracao permanece em repouso, se nos certificamos de

haver tornado a cruz e seguido as pegadas do Crucificado. A

obediencia e melhor do que a originalidade, e a capacidade

para ser ensinado mais deseiavel do que 0 genio. A revelacao

de Jesus Cristo durara mais do que as especulacoes humanas.

Irmaos, amemos de coracao a tocios aqueles a quem Jesus

ama. Tratem carinhosamente os que estao sendo provados e

sofrendo. Visitem os orfaos e as viuvas. Cuidem dos fracos e

desanimados. Suportem os tristes e desesperados. Atendam

a todos os da casa, e assim serao bons, mordomos.

8. Terminarei este quadro afitmando que0

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130 131

UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 Mordomos

Damo-nos por satisfeitos, e mais ainda, almejamos nao ser

considerados como pensadores originais e horn ens de

imaginacao; nossa tarefa e dar a conhecer os pensamentos

de Deus e terminar a obra que Ele esta efetuando poderosa-

furioso e ouvir-lhe dizer: "Nao pode suporta-lo? Eu ja tenho

suportado muito mais!"

Irmaos, 0 Senhor "sofreu tal contradicao dos pecadores

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mente ern nos.contra si mesmo", e nos nos cansaremos e desmaiaremos ern

nossos espiritos? Como podemos ser mordomos do bondoso

Senhor Jesus se nos portamos altivamente? Nao nos demos

demasiada importancia, nem tratemos de exercer dominic

sobre a heranca de Deus; pois Ele nao deseja isso, e naopodemos ser fieis se cedemos ao orgulho.

Tambern fracassaremos ern nossos deveres como mordo-

mos se cornecamos a especular corn 0 dinheiro do Senhor.

Talvez possamos dispor do nosso, mas nao dos recurs os do

Senhor. Nao nos ordenou que especulemos, mas que nos

"ocupemos" ate que Ele volte. Nao penso ern especular corn

o evangelho do meu Senhor, sonhando que posso melhora-

- 1 0 por meio dos meus proprios e profundos pensamentos

ou tentando voar na companhia dos filosofos. Tratando-se

de salvar almas, nao vamos falar de outro tema senao do

evangelho. Ainda que pudesse gerar grande cornocao

transmitindo novidades, repilo tal pensamento. Prom over

urn avivamento suprimindo a verdade e agir falsamente;

significa frau de piedosa, e 0 Senhor nao aprova nenhum

beneficio advindo de tais transacoes. Nosso dever e usar de

modo simples e honrado os talentos do Senhor, e devolver-

-Lhe os lucros resultantes dos negocios justos.

Somos mordomos, e nao senhores, e por isso e preciso

que negociemos ern nome do nosso Amo, e nao no nosso

proprio. Nao temos que fabricar uma religiao, mas sim

proclama-la, e mesmo essa proclamacao ha de fazer-se, nao

por nos sa autoridade, mas baseada na do Senhor. Somos

"coadjutores juntamente corn Ele". Nao tratemos de atuar

por nossa propria conta, mas conservemos 0 nos so posto

proximo do Chefe ern toda a humildade espiritual.

2.

Epossivel que cheguemos a ser desleais ao que nos

A segunda parte desta mensagem tratara de NOSSAS

OBRIGA<;OES COMO MORDOMOS. "Requer-se dosmordomos, que cada urn seja achado fiel." Nao se exige que

cada urn seja engenhoso, agradavel aos associ ados, nem

sequer que seja eficiente. Tudo 0 que se requer e que seja

achado fiel; e na verdade nao e coisa de pouca importancia.

Sera necessario que 0 Senhor mesmo Se torne nossa sabe-

doria, e nosso poder, pois do contrario fracassaremos. Muitas

sao as maneiras ern que podemos falar neste ponto, por

muito simples que nos pareca,

1. Podemos deixar de ser fieis quand o atuam os com o sefO ss em os c he fe s e m v ez d e su bo rd in ad os . Surge na Igreja uma

dificuldade que poderia ser solucionada facilmente corn

tolerancia e amor, mas "nos firmamos ern nossa dignidade"

e en tao exageramos nossa importancia, Podemos ser muito

elevados e poderosos se desejamos; e quanto menor somos,

tanto mais facilmente nos inchamos. Nao ha galo mais

imponente na briga do que 0 nanico; nao existe ministro

mais disposto a lutar por sua dignidade do que aquele que

nao a possui. Que coisa tao insensata e quando nos fazemos

"gran des" ! 0 mordomo ere que nao tern sido tratado corn 0

devido respeito e se esforca para fazer corn que "os criados

reconhecam a quem ele e". Urn dia 0 senhor da casa foi,

insultado por urn inquilino zangado e nao fez caso, pois

possuia bastante born senso para nao perturbar-se ante

urn assunto insignificante; mas 0 mordomo nao passa nada

por alto, e se irrita por tudo. Deveria ser assim? Parece-me

ver 0 bondoso patrao por a mao sobre 0 ombro do servo

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UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 Mordomos

foi encomendado se agim os para agradar aos hom ens. Se 0

mordomo estuda 0 modo d~-'~g;adar' a~'iavrad;;'-ou de

satisfazer aos caprichos da empregada, as coisas VaGneces-

sariamente mal, pois esta fora de lugar. Influimos uns sobre

depois com uma morte dificil. Se nao somos laboriosos, nao

somos verdadeiros mordomos; ternos de ser exemplos de

diligencia para a casa do Rei. Aprecio 0 preceito de Adam

Clarke: "Matem-se trabalhando e depois ressuscitem-se pela

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os outros, e tambern somos influidos de modo reciproco, Os

maiores sao inconscientemente afetados em certa medida

pelos mais insignificantes. 0 ministro deve ser influido de

modo poderoso pelo Senhor, de forma que as demaisinfluencias nao 0 afastem da fidelidade. Temos de recorrer

constantemente ao Quartel-General, e receber a Palavra da

boca do proprio Senhor, a fim de sermos continuamente

guardados na retidao e na verda de; do contrario, logo nos

tornaremos parciais, ainda que nao percebamos. Nao temos

de tocar certa nota para obter a aprovacao de tal partido, nem

silenciar uma doutrina importante para evitar ofender a

determinado grupo. Nao pode haver reservas com 0 objetivo

de agradar a alguem, nem a minima concessao para satis-

fazer, mesmo que seja a comunidade inteira. Que temos a

ver com os idolos, mortos ou vivos? Se voces idealizam

satisfazer a todo 0 mundo, enorme esforco lhes aguarda. Epreciso que nao adulemos aos homens. Se agradamos aos

homens, nao agradaremos a Deus, de modo que 0 exito na

tarefa a que nos dedicamos seria fatal para os nossos inte-

resses eternos. Ao tentarmos satisfazer aos homens, nem

sequer conseguiremos agradar a nos mesmos. Ainda que nos

pareca muito dificil, e mais facil agradar ao Senhor do que

aos homens. Mordomo, mira somente ao seu Amo!

3. Nao seremos julgados mordomos fieis se somos oc io sos

edesperdicamos o t e r n _ P ' ? Voces conhecem ministros preguico-

sos? Tenho ouvido falar deles; contudo, quando os vejo, rneu

coracao os aborrece. Se intentam ser indolentes, ha muitos

setores profissionais que lhes reieitarao; mas acima de tudo

nao ha lugar para voces no ministerio cristae. 0 hornem

que considera 0 ministerio uma vida facil, ha de deparar-se

forca da oracao". J amais cumpriremos nossos deveres para

com Deus e para com os homens se somos folgazoes.

No entanto, alguns que sempre estao atarefados podem,

apesar dis so, ser infieis, se tudo que fazem e feito de mododesleixado e leviano. Temos de ser serios como a morte em

trabalho tao solene. Ha certos pregadores que sempre estao

gracejando. Eu gosto muito de rir; 0 verdadeiro humor

pode ser santificado, e os que conseguirem levar outros a

sorrir sao capazes de move-los a chorar. Mas este poder tern

limites que 0 nescio pode ultrapassar. Por certo nao falo

agora do excentrico convencido. Os homens aos quais me

refiro sao os sarcasticos e criticos, Urn irrnao fervoroso comete

urn lapso de gramatica, e observam com desprezo; outro

colega devoto se engana em uma citacao, e isso lhes propor-

ciona enorme prazer. Para eles, 0 evangelho nada e; seu Idolo

e a inteligencia. Quanto a si mesmos, sua preocupacao

principal e descobrir como podem ser mais honrados. Nao

tern conviccoes nem crencas, mas apenas gostos e opinioes, e

tudo isso e urn jogo do principio ao fim. Rogo-Ihes que nao

se acheguem a esse tipo de escarnecedores nem do assento

dos que dissipam 0tempo. Sejam seriarnente fervorosos. Vivam

como homens que possuem algo pelo qual viver; e preguem

como os que julgam a pregacao a mais sublime atividade

do seu ser. Nosso trabalho e 0 mais importante que existe

debaixo do ceu, ou do contrario, e pura falsi dade. Se voces

nao sao fervorosos em obedecer as instrucoes do seu Senhor,

Ele transferira Sua vinha para outro; nao tolera aos que

transformam Seu service em algo sem importancia.

4. Quando [azem os m au uso d o q ue p ertenc e ao n osso A mo,

somos desleais ao que nos foi confiado. Foi-nos entregue

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UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 Mordomos

certo grau de talento, forca e influencia; temos de usar este

deposito corn uma unica finalidade. Nosso objetivo e fomen-

tar a honra e a gloria do Mestre e Senhor. Temos de bus car a

gloria de Deus, e nada mais. Nenhum ministro tern direito

vinha. Interrogo-me se observamos pessoalmente os nossos

ouvintes. Temos de fazer visitas pessoa por pessoa. Certos

individuos so podem ser alcancados atraves de contato

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de usar sua influencia para fins politicos; a ternperanca

e algo meritorio, mas qualquer movimento jamais deve

ocupar 0 lugar do evangelho. Ern hipotese alguma pode 0

obreiro empregar sua capacidade para divertir ao povo.

Fomos enviados para ganhar almas. Tudo que nos ajuda

a alcancar esse alvo deve ocupar nossa atencao e despertar

nos so interesse.

Nao usem os bens do seu Amo indevidamente, a fim de

que nao sejam culpados de abuso de confianca, Se sua

consagracao e verdadeira, todos os seus dons pertencem ao

Senhor, e seria uma especie de desfalque emprega-Ios para

outro fim, ern vez de usa-los para Ele. Nao tern de fazer

fortuna para voces mesmos; nao creio provavel que 0 facam

no ministerio, Nao podem ter uma segunda intencao, nem

qualquer outro objetivo. "So Jesus" ha de ser 0 motivo e 0

lerna da sua carreira vitalicia. 0 dever do mordomo e consa-

grar-se totalmente aos interesses do patrao; e se esquece isso

por causa de outro objetivo, por mais louvavel que possa

ser, nao e fiel. Nao podemos permitir que nossas vidas

corram por dois canais; nao temos forcas vitais suficientes

para urn duplo objetivo. E preciso que sejamos de coracaosimples. Temos de por ern pratica 0 lerna: "Urn a coisa faco."

Ern todas as areas e detalhes da vida, ha de notar-se 0 sinal

da consagracao, e nao devemos permitir que seja ilegtvel.

Vira 0 dia ern que todos os detalhes serao examinados na

audiencia final; compete-nos como mordomos ter ern conta

o julgamento do Senhor ern todos os aspectos da nossa

atividade.

5. Se desejamos ser fieis como mordomos, e p re ci so que

ndo d escuid em os a nen hu m d a familia, nem qualquer parte da

pessoal. Se tivesse diante de mim certa quanti dade de garrafas

e tivesse de enche-las corn uma mangueira, muita agua se

perderia; se de fato quero enche-las, preciso toma-las uma a

uma e derramar 0 liquido cuidadosamente. Temos de velar

pelas nossas ovelhas uma por uma. Isso deve ser feito nao s6

mediante a conversa pes soal, mas atraves da oracao pessoal.

Certo crente piedoso, enfermo, dedicou-se a fervorosa

intercessao, e mesmo sem poder dar urn passo, visitava as

familias, orando constantemente por todos os lares. Assim

devemos percorrer 0 campo e visitar as congregacoes, sem

esquecer a ninguem, sem desanimar-se de nenhum, levando-

-os todos no coracao perante 0 Senhor. Lembremo-nos

especialmente dos fracos, desalentados, os que cafram ou vivem

mais distantes. Que nossos cuidados cerquem todo 0 rebanho.

Vamos aos pontos mais afastados, lutando para que nenhuma

localidade permaneca sem os meios da graca, e sim que todos

os terrenos recebam a chuva da influencia do evangelho.

6. Existe algo que nao deve ser esquecido: e p re cis o q ue

j ama is te nh amo s c on io en cia c om 0 mal . Muitos tern a impressao

de que podar a arvore significa corta-la, Outros custam a

aprender 0 que seja 0 equilibrio das virtudes; nao sabem

matar urn rata sem incendiar0

celeiro. Sera que ouvi alguemdizer: "Fui fiel; nao posso compactuar corn 0 mal"? Esta

bern; mas nao ocorrera que pelo seu mau genio voce chegue

a causar urn mal maior do que aquele que destruiu? Imagi-

nemos que a mae recomende a enfermeira que faca calar a

crianca, e a seguir ela jogue 0menino pela janela. Obedeceu a

senhora, silenciando eficazmente 0garoto, mas por certo nao

sera elogiada. Se num impulso imprudente voces dao "0

merecido" a congregacao por nao ser 0que desejam que fosse,

entao considerem 0seguinte: "Somos 0que deveriamos ser?"

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UM MINISTERIO IDEAL, Vol. 1 Mordomos

Se pela graca de Deus tenho ocupado posicao elevada na

Sua Igreja, a alcancei pelo poder da afabilidade e do amor, e

procuro usar minha influencia para 0 bern e 0 progresso da

trabalhemos com todas as nossas forcas, Fico impressionado

pela rapidez como corre 0 tempo, a veloz aproximacao da

audiencia final. Breve estaremos dando contas da nossa

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comunidade. Mas torno a dizer: nao devemos permitir que 0

pecado persista sem correcao. Cedam, irmaos, em todos os

assuntos pessoais, mas mostrem firmeza no que toea a verda de

e a santidade. Precisamos ser fieis, para nao incorrer na

transgressao e no castigo de Eli. Sejam honestos para com os

ricos e influentes, firmes para com os vacilantes; pois seu

sangue lhes sera requerido. Necessitarao de toda a sabedoria e

graca que possam alcancar para cumprir suas responsabili-

dades pastorais. Parece que certos pregadores carecem de

habilidade para governar aos homens, habilidade substituida

pel a capacidade de tocar fogo numa casa, po i s espalham

brasas e carv6es acesos por onde vao. Nao sejam como eles.

Nao combatam contra a carne e 0 sangue; todavia nao facam

acordos amistosos com 0pecado.

7. Alguns descuram das suas obrigacoes como mordomos

de Cristo, esquecendo que 0 S en ho r v em . ''Ainda nao", sus sur-

ram alguns; "ha muitas profecias a serem cumpridas",

raciocinam outros. E dizem: "inclusive, e possivel que nem

sequer venha; no senti do corrente do termo, nao ha pressa

especial." Irmaos, e 0 servo infiel quem diz: "0 Senhor tarda

em vir." Esta crenca 0 fara retardar a execucao dos trabalhos.

o escravo nao limpara a casa como obrigacao diaria, porqueo senhor esta distante; e 0 servo de Cristo pensa que podera

buscar uma boa limpeza, em forma de avivamento, antes que

o Senhor chegue. Se cada urn de nos lembrasse que qualquer

dia pode ser seu ultimo dia, todos nos seriamos mais intensos

em nossos labor. Enquanto pregamos 0 evangelho, qualquer

atividade pode ser interrompida pelo som da trombeta e 0

clamor: "Eis 0noivo; sai a seu encontro!" (Mat. 25:6).

Tal esperanca concorrera para acelerar nossos passos.

Os dias sao curtos; Cristo esta as portas; e preciso que

mordomia; uns sobrevivem ainda algum tempo, enquanto

outros van sen do chamados a reunir-se ao Senhor. Convern

que prossigamos trabalhando cada hora com a atencao

voltada para a audiencia a que nos dirigimos, a fim de nao

sermos envergonhados quanta ao registro dos nossos feitos

no volume do livro.

Devemos orar muito acerca desta fidelidade no service,

pois ()cast igo da in fi del idade sera t err ive l. Triste sera a condicao

do mordomo reprovado. Sera infin davel sua desgraca;

sofrera vergonha eterna e desprezo por trair ao Redentor.

Nao podemos sondar 0 abismo de terror das palavras de

Cristo, referindo-Se ao servo infiel: "cortado ao meio, sua

parte sera com os hipocritas",

A, !H 2m pensa de todos os m ordom os fibs e sobremaneira

grande; Aspiremos a ela. 0 Senhor fara com que aquele que

foi fiel em poucas coisas seja posto sobre muitas coisas. Eextraordinaria a passagem na qual 0 Senhor afirma: "Bem-

-aventurados os servos, os quais quando ele vier, achar

velando: de certo vos digo, que se cingira, e fara que se

sentem a mesa, e passando os servira". E maravilhoso que

Ele nos tenha servido; mas, como podemos entender que va

servir-nos novamente? Pensem no Senhor Jesus levantando--Se do Seu trono para servir-nos! "Olhem!", exclama Ele,

"aqui esta urn servo que Me serviu fielmente na terra; abri-lhe

caminho, voces anjos, dominios e potestades. Este e 0homem

a quem 0Rei se deleita em honrar!" E, com surpresa de nossa

parte, 0 Rei Se cinge e nos serve. Entao nos disporemos a

clamar: "Nao seja assim, Senhor". Mas Ele deve e quer

cumprir. Sua palavra. Esta honra inefavel sera concedida a

Seus verdadeiros servos. Feliz 0 homem que, depois de ter

sido 0mais pobre e depreciado dos ministros, e agora servido

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UMMINISTERIO IDEAL, Vol. 1 Mordomos

pelo Rei dos reis! Oxala sejamos do numero "dos que

seguem ao Cordeiro onde quer que va"! Irmaos, podem

perseverar em sua firmeza? Beberao do Seu calice e serao

batizados com 0 Seu batismo? Recordem que a carne e fraca.

subir a essa rocha sagrada com 0 objetivo de multiplicar os

horrores de uma queda final. Poderiamos perecer

suficientemente nos caminhos ordinaries do pecado. Que

necessidade haveria de obter maior condenacao? Terrivel

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As provas da epoca atual sao especialmente sutis e graves.

Clam em ao Forte pedindo fortaleza e ponham-se nas rnaos

do Seu amor onipotente.

Amados irmaos, e preciso que avancemos, custe 0 quecustar, pois nao podemos retroceder; nao temos armaduras que

cub ram nossas costas. Cremos ter sido convocados para este

ministerio, e nao podemos ser desleais ao chamado. As vezes

somos acusados de proferir coisas terriveis a respeito do

inferno. Nao vamos justificar todas as expressoes usadas,

todavia nao temos ainda descrito uma desdita tao profunda

como a que espera ao ministro infiel. 0 futuro dos perdidos

ultrapassa qualquer conceito humano, quando considerado

a luz das express6es usadas pelo proprio Senhor Jesus

Cristo. As figuras quase grotescas utilizadas por Dante e os

horrores descritos pelos pregadores medievais, nao excedem

a realidade ensinada pelo Senhor ao referir-Se ao verme

que nunca morre e ao fogo que jamais se apaga. Ser lancado

nas trevas exteriores, suspirar em van por uma gota d'agua

fria ou ser cortado pelo meio, sao horrores sem igual. E os

homens correm esse risco! Sim, emil vezes lastimavel que

qualquer ministro se arrisque desse modo; que qualquer

ser mortal suba ao pinaculo do templo e dali se arroje no

inferno! Se hei de ser uma alma perdida, que 0 seia como

ladrao, blasfemo e assassino, e nao como urn mordomo

infiel ao Senhor Jesus Cristo. Isso e ser urn Judas, urn

filho da perdicao,

Ninguem e forcado a ser ministro, nem obrigado a escolher

tao sagrado oficio. Na juventude aspiramos ao santo minis-

terio e nos sentimos felizes por alcancar 0 desejo. Se nos

proponhamos ser infieis a Cristo, nao havia necessidade de

seria 0 resultado se isso e tudo que ganhamos de nossos

preparativos e gran des esforcos para adquirir conhecimen-

tos. Meu coracao e minha carne tremem enquanto considero

a possibilidade de algum ministro entre nos ser culpavelde traicao ao que nos foi confiado e de deslealdade a seu

Rei. Que nosso bondoso Senhor esteja de tal maneira conosco

que, finalmente, sejamos limpos do sangue de todos. Sera

glorioso ouvir ao Mestre exclamar: "Bern esta, servo born e

fie}". Amem,

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