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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE...

Date post: 10-Apr-2018
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\ UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE PSICOLOGIA RELAÇÃO ENTRE AS CARACTERÍSTICAS DA SITUAÇÃO VIVIDA, SUPORTE SOCIAL E RESILIENCIA, APÓS A VIVÊNCIA DE UM ACONTECIMENTO POTENCIALMENTE TRAUMÁTICO Sara Catarina Mestre Madeira MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA (Secção de Psicologia Clínica e da Saúde/Núcleo de Psicologia Clínica Sistémica) 2013
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\

UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

RELAÇÃO ENTRE AS CARACTERÍSTICAS DA

SITUAÇÃO VIVIDA, SUPORTE SOCIAL E

RESILIENCIA, APÓS A VIVÊNCIA DE UM

ACONTECIMENTO POTENCIALMENTE

TRAUMÁTICO

Sara Catarina Mestre Madeira

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

(Secção de Psicologia Clínica e da Saúde/Núcleo de Psicologia Clínica

Sistémica)

2013

UNIVERSIDADE DE

LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

RELAÇÃO ENTRE AS CARACTERÍSTICAS DA

SITUAÇÃO VIVIDA, SUPORTE SOCIAL E

RESILIENCIA, APÓS A VIVÊNCIA DE UM

ACONTECIMENTO POTENCIALMENTE

TRAUMÁTICO

Sara Catarina Mestre Madeira

Dissertação orientada pela Professora Doutora Maria Teresa Ribeiro

Dissertação co-orientada pela Dra. Joana Faria Anjos

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

(Secção de Psicologia Clínica e da Saúde/Núcleo de Psicologia Clínica

Sistémica)

2013

“Our greatest glory is not in never falling,

but in rising every time we fall.”

Confucius

I

Agradecimentos

…À professora Doutora Maria Teresa Ribeiro, pela excelente orientação, pelas palavras

de incentivo e motivação e pela disponibilidade constante.

…À professora Doutora Rita Francisco, pela ajuda a trabalhar com o “Bicho” chamado

NVivo.

…À Doutora Joana pela ajuda incansável, pela recolha da amostra e cedência do seu

protocolo, pelos “faz tu”, que eu tanto precisei ouvir, por me ter “mostrado” esta área da

psicologia, que até há pouco tempo desconhecia.

…Às minhas colegas, pelas trocas de mensagens, pela amizade, apoio, partilha de

informação e empatia (mesmo durante os períodos de stress e “desespero”).

…Às minhas três mosqueteiras, por juntas termos vencido esta batalha.

…Aos meus colegas e comando do corpo de Bombeiros Voluntários do Sul e Sueste,

pelas motivação que me transmitiram, e pelas horas de bom humor quando mais

necessitava.

…À minha família, pelo apoio incondicional.

…A ti amor, por aturares as “azias”, por muitas vezes me “obrigares” a ir fazer a tese,

mas acima de tudo, por acreditares.

Obrigada!

II

Resumo

Este estudo tem como objectivo geral, compreender de que forma as características da

situação vivida, e o suporte social se relacionam com a resiliência após a vivência de um

acontecimento potencialmente traumático. Devido ao carácter exploratório desta

investigação, foi utilizada uma metodologia qualitativa, com recurso ao auxílio de

métodos quantitativos para a obtenção de dados. Utilizou-se a entrevista semi-

estruturada como metodologia qualitativa, e a escala de resiliência de Connor-Davidson

(CD-RISC) como metodologia quantitativa.

A amostra foi recolhida através da base de dados do Centro de Orientação de Doentes

Urgentes de Lisboa, no Instituto Nacional de Emergência Médica. Esta é constituída por

adultos de ambos os sexos que, há menos de uma semana, tenham vivenciado um

acontecimento potencialmente traumático.

Posteriormente, foi realizada uma análise qualitativa dos dados com recurso ao software

de análise de dados NVivo 10. Concluiu-se, portanto, que os indivíduos com menos de

40 anos e com mais de dois filhos apresentaram melhores resultados na escala de

resiliência; o suporte emocional foi mais referido do que o suporte instrumental

independentemente da idade, sexo, estado civil, número de filhos, habilitações literárias

e características da situação vivida; a família foi, no geral, a fonte de suporte social mais

referida; tanto o suporte emocional como o suporte instrumental foram referidos pelos

indivíduos como mais positivos do que negativos; todas as fontes de suporte foram

consideradas como mais positivas do que negativas, excepto a comunidade; e

relativamente à relação entre a resiliência e o suporte social, os indivíduos com a

pontuação mais alta na escala de resiliência foram também os que referiram mais vezes

o suporte da família, os que fizeram mais vezes referência ao suporte emocional do que

instrumental, e também os que possuíram percepções mais positivas acerca do suporte

social percebido.

Palavras-chave: Resiliência; Acontecimento potencialmente traumático; Suporte

Social.

III

Abstract

The present study aims, as general goal, to understand in which way the characteristics

of the lived situation and the social support relates with resilience, after living a

potential traumatic event. This investigation is exploratory, so we used a qualitative

methodology, with the help of quantitative instruments for the collect of the data. We

used a semi-structured interview as a qualitative methodology, and the Connor-

Davidson Resilience Scale (CD-RISC) as a quantitative methodology.

The sample was collected trough the database of the Centro de Orientação de Doentes

Urgentes in Lisbon, in INEM. This sample is constituted by adults of both genders,

which had lived a potential traumatic situation, in no longer than a week.

After that, we did a qualitative analysis of the data, using the software of data analysis

NVivo 10. We concluded that the individuals with less than 40 years old and the

individuals who have more than two kids had better results in the resilience scale; the

emotional support was more referred than the instrumental support, regardless of age,

gender, marital status, number of kids, education and characteristics of the lived

situation; family was, in general, the social support source more referred; both

emotional support and instrumental support were referred by the individuals as more

positive than negative; all sources of support were considered as more positive than

negative, except for the community; and regarding the relationship between the social

support and resilience, the individuals with the highest score in the resilience scale were

also the ones that referred more often the family support, the ones that referred more

often the emotional support than the instrumental support, and also the ones that

possessed more positive perceptions about the perceived social support.

Key-Words: Resilience; Potential Traumatic Event; Social Support.

IV

Índice

Introdução ..................................................................................................................... 1

1. Enquadramento teórico .......................................................................................... 2

1.1 Trauma Psicológico ............................................................................................. 2

1.2 Resiliência ........................................................................................................... 6

Resiliência versos Recuperação.............................................................................. 8

Resiliência como resposta mais comum face a um acontecimento potencialmente

traumático ............................................................................................................ 10

Construtos psicológicos relevantes associados à resiliência .................................. 11

1.3 Suporte Social ................................................................................................... 12

Componentes, aspectos e dimensões do suporte social ......................................... 14

Aspectos diferenciais do suporte social ................................................................ 16

2 – Metodologia .......................................................................................................... 17

2.1 O desenho da investigação ................................................................................. 17

2.2 Questão Inicial ................................................................................................... 18

2.2.1 Mapa conceptual ......................................................................................... 18

2.3 Objectivos ......................................................................................................... 19

2.3.1 Objectivo Geral ........................................................................................... 19

2.3.2 Objectivos Específicos ................................................................................ 19

2.4 Questões de Investigação ................................................................................... 20

2.5 Estratégia Metodológica .................................................................................... 20

2.5.1 Caracterização da Amostra .......................................................................... 21

2.5.2 Instrumentos Utilizados ............................................................................... 22

2.5.2.1 Entrevista Semi-Estruturada ..................................................................... 22

2.5.2.2 CD-RISC.................................................................................................. 23

V

2.5.2.3 Questionário Sócio-Contextual ................................................................. 24

2.5.3 Procedimentos de recolha de dados ............................................................. 24

2.5.4. Procedimentos de análise de dados ............................................................. 25

3. Resultados ........................................................................................................... 26

3.1 Resultados qualitativos ...................................................................................... 26

3.1.1. Descrição dos resultados da análise de conteúdo das entrevistas ................. 26

3.1.2.Relação entre as variáveis Sócio-contextuais e a Resiliência ........................ 29

3.1.2.1. Relação entre Resiliência e Idade ...................................................... 29

3.1.2.2. Relação entre Resiliência e Sexo ....................................................... 30

3.1.2.3. Relação entre Resiliência e Estado Civil ........................................... 30

3.1.2.4. Relação entre Resiliência e Número de Filhos ................................... 30

3.1.2.5. Relação entre Resiliência e Habilitações Literárias............................ 30

3.1.2.6. Relação entre Resiliência e Características da Situação Vivida .......... 31

3.1.3. Relação entre variáveis Sócio-Contextuais e Suporte Social ................. 31

3.1.3.1. Relação entre o Tipo de Suporte Social e a Idade .............................. 31

3.1.3.2. Relação entre o Tipo de Suporte Social e o Sexo ............................... 32

3.1.3.3. Relação entre o Tipo de Suporte Social e o Estado Civil ................... 33

3.1.3.4. Relação entre o Tipo de Suporte Social e o Número de Filhos ........... 33

3.1.3.5. Relação entre o Tipo de Suporte Social e as Habilitações Literárias .. 34

3.1.3.5. Relação entre o Tipo de Suporte Social e as Características da Situação

Vivida ........................................................................................................... 35

3.1.3.6. Relação entre as Fontes de Suporte Social e a Idade .......................... 36

3.1.3.7. Relação entre as Fontes de Suporte Social e o Sexo........................... 37

3.1.3.8. Relação entre as Fontes de Suporte Social e Estado Civil .................. 38

3.1.3.9. Relação entre as Fontes de Suporte Social e as Características da

Situação vivida. ............................................................................................. 39

3.1.4.Percepção de Suporte Social ........................................................................ 40

VI

3.1.4.1.Relação entre a Percepção de Suporte Social e o Tipo de Suporte Social

...................................................................................................................... 40

3.1.4.2.Relação entre Percepção de Suporte Social e Fontes de Suporte Social

...................................................................................................................... 41

3.1.5.Relações entre a Resiliência e o Suporte Social ..................................... 42

3.1.5.1. Relação entre Resiliência e Percepção de Suporte Social ................... 42

3.1.5.2. Relação entre Resiliência e Fontes de Suporte Social ........................ 43

3.1.5.3. Relação entre Resiliência e Tipos de Suporte Social .......................... 44

4. Discussão dos Resultados ........................................................................................ 45

4.1. Relação entre as variáveis sócio-contextuais e a resiliência ............................... 45

4.2. Relação entre as variáveis sócio-contextuais e o Suporte social ......................... 46

4.2.1. Relação entre as variáveis sócio-contextuais e o Tipo de suporte social ...... 46

4.2.2. Relação entre as variáveis sócio-contextuais e as Fontes de Suporte Social . 47

4.3. Relação entre o suporte social e a sua percepção ............................................... 49

4.4. Resiliência e Suporte social .............................................................................. 50

4.4.1. Relação entre resiliência e fontes de suporte social ..................................... 50

4.4.2. Relação entre resiliência e tipos de suporte social ....................................... 50

4.4.3. Relação entre a percepção de suporte social e a resiliência ......................... 50

5. Conclusão ............................................................................................................... 52

5.1. Conclusões Gerais ............................................................................................ 52

5.2. Contributos ....................................................................................................... 52

5.3. Limitações ........................................................................................................ 53

5.4. Propostas para investigações futuras. ................................................................ 53

Bibliografia ................................................................................................................. 54

VII

Índice Figuras

Figura 1 – Quadro de Referência Conceptual .............................................................. 29

Figura 2 - Sexo ........................................................................................................... 21

Figura 3 – Estdado Cívil ............................................................................................. 21

Figura 4 – Número de Filhos ....................................................................................... 21

Figura 5 – Habilitações Literárias ................................................................................ 21

Figura 6 – Características da Situação Vivida .............................................................. 21

Índice Quadros

Quadro 1 - Relação entre Resiliência e Idade .............................................................. 29

Quadro 2 - Relação entre Resiliência e Nº de Filhos .................................................... 30

Quadro 3 - Relação entre o tipo de Suporte Social e a Idade ........................................ 31

Quadro 4 - Relação entre o tipo de Suporte Social e o Sexo......................................... 32

Quadro 5 - Relação entre o tipo de Suporte Social e o Estado Civil ............................. 33

Quadro 6 - Relação entre o tipo de Suporte Social e o Número de filhos ..................... 33

Quadro 7 - Relação entre o tipo de Suporte Social e as Habilitações Literárias ............ 34

Quadro 8 - Relação entre o tipo de Suporte Social e as Características da Situação

Vivida ......................................................................................................................... 35

Quadro 9 - Relação entre as fontes de Suporte Social e a Idade ................................... 36

Quadro 10 - Relação entre as fontes de Suporte Social e o Sexo .................................. 37

Quadro 11 - Relação entre as fontes de Suporte Social e o Estado Civil....................... 38

Quadro 12 - Relação entre as fontes de Suporte Social e as Características da Situação

Vivida ......................................................................................................................... 39

Quadro 13 - Relação entre a Percepção de Suporte Social e o Tipo de Suporte Social . 40

Quadro 14 - Relação entre Percepção de Suporte Social e Fontes de Suporte Social .... 41

Quadro 15 - Relação entre Resiliência e Percepção de Suporte Social ......................... 42

Quadro 16 - Relação entre Resiliência e Fontes de Suporte Social ............................... 43

Quadro 17 - Relação entre Resiliência e Tipos de Suporte Social ................................ 44

Apêndices

Apêndice I – Árvore de Categorias

VIII

Anexos

Anexo I – Guião de Entrevista Semi-Estruturada

Anexo II – Consentimento Informado

Anexo III – Connor-Davidson Resilience Scale (CD-RISC) - Traduzida

Anexo IV – Questionário Sócio-Contextual

1

Introdução

Quando sujeito a um acontecimento potencialmente traumático, o ser humano

responde de uma forma condicionada, que depende das suas aprendizagens, da sua

personalidade, dos seus recursos e das características da própria situação que viveu.

Todos estes factores conferem a este fenómeno uma subjectividade única, ou

seja, aquilo que é traumático para um indivíduo, pode não o ser para outro (mesmo

vivenciado a mesma situação); e, mesmo se a situação for traumática para ambos os

indivíduos, estes irão reagir de formas diferentes (Guerreiro, Brito, Batista & Galvão,

2007). Segundo a literatura, este tipo de situações é vivido quase universalmente por

todos os indivíduos, mas o facto de existir uma grande gama de reacções possíveis,

levou a uma controvérsia entre investigadores em relação à capacidade dos indivíduos

para lidar com este tipo de experiências. No entanto, embora as reacções e os níveis de

sintomatologia tendam a variar dependendo do acontecimento vivido, a resiliência surge

como resposta mais comum.

Sendo assim, o principal objectivo da investigação na área da resiliência

psicológica, é operacionalizar o conceito ao ponto de compreender o porquê das

diversas respostas ao stress de diferentes indivíduos – o porquê de alguns cederem ao

stress e outros não. Esta questão pode ser respondida num plano teórico, através da

existência de factores protectores e de factores de risco que todos os indivíduos

possuem.

O suporte social é visto, então, como um dos grandes factores protectores que

condiciona a resposta resiliente dos indivíduos.

A presente investigação inere-se nas temáticas referidas (resiliência, suporte

social, e características da situação vivida) e tem como objectivo compreender as

relações entre as três, e de que forma estas se afectam mutuamente.

Por esta ser uma área muito específica, este estudo trabalho poderá ser um bom

ponto de partida para estudos futuros. A resiliência é já um tema já muito estudado, no

entanto este tipo de amostra nunca foi utilizada em estudos com população portuguesa,

e os estudos qualitativos na área do trauma são raros.

O presente trabalho está organizada em várias secções, nomeadamente: 1) uma

breve revisão bibliográfica acerca das temáticas de investigação; 2) descrição da

metodologia utilizada; 3) apresentação dos resultados; 4) discussão dos mesmos; e 5)

principais conclusões.

2

1. Enquadramento teórico

1.1 Trauma Psicológico

“Trauma”, na sua raiz etimológica grega, significa “lesão causada por um agente

externo” (Peres, Mercante & Nasello, 2005). Este conceito foi adaptado à área científica

da Psicologia, e neste campo, supõe-se que um trauma ocorre quando as defesas

psicológicas naturais são ultrapassadas pelo evento traumático.

Um evento traumático é definido como uma situação que envolve a experiência

de morte, perigo de morte, lesões significativas ou riscos para a integridade (do próprio

ou dos outros), em que a resposta do indivíduo se traduziu num medo intenso ou numa

sensação de impotência (Guerreiro, Brito, Batista & Galvão, 2007).

O trauma pode, assim, ser qualquer evento que envolva a exposição do indivíduo

a um incidente onde a morte ou ferimentos eram uma possibilidade e em que existiram

sentimentos de terror e falta de esperança (Allen, 1995; Maxman & Ward, 1995;

Rosenbloom, Williamns, & Watkins, 1999, citados por Uruk, Sayger & Gogdal., 2007).

Este leva a consequências negativas tais como o medo pela perda da própria vida ou

pela vida de pessoas próximas, ao stress físico e emocional e pode até causar uma

ruptura significativa na vida do indivíduo (Triplett, Tedeschi, Cann, Calhoun & Reeve,

2012).

O conceito de trauma psicológico refere-se ao impacto extremo que uma

situação de stress tem no funcionamento de um indivíduo (Guerreiro, Brito, Batista &

Galvão, 2007). Situações de guerra, rapto, actos de terrorismo, desastres naturais,

homicídios, assaltos, violência física e sexual, acidentes ou doenças com risco de vida,

são alguns exemplos de eventos traumáticos que podem ocorrer em indivíduos ou

famílias.

Para Freud, o trauma psíquico caracteriza-se por um fluxo de excitações que se

torna excessivo relativamente à tolerância do indivíduo e à sua capacidade para dominar

e elaborar essas excitações (Peres, Mercante & Nasello, 2005).

A maioria dos clínicos e investigadores concorda que o trauma psicológico tem

três componentes principais: o facto da experiencia traumática ser inesperada, os

indivíduos ou individuo não estarem preparados para a mesma, e de não haver nada que

pudessem fazer para prevenir a ocorrência da experiencia traumática (Torres Bernal &

Mille, 2011).

3

O impacto do trauma pode ser muito forte e multidimensional, visto que afecta a

estrutura individual da vítima, assim como as suas relações inter-pessoais. Afecta

também todas as dimensões do funcionamento comportamental e as respostas

psicológicas às lesões físicas e psicológicas (Torres Bernal & Mille, 2011).

Os efeitos do trauma podem desafiar o sistema de crenças da vítima (os seus

significados e expectativas em relação aos outros e à própria vida). Estes efeitos podem

criar mudanças na forma de ver o mundo, acerca da natureza humana, padrões de

intimidade, relações interpessoais e concepções acerca da própria identidade (Wilson et.

al, 2004, citado por Torres Bernal & Mille, 2011). O impacto nas relações pessoais

manifesta-se através de alguns sintomas como a alienação, falta de confiança,

isolamento, anedonia, impulsividade, raiva, incapacidade para relaxar e limites pessoais

inapropriados (Torres Bernal & Mille, 2011).

O trauma extremo ataca a pessoa em profundidade – resultando num dano

estrutural da organização do self (causando, por exemplo, dúvida, culpa, vergonha,

incerteza, vulnerabilidade, tendências auto-destrutivas e perda de espiritualidade),

(Wilson e tal, 2004, citado por Torres Bernal & Mille, 2011).

Segundo Albuquerque (citado por Guerreiro et al., 2007), a taxa de exposição a

eventos traumáticos na população portuguesa é de cerca de 75 %, sendo que 29,3%

assistiram a uma morte violenta de um amigo ou familiar, roubo ou assalto, 22,7%

assistiram a um roubo ou assalto, 22.2 % testemunharam um acidente grave ou mesmo

morte e 7,4 foram expostos a uma situação de guerra. Posto isto, pode se dizer que a

maioria dos indivíduos já experienciou, ou irá experienciar, pelo menos um

acontecimento traumático que ponha em risco a sua vida ou a vida de outrem.

A vivência de um evento traumático pode levar o indivíduo a reexaminar os

elementos principais das crenças que definem a sua visão do mundo. Quanto maior a

necessidade de reexaminar as crenças, maior a probabilidade de experienciar

crescimento após o trauma (Cann et al., 2010, citado por Triplett, Tedeschi, Cann,

Calhoun & Reeve, 2012).

A forma como os indivíduos processam o evento traumático é, pois,

determinante para que o trauma se dê ou não. A definição de um evento como

traumático não depende apenas do estímulo que provoca o stress, mas também da forma

com o indivíduo processa e interpreta a ocorrência (Peres, Mercante & Nasello, 2005).

Várias pessoas podem viver e experimentar situações distintas e vivenciar aspectos

comuns, mas também pode acontecer que memórias sobre as mesmas ocorrências sejam

4

diferentes (podendo ser similares, mas nunca idênticas). Os diálogos internos, baseados

nos processos auto-referentes das experiências diárias, irão afectar o relacionamento

externo com os eventos quotidianos e com os episódios traumáticos, logo, a experiência

que é reconstruída como uma memória deve ser respeitada como um processo

subjectivo (Peres, Mercante & Nasello, 2005).

Assim, a narrativa feita da memória do evento traumático é sempre influenciada

pelas representações da realidade e pelas dinâmicas psicológicas do indivíduo, que

configuram a interpretação que é feita do evento.

Após este tipo de ocorrências, alguns indivíduos sentem dificuldade de

concentração, ansiedade, confusão, depressão e podem não se alimentar ou descansar o

suficiente. O stress resultante deste tipo de experiencias afecta todos os indivíduos,

mesmo os emocionalmente mais fortes, visto que são situações que afectam os

sentimentos de segurança e de justiça, e requerem muitas vezes que o indivíduo se

adapte a novas condições de vida.

A capacidade individual para lidar com a exposição ao trauma é largamente

influenciada pelos contextos individuais e sociais, como o suporte social, variáveis de

personalidade, funcionamento cognitivo, condições psicológicas existentes antes do

trauma, capacidades comportamentais, e duração e intensidade do acontecimento

traumático (Keane, 1989, citado por Uruk, Sayger & Gogdal., 2007).

Quando não está sujeito a situações de elevada carga emocional ou stress, o ser

humano apresenta um funcionamento baseado numa avaliação constante do contexto e

orientado para a tarefa – este funcionamento denomina-se funcionamento racional.

Relacionado com este funcionamento, encontra-se o funcionamento emocional,

onde se encontram os desejos, emoções, preocupações instintos, etc. – que influenciam

de forma indirecta o funcionamento racional. Perante situações de elevada carga

emocional, como é o caso das situações traumáticas, o funcionamento racional do dia-a-

dia é substituído pelo funcionamento emocional (Guerreiro, Brito, Batista & Galvão,

2007).

Quando tal acontece, por vezes o que era um comportamento adequado, torna-se

num comportamento que pode demonstrar desorientação no tempo e no espaço,

incapacidade para falar claramente, choro, ou comportamento orientado para a

sobrevivência. Também podem ser detectadas diferenças a nível físico – todo o nosso

corpo é preparado para uma possível resposta de fuga ou luta, e quanto mais grave for a

5

percepção de ameaça, mais emocional será o funcionamento e mais recursos instintivos

serão utilizados (Guerreiro, Brito, Batista & Galvão, 2007).

Prevenir e diminuir o impacto pós-traumático é essencial para restaurar as

funções psíquicas e readaptar os indivíduos às novas condições (Carvalho & Borges,

2009).

Vários estudos mostram que a família tem um impacto positivo na regulação do

stress proveniente do trauma. Sendo esta a unidade básica do sistema social do

indivíduo, é considerada como o sistema mais importante devido ao seu impacto

específico no desenvolvimento da personalidade e bem-estar dos indivíduos (Uruk,

Sayger & Gogdal, 2007).

A família providencia um modelo de adaptabilidade, mostrando através do seu

funcionamento básico, a forma como uma estrutura pode mudar, a forma de

desenvolvimento das relações e como estas são formadas. Um ambiente familiar

positivo e funcional deve oferecer suporte, expressividade e coesão, sendo que a coesão

familiar está relacionada com o bem-estar psicológico (Uruk, Sayger & Gogdal., 2007).

Apesar deste do tipo de experiências descritas anteriormente serem vividas

quase universalmente, existem grandes diferenças individuais na forma como os

indivíduos reagem e lidam com as mesmas (Bonnano & Kaltman, 1999; citado por

Mancini & Bonanno 2006). Existe uma grande gama de reacções possíveis a estes

acontecimentos, considerados como “potencialmente traumáticos”, o que levou a uma

controvérsia entre investigadores em relação à capacidade dos indivíduos para lidar com

este tipo de experiências.

Após a vivência de um acontecimento potencialmente traumático, o trauma não

tem necessariamente que surgir. São possíveis diferentes caminhos neste percurso, tanto

com resultados positivos como com negativos. O tipo, o timing e o nível de suporte

social disponível e/ou acessível para os indivíduos e grupos afectados pode ser

determinante para os resultados (Almedom, 2005).

Até há relativamente pouco tempo, pouca atenção tem sido dada à reacção

oposta – a manutenção de um funcionamento saudável relativamente estável. No

passado, ao ser considerado este padrão, este era tipicamente visto como resultante de

uma negação extrema ou como o sinal de uma força emocional excepcional.

6

1.2 Resiliência

“A resiliência é um conceito original proveniente da física, ciência na qual este

constructo é definido como a capacidade de um material absorver energia sem sofrer

deformação plástica.” (Poletto & Koller, 2008, p. 408). Em Psicologia este conceito não

pode ser utilizado da mesma forma, pois é impossível, após o evento stressor, o

indivíduo voltar à “forma” inicial – o indivíduo cresce, evolui, desenvolve-se.

Define-se como a capacidade de um indivíduo se projectar no futuro apesar de

acontecimentos adversos, de condições de vida complicadas e traumas potencialmente

graves (Manciaux, Vanistendael, Lecomte & Cyrulnik, 2001, citados por Poseck,

Baquero & Jiménez, 2006). É entendida como a capacidade para manter um

funcionamento adaptativo (tanto das funções físicas como psicológicas) em situações

criticas.

Bonanno define a resiliência como “a capacidade dos adultos, em circunstâncias

normais, que são expostos a um acontecimento isolado e potencialmente disruptivo, tal

como a morte de uma pessoa próxima ou uma situação violenta que ameace a vida do

próprio, de se manterem relativamente estáveis e manterem níveis saudáveis de

funcionamento psicológico e físico”, assim como a “capacidade para gerar experiências

e emoções positivas” (Bonanno, 2004; citado por Mancini & Bonanno, 2006, pag 972).

A resiliência refere-se a um processo dinâmico que abrange a adaptação positiva

a um contexto de adversidade significativa. Neste conceito estão implícitas duas

condições: (a) a exposição a uma ameaça significativa ou adversidade; e (b) o alcançar

de uma adaptação positiva apesar dos impedimentos que possam surgir ao processo de

desenvolvimento (Garmezy, 1990, citado por Luthar, Cicchetti & Becker, 2000).

Uma geração mais recente de investigadores, postula a noção de resiliência

enquanto processo (que implica uma dinâmica entre factores de risco e factores de

resiliência – factores protectores) que permite ao indivíduo superar a adversidade

(Infante, 2005).

Edith Grothberg (1999), citado por Infante (2005) e por Gargurevich, (2010), foi

pioneira na noção dinâmica de resiliência. A autora define que esta requer a interacção

de factores resilientes provenientes de três níveis diferentes:

1. “Eu tenho” - nível que faz referência ao suporte social (como por exemplo, a

presença de amigos ou familiares que oferecem auxílio em situações de stress);

7

2. “Eu posso”- nível que se relaciona com as diversas competências necessárias

para superar determinadas situações, como a geração de ideias novas e criativas

e a capacidade de comunicação com os outros;

3. “Eu sou” – nível que se refere a factores que evidenciam forças internas, tais

como ser optimista e responsável e confiar em si próprio.

Autores mais recentes como Luthar e Cushing (1999), Masten (1999), Kaplan

(1999) e Benard (1999), citados por Infante (2005) entendem a o conceito de resiliência

como um processo dinâmico, onde existe interacção entre as forças do ambiente e do

individuo, interagindo estas numa relação de reciprocidade.

A maioria destes autores, considerados autores de uma segunda geração,

simpatiza com o modelo ecológico-transaccional de resiliência, que tem as suas bases

no modelo ecológico de Bronfenbrenner. Este modelo postula que o indivíduo está

inserido uma ecologia determinada por diferentes níveis (individual, familiar,

comunitário e cultural), que interagem entre si, influenciando directamente o seu

desenvolvimento (Infante, 2005).

A Resiliência não significa resistência absoluta a todas as adversidades – pode

implicar enfrentamento. Esta não é uma característica absoluta, que uma vez adquirida

se mantém para sempre, é dinâmica e dependente das circunstâncias, da natureza do

trauma, do contexto e da etapa de vida do indivíduo.

Surge da interacção entre o indivíduo e o seu ambiente – falar de resiliência em

termos individuais é um erro.

Não é uma característica ou traço individual – pode ser desencadeada em certas

alturas e desaparecer noutras, assim como estar presente em algumas áreas da vida e

ausente noutras. Não é uma capacidade inata ou herdada, mas sim entendida a partir da

interacção entre características do indivíduo e a complexidade do contexto ecológico

(Cowan e Schulz, 1996, citado por Poletto & Koller, 2008).

É um conceito multifacetado, contextual e dinâmico (Masten, 2001, citado por

Poletto & Koller, 2008), no qual os factores de protecção têm a função de interagir com

os efeitos de vida e accionar processos que permitam a adaptação e a saúde emocional.

Um dos pontos que mais desperta a atenção em torno da resiliência, são os

factores que a promovem. Neste sentido, a investigação propõe que algumas

características da personalidade e do ambiente favorecem as respostas resilientes

(Poseck, Baquero & Jiménez, 2006), como a auto-confiança, a capacidade de

8

afrontamento, o apoio social, a existência de objectivos de vida, e acreditar que se pode

aprender com as experiências não só positivas mas também negativas.

Este fenómeno inclui dois aspectos considerados importantes: a capacidade de

resistir ao sucedido e a capacidade de recuperar do mesmo (Bonanno & Kaltman, 2001).

As pessoas resilientes conseguem manter o equilíbrio da sua vida quotidiana,

sem que isso afecte, mesmo durante uma ocorrência traumática.

Ao longo da história, o conceito de resiliência foi tendo várias definições, mas a

que melhor representa uma segunda geração de investigadores é a adoptada por Luthar

et al., (2000), citado por Infante (2005), a qual define resiliência como “um processo

dinâmico que tem como resultado a adaptação positiva em contextos de grande

adversidade” (p. 26). Esta definição distingue três componentes essenciais que devem

estar presentes no conceito de resiliência:

1. A noção de adversidade, trauma, risco ou ameaça ao desenvolvimento humano;

2. A adaptação positiva ou superação da adversidade;

3. O processo que considera a dinâmica entre mecanismos emocionais, cognitivos

e socioculturais que influem no desenvolvimento humano.

A adaptação é considerada positiva quando o individuo alcançou as expectativas

sociais relativas à sua etapa de desenvolvimento, ou quando não foram detectados sinais

de desajuste. Segundo a definição do conceito de resiliência, para que seja considerado

que o indivíduo passou por um processo resiliente, este deve obter uma adaptação

positiva, apesar de ter sido exposto a uma situação adversa.

Ainda não foi operacionalizada uma definição de resiliência, ao ponto de se

poder dizer ao certo o porquê de um individuo sucumbir ao stress quando exposto a um

determinado evento negativo, enquanto outro não – mas este é o principal objectivo da

investigação na área da resiliência psicológica.

Actualmente, a resiliência é reconhecida como um processo comum e presente

no desenvolvimento de todos os indivíduos, estando o termo mais normalizado.

Resiliência versos Recuperação

Vários estudos realizados com adultos, mostraram a permanência de um

funcionamento resiliente dos mesmos após a ocorrência de um acontecimento

9

potencialmente traumático ( Rachman, 1978; citado por Bonanno, Galea, Bucciarelli &

Vlahov, 2006), e salientaram a distinção entre indivíduos resilientes e indivíduos que

mostram uma recuperação gradual do trauma (Bonanno, 2004). Os termos “resiliência”

e “recuperação”, são usados muitas vezes como sinónimos, ou simplesmente colocados

numa categoria de “Não-PTSD”.

A recuperação é definida por um aumento moderado a severo nos sintomas

psicológicos, que altera de forma significativa o funcionamento normal do individuo, e

que apenas volta ao normal gradualmente e ao longo de vários meses (até voltar aos

níveis normais “pré-trauma”). Em contraste, a resiliência é caracterizada por alterações

leves e de pouca duração e por um funcionamento estável e saudável ao longo do

tempo.

A diferença principal entre estes dois conceitos parece residir no facto de que os

indivíduos resilientes são capazes de lidar com as experiências mais desafiantes sem que

isto interfira com a sua capacidade de manter um funcionamento normal. As pessoas

resilientes, durante este período, perante um acontecimento potencialmente traumático

não passam por um período de disfuncionalidade, permanecendo sempre em níveis

funcionais - podendo passar por um breve período de disfuncionalidade, continuando no

entanto, a funcionar dentro dos seus níveis normais (continuam a cumprir com as suas

responsabilidades sociais, mantêm as emoções positivas e podem comprometer-se com

novas actividades).

A resiliência surge, portanto, como um fenómeno complexo que resulta de

diversos factores (e.g. variáveis pessoais como a personalidade; variáveis interpessoais

como as relações de suporte; variáveis do stressor, como o tipo, a severidade e

respectiva duração).

Diversas questões se colocam relativamente à avaliação da resiliência. Com

efeito, embora os indivíduos possam possuir características globalmente associadas à

resiliência, esta só pode ser definida em termos do resultado após a ocorrência de um

acontecimento potencialmente traumático, ou seja, só após a ocorrência desse mesmo

acontecimento, é possível perceber se o individuo apresenta ou não um comportamento

resiliente face ao mesmo – e só depois se podem documentar os factores promotores ou

não promotores desse comportamento.

Uma crítica ao conceito de resiliência é a de que os indivíduos que não

demonstram reacções adversas, poderiam estar simplesmente a exibir uma forma

superficial de ajustamento, e que, consequentemente, têm a probabilidade de manifestar

10

reacções tardias. Com efeito, reacções tardias ao trauma têm sido observadas, em cerca

de 5 a 10% dos indivíduos expostos a um acontecimento adverso; no entanto, essas

reacções são tipicamente caracterizadas pela existência de reacções iniciais elevadas

(por vezes já próximas do stress pós-traumático), que crescem com o passar do tempo

(Mancini & Bonanno, 2006).

É importante realçar que o padrão resiliente não implica que os indivíduos que

vivem um acontecimento potencialmente traumático não experienciem sentimentos de

tristeza, conseguindo preservar o seu nível normal de funcionamento.

É também importante distinguir resiliência de “invulnerabilidade”, visto que a

resiliência, ao contrário da invulnerabilidade, implica que o individuo afectado pelo

stress ou situação adversa, consiga superar e, ao mesmo tempo, saia fortalecido .Ou

seja, a resiliência implica um processo que pode ser desenvolvido e promovido,

enquanto a invulnerabilidade é considerada como um traço intrínseco do indivíduo

(Rutter, 1991; citado por Infante, 2005).

Estudos realizados após o 11 de Setembro, em Nova Iorque, revelaram que a

resiliência foi mais prevalente em indivíduos casados (em comparação com indivíduos

solteiros, divorciados ou separados), em indivíduos com mais anos de escolaridade, em

indivíduos mais novos, e em indivíduos do sexo masculino (Mancini & Bonanno,

2006).

Não há, no entanto, evidências de que a resiliência seja o reflexo da existência

de estratégias de coping extraordinárias, ou de uma falta de capacidade patológica para

experienciar a dor da perda. A resiliência parece ser, porém, uma expressão normativa

da capacidade dos indivíduos para lidar com os acontecimentos de vida mais exigentes

(Mancini & Bonanno, 2006).

Resiliência como resposta mais comum face a um acontecimento

potencialmente traumático

Embora exista uma gama muito variada de respostas face a acontecimentos

potencialmente traumáticos, descobriu-se que a resiliência após este tipo de

acontecimentos é surpreendentemente comum, ou seja a maioria dos indivíduos

expostos a este tipo de acontecimentos demonstra resiliência.

Foi vastamente assumido na literatura, que a resposta mais comum a este tipo de

eventos é a recuperação. No entanto, embora os níveis de sintomatologia tendam a

11

variar dependendo do tipo de acontecimento, a resiliência surge como resposta mais

comum,

Construtos psicológicos relevantes associados à resiliência

Yeruda, Flory, Southwick e Charney (2006), delinearam alguns elementos

associados à resiliência, como a afectividade positiva e optimismo, a flexibilidade

cognitiva, incluindo o coping religioso, suporte social e intimidade, regulação

emocional e mestria/controlo (“Mastery”).

A afectividade positiva refere-se ao traço responsável pelo individuo se manter

alegre, interessado e satisfeito com a vida. O facto de este traço estar associado à

resiliência é suportado por estudos que mostram que a afectividade positiva diminui a

excitação autónoma e facilita a reavaliação positiva (Folkman & Moskowitz, 2004).

O optimismo está relacionado com o afecto positivo e pode estar associado à

resiliência. Isto é evidenciado por estudos que mostram que os optimistas tendem a lidar

de forma mais eficiente com os stressores do que os pessimistas, tendem a usar mais

estratégias de coping adaptativas (e.g.reinterpretação positiva), ou seja, usam estratégias

diferentes de coping que contribuem para uma associação positiva entre o optimismo e

um melhor ajustamento. Os optimistas tendem também a procurar mais as relações

pessoais de suporte durante as transições normativas e durante as crises. Os estudos

neste tema sugerem, assim, que a capacidade dos optimistas para atrair uma suporte

social de melhor qualidade pode ajudar a que o seu ajustamento seja superior perante

sutuaç~ies de vida stressantes (Brissette, Scheier & Carver, 2002.).

A flexibilidade cognitiva (e.g. reenquadramento positivo), refere-se à capacidade

de reinterpretar um evento adverso de forma a retirar significado deste. Esta

característica foi relacionada com uma menor probabilidade de desenvolver stress pós-

traumático em veteranos de guerra (Aldwin, Levenson & Spiro, 1994), um melhor

ajustamento após a perda de um ente querido (Davis, 1998; citado por Yeruda, Flory,

Southwick & Charney, 2006), e com um melhor ajustamento depois de sobreviver a um

desastre natural (Dollinger, 1986; citado por Yeruda, Flory, Southwick & Charney,

2006).

As estratégias activas de coping têm sido associadas com a capacidade de lidar

com situações stressantes, menos sintomas psicológicos e um bem-estar psicológico

12

aumentado. Outra forma de coping que pode ser eficiente neste tipo de situações, é o

coping religioso, que é também associado a um melhor ajustamento. A religiosidade

relaciona-se com uma melhor saúde mental através de vários mecanismos que podem

ser utilizados, como por exemplo, a prática de meditação, a força motivacional e

orientação para a vida fornecida pela religião, o sentimento de proximidade a Deus ou

outra força espiritual, ou através da rede de suporte conseguida através da pertença a

grupos religiosos (Ai & Park, 2005; citados por Yeruda, Flory, Southwick & Charney,

2006).

O suporte social envolve a avaliação feita pelo indivíduo relativamente à sua

rede de suporte, incluindo o suporte tangível, o amor, intimidade, e aspectos de

integração social (como por exemplo a frequência de contactos com a família e amigos

e a participação em grupos sociais e religiosos).

A capacidade de regular a emoção negativa pode ser protector em relação às

reacções adversas ao stress ou em relação à exposição ao trauma, mas isto é algo que

ainda não foi sistematicamente estudado.

A mestria/controlo (“Mastery”) refere-se à crença individual do indivíduo em

relação a si próprio, de que consegue resolver os seus problemas, e/ou responder de

forma efectiva face ao stress (Pearlin, Lieberman & Menaghan et al., 2003; citado por

Yeruda, Flory, Southwick & Charney, 2006).

1.3. Suporte Social

Existe uma vasta literatura que demonstra que os acontecimentos stressantes têm

um papel importante no surgimento de distúrbios físicos e psicológicos.

Os indivíduos respondem de formas variadas aos eventos stressores. Existem, no

entanto, factores que intervêm contra os efeitos negativos do stress, e entre as variáveis

identificadas na literatura, o suporte social foi uma das que mereceu uma atenção

considerável.

O suporte social refere-se às relações dos indivíduos que lhes proporcionam

assistência ou ajuda, podendo esta ser concreta ou emocional, e que são percebidas

como comportamentos de afecto (Hobfoll & Stephens, 1990; citado por Gargurevich,

2010).

Podem ser distinguidos diferentes tipos de suporte social. A distinção mais

comum é feita entre suporte social recebido e suporte social percebido (Gargurevich,

13

Chaparro & Lvyten, 2007). O suporte social recebido refere-se às acções efectivamente

realizadas no sentido de oferecer ajuda, enquanto o suporte social percebido faz

referência às crenças do indivíduo de que receberá ajuda quando desta necessitar.

(Barrera, 1986; Norris & Kaniasty, 1996). A investigação tem sublinhado a

superioridade do suporte social percebido (em relação ao efectivamente recebido), visto

que este promove mais consistentemente a saúde psicológica e é mais protector em

alturas de stress (Norris & Kaniasty, 1996).

Outra distinção que é feita usualmente é entre suporte social instrumental e

suporte social emocional, sendo que o primeiro se refere ao auxilio dado aos indivíduos

na resolução de problemas de natureza prática (mais relacionados com elementos

materiais), enquanto o segundo está mais relacionado com a providencia de segurança

emocional, o que leva o indivíduo a sentir-se apoiado, respeitado, acompanhado e que

os outros são capazes de providenciar segurança (Jacobson, 1986).

Uma outra forma de classificar o suporte social é a de Dunst e Trivette (1990,

citados por Ribeiro 1999), os quais distinguem duas fontes de suporte social: informal –

onde se incluem os indivíduos (família, amigos, etc.) e os grupos sociais (grupos,

clubes, igreja, etc.) que podem fornecer suporte em resposta a acontecimentos de vida

normativos e não normativos; e formal – que abrange as organizações sociais formais

(como hospitais), como as profissionais (médicos, assistentes sociais, psicólogos), e que

está organizado de forma a fornecer assistência às pessoas que dela necessitam.

O suporte social é, então, definido como sendo a informação que leva o sujeito a

acreditar que os outros se importam com ele, que o amam e estimam, e que é um

membro de uma rede social com obrigações mútuas. As relações de suporte entre os

indivíduos são um factor protector contra as consequências do stress diário e contra o

stress proveniente de situações de crise (Cobb, 1976).

Cobb (1976), num contexto mais clássico, define suporte social como

informação pertencente a uma das três seguintes categorias: a) informação que conduz o

sujeito a acreditar que é amado, e que se preocupam com ele; b) informação que leva o

indivíduo a acreditar que é apreciado e que tem valor; e c) informação que conduz o

sujeito a acreditar que pertence a uma rede social de obrigações mútuas.

Uma grande variedade de estudos científicos mostra que o suporte social é muito

importante para manter a saúde física e psicológica – este pode moderar

vulnerabilidades genéticas e ambientais e conferir resistência ao stress (Ozbay, Johnson,

Dimoulas, Morgon, Charney, & Southwick, 2007).

14

De um modo geral, a existência de uma rede de suporte social de qualidade

parece aumentar a resistência ao stress, aumentar o bem-estar psicológico (Claudino,

Moreira & Coelho, 2009), ajudar a proteger contra o desenvolvimento de psicopatologia

relacionada com o trauma, diminuir as consequências das desordens induzidas pelo

trauma (tais como o stress pós-traumático), e reduzir a morbilidade e mortalidade

(Southwick, Vythilingan & Charney, 2005).

Schachter (1959), citado por Claudino, Moreira & Coelho 2009), refere que, ao

sentirem-se ameaçados em situações stressantes, os indivíduos evitam estar sozinhos e

preferem estar na presença de outros.

Existem várias evidências acerca do papel importante do suporte social na

resistência ao stress. Alguns investigadores referiram que um aspecto importante do

suporte social, é a sua influência na utilização de estratégias de coping que o indivíduo

utiliza quando está sob influência de factores stressores. Por exemplo, Thoits (1986),

citado por Valentiner, Holahan e Moos (1994), viu o suporte social como uma fonte de

“assistência ao coping”.

Componentes, aspectos e dimensões do suporte social

Há um consenso geral de que o domínio do suporte social é multidimensional, e

que diferentes aspectos do suporte social têm diferentes impactos em indivíduos em

grupos.

Vários autores defendem diferentes componentes e dimensões do suporte social.

Dunst e Trivette (1990, citados por Ribeiro 1999), sugerem a existência de cinco

componentes do suporte social: componente constitucional (que inclui as necessidades

do indivíduo e a congruência entre essas necessidades e o suporte efectivamente

existente); componente relacional (estatuto familiar, estatuto profissional, tamanho da

rede social, participação em organizações sociais); componente funcional (suporte

disponível, tipo de suporte – emocional, informacional, instrumental, material –,

qualidade e quantidade de suporte); componente estrutural (proximidade física,

frequência de contactos, proximidade psicológica, nível da relação, reciprocidade e

consistência da mesma); e componente satisfação (utilidade da ajuda fornecida).

Os mesmos autores apresentam também várias dimensões de suporte social (que

consideram ser as mais importantes para o bem-estar):

15

1. Tamanho da rede social (número de pessoas que constitui a rede social do

individuo);

2. Existência de relações sociais (abrangendo as relações particulares – tais como o

casamento –, e as gerais – que decorrem da pertença a grupos sociais);

3. Frequência de contactos (o número de vezes que o individuo contacta com os

membros da sua rede social);

4. Necessidade de suporte (a necessidade de suporte que o individuo efectivamente

expressa);

5. Tipo e quantidade de suporte (tipo e quantidade de suporte disponibilizado pelos

membros da rede social);

6. Congruência (para definir em que medida o suporte social disponível vai de

encontro às necessidades de suporte do indivíduo);

7. Utilização (a extensão em que o individuo recorre à sua rede social de suporte

quando necessita);

8. Dependência (a extensão em que o indivíduo pode confiar na sua rede de suporte

social quando precisa);

9. Reciprocidade (equilíbrio entre o suporte social fornecido e recebido);

10. Proximidade (extensão da proximidade sentida para com os membros da rede

social de suporte);

11. Satisfação (que exprime a utilidade e nível de ajuda sentidos pelo indivíduo

perante o suporte social recebido).

Na generalidade, os modelos teóricos do suporte social sublinham duas

importantes dimensões: Uma dimensão estrutural (que inclui a frequência das

interacções sociais, e o tamanho da rede de suporte social); e uma dimensão funcional,

com componentes emocionais (como por exemplo, receber amor e sentir empatia por

parte do outro) e instrumentais (ajuda no sentido mais prático (Ozbay, Johnson,

Dimoulas, Morgon, Charney, & Southwick, 2007). Sendo que a maioria das

investigações sugere que a dimensão funcional (onde se insere a qualidade das

relações), é um melhor preditor de uma boa saúde, do que a dimensão estrutural

(quantidade das relações), embora ambas sejam consideradas importantes (Southwick,

Vythilingan & Charney; citado por Ozbay, Johnson, Dimoulas, Morgon, Charney, &

Southwick, 2007).

16

Aspectos diferenciais do suporte social

A investigação tem demonstrado que os aspectos, componentes, e dimensões do

suporte social têm um impacto diferente consoante o grupo etário a quem é dirigido.

Olsen et al. (1991, citado por Ribeiro 1999), verificaram que os elementos mais

importantes no fornecimento de suporte social dependem do grupo etário – com o

cônjuge a exercer uma maior influência em indivíduos entre 30-49 anos, e a família a

exercer uma maior influência no caso de jovens e idosos. Vilhjalmsson (1994),

verificou também que, nos adolescentes, a principal fonte de suporte é constituída pela

família, neste caso os pais (seguida por ordem de importância, pelo suporte social dado

pelos amigos).

A importância da fonte do suporte social também depende bastante do estágio de

desenvolvimento em que o indivíduo que está a receber ajuda se encontra. Foi

mostrado, por exemplo, que a percepção de suporte social nos mais velhos está

associada com o número de interacções sociais, enquanto nos mais novos está associada

com o suporte instrumental (Lynch, Mendelson, Robins, Krishman, George, Johnson &

Blazer, 1999).

Quando sujeito a um acontecimento potencialmente traumático, o ser humano

responde de uma forma condicionada que depende das suas aprendizagens,

personalidade, contexto, suporte social, e características da própria situação. Todos estes

factores fazem com que o fenómeno vivido tenha uma subjectividade única (o que é

traumático para um individuo não tem necessariamente que o ser para outro), e tornam

este tema um tema de interesse para a área da investigação.

O principal objectivo da investigação na área da resiliência psicológica tem sido

a operacionalização deste conceito, no sentido de tentar compreender o porquê da

variedade de respostas individuais possíveis às fontes de stress – porque é que uns

indivíduos cedem ao stress e outros não? Serão os indivíduos, na sua maioria,

resilientes?

17

2 – Metodologia

2.1 O desenho da investigação

Esta investigação foi realizada no âmbito de um projecto de Investigação para

um Programa de Doutoramento em Psicologia Clínica (mais especificamente na área do

Trauma Psicológico e da Resiliência), apresentado à Faculdade de Psicologia da

Universidade de Lisboa pela Dra. Joana Anjos.

A presente amostra trata-se de uma amostra não aleatória por conveniência

(Marôco, 2011, pag.11), visto que os participantes em estudo foram seleccionados pela

sua conveniência (estes tinham de ter passado por um acontecimento potencialmente

traumático há menos de uma semana, o que impossibilita a recolha da amostra de outra

forma). Este tipo de amostragem não é representativo da população, visto que ocorre

quando a participação é voluntária ou os elementos da amostra são escolhidos por uma

questão de conveniência – deste modo os resultados obtidos só se aplicam à amostra

seleccionada (Sousa & Batista, 2011).

A referida amostra foi recolhida através da base de dados do Centro de

Orientação de Doentes Urgentes de Lisboa, no Instituto Nacional de Emergência

Médica (INEM), para onde são reencaminhadas as chamadas feitas para o número

europeu de emergência médica – 112. É constituída por adultos de ambos os sexos, que

há menos de uma semana tenham vivido um acontecimento potencialmente traumático,

como por exemplo: uma experiencia pessoal directa que envolva morte, ferimentos

graves ou outro tipo de ameaça à sua integridade física; observado um acontecimento

que envolva morte, ferimento ou ameaça à integridade física de outra pessoa; ou tomado

conhecimento acerca de uma morte violenta ou inesperada, ferimento grave ou ameaça

de morte vivido por um familiar ou amigo chegado.

Trata-se de um estudo qualitativo, no qual foram utilizados auxiliares

quantitativos para recolha de dados. A metodologia do estudo não é considerada mista,

devido à sua predominância qualitativa, não havendo, portanto, uma grande

preocupação com a dimensão da amostra nem com a generalização dos resultados.

A investigação qualitativa centra-se na compreensão dos problemas em questão,

sendo indutiva e descritiva, visto que as hipóteses são desenvolvidas a partir de padrões

encontrados nos dados, em vez de recolher esses mesmos dados para comprovar

modelos ou verificar hipóteses (como acontece nas investigações quantitativas). Este

tipo de investigação caracteriza-se por um maior interesse no próprio processo de

18

investigação em vez de se centrar apenas nos resultados. (Sousa & Batista, 2011). O

investigador desempenha aqui um papel fundamental na recolha dos dados – a

qualidade desta recolha depende muito da sua sensibilidade, integridade e

conhecimento.

O método qualitativo tem, assim, como vantagem principal, a possibilidade de

criar hipóteses de investigação pertinentes; e como desvantagem mais óbvia, os

problemas de objectividade que podem surgir na sequência de pouca experiência, falta

de conhecimentos ou falta de sensibilidade do investigador (Sousa & Batista, 2011).

Este trata-se de um estudo exploratório que procura relacionar as diferentes

variáveis em estudo, tendo por objectivo o reconhecimento de uma realidade ainda

pouco estudada, e levantar hipóteses acerca do entendimento desta mesma realidade

(Sousa & Batista, 2011, pag.57).

2.2 Questão Inicial

A questão inicial que deu origem a este estudo foi a seguinte:

- Em caso de ocorrência de um acontecimento potencialmente traumático, de que forma

o tipo de acontecimento vivido e o suporte social relatado pelo indivíduo se irão

relacionar com a sua capacidade de resiliência?

2.2.1 Mapa conceptual

Encontra-se seguidamente apresentado o mapa conceptual deste estudo. Neste

estão representadas as variáveis em análise e as relações que se pretendem avaliar.

Como variáveis sócio-contextuais (que incluem tanto variáveis sócio-demográficas

como contextuais) consideramos o sexo, a idade, o estado civil, o número de filhos, as

habilitações literárias, e as características da situação vivida. Relativamente ao suporte

social, pretende-se estudar a percepção que os indivíduos têm do mesmo (positiva ou

negativa), as fontes de suporte social e o tipo de suporte social recebido. Pretende-se

também estudar a variável resiliência. As setas que se encontra no mapa conceptual

representam as relações que se pretendem estudar.

19

Figura 1 - Quadro de Referência Conceptual

2.3 Objectivos

2.3.1 Objectivo Geral

Esta investigação tem como objectivo geral perceber de que forma as

características da situação vivida, e o suporte social se relacionam com a resiliência,

após a ocorrência de um acontecimento potencialmente traumático.

2.3.2 Objectivos Específicos

Esta investigação tem os seguintes objectivos específicos: a) compreender de

que forma as características da situação potencialmente traumática vivida se relacionam

com a resiliência; b) compreender a forma como algumas variáveis sócio-contextuais,

como a idade, o sexo, o estado civil, a o número de filhos e as habilitações literárias se

relacionam com a resiliência; e c) compreender como é que o suporte social se relaciona

com a resiliência, face a um acontecimento potencialmente traumático.

20

2.4 Questões de Investigação

As questões de investigação visam responder essencialmente aos objectivos mais

específicos desde estudo:

- De que forma as características da situação potencialmente traumática vivida se

relacionam com a resiliência?

- De que forma algumas variáveis sócio-contextuais (como a idade, o sexo, o estado

civil, a o número de filhos e as habilitações literárias) se relacionam com a resiliência?

- De que forma é que o suporte social se relaciona com a resiliência, face a um

acontecimento potencialmente traumático?

2.5 Estratégia Metodológica

Devido ao carácter exploratório deste estudo, pareceu-nos como melhor opção a

utilização de uma metodologia qualitativa, com recurso ao auxílio de métodos

quantitativos para a obtenção de dados.

Utilizou-se a entrevista semi-estruturada como metodologia qualitativa, no

sentido de recolher informação retrospectiva da vivência potencialmente traumática.

Apesar da entrevista ter sido realizada por completo, e do guião de entrevista ter sido

seguido, para a presente investigação apenas nos focamos nas questões relativas ao

suporte social.

Como metodologia quantitativa, foi utilizada (na mesma amostra em que foram

realizadas as entrevistas semi-estruturadas, assim como no mesmo momento), a

Connor-Davidson Resilience Scale (CD-RISC), com o objectivo de avaliar a resiliência

dos indivíduos.

Para a obtenção das variáveis sócio-demográficas relevantes para a investigação

utilizou-se um questionário sócio-contextual.

A variável “Características da situação vivida”, foi obtida através das informações que

nos foram fornecidas relativamente à situação e através do nosso conhecimento acerca

do que havia ocorrido. Muitas vezes existia já da nossa parte um conhecimento prévio,

visto sermos activados para intervir no local por outras equipas. Todas as entrevistas

ocorreram uma semana após a intervenção no local por parte do CAPIC (Centro de

Apoio Psicológico e Intervenção em Crise), portanto, ao ser realizada a entrevista, os

entrevistadores já tinham conhecimento do tipo de evento que havia ocorrido.

21

2.5.1 Caracterização da Amostra

A amostra recolhida é constituída por 10 participantes com idades

compreendidas entre os 27 e os 61 anos (M=40,5; DP = 9,88), sendo que 7 dos

participantes são do sexo feminino, e 3 do sexo masculino. A maioria dos participantes

é casada (70%), e os restantes são solteiros (30%). Relativamente ao número de filhos, a

maioria dos participantes tem 2 filhos (40%) sendo que os restantes têm 1 filho (30 %),

3 filhos (10%), ou não têm filhos (20 %).

Figura 2 – Sexo Figura 3 – Estado Civil Figura 4 – Número de filhos

Em relação às habilitações literárias, a maioria dos participantes possui uma

licenciatura (60 %), enquanto que os restantes possuem a escolaridade até ao nono ano

(20 %) ou frequência universitária (20 %).

Relativamente ao tipo de situação potencialmente traumática vivida pelos

participantes neste estudo, todos eles viveram uma morte súbita e violenta de um

familiar, sendo que na sua maioria estas mortes foram por acidente de viação (70%),

enquanto que os restantes foram por suicídio (20%) ou por acidente doméstico (10%).

Figura 5 – Habilitações Literárias Figura 6 – Características da Situação Vivida

22

2.5.2 Instrumentos Utilizados

2.5.2.1 Entrevista Semi-Estruturada

Tendo em consideração a investigação proposta, e os objectivos da mesma,

optamos pela entrevista para a recolha de informação.

A entrevista é uma técnica de resposta voluntária, que carece de um propósito

bem definido. Os objectivos desta técnica não passam apenas pela recolha de

informação, mas também pela transmissão de informação – neste estudo, além da

realização da entrevista semi-estruturada, foi introduzido um componente de

aconselhamento clínico devido a questões éticas. Este método de recolha de informação

possibilita também uma maior diversidade relativamente às questões e respostas, uma

reformulação constante e uma oportunidade para aprofundar cercas respostas e questões

(Sousa & Batista, 2011, pg. 79).

Neste estudo optámos por utilizar uma entrevista semi-estruturada. Neste tipo de

entrevista, o entrevistador possui um guião prévio das questões (Anexo 1), com um

conjunto de tópicos ou questões a abordar, no entanto estas questões não têm que ser

colocadas por uma ordem pré-estabelecida, nem têm uma formulação específica pré-

determinada, sendo apenas fundamental o foco nos pontos principais do guião (o mais

semelhante possível com uma conversa).

Optamos por este tipo de entrevista porque esta permite ao entrevistado explorar

as questões ao seu ritmo e expor de forma mais específica as questões que lhe são mais

pertinentes, e de uma forma fluida e não rígida. Este tipo de entrevista dá liberdade ao

entrevistador e ao entrevistado, embora não deixe que o mesmo fuja muito aos temas.

Presencialmente, a entrevistadora fornecia informações acerca dos propósitos da

investigação e garantia a confidencialidade e anonimato dos participantes, pedindo

consentimento para a realização e gravação das entrevistas (Anexo II).

Posteriormente, estas mesmas entrevistas foram transcritas e foi realizada a

análise de conteúdo das mesmas. Para a presente investigação, apenas foram utilizados

os excertos das entrevistas relativos ao suporte social.

23

2.5.2.2 CD-RISC

Para avaliar a resiliência dos participantes foi usada a Connor-Davidson

Resilience Scale (CD-RISC) (Connor & Davidson, 2003), traduzida e adaptada para a

população portuguesa por Faria-Anjos, Ribeiro e Ribeiro (2010) (Anexo III).

Os itens da CD-RISC foram traduzidos da escala original através de um

processo de tradução e re-tradução por indivíduos especialistas na área da psicologia e

fluentes tanto na língua inglesa como na língua portuguesa, e posteriormente aprovados

pelos autores originais da escala (Faria-Anjos, Ribeiro & Ribeiro, 2010).

Esta é uma escala de auto-relato, criada no sentido de ajudar a quantificar a

resiliência e como uma medida clínica para avaliar a resposta ao tratamento (Connor &

Davidson, 2003).

A CD-RISC contém 25 itens, em que em cada item tem uma escala crescente de

resposta, tipo Likert, de 5 pontos, (Sendo que 0= “Não verdadeira”; 1= “Raramente

verdadeira”; 2= “Às vezes verdadeira”; 3= “Geralmente verdadeira”; e 4 = “Quase

sempre verdadeira”). É pedido ao individuo que complete a escala, indicando até que

ponto concorda com as informações dos itens e até que ponto estas se aplicam à sua

realidade e a si próprio na ultima semana.

O resultado desta escala varia entre 0 e 100, sendo que resultados mais elevados

reflectem uma maior resiliência (Connor & Davidson, 2003).

Na análise factorial da versão original desta escala, foram encontrados 5

factores, sendo que: o Factor 1 reflecte a noção de competência pessoal, normas

elevadas e tenacidade; o Factor 2 corresponde à confiança do próprio nos seus instintos,

tolerância ao efeito negativo e efeito reforçador do stress; o Factor 3 relaciona-se com a

aceitação positiva da mudança e segurança nas relações; o Factor 4 foi relacionado com

o controlo; e o Factor 5 com as influências espirituais. Este instrumento foi testado na

população geral e nas amostras clínicas e demonstrou boas propriedades psicométricas,

com uma boa consistência interna (alfa de Cronbach = 0.89) (Connor & Davidson,

2003).

Tal como a versão original, a versão adaptada à população portuguesa também

possui as propriedades psicométricas necessárias c uma boa consistência interna (alfa de

Cronbach = 0.88). No entanto, a análise factorial dos dados recolhidos junto da

população portuguesa resultou numa estrutura factorial diferente da estrutura da escala

original, tendo esta apenas 4 factores (Factor 1 - noção de competência pessoal, normas

elevadas, tenacidade e controlo; Factor 2 - confiança do próprio nos seus instintos,

24

tolerância ao efeito negativo e efeito reforçador do stress; Factor 3 - aceitação positiva

da mudança e segurança nas relações; e Factor 4 - influências espirituais) (Faria-Anjos,

Ribeiro & Ribeiro, 2010).

2.5.2.3 Questionário Sócio-Contextual

O questionário utilizado nesta investigação pretende responder a questões tanto

demográficas como contextuais (Anexo IV). Este é constituído por questões de resposta

múltipla que nos permitiram recolher informação relevante acerca dos participantes ao

nível das variáveis sócio-demográficas e de algumas variáveis contextuais. Este

questionário geral pretende recolher informação acerca de diversas variáveis: idade,

sexo, residência, estado civil, número de filhos, agregado familiar, habilitações

literárias, situação profissional, consumo de substâncias, acompanhamento psicológico

ou psiquiátrico e religião. O questionário apresentado foi aplicado na totalidade a todos

os participantes, no entanto para a presente investigação apenas foram utilizados alguns

dos dados.

2.5.3 Procedimentos de recolha de dados

O primeiro contacto com os participantes deu-se através da intervenção do

Centro de Apoio Psicológico e Intervenção em Crise (CAPIC) do Instituto Nacional de

Emergência Médica (INEM), que é activado para situações que possam ser

eventualmente traumáticas para as vítimas ou seus familiares ou amigo próximos; ou

através da base de dados do Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU).

Depois desse primeiro contacto com os indivíduos, que se realizou em função do

trabalho do Centro de Apoio Psicológico e Intervenção em Crise do INEM (em que os

principais objectivos são a intervenção na crise em si, no sentido de restabelecer a

segurança ao individuo, promover o controlo/estabilização emocional e, através da

intervenção, evitar o aparecimento de sintomatologia pós-crise), foi realizado um

follow-up telefónico (com os objectivos de avaliar a evolução do individuo em termos

de sintomatologia e estratégias de coping associadas, e avaliar a posterior necessidade

de acompanhamento). Através desse follow-up telefónico, era posteriormente

questionada a disponibilidade e vontade de estes mesmos indivíduos se encontrarem

connosco e participarem neste estudo.

Ao estar pessoalmente com o indivíduo, era fornecida informação acerca do

25

estudo, e era-lhes pedido que a entrevista fosse gravada. Durante este encontro, a

entrevista semi-estruturada era gravada, e era-lhes dado a preencher um questionário

sócio-demográfico (que inclui também informações contextuais), e a CD-RISC

(Connor-Davidson Resilience Scale).

Foi ainda garantido aos participantes o anonimato e confidencialidade relativamente às

informações fornecidas pelos mesmos.

Tanto as entrevistas como o preenchimento do questionário sócio-demográfico e

da CD-RISC foram realizados presencialmente.

A recolha de dados ocorreu entre Fevereiro e Junho.

2.5.4. Procedimentos de análise de dados

Foi realizada uma análise qualitativa dos dados com recurso ao software de

análise de dados NVivo 10.

Como referido anteriormente, as entrevistas, após gravadas em formato áudio,

foram transcritas para um formato escrito, de modo a serem importadas para o programa

mencionado, de forma a ser possível analisar o seu conteúdo. Para a realização da

análise de conteúdo das entrevistas foram utilizadas categorias prévias definidas pela

literatura, assim como categorias emergentes dos próprios dados (Apêndice I).

Os resultados da escala CD-RISC, e os dados acerca das características da

situação vivida foram também importados para o programa NVivo, de modo a poder

relacionar as diferentes variáveis.

26

3. Resultados

Neste capítulo irão ser apresentados os resultados obtidos através dos dados

qualitativos e quantitativos recolhidos, resultados esses que permitirão dar resposta às

questões de investigação referidas anteriormente.

3.1 Resultados qualitativos

Foi realizada uma análise de conteúdo no sentido de recolher e analisar os dados

expressos pelos participantes ao longo das entrevistas. A análise de conteúdo é uma

técnica de investigação que tem como finalidade a descrição objectiva e sistematizada

do conteúdo de uma comunicação. Esta técnica utiliza procedimentos sistemáticos e

objectivo de descrição do conteúdo das mensagens, e surge como uma ferramenta para a

compreensão e construção de significados. Permite, assim, ao investigador, o

entendimento das representações da realidade do individuo, e a interpretação que este

faz dos seus significados (Silva, Gobbi & Simão, 2011).

Como referido anteriormente, a análise de conteúdo foi realizada com recurso ao

software de análise de dados NVivo 10. 1

3.1.1. Descrição dos resultados da análise de conteúdo das entrevistas

Nesta secção irão ser apresentados os resultados da análise de conteúdo

realizada. As categorias principais encontram-se representadas a negrito (Percepção de

suporte social e Suporte Social), as subcategorias dentro das categorias principais

encontram-se sublinhadas, e os excertos das entrevistas escolhidos encontram-se em

Itálico. Estarão também referidas entre parênteses as frequências em que cada

subcategoria é referida pelos participantes.

Suporte Social

Os participantes, ao longo das entrevistas, referem dois Tipos de Suporte: O

suporte Instrumental (19) – “E se disser à minha irmã “Dá-me cá dinheiro.”… Eu

1 É importante referir que as transcrições das entrevistas não serão colocadas em anexo no

27

tenho ali o dinheiro da minha irmã, das carteiras e tudo, e tenho o cartão da minha

irmã (…)”,“(…) e a Sofia(…), de cada vez que eu preciso de ir à casa da minha mãe

ela vai comigo.”, “Quem está a tratar das coisas é a minha tia, a minha mãe e o

Jerónimo (…)”, “Temos andado a tratar de tudo os dois.”, “E o meu pai depois foi

connosco à funerária, porque nós sozinhos nunca tivemos que tratar dessas coisas.”,

“Muita gente já se ofereceu para desmanchar a casa.”.; e o suporte Emocional (82) –

“As pessoas mais próximas vão me acarinhando (…)”, “(…) o apoio dos amigo é bom,

é bom porque uma pessoa está ocupada com os amigos e de certa forma não está a

pensar naquilo (…)”,”No velório com os meus amigos todos, foi um grande apoio.”, “E

os meus pais, mesmo com o Fernando, gostam imenso dele, é um apoio muito grande

para nós.”, “(…)sentir que as pessoas gostam de nós, que nos querem bem, é muito

bom. Ajuda-nos a andar para a frente.”, “O meu marido acarinha-me muito, e volta,

volta e meia telefona-me a ver se estou bem.”.

São também referidas pelos indivíduos várias Fontes de Suporte: a Família (47)

– “A Catarina, que é uma miúda espectacular, o meu marido, o Nuno, também é uma

pessoa espectacular, os meus pais, o meu irmão, a minha família, o meu núcleo mais

próximo, e pronto, basicamente é isso.”; “(…)com o irmão e a minha cunhada. Nós os

quatro temos andado sempre juntos.”; “Há bocado o meu irmão também veio aí, só

para me dar um beijinho (…). Essas coisas sabem muito bem.”; “Os meus filhos,

claro.”; “Mais factores de suporte? A família.”; o Cônjuge (12) – “A minha mulher. Ela

faz tudo por mim. Faz tudo o que for necessário, e tenho a certeza sempre disso.”, “O

meu marido também me ajuda nisso porque falámos os dois (…)”,”Mas eu tenho uma

coisa óptima, eu tenho um marido fantástico (…). E isso conforta-me imenso, saber que

não fiquei sozinha.”. “O meu marido tem sido uma pessoa importantíssima.”; “Ela tem

me orientado e tem sido um grande pilar.”, “Ele não me largou um bocadinho durante

estes dias, e quando as pessoas diziam para não chorar e que eu tinha de ser forte, ele

dizia-lhes logo que eu sou humana, e que podia chorar se quisesse.”; os Amigos (28) –

“Gostei mesmo muito de ter cá os meus amigos. É uma coisa que eu não sentia há

muito tempo.”, “(…)naquela altura gostei mesmo que eles estivessem ao pé de mim.”,

“Temos um padre amigo que também nos tem dado muito ânimo e muita coragem.”,

“Os amigos. É tão bom saber que temos tantos amigos. É muito bom. Amigos bons, uns

com quem se pode partilhar umas coisas, outros com quem se pode partilhar outras.”,

“Mas temos lá muitos amigos e estiveram sempre muito presentes e têm estado muito

28

presentes nestes dias e que gostam muito de nós.”, “(…)tenho tido uma escala de

amigos que não sai lá de casa quase, ou que me leva a jantar fora.”; a Comunidade

(11) – “ As pessoas vão logo ter connosco e perguntam como é que estamos. É ir ao

café e ter logo cinco conversas desse género.”, “Perceber que nestes momentos, (…)

temos muitas pessoas que nos querem bem e muitas pessoas que nos querem ajudar. E

isso conforta, ajuda, atenua, não é? Saber que não ficámos sozinhos.”, “As pessoas

telefonam e vêm cá a casa.”.” (…) temos os nossos amigos, nós somos daqui, isto é um

meio pequeno, toda a gente nos dá força.”, “Toda a gente foi muito apoiante.”, “É

chato para mim, as pessoas não têm culpa, não é? Estão preocupadas comigo. Mas

assim que saio à rua aparece sempre alguém conhecido.”; e as Instituições (11) –

“Vocês estiveram sempre presentes, sempre impecáveis.”;”No dia seguinte quando

chegámos lá, essa tal psicóloga que foi comigo, quando chegámos ela estava a falar

com duas pessoas, eu olhei para ela e ela veio logo ao pé de nós.”, “Andaram sempre

sempre connosco. Nós sentimo-nos muito apoiados.,”, “(…)mesmo nos bombeiros

também estava um psicólogo, meteram-nos logo com um psicólogo ao pé.”, “ Eu

requeri um psicólogo, mas ainda estou em lista de espera.”. “(…)foram todos

impecáveis, por isso é que nós queríamos agradecer lá no hospital, deixaram-nos ver a

minha tia, deixaram-nos falar com ela, etc.”.

Percepção de Suporte Social

Os participantes referem o suporte social recebido na sequência do evento

potencialmente traumático como: Positivo (81) – “As pessoas próximas vão estando e

vão nos acarinhando, fazem o melhor que podem para nós nos sentirmos bem.”, “No

outro dia a minha mãe ficou cá em casa a tomar conta dos miúdos, e pudemos ir os dois

jantar fora com amigos.”, “E acabou por lá ir ter um amigo meu que foi um suporte, foi

bom.”, “Eu realmente tenho uns patrões, olhe são muito meus amigos, e foram ao

funeral, foram ao velório, já me disseram a mim que se eu me sentir melhor em casa,

para ficar em casa (…).”, “Os meus irmãos também me têm ajudado. O carinho que

eles mostram todos por mim (…)”, “Os telefonemas foram muito gratificantes (…).

Saber que temos assim tantos amigos.”; ou como Negativo (10) – “Para mim e para o

meu marido, acho que vai ser um bocado complicado porque estamos aqui e toda a

gente conhecia o meu sogro. Vamos na rua, as pessoas vêm logo falar connosco (…).

29

As pessoas pensam que estão a ajudar, mas não estão a ajudar nada.”, “Tenho uma

irmã lá em Lisboa e agente não se dá (…), agora vinha cá de roda enxotei-a logo. Se

não somos para os momentos bons também não somos para os momentos difíceis.”, “E

como eu tenho muitos amigos de diferentes frentes, pronto, volta e meia telefonam.

Nestes dias não tem parado de tocar.”,” (…) Pronto, e já estou farta que as pessoas me

perguntem como é que eu estou (…) porque eu depois, como estou sempre a responder,

não tenho tempo para sentir. O apoio pode ser um stress aqui.”, “As pessoas telefonam

e vêm cá a casa. Eu não quero ver ninguém!”, “E as pessoas não dizem as coisas mais

acertadas.”, “Eu acho que o que me apetecia agora neste momento é que mais ninguém

perguntasse nada (…). Estou a falar do geral.”.

3.1.2.Relação entre as variáveis Sócio-contextuais e a Resiliência

3.1.2.1. Relação entre Resiliência e Idade

Quadro 1 - Relação entre Resiliência e Idade

Resultado

CD-RISC =

[55-70[

Resultado

CD-RISC =

[70-85[

Resultado

CD-RISC =

[85-100]

Idade <40 2 0 3

Idade >40 1 3 1

Segundo os resultados obtidos, 3 indivíduos com idade inferior a 40 anos (60%),

obtiveram os valores mais elevados na escala de resiliência, enquanto que os restantes

40% dessa mesma faixa etária obtiveram os resultados mais baixos.

Relativamente aos indivíduos com mais de 40 anos, 3 indivíduos (60% dos

indivíduos com mais de 40 anos) obtiveram resultados entre 70 e 85 na CD-RISC,

enquanto 1 dos indivíduos (20%) se situa no intervalo dos resultados mais baixos, e

outro (20%) se situa no intervalo dos resultados mais elevados.

Posto isto, pode-se dizer a maioria dos indivíduos mais novos (com menos de 40

anos) obtiveram os resultados mais altos na escala CD-RISC.

30

3.1.2.2. Relação entre Resiliência e Sexo

Os resultados mais elevados obtidos na escala CD-RISC, foram na sua maioria

obtidos por indivíduos do sexo feminino. No entanto, este resultado não é significativo

devido à grande discrepância entre o número de homens e mulheres da amostra

(composta por três indivíduos do sexo masculino, e sete indivíduos do sexo feminino).

3.1.2.3. Relação entre Resiliência e Estado Civil

Esta relação não mostrou resultados significativos devido à grande

homogeneidade entre a amostra (três dos indivíduos são solteiros e sete são casados), e

devido ao facto de esta ser muito pequena. No entanto, dois indivíduos casados e dois

solteiros, situaram-se nos resultados mais elevados da escala.

3.1.2.4. Relação entre Resiliência e Número de Filhos

Quadro 2 - Relação entre Resiliência e Nº de Filhos

Resultados CD-RISC

= [55-70[

Resultados CD-RISC

= [70-85[

Resultaos CD-RISC

= [85-100]

Nº de Filhos <

2

3 0 2

Nº de Filhos >

2

0 3 2

Ao analisar a tabela acima, podemos constatar que os resultados mais baixos na

escala CD-RISC, foram obtidos por indivíduos com menos de dois filhos (100%). Ao

observarmos o intervalo dos resultados mais altos, vemos que estes foram obtidos de

igual modo por indivíduos com menos de dois filhos (50%) e por indivíduos com mais

de dois filhos (50%). No entanto, ao analisarmos por intervalos, vemos que os

resultados da CD-RISC, nos indivíduos com menos de dois filhos variaram entre os 55 e

os 100, enquanto que nos indivíduos com mais de dois filhos variaram entre os 70 e os

100. Sendo assim, os indivíduos com mais de dois filhos situaram-se nos intervalos de

resultados mais elevados da Escala de Resiliência de Connor-Davidson.

3.1.2.5. Relação entre Resiliência e Habilitações Literárias

Ao analisar esta relação, é possível constatar que, os resultados mais elevados na

CD-RISC foram obtidos por 2 indivíduos com a escolaridade inferior ao nono ano, 1

31

indivíduo com frequência universitária e 1 indivíduo com uma licenciatura. No entanto,

estes resultados não são significativos devido às razoes apresentadas anteriormente.

3.1.2.6. Relação entre Resiliência e Características da Situação

Vivida

O maior número de participantes que se situou no intervalo de resultados mais

altos da escala de resiliência, foram os participantes que haviam vivido a morte súbita e

violenta de um familiar por um acidente de viação. O maior número de participantes

que se situou no intervalo de resultados mais baixos da escala de resiliência, foram

também os participantes que haviam vivido a morte súbita e violenta de um familiar por

acidente de viação.

No entanto, e mais uma vez, este resultado não é significativo visto que a maior

parte dos indivíduos da amostra passou por situações com essa mesma característica.

3.1.3. Relação entre variáveis Sócio-Contextuais e Suporte Social

Relativamente aos tipos de suporte social – Emocional e Instrumental –

recebido, o tipo de suporte mais referido pelos participantes foi o suporte emocional

(com 82 referências), sendo que o suporte instrumental foi o menos referido (com

apenas 19 referências).

A fonte de suporte que foi mais referida foi a família (com 47 referências),

seguida dos amigos (com 28 referências), o cônjuge (com 12 referências), a comunidade

(11) e as instituições (9).

3.1.3.1. Relação entre o Tipo de Suporte Social e a Idade

Quadro 3 - Relação entre o tipo de Suporte Social e a Idade

Idade <40 Idade >40

Suporte

Emocional

39 43

Suporte

Instrumental

11 8

No geral, os indivíduos de ambas as idades fizeram mais referência ao suporte

emocional do que ao suporte instrumental.

32

O suporte emocional foi mais referido pelos indivíduos com mais de 40 anos –

este foi referido 43 vezes (52,44% das referências) por indivíduos com mais de 40 anos,

e 39 vezes por indivíduos com menos de 40 anos.

Contrariamente, o suporte instrumental foi mais referido pelos indivíduos com

menos de 40 anos (este dado está de acordo com o excerto: “Muita gente já se ofereceu

para desmanchar a casa.”) – este foi referido 11 vezes (57,89%) por indivíduos com

menos de 40 anos, e 8 vezes (42,11%) por indivíduos com mais de 40 anos (Dado

consonante com o excerto: “As pessoas mais próximas vão me acarinhando (…)”).

3.1.3.2. Relação entre o Tipo de Suporte Social e o Sexo

Quadro 4 - Relação entre o tipo de Suporte Social e o Sexo

Sexo Masculino Sexo Feminino

Suporte

Emocional

25 57

Suporte

Instrumental

7 12

Os indivíduos do sexo feminino referiram mais vezes os dois tipos de suporte

social, em comparação com os indivíduos do sexo masculino – no entanto, este

resultado deve-se à grande discrepância relativamente ao número de homens e mulheres

da amostra.

Os indivíduos do sexo masculino fizeram 25 referências ao suporte emocional

(78,13% das referências, e 7 referências ao suporte instrumental (21,86% das

referências); enquanto que os indivíduos do sexo feminino, referiram 57 vezes o suporte

emocional (82,60% das referencias), e 12 vezes o suporte instrumental (17,39% das

referências).

Sendo assim, e olhando para as percentagens, os homens fizeram mais referência

ao suporte instrumental (dado consonante com o excerto: “Quem está a tratar das

coisas é a minha tia, a minha mãe e o Jerónimo (…)”) do que as mulheres, enquanto

que as mulheres referiram mais o suporte emocional do que os homens (“O meu marido

acarinha-me muito, e volta, volta e meia telefona-me a ver se estou bem.”).

33

3.1.3.3. Relação entre o Tipo de Suporte Social e o Estado Civil

Quadro 5 - Relação entre o tipo de Suporte Social e o Estado Civil

Casado Solteiro

Suporte

Emocional

59 23

Suporte

Instrumental

12 7

Tanto os indivíduos casados como os solteiros referiram mais vezes o suporte

emocional. Os indivíduos casados referiram mais vezes os dois tipos de suporte, tanto

emocional como instrumental – no entanto, este resultado deve-se à grande discrepância

relativamente ao número de indivíduos casados e solteiros da amostra.

Os indivíduos casados fizeram 59 referências ao suporte emocional (83,10% das

referências), e 12 referências ao suporte instrumental (16,90% das referências);

enquanto que os indivíduos solteiros referiram 23 vezes o suporte emocional (76,67%

das referências), e 7 vezes o suporte instrumental (23,33 % das referências).

Sendo assim, e olhando para as percentagens, os indivíduos solteiros fizeram

mais referência ao suporte instrumental (“E se disser à minha irmã “Dá-me cá

dinheiro.”… Eu tenho ali o dinheiro da minha irmã, das carteiras e tudo, e tenho o

cartão da minha irmã (…)”) do que os indivíduos casados, enquanto que os indivíduos

casados fizeram mais referência ao suporte emocional do que os solteiros (E os meus

pais, mesmo com o Fernando, gostam imenso dele, é um apoio muito grande para

nós.”).

3.1.3.4. Relação entre o Tipo de Suporte Social e o Número de Filhos

Quadro 6 - Relação entre o tipo de Suporte Social e o Número de filhos

Nº de filhos < 2 Nº de filhos > 2

Suporte

Emocional

32 50

Suporte

Instrumental

7 12

34

O suporte emocional foi sempre mais referido do que o suporte instrumental,

independentemente do número de filhos (o suporte emocional tem ao todo 82

referências, enquanto que o suporte instrumental tem apenas 19).

Os indivíduos com mais de dois filhos referiram mais vezes tanto o suporte

emocional (50 referências – 80,65%), como o instrumental (12 referências – 19,35%),

em comparação com os indivíduos com menos de dois filhos (que referiram 32 vezes o

suporte emocional – 82,05% - e 7 vezes o suporte instrumental – 17,95%).

Sendo assim, e olhando para as percentagens, os indivíduos com menos de dois

filhos fizeram mais referência ao suporte emocional (como podemos ver no excerto: “E

acabou por lá ir ter um amigo meu que foi um suporte, foi bom.”) em comparação com

os indivíduos com mais de dois filhos; enquanto que os indivíduo com mais de dois

filhos fizeram mais referência ao suporte instrumental em comparação com os

indivíduos com menos de dois filhos (“E o meu pai depois foi connosco à funerária,

porque nós sozinhos nunca tivemos que tratar dessas coisas.”).

3.1.3.5. Relação entre o Tipo de Suporte Social e as Habilitações

Literárias

Quadro 7 - Relação entre o tipo de Suporte Social e as Habilitações Literárias

Até ao 9º ano

Frequência de

curso

universitário

Licenciatura

Suporte

Emocional

20 13 49

Suporte

Instrumental

2 3 14

Os indivíduos licenciados fizeram mais referência aos dois tipos de suporte – no

entanto, este resultado deve-se à grande discrepância relativamente às habilitações

literárias dos participantes.

Os indivíduos com a escolaridade até ao nono ano referiram 20 vezes o suporte

emocional (90,90% das referências), e 2 vezes o suporte instrumental (9,10% das

referências); os indivíduos com frequência universitária fizeram 13 referências ao

suporte emocional (81, 25% das referências) e 3 referências ao suporte instrumental

(18,75% das referências); e os indivíduos licenciados fizeram 49 referências ao suporte

35

emocional (77,78% das referências) e 14 referências ao suporte instrumental (22,22%

das referências).

Sendo assim, e olhando para as percentagens, os indivíduos licenciados

referiram mais vezes o suporte instrumental do que os restantes indivíduos (“No outro

dia a minha mãe ficou cá em casa a tomar conta dos miúdos, e pudemos ir os dois

jantar fora com amigos.”), e os indivíduos com escolaridade até ao nono ano referiram

mais vezes o suporte emocional que os restantes indivíduos (“Todos nós, os meus

sobrinhos acarinharam-nos muito, tudo isso foi muito importante”).

3.1.3.5. Relação entre o Tipo de Suporte Social e as Características

da Situação Vivida

Quadro 8 - Relação entre o tipo de Suporte Social e as Características da Situação Vivida

Morte

súbita/violenta

por suicídio

Morte

súbita/violenta

por acidente de

viação

Morte

súbita/violenta

por acidente

doméstico

Suporte

Emocional

15 60 7

Suporte

Instrumental

4 12 3

Os indivíduos que sofreram a perda de um familiar por morte súbita/violenta por

acidente de viação fizeram mais referências aos dois tipos de suporte – no entanto, isto

deve-se à grande discrepância relativamente às características das situações vividas

pelos participantes.

Os indivíduos que sofreram a morte súbita/violenta de um familiar por suicídio,

referiram 15 vezes o suporte emocional (78,95% das referências) e 4 vezes o suporte

instrumental (21,05% das referências); os indivíduos que sofreram a morte

súbita/violenta de um familiar por acidente de viação, fizeram 60 referências ao suporte

emocional (83,33% das referências) e 12 referências ao suporte instrumental (16,57%

das referências); e, por último, os indivíduos que sofreram a morte súbita/violenta de

um familiar por acidente doméstico, referiram 7 vezes o suporte emocional (70% das

referências), e 3 vezes o suporte instrumental (30% das referências).

Sendo assim, e olhando para as percentagens, podemos dizer que o suporte

emocional foi mais referido por aqueles que sofreram a morte de um familiar por

36

acidente de viação (“E agora senti o que é, o apoio dos amigos e… é bom, é bom

porque uma pessoa está ocupada com os amigos e de certa forma não está a pensar

naquilo, não é?”) e o suporte instrumental foi mais referido por aqueles que sofrearam a

morte de um familiar por acidente doméstico (“(…)e a Sofia que era a minha cunhada,

de cada vez que eu preciso de ir à casa da minha mãe ela vai comigo.”).

.

3.1.3.6. Relação entre as Fontes de Suporte Social e a Idade

Quadro 9 - Relação entre as fontes de Suporte Social e a Idade

Idade <40 Idade >40

Amigos 19 9

Comunidade 7 4

Conjugue 7 5

Família 20 27

Instituições 4 5

Os indivíduos com idade superior a 40 anos fizeram mais referência às fontes de

suporte social no geral do que os indivíduos com idade inferior a 40 anos.

Relativamente às fontes de suporte, os indivíduos referiram mais vezes a família,

independentemente da idade.

Os indivíduos com menos de 40 anos de idade fizeram referência aos amigos 19

vezes (33,33 % das referências), 7 vezes à comunidade (12,28% das referências), 7

vezes ao cônjuge (12,28% das referências), 20 vezes à família (35,05 % das

referências), e 4 vezes às instituições (7,02% das referências); enquanto que os

participantes com idade superior a 40 anos fizeram nove referências aos amigos (18%

das referências), 4 referências à comunidade (8% das referências), 5 referências ao

cônjuge (10% das referências), e 5 referências às instituições (10% das referências).

Sendo assim, e olhando para as percentagens, podemos ver que o suporte

fornecido pelos amigos (“Eu realmente tenho uns patrões, olhe são muito meus amigos,

e foram ao funeral, foram ao velório, já me disseram a mim “Se se sentir melhor em

casa deixe-se estar em casa, se quiser vir trabalhar venha”), pela comunidade

(“Perceber que nestes momentos, e graças a Deus, temos muitos amigos, muitas

pessoas que nos querem bem e muitas pessoas que nos querem ajudar.”) e pelo cônjuge

(“(…)e isto muito o meu marido também ajuda-me nisso porque falámos os dois(…)”)

foi mais referido pelos indivíduos com menos de 40 anos; e que o suporte fornecido

37

pela família (“E com o meu irmão também. Qualquer coisa, digo-lhe logo o que penso

em relação a esta situação.”) e pelas instituições (“(…)mesmo nos bombeiros também

estava um psicólogo, meteram-nos logo com um psicólogo ao pé.”) foi mais referido

pelos indivíduos com mais de 40 anos de idade.

3.1.3.7. Relação entre as Fontes de Suporte Social e o Sexo

Quadro 10 - Relação entre as fontes de Suporte Social e o Sexo

Sexo Masculino Sexo Feminino

Amigos 6 22

Comunidade 4 7

Cônjuge 4 8

Família 14 33

Instituições 4 5

Os indivíduos do sexo feminino fizeram mais referências, na sua totalidade, às

fontes de suporte. No entanto isto deve-se à grande discrepância entre indivíduos do

sexo feminino e indivíduos do sexo masculino da amostra.

Os indivíduos do sexo masculino fizeram referência ao suporte fornecido pelos

amigos 6 vezes (18,75% das referências), ao suporte fornecido pela comunidade 4 vezes

(12,5% das referências), ao suporte do cônjuge 4 vezes (12,5% das referências), ao

suporte da família 14 vezes (43,75% das citações), e ao suporte fornecido pelas

instituições 4 vezes (12,5 % das referências); enquanto os indivíduos do sexo feminino

referiram 22 vezes o suporte dos amigos (29,33% das citações), 7 vezes o suporte da

comunidade (9,33%), 8 vezes o suporte fornecido pelo cônjuge (10,6% das citações), 33

vezes o suporte da família (44% das citações), e 5 vezes o suporte das instituições

(6,67% das referências).

Sendo assim, e olhando para as percentagens, podemos observar que o suporte

fornecido pela comunidade (“As pessoas vão logo ter connosco e perguntam como é

que estamos. É ir ao café e ter logo cinco conversas desse género.”), pelo cônjuge (

“Ela tem me orientado e tem sido um grande pilar.”) e pelas instituições (“(…)foram

todos impecáveis, por isso é que nós queríamos agradecer lá no hospital, deixaram-nos

ver a minha tia, deixaram-nos falar com ela, etc.”) foi mais referido pelos indivíduos do

sexo masculino; e que o suporte fornecido pelos amigos (“Mas temos lá muitos amigos

e estiveram sempre muito presentes e têm estado muito presentes nestes dias e que

38

gostam muito de nós.”) e pela família (“Há bocado o meu irmão também veio aí, só

para me dar um beijinho (…). Essas coisas sabem muito bem.”) foi mais referido pelos

indivíduos do sexo feminino.

3.1.3.8. Relação entre as Fontes de Suporte Social e Estado Civil

Quadro 11 - Relação entre as fontes de Suporte Social e o Estado Civil

Casado Solteiro

Amigos 20 8

Comunidade 8 3

Cônjuge 12 0

Família 30 17

Instituições 6 3

Os indivíduos casados fizeram mais referência a todos os tipos de suporte, no

entanto, isto deve-se provavelmente ao facto de existir uma grande discrepância entre o

número de indivíduos casados e o número de indivíduos solteiros da amostra.

Os indivíduos casados fizeram referência ao suporte fornecido pelos amigos 20

vezes (26,32% das referências), ao suporte fornecido pela comunidade 8 vezes (10,53%

das referências), ao suporte do cônjuge 12 vezes (15,73% das referências), ao suporte

fornecido pela família 30 vezes (39,47% das referências), e ao suporte fornecido pelas

instituições 6 vezes (7,90% das referências); enquanto que os indivíduos casados

referiram o suporte dos amigos 8 vezes (25,81% das referências), da comunidade 3

vezes (9,68%), da família 17 vezes (54,84% das referências), e das instituições 3 vezes

(9,68%).

Sendo assim, e olhando para as percentagens, podemos observar que o suporte

fornecido pelos amigos (“E agora senti o que é, o apoio dos amigos e… é bom, é bom

porque uma pessoa está ocupada com os amigos e de certa forma não está a pensar

naquilo, não é?”) e pela comunidade (“Mas sentir que as pessoas gostam de nós, que

nos querem bem, é muito bom. Ajuda-nos a andar para a frente.”) foi mais referido

pelos indivíduos casados, enquanto que o suporte fornecido pela família (“Com a minha

irmã, eu não tenho segredos com a minha irmã.”) e pelas instituições (“Sim, eu requeri

um técnico, mas estou em lista de espera, pronto.”) foi mais referido pelos indivíduos

solteiros.

39

3.1.3.9. Relação entre as Fontes de Suporte Social e as

Características da Situação vivida.

Quadro 12 - Relação entre as fontes de Suporte Social e as Características da Situação Vivida

Morte súbita/

violenta por

suicídio

Morte

súbita/violenta

por acidente de

viação

Morte

súbita/violenta

por acidente

doméstico

Amigos 11 11 6

Comunidade 4 6 1

Cônjuge 4 8 0

Família 6 39 2

Instituições 0 8 1

A maior parte das referências foram feitas por indivíduos que sofreram a perda

de um familiar por morte súbita/violenta por acidente de viação – isto deve-se,

provavelmente, ao facto de existir uma grande discrepância entre o número de

indivíduos que sofreram as diferentes situações estudadas.

Os indivíduos que sofreram a perda de um família por suicídio, referiram 11

vezes o suporte fornecido pelos amigos (44% das referências), 4 vezes o suporte

fornecido pela comunidade (16% das referências), 4 vezes o suporte fornecido pelo

cônjuge (16% das referências), 6 vezes o suporte fornecido pela família (24% das

referências, e não fizeram referência a suporte fornecido pelas instituições; os

indivíduos que sofreram a perda de um familiar por acidente de viação fizeram

referência ao suporte dos amigos 11 vezes (15,28% das referências), ao suporte da

comunidade 6 vezes (8,33% das referências), ao suporte do cônjuge 8 vezes (11,11%

das referências), ao suporte da família 39 vezes (54,17% das referências), e 8 vezes ao

suporte dado pelas instituições (11,11% das referências); enquanto que os indivíduo que

sofreu a perda de um familiar por acidente doméstico, referiu o suporte dos amigos 6

vezes (60% das referências), o suporte da comunidade 1 vez (10% das referências), o

suporte da família 2 vezes (20% das referências), e ao suporte fornecido pelas

instituições 1 vez (10 % das citações).

Sendo assim, e com base nas percentagens, podemos observar que os indivíduos

que sofreram a perda de um familiar por morte súbita/violenta devido a um suicídio

fizeram mais vezes referência ao apoio da comunidade (“As pessoas telefonam e vêm cá

a casa. Eu não quero ver ninguém!”) e do cônjuge (“Mas eu tenho uma coisa óptima,

40

eu tenho um marido fantástico (…). E isso conforta-me imenso, saber que não fiquei

sozinha.”); os indivíduos que sofreram a perda de um familiar por morte súbita/violenta

devido a um acidente de viação fizeram mais vezes referência ao apoio da família

(“(…)com o irmão e a minha cunhada. Nós os quatro temos andado sempre juntos.”) e

das instituições (“(…)vocês estiveram sempre presentes, sempre impecáveis.”); e os

indivíduos que sofreram a perda de um familiar por morte súbita/violenta devido a um

acidente doméstico fizeram mais vezes referência ao apoio fornecido pelos amigos

(“(…)tenho tido uma escala de amigos que não sai lá de casa quase(…)”).

3.1.4.Percepção de Suporte Social

O Suporte social foi percepcionado, na sua generalidade, como sendo mais

positivo (81 referências), do que negativo (apenas 11 referências).

3.1.4.1.Relação entre a Percepção de Suporte Social e o Tipo de

Suporte Social

Quadro 13 - Relação entre a Percepção de Suporte Social e o Tipo de Suporte Social

Tipo de Suporte:

Emocional

Tipo de Suporte:

Instrumental

Percepção

Negativa de

Suporte Social

10 1

Percepção

Positiva de

Suporte Social

73 19

Tanto o Suporte emocional como o Suporte Instrumental, foram ambos

percepcionados pelos indivíduos como mais positivos do que negativos. No entanto,

olhando apenas para a Percepção negativa, vemos que existem mais percepções

negativas no suporte emocional (90,9%) (como se pode ver, por exemplo, pelo excerto:

” (…) Pronto, e já estou farta que as pessoas me perguntem como é que eu estou (…)

porque eu depois, como estou sempre a responder, não tenho tempo para sentir. O

apoio pode ser um stress aqui.”) do que no suporte instrumental (9,1%).

41

3.1.4.2.Relação entre Percepção de Suporte Social e Fontes de

Suporte Social

Quadro 14 - Relação entre Percepção de Suporte Social e Fontes de Suporte Social

Percepção Negativa de

Suporte

Percepção Positiva de

Suporte

Amigos 5 24

Comunidade 6 5

Cônjuge 0 12

Família 1 46

Instituições 0 9

Todas as fontes de suporte estudadas foram percepcionadas como mais positivas

do que negativas, excepto a comunidade. Nos amigos, 17,24% das referências à

percepção de suporte foram positivas e 82,76% foram negativas; no cônjuge, 100% das

referências à percepção de suporte foram positivas; na família, apenas 2,13% das

referências relativas à percepção de suporte foram negativas, enquanto as restantes

97,87 % foram negativas; e nas instituições, 100% das referências feitas referiram-se à

percepção positiva de suporte.

Relativamente ao suporte fornecido pela comunidade, 45,45% das referências

referiram-se a percepções positivas desta fonte de suporte, e 54,55 referiram-se a

percepções negativas. Este resultado sugere que o suporte fornecido pela comunidade

foi percepcionado como mais negativo do que positivo (como se pode ver, por exemplo,

pelo excerto: “Eu acho que me soube bem chegar cá, foi o anonimato, ninguém me

conhece. É bom, nestas alturas é muito bom. Em Portalegre era chato, é chato não é? É

chato para mim, as pessoas não têm culpa, não é? Estão preocupadas comigo. Mas

assim que saio à rua aparece sempre alguém conhecido. E aqui sabe-me bem o

anonimato, posso ir, sei lá, posso ir onde quiser.”).

42

3.1.5.Relações entre a Resiliência e o Suporte Social

3.1.5.1. Relação entre Resiliência e Percepção de Suporte Social

Quadro 15 - Relação entre Resiliência e Percepção de Suporte Social

Existiram mais percepções positivas de suporte quando os resultados da CD-

RISC se encontram no intervalo [85-100] – 40 referências (correspondem a 49% das

referências); 34, 57% de referências (28 referências) a percepções de suporte positivas

quando os resultados da CD-RISC se encontram no intervalo [70-85[; e 16,06% de

referências (13 referências) a percepções positivas de suporte quando os resultados se

encontram no intervalo [55-70[.

O efeito contrário também ocorreu: existiram mais referências a percepções

negativas de suporte social quando os resultados da Escala de Resiliência de Connor-

Davidson se encontra no intervalo mais baixo – existem 6 referências, o que equivale a

das 60% referências às percepções de suporte negativas.

Sendo assim, pode dizer-se que os indivíduos com resultados mais altos na

escala de resiliência de Connor-Davidson, possuíam percepções mais positivas do

suporte social recebido (como se pode ver, por exemplo, nesta citação: “O meu marido

tem me ajudado brutalmente, aliás, é uma pessoa extraordinária.”).

Resultados CD-

RISC = [55-70[

Resultados

CD-RISC =

[70-85[

Resultados CD-

RISC = [85-

100]

Percepção

Negativa de

Suporte Social

6 2 2

Percepção

Positiva de

Suporte Social

13 28 40

43

3.1.5.2. Relação entre Resiliência e Fontes de Suporte Social

Quadro 16 - Relação entre Resiliência e Fontes de Suporte Social

Resultados CD-

RISC = [55-70[

Resultados

CD-RISC =

[70-85[

Resultados CD-

RISC = [85-100]

Amigos 9 6 13

Comunidade 3 2 6

Cônjuge 1 5 6

Família 7 16 24

Instituições 1 5 3

Dentro do intervalo de resultados da CD-RISC [55-70[, as fontes de suporte

mais referenciadas foram os amigos, com 9 referências (42,86% das referências feitas

dentro desse grupo), e os amigos, com 7 referências (33,33% das referências feitas

dentro desse grupo). No intervalo de resultados da CD-RISC [70-85[, a fonte de suporte

que foi claramente mais referenciada foi a família, com 16 referências (que equivale a

47,06% das referencias feitas nesse grupo). Por fim, no intervalo que engloba os valores

mais altos, [85-100], as fontes de suporte mais referenciadas foram a família, com 24

referências (o que equivale a 46,15% das referencias feitas nesse grupo), e os amigos,

com 13 referências (25% das referencias do grupo).

No seu total, foram feitas mais referências a fontes de suporte, pelos indivíduos

que tiveram os resultados mais altos na escala de resiliência (52 referências ao todo).

Sendo assim, parece estar explícito que os indivíduos com uma pontuação mais

baixa na escala de resiliência referiram mais vezes como fonte de suporte os amigos (“E

como eu tenho muitos amigos de diferentes frentes, pronto, volta e meia telefonam.”),

enquanto que os indivíduos com a pontuação mais alta referiram mais vezes como fonte

de suporte, a família (“Sim, quer dizer, nós temos os nossos valores da família, temos os

meus tios. Os meus tios lá de Lisboa têm estado um bocadinho ausentes, mas quando

precisamos nestas alturas más eles estão cá sempre.”)

44

3.1.5.3. Relação entre Resiliência e Tipos de Suporte Social

Quadro 17 - Relação entre Resiliência e Tipos de Suporte Social

Resultados

CD-RISC =

[55-70[

Resultados CD-

RISC = [70-85[

Resultados

CD-RISC =

[85-100]

Suporte

Emocional

16 28 38

Suporte

Instrumental

3 7 9

Tendo em conta a tabela apresentada, podemos observar que os indivíduos com

os resultados mais altos na escala de resiliência, são também os que referiram mais

vezes o suporte emocional (referido 38 vezes) (por exemplo: “Temos um padre amigo

que também nos tem dado muito ânimo e muita coragem.”) e instrumental (referido 9

vezes).Contrariamente, os indivíduos cujos resultados se encontram no intervalo mais

baixo, referiram menos vezes os dois tipos de suporte, tanto o emocional (referido 16

vezes), como o instrumental (referido 3 vezes).

45

4. Discussão dos Resultados

O objectivo deste capítulo é a discussão dos resultados descritos ao longo do

capítulo anterior, de forma a poder articulá-los sempre que possível com uma

fundamentação teórica. Este capítulo estará organizado seguindo a mesma ordem de

pontos do capítulo anterior.

4.1. Relação entre as variáveis sócio-contextuais e a resiliência

Ao verificarmos a relação entre resiliência e idade, podemos constatar que a

maioria dos indivíduos mais novos (com menos de 40 anos de idade) obteve os

resultados mais elevados na escala CD-RISC. Relacionando a resiliência com o número

de filhos, observámos que os indivíduos com mais de dois filhos se situaram nos

intervalos mais elevados da escala de Resiliência Connor-Davidson. A análise entre a

resiliência e as outras variáveis sócio-contextuais (sexo, estado civil, habilitações

literárias e características da situação vivida) não foi significativa, muito provavelmente

devido ao reduzido número da amostra e devido à grande homogeneidade da mesma.

Vários estudos realizados após o 11 de Setembro, em Nova Iorque, mostraram

que a resiliência foi mais prevalente em indivíduos casados (em comparação com os

solteiros), em indivíduos com mais anos de escolaridade, em indivíduos mais novos e

em indivíduos do sexo masculino (Mancini & Bonanno, 2006). No entanto há estudos

que dizem o contrário relativamente a certas variáveis. Existem estudos que apontam

para a existência de diferenças de género mas que, no entanto, demonstram que os

indivíduos do sexo masculino e os indivíduos do sexo feminino são igualmente

resilientes (Ripar, Evangelista & Paula, 2008). Outras investigações sugerem que a

resiliência não é específica de género e que não aumenta nem diminui com a idade

(Agaibi & Wilson, 2006). Em relação à idade, também há autores que defendem que as

pessoas mais velhas têm maior probabilidade de serem mais resilientes (Mancini &

Bonanno, 2007). Posto isto, podemos dizer que, relativamente à idade, há estudos

congruentes com os nossos resultados e outros não.

Relativamente à situação vivida, a literatura diz-nos que a maioria dos

indivíduos apresenta uma trajectória resiliente, independentemente da situação, e que

esta trajectória parece ser uma expressão normal da capacidade humana para lidar com

os eventos exigentes. Investigações recentes, mostram que, dentro dos vários tipos de

46

acontecimentos potencialmente traumáticos, mais de 50% dos indivíduos apresentaram

uma trajectória resiliente (Mancini & Bonanno, 2007).

A relação dos indivíduos com os acontecimentos potencialmente traumáticos

está relacionada com a ocorrência em si, com a sua intensidade, frequência, duração e

severidade. Neste sentido, o impacto dos eventos stressores é ainda determinado pela

forma como estes são percebidos – dependendo do contexto em que ocorreram, da sua

rede de suporte social, do grau de desenvolvimento do individuo, das suas experiências

e características individuais (Poletto & Koller, 2008).

Relativamente ao facto de os indivíduos com um maior número de filhos se

terem classificado com melhores resultados na escala de resiliência de Connor-

Davidson, isto pode dever-se ao facto de os filhos serem factores de suporte em si – são

outras relações significativas que podem ser protectoras e reparadoras. O facto de terem

mais filhos também pode influenciar o aumento da rede social, o que pode aumentar os

níveis de suporte.

4.2. Relação entre as variáveis sócio-contextuais e o Suporte social

O suporte social é um factor de protecção que ajuda os indivíduos a modificar e

melhorar respostas pessoais a determinados acontecimentos. Sendo assim, é importante

que o indivíduo possua uma rede de apoio social, com recursos individuais e

institucionais, que encoraje os indivíduos a lidar com as circunstâncias adversas da vida.

4.2.1. Relação entre as variáveis sócio-contextuais e o Tipo de suporte

social

Verificámos que, independentemente da variável a ser analisada, o suporte

emocional foi sempre mais referido do que o suporte instrumental. Esta constatação vai

de acordo com a literatura, visto que o tipo de suporte social que parece ser mais

apreciado na fase mais recente pós-trauma é o suporte emocional (Jacobson, 1986).

Relativamente à relação entre o tipo de suporte social e a idade, o suporte

emocional foi mais referido pelos indivíduos com mais de 40 anos de idade (em

comparação com os indivíduos com menos de 40 anos), e o suporte instrumental foi

mais referido por indivíduos com menos de 40 anos (em comparação com os indivíduos

com mais de 40 anos). Este resultado pode dever-se ao facto de as redes de suporte de

cada um dos grupos de indivíduos serem de faixas etárias diferentes, e por isso sentirem

que devem oferecer tipos de suporte diferentes.

47

O suporte emocional foi mais referido pelos indivíduos do sexo feminino (em

comparação com os indivíduos do sexo masculino); e o suporte instrumental foi mais

referido pelos indivíduos do sexo masculino (em comparação com os indivíduos do

sexo feminino). Isto pode dever-se ao facto de que, segundo a literatura, as mulheres

tendem a procurar mais suporte nos outros, nomeadamente o suporte emocional,

enquanto os homens parecem ser mais fechados e procuram mais suporte numa rede

intra-familiar (Cutrana, 1996).

O suporte emocional foi mais referido pelos indivíduos solteiros (em

comparação com os indivíduos casados); e o suporte instrumental foi mais referido

pelos indivíduos casados (em comparação com os solteiros).

Relativamente à variável demográfica “Número de filhos”, os indivíduos com

mais de dois filhos referiram mais vezes os dois tipos de suporte do que os indivíduos

com menos de dois filhos. Isto pode dever-se ao facto de os filhos também poderem

funcionar como factores de suporte instrumental e emocional.

Os indivíduos com menos de dois filhos fizeram mais referência ao suporte

emocional (em comparação com os indivíduos com mais de dois filhos); e os indivíduos

com mais de dois filhos fizeram mais referência ao suporte instrumental em comparação

com os indivíduos com menos de dois filhos.

Relativamente às habilitações literárias, os indivíduos licenciados referiram mais

vezes o suporte instrumental do que os restantes indivíduos; e os indivíduos com a

escolaridade até ao 9º ano referiram mais vezes o suporte emocional que os restantes

indivíduos.

O suporte emocional foi também mais referido por aqueles que sofreram a morte

de um familiar por acidente de viação (em comparação com os restantes indivíduos); e o

suporte instrumental foi mais referido por aqueles que sofreram a morte de um familiar

por acidente doméstico (em comparação com os restantes indivíduos.

4.2.2. Relação entre as variáveis sócio-contextuais e as Fontes de

Suporte Social

A família foi, no geral, a fonte de suporte mais referida. Ribeiro (1999),

confirma que, para a população portuguesa, a fonte de suporte social mais importante é

48

a família – esta tem um papel muito importante na regulação do stress proveniente do

trauma.

O suporte fornecido pelos amigos, pela comunidade, e pelo cônjuge foi mais

referido pelos indivíduos com menos de 40 anos de idade (em comparação com os

indivíduos com mais de 40 anos); e o suporte fornecido pela família e pelas instituições

foi mais referido pelos indivíduos com mais de 40 anos de idade (em comparação com

os indivíduos com menos de 40 anos).

A investigação tem demonstrado que os aspectos, componentes ou dimensões do

suporte social têm um impacto diferente consoante o grupo etário. Vários

investigadores, como Olsen et al. (1991, citado por Ribeiro, 1999) verificaram que os

elementos mais importantes relativos ao fornecimento de suporte social dependiam do

grupo etário, com o cônjuge a exercer uma maior influência no caso dos jovens e

idosos.

O suporte fornecido pela comunidade, pelo cônjuge e pelas instituições foi mais

referido pelos indivíduos do sexo masculino (em comparação com os indivíduos do

sexo feminino); e o suporte fornecido pelos amigos e pela família foi mais referido

pelos indivíduos do sexo feminino, em comparação com os indivíduos do sexo

masculino.

Segundo Cutrana (1996), o cônjuge é muitas vezes referido como uma grande

ajuda para ultrapassar os tempos de crise (tanto para os indivíduos do sexo masculino,

como para os indivíduos do sexo feminino). No entanto, a investigação revela que os

homens parecem ser mais dependentes das suas esposas no que toca ao fornecimento de

suporte social. Enquanto os homens dependem primariamente do cônjuge para obterem

suporte, as mulheres dependem de uma variedade de fontes, incluindo a família, os

amigos e a comunidade – estas têm uma maior tendência para procurar suporte nos

outros elementos da sua rede social do que nos seus maridos (Cutrana, 1996).

Sendo assim, os homens da nossa amostra evidenciaram mais o apoio do

cônjuge, das instituições e da comunidade (apesar de o apoio oferecido pela

comunidade ter sido considerado mais negativo do que positivo), e as mulheres parecem

ter procurado mais apoio noutras redes de suporte próximas, como os amigos e a

família.

As mulheres não procuram tanto o apoio do marido – segundo a investigação, o

suporte do cônjuge é mais benéfico para o sexo masculino do que para o sexo feminino

49

(as mulheres recebem menos suporte dos seus parceiros do que o que elas lhes

fornecem) (Cutrana, 1996).

Relativamente à variável “Estado Civil”, o suporte da comunidade e dos amigos

foi mais referido pelos indivíduos casados, em comparação com os indivíduos solteiros;

e o suporte fornecido pela família e pelas instituições foi mais referido pelos indivíduos

solteiros, em comparação com os indivíduos casados.

Os indivíduos que sofreram a perda de um familiar por morte súbita/violenta

devido a um suicídio referem mais vezes o apoio da comunidade e do cônjuge (e

comparação com os restantes participantes); indivíduos que sofreram a perda de um

familiar por morte súbita/violenta devido a um acidente de viação fizeram mais vezes

referencia ao apoio da família e das instituições (em comparação com os restantes

participantes); e por fim, os indivíduos que sofreram a perda de um familiar por morte

súbita/violenta devido a um acidente doméstico fizeram mais referência ao apoio

fornecido pelos amigos (em comparação com os restantes participantes).

4.3. Relação entre o suporte social e a sua percepção

Relativamente aos tipos de suporte, tanto o suporte emocional como o suporte

instrumental foram referidos pelos indivíduos como sendo mais positivos do que

negativos. No entanto, olhando apenas para a percepção negativa, podemos ver que

existem mais percepções negativas relativas ao suporte emocional.

Em relação às fontes de suporte, todas foram percepcionadas como mais

positivas do que negativas excepto a referente à comunidade. Não houve nenhuma

referência negativa ao suporte fornecido pelo cônjuge e pelas instituições.

A investigação tem evidenciado que, tanto se verifica que o suporte social é um

amortecedor dos impactos do stress na saúde, como pode estar associado à redução do

bem-estar (Dunbar, Ford & Hunt, 1998; citados por Ribeiro, 1999).

O mesmo comportamento, oferecido pelos outros com a intenção de ser

fornecedor de suporte pode ser visto pelo indivíduo que o recebe como uma ajuda se

recebido no tempo certo, ou como negativo, se recebido no tempo errado (Jacobson,

1986).

Estas referências negativas ao suporte fornecido pela comunidade podem ser

explicadas pelo conceito de “Support overload” (Nichols, 2002), que tem a ver

sobretudo com uma questão de timing. Quanto uma perda ocorre, o indivíduo em luto é

50

muitas vezes “inundado” por pessoas que lhe oferecem condolências, falam sobre o

sucedido, telefonam, etc. E, muitas vezes, quando a perda ocorre, o individuo não tem

ainda capacidade para aceitar todas estas tentativas de suporte – é demasiado para lidar

naquela altura.

4.4. Resiliência e Suporte social

Os factores protectores são factores que podem modificar a reacção à situação

que apresenta risco, ao reduzir as reacções negativas em cadeia (Anaut, 2005).

Investigações anteriores relativas ao fenómeno da resiliência identificaram

vários factores que funcionam como factores protectores e que se podem associar com a

resiliência – um destes factores é a presença de uma rede de suporte disponível,

acessível e de qualidade, que possa oferecer apoio ao individuo quando este dele o

necessite (Agaibi & Wilson, 2005). O suporte social encoraja e reforça os indivíduos a

lidar com as circunstâncias adversas da vida, promovendo assim, a resiliência.

4.4.1. Relação entre resiliência e fontes de suporte social

Os indivíduos com uma pontuação mais baixa na escala de resiliência referiram

mais vezes como fonte de suporte os amigos; enquanto os indivíduos com a pontuação

mais alta referiram mais vezes como fonte de suporte, a família.

A família, como dito anteriormente, é a fonte primordial de suporte da

população portuguesa (apesar de ser mais procurada como fonte de suporte em algumas

idades em comparação com outras), e neste caso parece ser também a melhor fonte de

suporte para a promoção da resiliência.

4.4.2. Relação entre resiliência e tipos de suporte social

Os indivíduos com os resultados mais altos na escala de resiliência são também

os que referiram mais vezes o suporte emocional e instrumental. Contrariamente, os

indivíduos cujos resultados se encontravam no intervalo mais baixo, referiram menos

vezes os dois tipos de suporte. Estes resultados estão de acordo com a teoria – os

indivíduos mais resilientes são aqueles que mais valorizam o suporte social e que mais

procuram a ajuda dos outros (como recursos) em períodos de stress.

4.4.3. Relação entre a percepção de suporte social e a resiliência

Os indivíduos com resultados mais elevados na escala de resiliência de Connor-

Davidson possuíram percepções mais positivas do suporte social percebido. O contrário

51

também ocorreu: os indivíduos com os resultados mais baixos na escala de resiliência

foram os que mais referiram percepções negativas de suporte.

52

5. Conclusão

Neste capítulo serão descritos brevemente os resultados gerais mais relevantes

encontrados. Serão também apontadas as contribuições e limitações desta dissertação,

assim como algumas propostas para investigações futuras nesta área.

5.1. Conclusões Gerais

A análise entre a resiliência e as variáveis sócio-contextuais (sexo, estado civil,

habilitações literárias e características da situação vivida) não foi significativa.

Os indivíduos mais novos (com menos de 40 anos de idade) e com mais de dois

filhos apresentaram melhores resultados na escala de resiliência.

Relativamente ao tipo de suporte social, o suporte emocional foi mais referido

do que o suporte emocional independentemente da idade, sexo, estado civil, número de

filhos, habilitações literárias e características da situação vivida.

Em termos de fontes de suporte social, a família foi, no geral, a fonte mais referida.

Tanto o suporte emocional como o instrumental foram referidos pelos indivíduos

como sendo mais positivos do que negativos.

Em relação às fontes de suporte, todas foram percepcionadas como mais

positivas do que negativas excepto o suporte oferecido pela comunidade (este foi

referido pelos indivíduos como mais negativo do que positivo).

Relativamente à relação entre a resiliência e o suporte social – os indivíduos com

uma pontuação mais alta na escala de resiliência: referiram mais vezes como fonte de

suporte, a família; referiram mais vezes o suporte emocional do que o instrumental; e

possuíram melhores percepções mais positivas do suporte social percebido.

5.2. Contributos

Esta investigação pode ser considerada como um ponto de partida para

investigações futuras nesta área. Penso que seria interessante aprofundar cada uma das

relações, de forma a conseguir resultados significativos e generalizáveis à população

portuguesa que passe por este tipo de situações.

Pode também ser útil no sentido de direccionar as intervenções (tanto

intervenções clínicas como intervenções psicoterapêuticas).

53

5.3. Limitações

Uma das limitações mais relevantes é o tamanho da amostra (N=10), que ao ser

tão pequena, e não representativa, não permite fazer grandes inferências nem

generalizações. Apesar de a recolha ter sido efectuada durante vários meses, foram

poucos os indivíduos que aceitaram participar no estudo. Como o intervalo entre a

vivencia do acontecimento potencialmente traumático e a entrevista foi muito curta,

muitos dos indivíduos encontravam-se ainda muito fragilizados e a retomar ainda o seu

funcionamento normal, não aceitando assim participar no estudo.

Poderiam ter sido feita uma análise de conteúdo mais extensiva às entrevistas,

tendo em conta outras variáveis além do suporte social.

As características da situação vivida também poderiam ter sido caracterizadas de

uma forma diferente.

Uma outra limitação considerada importante é a utilização de um excerto muito

pequeno das entrevistas, e de poucas variáveis. Poderias ter sido estudadas mais

variáveis de forma a compreender a fundo algumas relações.

5.4. Propostas para investigações futuras.

Em investigações futuras consideramos que seria importante explorar mais esta

questão, com uma amostra maior, e com a utilização de uma metodologia mista que

abrangesse também uma bateria de testes de origem quantitativa.

Seria interessante relacionar mais variáveis com a resiliência, no sentido de

perceber melhor o porquê do funcionamento resiliente dos indivíduos.

Poderia ser relevante avaliar a resiliência destes indivíduos em vários momentos

após o acontecimento potencialmente traumático, em vez de esta apenas ser avaliada

uma semana após o sucedido (a investigação de Doutoramento no qual esta dissertação

de mestrado está integrada têm em conta esta questão, e irá realizar um estudo

longitudinal). Outras variáveis que seria interessante estudar e relacionar com as

variáveis do nosso estudo seriam, por exemplo, as estratégias de coping utilizadas, a

adaptabilidade e coesão familiar.

54

Bibliografia

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APÊNDICES

Apêndice 1 – Árvore de Categorias

Nome Fontes Referências Criado em Criado por

Suporte Social 10 88 27-09-2013 14:40 SM

Tipo de Suporte 10 88 07-10-2013 16:27 SM

Instrumental 7 19 07-10-2013 16:44 SM

Emocional 10 82 07-10-2013 16:45 SM

Fontes de Suporte 10 87 07-10-2013 16:27 SM

Família 10 53 07-10-2013 16:35 SM

Conjuge 5 12 07-10-2013 17:51 SM

Família 10 47 07-10-2013 17:57 SM

Amigos 10 28 07-10-2013 16:35 SM

Comunidade 7 11 07-10-2013 16:37 SM

Instituições 5 9 07-10-2013 16:38 SM

Percepção do Suporte 10 90 07-10-2013 16:28 SM

Positiva 10 81 07-10-2013 16:28 SM

Negativa 6 10 07-10-2013 16:28 SM

ANEXOS

Anexo I – Guião de Entrevista Semi-estruturada

Entrevista

Áreas Temáticas Objectivos

Características da Situação vivida e das variáveis

contextuais

Não sendo intrusivo e sem aprofundar detalhes de ansiedade

ou mal-estar. Tentar perceber da narrativa espontânea o grau

de envolvimento e exposição aos seguintes estímulos:

Pessoas mortas

Pessoas com ferimentos graves

Cenários de grande destruição

Reacções de descontrolo emocional de outras pessoas

afectadas

Pessoas significativas desaparecidas

Percepção de que a sua vida ou integridade física corria

perigo

Exposição a actos de violência extrema

Significado atribuído ao acontecimento

Avaliar o significado atribuído ao acontecimento

(responsabilidade pela morte de outra pessoa, culpa, castigo,

destino....)

Sintomatologia Psicológica Sintomatologia despoletada pelo acontecimento vivido

Sintomatologia anterior ao acontecimento

Consequências do Acontecimento Vivido

Mudanças despoletadas pelo acontecimento:

Lesões Físicas

Perda de recursos sociais

Morte de Familiares/Amigos

Desaparecimento de pessoas sognificativas

Perda de bens significativos

Significado Atribuído ao acontecimento

Stress Percebido

Tarefas inesperadas a realizar

Percepção de controlo e competência face às tarefas a

realizar/dificuldades inesperadas

Estratégias de Coping Estratégias de coping adapativas e não-adaptativas

Consumos/Auto-medicação

Suporte Social

Adaptabilidade familiar

Amigos/Vizinhos/Comunidade

Recursos Institucionais

Espiritualidade

Anexo II – Consentimento Informado

CONSENTIMENTO INFORMADO

Foi solicitada a sua participação numa investigação realizada no âmbito do Doutoramento em

Psicologia Clínica da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, que tem por objectivo

investigar como reagimos perante situações exigentes e/ou potencialmente traumáticas.

As suas informações são confidências pois os resultados serão codificados e utilizados apenas no

âmbito deste estudo.

Gostaríamos de saber se aceita participar nesta investigação respondendo a algumas questões. A

sua colaboração é essencial

A sua participação é voluntária, pelo que poderá interrompê-la a qualquer momento.

A Investigadora Responsável O Participante

____________________________ ___________________________

___/___/___ ___/___/___

Anexo III – Connor-Davidson Resilience Scale (CD-RISC) - Traduzida

POR FAVOR COMPLETE COM CANETA PRETA.

Connor-Davidson - Escala de Resiliência

(CD-RISC)

iniciais do nome BI data / /

idade estado civil 0 casado(a) 0 separado (a) 0 viúvo(a)

0 solteiro(a) 0 divorciado(a)

sexo

0 masculino 0 caucasiana 0 asiática 0 feminino raça ou origem étnica 0 africana 0 outra

Por favor indique até que ponto concorda com as seguintes afirmações enquanto se aplicam à sua realidade e a si nesta última semana. Se alguma

destas situações não ocorreu recentemente, responda de acordo com o que pensa que teria sentido caso tivessem ocorrido.

não verdadeira raramente

verdadeira às vezes

verdadeira geralmente

verdadeira quase

sempre

verdadeira

1 Eu sou capaz de me adaptar quando ocorrem

mudanças.

2 Eu tenho pelo menos uma relação próxima e

segura que me ajuda quando estou sob stress.

0 0 0 1 0 2 0 3 0 4

0 0 0 1 0 2 0 3 0 4

3 Quando não existem soluções óbvias para os

meus problemas, por vezes o destino ou Deus podem ajudar.

4 Eu consigo lidar com qualquer coisa que

aconteça na minha vida.

0 0 0 1 0 2 0 3 0 4

0 0 0 1 0 2 0 3 0 4

5 Os sucessos do passado dão-me confiança para

lidar com os novos desafios e dificuldades.

6 Eu tento ver as coisas com humor quando me

deparo com problemas.

0 0 0 1 0 2 0 3 0 4

0 0 0 1 0 2 0 3 0 4

7 Ter de lidar com o stress torna-me mais forte. 0 0 0 1 0 2 0 3 0 4

8 Tenho tendência para recuperar rapidamente

depois de períodos com doença, ferimentos ou outras dificuldades.

9 Bem ou Mal, acredito que a maioria das coisas

acontece por uma razão.

10 Eu dou o meu melhor independentemente dos

resultados que possa vir a ter.

11 Eu acredito que posso atingir os meus

objectivos, mesmo que existam obstáculos.

12 Mesmo quando as coisas parecem não ter

solução, eu não desisto.

0 0 0 1 0 2 0 3 0 4

0 0 0 1 0 2 0 3 0 4

0 0 0 1 0 2 0 3 0 4

0 0 0 1 0 2 0 3 0 4

0 0 0 1 0 2 0 3 0 4

Copyright © 2001, 2003, 2007 by Kathryn M. Connor, M.D.

and Jonathan R.T. Davidson, M.D.

Tradução Faria, J.A. e Ribeiro, M.T. 2008

iniciais do nome BI data / / visita

não verdadeira raramente

verdadeira às vezes

verdadeira geralmente

verdadeira quase

sempre

verdadeira

13 Durante momentos de stress / crise, eu sei onde

procurar ajuda.

14 Sob pressão, mantenho-me focado(a) e a

pensar com clareza.

15 Eu prefiro liderar na resolução de problemas, do

que deixar que os outros tomem todas as decisões.

16 Eu não sou facilmente desencorajado(a) pelo

insucesso.

17 Eu penso em mim como uma pessoa forte ao

lidar com os desafios e dificuldades da vida.

0 0 0 1 0 2 0 3 0 4

0 0 0 1 0 2 0 3 0 4

0 0 0 1 0 2 0 3 0 4

0 0 0 1 0 2 0 3 0 4

0 0 0 1 0 2 0 3 0 4

18 Eu consigo tomar decisões pouco populares ou

difíceis com implicações para outras pessoas, se necessário.

19 Eu sou capaz de lidar com sentimentos

desagradáveis ou dolorosos como a tristeza, o medo e a raiva.

20 Ao lidar com os problemas da vida, às vezes

temos que agir por impulso, sem olhar para o porquê.

21 Eu acredito fortemente que a vida tem um

sentido.

22 Eu sinto que a minha vida está sob o meu

controlo.

0 0 0 1 0 2 0 3 0 4

0 0 0 1 0 2 0 3 0 4

0 0 0 1 0 2 0 3 0 4

0 0 0 1 0 2 0 3 0 4

0 0 0 1 0 2 0 3 0 4

23 Eu gosto de desafios. 0 0 0 1 0 2 0 3 0 4

24 Eu trabalho para atingir os meus objectivos 0 0 0 1 0 2 0 3 0 4 independentemente dos obstáculos que

encontro pelo caminho.

25 Eu orgulho-me dos sucessos que alcanço. 0 0 0 1 0 2 0 3 0 4

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de Dr.Davidson: Box 3812, Duke University Medical Center, Durham NC 27710; e-mail: [email protected].

Copyright © 2001, 2003, 2007 by Kathryn M. Connor, M.D

. and Jonathan R.T. Davidson, M.D.

Tradução Faria, J.A. e Ribeiro, M.T. 2008

Anexo IV – Questionário Sócio-Contextual


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