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Artigo Original/Original Article
http://dx.doi.org/10.4322/nutrire.2012.010
Uma abordagem psicossocial do estado nutricional e do comportamento alimentar de
estudantes de nutrio*
A psychosocial approach on the nutritional status and dietary behavior among students of
Nutrition Sciences
ABSTRACT
MAGALHES, P.; MOTTA, D. G. A. psychosocial approach on the
nutritional status and dietary behavior among students of Nutrition
Sciences. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr. = J. Brazilian Soc. Food Nutr., So Paulo, SP, v. 37, n. 2, p. 118-132, ago. 2012.
Future dietitians, as any other individuals, are subject to psychosocial
factors that influence their eating habits, regardless of their level of ex-
pertise. The purpose of this research was to characterize the dietary be-
havior and nutritional status of students of Nutrition Science, discuss-
ing them in light of the psychosocial approach. The population studied
comprised 167 students (64 freshmen and 103 undergraduate) from
three institutions in the State of Sao Paulo average aged 21.6 years old
(freshmen) and 24.5 years old (undergraduate). The study methodology
was as follows: quantitative and qualitative; anthropometric data collec-
tion; 24-hour food recall; identification of eating behavior (through the
Dutch Eating Behavior Questionnaire); and conducting focus groups
to investigate attitudes, perceptions and feelings regarding food. Results
showed 10.9% of overweight among freshmen and 26.1% among under-
graduates, and 10.9% underweight among freshmen. The average en-
ergy intake (2,155kcal among freshmen and 1,800kcal among under-
graduates) can be considered sufficient and the percentage distribution
of macronutrients, within the normal range. In both groups, there was
a prevalence of external factors influence on dietary behavior, which is
correlated with the total energy of the diet. Among undergraduates, there
was a tendency to food restriction and influence of the emotional com-
ponent, both associated to weight gain. It was possible to conclude that
the knowledge acquired along the educational process was not enough
to achieve the desired control, since emotional and socio-cultural factors
have hindered its incorporation to the usual eating habits of students.
Keywords: Dietary behavior/psychosocial aspects. Nutrition Sciences/education. Higher education. Focus groups.
PAULA MAGALHES1; DENISE GIACOMO DA MOTTA2
1Doutora em Alimentos e Nutrio, Universidade Estadual
Paulista UNESP, Professora do Centro Universitrio Central
PaulistaUNICEP. So Carlos,SP
2Doutora em Sade Pblica, Universidade de So Paulo
USP, Co-orientadora no Programa de Ps-graduao em Alimentos e Nutrio, Universidade Estadual Paulista UNESP, Faculdade de
Cincias Farmacuticas.Endereo para correspondncia:
Paula Magalhes. Universidade Estadual
Paulista UNESP. Faculdade de Cincias
Farmacuticas. Rodovia Araraquara-Ja, Km 1.
CEP 14801902. Araraquara - SP Brasil.
E-mail: [email protected].
*Artigo baseado em tese de doutorado: Comportamento
Alimentar, Estado Nutricional e Imagem Corporal de Estudantes
de Nutrio: Aspectos Psicossociais e Percurso
Pedaggico. UNESP, Araraquara, 2011.
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MAGALHES, P.; MOTTA, D. G. Uma abordagem psicossocial do estado nutricional e do comportamento alimentar de estudantes de nutrio. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr. = J. Brazilian Soc. Food Nutr., So Paulo, SP, v. 37, n. 2, p. 118-132, ago. 2012.
RESUMEN
Los futuros nutricionistas, como cualquier individuo,
son influenciados por factores psicosociales que
condicionan su comportamiento alimentario,
independientemente de su grado de conocimientos
especficos. Este estudio se propuso caracterizar el
comportamiento alimentario y el estado nutricional
de estudiantes de Nutricin, discutindolos a
la luz de un abordaje psicosocial. La muestra
analizada estaba compuesta por 167 alumnas (64
ingresantes y 103 avanzadas) de tres instituciones
pertenecientes al Estado de San Pablo, con edades
promedio de 21,6 aos (ingresantes) y 24,5 aos
(avanzadas). La metodologa aplicada fue cuanti-
cualitativa, mediante levantamiento de datos
antropomtricos, recordatorio alimentario de 24
horas, identificacin del estilo alimentario (por
el Cuestionario Holands do Comportamiento
Alimentario) y realizacin de grupos focales para
evaluacin de actitudes, percepciones y sentimientos
relacionados con la alimentacin. Los resultados
obtenidos mostraron 10,9% de alumnas ingresantes
y 26,1% de avanzadas con exceso de peso y 10,9%
de ingresantes con peso por debajo del normal. La
ingestin energtica promedio (2.155Kcal. en las
ingresantes; 1.800Kcal. en las avanzadas) puede
considerarse suficiente y la distribucin porcentual
de macro-nutrientes puede considerarse normal.
En ambos grupos predominaron los indicios de
que la alimentacin estaba determinada por
factores externos y eso mostr correlacin con el
total energtico de la dieta. Entre las estudiantes
avanzadas se observ una tendencia a la restriccin
alimentaria e influencia del componente emocional,
ambas asociadas al aumento de peso. Se concluye
que los conocimientos adquiridos a lo largo de
la Carrera no fueron suficientes para adquirir el
control deseado, ya que factores emocionales y
socioculturales dificultaron su incorporacin a
la prctica alimentaria habitual de las alumnas.
Palabras clave: Conducta alimentaria/aspectos psicosociales. Ciencias Nutricionales/enseanza. Educacin superior. Grupos focales.
RESUMO
Futuros nutricionistas, como quaisquer outros
indivduos, esto sujeitos a fatores psicossociais
que condicionam o comportamento alimentar,
independentemente de seu grau de conhecimentos
especficos. Este estudo props-se a caracterizar o
comportamento alimentar e o estado nutricional
de estudantes de nutrio, discutindo-os luz da
abordagem psicossocial. A populao foi formada
por 167 alunas (64 ingressantes e 103 concluintes)
de trs instituies do interior do Estado de So
Paulo, com mdia de idade de 21,6 anos (ingres-
santes) e 24,5 anos (concluintes). A metodologia
foi a quantiqualitativa, mediante levantamento
de dados antropomtricos, recordatrio alimentar
de 24 horas, identificao do estilo alimentar (pelo
Questionrio Holands do Comportamento Ali-
mentar) e realizao de grupos focais, para ques-
tionamento das atitudes, percepes e sentimentos
relativos alimentao. Os resultados mostraram
10,9% de excesso de peso entre as ingressantes e
26,1% entre as concluintes; e dficit de peso de
10,9%, entre as ingressantes. A ingesto energ-
tica mdia (2155kcal, ingressantes; 1800kcal,
concluintes) pode ser considerada suficiente e a
distribuio percentual de macronutrientes, den-
tro da faixa de normalidade. Nos dois grupos, pre-
dominaram os indicativos de alimentao deter-
minada por fatores externos e esse estilo mostrou
correlao com o total energtico da dieta. Entre
as concluintes, observou-se tendncia restrio
alimentar e influncia do componente emocional,
associadas ao aumento de peso. Conclui-se que os
conhecimentos adquiridos ao longo do percurso
pedaggico no foram suficientes para a aquisio
do controle desejado, uma vez que fatores emocio-
nais e socioculturais dificultaram sua incorpora-
o prtica alimentar habitual das alunas.
Palavras-chave: Comportamento alimentar/aspec-tos psicossociais. Cincias da Nutrio/ensino. Educao superior. Grupos focais.
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MAGALHES, P.; MOTTA, D. G. Uma abordagem psicossocial do estado nutricional e do comportamento alimentar de estudantes de nutrio. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr. = J. Brazilian Soc. Food Nutr., So Paulo, SP, v. 37, n. 2, p. 118-132, ago. 2012.
INTRODUO
Para que o nutricionista possa contribuir no processo de mudana do comportamento alimentar, no exerccio da ateno diettica, suas competncias profissionais devem incluir conhecimentos, atitudes e habilidades interdisciplinares e multissetoriais, dada a complexidade do processo. Diferentemente de outros conhecimentos e habilidades tcnicas, os relativos alimentao o estudante de nutrio j traz em sua bagagem cultural e pessoal, mas ao longo do curso de graduao esses devero ser aprofundados e ampliados.
Para especialistas da rea,
[...] no processo educativo, o grande desafio fazer com que as pessoas que aprenderam os diferentes
aspectos da alimentao e nutrio os traduzam em ao, em seu prprio comportamento habitual.
preciso traduzir conhecimentos em ao, em uma boa alimentao diria. (GABRIEL et al.,
2008, p. 566).
Como o estudante de nutrio adquire conhecimentos amplos sobre o tema, natural supor que os incorpore em seu comportamento alimentar, o que deveria resultar em uma alimentao saudvel e nutricionalmente adequada. Todavia, alguns estudos negam essa suposio (ALVES; BOOG, 2007; CRITES JUNIOR; AIKMAN, 2005; FIATES; SALLES, 2001; MOREIRA; SAMPAIO; ALMEIDA, 2003; STIPP; OLIVEIRA, 2003; TOLEDO; DALLEPIANE; BUSNELLO, 2009; VIEIRA; SABADIN; OLIVEIRA, 2008).
Como explicar o aparente paradoxo?
As explicaes para a ingesto em desacordo com as necessidades, do ponto de vista psicossocial podem ser encontradas em teorias como a da externalidade, a psicossomtica e a teoria da restrio. A teoria da externalidade considera que o processo de ingesto determinado por fatores extrnsecos aos alimentos como o aroma, o gosto e o estmulo visual, aos quais a pessoa condicionada na infncia, influenciada pelos pais, dentro de seu universo sociocultural. A teoria psicossomtica valoriza a contribuio dos fatores emocionais e a confuso que pode existir entre estados como fome e ansiedade. A teoria da restrio defende que os indivduos restritivos, pressionados por fatores sociais, tendem a se perceber como tendo peso excessivo, mesmo estando dentro da faixa de normalidade, o que os leva a buscar os conhecimentos sobre nutrio e as dietas de emagrecimento. Mas, por fatores fisiolgicos e psicossomticos, a tendncia aps um perodo de restrio o descontrole, a desinibio alimentar. Nesse caso, a dieta restrita pode ser considerada a causa da ingesto excessiva subsequente, por vezes compulsiva (VIANA; SANTOS; GUIMARES, 2008; VIANA et al., 2009).
A partir dessas teorias, definiram-se os estilos alimentares. Uma das abordagens, aplicada ao comer excessivo, prope a diferenciao entre a ingesto emocional - aquela em que as emoes so o principal determinante do excesso alimentar -, a ingesto por estmulo externo - aquela em que as caractersticas do alimento ou do ambiente se sobrepem percepo da fome/saciedade - e a ingesto restritiva - aquela em que o controle alimentar restrito desinibe o comportamento alimentar, predispe ao descontrole e compulso (VIANA; SINDE, 2003).
Ingesto emocional: As emoes podem determinar as escolhas e preferncias alimentares e os alimentos associam-se ao contexto emocional em que habitualmente so consumidos. As emoes tambm podem perturbar os contro les cognitivos. A adeso a um controle alimentar pode ser por elas dificultada, uma vez que a funo racional pode ser inibida, quando a emocional predomina e desinibe o comportamento alimentar. A psicologia comportamental observa e procura modificar
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essas relaes; a psicanlise busca interpretar as associaes, a partir da histria da pessoa, para que o emocional possa ser elaborado e ressignificado (VIANA; SANTOS; GUIMARES, 2008; MOTTA; MOTTA; CAMPOS, 2011).
Ingesto externa: estmulos ambientais associados aos alimentos, como o aroma, a aparncia e o sabor tambm influenciam as escolhas alimentares. Se a pessoa no capaz de identificar de modo adequado as suas necessidades, mais facilmente afetada pelos estmulos externos do que pelos sinais de fome ou saciedade. Frente a um alimento de grande pa latabilidade, a aparncia ou aroma deste pode estimular o apetite e a pessoa desinibe-se, liberta-se do controle e come mesmo sem ter fome (VIANA et al., 2009).
Ingesto restritiva: a restrio alimentar im plica um controle cognitivo, consciente, do apetite, em desacordo com as necessidades da pessoa, para levar, geralmente, diminuio do peso corporal, pelo balano energtico negativo. Mas, por fatores fisiolgicos e psicossomticos, a tendncia aps um perodo de restrio o descontrole, a desinibio alimentar. Nesse caso, a dieta restrita pode ser considerada a causa da ingesto excessiva subsequente (VIANA et al., 2009).
As pessoas restritivas comem, geralmente, mais quando sob o efeito de fatores desinibidores (por exemplo, em situaes de stress, ansiedade ou depresso), enquanto as no restritivas tendem a comer menos quando estressadas, deprimidas ou ansiosas (VIANA et al., 2009).
Contrariamente ao que poderia ser esperado, os estudos demonstram que a restrio mais frequente em obesos do que em pessoas de peso normal. A maior sensibilidade do obeso aos estmulos do ambiente (comer por estmulo externo), assim como a maior frequncia de episdios de ingesto emocional, pode ser explicada por um desejo potencializado por carncias afetivas no identificadas e, portanto, no satisfeitas (ALMEIDA; LOUREIRO; SANTOS, 2001; BERNARDI; CICHELERO; VITOLO, 2005).
Tem sido mostrado que o comportamento alimentar inadequado e irregular atinge principalmente indivduos do sexo feminino e que a prevalncia de transtornos alimentares maior em grupos especficos, como estudantes universitrios, atletas e profissionais que lidam com a corporeidade, dentre eles nutricionistas e estudantes de nutrio. Pesquisas sugerem ainda que, algumas vezes, a opo profissional motivada pelos desvios do comportamento alimentar (ANTONACCIO, 2001).
Na perspectiva de ampliar essa discusso, o presente estudo teve por objetivo estudar o estado nutricional e o comportamento alimentar de estudantes de nutrio, luz da abordagem psicossocial, quando de seu ingresso e ao final do ltimo ano da graduao.
MATERIAL E MTODOS
O estudo, do tipo transversal, teve por populao 167 estudantes do sexo feminino, ingressantes (n=64) e concluintes (n=103), de trs instituies de ensino de municpios distintos do Estado de So Paulo. As instituies, do setor particular, foram selecionadas pela sua proximidade geogrfica (regies nordeste e central do Estado) e similaridade quanto ao perfil da populao de abrangncia. Optou-se por incluir trs instituies para que o tamanho da amostra permitisse a realizao de testes estatsticos dos dados quantitativos. Para o estudo, foram convidadas todas as estudantes presentes nos horrios da pesquisa que atendessem aos critrios previstos. Consideraram-se ingressantes alunas que estivessem iniciando o curso no ano em que o estudo foi realizado e, concluintes, as que estivessem terminando os estgios curriculares. Foram excludas aquelas que, embora ingressantes no curso no
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ano em que o estudo foi realizado (por transferncia ou rematrcula) tivessem cursado, anteriormente, disciplinas especficas de perodos posteriores ao primeiro ano.
A avaliao do estado nutricional realizou-se mediante levantamento de dados antropomtricos (peso e altura) e ndice de massa corporal (IMC=peso/altura2). O IMC foi classificado de acordo com o proposto pela Organizao Mundial de Sade (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1997), em baixo peso (IMC
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RESULTADOS
As 64 estudantes ingressantes tinham, em mdia, a idade de 21,6 anos e as 103 concluintes, 24,5 anos. Essas estudantes eram, na maioria, eutrficas (78,12% das ingressantes e 68,93% das concluintes), mas 7 (10,94%) das ingressantes e 27 (26,1%) das concluintes apresentavam peso excessivo; 7 (10,94%) das ingressantes e 5 (4,85%) das concluintes, baixo peso. Sua estatura mdia foi 1,63m (nos dois grupos). O peso mdio das ingressantes foi de 57,5kg, correspondendo ao ndice de massa corporal (IMC) de 21,6kg/m2 e o das concluintes, 60,9kg, correspondendo ao IMC de 23,1kg/m2. O peso desejado, ou seja, aquele em que as alunas relataram se sentir melhor foi, em mdia, de 54,4kg (IMC de 20,5kg/m2) entre as ingressantes e de 57,1kg (IMC de 21,6kg/m2) entre as concluintes. Os valores de IMC, reais e desejados, apresentaram-se dentro da faixa de normalidade, mas pode-se observar, na Tabela 1, peso mdio maior no grupo das concluintes, bem como diferena significativa entre os valores reais e os desejados nos dois grupos (95% de confiana).
A partir da anlise do consumo alimentar de 24 horas, pode-se observar, na Tabela 2, que o valor energtico total (VET) mdio das dietas das ingressantes foi de 2155kcal, e o das concluintes, 1800kcal.
Tabela1Idadeedadosantropomtricos(mdias,desviospadroeintervalosdeconfiana)dasestudantesde nutrio, ingressantes e concluintes. Piracicaba, So Carlos e Taquaritinga, SP, 2009
Ingressantes Concluintes
MdiaDesviopadro
Intervalo de confianaMdia
Desviopadro
Intervalo de confiana
(-) (+) (-) (+)
Idade (anos) 21,6 6,1 20,1 23,1 24,5 5,1 23,5 25,5
Estatura (m) 1,63 0,06 1,64 1,62 1,63 0,06 1,61 1,63
Peso real (kg) 57,5 10,3 54,9 60,1 60,9 11,2 58,7 63,1
Peso desejado (kg) 54,4 6,59 52,8 56,1 57,1 7,21 55,7 58,5
IMC real (kg/m2) 21,6 3,35 20,8 22,5 23,1 3,73 22,3 23,8
IMC desejado (kg/m2) 20,5 1,82 20,0 20,9 21,6 2,17 21,2 22,1
Tabela2Valorcalricototal(VET)mdiodasdietasreferidas,distribuiopercentualdemacronutrientese nmero de refeies realizadas pelas estudantes de nutrio, ingressantes e concluintes. Piracicaba, So Carlos e Taquaritinga, SP, 2009
Padro alimentarIngressantes (n=64) Concluintes (n=103) Significncia
Mdia DP Mdia DP p*
VET (kcal) 2155 1138 1800 564 0,008*
Carboidratos (%) 55,2 8,3 55,9 7,5 0,624
Lipdios (%) 28,1 7,7 25,1 6,9 0,013*
Protenas (%) 17,0 4,4 18,8 3,9 0,006*
Nmero de refeies 5,0 1,0 5,1 0,9 0,886* Valor de p
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A diferena entre os grupos foi estatisticamente significativa (p=0,008). Na Tabela 2, observa-se ainda que no h diferena significativa nos padres alimentares das ingressantes e concluintes quanto participao percentual dos carboidratos no total energtico da dieta e nmero de refeies realizadas. Os percentuais de protenas e de lipdios apresentam diferenas, entre os dois grupos, sendo o de protenas maior entre as concluintes e o de lipdios, maior entre as ingressantes. Vale ressaltar que 33% das ingressantes e 50,5% das concluintes referiram histrico de prtica alimentar restritiva (dieta para controle de peso).
Como parte da abordagem psicossocial do comportamento alimentar, os dados da Tabela 3 representam a mdia dos escores obtidos pelas estudantes nas trs categorias do estilo alimentar, a partir da aplicao do QHCA e segundo a classificao de seu IMC.
Observe-se que os mais altos escores obtidos, em ambos os grupos, foram os indicativos de ingesto determinada por fatores externos, principalmente entre as ingressantes, mas pode-se notar, tambm, tendncia crescente ingesto restritiva, bem como emocional, na medida em que aumenta o IMC, entre as concluintes.
Testes de correlao (Pearson) entre as variveis nutricionais e o estilo alimentar permitiu verificar relao levemente significativa entre o estilo restritivo e o VET da dieta (p
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Figura1Estadonutricional(IMCreal)eingestorestritiva(mdiadosescoresobtidos)entreestudantesde nutrio. Piracicaba, So Carlos e Taquaritinga, SP, 2009.
Figura2Estadonutricional(IMC)eingestoexterna(mdiadosescoresobtidos)entreestudantesdenutrio. Piracicaba, So Carlos e Taquaritinga, SP, 2009.
Figura3Estadonutricional(IMC)eingestoemocional(mdiadosescoresobtidos)entreestudantesdenutrio. Piracicaba, So Carlos e Taquaritinga, SP, 2009.
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alimentares. Pesquisa realizada com essa populao em uma universidade do Rio Grande do Sul constatou que 85,5% das alunas eram eutrficas, 8,5% apresentavam algum grau de desnutrio e 6,0%, sobrepeso e/ou obesidade (KIRSTEN; FRATTON; PORTA, 2009). Estudo realizado no municpio do Rio de Janeiro encontrou 90,1% de eutrofia, 6,3% de baixo peso e 3,7% de excesso de peso (BOSI et al., 2006).
Na populao do presente estudo, observou-se, em relao aos acima referidos, maior percentual de excesso de peso (10,9% das ingressantes e 26,1% das concluintes), como tambm de baixo peso, entre as ingressantes (10,9%). Pesquisa realizada com universitrias do primeiro ano de Nutrio de um municpio da mesma regio, no interior do Estado de So Paulo, encontrou 16% de estudantes com excesso de peso (VIEIRA; SABADIN; OLIVEIRA, 2008). Segundo dados da Pesquisa de Oramentos Familiares 2008/2009 (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA, 2010), o excesso de peso na populao feminina brasileira de 10 a 19 anos era de 19,4% e a obesidade, 4%. J entre as mulheres adultas, o excesso de peso atingia 48%, sendo de 16,9% os casos de obesidade. A frequncia do excesso de peso entre as estudantes concluintes por ns avaliadas, superior das ingressantes e observada nos outros estudos, merece destaque, segue a tendncia observada na populao brasileira.
Outro aspecto a ser destacado o da satisfao com o peso. Observou-se, nesta pesquisa, uma diferena significativa entre o peso real e o peso desejado, tanto no grupo das ingressantes quanto no das concluintes. Esse resultado est em consonncia com os de trabalhos que mostram que o peso desejado por estudantes universitrias costuma ser menor que o real (KAKESHITA; ALMEIDA, 2006; BOSI et al., 2006), mesmo quando se apresenta dentro da faixa de normalidade.
Quanto ao consumo alimentar, a ingesto mdia de 2155kcal entre as ingressantes e de 1800kcal entre as concluintes pode ser considerada suficiente e a distribuio percentual de macronutrientes, em ambos os grupos, dentro da faixa de normalidade. Ressalte-se, contudo, que a avaliao do
Quadro1AsexpectativasiniciaisdasestudantesdeNutrio.Piracicaba,SoCarloseTaquaritinga,SP,2009.
Depoimentos Ideias centrais
Acho que o meu objetivo era emagrecer, mesmo. E acho que a nutrio ia mostrar para outras pessoas ai, eu fao nutrio, porque quando a gente fala que faz nutrio, as pessoas associam a gente com menina magra, toda certinha, e tal, muitas pessoas veem a gente dessa maneira...Eu sempre tive muita dificuldade pra comer, ainda tenho, sou aquela pessoa que fala eu no gosto, sem experimentar. Ento, a minha expectativa ao entrar no curso era terminar comendo um pouquinho melhor.Eu entrei no curso mais voltada para a dietoterapia, porque eu queria saber o que cada alimento fazia de bem pra mim, por que tem que comer um pouquinho de cada coisa...... a nutrio chama a ateno das mulheres em geral, n? Mulher ama nutrio, tem tudo a ver com esttica, tem a ver com alimento, fazer dieta...Acho que tinha esse pensamento eu vou entrar e vou emagrecer, porque eu vou aprender e vou achar uma dieta que vai resolver meus problemas.A nossa turma teve algumas meninas que comearam a fazer o curso porque queriam emagrecer... mas no seguiam o que se dava na sala de aula, nunca.Acho que tem muita gente que procura a nutrio por isso (desejo de emagrecer), acha que nutrio faz milagre!
Na opo pelo curso, a expectativa de emagrecimento, esttica e sade, a partir da aquisio de conhecimentos.A busca da autoestima e da aprovao social.O pensamento mgico: aprender nutrio faz milagre.
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consumo alimentar das estudantes baseou-se em um nico inqurito recordatrio de 24 horas, o que pode ter gerado valores passveis de erro. Considerando-se vlidas as mdias obtidas, as redues no valor energtico da dieta e no percentual de lipdios das concluintes sugerem uma mudana no comportamento alimentar, ao longo do percurso acadmico.
Resultado semelhante foi encontrado por Matias e Fiore (2010), que avaliaram as mudanas no comportamento alimentar de estudantes do curso de nutrio de uma instituio de ensino superior da Grande So Paulo, observando evoluo positiva no consumo de alimentos mais saudveis, ainda que persistissem algumas inadequaes. Segundo Laus, Moreira e Costa (2009), de maneira geral, estudantes de Nutrio em semestres mais avanados apresentam melhores hbitos alimentares que estudantes do primeiro ano, o que pode ser atribudo ao aumento do conhecimento na rea. Folly et al. (2010), entretanto, no observaram diferenas significativas entre a ingesto alimentar de calouros e formandos de um curso de nutrio do Estado de Minas Gerais; Brown et al. (2011) sugerem o desenvolvimento de aes contnuas de educao alimentar e nutricional, para alunos ingressantes na universidade.
Quadro 2 O comportamento alimentar das estudantes de Nutrio e a aquisio de conhecimentos. Piracicaba, So Carlos e Taquaritinga, SP, 2009.
Depoimentos Ideias centrais
A gente acaba fazendo escolhas, porque a gente j conhece os alimentos, os nutrientes, ento, talvez a gente no consiga consumir no dia a dia, que nem tomar coca-cola todos os dias, comer lanche todos os dias, mas de vez em quando eu tenho uma vontade imensa de ir no Mc e comer um lanche.Eu tenho o hbito de me alimentar tomando suco, refrigerante junto com a comida. Sabemos que no faz bem pra digesto. E eu no consigo cortar isso ainda. Mas assim, diminui bastante. Mas, ..., no consigo!A introduo de verduras, de frutas... eu normalmente no tenho o hbito de comer fruta todos os dias, mas eu agora tenho o costume de comprar, de colocar na cestinha de casa em cima da mesa, porque eu acho bonito.A gente brincava, quando a gente vinha pra faculdade, uma olhava pra outra e comia uma torta, um salgado. Da tinha uma, uma rarssima exceo que comia uma salada de fruta s nove e meia, e a gente falava olha que bonito!. Minha me brinca que eu sou uma nutricionista paraguaia, porque eu falo pros outros, mas no fao pra mim. Refrigerante uma paixo na minha vida, pode tirar tudo de mim, doce, salgado, tira o que voc quiser, eu no consigo ficar sem refrigerante. Aprendi a comer muita coisa, eu tenho essa conscincia, eu mudei muito do comeo pra agora, eu no gostava de verdura, legumes, eu no comia. Aprendi a comer e hoje adoro muita coisa (...) ... Eu no deixo de tomar coca-cola, de comer chocolate, mas eu como fruta, verdura, legumes, de tudo um pouco. S que eu no me preocupo com qualidade porque eu no engordo, ento, pra mim tanto faz se eu vou tomar uma coca-cola, que eu sei que faz mal, ou um suco sem acar. Eu nunca tive um problema de sade relacionado alimentao. Eu como mesmo, no engordo, sou magrinha..
O comportamento alimentar parcialmente influenciado pelo conhecimento. O hbito e a vontade podem ser mais fortes do que o conhecimento. Sentimento de baixa autoeficcia em relao ao comportamento alimentar.A mudana de comportamento a partir da aquisio de conhecimentos gradativa. A atitude muda antes que a prtica.A inconsistncia entre o saber e o fazer percebida.A preocupao com a promoo da sade motiva escolhas saudveis e o conhecimento que o curso oferece contribui para mudanas na alimentao.A preocupao com a alimentao se associa a necessidades pessoais, principalmente relacionadas ao controle do peso.
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MAGALHES, P.; MOTTA, D. G. Uma abordagem psicossocial do estado nutricional e do comportamento alimentar de estudantes de nutrio. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr. = J. Brazilian Soc. Food Nutr., So Paulo, SP, v. 37, n. 2, p. 118-132, ago. 2012.
O conhecimento em nutrio, como parte da formao profissional, est diretamente associado
ateno diettica, que a ao especfica que individualiza e caracteriza a prtica profissional do
nutricionista (YPIRANGA, 1990). A diettica, em seu sentido amplo, corresponde ao exerccio da razo
como faculdade crtica que fornece a cada um os meios para tornar-se mestre de seu corpo e aderir s
regras que permitem conserv-lo em bom estado (OLIVEIRA, 2006). No sentido restrito, esses meios
so os relativos alimentao. Assim, na formao do nutricionista, espera-se que a razo seja exercitada
para fornecer os meios com os quais as pessoas possam controlar o comportamento alimentar.
Entretanto, melhores conhecimentos sobre nutrio no implicam, necessariamente, em uma
ingesto mais saudvel. Estudos mostram que a tentativa de controlar o apetite, restringindo-o pela
racionalidade tcnica, tem como resultado menor capacidade de autorregulao, menor sensi bilidade
Quadro 3 O estilo alimentar das estudantes de nutrio: a interao entre a tendncia restritiva e os fatores emocionais. Piracicaba, So Carlos e Taquaritinga, SP, 2009.
Depoimentos Ideias centrais
Eu acho uma tortura ser estudante de nutrio, porque voc sabe o que faz bem, o que no faz bem, e come sofrendo, come pensando (...). Eu como bolacha recheada e penso ela tem gordura trans, vai entupir as minhas veias; vou no McDonalds, mas sei que tem gordura. Eu acho que isso tortura (...), acho que essa a diferena das outras pessoas, porque a gente sabe, se estiver comendo porque quer, a gente sabe que no pode comer todo dia, a gente sabe que tem que se controlar.No fim de semana tento relaxar um pouquinho, eu como, sempre como o que eu quero, com culpa depois... S que eu sei que durante a semana a minha alimentao foi boa, ento eu como batata frita junto com a minha turma, mas eu sei que o controle durante a semana est me permitindo comer aquilo l no fim de semana. Vocs comem e no engordam (...) eu engordo, e eu como, adoro pastel! E me perguntam voc faz nutrio?, fao!, e eu sinto culpa, mesmo, quando eu como muito, eu sinto culpa.Refrigerante pra mim uma coisa assim, difcil (...) quando est terminando uma coca-cola eu j abro a geladeira e falo pai, compra coca, por favor, no precisa ter arroz, mas precisa ter coca. assim, estranho, feio, eu sei que no faz bem, mas um hbito.O meu problema que a minha me tem uma doceria! Chega o final de semana, eu fico l em casa e quero comer. Ento, eu como um monte e depois nossa, porque eu comi tudo isso que eu comi?. Eu sei que faz mal e tento parar de comer, mas s vezes difcil. Quando eu estou ansiosa, no posso ver doce na frente...O meu mal doce. Eu gosto muito. Eu no como todo dia, mas eu sinto a necessidade de comer. Eu acho que , no sei se , a ansiedade que eu escondo, mas eu gosto muito de doce. Ento, eu sei que no pode comer, mas eu como (...). s vezes eu compro bala e chupo tudo no mesmo instante. Depois eu fico uns dias sem comprar.
A conscincia dos riscos da alimentao no saudvel gera culpa, conflito e sofrimento, mas no impede o comportamento.O autocontrole necessrio e desejvel, mas s vezes difcil de atingir.A perda do controle se manifesta no consumo de alimentos considerados inadequados, como doces, frituras e refrigerantes ou na quantidade excessiva ingerida. E gera culpa.A influncia dos fatores emocionais associada aos estmulos externos contribui para a perda do controle e para o comportamento compulsivo.A palatabilidade e o hbito so estmulos mais fortes para o consumo que os conhecimentos adquiridos.O comportamento alimentar restritivo, associado ao conhecimento, desinibido por fatores emocionais.
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MAGALHES, P.; MOTTA, D. G. Uma abordagem psicossocial do estado nutricional e do comportamento alimentar de estudantes de nutrio. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr. = J. Brazilian Soc. Food Nutr., So Paulo, SP, v. 37, n. 2, p. 118-132, ago. 2012.
aos indcios internos de fome e saciedade, maior risco de descontrole alimentar associado a fatores
emocionais e externos (VIANA et al., 2009).
A avaliao do estilo alimentar pelo QHCA, nesta pesquisa, mostrou que em ambos os grupos
predominou a ingesto determinada por fatores externos, com escores mais altos entre os ingressantes.
Constatou-se, tambm, tendncia crescente ingesto restritiva, bem como emocional, na medida
em que aumentava o IMC, entre as concluintes. As correlaes mais significativas encontradas entre
estilo alimentar e variveis nutricionais no foram com a dieta, mas com o IMC.
A anlise dos depoimentos expressos nas reunies dos grupos focais, apresentados nos Quadros 1,
2, 3 e 4, confirma e d significado aos resultados, transcendendo os nmeros. A expectativa de
emagrecimento por motivao esttica e de sade, a partir da aquisio de conhecimentos, na busca
da autoestima e da aprovao social, transparece na opo pelo curso. Mas tambm se percebe o
Quadro 4 O estilo alimentar das estudantes de nutrio: a interao entre a tendncia restritiva e as influnciasexternas.Piracicaba,SoCarloseTaquaritinga,SP,2009.
Depoimentos Ideias centrais
A gente tambm se alimenta muito mal. Muitas de ns, na poca de estgio, com certeza no fizeram seis refeies por dia, no comeram todos os alimentos que deveriam, pela falta de tempo, pela falta de... no sei. Comia salgado, comia na rua, coisa frita... Porque era mais prtico.Ah, acho que pra gente ter uma conscincia do que bom, do que ruim, pra passar a imagem, porque se a gente vai num supermercado... voc t andando com o carrinho e o vizinho te encontra, ele fica observando o que voc coloca no carrinho... voc cobrada (...) Eu vrias vezes j me senti muito mal.Eles ficam de olho no carrinho do supermercado, com esse esprito de crtica, de cobrana, mas importante mostrar que possvel ter uma alimentao normal, igual a dos outros, com essa diferena, qualidade, quantidade e frequncia.Se em todo lugar voc diz eu no como isso, no como aquilo, voc vai ser sempre a chata, a nutricionista. Da ningum te convida pra mais nada. Mesmo quando voc sai com os amigos l vem a pergunta Pode comer isso?, Pode, na quantidade certa. Ai, porque ela nutricionista, ela vai cortar tudo.E eles (os pacientes) perguntam mas voc faz isso (comer certo)? Eu digo: Fao!. E essa postura do faa o que eu falo, no faa o que eu fao?, que sentimento provoca? Vergonha!As enfermeiras olhando eu comer meu salgado e nossa, olha o que ela t comendo!. Ai gente, eu fico com tanta vergonha!Me sinto mal de fazer um prato e todo mundo ficar olhando.E as pessoas falam, mesmo, eu tambm comia um sanduche na hora do almoo e falavam pra mim nutricionista, cad a sade, cad o colorido, cad a fruta?- E o prato saudvel? isso que voc vai comer? O pessoal cobra, mesmo. E a gente come correndo, no tem tempo, o paciente daqui a pouco chega, fica difcil. E ainda tem que escovar os dentes...
A disponibilidade de alimentos, a praticidade e a falta de tempo para a aquisio e preparo condicionam a alimentao das estudantes, especialmente no ltimo ano do curso.O desejo de aprovao social, a autocrtica e a crtica social reforam a atitude restritiva.O sentimento de desaprovao social.O comportamento alimentar da estudante de nutrio tem uma dimenso social, educativa.A nutricionista um agente da represso do prazer alimentar e isso pode comprometer sua sociabilidade.A vergonha pela fala que no autntica.O constrangimento pela crtica social.O conflito entre o saber e o fazer, quando as circunstncias o impedem. O sentimento de baixa autoeficcia.
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MAGALHES, P.; MOTTA, D. G. Uma abordagem psicossocial do estado nutricional e do comportamento alimentar de estudantes de nutrio. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr. = J. Brazilian Soc. Food Nutr., So Paulo, SP, v. 37, n. 2, p. 118-132, ago. 2012.
pensamento mgico, a expectativa de atingir os objetivos pela simples aquisio de conhecimentos:
(aprender) nutrio faz milagre!
Analisando-se conjuntamente as ideias e sentimentos expressos nos grupos focais e os resultados
do QHCA, observa-se que, na percepo das alunas concluintes, o comportamento alimentar
das estudantes de Nutrio parcialmente influenciado pelos conhecimentos adquiridos. Fatores
externos, como as caractersticas de palatabilidade dos alimentos e condies socioculturais, assim
como os fatores internos, emocionais (condicionamentos, impulsos, dificuldade de discriminao
entre ansiedade e fome) dificultam a adeso s normas estabelecidas e geram conflito interno. O
desejo de aprovao social, a autocrtica e a crtica social reforam a atitude restritiva, mas a influncia
dos fatores emocionais associada aos estmulos externos contribui para a perda do controle e para
o comportamento compulsivo. Vale destacar que a tendncia restritiva esteve presente com maior
intensidade entre as estudantes concluintes com excesso de peso.
Estudo realizado por Almeida, Loureiro e Santos (2001) em Ribeiro Preto, ao verificar estilos
alimentares e qualidade de vida de mulheres obesas, conclui que pacientes obesas parecem deter
mais conhecimentos acerca de hbitos nutricionais adequados do que mulheres com peso normal.
Viana et al. (2009) chama a ateno para a excessiva racionalizao do comer e seu impacto negativo
no crescimento da obesidade.
A futura nutricionista tem, frente a esse problema de sade pblica, um papel social, um compromisso
com a educao nutricional e a mudana do comportamento alimentar da populao, mas, vale lembrar,
faz parte dessa populao e est sujeita aos mesmos fatores que condicionam o problema.
, acho que essa a diferena das outras pessoas (...) a gente sabe, se estiver comendo porque quer, a gente sabe que no pode comer, a gente sabe que tem que se controlar (...) e eu sinto culpa, mesmo, quando eu como muito, eu sinto culpa!
CONCLUSO
A maioria das estudantes avaliadas apresentou estado nutricional adequado. O comportamento
alimentar condicionado por fatores externos predominou em ambos os grupos, porm, entre as
concluintes, observou-se tendncia restrio alimentar e influncia do componente emocional
associadas ao aumento de peso. Nos grupos focais, expressou-se o desejo de autocontrole do peso
corporal e do prprio comportamento alimentar, frustrado frente complexidade biopsicossocial
dessa demanda pessoal e social, no contemplada ao longo do percurso pedaggico.
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