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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE TECNOLOGIA...

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA CARBONIZAÇÃO E GASEIFICAÇÃO DE RESÍDUOS DA MACAÚBA, TUCUMÃ E CUPUAÇU PARA GERAÇÃO DE ELETRICIDADE FÁBIO CORDEIRO DE LISBOA ORIENTADOR: Dr. CARLOS ALBERTO GURGEL VERAS CO-ORIENTADOR: Dr. AUGUSTO CÉSAR DE MENDONÇA BRASIL BRASÍLIA/DF: Junho 2016
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UNIVERSIDADE DE BRASLIA

FACULDADE DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECNICA

CARBONIZAO E GASEIFICAO DE RESDUOS DA

MACABA, TUCUM E CUPUAU PARA GERAO DE

ELETRICIDADE

FBIO CORDEIRO DE LISBOA

ORIENTADOR: Dr. CARLOS ALBERTO GURGEL VERAS

CO-ORIENTADOR: Dr. AUGUSTO CSAR DE MENDONA

BRASIL

BRASLIA/DF: Junho 2016

ii

UNIVERSIDADE DE BRASLIA

FACULDADE DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECNICA

CARBONIZAO E GASEIFICAO DE RESDUOS DA

MACABA, TUCUM E CUPUAU PARA GERAO DE

ELETRICIDADE

FBIO CORDEIRO DE LISBOA

TESE DE DOUTORADO SUBMETIDA AO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA

MECNICA DA FACULDADE DE TECNOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE

BRASLIA, COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSRIOS PARA A

OBTENO DO GRAU DE DOUTOR EM CINCIAS MECNICAS.

APROVADA POR:

_____________________________________

Prof. Dr. Carlos Alberto Gurgel Veras

(Orientador)

_____________________________________

Prof. Dr. Augusto Csar de Mendona Brasil

(Co-orientador)

_____________________________________

Prof. Dr. Antnio Csar Pinho Brasil Junior

(Examinador)

_____________________________________

Prof. Dra. Sandra Maria da Luz

(Examinador)

_____________________________________

Prof. Dr. Thiago Oliveira Rodrigues

(Examinador)

_____________________________________

Prof. Dr. Jos Dilcio Rocha

(Examinador Externo)

iii

BRASLIA/DF, 09 DE JUNHO DE 2016.

FICHA CATALOGRFICA

LISBOA, FBIO CORDEIRO DE

CARBONIZAO E GASEIFICAO DE RESDUOS DA MACABA, TUCUM E

CUPUAU PARA GERAO DE ELETRICIDADE, [Distrito Federal] 2016.

xvii, 120p., 210 x 297 mm (ENM/FT/UnB, Doutor, Cincias Mecnicas, 2016). Tese de

Doutorado - Universidade de Braslia, Faculdade de Tecnologia, Departamento de

Engenharia Mecnica.

1. Pirlise 2. Gaseificao

3. Biomassa Amaznica residual 4. Carvo ativado

I. ENM/FT/UnB. II. Ttulo (srie)

REFERNCIA BIBLIOGRFICA

LISBOA, F. C. D. CARBONIZAO E GASEIFICAO DE RESDUOS DA

MACABA, TUCUM E CUPUAU PARA GERAO DE ELETRICIDADE. Tese de

Doutorado em Cincias Mecnicas, 2016. Programa de ps-graduao em Cincias

Mecnicas, Universidade de Braslia UnB, Braslia DF, 120p.

CESSO DE DIREITOS

AUTOR: Fbio Cordeiro de Lisboa.

TTULO: Carbonizao e Gaseificao de Resduos Da Macaba, Tucum e Cupuau para

Gerao de Eletricidade

GRAU: Doutor

ANO: 2016

concedida Universidade de Braslia permisso para reproduzir cpias desta dissertao

de mestrado e para emprestar ou vender tais cpias somente para propsitos acadmicos e

cientficos. O autor reserva outros direitos de publicao e nenhuma parte desta dissertao

de mestrado pode ser reproduzida sem a autorizao por escrito do autor.

________________________________________________

Fbio Cordeiro de Lisboa

e-mail: [email protected]

iv

DEDICATRIA

Dedico este trabalho minha famlia:

Yskara, Isabelle, Jlia e Flvia e a minha

me Aparecida. Que com muita pacincia,

amor e dedicao me apoiaram

incondicionalmente em todos os momentos.

Com muita saudade dedico ao meu pai

Osvaldo(1945-2007) a quem sou grato pela

formao e instruo.

Pois a sabedoria entrar em seu corao, e o

conhecimento ser agradvel sua alma.

Provrbios 2:10.

v

AGRADECIMENTOS

Agradeo a Deus pela beno de concluir este trabalho e a minha esposa Yskara e s

minhas filhas Isabelle, Jlia e Flvia pela pacincia e dedicao para comigo durante a

elaborao desta tese.

Aos meus orientadores Carlos Gurgel e Augusto Brasil, pela disposio e diligncia na

coordenao desta pesquisa, aos quais aproveito para manifestar minha admirao pela

carreira em curso.

Minha gratido aos amigos que me ajudaram nas diversas etapas desta pesquisa:

professora. Sandra Luz e seus alunos Janaine e Victor, pela ajuda nos ensaios de

termogravimetria e na anlise dos espectros de infravermelho. Aos amigos do LPF Thiago

Rodrigues, Bruno SantAna e Luiz Gustavo pela conduo dos experimentos de pirlise, e

caracterizao. Igualmente manifesto minha gratido aos amigos do IQ-UnB: professoras

Grace Ghesti, Sara Brum e Andressa Velasques e aos colegas Munique e Paulo, pelo apoio

nas atividades de laboratrio e pelas valiosas dicas. Ao professor Ailton e equipe da fazenda

gua limpa pelos procedimentos de carbonizao da biomassa e pelo apoio nas

interpretaes dos resultados. Os tcnicos do laboratrio de termocincias e metrologia

dinmica Jos Filipe e Eurpedes pelo apoio na execuo de experimentos e na acomodao

do prdio do laboratrio provendo toda infraestrutura necessria.

Pela abertura do laboratrio de gaseificao do ncleo de catlise (NuCat) da COPPE -

UFRJ, agradeo ao Professor Victor Teixeira, e aos pesquisadores Evandro Perclat Otz,

Maria Auxiliadora S. Baldanza e Alessandra Silva. Agradeo todo aprendizado recebido nos

dias em que estivemos juntos.

Este trabalho foi desenvolvido com o apoio do Governo do Estado do Amazonas

por meio Fundao de Amparo Pesquisa do Estado do Amazonas, com a concesso

de bolsa de estudo.

vi

RESUMO

CARBONIZAO E GASEIFICAO DE RESDUOS DA MACABA,

TUCUM E CUPUAU PARA GERAO DE ELETRICIDADE

Autor: Fbio Cordeiro de Lisboa

Orientador: Prof. Dr. Carlos Alberto Gurgel Veras

Co-orientador: Prof. Dr. Augusto Csar de Mendona Brasil

Programa de Ps-Graduao em Cincias Mecnicas

Braslia, Maio de 2016.

A viabilidade em se implementar modelos negcios na regio amaznica

comprometida pelas dificuldades logsticas e de infraestrutura. Aproveitar ao mximo

recursos naturais disponveis, retirando deles o mximo de produtos com valor agregado

uma boa estratgia para ampliar a margem operacional das empresas ou mesmo como

requisito de operao. Neste contexto, explorar as potencialidades da biomassa residual

carbonizada pode representar um facilitador ao desenvolvimento regional por gerar

empregos e concentrar renda. O uso do carvo vegetal proveniente de resduos agrcolas

abundantes representa um diferencial competitivo por armazenar energia na forma de

carbono. Que pode ser usado na queima direta para coco ou siderurgia, ou quando

gaseificado, nos motores dos motogeradores j instalados, operando em modo duplo

combustvel. Ou ainda, quando ativados por processos fsicos ou qumicos, gerar um produto

de altssimo valor agregado como o carvo ativado. Que pode ser vendido ou usado em

etapas intermedirias do processamento principal, servindo como um adsorvente em

processos de purificao ou mesmo em processos catalticos. O presente trabalho apresenta

uma anlise da viabilidade tecnolgica da transformao de espcies de biomassa

amaznica, em vetores energticos. Foram analisados dois processos de transformao: a

pirlise para obteno de carvo, e a gaseificao da biomassa carbonizada para produo

de gs de sntese. Adicionalmente investigou-se o uso dos finos de carves arrastados, como

um adsorvente, comparando-o aos carves ativados quimicamente. As espcies escolhidas

foram o epicarpo de Theobroma grandiflorum (cupuau) e os endocarpos do Astrocaryum

aculeatum (tucum) e da Acrocomia aculeata (macaba). Como resultados obtm-se um

comparativo entre os indicadores de desempenho nos processos de pirlise, gaseificao e

dos indicadores de qualidade do carvo ativado obtido. Os carves produzidos a partir do

epicarpo do cupuau apresentaram melhores ndices de rendimento gravimtrico e melhor

reatividade na produo de gs de sntese que os demais carves. Os carves de tucum e

macaba apresentaram resultados bem prximos um do outro, com excelente quantidade de

carbono fixo e maior densidade que o primeiro, com destaque para as propriedades para os

produtos a partir da macaba, com maior densidade e carbono fixo do que os demais.

Palavras-chaves: Pirlise, Gaseificao, Biomassa residual, Carvo ativado.

vii

ABSTRACT

CARBONIZATION AND GASIFICATION OF MACAUBA, TUCUMA AND

CUPUASSU WASTES FOR ELECTRICITY GENERATION

Author: Fbio Cordeiro de Lisboa

Supervisor: Dr. Carlos Alberto Gurgel Veras

Co-supervisor: Dr. Augusto Csar de Mendona Brasil

Post-Graduation Program in Mechanical Sciences

Braslia, June of 2016.

The implementation of permanent bio business solutions in the Amazon region are hindered

by the lack of local logistics and infrastructure. One strategy would be to increase the usage

of natural resources, adding value to most of the by-products. As an example, considering

the capacity of the biochar to retain energy, local development can be stimulated by creating

jobs, regional concentration of income and the increase in the number of permanent

inhabitants by adding value to the available feedstocks. This work presents a performance

analysis, as energy vectors, of some biomasses from the Amazon region. Two important

conversion technologies were investigated, pyrolysis and gasification for biochar and

synthesis gas production, respectively. Furthermore, it was also investigated the activation

level of fine particles of biochar. The studied biomasses were pericarp of Theobroma

grandiflorum (cupuau) and the endocarps of Astrocaryum aculeatum (tucum) and

Acrocomia aculeata (macaba). Cupuau showed the highest biochar yield (36,8%) and

particle reactivity in the gasification process as compared to the other two biomasses.

Biochars from tucum and macaba showed similar gravimetric yields (30%), high level of

fixed carbon (66 a 71%) and density (360 620 3). In the biochar gasification the

HHV of syngas ranges from 2,4 4,3 3. The charcoal fines collected from the

gasification process, as regard to the level of activation, presented similar performance to

chemically activated carbons.

Key-words: Pyrolysis, Gasification, Amazon Biomass, Activated Carbon.

viii

1 Sumrio

1 Introduo.......................................................................................................... 19

1.1 Objetivos .................................................................................................... 21

1.2.1 Objetivo geral ....................................................................................... 21

1.2.2 Objetivos especficos ............................................................................ 22

1.2 Organizao do Trabalho ........................................................................... 23

2 Reviso da literatura .......................................................................................... 24

2.1 Tipificao da biomassa ............................................................................. 24

2.2 Converso de biomassa em energia ........................................................... 29

2.2.1 Produo de carvo vegetal .................................................................. 30

2.2.2 Caracterizao da biomassa carbonizada .............................................. 34

2.2.3 Gaseificao de biomassa ..................................................................... 35

2.3 Ativao de carvo vegetal ........................................................................ 38

2.3.1 Mecanismo de adsoro ........................................................................ 39

2.3.2 Processo de fabricao .......................................................................... 40

2.3.3 Propriedades do carvo ativado ............................................................ 41

3 METODOLOGIA ............................................................................................. 43

3.1 Origem da biomassa ................................................................................... 43

3.1.1 Caracterizao da biomassa .................................................................. 44

3.2 Carbonizao ............................................................................................. 44

3.2.1 Preparao das amostras ....................................................................... 44

3.2.2 Termogravimetria e anlise de gases .................................................... 45

3.2.3 Modelagem matemtica da pirlise ...................................................... 46

3.2.4 Carbonizao piloto .............................................................................. 52

3.2.5 Carbonizao de grandes massas .......................................................... 53

3.2.6 Caracterizao dos carves vegetais ..................................................... 53

3.3 Gaseificao ............................................................................................... 56

ix

3.3.1 Modelagem matemtica e simulao numrica da gaseificao .......... 56

3.3.1.1 Biomassa ............................................................................................ 56

3.3.1.2 Equilbrio qumico e termodinmico ................................................. 57

3.3.1.3 Soluo numrica ............................................................................... 59

3.3.2 Gaseificao experimental .................................................................... 60

3.3.2.1 Preparao e ajustes ........................................................................... 60

3.3.2.2 Descrio da unidade piloto de gaseificao PID .............................. 61

3.3.2.3 Fornalhas e placa de distribuio ....................................................... 62

3.3.2.4 Sistema alimentador de slidos ......................................................... 63

3.3.2.5 Procedimento de gaseificao ............................................................ 64

3.3.2.6 Configuraes para o experimento .................................................... 65

3.3.3 Anlise dos gases da gaseificao ........................................................ 65

3.3.4 Balano de massa e energia .................................................................. 66

3.4 Ativao de carvo ..................................................................................... 67

3.4.1 Anlise de rea superficial e porosidade............................................... 68

3.4.2 Morfologia dos carves ativados .......................................................... 68

3.4.3 Teste de adsoro .................................................................................. 68

3.4.4 Estudo da cintica de adsoro de azul de metileno ............................. 69

4 Resultados ......................................................................................................... 70

4.1 Caracterizao da biomassa virgem ........................................................... 70

4.2 Anlise da degradao trmica TG-FTIR ............................................... 71

4.3 Carbonizao ............................................................................................. 79

4.3.1 Caracterizao dos carves ................................................................... 81

4.4 Gaseificao dos carves ........................................................................... 84

4.4.1 Levantamento das condies operacionais ........................................... 84

4.4.2 Parmetros de operao ........................................................................ 86

4.4.3 Ensaio com variao de temperatura .................................................... 87

x

4.4.4 Ensaios com variao da razo de equivalncia ................................... 90

4.4.5 Composio do gs de sntese .............................................................. 90

4.4.6 Balano de massa e energia .................................................................. 93

4.5 Ativao de carvo ..................................................................................... 96

4.6 Gerao de eletricidade a partir do gs de sntese ................................... 102

5 Concluses ...................................................................................................... 105

6 Recomendaes para trabalhos futuros ........................................................... 107

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .................................................................. 108

Anexos A gaseificador PID ................................................................................ 118

Apndice A pirlise ............................................................................................ 120

Apndice B - Caracterizao ................................................................................. 121

Apndice B simulao para gaseificao............................................................ 122

Apndice C gaseificao ..................................................................................... 129

Apendice D adsoro de cor ............................................................................... 130

xi

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Nomenclatura da biomassa utilizada neste trabalho ................................. 28

Tabela 2 Constantes de equilbrio para reaes de carbono-gua, Boudouard e

formao do metano. ........................................................................................................... 38

Tabela 3 Poder calorfico dos processos de gaseificao ........................................ 38

Tabela 4 Configurao de dosagens de carvo e agente gaseificante. Reator a 900 ,

granulometria do carvo entre 1 e 2mm, taxa de alimentao de slidos a 0,02 1,

velocidade do feeder a 57% sem adio de gua ao agente gaseificante. ........................... 65

Tabela 5 Caracterizao da biomassa virgem ....................................................... 70

Tabela 6 Temperatura (T), variao de massa (m) e tempo (t) de reao nos picos

da curva DTG na degradao trmica da biomassa virgem. Resduo slido (R) ao final da

anlise. ................................................................................................................................. 72

Tabela 7 Correspondncia entre o nmero de onda e compostos contidos no gs. . 74

Tabela 8 Configurao do reator para carbonizao piloto ..................................... 80

Tabela 9 Tempo de carbonizao levantado para reator cilndrico com 190mm de

dimetro. .............................................................................................................................. 81

Tabela 10 Caracterizaes dos carves dos endocarpos de tucum e macaba e do

epicarpo do cupuau. ........................................................................................................... 82

Tabela 11 Frmulas qumicas equivalentes para biomassa virgem e carbonizada82

Tabela 12 Poder calorfico superior (PCS) e o poder calorfico inferior (PCI) das

amostras ............................................................................................................................... 83

Tabela 13 Registro dos parmetros do gaseificador para o CEFM. ........................ 86

Tabela 14 Registro dos parmetros do gaseificador para o CEFT .......................... 86

Tabela 15 Configurao do gaseificador para o CEFC ........................................... 87

Tabela 16 Comparao dos resultados obtidos nos picos de produo. Nomenclatura

utilizada: Sim simulado segundo o modelo apresentado em 3.5.1; Sw Dados obtidos com

outros simuladores; Exp Dados experimentais. ................................................................ 92

Tabela 17 Propriedades dos carves ativados. ........................................................ 97

Tabela 18 Consolidado comparativo dos resultados de adsoro de RR2 a 30 e PH

5,0. ..................................................................................................................................... 100

xii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Sistema de transmisso de energia eltrica no Brasil e localizao das

termoeltricas no estado do Amazonas (ANEEL 2015) ...................................................... 20

Figura 2 Representao grfica do objetivo deste trabalho: Transformao de

biomassa em derivados energticos tais como gs de sntese isento de hidrocarbonetos

pesados (alcatres) e seu aproveitamento em motores de combusto interna (M) de grupo-

geradores .............................................................................................................................. 22

Figura 3 Astrocaryum aculeatum Tucum. .......................................................... 24

Figura 4 Acrocomia aculeata - Macaba ................................................................. 25

Figura 5 Theobroma grandiflorum - Cupuau ......................................................... 27

Figura 6 Carbonizao da biomassa e seus produtos ............................................... 31

Figura 7 Frente de pirlise - modelo de Holmes (1977) .......................................... 33

Figura 8 Organizao das tcnicas empregadas neste estudo. ................................. 43

Figura 9 Decomposio das energias durante a carbonizao. Fonte: (Kung, 1972)

............................................................................................................................................. 48

Figura 10 Diagrama de funcionamento do reator de pirlise (retorta eltrica) S.L.F.I.

com capacidade para 10L equipado com condensadores e controle de temperatura (Apndice

A). ........................................................................................................................................ 52

Figura 11 Gaseificador em leito fluidizado marca PID Eng&Tech com controle via

software das temperaturas e fluxos de combustvel e gases ................................................ 62

Figura 12 Termogravimetria (TG/DTG) dos trs resduos, com temperaturas

variando de 23 a 450 com rampa de 2. 1 sob fluxo de 100 1 de

nitrognio. Nos picos da DTG so observadas trs regies onde foram analisados os

espectros de infravermelho dos gases emitidos durante o ensaio. ....................................... 71

Figura 13 Curvas de TG e DTG dos carves. O aquecimento foi de 23 a 900

com rampa de 20 1 sob fluxo de ar sinttico de 100 1...................... 73

Figura 14 Espectros de infravermelho dos gases das emisses durante a degradao

trmica do EFC nas temperaturas de 54, 203 289 ....................................................... 74

Figura 15 Espectros de infravermelho dos gases das emisses durante a degradao

trmica do EFM nas temperaturas de 58, 197 326 . ..................................................... 75

Figura 16 Espectros de infravermelho dos gases das emisses durante a degradao

trmica do EFT nas temperaturas de 58, 198 329 . ...................................................... 76

xiii

Figura 17 Espectros de infravermelho dos gases emitidos durante a degradao

trmica dos carves temperatura de gaseificao sob fluxo de 100 1 de ar

sinttico. ............................................................................................................................... 77

Figura 18 DSC comparativa entre as amostras. Curvas com amplitude para baixo

descrevem reaes endotrmicas, enquanto que as com amplitude para cima descrevem

reaes exotrmicas. ............................................................................................................ 78

Figura 19 DSC dos carves com aquecimento de 23 a 900 com rampa de

20 1 sob fluxo de ar sinttico de 100 1. ........................................... 78

Figura 20 Efeito do calor especfico do carvo na taxa de pirlise. = 9,5 ,

temperatura do reator = 470 , = 48,4 1, = 1,19 105 1,

= 15,14 1. ................................................................................................... 79

Figura 21 Curvas de temperatura ao centro do reator cilndrico com aquecimento

eltrico. ................................................................................................................................ 80

Figura 22 Carves de endocarpo de Tucum (CEFT), endocarpo de Macaba

(CEFM) e epicarpo de Cupuau (CEFC). ........................................................................... 81

Figura 23 Difrao de raios x estruturas amorfas. ................................................ 82

Figura 24 Morfologia dos carves - fotomicrografias feitas em MEV. .................. 83

Figura 25 Composio dos carves medidos por espectroscopia de raios X por

disperso em energia (EDX) ............................................................................................... 83

Figura 26 Curvas de calibrao do sistema de alimentao de slidos em funo do

percentual da velocidade mxima dos motores do sistema de alimentao de slidos. ...... 84

Figura 27 Perfil da curva de fluidizao da areia a quartzo temperatura ambiente.

............................................................................................................................................. 85

Figura 28 Perfil da curva de fluidizao da areia a quartzo a 900 C. ..................... 85

Figura 29 Poder calorfico superior do gs de sntese obtido pela variao da

temperatura. Reator carregado com 500g de areia de quartzo misturado com 500g de carvo.

Vazo de ar de 12 1, 5 1 de vapor de gua a 400 , ciclones a 500

e condensador a 38 . ........................................................................................................ 88

Figura 30 Simulao numrica da gaseificao em funo da temperatura. (a)

Resultados numricos referentes ao modelo no equilbrio qumico e 0D. (b) Sobreposio

dos valores simulados da figura 31a com os valores experimentais da figura 30 ( mesma

razo de equivalncia). ........................................................................................................ 89

xiv

Figura 31 Variao do PCS pela variao da razo de equivalncia. Temperatura do

leito a 900 , alimentao de slidos a 0,05 1, sem adio de vapor. ............. 90

Figura 32 Frao volumtrica de CO e H2 em funo de simulado em modelo 0D.

Concentraes de CO representado em preto e concentraes de H2 representado em e azul.

............................................................................................................................................. 91

Figura 33 Comparativo do PCS do syngas na simulao 0D com os valores reais

medidos em cromatografia. Condies de ensaio conforme tabelas 11, 12 e 13. ............... 92

Figura 34 Balano de massa na gaseificao do CEFC ........................................... 93

Figura 35 Balano de massa na gaseificao do CEFM .......................................... 94

Figura 36 Balano de massa na gaseificao do CEFT ........................................... 94

Figura 37 Balano de energia na gaseificao do CEFC ......................................... 95

Figura 38 Balano de energia na gaseificao do CEFM ........................................ 95

Figura 39 Balano de energia na gaseificao do CEFT ......................................... 96

Figura 40 Isotermas de adsoro de nitrognio a 77 K usando um equipamento

NOVA 300 BET analisador da Quanta Chrome, USA. Os valores de rea e tamanho mdio

de poro foram obtidos a partir da aplicao dos modelos de BET e BJH para os dados da

isoterma ............................................................................................................................... 97

Figura 41 Isotermas de adsoro de azul de metileno ............................................. 98

Figura 42 Comparativo das isotermas de adsoro para o corante RR02 conduzido a

30 . ................................................................................................................................... 99

Figura 43 Comparativo das fotomicrografias dos carves ativados em diferentes

processos com o no ativado ............................................................................................. 101

Figura 44 Modo de operao em duplo combustvel. Fonte: adaptado de Cummins

(2014). ............................................................................................................................... 102

Figura 45 Taxa de substituio do diesel pelo gs. Fonte: adaptado de Cummins

(2014). ............................................................................................................................... 103

Figura 46 Foto do gaseificador usado nos experimentos ....................................... 118

Figura 47 Diagrama de funcionamento da unidade piloto de gaseificao ........... 118

Figura 48 Faixas de operao do gaseificador e Taxa de alimentao de slidos em

funo da velocidade dos parafusos .................................................................................. 119

Figura 49 Sistema de alimentao e reator de gaseificao................................... 119

Figura 50 Fotos da retorta eltrica SLFI usada na carbonizao piloto e do forno Linn

Elektro Therm usado para a carbonizao de grandes quantidades de biomassa virgem.

Detalhes do cadinho do reator com poo para insero do termopar e do sistema de

xv

condensao de alcatres. Detalhe da vedao da tampa do reator feita com pasta Molybras

Copper P Plus. ................................................................................................................... 120

Figura 51 Sistemas de condensao de licor pirolenhoso...................................... 120

Figura 52 Sistema da moagem e classificao dos carves ................................... 121

Figura 53 Medio do poder calorfico superior das amostras. ............................. 121

Figura 54 Planta piloto de gaseificao do NuCat COPPE-UFRJ ..................... 129

Figura 55 Amostragem do gs de sntese, condensado e finos de carvo arrastado.

........................................................................................................................................... 129

Figura 56 Cromatografia dos gases oriundos do gaseificador ............................... 129

Figura 57 Ensaio de adsoro de cor corante RR02 ........................................... 130

xvi

LISTA DE SMBOLOS, NOMENCLATURAS E ABREVIAES

sfc - Consumo especfico de combustvel

Dm - Fluxo de massa de diesel

Gm - Fluxo de massa de gs

DG - Rendimento trmico usando gs e diesel

, - Entalpia de formao da biomassa

, - Entalpia de formao do elemento

,0 - Funo de Gibbs de formao

- Fluxo de calor

0 - Coeficiente de transferncia de calor por conveco

- Entalpia especfica ativa da biomassa

- Entalpia especfica do carvo

- Entalpia especfica dos gases

v - Velocidade mnima de mnima de fluidizao

- Porosidade do leito

- Densidade do leito

- Densidade do slido

0 - rea da parede

- Dimetro da partcula

- Altura do leito

Energia endotrmica associada com a gerao de massa unitria de vapor

- Teor de carbono fixo

- Teor de cinzas

- Teor de volteis

Calor especfico do material virgem temperatura ambiente

Calor especfico dos volteis

1,2,3, - Condutividade trmica dos materiais usados no gaseificador

- Condutividade trmica do material ativo

- Condutividade trmica do material virgem temperatura ambiente

- constante de equilbrio

- Eficincia de gs frio

xvii

- Eficincia de gs quente

- Eficincia lquida

Volume especfico do gs

Densidade do material ativo

- Densidade da biomassa virgem

- Densidade final do carvo

ACEFC - Licor pirolenhoso do epicarpo da fruta do Theobroma grandiflorum

ACEFM - Licor pirolenhoso do endocarpo da fruta do Acrocomia aculeata

ACEFT - Licor pirolenhoso do endocarpo da fruta do Astrocaryum aculeatum

AM Azul de metileno

CAEFC - Carvo ativado do epicarpo da fruta do Theobroma grandiflorum

CAEFM - Carvo ativado do endocarpo da fruta do Acrocomia aculeata

CAEFT - Carvo ativado do endocarpo da fruta do Astrocaryum aculeatum

CEFC - Carvo do epicarpo da fruta do Theobroma grandiflorum

CEFM - Carvo do endocarpo da fruta do Acrocomia aculeata

CEFT - Carvo do endocarpo da fruta do Astrocaryum aculeatum

DSC Calorimetria exploratria diferencial

DTG Derivada da termogravimetria

EFC - Epicarpo da fruta do Theobroma grandiflorum

EFM - Endocarpo da fruta do Acrocomia aculeata

EFT - Endocarpo da fruta do Astrocaryum aculeatum

FTIR Infravermelho pela transformada de Fourier

GCEFC - Gs do carvo do epicarpo da fruta do Theobroma grandiflorum

GCEFM - Gs do carvo do endocarpo da fruta do Acrocomia aculeata

GCEFT - Gs do carvo do endocarpo da fruta do Astrocaryum aculeatum

Umidade relativa

LPF - laboratrio de produtos florestais

PCS - Poder calorfico superior

SFB - Servio florestal brasileiro

TG Termogravimetria

0 - Variao da funo de Gibs

- Carbono fixo

- Concentrao de AM no equilbrio

xviii

Cinzas

- Energia de ativao

/ - Razo combustvel - ar

Entalpia dos produtos

Entalpia dos reagentes

Constante relacionada energia de adsoro

- Comprimento do Reator

() - Calor de vaporizao temperatura T

Massa molar

() - Fluxo de volteis na direo do eixo x

- Poder calorfico inferior

- Constante universal dos gases

- Temperatura

Volteis

- Fator pr-exponencial

- Capacidade de adsoro mxima

- Acelerao da gravidade

- Funo de energia livre de Gibbs

- Condutividade da matriz porosa de slido preenchida por gases

Massa

- Quantidade adsorvida de AM por grama de carvo

Tempo

Frao mssica

Frao molar

- Queda de presso do fluido atravs do leito

- Coeficientes estequiomtricos

Massa especfica a granel

- Teor de umidade

- Razo de equivalncia

19

1 INTRODUO

A regio amaznica possui predominantemente gerao de eletricidade atravs de

termoeltricas a leo diesel ou gs natural (Figura 1), cujo custo de gerao varia entre

200,00 a 300,00 $ 1 (Aneel, 2015), caro quando comparado de fonte hidrulica

com custo de gerao abaixo de 100,00 $ 1. No entanto essa regio grande fonte

de recursos naturais provenientes de biomassa, que podem ser usados para produo de

energia eltrica, potencializando o desenvolvimento econmico regional com o uso de

tecnologias adaptadas localmente, conforme suas caractersticas ambientais e agrcolas. O

uso destes recursos pode representar um diferencial de custo importante, maximizando a

lucratividade das atividades econmicas desenvolvidas localmente e reduzindo impactos

ambientais.

Viabilizar um modelo de negcios competitivo em locais isolados no uma tarefa

fcil. Assim aproveitar ao mximo os recursos disponveis, explorando todo o potencial da

matria-prima, retirando dela produtos primrios e secundrios, com foco na manuteno de

uma margem de operao segura, mostra-se como uma prtica necessria. Como exemplos

citam-se indstrias de sucos e de extrao de leos, que precisam de potncia eltrica para

operar seus maquinrios bem como de outros insumos para o beneficiamento de seus

produtos. O tempo de transporte para grandes centros tambm um fator importante na

realidade amaznica, muitas vezes impeditiva dada s condies das rodovias e hidrovias.

Neste contexto, explorar as potencialidades da biomassa residual carbonizadas pode

representar um facilitador ao desenvolvimento regional por gerar empregos e concentrar

renda. O uso do carvo vegetal proveniente de resduos agrcolas abundantes representa um

diferencial competitivo por armazenar energia na forma de carbono, que pode ser usado na

queima direta para coco ou siderurgia, ou quando gaseificado, nos motores dos

motogeradores j instalados, operando em modo duplo combustvel. Ou ainda, quando

ativados por processos fsicos ou qumicos, gerar um produto de altssimo valor agregado

como o carvo ativado, que pode ser vendido ou usado em etapas intermedirias do

processamento principal, servindo como um adsorvente em processos de purificao ou

mesmo em processos catalticos.

Alguns autores estudaram a viabilidade do uso de biomassa amaznica como recurso

para gerao de energia eltrica em sistemas isolados (Nogueira; et al., 2008; Xavier, 2009;

Itai et al., 2014) atacando o problema e propondo solues usando diferentes tecnologias.

20

Em trabalhos de campo na regio de Manaus (Lisboa et al., 2012; Maciel e Lisboa, 2013;

Yoshida e De Lisboa, 2013) compararam diferentes vetores energticos e evidenciam as

potencialidades da biomassa amaznica para fins energticos. Outros autores (Bridgwater,

1995; Mckendry, 2002b; Wetterlund e Sderstrm, 2010; Arena, 2012; Nickerson et al.,

2015) tambm evidenciam os aspectos econmicos envolvidos na gaseificao e o potencial

desta fonte renovvel na produo de energia eltrica.

No entanto, o alcatro produzido no processo de gaseificao o principal

inconveniente tecnolgico para o uso de biomassa como recurso energtico em sistemas

isolados e, portanto, precisa ser removido por sistemas de condensao e filtragem, de forma

a garantir um funcionamento seguro dos motores. Uma forma de resolver este problema

separar os processos: realizar a pirlise em um processo anterior ao da gaseificao,

injetando no motor apenas os produtos da gaseificao provenientes da biomassa j

previamente carbonizada, ou seja, isenta de alcatres (Di Lascio e Fagundes Barreto, 2009).

Figura 1 Sistema de transmisso de energia eltrica no Brasil e localizao das termoeltricas no

estado do Amazonas (ANEEL 2015)

21

O detalhe da figura 1 mostra que a maior parte da Amaznia depende do consumo de

diesel ou gs natural para a produo de eletricidade. Nas reas onde esto instaladas estas

termoeltricas possuem processos produtivos com gerao de biomassa residual, que podem

ser aproveitados para micro gerao de eletricidade.

Entre alguns problemas relacionados queima de combustveis fsseis na Amaznia,

est o fato dos insumos usados na produo de eletricidade no estarem relacionados

economia local. Com isso, os recursos financeiros necessrios para atendimento da demanda

e a pouca gerao de empregos, podem gerar tenses econmicas e sociais graves. Do ponto

de vista ambiental tambm existem impactos negativos, uma vez que um motor movido a

diesel lana para a atmosfera cerca de 220 quilos de dixido de carbono por hora por

megawatt gerado. O lubrificante usado possui altos teores de metais pesados e o suprimento

de diesel transportado por via fluvial onde acidentes podem contaminar florestas e rios.

Com base neste contexto, o presente trabalho se props a analisar a viabilidade

tecnolgica da transformao de espcies de biomassa amaznica, em vetores energticos.

Foram analisados dois processos de transformao: a pirlise para obteno de carvo, e a

gaseificao da biomassa carbonizada para produo de gs de sntese. Adicionalmente

investigou-se o uso dos finos de carves arrastados, como um adsorvente, comparando-o aos

carves ativados quimicamente. As espcies escolhidas foram o epicarpo de Theobroma

grandiflorum (cupuau) e os endocarpos do Astrocaryum aculeatum (tucum) e da

Acrocomia aculeata (macaba).

1.1 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo geral

O objetivo geral deste trabalho estudar a viabilidade tecnolgica da converso de

trs tipos de biomassa residual tpicas da regio amaznica, em recurso energtico e em

subprodutos com valor agregado. O diagrama apresentado na figura 2, resume graficamente

como os objetivos deste trabalho que vislumbram o uso da biomassa como recurso natural

em sistemas isolados amaznicos.

22

Figura 2 Representao grfica do objetivo deste trabalho: Transformao de biomassa em derivados

energticos tais como gs de sntese isento de hidrocarbonetos pesados (alcatres) e seu aproveitamento em

motores de combusto interna (M) de grupo-geradores

1.2.2 Objetivos especficos

Os objetivos especficos deste trabalho so listados a seguir:

Caracterizar as propriedades fsico-qumicas do epicarpo da fruta de T. grandiflorum

e dos endocarpos das frutas de A. aculeatum e A. aculeata;

Comparar as curvas de degradao trmica das amostras de biomassa, atravs de

termogravimetria (TG);

Obter os espectros de infravermelho dos gases gerados durante a pirlise das

amostras de biomassa atravs de analisador simultneo TG-FTIR;

Caracterizar as propriedades fsico-qumicas da biomassa carbonizada;

Calcular as concentraes dos constituintes do gs de sntese utilizando modelo de

equilbrio qumico zero dimensional;

23

Comparar os resultados simulados numericamente para a gaseificao, com os

resultados experimentais obtidos para as amostras;

Comparar o estado de ativao dos finos de carvo arrastados durante a gaseificao

com outros ativados quimicamente.

1.2 ORGANIZAO DO TRABALHO

Este trabalho est organizado em cinco captulos, incluindo este introdutrio. No

captulo dois, apresentada uma viso geral do referencial terico buscando apresentar o

estado da arte para o assunto, a compreenso das tecnologias envolvidas. Este captulo

dividido em trs sees que abordam a tipificao dos tipos de biomassa estudados, a

converso da biomassa em energia e a ativao de carvo, com seus processos e

propriedades.

O captulo trs detalha a metodologia utilizada. Neste captulo so apresentados os

materiais e os mtodos utilizados para a obteno dos resultados. Dividido em 4 sees, cada

uma descrevendo o mtodo experimental e analtico de um dos processos estudados:

carbonizao, gaseificao e ativao de carvo. O captulo quatro apresenta os resultados

obtidos em seis sees: caracterizao da biomassa virgem, anlise da degradao trmica,

carbonizao, gaseificao, ativao de carvo e gerao de eletricidade. Por fim, no quinto

captulo so apresentadas as concluses, seguidas pelas referncias bibliogrficas, pelos

anexos e apndices.

24

2 REVISO DA LITERATURA

2.1 TIPIFICAO DA BIOMASSA

Astrocaryum aculeatum - Tucum (Figura 3) nativo do Amazonas, sendo comum

em regies descampadas, com solos pobres e degradados. Grande palmeira, estipe isolado,

alcana de 10 a 15 metros de altura, sempre provida de espinhos longos e finos, dispostos na

metade superior do tronco. Folhas com bainhas dilatadas, flores reunidas em inflorescncia

do tipo cacho, produz um fruto, tipo drupa, oval de casca alaranjada com polpa comestvel,

amarelada e oleosa. Seu fruto muito apreciado pela populao local, acompanhado de

farinha de mandioca, sua polpa tem um sabor que lembra o do damasco, e so extremamente

ricos em vitamina A. Sua frutificao ocorre de vero a outono e seus frutos podem ser

consumidos na forma de sorvetes, doces e compotas bem como sob a forma de vinho de

tucum. Suas folhas, maceradas, fornecem uma fibra resistente utilizada no artesanato de

malhadeiras e redes de dormir.

Figura 3 Astrocaryum aculeatum Tucum.

Explorada para uso do seu palmito e frutos comestveis, o fruto do tucum

composto por um caroo lenhoso de cor quase preta, que contm uma amndoa de massa

branca, oleaginosa, bastante dura e recoberta por uma polpa amarelo alaranjada, de pouca

consistncia. Dois tipos de leos so produzidos por este fruto: o leo da polpa externa (33%)

e o leo da amndoa (37%). O primeiro com aplicaes para leos combustveis e o segundo

mais adequado para indstrias de cosmticos e produtos alimentcios (Lima et al., 1986). Os

frutos do tucum apresentaram dimetros mdios de 40,76mm, medido longitudinalmente e

34,72mm medidos transversalmente. As espessuras mdias da polpa, do endocarpo e da

amndoa foram de 4,64 mm, 3,02 mm e 8,56 mm, respectivamente. Peso mdio de 30,44g

com 61,3% de mesocarpo e 38% de endocarpo com endosperma (Souza et al., 2010).

25

Caracterizado por (Lira et al., 2013) as sementes dos frutos de A. aculeatum

apresentam as seguintes propriedades fsicas e qumicas: densidade de 1298,8

0,8 3, poder calorfico superior (PCS) de 21,08 0,95 1, poder calorfico

inferior (PCI) de 19,47 0,31 1, na anlise imediata o carbono fixo (base seca) de

18,67 0,24%, volteis de 69,35 0,17%, cinzas de 2,78 0,21% e umidade de

9,2 0,1%. Na anlise elementar possui 54,87% de carbono, 7,68% de hidrognio,

1,09% de nitrognio e 33,31% de oxignio. Na anlise imediata do bio-leo gerado por

pirlise rpida encontrou 96,95% de volteis e 3,05% de carbono fixo, no encontrando

cinzas nas amostras. O pH mdio do alcatro foi de 2,66 o que representa sua caraterstica

cida, na cromatografia de GC-MS do bio-leo produzido a 550 , condio tima do ponto

de vista de energia, apresenta produtos tpicos de pirlise incluindo furanos, fenis,

levoglucosano e alguns compostos cidos de cadeia curta (cido actico, cido propanico),

o que a causa de seu pH baixo.

Sua produtividade de 20 1 e no comrcio anual de cerca de 368 toneladas

somente no comrcio e feiras de Manaus, conforme avaliado por Didonet e Ferraz (2014), o

que gera um resduo de mais de 140 toneladas de caroos, que geralmente so descartados

na natureza.

Acrocomia aculeata - Macaba (Figura 4) uma palmeira nativa das florestas

tropicais da Amrica do Sul. Uma grande quantidade de leo obtida a partir dos cocos

dessa palmeira, com produtividade entre 1500 e 5000 kg de leo por hectare por ano

(Oliveira, 2008), que a segunda maior produtividade aps leo de palma (Elaeis

guineensis).

Figura 4 Acrocomia aculeata - Macaba

A palmeira da A. aculeata atinge uma alta produtividade, aps 4 anos de crescimento

e mantem a produo de mais de 100 anos. Outras caractersticas importantes desta palmeira

26

so a alta resistncia a pragas e variaes de temperatura e a capacidade de crescer em reas

de baixa precipitao (Motta et al., 2002; Andrade et al., 2006). Devido a estas

caractersticas, a maioria das frutas processadas vem da atividade extrativista a partir de

culturas no programadas de macaba sem domesticao sistemtica. Projeta-se que, se

forem usadas tcnicas de cultivo adequado associado a um processo eficiente para extrao

do leo, a produtividade poderia facilmente chegar a 6000 kg de leo por hectare (Andrade,

2006).

Vrio autores (Andrade et al., 2006; Rodrigues, 2007; Coimbra e Jorge, 2011)

caracterizaram a macaba, descrevem os frutos formados por cerca de 20% de casca, 40%

de polpa, 33% de endocarpo e 7% de amndoa. Os teores de leo so ligeiramente maiores

na polpa (60%), em relao amndoa (55%) (Bhering, 2009). O leo de macaba no tem

tradio como alimento, embora apresente um perfil de cidos graxos comparvel ao azeite

de oliva com alto teor de compostos bioativos, como os carotenoides e tocoferis.

No Brasil cerca de 80% do biodiesel produzido a partir de leo de soja (M.M.E.,

2011), cujo preo atual de cerca de US$ 1.100 por tonelada, enquanto o preo do leo de

macaba varia de US$ 600 a US$ 800 por tonelada (M.D.I.C., 2013), o que o habilita para a

produo de biocombustvel. Outro ponto favorvel est no fato que o endocarpo da fruta

denso e rico em carbono, que lhe confere grande utilidade quando carbonizado.

Na caracterizao da A. aculeata Silva et al. (1986) mediu a densidade do endocarpo

com 1,161 3, ou seja, densidade maior que a madeira de eucalipto e do endocarpo de

babau. Tambm apresenta 0,97% de cinzas, 36,6% de lignina, 10,8% de extrativos, 52,6%

de hemicelulose. O rendimento gravimtrico da carbonizao variando de 35,61 a 36,82%

com temperaturas variando entre 300 e 700 respectivamente, enquanto o percentual de

lquido condensado, na mesma faixa de temperatura, variou entre 33,34 a 39% com 22,42

a 24,74% de gases incondensveis. A densidade relativa do carvo ficou em 0,93 . 3

com porosidade de 26,84%. Anlise de CG-MS feiras por Fortes e Baugh (2004) apontam

que a 700 , os principais produtos so aldedo, cicloalcano, alcenos e dienos que variam

de 71 a 79% do total de produtos; os produtos secundrios alquilbenzeno entre outros variam

de 19 a 26% e os produtos restantes: alceno, alcano, cicloalceno de 3 a 4%.

A produtividade da macaba pode chegar a 30 1 (Clement et al., 2005) o que

representa um resduo de 10 1 de endocarpo. Considerando o alto rendimento da

27

macaba na produo leos, o aproveitamento do resduo na gerao de eletricidade vem

contribuir na reduo de despesas no beneficiamento dos frutos.

Theobroma grandiflorum - Cupuau (Figura 5) espcie arbrea nativa da Amaznia

ocidental muito apreciada pelas caractersticas organolpticas de sua polpa possui um grande

potencial para indstria de alimentos na regio. Originrio das terras altas no inundveis da

floresta tropical mida, onde as rvores mais altas proveem um sombreamento parcial.

Atualmente seu cultivo no Brasil se estende desde So Paulo at o sul de Roraima. Outros

pases onde a T. gradiflorum cultivada so: Equador, Guiana, Martinica, Costa Rica, So

Tom, Trinidad Tobago, Ghana, Venezuela, Peru e Colmbia (Mller et al., 1995).

Figura 5 Theobroma grandiflorum - Cupuau

O seu fruto mede de 12 15 de comprimento e tem de 10 12 de dimetro,

apresentando em mdia peso de 1,5 , sendo 43% de casca, 38,5% de polpa, 16% de

sementes e 2,5% de placenta. O cupuau possui um epicarpo (casca) rgido e lenhoso de

colorao ferruginosa de aproximadamente 5 de espessura. Em uma plantao tpica,

pode gerar at 22 de casca por hectare, que normalmente descartado de forma inadequada

contribuindo para a proliferao de pragas e doenas tpicas da cultura do cupuau.

Atualmente seu cultivo possui significativa importncia econmica para os estados da regio

norte, ganhando mercado nos grandes centros urbanos do Brasil. A polpa acida, de cor

amarela, branca, ou creme, de sabor agradvel, sendo consumida, principalmente na forma

de suco, picol, creme, iogurte, doce entre outras iguarias. As sementes podem ser

aproveitadas na fabricao de chocolate em p e em tablete, so utilizadas tambm pela

indstria de cosmticos na fabricao de cremes para pele (Suframa, 2003).

As reas de maior concentrao de produo de cupuau esto localizadas nos

seguintes municpios:

28

No Amazonas: Itacoatiara, Manaus, Careiro, Presidente Figueiredo, Humait e

Manacapuru;

Em Rondnia: Porto Velho, Ariquemes, Rolim de Moura, Guajar-Mirim e Ji-

Paran;

Em Roraima: Caroebe e Rorainpolis;

No Acre: Cruzeiro do Sul, Rio Branco, Xapuri, Brasilia, Plcido de Castro e

Senador Guiomaral.

Os Estados da Amaznia Ocidental possuem extensas reas aptas ao cultivo da fruta

do ponto de vista edafoclimtico. No entanto, dadas as condies de perecibilidade do fruto,

e necessidade de processamento o mais rpido possvel, torna-se muito importante

considerar aspectos como proximidade do mercado e facilidade de transporte da produo,

para o plantio comercial dessa frutfera. No caso da agroindstria, deve-se procurar

localizao em reas que concentram a produo da matria-prima e tenham infraestrutura

adequada como energia eltrica, estradas bem conservadas, etc.

A demanda crescente pelo cupuau e seus derivados pressionam a elevao do seu

preo, o que reflete em uma necessidade crescente da implantao de agroindstrias

especializadas.

De forma a simplificar a apresentao da biomassa, seus produtos e subprodutos a

nomenclatura utilizada a partir deste ponto ser conforme descrito na tabela 1 a seguir:

Tabela 1 Nomenclatura da biomassa utilizada neste trabalho

Endocarpo da fruta do Astrocaryum aculeatum - Tucum EFT

Carvo do endocarpo da fruta do A. aculeatum - Tucum CEFT

Carvo ativado do endocarpo da fruta do A. aculeatum - Tucum CAEFT

Gs do carvo do endocarpo da fruta do A. aculeatum - Tucum GCEFT

Licor pirolenhoso do endocarpo da fruta do A. aculeatum - Tucum ACEFT

Endocarpo da fruta do Acrocomia aculeata Macaba EFM

Carvo do endocarpo da fruta do A. aculeata Macaba CEFM

Carvo ativado do endocarpo da fruta do A. aculeata Macaba CAEFM

Gs do carvo do endocarpo da fruta do A. aculeata Macaba GCEFM

Licor pirolenhoso do endocarpo da fruta do A. aculeata Macaba ACEFM

Epicarpo da fruta do Theobroma grandiflorum Cupuau EFC

Carvo do epicarpo da fruta do T. grandiflorum Cupuau CEFC

Carvo ativado do epicarpo da fruta do T. grandiflorum Cupuau CAEFC

Gs do carvo do epicarpo da fruta do T. grandiflorum Cupuau GCEFC

Licor pirolenhoso do epicarpo da fruta do T. grandiflorum Cupuau ACEFC

29

2.2 CONVERSO DE BIOMASSA EM ENERGIA

De uma forma geral possvel representar uma biomassa atravs da anlise

elementar: carbono, hidrognio e oxignio, os quais combinados formam a celulose, a

hemicelulose e a lignina. Saber quanto de cada constituinte est presente na fonte energtica,

significa conhecer o quanto de energia est disponvel para converso, uma vez que o poder

calorfico funo da quantidade desses elementos na biomassa. Duas rotas so comumente

aplicadas para esta converso: rota termoqumica ou a rota bioqumica, a rota termoqumica

ser a estudada neste trabalho, mais especificamente os processos de pirlise e gaseificao

sero mais aprofundados.

A quantificao da quantidade de energia contida no combustvel a etapa inicial

para o dimensionamento de um sistema de potncia por combusto ou gaseificao. Para

tanto Netto et al. (2006), apresentou um estudo com 43 tipos de biomassa slida produzidas

no Amazonas, encontrando poder calorfico superior (PCS) entre 16,60 e 22,80 1,

com carbono fixo variando entre 9,05 e 24,67%, volteis entre 70,01 e 93,87%, cinzas

entre 0,0002 e 9,9105% enquanto a densidade a granel variou entre 200 e 373 3.

Tambm Seye et al. (2000), utilizaram complementarmente determinao do PCS, a

anlise elementar, a anlise imediata e a anlise termogravimtrica para caracterizar trs

tipos de biomassa realizando assim uma avaliao comparativa entre elas, indicando quais

podem servir como insumo na produo de carvo vegetal, e quais podem servir para

produzir bio-leo. Outros autores (Vrhegyi et al., 1997; Quirino, 2000; Resende, 2003;

Riegel et al., 2008), apresentaram trabalhos relacionados anlise da degradao trmica de

biomassa variando as taxas de aquecimento. Como resultados obtiveram a influncia da taxa

de aquecimento na cintica de decomposio das amostras, bem como modelos matemticos

para predizer o comportamento cintico da biomassa quando degradada. Desta forma

possvel prever o poder calorfico dos gases gerados.

De forma anloga, a previsibilidade do poder calorfico da biomassa relevante para

projetos de sistemas ou flexibilizao de combustveis. Demirbas e Demirbas (2004)

caracterizaram 16 amostras diferentes por anlise imediata e elementar, que determinam o

PCS baseado na quantidade de carbono ou de carbono (C) e hidrognio (H),

0,3699( ) 1,3178 [ / ]PCS C MJ kg , (1)

30

0,3856( ) 1,6938 [ / ]PCS C H MJ kg . (2)

Da mesma forma Parikh et al. (2005), utilizando os mesmos tipos de anlises, prope

empiricamente a equao

0,3536( ) 0,1559( ) 0,0078( ) [ / ]PCS CF Vol Cz MJ kg , (3)

que relaciona carbono fixo (CF), volteis (Vol) e cinzas (Cz) com o PCS. Enquanto

Friedl et al. (2005), aprimoram o modelo atravs dos resultados de anlises elementares

chegando na equao 4, utilizando alm do carbono (C) e do hidrognio (H) a quantidade de

nitrognio (N) presentes na biomassa

23,55 232 2230 51,2( ) 131 20600 [ / ]PCS C C H C H N kJ kg . (4)

Do ponto de vista econmico, estudos com o uso de endocarpo de aa e com material

lenhoso carregado pelos rios amaznicos, apontam como vivel o processo de gaseificao

e sua queima em modo duplo combustvel para gerao de eletricidade. Com enorme

potencial gerador de emprego e renda para a regio e tambm como facilitador de uma

operao obrigatria para a manuteno da navegao local (Bacellar e Rocha, 2010).

2.2.1 Produo de carvo vegetal

O carvo vegetal obtido pela pirlise lenta da biomassa. A pirlise a degradao

trmica na completa ausncia de agente oxidante, ou com um fornecimento limitado de

oxignio de forma que a gaseificao no ocorra em grande quantidade. Este processo feito

em temperaturas relativamente baixas, em torno de 400 800 , em comparao aos

800 1100 empregados na gaseificao (Bridgwater e Bridge, 1991). Trs produtos so

normalmente obtidos: gs, licor pirolenhoso e carvo vegetal em propores relativas que

dependem do mtodo de pirlise e os parmetros de reao. Pirlise rpida, por exemplo,

utilizada para maximizar a produo de produtos lquidos de acordo com a temperatura

utilizada, enquanto que a pirlise lenta conhecida como carbonizao (Figura 6) e

utilizada para maximizar a produo de carvo slido.

31

Figura 6 Carbonizao da biomassa e seus produtos

A carbonizao de biomassa envolve fenmenos complexos que geram uma grande

variedade de compostos qumicos. As fraes mssicas, em base seca, dos principais

produtos oriundos da pirlise lenta de madeiras obtidas na ausncia de oxignio e usando

aquecimento externo so: 33% de carvo, 35,5% de licor pirolenhoso, 6,5% de alcatro

insolvel e 25% de gases. Dos componentes do licor pirolenhoso destacam-se o cido

actico (0,5%), metanol (0,2%), alcatro solvel (5,0%) e gua (23,5%) enquanto que entre

os componentes dos gases esto presentes o hidrognio (0,16%), CO (8,5%), CO2 (15,5%),

CH4 (0,61%), etano (0,03%) e outros gases (0,2%) (Oliveira et al., 2013). Os fenmenos

que acontecem durante a carbonizao podem ser agrupados em estgios segundo a

temperatura, conforme descrito em quatro fases por De Oliveira Vilela et al. (2014):

1. At 200 h a produo de gases como vapor de gua, CO2, cido frmico

e cido actico. Nesta fase ocorre a secagem e regida tipicamente por

reaes endotrmicas.

2. Entre 200 e 280 alm da emisso de vapor de gua, CO2, cido frmico e

cido actico, inicia-se a emisso de CO e h uma reduo na emisso de

vapor de gua. Nesta regio as reaes tambm so endotrmicas e

caracteriza-se degradao das hemiceluloses.

3. Entre 280 e 400 a carbonizao ocorre por reaes exotrmicas e os

produtos formados incluem gases combustveis, alcatro, CO e CH4.

Caracterizada pela degradao da celulose

32

4. Entre 400 e 470 fase exotrmica onde ocorre a reduo da emisso de

gases e o aumento da concentrao de carbono no carvo.

J o modelo apresentado por Kanury e Blackshear Jr (1970), apresenta a

carbonizao dividida em cinco perodos em funo do tempo de exposio ao calor, desde

o material virgem at o processado, ou seja, carvo:

Perodo I - nessa fase o calor se propaga na madeira por conduo. A madeira no

sofre qualquer alterao, havendo apenas a liberao de gua.

Perodo II - a madeira comea a sofrer as primeiras alteraes, formando o que se

denomina "Frente da Pirlise". Nessa fase se distingue dois estgios: um correspondente a

zona de pirlise e outro em que a madeira continua aquecendo. Os gases quentes formados

nessa zona transportam o calor para o exterior da madeira por conveco.

Perodo III - inicia-se a formao do carvo, existindo ainda uma camada interna de

material no carbonizado. A transferncia de calor na zona do carvo se processa atravs de

conduo e conveco, enquanto outros fenmenos ocorrem nessa zona. Os gases pesados

sofrem uma decomposio catalisada pelo leito do carvo quente, enquanto os gases leves

ao passarem para o exterior podem encontrar oxignio da atmosfera, produzindo uma reao

de combusto (reao exotrmica), fornecendo energia na superfcie do carvo.

Perodo IV - essa fase caracterizada pelo desaparecimento da madeira em seu estado

original. A zona do carvo predominante, restando apenas uma parte, da zona da pirlise.

Perodo V - corresponde a ltima fase da carbonizao formada por uma nica

camada, a do carvo vegetal.

Modelos matemticos (Kanury e Blackshear Jr, 1970; Kung, 1972; Kung e Kalelkar,

1973) permitem calcular a velocidade da frente de pirlise em madeiras, estes modelos so

baseados na transferncia de calor atravs do carvo formado at a rea ativa do material. A

imagem da figura 5 ilustra como se d a penetrao da frente de pirlise atravs do material

durante a carbonizao. Di Blasi (2008) relata o estado da arte em modelagem de processos

qumicos e fsicos da pirlise de biomassa. Nesta reviso so abordadas questes relativas

cintica qumica, seus mecanismos e os modelos de energia de ativao que tentam explicar

a formao de um nico gasoso ou espcies lquidas (alcatro). Silva et al. (2007) fez a

caracterizao fsico qumica de carves, medindo o rendimento gravimtrico, densidade

33

aparente, poder calorfico superior e teores de carbono fixo, materiais volteis e cinzas. Este

autor constatou que a temperatura final de carbonizao o fator mais influente, e que o

rendimento gravimtrico e o teor de carbono fixo aumentam com o aumento da temperatura

final, a densidade e o teor de cinzas variam pouco com a variao de tempo e temperatura.

O poder calorfico superior dos carves variaram entre 29,8 35,1 1 sendo o melhor

resultado obtido a 600 independente da espcie e do tempo de permanncia.

Figura 7 Frente de pirlise - modelo de Holmes (1977)

O processo de pirlise caracterizado pela formao de camadas (Figura 7), que so

impedidas pela formao de um isolante trmico o carvo. Alm disso os volteis fluindo

para fora da biomassa transportam calor de volta para a superfcie, o que dificulta ainda mais

o processo da pirlise. Por outro lado, com o passar do tempo a parte interna da biomassa

recebe um pr-aquecimento considervel a ponto de aumentar a velocidade da frente de

pirlise. Vrios autores (Kung, 1972; Kung e Kalelkar, 1973; Di Blasi, 2008; White et al.,

2011; Lam et al., 2012; Borello et al., 2014; Urych, 2014), estudaram modelos matemticos

capazes de prever o tempo de decaimento da densidade do material em funo da

temperatura. Neste trabalho utiliza-se o modelo de Kung e Kalelkar (1973) e seus resultados

de forma a estimar o tempo de permanncia na temperatura de carbonizao, que sero

apresentados com maior detalhe no captulo 3.

Do ponto de vista termoqumico, Gurgel Veras et al. (1999) apresentaram um modelo

de percolao qumica com objetivo de determinar os produtos da pirlise de partculas de

carvo, inclusive sobre a influncia de campos acsticos de alta intensidade. O modelo

34

permitiu a clculo da evoluo dinmica de CO, CO2, CH4, H2O, outros gases leves e

alcatro, importantes no processo de ignio e estabilizao de chamas. Em adio o modelo

tambm forneceu a quantidade e forma dos compostos nitrogenados liberados na pirlise, o

que importante no estabelecimento de estratgias de reduo de emisses de NOx. Tambm

Gurgel Veras et al. (1998) apresentam evidncias tericas e experimentais de que o tempo

de combusto de uma partcula de carvo nem sempre aumenta com o seu tamanho para

condies ambientais constantes.

2.2.2 Caracterizao da biomassa carbonizada

A anlise imediata do carvo vegetal comumente empregada para fornecer a

qualidade dessa biomassa para fins energticos, esta consiste em determinar os teores de

umidade, de cinzas, de volteis e de carbono fixo. Esta anlise normatizada pela norma a

Norma NBR 8112/1986.

O controle de umidade da biomassa a ser utilizada imprescindvel para no gerar

carves friveis e agregar maior valor comercial ao material combustvel, j que ao ser

liberada, a elevada quantidade de vapor dgua propicia um aumento da presso nos poros,

resultando em carves extremamente quebradios. O processo de evaporao da umidade

absorve energia em combusto e, com isso, reduz o poder de combusto da madeira (De

Assis et al., 2012). Denomina-se teor de cinza, ou teor de minerais, o material residual

inorgnico da completa combusto do carvo vegetal. A cinza residual nas fornalhas das

indstrias indesejvel, pois, alm de reduzir o poder calorfico do carvo, enseja limpezas

frequentes, podendo provocar corroso nos equipamentos metlicos e comprometer a

qualidade do ferro-gusa devido ao fenmeno da segregao. O teor de cinzas da madeira

corresponde, geralmente, a menos de 1%bs e influenciada pela idade do indivduo

(Machado et al., 2014), com o aumento da idade, h forte tendncia de reduo do nvel de

minerais na biomassa virgem e, consequentemente, no carvo. Alm disso, as diferentes

tcnicas de plantio associadas aos inmeros insumos empregados podem influenciar no teor

de cinza da madeira e do carvo.

A matria voltil propriamente dita no inclui a umidade livre e composta pela gua

derivada da decomposio qumica do carvo e pela complexa mistura de gases

combustveis liberados durante o aquecimento (Paulucio, 2013). O teor de matria voltil

o responsvel pela estabilidade da chama e pela velocidade da combusto, pois dele decorre

o aumento da permeabilidade e a diminuio da reatividade do carvo em alto-forno. O

35

carbono fixo, por sua vez, o combustvel residual da liberao do material voltil e resume-

se, principalmente, a carbono, embora se possam observar alguns elementos volteis no

liberados. Ao analisar a aplicao, conclui-se que carves com maiores percentuais de

carbono fixo proporcionam maior produtividade por unidade de massa, por outro lado,

ndices muito elevados de carbono fixo causam maior degradao trmica, reduzindo

consequentemente, a resistncia mecnica do material combustvel.

2.2.3 Gaseificao de biomassa

A gaseificao a oxidao trmica parcial, que resulta numa alta proporo de

produtos gasosos (CO2, H2O, CO, H2 e hidrocarbonetos gasosos), pequenas quantidades de

carvo, cinzas e compostos condensveis (alcatro e leos). Os agentes gaseificantes

fornecidos para a reao podem ser ar, vapor em estado superaquecido ou oxignio. O gs

produzido pode ser convertido em produtos comercializveis e desta forma tem uma maior

versatilidade de uso do que a biomassa de origem. Estes processos termoqumicos so

complexos e envolvem vrias reaes qumicas, processos de transferncia de calor e massa

e exigem um controle da quantidade de calor dissipada pelo sistema, de forma a obter uma

maior eficincia energtica de converso. O tipo de agente gaseificante e a temperatura da

reao, tambm influencia na qualidade do gs de sntese obtido, devendo ser estes

parmetros acompanhados com cuidado pelo projetista (Basu, 2010; Puig-Arnavat et al.,

2010; Basu, 2013b).

O processo de gaseificao pode ser dividido em 4 etapas: secagem, pirlise,

oxidao e reduo. Cada etapa pode ser modelada com base na cintica qumica das reaes,

gerando modelos que ajudam os projetistas a preverem seus resultados (Mckendry, 2002a;

Ratnadhariya e Channiwala, 2009), cada etapa pode ser modelada por zonas de reao como

se segue:

1. Aquecimento e Secagem da biomassa: Nesta fase, o teor de umidade da

biomassa que varia de 5 a 35% reduzido.

2. Pirlise da biomassa (devolatilizao): Esta fase consiste na decomposio

trmica da biomassa, na ausncia de oxignio ou ar. Neste processo, o

material voltil da biomassa reduzido e isto resulta na liberao de gases.

Estes hidrocarbonetos gasosos podem condensar a uma temperatura

suficientemente baixa para gerar alcatres lquidos. Nesta etapa ocorre a

decomposio dos carboidratos tais como a hemicelulose, celulose e lignina

36

a partir dos 200. Os produtos dessas etapas so: Gases condensveis, Gases

no condensveis (CO, CO2, H2, CH4) e Carvo vegetal.

3. Oxidao: Esta uma reao entre a biomassa carbonizada slida e o

oxignio, o que resulta na formao de CO2. O hidrognio presente na

biomassa tambm oxidado para gerar gua.

4. Reduo: Na ausncia (ou presena estequiomtrica) de oxignio, vrias

reaes de reduo ocorrem numa faixa de temperatura de 800 a 1.100 C.

Estas reaes so na sua maioria endotrmicas.

Vrios autores (Di Lascio e Fagundes Barreto, 2009; Basu, 2010; Puig-Arnavat et

al., 2010; Higman e Van Der Burgt, 2011; Basu, 2013a) apresentam as principais reaes

divididas em heterogneas (slido gs) e homogneas (gs gs) que so descritas nas

equaes 5 a 21, a seguir:

Reaes heterogneas (slido gs)

Oxidao do carbono

1

2

1110,6 .

2C O CO H kJ mol (5)

1

2 2 393,8 .C O CO H kJ mol (6)

Reao de Boudouard

1

2 2 172,6 .C CO CO H kJ mol

(7)

Reao de carbono-gua

1

2 2 131,4 .C H O CO H H kJ mol

(8)

1

2 2 22 2 96,0 .C H O CO H H kJ mol (9)

Formao do metano

1

2 42 74,9 .C H CH H kJ mol

(10)

1

2 4

2 1 262,0 .

3 3 3C H O CH CO H kJ mol

(11)

1

2 4 2

1 16,0 .

2 2C H O CH CO H kJ mol

(12)

Reaes homogneas (gs gs)

Oxidao do hidrognio

1

2 2 22 2 286 .H O H O H kJ mol

(13)

Reao de shift

1

2 2 2 38,0 .CO H O CO H H kJ mol

(14)

37

Metano gua

1

4 2 2 23 201,9 .CH H O CO H H kJ mol

(15)

Monxido de carbono oxignio

1

2 2

1283 .

2CO O CO H MJ kmol (16)

1

2 4 22 2 247,3 .CO H CH CO H MJ kmol

(17)

Formao do metano

2 2 4 23 206 /CO H CH H O kJ mol (18)

2 2 4 24 2 165 /CO H CH H O kJ mol (19)

Craqueamento do alcatro

2 4 ...Alcatro Vapor Calor CO CO CH (20)

2 4 2 2 2

1 2( )

3 3CO H CH O CO H O (21)

As reaes 15 e 16 so fortemente exotrmicas e rpidas, podem ser consideradas

irreversveis nas temperaturas normais de gaseificao, ou seja, entre 750 e 1000. A

reao 20, tambm exotrmica, juntamente com as reaes 15 e 16 fornecem o calor

necessrio para as reaes endotrmicas 17 e 18, sendo estas as reaes mais frequentes no

reator. Entre 800 a 900 a reao de Boudouard (17) a mais importante, ocorrendo em

todo leito ao contrrio das reaes 15 e 16 que s ocorrem nas regies onde h presena de

oxignio, ou seja, nas proximidades dos distribuidores de ar. Para reatores em leito

fluidizado, no se observam zonas separadas para pirlise, oxidao e reduo todas as

reaes acontecem em todo o volume do leito simultaneamente.

As reaes de gaseificao so afetadas por diversos fatores como temperatura,

presso, caractersticas do combustvel e teor de oxignio no agente gaseificante. A

constante de equilbrio kp influenciada pela temperatura ao ponto de aumentar as

concentraes de H2 e CO enquanto existe um decrscimo da concentrao de CO2, para

aumento de temperatura at 900, conforme mostrado na tabela 2. O ar um agente

gaseificante barato e amplamente utilizado, porm contm uma grande quantidade de

nitrognio, o que reduz o poder calorfico do gs de sntese produzido. Se O2 puro usado

em seu lugar, o poder calorfico do gs sntese ir aumentar, mas os custos de operao

tambm aumentaro muito, devido aos custos de produo do O2 (Basu, 2006).

38

Tabela 2 Constantes de equilbrio para reaes de carbono-gua, Boudouard e formao do metano.

Fonte: (Basu, 2006).

Temperatura (K) Kp (Equao 18) Kp (Equao 17) Kp (Equao 28)

400 7,709 1011 5,225 1014 2,989 105

600 5,058 105 1,870 106 9,235 101

800 4,406 102 1,090 102 1,339 100 1000 2,617 100 1,900 100 9,632 102 1500 6,081 102 1,622 103 2,505 103

Valores tpicos da composio do gs produzido so da ordem de 22%(vol. bs) de CO,

10,2%(vol. bs) de CO2, 15,2%(vol. bs) de H2, 1,7%(vol. bs) de CH4 e 50,8%(vol. bs) de N2. O poder

calorfico do gs varia entre 4,9 3 a 7,3 3 que dependem da perda de calor

no reator, da umidade do combustvel e do arraste de carbono. O poder calorfico pode ser

calculado usando as concentraes volumtricas de cada componente multiplicados,

respectivamente pelos seus poderes calorficos, sendo 12,11 3 do hidrognio,

11,97 3 do CO e 37,72 3 do CH4. A razo de equivalncia tpica para a

gaseificao 2,38 [ 1] (Reed et al., 1988).

O poder calorfico do gs combustvel formado em processos de gaseificao com ar

significativamente afetado pela presena de nitrognio (N2). Na Tabela 3 so fornecidos

os valores mdios do poder calorfico do gs combustvel, para processos conduzidos com

ar, oxignio puro e vapor de gua, como agentes de gaseificao.

Tabela 3 Poder calorfico dos processos de gaseificao

Fonte: (Belgiorno et al., 2003)

Processo Agente Gaseificao PCS (MJ.Nm-3)

Gaseificao direta Ar 4-7

Gaseificao com oxignio puro Oxignio 10-12

Gaseificao indireta Vapor de gua 15-20

2.3 ATIVAO DE CARVO VEGETAL

Carvo ativado o adsorvente microporoso mais importante usado pela indstria.

Possui uma complexa estrutura com poros classificados de microporos (< 20) a

macroporos (> 500), e vrios tipos de superfcies, impurezas e irregularidades. Pode ser

produzido a partir de carvo, turfa, endocarpo de coco ou qualquer outro material com alto

teor de carbono, a partir da queima controlada temperatura entre 700 e 1000 (Ismadji et

al., 2005). Esta forma de carbono puro de grande porosidade apresenta notveis propriedades

para remoo de impurezas dissolvidas em soluo e pode ser empregado em p ou

granulado, conforme a necessidade. Com a capacidade de coletar seletivamente gases,

39

lquidos e impurezas no interior dos seus poros, sendo por isso vastamente utilizado em

sistemas de filtragem.

A utilizao de carves ativados como adsorventes data de milhares de anos, quando

os egpcios, por volta de 1.550 a C., empregavam o carvo de madeira para a purificao de

gua para fins medicinais. No entanto em 3.750 a C., este j era utilizado na reduo de

cobre, zinco e estanho, na manufatura de bronze e tambm como combustvel domstico

(Claudino, 2003). Um maior desenvolvimento de carves ativados surgiu durante a Primeira

Guerra Mundial, quando os carves granulados eram utilizados em mscaras de gs. No

entanto, foram nos ltimos 50 anos que a tecnologia de produo de carves ativados evoluiu

significativamente.

No tratamento de gua, com o objetivo de adequ-la aos parmetros de potabilidade

exigido para o consumo humano, o carvo ativado pode ser usado para eliminao de cor,

odor, mau gosto e na remoo de substncias orgnicas e inorgnicas dissolvidas na gua.

Bons resultados foram obtidos por Rios et al. (2014) na adsoro de fenol usando

carvo ativado a partir do endocarpo da macaba, com concentraes entre 200 e 40

simulando a adsoro em srie em temperaturas de 30 , 40 e 50 o o oC C C . Em todas as

temperaturas, o modelo de isoterma de Langmuir melhor se ajustou aos dados, indicando

que o carvo apresenta stios idnticos entre si, com uma molcula adsorvida por stio e sem

interaes relevantes entre as mesmas. Os resultados deste trabalho indicam que a adsoro

de fenol utilizando carvo ativado proveniente do endocarpo do fruto da macaba ocorre de

forma eficiente, e que esse mtodo possui potencial para ser utilizado na descontaminao

de efluentes contendo fenol.

Em outro estudo, Junior (2010) avalia tipos de biomassa tipicamente amaznicas

como a epicarpo da fruta do cupuau e da castanha do Brasil e endocarpo de aa, e mostram

a viabilidade tcnico-econmica da sua utilizao. A maior microporosidade foi conseguida

com carvo ativado do ourio da castanha com valores na ordem de 780 1, seguido

pelo carvo do caroo do aa com 600 1 e ento pela casca do cupuau 480 1.

2.3.1 Mecanismo de adsoro

Adsoro a propriedade das molculas contidas no fluido de aderirem sobre a

superfcie de um slido. As aplicaes industriais do carvo ativado fundamentam-se nesta

40

propriedade, para fase lquida ou gasosa. Na adsoro ocorre uma acumulao de molculas

(soluto) sobre a superfcie do adsorvente. Quando o carvo ativado colocado em contato

com o soluto, h um decrscimo de sua concentrao na fase lquida e um aumento

correspondente sobre a superfcie do carvo ativado, at se obter uma condio de equilbrio.

Apesar da superfcie e adsoro estarem interligadas, a superfcie sozinha no

medida suficiente da capacidade adsorvente de um determinado carvo. Para cada adsoro

especfica, a distribuio e volume de poros so tambm importantes para controlar o acesso

das molculas do adsorbato para a superfcie interna do carvo ativado (Mucciacito, 2006).

Quando acontece o compartilhamento ou troca de eltrons entre o adsorbarto e o adsorvente,

a adsoro denominada qumica.

Na adsoro em fase lquida, as molculas aderem-se fisicamente sobre o adsorvente

atravs destas foras relativamente fracas, que so as mesmas responsveis pela liquefao

e condensao de vapores, no caso de adsoro de gases. No caso de adsoro fsica, a

natureza do adsorvente no alterada. Quase sempre a adsoro em carvo ativado o

resultado de foras atrativas chamadas Van der Walls. Neste caso chamado de adsoro

fsica. A reversibilidade da adsoro fsica depende das foras atrativas entre o adsorbato e

o adsorvente. Se estas forem fracas, a reverso ocorre com certa facilidade.

No caso de adsoro qumica, as ligaes so mais fortes e mais energia seria

necessria para reverter o processo. Alm da caracterstica do adsorvente e adsorbato, a

natureza da fase lquida, como pH e viscosidade, a temperatura e o tempo de contato podem

afetar a adsoro de modo significativo.

2.3.2 Processo de fabricao

Mucciacito (2006) tambm descreve os processos de ativao de carves so

comumente definidos por qumicos ou fsicos. Nos processos fsicos de ativao, o material

carbonceo submetido a um estgio denominado carbonizao. Neste estgio, a umidade

e materiais volteis so removidos atravs da elevao da temperatura sob condies

atmosfricas controladas. Na etapa seguinte so injetados no material os agentes ativantes,

normalmente ar, vapor ou gs carbnico, a altas temperaturas. Nesta fase ocorrem reaes e

uma mistura de gases, composta principalmente de monxido de carbono e o hidrognio so

liberados. Os gases so produzidos como consequncia da reao do agente ativante com o

material carbonceo, sendo que o consumo do carvo resultante produz a estrutura porosa.

41

Aps a ativao, o carvo submetido a etapas subsequentes, como resfriamento,

peneiramento, lavagem, secagem, moagem, polimento, separao granulomtrica e a

embalagem. No processo qumico de ativao, o material colocado em contato com um

agente ativante qumico, como cido fosfrico, carbonato de potssio ou cloreto de zinco. A

mistura submetida ao aquecimento sob condies controladas para ocorrer a ativao. O

agente ativante deve ser removido posteriormente pela lavagem do material.

2.3.3 Propriedades do carvo ativado

Os carves ativados so avaliados por suas propriedades fsicas e atravs de testes

experimentais da sua capacidade de adsoro, os parmetros de avaliao mais comuns so:

Teor de cinzas: as cinzas so dependentes do tipo de matria-prima e do

processo de fabricao. Compreende o resduo aps a ignio da substncia,

sob condies especficas.

Umidade ou perda por secagem: determinada com o propsito de produo

e embarque. o resultado da reduo do peso quando a substncia aquecida,

sob condies especficas.

pH: depende da matria-prima e processo de fabricao. obtido pela anlise

do extrato aquoso.

Tamanho da partcula: uma forma de expressar o tamanho dos gros do

carvo ativado. Deve possuir tamanho de partcula que permita o melhor

desempenho de adsoro e, ao mesmo tempo, boas condies de filtrao.

Nos carves pulverizados normalmente expresso como percentual em peso

passante, por uma malha pr-determinada, como malha 325 ou 400 ASTM.

Nos carves granulados, define-se normalmente o tamanho nominal quando

se demonstra as duas malhas limitantes da distribuio granulomtrica, ou se

demonstra diretamente a distribuio percentual em peso retida, ou passante

em cada malha daquela distribuio.

Peso especfico ou densidade aparente: a relao de massa por unidade de

volume, incluindo o seu volume de poros e espaos interpartculas.

Nmero de azul de metileno: indica a capacidade de adsoro do carvo

ativado em relao s molculas de tamanho semelhante s de azul de

metileno.

42

rea superficial: a rea superficial total do carvo ativado, calculada pela

equao B.E.T. (Brunauer, Emmett, Teller), pelos dados de adsoro e

dessoro de nitrognio, sob condies especficas. expressa, comumente,

em [2 1].

Volume de poros: o volume de poros na unidade de peso do adsorvente.

Pode ser obtido atravs da adsoro de mercrio nos poros sob alta presso.

expresso, comumente, em [3 1].

Capacidade de adsoro: a quantidade de um determinado componente

adsorvido de um fluido. Pode ser medida atravs de testes com o fluido a

purificar, obtendo-se curvas de adsoro para aquelas condies especficas.

43

3 METODOLOGIA

A seguir so descritas as metodologias utilizadas para obteno dos resultados

apresentados no captulo 4, o grfico da figura 8 apresenta uma viso geral deste captulo na

ordem em que as tcnicas forma empregadas.

Figura 8 Organizao das tcnicas empregadas neste estudo.

3.1 ORIGEM DA BIOMASSA

Amostras de biomassa apresentadas no item 2.1, foram coletadas e enviadas para

estudo como o descrito a seguir:

Sementes do fruto de A. aculeatum (EFT) foram recolhidos diretamente nos

restaurantes e cafs regionais de Manaus, secados a sombra e enviados pelos

correios para Braslia;

Cascas do fruto de T. grandiflorum (EFC) foram coletadas em indstrias de

processamento de sucos em Manaus, secados a sombra e enviados pelo

correio para Braslia;

Frutos de A. aculeata (EFM) por no dispor de frutos de macaba

provenientes da Amaznia, foram utilizadas amostras colhidas em Braslia.

Os frutos foram secados em estufas a 65 por 4 dias para desidratao.

44

Todas as amostras foram encaminhadas para caracterizao e pirlise na rea de

energia da biomassa do Laboratrio de Produtos Florestais (LPF) do Servio Florestal

Brasileiro (SFB).

3.1.1 Caracterizao da biomassa

Amostras de biomassa foram identificadas, medidas e pesadas, em seguida

submetidas secagem em estufa a 103 2 por 24 horas. Aps a secagem as amostras

foram novamente medidas e pesadas para avaliao do teor de umidade. Estas amostras secas

foram ento trituradas em moinhos de martelo e de facas at a granulometria entre 150

e 250, classificadas em peneiras ABNT/ASTM 100 e 60, respectivamente.

Na sequncia so feitas as anlises elementares das amostras para determinao dos

elementos constitutivos de cada biomassa. Esses elementos foram determinados pelo

equipamento Perkin Elmer Series 2400 II CHN Anlise Elementar em triplicata e as

concentraes de cada elemento foram calculadas pela mdia simples dos dois valores mais

representativos.

3.2 CARBONIZAO

A carbonizao foi feita em duas etapas: a primeira, carbonizao piloto, aplica os

resultados numricos de tempo e temperatura para pirlise em um reator eltrico monitorado

e controlado por software dedicado. Dos resultados obtidos nesta etapa, configura-se os

equipamentos para a segunda etapa, onde so carbonizadas grandes quantidades de

biomassa. Os carves obtidos so comparados pelos resultados da anlise imediata, para

verificao da eficcia das melhorias propostas.

3.2.1 Preparao das amostras

As amostras foram preparadas de acordo com o mtodo A da norma ASTM E

1757-01, para amostras com quantidades acima de 20 g. As amostras foram espalhadas para

secagem em temperatura ambiente, em uma bandeja metlica. Na sequncia o material foi

colocado na estufa Marconi MA035, durante pelo menos 12 h. Em seguida o material seco

foi colocado do dessecador para resfriar. Aps o resfriamento o material foi pesado para a

obteno da massa seca da biomassa ms.

A biomassa foi medida em trs momentos: antes da secagem, aps a secagem e aps

a carbonizao de forma a obter o decaimento volumtrico decorrente da carbonizao. O

45

volume ocupado no reator e o peso tambm so medidos de forma a se calcular a densidade

a granel da biomassa para aquele reator.

3.2.2 Termogravimetria e anlise de gases

Para a configurao do processo de carbonizao e para a anlise dos constituintes

dos gases emitidos durante o processo valeu-se da tcnica de acoplamento dos equipamentos

analisador simultneo modelo SDT Q600 da TA Instruments, que proporciona uma medio

instantnea da variao de massa (TG) e a calorimetria exploratria diferencial (DSC) de

uma amostra da temperatura ambiente at a temperatura desejada. No presente trabalho as

anlises de TG-FTIR foram feitas em duas etapas: a primeira usando biomassa virgem

variando a temperatura desde a ambiente at a temperatura de carbonizao (450 ) com

taxas de aquecimento lentas (2 1) e, a segunda, usando biomassa carbonizada

variando a


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