UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ-UNIVALI
CETRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS- GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM SAÚDE E GESTÃO DO TRABALHO- MESTRADO PROFISSIONALIZANTE
ELAINE PEREIRA ROQUE
GRUPO DE CAMINHADA: DO ESTILO DE VIDA A AUTONOMIA DO SUJEITO
Itajaí- Santa Catarina
2014
ELAINE PEREIRA ROQUE
GRUPO DE CAMINHADA: DO ESTILO DE VIDA A AUTONOMIA DO SUJEITO
Dissertação de Mestrado apresentada como requisito
parcial para obtenção do título de Mestre em Saúde e
Gestão do Trabalho com área em concentração em
Saúde da Família.
Orientador: Professor Doutor Luiz Roberto Agea Cutolo.
Itajaí - Santa Catarina
2014
AGRADECIMENTO
À Deus pelo o Dom da vida e da oportunidade de realizar este trabalho, dotando-me de inteligência e
capacidade.
À minha Mãe Célia, por me compreender e me ajudar nas minhas angustias e tristezas,
impulsionando-me para está conquista, Obrigada por não me deixar desistir, por ter me escutado
infinitas horas no telefone, por me pega no colo mesmo distante. Você é grande responsável por
está Vitória, minha fortaleza.
Ao meu Irmão Danilo por ter cuidado de casa na minha ausência e me aconselhando nas
dificuldades.
Ao professor Cutolo,meu orientador, amigo, companheiro em que só posso pensar em admirar e
espelhar. Obrigada por me acolher, e não desistir dos meus inúmeros projetos, por me dar força
em seguir em frente. Obrigada pelos conselhos, amizade, alegrias, por partilhar, vida,
conhecimento e chimarão em nossos encontros, Obrigada por todo esforço empenhado para
que a nossa defesa fosse possível. Vou sentir saudade.
Ao Professor Marcos Ros, por ter me adotado como bolsista, na verdade por ter me adotado
como filha, obrigada por ter me deixado fazer parte da sua vida, pelo carinho, amor, conselho,
trabalho, conhecimento, e ter me ajudado a amadurecer tanto na vida profissional quanto
pessoal, sinto sua falta meu querido, carrego você no meu coração.
A minha Equipe de trabalho por ter me ajudado em todo os momentos, por me motivar e me ajudar a
trabalhar de uma forma diferenciada e ter compreendido minha ausência em alguns momentos.
Aos integrantes do grupo, protagonistas desta historia tão bonita, que hoje se tornaram meus
queridos amigos.
A minha grande Amiga- Irmã Sara Maso que me ajudou em todos os momentos, obrigada por
estar presente na minha vida todos os dias, por ter me dado uma família Gaucha, e por ter me
ajudado na correção deste trabalho.
“As grandes transformações acontecem quando
passamos pelo fogo. O fogo é quando a vida nos
lança numa situação que nunca imaginamos. Mas
só passando pelo fogo atingimos a possibilidade da
grande transformação”.
Rubem Alves
RESUMO
ROQUE, ELAINE. PEREIRA. Grupo De Caminhada: do Estilo de Vida a Autonomia do
Sujeito. Dissertação do Mestrado de Saúde e Gestão do Trabalho, com área de concentração
em Saúde da Família, Universidade do Vale do Itajaí, UNIVALI, ITAJAÍ- Santa Catarina, 2014.
O presente trabalho trata do processo de transformação de um grupo de apoio em um grupo
operativo, com base na concepção de saúde da integralidade focado na promoção da saúde na
Estratégia Saúde da Família. Tem como objetivo desenvolver um grupo operativo em caminhada
e observar os processos de modificação dos participantes do grupo. Para esta avaliação foram
realizados 12 encontros, usando a metodologia de diário de campo e observação participante
com narrativa dos fatos vivenciados, oportunamente sintetizados em um quadro evidenciando os
fatos mais importantes. Possibilitou a verificação da efetiva transformação gerada
autonomamente nos integrantes do grupo, mostrando a possiblidade de realizar na Estratégia de
Saúde da Família um grupo de Promoção de Saúde, com base na integralidade, vez que valoriza
a real necessidade social, cultural, política e econômica.
Os profissionais da ESF tem a obrigação/responsabilidade de “abraçar” essa mudança por
estarem inseridos na comunidade sendo eles que irão acolher, amparar, escutar, para poder,
assim, gerar vínculo, formando redes solidárias, laços de amizades, podendo dessa forma
observar a efetiva transformação da vida das pessoas pela convivência e experiência de estar em
um ambiente coletivo.
Palavras – Chaves: Promoção da saúde; Estratégia Saúde da Família; Autonomia pessoal.
ABSTRACT
ROQUE, ELAINE. PEREIRA. Walking group: from lifestyle to the autonomy of the subject.
Dissertation for the Master’s degree in Health and Management of Work, with specialization in Family
Health. University of Vale do Itajaí, UNIVALI, Santa Catarina, 2014.
This paper discusses the process of transformation of a support group into an operating group,
based on the concept of health completeness focused on health promotion in the Family Health
Strategy. It aims to develop an operative walking group, and to observe the processes of modification
of the group of participants. For this evaluation, 12 meetings were conducted using the methodology
of field diary and participant observation, with narrative of the facts experienced. These observations
were summarized in a table showing the most important facts. It was found that effective
transformation was generated independently in the group members, showing the possibility of
implementing a Health Promotion Group within the Family Health Strategy, based on the idea of
health completeness, since it values real social, cultural, political and economic needs. Professionals
of the FHS have the obligation/responsibility to "embrace" this change by being inserted in the
community that they that will host, support, listen to, and create bonds with, forming solidarity
networks and friendships. This will enable an effective transformation of people's lives, through living
and experience of being in a collective environment.
Keywords: Health Promotion; Family Health; Strategy; Personal Autonomy
SUMÁRIO
Sumário 1- INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 9
2- CONCEPÇÃO DE SAÚDE ............................................................................................. 11
2.1 VISÃO HIGIENISTA .................................................................................................. 12
2.2 VISÃO SOCIAL. ........................................................................................................ 13
2.3 VISÃO BIOLÓGICA .................................................................................................. 15
2.4 VISÃO INTEGRAL .................................................................................................... 17
3-PROMOÇÃO DE SAÚDE ............................................................................................... 19
4- GRUPO .......................................................................................................................... 24
5- O CAMINHAR COM O GRUPO ..................................................................................... 28
6- OS ENCONTROS .......................................................................................................... 30
7-CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 51
8- ARTIGO ......................................................................................................................... 52
9-REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 71
APÊNDICE A: Termo de Consentimento Livre E Esclarecido ...................................... 74
APÊNDICE B- Diário de Campo ....................................................................................... 76
ANEXO A –PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP .................................................. 77
ANEXO B - TERMO DE ANUÊNCIA ................................................................................. 81
9
1- INTRODUÇÃO
Ver a necessidade do outro e tentar ajuda-lo de alguma maneira sempre fez parte da
minha vida, provavelmente por ter nascido em uma Família tradicionalmente religiosa, onde
a vida em comunidade foi e é muito presente. Este sempre foi o meu contexto, inclusive
graduei-me numa escola religiosa, direcionada por freiras. A religiosa que assumia a direção
da escola tomava como filosofia de ensino, uma visão “holística”, vindo daí a inspiração para
a formação do meu caráter profissional. Penso que meu desempenho acadêmico foi
satisfatório dentro desta filosofia, me permiti ver o ser humano como um todo e não apenas
pela sua enfermidade.
Após concluir minha graduação, iniciei meus trabalhos profissionais indo trabalhar
como enfermeira em um hotel e toda a bagagem holística caiu por terra ficando “adormecido”
em mim o desejo de fazer melhor, algo mais, o que me levou a tomar a decisão de fazer o
mestrado, aprimorando-me e ampliando meus horizontes.
A partir do primeiro semestre do mestrado, pude sentir como se houvesse renascido.
Poder trabalhar com um novo conceito de saúde, um novo Sistema Único de Saúde (SUS),
almejar pôr o que estava aprendendo em prática, uma forma de clinica ampliada, de
promoção de saúde, de integralidade, fazendo a diferença para a comunidade a qual
atendesse.
Hoje sou enfermeira na Estratégia Saúde da Família (ESF) no município de Porto
Belo, assisto a comunidade do bairro Jardim Dourado, uma população de aproximadamente
3800 pessoas. A demanda dessa unidade é elevada, e, com o tempo, pude perceber que
meus “clientes” apareciam repetidamente, normalmente apresentando as mesmas queixas e
problemas. Foi vendo essa realidade que refleti sobre o que poderia ser feito por eles fora de
um consultório, e resolvi então marcar um encontro para conversar e ouvir a comunidade,
focando principalmente nas pessoas que frequentavam a unidade quase que diariamente,
almejando saber o que elas queriam fazer junto com a equipe de saúde para a melhoria da
sua saúde.
10
Das várias propostas que surgiram nessa conversa, decidimos pôr em prática a
caminhada semanal. Essa atividade consistia em uma caminhada até a praia, fazendo uma
partilha de alimentos e emoções, onde pudessem expor e conversar sobre suas frustrações,
seus medos, suas alegrias, suas dificuldades e problemas cotidianos, além de proporcionar
bem estar físico pela atividade. Juntamente com essa atividade, foi decidido por realizarmos
um encontro mensal com danças e confraternização, procurando partilhar esses momentos
com pessoas da comunidade além do grupo.
A realização de um grupo exige muita determinação e força de vontade da equipe.
Requer planejamento, programação, o que torna tudo um desafio inesperado, nos deixando
sem saber o que esperar, se as pessoas realmente virão, se teríamos o suficiente para
formar esse grupo, o que gera uma certa expectativa na equipe.
Por outro lado a maioria há o desafio de pôr o trabalho realmente em prática já que
não se pode ir contra o preconizado pela gestão que permite que se faça alguma atividade
desde que a unidade não pare de funcionar, evitando assim que haja reclamações por parte
dos usuários que não fazem parte da atividade. Esse é um dos motivos que dificultam a
implantação e a continuidade de vários grupos com a mesma finalidade, desmotivando a
participação dos usuários do SUS enquanto ESF.
Em relação ao trabalho em si, pode-se dizer que tem como objetivo desenvolver um
grupo operativo em caminhada, observando os processos de modificação das pessoas
pertencentes ao grupo. É a partir dele que pretendo mostrar para a comunidade, gestores e
equipe de saúde a importância de um trabalho em grupo, como ele pode transformar a vida
das pessoas e a possibilidade de se fazer saúde de forma adversa da convencional,
utilizando a perspectiva dos próprios participantes para demonstrar isso através de seus
relatos.
A relevância acadêmica deste trabalho está em apresentar um novo modo de
trabalho, com olhar diferenciado sobre grupos e promoção de saúde, preparando para a vida
profissional, tendo em vista que essa prática diferenciada não está inserida nas grades
curriculares, inspirando os acadêmicos a uma nova visão filosófica de trabalho.
No âmbito comunitário, pode-se dizer que esse trabalho traz consigo um sentimento
de prestigio já que os “protagonistas” da “pesquisa” são eles mesmos, e a atividade em
11
grupo irá motivá-los, transformando e modificando seu olhar sobre si mesmo, gerando forças
solidárias.
Isso é para o Sistema Único de Saúde (SUS) de suma importância, visto que se
encaixa em suas Políticas Públicas, mostrando para os profissionais que há uma forma de
“fazer saúde” com base na integralidade e na promoção de Saúde, sendo necessário para
isso somente ter uma concepção da mesma com este foco.
2- CONCEPÇÃO DE SAÚDE
As ações sanitárias hoje estão impregnadas na forma como o profissional entende o
que é saúde e doença, logo toda ação em saúde é consequente à concepção de saúde e
doença do profissional que a está realizando.
Exemplificando melhor a saúde é trabalhada exatamente da forma que ela significa
para cada profissional, é por isso que a concepção de saúde é tão importante, pois é ela que
vai guiar a prática, a organização, a maneira que as ações em saúde vão ser realizadas por
cada profissional.
Pensando nisso descrevo a seguir as concepções de Saúde e Doença presentes hoje
na formação dos profissionais, não deixando de destacar a grande importância das
instituições de ensino, pois são as responsáveis pela formação dessa concepção de saúde
nestes profissionais, garantindo a qualidade das suas ações em saúde.
12
2.1 VISÃO HIGIENISTA
No século XVII e XVII a Europa viveu uma fase de transformação no campo político e
econômico onde o poder político era pautado na liderança hereditária dos monarcas (reis) e
da igreja (Deus), chamado “duplo poder” na era medieval. Na época a Burguesia visava
acender ao poder substituindo a nobreza e o clero. (HOBSBAWN, 1996; RUBANO &
MOROZ 1992).
A França desse período apresentava grande concentração de pessoas na área
urbana, desencadeando preocupação pela saúde devido ao acúmulo de cadáveres nos
cemitérios, qualidade do ar, da água, das fontes e destino dos dejetos. Buscando uma
solução paliativa imediata, os cemitérios foram deslocados para fora das cidades,
realizaram-se manobras e ações que facilitassem a circulação de ar, incentivando, por
exemplo, a população a arejar suas casas e, também, distribuindo água potável
(FOUCAULT, 1993).
“... não era verdadeiramente uma medicina dos homens,
corpos e organismos, mas uma medicina das coisas, ar,
água, decomposições, fermentos; uma medicina das
condições de vida e do meio de existência.“ (FOUCAULT,
1993, p.92)
O modelo Higienista surge da noção de salubridade que corresponde ao estado das coisas
do meio e seus elementos constitutivos, o que permite a melhor saúde, e, em outras
palavras, demonstra que a saúde do sujeito está diretamente relacionado às condições
físicas e materiais inseridas em sua volta.
Pensando saúde e doença assim, temos a chamada teoria multicausal, baseada no
conceito dos condicionantes ecológicos ambientais, ou seja, a ambientação ecológica e os
riscos externos aos indivíduos, são capazes de produzir doença. Os sanitaristas que
compartilham essa visão concebem que saúde doença estão relacionada com a proteção da
saúde e a prevenção das doenças.
Trazendo como ações de saúde medidas locais de origem multifatorial, como
qualidade da água, higiene pessoal, prevenções de acidentes, iluminação, aquecimento,
13
ventilação, aleitamento materno, campanha de vacina, suplementação alimentar, irá se
formar um modelo higienista e preventivista.
2.2 VISÃO SOCIAL.
Com o boom da industrialização no século XVIII, ocorreu uma urbanização exacerbada,
trazendo consigo a precariedade das moradias, das condições de trabalho, a falta de
saneamento básico além de uma jornada de trabalho de mais de 12 horas normalmente em
ambientes insalubre, fazendo com que as pessoas adoecessem.
Corroborando com isso havia o estado se eximindo de legislar sobre proteção da classe
trabalhadora, deixando-a manter-se em condições de trabalho que, além de extremamente
ruins, se davam em ambientes úmidos, insalubres e perigosos, com jornada de trabalho
absurdas. (BARBEIRO, 1977)
À medida que esse contexto social se efetivava, as condições de saúde foram se
deteriorando cada vez mais, daí surge a necessidade da criação da comissão de Lei dos
Pobres que concentrou o olhar para a saúde desta população (ROSEN 1994).
“A doença é um atributo da vida. Um organismo vivo é uma
entidade lábil em um mundo de fluxo e mudança. A
doença e a saúde são aspectos desta instabilidade
onipresente, são as expressões das relações mutáveis
entre vários componentes do corpo, entro o corpo e o
ambiente externo no qual ele existe. Como fenômeno
biológico, as causas da doença são procuradas no reino
da natureza; mas no homem a doença possui ainda outra
dimensão: nele a doença não existe como “natureza pura”
sendo mediada e modificada pela atividade social e pelo
ambiente cultural que tal atividade cria” (ROSEN, 1980, p.
77)
Grande movimento revolucionário na Europa no ano de 1848 foi “o marco” da
Medicina Social. Virchow em 1847, ao investigar uma epidemia de Tifo na Prussia, concluiu
14
que as pessoas estavam adoecendo devido a sua condição de vida. Ao conseguir conter a
epidemia apenas com mudanças sociais como saneamento básico, diminuição da carga
horária de trabalho e melhoria salarial, tornou-se conhecido como “pai da Medicina Social”.
“... Nesse estudo Virchow recomendou transformações
econômicas, políticas e sociais que incluíam aumento da
oferta de empregos, melhores salários, autonomia local de
governo, criação de cooperativas agrícolas e uma estrutura
progressiva de impostos. Virchow não pedia soluções
estritamente médicas, como clínicas ou hospitais. Ao
invés disso, ele via origens de saúde nos problemas
sociais. O enfoque mais razoável sobre o problema das
epidemias era portanto mudar as condições que permitiam
que as mesmas ocorressem.”(WAITZKIN,
1980, p. 1) Leubscher, amigo de Virchow, assegura ser a medicina uma atividade
imprescindivelmente social, já que a saúde é de responsabilidade da sociedade e do estado.
As condições de vida tem efeito sobre a saúde/doença devendo ser investigadas
cientificamente, promovendo ações em saúde no sentido de promoção de saúde e combate
à doença no âmbito social e médico (ROSEN,1980).
Após a descoberta de Virchow podemos afirmar que a Saúde das pessoas está
diretamente relacionada com o estilo de vida que levam, não apenas socialmente, mas
culturalmente, economicamente, levando em conta ainda toda a sua história de vida.
(MAEYAMA, M.A; CUTOLO,L.R.A 2010)
A determinação social parte da teoria que saúde e doença são processos determinados
socialmente, ou seja, a pessoa vive, adoece e morre dependendo do seu contexto social.
Assim, questões como cultura, economia, história e ambientação social, acabam
determinando o que vai acontecer com ela no campo sanitário, levando os profissionais de
saúde que compartilham dessa concepção trabalhem com intuito de promoção da saúde.
Levando este conceito para a prática, dentro da ESF, muitas vezes culpamos o
paciente por não se adequar ao tratamento proposto, esquecendo de visualizar seu contexto
social, que pode ser a causa deste insucesso. O tempo gasto com “tagarelices” sobre dietas
e exercícios físicos nas reuniões realizadas, geralmente nos deixa indiferentes à coisas
importantes, como, por exemplo, a preocupação em saber a realidade daquela (as) pessoa
15
(as).
Assim, hipoteticamente, seria oportuno utilizar como exemplo o seguinte caso: Uma
mãe hipertensa, com cinco filhos pequenos e uma mãe acamada para cuidar, que vive
apenas com um salário mínimo, não tem tempo (nem dinheiro) para fazer dieta e/ou
exercício físico. Nesse caso, percebe-se que todo o tratamento prescrito pelo profissional de
saúde torna-se obsoleto se levado em conta o contexto social dessa pessoa. É dessa forma
que se pode observar a importância da ESF na “construção” da saúde das pessoas, o
porque d’ela dever ser além consultório, conhecer a comunidade como um todo, para, ao
depois, tratar cada paciente de forma individualizada. Neste sentido, é relevante lembrar a
importância do trabalho das Agentes Comunitárias de Saúde (ACS), já que é através do
trabalho delas que se consegue formar o elo entre a equipe de saúde e a realidade social
dos pacientes.
2.3 VISÃO BIOLÓGICA
No século XIX, com a derrota dos movimentos sociais revolucionários, a medicina
social sofreu um descenso. Nessa mesma época Pasteur desenvolveu a teoria dos Germes,
ganhando o monopólio da saúde até os dias atuais.
A teoria dos germes de Pasteur define que a causa biológica das enfermidades se dá
por infecção, ou seja, a pessoa adoece devido ao contato com o agente infeccioso, assim,
trata a doença com unicausalidade biológica, levando ao início do grande Complexo
MédicoIndustrial, dando força à indústria farmacêutica, laboratórios e hospitais, formando
com os campos da genética, infectologia, parasitologia, citologia e vacinação, uma
tecnologia usada para diagnóstico e tratamento.
Dessa forma, o monopólio da indústria médica traz consigo poder de alta tecnologia e
cura, e os órgãos de ensinos dos profissionais da saúde que seguem essa concepção
16
unicausal formam profissionais curativistas, afunilando o olhar apenas para a doença e sua
cura esquecendo de todo o contexto. (MAEYAMA, M.A; CUTOLO,L.R.A 2010)
“Para a ciência dominante, a bacteriologia veio liberar a
medicina dos complexos determinantes econômicos,
sociais e políticos que impediam de desenvolver-se
cientificamente” (BARATA, 1985, p. 20).
O modelo biomédico usa a teoria da unicausalidade como base, entendendo que
numa relação em que “A” causa “B”, basta fornecer um “anti-A” para sanar “B”.
Fundamentase no modelo mecanicista e biologicista, que naturaliza o ser Humano, roubando
o sujeito do seu ambiente, da sociedade onde vive, da sua biografia, levando a ações para
tratamento e reabilitação.
Essa teoria trouxe muitos avanços em se tratando de tratamento medicamentoso, é
graças à ela que temos os mais variados tipos de drogas conhecidas, vacinas, bem como
exames, cada vez mais modernos, para facilitar o diagnóstico, técnicas cirúrgicas cada vez
mais complexas. Entretanto, deixa margem para refletirmos se a cura somente pode se dar
dessa forma.
Para tentarmos fazer essa reflexão, vamos utilizar um caso de Tuberculose como exemplo.
Se uma pessoa apresenta sintomas da doença, foi necessário, além do exame físico,
primeiramente descobrir o agente causador da enfermidade, ou seja, o bacilo de Koch,
depois, utiliza-se tecnologia laboratorial para identificar o bacilo em seu organismo, e,
somente a partir daí, dar início a um tratamento medicamentoso que irá proporcionar a cura.
É também devido a esses estudos que sabemos que a Tuberculose é uma doença
transmissível por contato com o indivíduo infectado, mas não se apresenta da mesma forma
para todos, deixando questionamentos como: Se houve contato com pessoa infectada, como
não desenvolveu a doença?Como a teoria da unicausalidade, explica esse fato? A resposta
é simples: Ela não explica.
Essa resposta nos é fornecida pela teoria social, mencionada anteriormente, onde o
desenvolvimento ou não da doença irá depender do contexto social, do seu estilo de vida,
significa dizer que podemos ser portadores de micro-organismos em nosso corpo de forma
latente, e, talvez, nunca desenvolver doença, um bom exemplo disso é o vírus HIV.
Portadores do HIV podem conviver com o vírus em seu sistema por décadas ou por toda a
vida, de forma assintomática, nunca desenvolvendo a doença. Profissionais que tratam
17
diretamente com tuberculosos provavelmente possuem o Bacilo em seu organismo, o que
não significa que desenvolverão a doença.
Contudo, é necessário ressaltar que, o modelo biológico é deveras importante para o
diagnóstico e cura de doenças, entretanto a unicausalidade da doença não deve ser tomada
como verdade absoluta, vez que, as pessoas estão inseridas em uma sociedade, cultural,
economia, historicamente.
2.4 VISÃO INTEGRAL
A saúde integral vê a pessoa em seu contexto, histórico, social, e psíquico, em uma
dinamicidade, influenciado por condicionantes multifatoriais que podem levar ao
adoecimento (MAEYAMA, M. A; CUTOLO, L. R. A. 2010).
Essa visão, amplia a concepção saúde-doença, a partir da percepção da
complexidade dos sujeito, mesclando o modelo social com o modelo biológico, formando
uma única “visão integradora”. Implica em aceitar a determinação social, hierarquicamente
superior aos condicionantes ecológicos ambientais, reconhece o gatilho biológico baseado
no risco. Tal concepção de saúde e doença nos leva as ações integradas de saúde, que
corresponderia a todas as ações sanitárias desenvolvidas de acordo com as necessidades
dos sujeitos. Podemos fazer recuperação/reabilitação em determinados momentos, proteção
e prevenção em outros, e promoção da saúde quando houver necessidade (CUTOLO.
2011).
Levando para o dia a dia da Estratégia de Saúde da Família (ESF), toda unidade de
saúde tem o chamado paciente “habitual”, que refere ter uma “doença” e procura diariamente
a unidade em busca de recurso. Poderia ser descrito como o paciente que chega
diariamente queixando-se de cefaleia referindo não melhorar com o uso do medicamento
prescrito pelo profissional, e, especificamente nesse caso, sendo o profissional formado no
modelo biológico, já haveria passado pelo menos três medicações diferentes, realizado
18
exames como ressonância magnética (RNM), por exemplo, procurando pela causa da dor, e,
provavelmente, sem descobri-la.
Sendo essa mesma pessoa tratada por um profissional formado pelo modelo integral,
a conduta seria ter uma conversa “olho no olho” com o queixoso, tentando dessa forma,
descobrir o contexto em que está imersa a queixa, ou seja, a raiz do problema, o que
provavelmente irá acontecer em uma terceira consulta, quando o paciente já criou uma
espécie de vínculo com o profissional e começa a sentir-se confortável para expor seus
sentimentos e aflições, como por exemplo, que está sofrendo porque seu filho é dependente
químico, rouba, é agressivo, fugitivo (da polícia e/ou traficantes) e que teme por sua vida. O
profissional irá acolher sua angústia, encaminha-lo à outros profissionais (psicólogo, por
exemplo), colocando-se à disposição para sempre que precisar, informando sua equipe para
que haja uma acolhida conjunta do paciente.
Assim, pode-se dizer que, há promoção de saúde quando se utiliza esse olhar
integral, consciente que nem sempre tratamento medicamentoso irá resolver o problema,
que a criação de um vínculo com o paciente, escutando-o e acolhendo-o, poderá auxiliar na
solução do problema, mesmo que seja necessário uso de conjunto de tecnologia biológica e
outros recursos oferecidos. É na ESF que encontramos o cenário perfeito para a prática
desse estilo de pensamento.
Escolhi o modelo da integralidade por me identificar com ele enquanto profissional,
pois imagino que somente com ela atingirei meus objetivos de tentar realizar “saúde” de uma
forma diferente e assim poder modificar a vida das pessoas, proporcionando uma melhora
na qualidade
19
3-PROMOÇÃO DE SAÚDE
Para colocar a integralidade em prática se faz necessário aprender e aplicar outro
conceito relacionado com a saúde, ou seja, a promoção de saúde. A promoção da saúde vai
além da mudança de estilo de vida, ela proporciona um olhar para o coletivo, o ambiente em
todas as dimensões, física, social, política, econômica e cultural. (VERDI, 2002).
Primeiramente, quando estamos falando de saúde, prescinde esclarecer a diferença
entre promoção e prevenção, comumente utilizadas e entendidas como sinônimos, confusão
que reflete na prática, não permitindo conquistar a integralidade.
Essa confusão se dá através de classificação de Leavell Clark em 1976.
Fonte: adaptado de Leavell & Clark, 1976.
Analisando a figura acima, nota-se que a prevenção primária se dá pela “promoção da
saúde” com ações preventivas de alimentação, saneamento básico e exames periódicos,
utilizadas em conjunto com a proteção específica, e que, por aparecem juntas são
entendidas por muitos como sendo única.
A prevenção é colocada em prática por ações que evitam o aparecimento de uma
doença específica, reduzindo sua incidência e prevalência, através do conhecimento
epidemiológico.
20
A nível de ESF, podemos tomar como exemplo de ações preventivas os grupos de
hipertenso, diabéticos, acompanhamento nutricional, controle do tabaco, entre outros, onde
há um comunicador/palestrante, profissional da saúde, apresentando suas palavras como
verdades absolutas enquanto orientam os participantes a respeito do tema. Esse tipo de
reunião, talvez, devesse ficar no passado, ditar o que se pode ou não fazer, de forma
hierarquizada, dando informações para a mudança de hábito, dificilmente surtirão algum
efeito.
Foi com a elaboração da Carta de Ottawa (1986), na Primeira Conferência
Internacional sobre Promoção de saúde, que odierna uma visão moderna para este conceito.
A referida carta descreve que:
Promoção da saúde é o nome dado ao processo de
capacitação da comunidadepara atuar na melhoria de
sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo.
[...] A saúde deve ser vista como um recurso para a vida,
e não como objetivo de viver. Nesse sentido, a saúde é um
conceito positivo, que enfatiza os recursos sociais e
pessoais [...].
Assim, a promoção da saúde não é responsabilidade
exclusiva do setor saúde,e vai para além de um estilo
de vida saudável, na direção de um bem-estar global.
Este conceito mostra que a promoção da saúde vai além do profissional de saúde, ele
faz o papel do mediador, motivador, pois faz se necessário a participação social, para
promover uma mudança na vida do indivíduo.
A promoção de saúde procura transformar as condições de vida, encorajando uma
transformação individual com corresponsabilidade em busca de melhoria para sua vida,
como característica importante o coletivo, trazendo um fortalecimento comunitário, solidário,
para o bem-estar (MAEYAMA, M. A; CUTOLO, L. R. A. 2010).
Podemos dividir a promoção da saúde em um conjunto de valores: vida, saúde,
solidariedade, equidade, democracia, cidadania, desenvolvimento, participação social e
21
combinação estratégica de políticas, ação comunitária e individual para o desenvolvimento
de um sistema de saúde conjunta, de responsabilização múltipla pelos problemas de saúde
(BUSS, P. M. 1998).
A conquista da promoção da saúde se dá quando conseguimos transformar a vida da
pessoa, para isso temos que conhecer a cultura, a comunidade, a família na qual se insere,
seus determinantes e condicionantes (BUSS, P. M. 1998). Prefiro dizer que temos que
conhecer os condicionantes e a determinação social.
Promoção de saúde se dá pelo esforço da comunidade de se organizar para efetivar
melhorias a população, individual e socialmente, assegurando níveis de vida para
conservação e avanço da saúde. (VERDI. 2002).
Nas ações preventivas temos que analisar o comportamento e o estilo de vida do indivíduo
enquanto na promoção de saúde, necessitamos observar o coletivo, o ambiente, o
determinante social, cultural, político e econômico, já que todos poderão influenciar no
processo saúde-doença.
Para Verdi (2002), promover saúde envolve voltar o olhar para o coletivo, para o
ambiente em todas as dimensões, física, social, política, econômica e cultural.
Desta forma, saúde deixa de ser responsabilidade exclusiva do profissional,
tornandose um projeto social interligando política e sociedade, fazendo-se capaz de
promover saúde, curar doenças e ampliar um estilo de vida diferenciado.
À nova concepção de saúde importa uma visão afirmativa,
que a identifica com bem estar e qualidade de vida, e não
simplesmente com ausência de doença. A saúde deixa de
ser um estado estático, biologicamente definido, para ser
compreendida com um estado dinâmico, socialmente
produzido. Neste marco, a intervenção multi e intersetorial
sobre os chamados determinantes do processo saúde-
enfermidade: eis a essência das políticas publica
saudáveis(BUSS,M. P. 2000, p.174).
Assim como houve avanço tecnológico e farmacêutico, as doenças também
“evoluíram”. A medicina tornou-se especializada e, com isso, a promoção de saúde enfrenta
seria “batalha” para ser colocada em prática, vez que requer “olho no olho”, informalidade e
22
um ambiente onde não haja apenas uma verdade tida como absoluta, porém os profissionais
de saúde não tem sua formação voltada para isso.
O modo de vida da sociedade é a fase de desenvolvimento que ela se encontra, de suas
forças produtivas, organização política, social, cultural, história, situação de saúde da
população, sua condição de vida. O estilo de vida diz respeito ao indivíduo ou a um pequeno
grupo, estando relacionado com os seus hábitos, valores, características biológicas,
trabalho, renda, moradia. A situação da saúde está vinculada com o cotidiano, proporcionado
articulações com o processo biológico e social. (MASCARENHAS. C. V. 2005).
A promoção da saúde é mais uma alternativa para atuar
sobre os determinantes da situação da saúde, como
estratégia para melhorar a qualidade de vida e,
consequentemente, a saúde da população. Como
mecanismo operacionais, concretos para a implementação
desta estratégia, as políticas públicas saudáveis envolvem
o compromisso político de situar a saúde no topo da
agenda pública e o compromisso técnico de enfatizar os
fatores determinantes do processo saúde –doença, como
foco de intervenção. (MASCARENHAS. C. V, 2005, p. 49).
Ministério da Saúde tem lançado estratégias incansáveis para que a promoção seja uma
prática cotidiana. Pacto pela vida foi uma delas, entrelaçando a responsabilidade às três
esferas do poder, fornecendo instrumentos para gestão, visando alcançar eficiência e
qualidade em função das necessidades de saúde da população.
O Pacto pela Vida está intimamente ligado a ESF, pois é neste local que saberemos a
prioridade da comunidade para estabelecer metas municipais, regionais, estaduais e
nacionais. Brasil (2006) estabelece Diretrizes Operacionais para os Pactos pela Vida em
defesa do SUS e de Gestão, elencando seis prioridades.
Saúde do Idoso
Controle do câncer de colo de útero e de mama.
Redução da mortalidade infantil e materna.
Fortalecimento da capacidade de respostas às doenças emergentes e endemias,
com ênfase na dengue, hanseníase, tuberculose, malária e influenza.
Promoção da Saúde.
23
Fortalecimento da Atenção Básica
Dentro do Pacto pela Vida a prioridade da promoção de saúde é a implementação da
Política de Promoção de Saúde, visando incentivar a atividade física, os hábitos saudáveis
de alimentação e vida, o controle do tabagismo e do uso abusivo do álcool e cuidados
especiais voltados ao processo de envelhecimento. A promoção de saúde que se estabelece
através do Pacto pela Vida é “engessada”, com características preventivas. Salienta-se que
essas políticas são elaboradas por profissionais de saúde, formados, provavelmente, no
modelo Biomédico, confundindo assim promoção e prevenção, levando a reforçar a
relevância de trabalhos buscando fortalecer essa nova visão.
Assim, fazem-se necessários trabalhos que foquem no que o indivíduo realmente
precisa, nas suas certezas e incertezas, através da partilha de informações em comunidade,
criando verdadeiros laços de amizade.
Com a publicação da portaria nº687 em 30 de março de 2006, deu-se a aprovação da
Política de Promoção da Saúde com uma visão diferenciada, conceituando saúde como
“resultado dos modos de organização da produção, do trabalho da sociedade em
determinado contexto histórico onde o aparato biomédico não consegue modificar os
condicionantes nem determinantes mais amplos desse processo”, e promoção como sendo
“produção de saúde, ou seja, como um modo de pensar e de operar articulado às demais
políticas, e tecnologias, que contribua na construção de ações que possibilitam responder as
necessidades sociais em saúde”. ( BRASIL p. 9 e 10, 2006).
Tem como seu objetivo geral promover a qualidade de vida e reduzir a vulnerabilidade e
riscos à saúde relacionados aos seus determinantes e condicionantes – modo de viver,
condições de trabalho, habitação, ambiente, educação, lazer, cultura, acesso a bens e
serviços essenciais (BRASIL p. 17, 2006).
O sentido contemporâneo de promoção da Saúde que precisa ser imediatamente pautado
deve se colocar à posição de “ir além da Carta de Otawa”. Um movimento de alegria em
direção a vida com disse Henry Sigerist (SIGERIST, E. H, 1937), com valores de inclusão,
justiça, solidariedade, precisa com certa urgência se colocar no lugar de conceito de risco.
24
Em relação à promoção da saúde poderíamos dizer que ela cumpre as necessidades de
uma concepção de saúde e doença mais ampla, percebendo que os indivíduos são mais que
meros sujeitos biológicos naturalizados, são seres sociais.
4- GRUPO
Uma das maneiras de promover a saúde das pessoas é a partir do reconhecimento
das suas necessidades e de intervenções sanitárias é o trabalho com grupo. Portanto, o
grupo operativo e o grupo de apoio são elementos que podem fundamentar uma estratégia
de promoção da saúde.
Admitindo que enquanto profissionais da saúde formamo-nos no modelo biomédico,
ditatorial da verdade absoluta, assumimos a postura que devemos ter todas as respostas e
soluções para os problemas, deixando o usuário assumir papel passiva quando trabalhamos
em grupos agimos da mesma maneira e somos fadados ao fracasso.
Pacientes Hipertensos e Diabéticos estão cansados de encontros ditatoriais onde
profissionais da saúde impõem as regras do que se pode ou não, do certo e do errado,
barganhando ao final com receitas, medicações, prêmios e lanches. Vê-se ai a necessidade
da mudança, da transformação para um modelo com nova abordagem, centrada na
integralidade do usuário, acolhendo suas verdadeiras necessidades.
Essa nova abordagem remete à um local onde possa haver partilha, trocas de
experiências, estimulando soluções conjuntas para os problemas, gerando no paciente o
desenvolvimento da autonomia, valorizando o momento em grupo, e criando adesão ao
mesmo por escolha, possibilitando a verdadeira promoção de saúde. O vínculo, o
acolhimento, a escuta, o apoio, o suporte, o espaço de reflexão são elementos dessa
promoção.
Zimerman (2000), apresenta requisitos caracterizando grupo como sendo:
“integrantes que estão reunidos em torno de uma tarefa por um objetivo comum, constituindo
25
uma nova entidade com leis e mecanismos específicos, uma unidade que deve organizar-se
a serviço de seus membros, preservando a identidade individual, com coordenação para
garantir a integração, interação e motivação. Sua essência vai além de um somatório de
pessoas”.
O grupo não se caracteriza pela união de pessoas, ele surge de um objetivo comum e
tem uma identidade própria, assim os participantes estarão reunidos em torno de uma tarefa
de sua necessidade para atingir o seu objetivo que é coletivo em sua comunidade.
(FREITAS ET AL , 2006.) O trabalho em Grupo favorece a comunicação dos profissionais de saúde com os
usuários estreitando suas relações, fazendo com que os profissionais obtenham os reais
interesses na busca pelo serviço. Relatos de experiências mostram que nestes momentos o
dito pelos pacientes passa de “vim porque estou com dor” para “tenho dificuldade de lidar
com minha filha que está usando droga”.. (BRASIL, 2010 ).
Diferente de uma consulta individualizada, o grupo recebe tratamento informal,
sentam-se em círculo, olham-se nos olhos, quebram barreiras e estreitam relações. O
conhecimento não centraliza-se mais no profissional da saúde passando a ser de todos no
momento em que compartilham suas experiências, potencializando o vínculo através dos
encontros continuados, garantindo um acompanhamento longitudinal
A atividade grupal proporciona agregar várias pessoas da mesma comunidade, com
pensamentos hábitos semelhantes, com fatos de vida parecido, a chamada “caixa de
ressonância”, como um violão, o que é expressado toca em outra pessoa por fazer parte da
vida dela também, essa troca de experiência faz com que as pessoas consigam solucionar
os seus problemas por elas mesmas, formando uma rede social de suporte para o cotidiano
Além- grupo. O grupo só consegue sua continuidade quando as pessoas se reconhecem nas
outras. (BRASIL, 2010)
Esse tocar nas pessoas só é permitido através do vínculo que se estabelece entre
eles. Pichon (1988) conceitua vínculo como “relação particular do indivíduo com o outro, com
um objeto e com o mundo”. Com o vínculo podemos compreender como é a relação das
pessoas com o seu contexto histórico de vida. Um espaço seguro para poder experimentar
seus medos, angustias, vergonhas, o viver, ser espontâneo, uma zona intermediária de
experiência.
26
Nessa seara, reforço que a ESF é o local mais adequado para se ter este tipo de
experiência, pois cada unidade está inserida conforme a realidade e o contexto da
comunidade a que pertence, o Grupo é um instrumento para olhar a relação e o modo de
viver da comunidade, olhar o indivíduo e o coletivo separadamente e em conjunto.
O trabalho em grupo favorece intervenções além da doença, integrando ações
preventivas e de promoção de saúde, possibilitando aos profissionais uma compreensão
mais ampla, mutando o espaço através da troca de “saberes”, facilitando a transformação
tanto da comunidade quanto da equipe. (FREITAS ET AL, 2006.)
Formar um grupo exige planejamento, objetivo, temas de encontro definidos,
metodologia, divulgação e avaliação, conforme exposto na sequência.
Sem planejamentos não há como atingir algum objetivo e, com grupos, não seria
diferente. Inicialmente o que se deve ter em mente é a necessidade da comunidade, para
somente depois estabelecer os objetivos pertinentes para alcançá-la.
Os profissionais, antes de reunir as pessoas, devem refletir sobre o porquê de
reunilas, quais seus interesses em comum, procurando estabelecer com os próprios
integrantes o que buscam e desejam. São esses “fatores” que permitem planejar e melhorar
o grupo a cada encontro.
Primeiramente temos que avaliar a qual tipo de grupo seu objetivo se adapta, já que,
existem diversos tipos de grupos: terapêutico, psicoterápico, por faixa etária (ciclo de vida),
por gênero, por tipo de cuidados, institucionais, aberto a toda comunidade, de convivência.
(FREITAS ET AL , 2006.)
O mais comum às unidades de saúde é o Grupo terapêutico, pois ele se encaixa
perfeitamente no modo biológico utilizado na formação do profissional (Hipertenso,
Diabéticos, Tabagista). O Grupo de terapia comunitária foi desenvolvido por Adalberto
Barreto, que ensina a criar redes sociais solidárias de promoção de vida, preocupa-se com
os problemas sociais, drogas, violências, rejeições, estresses, conflitos, transformando
dependência em autonomia, carência em competência, relações verticais em horizontais,
estimulando a usar criatividade para construir o presente e o futuro com os próprios
27
recursos, podendo ser liderada por qualquer pessoa da equipe, gerando fortalecimento,
apoio, reestruturação e socialização.
O grupo de convivência foi desenvolvido principalmente para usuários da terceira
idade, colaborando com a melhorar emocional, mostrando remissão de quadros depressivos,
socialização e redução da solidão. As atividades realizadas são voltadas a socialização e a
vida comunitária, com trabalhos manuais, festas, passeios e jogos (dominó, baralho, bingo e
bochas).
Grupo para mulheres tem seu foco em pessoas que buscam a unidade com queixas
sem explicação médica, costumam ser abertos e de tema livre, procurando inspirar
sentimento de acolhida, promovendo espaço para refletirem e serem ouvidas, dando
liberdade para exporem problemas, dificuldades e tensões cotidianas, promovendo
autoestima e superação.
Quanto ao tema que será discutido no grupo, é certo que se parta das necessidades
dos integrantes, muitas vezes a equipe de saúde se apodera dessa etapa e faz com que o
grupo seja chato, desinteressado, perdendo a motivação podendo levar até o “falecimento”
do grupo. É claro que há uma parte do planejamento que é exclusivo da equipe de saúde,
como a escolha da metodologia do encontro, a forma transmitir o tema e que recursos usar
para deixar o encontro mais dinâmico. (FREITAS ET AL, 2006.)
A expectativa maior gerada ao se planejar um grupo é se as pessoas irão
comparecer, tornando-se irrelevante um bom planejamento quando houver falha na
divulgação. FREITAS ET AL (2006) utiliza convite pessoal, com local, data e hora marcadas,
como estratégia de divulgação, devendo ser entregue à população por toda a equipe e não
exclusivamente pelos Agentes Comunitários de Saúde. Considera também a elaboração de
cartazes (banners) à serem colocados na unidade de saúde e em pontos estratégicos da
comunidade, facilitando caso a comunidade seja muito populosa, que, no caso, certamente
não será integralmente atingida pelos convites pessoais. Utilizar a tecnologia a favor da
comunidade é sempre oportuno, anúncios em programas de rádio e facebook aumentam a
abrangência nessa etapa onde é importante informar.
Avaliação é a última, e, muitas vezes, é esquecida. É uma etapa fundamental já que o
planejamento e o subsídio para os próximos encontros dependem dela. Deve ser dividida em
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duas – avaliação da equipe e avaliação dos integrantes – devendo-se evitar perguntas que
projetem para respostas como: “Foi bom “ou Foi ruim”, construindo uma metodologia que
facilite e permita que todos possam avaliar, as atividades devem ser registradas, apontando
os pontos positivos e negativos, fundamentado os objetivos alcançados através dos
resultados obtidos.
Planejamento é necessário para a construção de um trabalho, mas pensando em
grupo o mais importante é deixar ver o que pode acontecer, sair do regramento e da
formalidade, significa olhar nos olhos, pegar na mão, ouvir, partilhar, lidar com o inusitado,
deixar acontecer e construir relações a partir dos acontecimentos, criando laços solidários e
vivência coletiva.
Agindo assim deixamos de ter grupos de doença ao transforma-los em grupo que
promovem saúde, fazendo saúde sem falar nela, apenas com forças solidárias, no sentido
de que, na prática, é o local onde as pessoas se sentem confortáveis em partilhar seus
problemas, ali encontrando apoio para se reestruturar, criar vínculo, confiança, carinho e
amizade. À medida que os encontros vão acontecendo, ocorre gradativamente o aumento
destas forças solidárias e as pessoas, antes estranhas umas para as outras, passam a fazer
parte, assim conseguimos promover sua saúde de forma natural.
5- O CAMINHAR COM O GRUPO
Resolvi trabalhar em grupo por entender saúde de uma forma integral, baseada na
promoção de saúde, procurando fazer algo que efetivamente transforme a vida das pessoas.
Em meu trabalho fui percebendo a repetição da busca de solução pelas pessoas, e que a
equipe de saúde não estava dando conta, pois a procura a unidade de saúde era diária.
Foi pensando nesses pacientes que tomei a iniciativa promover um encontro e
conversar com a comunidade, e, principalmente, com as pessoas que frequentavam muito a
unidade tentando entender o que elas queriam fazer junto com a equipe para a melhoria de
sua saúde. Várias propostas surgiram nessa conversa e hoje o que temos em prática é a
caminhada semanal até a praia compartilhando experiências, momentos, fatos cotidianos
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que ocuparam a semana, alegrias e dificuldades, e, também, aproveitar o momento para
partilhar alimentos (no geral frutas), além de um encontro mensal para dançar, se divertir e
confraternizar em comunidade.
Utilizei para esta pesquisa a análise de 12 encontros de caminhada, onde cada
integrante do grupo foi denominado com uma cor (AZUL, AMARELO, VERDE, LARANJA,
ROSA). Ao final de cada encontro descrevia os acontecimentos juntamente com as minhas
percepções e sentimentos em meu diário de campo. A opção pelo relato posterior a cada
encontro veio da necessidade que senti em fazer parte da vida deles, aproveitando o
momento para criar os vínculos ao tempo que compartilhava a experiência, já que a intensão
era conseguir obter dados da forma mais natural possível. Considerava o fato de ser a
enfermeira da unidade fator suficiente para ser vista como uma barreira, e, com uma
prancheta na mão descrevendo o momento agravaria tornando-a maior me mostrando como
mera observadora, o que não era o meu objetivo.
Em minhas anotações mencionava de forma narrativa e descritiva tudo o que mais
chamava minha atenção, colocando praticamente o inteiro teor das conversas, inferindo
nelas minhas sensações, a evolução do grupo, como eles se relacionavam, a visão deles
sobre mim, colocando expressões que eles usavam e as minhas impressões sobre as
experiências que estávamos compartilhando.
A rotina dos encontros se dava da seguinte forma: saída às quintas-feiras oito horas
da manhã da frente da unidade de saúde caminhando até a praia, parávamos para partilhar
frutas na sombra da Figueira. Depois da partilha nos alongávamos e retornávamos para a
unidade.
No decorrer dos encontros, o grupo decidiu mudar o horário da caminhada devido ao
clima e a alta temperatura no horário, estipulando então as sete horas da manhã para o
início, o local de encontro também foi mudado para a casa de um dos integrantes do grupo,
por ser mais oportuno para todos. Tais modificações foram acontecendo naturalmente e de
acordo com a vontade/escolha deles, não afetando o andamento dos encontros.
As pessoas iam se encontrando e o grupo ia ganhando forma e se transformando
naturalmente em grupo Operativo de promoção de saúde. A partilha, o afeto, a
solidariedade, a empatia, colocando-se no lugar do outro, o estar junto, as redes solidárias, o
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vínculo, o sorrir, o chorar, o abraçar, o pegar na mão, todos esses fatores influenciaram na
vida de cada pessoa do grupo e de uma maneira natural as nossas vidas foram se
modificando para melhor. Com o tempo, percebemos que o grupo que era para ser um grupo
de apoio aos idosos em caminhada, passou a ser um grupo de promoção à saúde pelos
resultados e processos experimentados.
Acredito que a transição de grupo de apoio para grupo operativo pode ser encarada
como a transformação de um grupo de proteção e prevenção da saúde em um grupo de
promoção da saúde, já que o grupo de apoio baseia-se na alimentação, exercício físico,
diminuição do sal, medicação correta, enquanto o foco do grupo Operativo é escutar,
partilhar, estar juntos, criar vínculo, formar novas amizades e redes solidárias.
A concepção de saúde e doença que encaixa em um grupo operativo é a da
integralidade, vez que, é nessa condição que sujeitos coletivos são entendidos em toda a
sua complexidade. Um hipertenso não é uma “arteríola constrita”, um diabético não é “um
pâncreas insuficiente”, eles são pessoas com histórias, vivências, sonhos, frustrações que,
quando compartilham em grupo, geram fluxo, movimento em direção à vida.
Os integrantes do nosso grupo deixaram de ser sujeitos naturalizados, biologicisados
e passaram a ser pessoas atuantes construindo sua própria história.
6- OS ENCONTROS
Análise do Primeiro Encontro.
O primeiro encontro foi marcado por cinco acontecimentos. O primeiro fere-se aos
meus sentimentos com relação ao grupo, minhas sensações. Antes de iniciar a caminhada, a
sensação medo e frustração era intensa. Meu receio era quanto a participação/aderência
das pessoas ao grupo, se eles iriam ficar satisfeitos, contentes com essa atividade, já que o
maior problema que os profissionais encontram ao implantar esse tipo de grupo é a falta de
integrantes, o que me afligiu justamente por não desejar ser a próxima queixosa.
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No momento que percebi que essas aflições eram infundadas, senti um imenso alivio,
as pessoas apareceram, aparentemente mostraram satisfação e vontade de manter o grupo,
mostrando a possibilidade de dar certo. Essa percepção será corroborada com a descrição
dos relatos na sequência. Ao final da caminhada minhas preocupações eram outras, não
sabia se deveria deixar a conversa fluir livremente ou intervir para me inteirar de suas vidas.
Cogitei se deveria falar em promoção de saúde, já que esta seria a finalidade do
grupo, mas após um momento de reflexão percebi que seria melhor deixar as coisas
acontecerem e procurar fazer parte, conhecer, criar vínculo com essas pessoas, sem
cobranças ou exigências.
Em 2003, CAMPOS fez uma pesquisa visando descobrir como os profissionais da
saúde de um determinado município de SC realizavam seus grupos, constatando que esses
profissionais não o faziam de forma correta, pois o que faziam era uma espécie de “consulta
coletiva”, com excessivas sessões de informações, o que colaborava para o afastamento dos
pacientes, praticamente determinando a extinção do grupos. É nessas pesquisas que
observamos a falta de preparo do profissional para lidar com esse tipo de trabalho, partindo
daí os relatos das dificuldades de se manter o grupo, que não dá certo porque a comunidade
não gosta e não comparece aos encontros.
Os demais acontecimentos referem-se às vivências compartilhadas na caminhada, e,
também, pude perceber já neste primeiro encontro que os integrantes estavam gostando e
referiam bem estar durante a caminhada, com comentários como “a caminhada faz bem para
alma, traz paz,” fazendo-me enxergar que essas sensações estavam relacionadas com o
estar entre amigos, em contato com a natureza, fazer exercício e poder contemplar o mar ao
mesmo tempo. Isso demonstra que estar em grupo, se relacionando com outras pessoas
proporciona esse tipo de sensações, criando uma espécie de “vicio coletivo”.
Outro fato que chamou minha atenção foi que ao abrir espaço para confraternizarem
partilhando alimentos (frutas), eles interagiam e compartilhavam seus sentimentos, buscando
conhecer um ao outro, como quando AMARELO (52 anos) expôs seu sentimento de tristeza
pelo falecimento de seu esposo há pouco tempo, contando que decidiu participar da
caminhada por insistência das irmãs, que no início sentia-se triste, mas o sentimento foi se
amenizando e ficando melhor. As irmãs ao verem amarelo expressar esses sentimento
seguraram suas mãos mostrando em sinal de união e que ela não estava sozinha. Disso
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podemos tirar que AMARELO viu no grupo um ambiente diferente, que lhe proporcionou
conforto e possibilidade de expressar seus sentimentos, tirando-a de sua tristeza, pois
encontrou um lugar que apoio.
Foi marcante também o corrido no alongamento, que seria uma atividade física
destinada a relaxar o corpo mas que se transformou em um momento de alegria,
descontração, “riso solto”, pois AZUL (70 anos), fazia piada e debochava dos outros quando
se desequilibravam enquanto ROSA (68 anos), ajudava os colegas a não caírem. Isso
mostra que mais importante que fazer exercício físico, é promover alegria, a felicidade,
através da liberdade que se promove na vivencia coletiva.
Enquanto retornávamos para a unidade, houve mais um momento marcante, no qual
AZUL “liderou” uma “cantoria coletiva”, relembrando músicas antigas, sucesso do seu tempo,
mostrando o contentamento dos integrantes por estarem junto nessa atividade.
O ultimo acontecimento desse primeiro encontro foi a demonstração de afeto, ao se
despedirem, diferente do momento do início da atividade quando não se conheciam,
despediram-se com intimidade, abraços e beijos o que claramente mostra o vínculo se
formando entre eles.
Analise do Segundo Encontro.
Alegria ao se encontrarem novamente, todos sorrindo e se cumprimentando,
abraçando-se com mais intimidade, reforçando o vínculo que estavam construindo a cada
encontro, nesse momento percebeu-se que já não se tratava mais de pessoas
desconhecidas, que haviam laços se formando.
Separaram-se naturalmente por gênero e cultura, homens conversaram sobre
pescaria e as mulheres trocavam receitas, separação legitima inevitável, é muito difícil
conseguir que o grupo converse o mesmo assunto todos juntos, pois naturalmente os
participantes vão se agrupando e trocando experiências comuns à eles.
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Nesse sentido o caderno de Humanização do SUS mostra que o trabalho em grupo
possibilita agregar pessoas que são da mesma comunidade, que tem pensamentos e hábitos
semelhantes, histórias de vida com fatos e valores parecidos. É nessa partilha de
semelhanças que a pessoa vai se encontrar, vincular e amparar o outro.
O terceiro acontecimento foi a manifestação do que cada pessoa gostava de fazer após
uma pergunta gatilho feita por mim. AZUL respondeu que gostava de plantar, ROSA de
cozinhar, VERDE (55 anos) de pescar com seu irmão antes dele falecer, LARANJA (50
anos) de assistir televisão com o seu cachorro, AMARELO de estar em família e ler livros.
Considerando o momento que Amarelo estava passando a menção do fato de gostar
de estar em família, se sobressai devido ao sentimento de perda e luto.
Rosa me perguntou sobre a minha preferência. Respondi que gostava de “navegar”
na internet e de estar com eles. Todos sorriram naquele momento e sentiram-se importantes.
O fato é que, para mim, estar com eles era muito mais do que trabalho, era alegria e
satisfação por poder estar juntos, partilhando e aprendendo, criando verdadeiros amigos.
Novamente o riso solto fez parte do encontro no momento de alongar, transformando
o exercício em algo prazeroso e feliz, num momento de descontração, piada e risos, e de
ajudar o outro que está com dificuldade, criando uma rede de solidariedade despercebida e
natural. É natural, não é uma obrigação, como normalmente ocorre em momento de tristeza,
dor ou perda, a rede solidaria em momento de felicidade é uma rede sincera solidificada na
verdade.
Na volta da caminhada as integrantes do grupo manifestaram interesse em saber
minha história. Contei-lhes que tinha 25 anos, que minha família era de Minas Gerias e
mudei-me para SC devido ao mestrado, morava sozinha e tinha saudade da minha família.
Após o relato ocorreu uma demonstração de carinho das integrantes do grupo dando um
abraço coletivo, solidarizando com o meu contexto de vida, me senti vulnerável e acolhida ao
mesmo tempo, e aquilo me fez perceber que a partir daquele momento poderia contar com
elas, reforçando a nossa rede solidária, vínculo; o espaço de escuta, partilha e solidariedade,
senti-me realmente parte do grupo, uma integrante e não apenas um membro da equipe,
pude transpor a barreia de “enfermeira” da unidade à “amiga” deles.
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Na volta para casa, ROSA e AZUL me convidaram para tomar café. Recusei pois
ainda estava em horário de trabalho. O Modelo Biomédico é enraizado devido a nossa
formação. Na visão integral, o “tomar café” na casa de alguém também é trabalho, contudo,
pelo fato de este não ser o modelo adotado pela gestão, há uma cobrança que leva a esse
tipo de recusa.
Analise do Terceiro Encontro.
A partir da pergunta gatilho feita por mim, partilhamos nossa semana, VERDE contou
sobre como gostava de pescar com o seu irmão, e que depois do seu falecimento nunca
mais havia pescado, mas que após conversar com AZUL na semana passada, durante a
caminhada, sentiu vontade de pescar novamente e que tinha pego dois peixes e estava feliz
com isso. Este fato mostra a importância desses encontros, uma mudança positiva na vida
dos integrantes.
Não posso afirmar que a mudança na vida de VERDE deu-se somente devido ao
grupo, mas certamente isso contribuiu de uma forma significativa, ajudando-o vencer seu
sentimento de perda e o bloqueio emocional, transformando sua vida, devolvendo o prazer
pela pescaria, trazendo alegria e um novo estilo de vida.
No alongamento VERDE constatou que não haveria piadas e deboche, expressando a
falta AZUL naquele dia, já que ele é o “farrista” da turma. Sentir falta de alguém mostra como
a pessoa é importante, mostra que o vínculo e a amizade estão crescendo e fortalecendo
gradativamente.
LARANJA manifestou vontade de voltar trabalhar, aproveitando a temporada, o que
surpreendeu por ela ser uma pessoa que gostava de ficar assistindo televisão com o
cachorro, mostrando que o grupo a motivou dando-lhe animo para tomar essa atitude, gerou
autonomia em sua conduta.
VERDE e LARANJA compartilharam sua historia de vida e me convidaram para
conhecer sua casa. Verde me mostrou suas tarrafas de pescar e os peixes no freezer,
Laranja me mostrou seu cachorro e o porta retrato da família, apresentando sua filha, genro
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e neto, expressou o sentimento de ser mãe do coração, pois não podia ter filhos e adotou
sua filha com muito amor e carinho.
Não convidamos para nossa casa estranhos e pessoas das quais não gostamos, mas
aquelas que gostaríamos de “dividir” nossas experiências. Essa interação somente é
possível quando se tem um vínculo, laço de amizade. Essa rede solidária vai se
entrelaçando em sentimentos e se fortalecendo a cada encontro transformando o individuo.
Analise do Quarto Encontro.
Nesse dia AZUL e VERDE ficaram triste ao ver a lagoa que tanto gostavam, poluída,
partilharam lembranças do passado quando iam à lagoa para pescar, encontrar com outras
pessoas, se divertir, e decidiram tentar ajudar na recuperação da mesma da forma que
poderiam, recolhendo o lixo que estava jogado. Aparece ai a Solidariedade, não apenas em
retirar o lixo da lagoa, mas de estarem juntos fazendo algo para contribuir enquanto
cidadãos.
AZUL E VERDE trocaram experiências e aprendizados e me ensinaram coisas
referente ao mar, como o significado de maré alta e maré baixa, e nessa conversa
conseguimos achar algo em comum, todos já ajudaram a puxar rede do mar carregada de
Tainha. Toda partilha tem troca de experiência e aprendizado e apesar da diferença de idade
e estilo de vida conseguimos achar algo em comum, que nos aproximou e aumentou o nosso
vínculo e amizade.
Os integrantes relataram a diferença que sentem ao caminhar em grupo e ao
caminhar sozinhos. VERDE disse que estava gostando muito de caminhar nas quintas feiras,
que se sentia feliz, mais para cima e que é diferente quando vem outro dia caminhar:
“não sinto a mesma coisa”. AZUL disse que passa a semana muito sozinho, só com a esposa: “por mais que eu
vou ao supermercado, farmácia, posto não é a mesma coisa do que aqui”. Essa exposição
significa promoção de saúde acontecendo, algo além. A diferença relatada por eles é um
mistério, talvez o que podemos perceber é que o fato de estar junto, partilhando a vida,
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criando laços de afetividade, promove uma força maior de bem estar, alegria, felicidade que
não se encontra em outro lugar e promove um vício positivo.
Esse sentimento só surge em grupo quando ele se torna seguro, quando as pessoas
confiam umas nas outras, quando podem ser espontâneas, sem medo, sem vergonha,
acolhida da forma que elas são.
Analise do Quinto Encontro.
Percebo que a euforia toma conta deles todas as vezes que se encontram em grupo,
todos se abraçam, beijam, sorriem, querem saber como o outro está. Gradativamente a
intimidade aumenta gerando alegria e satisfação somente por estarem juntos novamente.
Ver a solidariedade demostrada com AMARELO pelo fato de seu cão não estar
comendo e brincando, “ele é a minha companhia e a lembrança do meu marido”, foi uma
frase acompanhada de lágrimas, demonstrando sua tristeza e preocupação. ROSA e
VERMELHO abraçaram-na em sinal de solidariedade para com ela. O fato de Amarelo
verbalizar sua tristeza e receber um gesto de carinho e apoio do grupo ajuda na superação
de suas dificuldades.
ROSA mostrou-se carente ao partilhar sua vida com os outros. Sua carência
“fisiológica”, acontece com a maioria dos Idosos quando a família não mora na mesma
cidade, e é para estes que esse tipo de encontros tem maior importância, servindo para
formar novos laços de amizade e expandir o convívio social que é importante em todas as
etapas da vida.
Na confraternização AMARELO queixou-se sobre o calor e deu a ideia de modificar o
horário da caminhada para sete da manhã, ao que todos concordaram. Nesse momento
AZUL aproveitou e deu a ideia de o grupo iniciar a caminhada em frente a sua casa, já que
todos são vizinhos e a casa é caminho, novamente houve concordância geral. A autonomia
do grupo se dá com o seu amadurecimento, não desrespeitando a qualidade do encontro e
formando vínculo entre as pessoas que participam.
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Analise do Sexto Encontro.
ROSA falou sobre o acidente que o filho sofreu em Blumenau durante a semana,
porém percebi que havia algo além disso e resolvi questiona-la, mas ela me respondeu
preferia não falar de seus problemas. Isso mostra que o vínculo já é forte o bastante para
que se perceba algo errado no outro apesar de nesse caso a pessoa preferir não
compartilhar o problema e sua vontade foi respeitada.
LARANJA contou que estava trabalhando como cuidadora de Idoso na meia praia, estava
empolgada, feliz, e com dúvida em alguns cuidados, ao que pediu meu auxilio. Fiquei feliz
por poder partilhar esse aprendizado com ela.
AZUL convidou todo o grupo para ajudar na colheita do milho que tinha plantando.
Todos aceitaram com alegria, ficando combinado para a próxima quinta às oito da manhã.
Este convite mostra a rede de solidariedade funcionando mais uma vez.
Analise do Sétimo Encontro.
Dia da colheita de milho. Eles partilharam lembranças da infância, o que a plantação
significava para cada um. AMARELO lembrou que passava os finais de semana e as férias
na casa da avó e que ajudava os primos na colheita, mas que via aquilo como uma
brincadeira e não como trabalho. AZUL contou que morava na roça e sua infância foi sofrida,
tinha que ajudar o pai a colher para conseguir algum dinheiro, encarava a colheita como
trabalho pois era a renda da família, até mesmo pequenos ajudavam.
As lembranças fazem bem para as pessoas, pois relembrar algo que viveu sendo bom
ou ruim nos faz refletir como estamos hoje, como era e tudo que conquistamos.
ROSA manteve-se distante, até mesmo isolada do restante do grupo pois não deveria
pegar sol. Então decidi fazer-lhe companhia, já que não levo muito jeito para colheita. Ela
relatou que se sentia inútil por não poder ajudar, mas tentei faze-la ver que ela contribui para
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o grupo de outras maneiras, que é uma pessoa sempre alegre, divertida, sempre sorrindo,
bem humorada e uma cozinheira de “mão cheia”.
Quando sentiu o apoio que tinha, ROSA resolveu cozinhar o milho e partilhar com os
amigos. Ela superou o sentimento de inutilidade que a estava dominando. Percebo que o
Vínculo esta ganhando uma força inexplicável, transformando-os em família capaz de sentar
à mesa e partilhar, conversar, rir, debochar, fazer piada. Essa mudança está acontecendo
naturalmente, é difícil explicar, mas o convívio, a rede solidária, o vínculo, a partilha vão
aumentando e transformando a vida do grupo.
Após a colheita VERDE sentiu satisfação, prazer por ter ajudado, por se sentir útil.
Esse tipo de sentimento é importante para a sua autovalorização como pessoa, por isso que
todos os encontros são importantes, apesar de apresentarem dimensões diferentes para
cada integrante e sua vida, fato que depende do contexto histórico de cada um, podendo
refletir, avaliar o presente e transformar o futuro.
Analise do Oitavo Encontro.
Neste dia somente AMARELO apareceu, LARANJA e VERDE estavam viajando e
AZUL não se sentiu bem à noite e ROSA ficou em casa para cuidar do marido. Mesmo não
tendo a presença dos outros integrantes do grupo, a informação de cada um deles é
importante, mostra que não tem descaso pelo encontro e que há vínculo com as pessoas
que participam.
AMARELO aproveitou para partilhar seu sofrimento, pois aquele dia era o aniversário
do seu falecido marido e resolveu caminhar para encontrar pessoas e tentar passar o dia
um pouco melhor. Isso mostra como o grupo é importante para ela.
Ela partilhou comigo algumas lembranças com o marido, que depois que se mudaram
para o litoral ele a convidava para caminhar na praia todos os dias mas que ela não ia, e que
agora se encontrava caminhando com lagrimas nos olhos. Abracei-a para que se sentisse
acolhida.
39
Me agradeceu dizendo: “Se não fosse esse grupo de caminhada para fazer sair de
casa e conversar com as pessoas eu estaria bem pior, obrigada por me ajudar mesmo uma
vez por semana”. A importância do grupo se revela mais uma vez na fala de AMARELO, o
convívio com outras pessoas, a partilha, o estar junto está ajudando-a a superar o seu
sentimento de perda.
Analise do Nono Encontro.
AZUL convidou todos do grupo para o seu aniversário, recebendo em resposta uma reação
de alegria, ao que retribuiu com sorriso. Cabe dizer que, convidamos para aniversário
pessoas importantes em nossa vida, que fazem a diferença em nosso caminho, que amamos
e nos fazem felizes.
ROSA mencionou que descobriu um câncer e por isso andava triste e aflita com
sentimento de inutilidade, mas que chegou o resultado da biopsia e não deu malignidade e
que iria retirar apenas a pele, explicou que não quis partilhar esse problema com o grupo
para não preocupar ninguém e que não queria ninguém sentindo pena dela. LARANJA
abraçou ROSA e mostrou para ela que estamos juntos e que nunca teríamos sentimento de
pena e sim daríamos força para vencer essa batalha. O compartilhamento de carinho e
afeição entre as integrantes do grupo mostra o amor e a cumplicidade de ambas as partes, e
isso só se constrói com o convívio, vinculo, partilha, acolhimento do outro, perceber suas
necessidades e ser solidário com suas aflições.
Analise do décimo Encontro.
AZUL não continha o sentimento de felicidade, estava eufórico, sorridente, tagarelo e
debochado. Me recepcionou chamando-me de minha pequena e agradeceu por estar
presente nos abraçamos e eu desejei feliz aniversário entregando seu presente.
As pessoas colocam apelidos carinhosos umas nas outras quando tem sentimento por
elas, e nesse caso não foi diferente. Percebo o carinho que AZUL tem por mim, me
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considerando como uma neta, parte da família, esse sentimento vem crescendo e se
fortalecendo a cada encontro o que me proporciona um sentimento de plena felicidade.
VERDE informou-nos que conseguiu um emprego e que por isso deixaria de participar
das caminhadas: “Por um lado estou feliz por trabalhar novamente mas por outro lado estou
triste, não quero que vocês esqueçam de mim, pode fazer algo de noite e me chamar”. AZUL
chateou-se com o fato de perder o companheiro de caminhada, de conversas, confidências e
partilha.
A saída de uma pessoa no grupo gera um sentimento de tristeza mesmo porque é
uma pessoa que faz parte de nossas vidas e que irá se distanciar. Para quem está saindo o
sentimento é maior pois o é de perda, pensa no fato que as outras pessoas vão continuar,
mas ele perderá a oportunidade de conviver com essas pessoas, e mesmo se encontrando
em outros lugares não será a mesma coisa.
ROSA mostrou com orgulho tudo o que havia preparado. Percebi que o sentimento
de inutilidade que Rosa tinha apresentando em encontros anteriores não a persegue mais.
Não há como afirmar que foi o grupo que ajudou a superar esse sentimento mas certamente
ele contribuiu para essa superação.
AZUL agradeceu a todos pela presença dizendo que todos eram especiais e
essências para continuar a viver, mostrando o carinho que ele tem com as pessoas que
estavam presentes e como são importantes para a sua vida.
Elogiei ROSA pela qualidade de sua comida, estava magnífica, e lancei a ideia de nós
reunirmos um dia para ela ensinar a cozinhar. A ideia de cozinhar é interessante para o
grupo estimula trabalho coletivo, aprendizagem e troca de saber.
VERDE despediu-se de todos os integrantes do grupo. Todos demonstraram carinho ao
abraça-lo e desejaram boa sorte, frisando que sentiriam sua falta. O sentimento de fazer falta
demonstra a importância da pessoa naquele meio, mostra sua relevância na vida de todos
do grupo, e que se esse sentimento existe, significa que há amizade, vínculo verdadeiro e
profundo, o que não ocorreria se o sentimento fosse superficial.
41
Analise do décimo primeiro Encontro.
Falamos novamente sobre a aula de culinária com ROSA, organizando quais as
comidas iríamos fazer e quais ingredientes cada uma levaria. A ideia de trabalhar em
conjunto, compartilhando conhecimentos e depois partilhando o resultado é de grande valia,
estreita o laço coletivo, fechando um circulo de perfeito promoção de saúde.
Neste dia resolvemos nos divertir e entrar no mar de roupa, extravasar, brincar, sorrir,
mergulhar, cair. Foi um momento de prazer que talvez se não tivéssemos em grupo, juntas,
não teria acontecido. Mesmo que inicialmente tenhamos ficado “tímidas” para entrar no mar
de roupa, juntas conseguimos superar esse obstáculo e aproveitamos o momento.
AMARELO agradeceu pela manhã que teve, dizendo que fazia muito tempo que não
se divertia. “Os nossos encontros me trazem felicidade, me ajuda a passar o dia mais feliz,
fico contanto os dias para chegar a próxima quinta feira para encontra-las, estar com vocês
tem me ajudando muito a superar minhas dificuldades” ROSA reforçou dizendo “os nossos
encontros são muito bons e que também me deixam mais feliz, tem quinta que levanto com
preguiça vontade de ficar na cama mais um pouco, mas quando eu me lembro de vocês, de
como é bom estar junto, de como vale a pena, me levanto para encontrar” Essas falas
mostra a importância do grupo na vida de cada participante.
O grupo tomou uma dimensão que é difícil de explicar, mas o importante é que vale a
pena estar junto e faz bem, traz felicidade. Fazer parte do grupo é uma escolha individual
mas que proporciona felicidade na vida do outro, todos os integrantes do grupo
apresentaram mudanças positivas em suas vidas durante esse período de convivência.
Analise do décimo segundo Encontro.
Hoje foi o dia da aula de culinária de ROSA. Fazer algo coletivo, aprender e ensinar
no coletivo tem um valor maior, pois o estar junto partilhando, trocando conhecimento sai da
tarefa, e vira prazer, proporcionando alegria, amor, carinho.
42
Como seria o nosso último encontro, resolvi falar pela primeira vez a proporção que o
nosso grupo tomou. “Estou feliz e emocionada com a proporção da nossa amizade e
carinho, eu não imaginava que de uma caminhada no posto teríamos formado esses laços
de amizades, companheirismo, afeto. Na sequência fiz uma breve explicação sobre minhas
aulas dizendo que “nas minhas aulas no mestrado eu aprendi a ver e fazer saúde de outra
maneira e que naquelas aulas eu ficava imaginando se seria possível fazer tudo aquilo que
os professores falavam, achava mesmo que aquilo era uma utopia de vida e que era
impossível de se realizar, mas tudo foi se transformando em realidade dia após dia depois
que conheci vocês, vocês me ajudaram a fazer saúde de outra forma, pois em todos os
nossos encontros nós cultivamos a nossa saúde sem a gente imaginar, o apoio nas horas
difíceis, celebrar a vitória de uma conquista tudo isso era saúde”.
A promoção de saúde realizou-se naturalmente, sem planejamento nem regra,
conseguimos ver e fazer saúde de uma forma prazerosa e singular. O estar junto, acolher,
partilhar, ser solidário, saber escutar, saber abraçar, aprender, ensinar, conhecer o outro e
deixar ser conhecido, rir, chorar, brincar, expressar sentimento, lembranças, história de vida,
tudo isso foram elementos diários nos nossos encontros, muitas vezes difíceis de colocar em
prática, principalmente em uma Unidade de Saúde e nós conseguimos e conquistamos tudo
isso de uma forma natural, ganhando verdadeiros amigos, transformando-os em família.
Agradeci a cada integrante do grupo por poder estar presente em sua transformação,
por me permitirem fazer parte de suas vidas. Todos os integrantes do grupo tiveram
modificações em sua vida durante esse período dizer que foi por causa do grupo seria uma
verdade absoluta e como a verdade é relativa posso dizer que os encontros proporcionaram
e potencializaram a promoção da sua vida, trazendo laços de amizades, vínculo, intimidade
e família.
Dei oportunidade para que cada integrante expressasse seu sentimento em relação a esta
experiência, o que eles fizeram com prazer, demonstrando todo o carinho criado pelo vínculo
formado pelo grupo.
O sentimento que tive depois deste encontro foi de superação, felicidade, de dever
cumprido. Perceber essas mudanças em nossas vidas só pelo fato de estar junto e
compartilhar com outros, com pessoas que me mostraram que vale a pena investir em
“projetos” que não são bem visto pela gestão.
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A promoção de saúde que essas pessoas tiveram neste tempo vale mil vezes mais
que uma consulta realizada em um consultório, e é isso que deveríamos pôr em prática. A
qualidade de vida em nossa comunidade só será alcançada se dedicarmos o nosso tempo à
verdadeira promoção de saúde. É realmente gratificante realizar esse trabalho, contudo há
necessidade de boa vontade, motivação, integralidade, solidariedade, carinho, amor. Não
existe uma receita, mas a melhor dica é deixar acontecer, deixar o coração guiar, não existe
caminho certo ou errado, o caminho que o grupo proporcionar é o caminho que devemos
seguir.
Sintetizei o processo dos encontros em dois quadros. No quadro 1 o que o grupo foi
alcançando a cada encontro e no quadro 2 a maneira que os integrantes iam se relacionado
e se transformando com o grupo.
Quadro 1 - Processo do Grupo.
Acontecimentos nos
Encontros
O que significa
No descanso da caminhada,
sob uma figueira, os
integrantes partilhavam
frutas trazidas por eles.
Confiança, solidariedade, comunhão, desapego, laços de
amizades, vínculo; espaço que proporciona segurança para
partilhar, saber escutar.
No alongamento, Azul
sempre faz piada dos
amigos, se
desequilibrando.
Intimidade, amizade, felicidade, confiança, risos,
liberdade, algo prazeroso.
Na volta da caminhada os
integrantes cantam música
de sua época.
O estar em coletivo proporciona felicidade e liberdade de
cantar.
44
Quando os integrantes se
encontram, cumprimentase
afetuosamente, como se
conhecem a muito tempo.
Intimidade, laços coletivos, vínculo, amizades.
Percebo que todas as vezes que o grupo se encontra há entre
eles uma afetividade eufórica, onde todos se abraçam, beijam,
sorriem, um querendo saber como o outro esta. Percebo que a
cada encontro a intimidade aumenta e aquele momento gera
alegria e satisfação por simplesmente estarem juntos
novamente.
São sentimentos que aumentam a cada encontro,
proporcionado pelo convívio e a amizade que se fortalece,
deixam de ser apenas conhecidos e tornam-se amigos, família,
fazendo parte da vida do outro. É a percepção que tenho em
todos os encontros.
Houve uma separação
natural de mulheres
(partilhando receita) e
homens (partilhando
pescaria)
As pessoas se agrupam por encontrar algo semelhante nas
outras para partilhar, trocar experiências e ajudar a superar
seus conflitos.
O grupo queria me conhecer
melhor, saber como era a
minha vida e se solidarizou
com o meu contexto de vida.
Quebra de barreira por ser a enfermeira da unidade, saber a
vida pessoal, mostra: vínculo, amizade, poder contar com o
outro, fazer parte do grupo como qualquer outro integrante.
Na volta para casa, Rosa e
Azul me convidaram para
tomar café. Recusei pois
ainda estava em horário de
trabalho.
O Modelo Biomédico é enraizado devido a nossa formação. Na
visão integral, o “tomar café” na casa de alguém também é
trabalho, contudo, pelo fato de este não ser o modelo adotado
pela gestão, há uma cobrança que leva a esse tipo de recusa.
Azul e Verde ao se
depararem com a lagoa
onde viveram momentos
felizes no passado,
sensibilizaram-se com a
sujeira e resolveram limpar.
Solidariedade, lembrança da infância, fazer um pouco pelo o
bem comum.
45
Partilhando experiência com
Azul Verde sobre pescaria
descobrimos algo em
comum apesar da diferença
de idade.
Toda partilha tem troca de experiência e aprendizado e mesmo
com a diferença de idade e estilo de vida conseguimos achar
algo em comum, que permite nossa aproximação e o aumento
de nosso vínculo e amizade. Isso só é possível por estarmos
em grupo, onde nos tratamos como iguais, visando o “mesmo
horizonte”, fortalecendo o vínculo a cada encontro.
Azul e Verde expressaram
que ao caminhar em grupo
se sentem diferentes do que
quando caminham sozinhos
Verde compartilhou que estava gostando muito de caminhar
nas quintas feiras, disse: “me sinto feliz, mais para cima, é
diferente quando venho outro dia caminhar na praia não sinto a
mesma coisa”.
Azul se manifestou dizendo: “passo a semana muito sozinho, só
com a esposa, por mais que eu vou ao supermercado,
farmácia, posto não é a mesma coisa do que aqui”.
Esse sentimento que foi relatado significa promoção de saúde,
algo que vai além da explicação que acontece por si só,
sentimento de prazer, felicidade, bem estar por poder partilhar
junto somente por escolha, sem obrigação e preocupação,
sentir-se livre.
Com autonomia, os
integrantes do grupo tiveram
a iniciativa de mudar o
horário e o local de encontro
da caminhada.
Amadurecimento do grupo, só existe devido as semelhanças e
estabelecimento de vínculo, amizade, solidariedade num
espaço que faz bem acolhendo e transformando naturalmente
Azul convidou o grupo para
ajudar a colher milho em sua
casa.
Rede de solidariedade, amizade, partilha, só convidamos
pessoas para nos ajudar e entrar em nossa casa quando temos
intimidade, confiança, carinho
Azul convidou o grupo para
a Festa de Seu Aniversário.
Momentos de alegria como aniversários são compartilhados
apenas com aqueles que consideramos parte importante de
nossa vida, que fazem diferença em nosso caminho, que
amamos e nos fazem felizes. Talvez seja esse o significado do
grupo para Azul. O fato é que as pessoas que participam do
grupo são certamente especiais umas para as outras, assim
como para Azul, ajudando-o de certa forma viver sua vida em
alegria.
46
As integrantes do grupo
organizando encontro
culinário onde possam
partilhar receitas, aprender e
depois partilhar a comida.
A ideia de trabalhar em conjunto, compartilhar conhecimentos e
depois partilhar a comida é de grande valia, junta o laço coletivo
com a partilha de conhecimento e comunhão do alimento
fechando um círculo de perfeita promoção de saúde.
Os integrantes do grupo
resolveram entrar no mar,
para se refrescar e se
divertir.
Momento de extravasar, brincar, sorrir, mergulhar, cair.
Momento de prazer que talvez se não tivessem no grupo, juntas
umas com as outras, não teria acontecido. Inicialmente todos
ficamos receosos de entrar no mar de roupa, mas juntas
entramos e fomos felizes, se não tivéssemos em grupo e juntas
não teríamos proporcionados essa alegria para a nossa vida,
moldando o que somos e seremos.
Os integrantes partilharam
que como é bom se
encontrar.
Amarelo agradeceu pela manhã que teve, pois fazia muito
tempo que não se divertia. “Os nossos encontros me trazem
felicidade e me ajudam a passar o dia mais feliz, fico contanto
os dias para chegar a próxima quinta feira para encontra-las,
estar com vocês tem me ajudando muito a superar minhas
dificuldades”.
Rosa reforçou dizendo que os nossos encontros são muito bons
e que também deixam ela mais feliz: “tem quinta que levanto
com preguiça vontade de ficar na cama mais um pouco, mas
quando eu me lembro de vocês, de como é bom estar junto, de
como vale a pena, me levanto para encontrar”
Essas manifestações espontâneas mostram a importância do
grupo na vida de cada participante, que o mesmo tomou uma
dimensão que é difícil de explicar, mas o importante é que vale
a pena estar junto e que isso faz bem, trazendo a sensação de
felicidade. Fazer parte do grupo é uma escolha individual mas
que proporciona felicidade coletiva, todos os integrantes do
grupo tiveram transformações positivas em suas vidas neste
período de convivência.
47
Minha percepção quanta ao
processo que o grupo
obteve.
Estou feliz e emocionada com a proporção da nossa amizade e
carinho, eu não imaginava que de uma caminha no posto
teríamos formado esses laços de amizade, companheirismo,
afeto, continuei dizendo que nas minhas aulas no mestrado eu
aprendi a ver e fazer saúde de outra maneira e que naquelas
aulas eu ficava imaginando se era possível fazer tudo aquilo
que os professores falavam, achava mesmo que aquilo era uma
utopia e que era impossível realizar, mas toda essa suposta
impossibilidade foi se transformando em realidade dia após dia
depois que conheci esses “amigos”, que me ajudaram a fazer
saúde de outra formar porque todos os nossos encontros nós
cultivamos a nossa saúde sem perceber. “O apoio nas horas
difíceis, celebrar a vitória de uma conquista tudo isso era
saúde”. A promoção de saúde foi sendo realizada naturalmente,
sem planejamento, regra, conseguimos ver e fazer saúde de
uma forma prazerosa e singular. O estar junto, acolher,
partilhar, ser solidário, saber escutar, saber abraçar, aprender,
ensinar, conhecer o outro e deixar-se conhecer, rir, chorar,
brincar, expressar sentimento, lembranças, vivências, tudo isso
foram elementos diários nos nossos encontros, muitas vezes
difíceis de colocar em prática, principalmente em uma Unidade
de Saúde e nós conseguimos e conquistamos tudo isso de uma
forma natural, ganhando verdadeiros amigos, transformando
em família.
Todos os integrantes do grupo perceberam mudanças
em suas vidas durante esse período e dizer que foi por causa
do grupo seria uma verdade absoluta, porém, como a verdade é
relativa, posso dizer que os encontros proporcionaram e
potencializaram a promoção da sua vida, trazendo laços de
amizades, vínculo, intimidade e família.
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O sentimento que tive depois deste encontro foi de
superação, felicidade, de dever cumprido em saber quantas
mudanças aconteceram em nossas vidas só pelo fato de
estarmos juntos e partilharmos nossas vidas. Pessoas que me
mostraram que vale a pena investir em “projetos” que não são
bem visto pela gestão, a promoção de saúde que essas
pessoas tiveram neste tempo vale mil vezes mais que uma
consulta realizada em um consultório e é essa proporção que
temos que colocar em prática, só vamos conseguir a
qualidade de vida em nossa comunidade se dedicarmos o
nosso tempo em promoção verdadeira de saúde.
É muito gratificante fazer esse trabalho, mas é
necessária boa vontade, motivação, integralidade,
solidariedade, carinho, amor. Não existe uma receita pronta,
mas a melhor dica é deixar acontecer, deixar o coração guiar,
não existe caminho certo ou errado, o caminho que o grupo
proporcionar é o caminho que devemos seguir”.
Quadro 2 – Processo dos Integrantes
Acontecimentos nos
Encontros
O que significa
Amarelo, viúva, passando
por seu momento de luto e
tristeza
Encontrou no grupo apoio para superar esse sentimento de
luto.
Verdade partilhou que
gostava de pescar mas
depois da morte do seu
irmão não pescou mais.
Depois da conversa com
Azul sobre pescaria, sentiu
vontade de pescar
O grupo proporcionou um espaço de superação, após a
ocorrência da separação natural, se não fosse pelo grupo,
talvez ele não tivesse alguém para conversar e incentiva-lo,
não teria voltado a sentir-se feliz. A partilha sobre pescaria
influenciou significativamente a transformação de Verdade,
lhe deu força para superar a perda, proporcionando uma
autonomia de mudança de vida em busca de algo que o faz
feliz e que tinha perdido.
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novamente, voltou a
fazê-lo e se sente feliz
Laranja uma pessoa que
gostava de fica vendo
televisão com o cachorro,
expressou a vontade de
trabalhar na temporada.
Por algum motivo a convivência em grupo, a oportunidade
de partilhar, trocar experiência gerou em Laranja algum
motivação para que ela tomasse essa decisão, isso só é
possível a partir de uma geração de autonomia para a
mudança em sua vida.
Tristeza de Amarelo pois o
seu cachorro não estava
bem e ele é a lembrança do
marido
Acolhimento da dor, tristeza, abraço, segurar na mão,
proporciona um espaço acolhedor, sentimento que não está
sozinha, que pode confiar, que há amizade, solidariedade,
vínculo que ajuda a superar a dificuldade sabendo que tem
um lugar de apoio.
Alegria de Laranja por estar
trabalhando
Superação, transformação, autonomia, mudança de vida.
Laranja conseguiu sair do comodismo, da sua zona de
conforto e se transformar em uma pessoa útil, capaz de
gerar seu próprio sustendo com a sua força de trabalho,
naturalmente apenas por sua vontade de mudar.
Rosa cozinhou o milho e
partilhou com o grupo
Superação da inutilidade transformada em comunhão,
amizade, família, mesa de domingo, risos, piadas, felicidade,
Essa mudança está acontecendo naturalmente, é difícil
explicar, mas o convívio, a rede solidária, o vinculo, a
partilha a comunhão vai aumentando e tomando dimensão
na vida do outro, todos estão se transformando, cada um à
sua maneira, por esse sentimento.
Neste momento percebo que os sentimentos estão sendo
ultrapassados. As pessoas não fazem mais parte de um
grupo, elas estão se relacionando com mais profundidade,
se transformaram em uma espécie de família.
50
Isolamento de Rosa,
sentimento de inutilidade
Partilha e acolhimento do seu sofrimento mostrando como
ela era importante e útil para o grupo
Partilha de Amarelo,
aniversário do marido,
resolveu caminhar para ficar
um pouco melhor.
“Se não fosse esse grupo de
caminhada para fazer sair
de casa e conversar com as
pessoas eu estaria bem
pior, obrigada por me ajudar
mesmo uma vez por
semana.”
Tamanha a importância do grupo que Amarelo escolheu este
espaço para ficar melhor, pois lhe proporciona conforto,
confiança, alegria, amizade, solidariedade, apoio emocional
Neste dia triste para Laranja ela escolheu o grupo para ficar
melhor, vale lembrar que muitas vezes quando estava triste
o grupo ajudou a superar essa tristeza, esse pode ser um
dos motivos de sua escolha, outro motivo seria o fato de
neste local conseguir se expressar, verbalizar e se sentir
amparada, mas o mais importante é que escolheu este local
para ficar bem, o grupo e as pessoas que fazem parte tem
enorme relevância em sua vida, ajudando a superar esse
momento difícil.
Saída de verde do Grupo
Verde: “Por um lado estou
feliz por trabalhar
novamente, mas por outro
lado estou triste, não quero
que vocês esqueçam de
mim, pode fazer algo de
noite e me chamar”
A saída de uma pessoa do grupo gera um sentimento de
tristeza para quem fica, pois ela fazia parte de suas vidas e
agora se distanciará. Para quem está saindo o sentimento é
potencialmente maior, pois sente a perda, ver que os demais
irão continuar e ele estará perdendo o convívio em grupo, e
que o encontro em outras situações não é igual. Apesar de
não participar mais das caminhadas, Verde reforça pede
para ser lembrado e chamado sempre que forem fazer algo.
Isso mostra que o vínculo e a amizade vai além do grupo,
que quer continuar ter contato com as pessoas.
51
7-CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir de todo o exposto, podemos concluir que é possível realizar trabalhos em
grupo com foco na promoção da saúde, basta olharmos para ela de forma integral e assim
poder perceber a verdadeira necessidade das pessoas levando em consideração o seu
contexto social.
Não há forma correta para formar um grupo de promoção de saúde, é necessário
apenas ter uma concepção bem definida e deixar acontecer. Promoção da saúde não é
mudança do estilo de vida das pessoas como aprendemos, é um movimento de alegria em
direção à vida (SIGERIST, E. H, 1937), encaminhar o olhar para o coletivo, em toda a sua
dimensão física, política, social, econômica.
Neste sentido, faz-nos perceber que não há caminho certo ou errado, basta deixar
acontecer e fazer com que as pessoas sintam-se seguras no ambiente, confortáveis para
partilhar tristezas, alegrias, criando vínculo e laços de amizades, sendo solidário, aprender a
ouvir, partilhar, abraçar, sorrir, chorar, brincar.
Indiscutivelmente, o grande desafio está enfrentado pelo profissional da Saúde devido
ao modelo assistencial imposto pela sua gestão, que cobra uma assistência curativista –
individualista, feita dentro de um consultório, utilizando, no máximo, consultas coletivas com
soberania do conhecimento e barganha de receita e medicamentos para o aumento de
produtividade, voltada apenas para quantidade de pessoas participantes, para estatísticas.
Temos que romper com essa modelo para uma abordagem da integralidade do usuário,
acolhendo suas necessidades segundo seu contexto social.
Os profissionais da ESF tem a responsabilidade de abraçar essa mudança, pois seu
local de trabalho é o meio em que as pessoas vivem, juntos estão inseridos na comunidade
com suas questões sociais, culturais, políticas e econômicas. Faz-se necessária a boa
vontade do profissional de acolher essas pessoas e ajudar a modificar suas vidas tendo um
olhar integral, conquistando a promoção de sua saúde.
52
O trabalho em grupo é um facilitador dessa mudança/transformação, pois a partilha, o
encontro de algo comum a todos, ajudar, amparar, escutar, sorrir, chorar, acolher,
proporciona a geração de vínculo, de redes solidárias, de laços de amizades, efetivando a
transformação da vida da pessoa pela convivência e a experiência de estar em um ambiente
coletivo.
8- ARTIGO
GRUPO DE CAMINHADA: DO ESTILO DE VIDA A AUTONOMIA DO SUJEITO.
WALKING GROUP: FROM THE LIFESTYLE TÔ THE AUTONOMY OF THE SUBJECT.
Elaine Pereira Roque I Luiz Roberto Agea Cutolo
II
I Enfermeira. Mestranda em Saúde e Gestão do Trabalho pela Universidade do Vale do Itajaí
(UNIVALI).Responsável pela concepção e redação inicial, formatação, redação final e
correspondência . Endereço: Rua Francisco Severino dos Santos 69, Vila Nova, CEP: 88210-00, Porto
Belo, SC, Brasil. E-mail: [email protected].
II Médico Especialista em Pediatria. Doutor em Educação pela Universidade de Santa Catarina
(UFSC). Professor Permanente do Mestrado em Saúde e Gestão do Trabalho da Universidade do Vale
do Itajaí (UNIVALI).Responsável pelas sucessivas ampliações, reduções, revisões e críticas.Endereço:
Rua Desembargador Urbano Salles 175, ap. 1302, Centro, CEP: 88015430, Florianópolis, SC, Brasil.
Email: [email protected]
RESUMO
O presente trabalho trata do processo de transformação de um grupo de apoio em um grupo
operativo, com base na concepção de saúde da integralidade focado na promoção da saúde na
53
Estratégia Saúde da Família. Tem como objetivo desenvolver um grupo operativo em caminhada e
observar os processos de modificação dos participantes do grupo. Para esta avaliação foram realizados
12 encontros, usando a metodologia de diário de campo e observação participante com narrativa dos
fatos vivenciados, oportunamente sintetizados em um quadro evidenciando os fatos mais importantes.
Possibilitou a verificação da efetiva transformação gerada autonomamente nos integrantes do grupo,
mostrando a possiblidade de realizar na Estratégia de Saúde da Família um grupo de Promoção de
Saúde, com base na integralidade, vez que valoriza a real necessidade social, cultural, política e
econômica. Os profissionais da ESF tem a obrigação/responsabilidade de “abraçar” essa mudança por
estarem inseridos na comunidade sendo eles que irão acolher, amparar, escutar, para poder, assim,
gerar vínculo, formando redes solidárias, laços de amizades, podendo dessa forma observar a efetiva
transformação da vida das pessoas pela convivência e experiência de estar em um ambiente coletivo.
Palavras – Chaves: Promoção da saúde; Estratégia Saúde da Família; Autonomia pessoal.
ABSTRACT
This paper discusses the process of transformation of a support group into an operating group,
based on the concept of health completeness focused on health promotion in the Family Health
Strategy. It aims to develop an operative walking group, and to observe the processes of modification
of the group of participants. For this evaluation, 12 meetings were conducted using the methodology
of field diary and participant observation, with narrative of the facts experienced. These observations
were summarized in a table showing the most important facts. It was found that effective
transformation was generated independently in the group members, showing the possibility of
implementing a Health Promotion Group within the Family Health Strategy, based on the idea of
health completeness, since it values real social, cultural, political and economic needs. Professionals of
the FHS have the obligation/responsibility to "embrace" this change by being inserted in the
community that they that will host, support, listen to, and create bonds with, forming solidarity
networks and friendships. This will enable an effective transformation of people's lives, through living
and experience of being in a collective environment.
Keywords: Health Promotion; Family Health; Strategy; Personal Autonomy
54
INTRODUÇÃO
O foco principal deste artigo está em mostrar uma forma de trabalhar em grupo para promoção
de saúde, visando transformar um grupo de Apoio em um grupo Operativo. Minha perspectiva de
saúde foi modificando-se à medida em que as aulas do mestrado foram sendo ministradas, ampliando o
conceito que tinha acerca do tema em si, da integralidade, da promoção de saúde e de clínica ampliada.
Foi incorporando estes conceitos em minha rotina diária de trabalho que senti a necessidade de
realizar algo diferente para a comunidade que assisto. Comecei promovendo um encontro com os
pacientes que, apesar de buscarem assistência diariamente não conseguiam sanar seu problema, então,
visando entende-los, reuni-os com a Equipe da Estratégia Saúde da Família buscando uma solução.
As ideias foram surgindo, mostrando propostas de trabalho que foram sendo colocadas em
prática, como a caminhada semanal até a praia, partilhando momentos de conversa sobre a semana de
cada participante, suas alegrias e dificuldades, e, ao mesmo tempo, praticando uma atividade física,
auxiliando corpo e mente, promovendo elevação da motivação pessoal.
O objetivo almejado com este trabalho é o desenvolvimento de um grupo operativo de
caminhada, observando os progressos no processo das mudanças individuais e do grupo. Pretendo
ainda, mostrar para a comunidade, gestores e equipe de saúde, a importância de um trabalho em grupo,
seu potencial de transformar a vida das pessoas, faze-los compreender que é possível promover saúde
de outra forma, utilizando relatos reais dos integrantes, sua percepção individual e do grupo.
Penso que seria academicamente relevante apresentar um novo modo de trabalho, com olhar
diferenciado sobre grupos e promoção de saúde, tencionando assim preparar os acadêmicos da área da
saúde para a vida profissional, visando inspirá-los à uma prática diferenciada que não está inserida nas
grades curriculares das universidades.
Com esse trabalho, a comunidade sente-se prestigiada, primeiramente porque eles são os
protagonistas da pesquisa, e, também, porque os grupos surgiram com o intuito de motivar, transformar
e modificar a forma como olham para si, gerando força solidária.
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Isso é para o Sistema Único de Saúde (SUS) de suma importância, visto que se encaixa em suas
Políticas Públicas, mostrando para os profissionais que há uma forma de “fazer saúde” com base na
integralidade e na promoção de Saúde, sendo necessário para isso somente ter uma concepção da
mesma com este foco.
CONCEPÇÃO DE SAÚDE.
É correto afirmar que, os conceitos de saúde e doença estão impregnados de tal forma nas ações
sanitárias que todos os atos realizados pelos profissionais da saúde são consequências da concepção
pessoal, e a forma de praticar irá depender exclusivamente do indivíduo que a está pondo em prática.
Daí a importância dessa concepção vez que é ela que irá guiar a prática, a organização e a maneira que
as ações em saúde serão realizadas por cada profissional.
É pensando assim que passo a descrever as concepções de Saúde e Doença presente hoje na
formação e prática sanitária dos profissionais, destacando a grande importância das instituições de
ensino, já que são as responsáveis pela formação desses conceitos nos futuros profissionais de saúde, o
que irá garantindo a qualidade (ou não) das suas ações em saúde.
Conceitualmente, para os HIGIENISTAS, a saúde do sujeito está relacionada as condições
físicas e materiais do seu meio, ou seja, a ambientação ecológica e os riscos externos aos indivíduos
são capazes de produzir doença. Sendo assim, cabe dizer que, o estilo de vida, não apenas socialmente,
mas também cultural e economicamente, influencia diretamente na condição de saúde do indivíduo. A
proteção da saúde e a prevenção da doença é multifatorial em sua origem, por exemplo, qualidade da
água, higiene pessoal, prevenções de acidentes, iluminação, aquecimento, ventilação, aleitamento
materno, campanha de vacina, suplementação alimentar. Pode-se dizer que assim é formado um
higienista e preventivista.
Outra forma de se conceber saúde e doença é a determinação social, ou seja, a pessoa vive
adoece e morre conforme está inserida na sociedade. Questões como cultura, economia, história e
ambientação social, acabam determinando o que vai acontecer com ela no campo sanitário, e os
profissionais de saúde filiados com essa concepção tendem a fazer a promoção da saúde.
Para os adeptos de uma visão Biológica, o conceito se modifica, expressando que as adoecem
devido ao contato com o agente infeccioso. Trata a doença com unicausalidade biológica, dando início
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ao grande Complexo Médico-Industrial, proporcionando força a indústria farmacêutica, laboratórios,
hospitais, estudos nos campos de genética, infectologia, parasitologia, citologia, vacinação, formando
uma tecnologia de diagnóstico e tratamento.
Dessa forma, o monopólio da indústria médica traz consigo poder de alta tecnologia e cura, e
os órgãos de ensinos dos profissionais da saúde que seguem essa concepção unicausal formam
profissionais curativistas, afunilando o olhar apenas para a doença e sua cura esquecendo de todo o
contexto. (MAEYAMA, M. A; CUTOLO, L. R .A, 2010)
O modelo biomédico usa a teoria da unicausalidade como base, entendendo que numa relação
em que “A” causa “B”, basta fornecer um “anti-A” para sanar “B”. Fundamenta-se no modelo
mecanicista e biologicista, que naturaliza o ser Humano, roubando o sujeito do seu ambiente, da
sociedade onde vive, da sua biografia, levando a ações para tratamento e reabilitação.
Há ainda a visão integral, que amplia a concepção saúde-doença, a partir da percepção da
complexidade dos sujeito, mesclando o modelo social com o modelo biológico, formando uma única
“visão integradora”. Implica em aceitar a determinação social, hierarquicamente superior aos
condicionantes ecológicos ambientais, reconhece o gatilho biológico baseado no risco. Tal concepção
de saúde e doença nos leva as ações integradas de saúde, que corresponderia a todas as ações sanitárias
desenvolvidas de acordo com as necessidades dos sujeitos. Podemos fazer recuperação/reabilitação em
determinados momentos, proteção e prevenção em outros, e promoção da saúde quando houver
necessidade (CUTOLO, L. R. A. 2001).
Levando para o dia a dia da Estratégia de Saúde da Família (ESF), toda unidade de saúde tem o
chamado paciente “habitual”, que refere ter uma “doença” e procura diariamente a unidade em busca
de recurso. Poderia ser descrito como o paciente que chega diariamente queixando-se de cefaleia
referindo não melhorar com o uso do medicamento prescrito pelo profissional, e, especificamente
nesse caso, sendo o profissional formado no modelo biológico, já haveria passado pelo menos três
medicações diferentes, realizado exames como ressonância magnética (RNM), por exemplo,
procurando pela causa da dor, e, provavelmente, sem descobri-la.
Sendo essa mesma pessoa tratada por um profissional formado pelo modelo integral, a conduta
seria ter uma conversa “olho no olho” com o queixoso, tentando dessa forma, descobrir o contexto em
que está imersa a queixa, ou seja, a raiz do problema, o que provavelmente irá acontecer em uma
terceira consulta, quando o paciente já criou uma espécie de vínculo com o profissional e começa a
57
sentir-se confortável para expor seus sentimentos e aflições, como por exemplo, que está sofrendo
porque seu filho é dependente químico, rouba, é agressivo, fugitivo (da policia e/ou traficantes) e que
teme por sua vida. O profissional irá acolher sua angústia, encaminha-lo à outros profissionais
(psicólogo, por exemplo), colocando-se a disposição para sempre que precisar, informando sua equipe
para que haja uma acolhida conjunta do paciente.
A agente comunitária de saúde (ACS), dada sua atribuição profissional, pode dar mais atenção
à família verificando a condição em que vive, conseguindo uma visão mais realística do problema,
podendo verificar que era algo muito além de uma simples cefaleia, e que, em algumas situações, está
fora do alcance dos profissionais a solução do problema, e ainda assim, o fato de saber que há alguém
para apoia-la, sua zona de conforto aumenta, incentivando a buscar por si o recurso apropriado para
reestabelecer sua saúde.
Assim, pode-se dizer que, há promoção de saúde quando se utiliza esse olhar integral,
consciente que nem sempre tratamento medicamentoso irá resolver o problema, que a criação de um
vínculo com o paciente, escutando-o e acolhendo-o, poderá auxiliar na solução do problema, mesmo
que seja necessário uso de conjunto de tecnologia biológica e outros recursos oferecidos. É na ESF que
encontramos o cenário perfeito para a prática desse estilo de pensamento.
Escolhi o modelo da integralidade por me identificar com ele enquanto profissional, pois
imagino que somente com ela atingirei meus objetivos de tentar realizar “saúde” de uma forma
diferente e assim poder modificar a vida das pessoas, proporcionando uma melhora na qualidade da
mesma.
Para colocar a integralidade em prática se faz necessário aprender e aplicar outro conceito
relacionado com a saúde, ou seja, a promoção de saúde. A promoção da saúde vai além da mudança de
estilo de vida, ela proporciona um olhar para o coletivo, o ambiente em todas as dimensões, física,
social, política, econômica e cultural. (VERDI, M, 2002).
Procura transformar as condições de vida, encorajando uma transformação individual com
corresponsabilidade em busca de melhoria para sua vida, como característica importante o coletivo,
trazendo um fortalecimento comunitário, solidário, para o bem-estar. (MAEYAMA, M. A; CUTOLO,
L. R. A, 2010).
Podemos dividir a promoção da saúde em um conjunto de valores: vida, saúde, solidariedade,
equidade, democracia, cidadania, desenvolvimento, participação social e combinação estratégica de
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políticas, ação comunitária e individual para o desenvolvimento de um sistema de saúde conjunta, de
responsabilização múltipla pelos problemas de saúde. (BUSS, P. M, 1998).
O sentido contemporâneo de promoção da Saúde que precisa ser imediatamente pautado deve se
colocar à posição de “ir além da Carta de Otawa”. Um movimento de alegria em direção à vida com
disse Henry Sigerist (SIGERIST, E. H., 1937), com valores de inclusão, justiça, solidariedade, precisa
com certa urgência se colocar no lugar de conceito de risco.
Em relação à promoção da saúde poderíamos dizer que ela cumpre as necessidades de uma
concepção de saúde e doença mais ampla, percebendo que os indivíduos são mais que meros sujeitos
biológicos naturalizados, são seres sociais.
Uma das maneiras de promover a saúde das pessoas é a partir do reconhecimento das suas
necessidades e de intervenções sanitárias que cumpram e se aproximem dessas necessidades, é o
chamado trabalho com grupo. Considero, portanto, que tanto o grupo operativo quanto o grupo de
apoio, são elementos que podem fundamentar uma estratégia de promoção da saúde.
Pacientes Hipertensos e Diabéticos estão cansados de encontros ditatoriais onde profissionais
da saúde impõem as regras do que se pode ou não, do certo e do errado, barganhando ao final com
receitas, medicações, prêmios e lanches. Vê-se ai a necessidade da mudança, da transformação para
um modelo com nova abordagem, centrada na integralidade do usuário, acolhendo suas verdadeiras
necessidades.
Essa nova abordagem remete à um local onde possa haver partilha, trocas de experiências,
estimulando soluções conjuntas para os problemas, gerando no paciente o desenvolvimento da
autonomia, valorizando o momento em grupo, e criando adesão ao mesmo por escolha, possibilitando a
verdadeira promoção de saúde. O vínculo, o acolhimento, a escuta, o apoio, o suporte, o espaço de
reflexão são elementos dessa promoção.
O grupo não se caracteriza pela união de pessoas, ele surge de um objetivo comum e tem uma
identidade própria, assim os participantes estarão reunidos em torno de uma tarefa necessária para
atingir o seu objetivo que é coletivo. (FREITAS e col., 2006).
A atividade grupal proporciona agregar várias pessoas da mesma comunidade, com
pensamentos hábitos semelhantes, com fatos de vida parecidos, a chamada “caixa de ressonância”,
como um violão, o que é expressado toca em outra pessoa por fazer parte da vida dela também, essa
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troca de experiência faz com que as pessoas consigam solucionar os seus problemas por elas mesmas,
formando uma rede social de suporte para o cotidiano Além- grupo. O grupo só consegue sua
continuidade quando as pessoas se reconhecem nas outras. (BRASIL, 2010)
Esse tocar nas pessoas só é permitido através do vínculo que se estabelece entre eles. PICHON
(1988) conceitua vínculo como “relação particular do indivíduo com o outro, com um objeto e com o
mundo”. Com o vínculo podemos compreender como é a relação das pessoas com o seu contexto
histórico de vida. Um espaço seguro para poder experimentar seus medos, angustias, vergonhas, o
viver, ser espontâneo, uma zona intermediária de experiência.
Nessa seara, reforço que a ESF é o local mais adequado para se ter este tipo de experiência,
pois cada unidade está inserida conforme a realidade e o contexto da comunidade a que pertence, o
Grupo é um instrumento para olhar a relação e o modo de viver da comunidade, olhar o indivíduo e o
coletivo separadamente e em conjunto.
Planejamento é necessário para a construção de um trabalho, mas pensando em grupo o mais
importante é deixar ver o que pode acontecer sair do regramento e da formalidade, significa olhar nos
olhos, pegar na mão, ouvir, partilhar, lidar com o inusitado, deixar acontecer e construir relações a
partir dos acontecimentos, criando laços solidários e vivência coletiva.
Agindo assim deixamos de ter grupos de doença ao transforma-los em grupo que promovem
saúde, fazendo saúde sem falar nela, apenas com forças solidárias, no sentido de que, na prática, é o
local onde as pessoas se sentem confortáveis em partilhar seus problemas, ali encontrando apoio para
se reestruturar, criar vínculo, confiança, carinho e amizade. À medida que os encontros vão
acontecendo, ocorre gradativamente o aumento destas forças solidárias e as pessoas, antes estranhas
umas para as outras, passam a fazer parte, assim conseguimos promover sua saúde de forma natural.
O CAMINHAR COM O GRUPO.
Utilizei para esta pesquisa a análise de 12 encontros de caminhada, onde cada integrante do
grupo foi denominado com uma cor (AZUL, AMARELO, VERDE, LARANJA, ROSA). Ao final de
cada encontro descrevia os acontecimentos juntamente com as minhas percepções e sentimentos em
meu diário de campo. A opção pelo relato posterior a cada encontro veio da necessidade que senti em
fazer parte da vida deles, aproveitando o momento para criar os vínculos ao tempo que compartilhava a
experiência, já que a intenção era conseguir obter dados da forma mais natural possível. Considerava o
fato de ser a enfermeira da unidade fator suficiente para ser vista como uma barreira, e, com uma
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prancheta na mão descrevendo o momento agravaria tornando-a maior me mostrando como mera
observadora, o que não era o meu objetivo.
Em minhas anotações mencionava de forma narrativa e descritiva tudo o que mais chamava
minha atenção, colocando praticamente o inteiro teor das conversas, inferindo nelas minhas sensações,
a evolução do grupo, como eles se relacionavam, a visão deles sobre mim, colocando expressões que
eles usavam e as minhas impressões sobre as experiências que estávamos compartilhando.
A rotina dos encontros se dava da seguinte forma: saída às quintas-feiras oito horas da manhã
da frente da unidade de saúde caminhando até a praia, parávamos para partilhar frutas na sombra da
Figueira. Depois da partilha nos alongávamos e retornávamos para a unidade.
No decorrer dos encontros, o grupo decidiu mudar o horário da caminhada devido ao clima e a
alta temperatura no horário, estipulando então às sete horas da manhã para o início, o local de encontro
também foi mudado para a casa de um dos integrantes do grupo, por ser mais oportuno para todos. Tais
modificações foram acontecendo naturalmente e de acordo com a vontade/escolha deles, não afetando
o andamento dos encontros.
As pessoas iam se encontrando e o grupo ia ganhando forma e se transformando naturalmente em
grupo Operativo de promoção de saúde. A partilha, o afeto, a solidariedade, a empatia, colocandose no
lugar do outro, o estar junto, as redes solidárias, o vínculo, o sorrir, o chorar, o abraçar, o pegar na
mão, todos esses fatores influenciaram na vida de cada pessoa do grupo e de uma maneira natural as
nossas vidas foram se modificando para melhor. Com o tempo, percebemos que o grupo que era para
ser um grupo de apoio aos idosos em caminhada, passou a ser um grupo de promoção à saúde pelos
resultados e processos experimentados.
Acredito que a transição de grupo de apoio para grupo operativo pode ser encarada como a
transformação de um grupo de proteção e prevenção da saúde em um grupo de promoção da saúde, já
que o grupo de apoio baseia-se na alimentação, exercício físico, diminuição do sal, medicação correta,
enquanto o foco do grupo Operativo é escutar, partilhar, estar juntos, criar vínculo, formar novas
amizades e redes solidárias.
Os integrantes do nosso grupo deixaram de ser sujeitos naturalizados, biologicisados e
passaram a ser pessoas atuantes construindo sua própria história.
61
Sintetizei o processo dos encontros em dois quadros. No quadro 1 o que o grupo foi alcançando
a cada encontro e no quadro 2 a maneira que os integrantes iam se relacionado e se transformando com
o grupo.
Quadro 1 - Processo do Grupo.
Acontecimentos
Encontros
nos O que significa
No descanso da caminhada, sob
uma figueira, os integrantes
partilhavam frutas trazidas por
eles.
Confiança, solidariedade, comunhão, desapego, laços de
amizades, vínculo; espaço que proporciona segurança para
partilhar, saber escutar.
No alongamento, AZUL
sempre faz piada dos amigos, se
desequilibrando.
Intimidade, amizade, felicidade, confiança, risos, liberdade, algo
prazeroso.
Na volta da caminhada os
integrantes cantam música de
sua época.
O estar em coletivo proporciona felicidade e liberdade de cantar.
Quando os integrantes se
encontram, cumprimenta-se
afetuosamente, como se
conhecem a muito tempo.
Intimidade, laços coletivos, vínculo, amizades.
Percebo que todas as vezes que o grupo se encontra há entre eles
uma afetividade eufórica, onde todos se abraçam, beijam, sorri,
um querendo saber como o outro esta. Percebo que a cada
encontro a intimidade aumenta e aquele momento gera alegria e
satisfação por simplesmente estarem juntos novamente.
São sentimentos que aumentam a cada encontro, proporcionado
pelo convívio e a amizade que se fortalece, deixam de ser apenas
conhecidos e tornam-se amigos, família, fazendo parte da vida do
outro. É a percepção que tenho em todos os encontros.
Houve uma
natural de
(partilhando
homens
pescaria)
separação
mulheres
receita)
e
(partilhando
As pessoas se agrupam por encontrar algo semelhante nas outras
para partilhar, trocar experiências e ajudar a superar seus conflitos.
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O grupo queria me conhecer
melhor, saber como era a minha
vida e se solidarizou com o meu
contexto de vida
Quebra de barreira por ser a enfermeira da unidade, saber a vida
pessoal, mostra: vínculo, amizade, poder contar com o outro, fazer
parte do grupo como qualquer outro integrante.
Na volta para casa, ROSA e
AZUL me convidaram para
tomar café. Recusei, pois ainda
estava em horário de trabalho.
O Modelo Biomédico é enraizado devido a nossa formação.
Na visão integral, o “tomar café” na casa de alguém também é
trabalho, contudo, pelo fato de este não ser o modelo adotado pela
gestão, há uma cobrança que leva a esse tipo de recusa.
AZUL e VERDE ao se
depararem com a lagoa onde
viveram momentos felizes no
passado, sensibilizaram-
se com a sujeira e resolveram
limpar.
Solidariedade, lembrança da infância, fazer um pouco pelo o bem
comum.
Partilhando experiência com
AZUL e VERDE sobre pescaria
descobrimos algo em comum
apesar da diferença de idade.
Toda partilha tem troca de experiência e aprendizado e mesmo com
a diferença de idade e estilo de vida conseguimos achar algo em
comum, que permite nossa aproximação e o aumento de nosso
vínculo e amizade. Isso só é possível por estarmos em grupo, onde
nos tratamos como iguais, visando o “mesmo horizonte”,
fortalecendo o vínculo a cada encontro.
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AZUL e VERDE expressaram
que ao caminhar em grupo se
sentem diferentes do que quando
caminham sozinhos.
Verde compartilhou que estava gostando muito de caminhar nas
quintas feiras, disse: “me sinto feliz, mais para cima, é diferente
quando venho outro dia caminhar na praia não sinto a mesma
coisa”.
Azul se manifestou dizendo: “passo a semana muito sozinho, só
com a esposa, por mais que eu vou ao supermercado, farmácia,
posto não é a mesma coisa do que aqui”.
Esse sentimento que foi relatado significa promoção de saúde, algo
que vai além da explicação que acontece por si só, sentimento de
prazer, felicidade, bem estar por poder partilhar junto somente por
escolha, sem obrigação e preocupação, sentir-se livre.
Com autonomia, os integrantes
do grupo tiveram a iniciativa de
mudar o horário e o local de
encontro da caminhada.
Amadurecimento do grupo, só existe devido as semelhanças e
estabelecimento de vínculo, amizade, solidariedade num espaço que
faz bem acolhendo e transformando naturalmente.
AZUL convidou o grupo para
ajudar a colher milho em sua
casa.
Rede de solidariedade, amizade, partilha, só convidamos pessoas
para nos ajudar e entrar em nossa casa quando temos intimidade,
confiança, carinho.
AZUL convidou o grupo para a
Festa de Seu
Aniversário.
Momentos de alegria como aniversários são compartilhados apenas
com aqueles que consideramos parte importante de nossa vida, que
fazem diferença em nosso caminho, que amamos e nos fazem
felizes. Talvez seja esse o significado do grupo para Azul. O fato é
que as pessoas que participam do grupo são certamente especiais
umas para as outras, assim como para Azul, ajudando-o de certa
forma viver sua vida em alegria.
As integrantes do grupo
organizando encontro culinários
onde possam partilhar receitas,
aprender e depois partilhar a
comida.
A ideia de trabalhar em conjunto, compartilhar conhecimentos e
depois partilhar a comida é de grande valia, junta o laço coletivo
com a partilha de conhecimento e comunhão do alimento fechando
um círculo de perfeita promoção de saúde.
64
Os integrantes do grupo
resolveram entrar no mar, para se
refrescar e se divertir.
Momento de extravasar, brincar, sorrir, mergulhar, cair. Momento
de prazer que talvez se não tivessem no grupo, juntas umas com as
outras, não teria acontecido. Inicialmente todos ficamos receosos de
entrar no mar de roupa, mas juntas entramos e fomos felizes, se não
tivéssemos em grupo e juntas não teríamos proporcionados essa
alegria para a nossa vida, moldando o que somos e seremos.
Os integrantes partilharam que
como é bom
se encontrar.
Amarelo agradeceu pela manhã que teve, pois fazia muito tempo
que não se divertia. “Os nossos encontros me trazem felicidade e
me ajudam a passar o dia mais feliz, fico contanto os dias para
chegar a próxima quinta feira para encontra-las, estar com vocês
tem me ajudando muito a superar minhas dificuldades”
Rosa reforçou dizendo que os nossos encontros são muito bons e
que também deixam ela mais feliz: “tem quinta que levanto com
preguiça vontade de ficar na cama mais um pouco, mas quando eu
me lembro de vocês, de como é bom estar junto, de como vale a
pena, me levanto para encontrar”
” Essas manifestações espontâneas mostram a importância do grupo
na vida de cada participante, que o mesmo tomou uma dimensão
que é difícil de explicar, mas o importante é que vale a pena estar
junto e que isso faz bem, trazendo a sensação de felicidade. Fazer
parte do grupo é uma escolha individual mas que proporciona
felicidade coletiva, todos os integrantes do grupo tiveram
transformações positivas em suas vidas neste período de
convivência.
Minha percepção quanta ao
processo que o grupo obteve.
Estou feliz e emocionada com a proporção da nossa amizade e
carinho, eu não imaginava que de uma caminha no posto teríamos
formado esses laços de amizade, companheirismo, afeto, continuei
dizendo que nas minhas aulas no mestrado eu aprendi a ver e fazer
saúde de outra maneira e que naquelas aulas eu ficava imaginando
se era possível fazer tudo aquilo que os professores falavam, achava
mesmo que aquilo era uma utopia e que era impossível realizar,
mas toda essa suposta impossibilidade foi se transformando em
realidade dia após dia depois que conheci esses “amigos”, que me
ajudaram a fazer saúde de outra formar porque todos os nossos
encontros nós cultivamos a nossa saúde sem perceber. O apoio nas
horas difíceis, celebrar a vitória de uma conquista tudo isso era
saúde.
A promoção de saúde foi sendo realizada naturalmente, sem
planejamento, regra, conseguimos ver e fazer saúde de uma forma
prazerosa e singular. O estar junto, acolher, partilhar, ser solidário,
saber escutar, saber abraçar, aprender, ensinar, conhecer o outro e
deixar-se conhecer, rir, chorar, brincar, expressar sentimento,
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lembranças, vivências, tudo isso foram elementos diários nos
nossos encontros, muitas vezes difíceis de colocar em prática,
principalmente em uma Unidade de Saúde e nós conseguimos e
conquistamos tudo isso de uma forma natural, ganhando
verdadeiros amigos, transformando em família.
Todos os integrantes do grupo perceberam mudanças em
suas vidas durante esse período e dizer que foi por causa do grupo
seria uma verdade absoluta, porém, como a verdade é relativa,
posso dizer que os encontros proporcionaram e potencializaram a
promoção da sua vida, trazendo laços de amizades, vínculo,
intimidade e família.
O sentimento que tive depois deste encontro foi de
superação, felicidade, de dever cumprido em saber quantas
mudanças aconteceram em nossas vidas só pelo fato de estarmos
juntos e partilharmos nossas vidas. Pessoas que me mostraram que
vale a pena investir em “projetos” que não são bem visto pela
gestão, a promoção de saúde que essas pessoas tiveram neste tempo
vale mil vezes mais que uma consulta realizada em um consultório
e é essa proporção que temos que colocar em prática, só vamos
conseguir a qualidade de vida em nossa comunidade se dedicarmos
o nosso tempo em promoção verdadeira de saúde.
É muito gratificante fazer esse trabalho, mas é necessária
boa vontade, motivação, integralidade, solidariedade, carinho,
amor. Não existe uma receita pronta, mas a melhor dica é deixar
acontecer, deixar o coração guiar, não existe caminho certo ou
errado, o caminho que o grupo proporcionar é o caminho que
devemos seguir.
Quadro 2– Processo dos Integrantes
Acontecimentos nos
Encontros
O que significa
66
AMARELO, viúva,
passando por seu momento de
luto e tristeza.
Encontrou no grupo apoio para superar esse sentimento de luto.
VERDE partilhou que gostava
de pescar, mas depois da morte
do seu irmão não pescou mais.
Depois da conversa com AZUL
sobre pescaria, sentiu vontade
de pescar novamente, voltou a
fazê-lo e se sente feliz.
O grupo proporcionou um espaço de superação, após a ocorrência
da separação natural, se não fosse pelo grupo, talvez ele não
tivesse alguém para conversar e incentiva-lo, não teria voltado a
sentir-se feliz. A partilha sobre pescaria influenciou
significativamente a transformação de Verdade, lhe deu força para
superar a perda, proporcionando uma autonomia de mudança de
vida em busca de algo que o faz feliz e que tinha perdido.
LARANJA uma pessoa que
gostava de fica vendo televisão
com o cachorro, expressou a
vontade de trabalhar na
temporada.
Por algum motivo a convivência em grupo, a oportunidade de
partilhar, trocar experiência gerou em Laranja algum motivação
para que ela tomasse essa decisão, isso só é possível a partir de
uma geração de autonomia para a mudança em sua vida.
Tristeza de AMARELO, pois o
seu cachorro não estava bem e
ele é a lembrança do marido.
Acolhimento da dor, tristeza, abraço, segurar na mão, proporciona
um espaço acolhedor, sentimento que não está sozinha, que pode
confiar que há amizade, solidariedade, vínculo que ajuda a superar
a dificuldade sabendo que tem um lugar de apoio.
Alegria de LARANJA por
estar trabalhando
Superação, transformação, autonomia, mudança de vida.
Laranja conseguiu sair do comodismo, da sua zona de conforto e
se transformar em uma pessoa útil, capaz de gerar seu próprio
sustendo com a sua força de trabalho, naturalmente apenas por sua
vontade de mudar.
67
Rosa cozinhou o milho e
partilhou com o grupo
Superação da inutilidade transformada em comunhão, amizade,
família, mesa de domingo, risos, piadas, felicidade,
Essa mudança está acontecendo naturalmente, é difícil explicar,
mas o convívio, a rede solidária, o vinculo, a partilha a comunhão
vai aumentando e tomando dimensão na vida do outro, todos estão
se transformando, cada um à sua maneira, por esse sentimento.
Neste momento percebo que os sentimentos estão sendo
ultrapassados. As pessoas não fazem mais parte de um grupo, elas
estão se relacionando com mais profundidade, se transformaram
em uma espécie de família.
Isolamento de ROSA,
sentimento de inutilidade.
Partilha e acolhimento do seu sofrimento mostrando como ela era
importante e útil para o grupo
Partilha de AMARELO,
aniversário do marido, resolveu
caminhar para ficar um pouco
melhor.
“Se não fosse esse grupo de
caminhada para fazer sair de
casa e conversar com as
pessoas eu estaria bem pior,
obrigada por me ajudar mesmo
uma vez por
semana.”
Tamanha a importância do grupo que Amarelo escolheu este
espaço para ficar melhor, pois lhe proporciona conforto,
confiança, alegria, amizade, solidariedade, apoio emocional. Neste
dia triste para Laranja ela escolheu o grupo para ficar melhor, vale
lembrar que muitas vezes quando estava triste o grupo ajudou a
superar essa tristeza, esse pode ser um dos motivos de sua escolha,
outro motivo seria o fato de neste local conseguir se expressar,
verbalizar e se sentir amparada, mas o mais importante é que
escolheu este local para ficar bem, o grupo e as pessoas que fazem
parte tem enorme relevância em sua vida, ajudando a superar esse
momento difícil.
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Saída de verde do Grupo
VERDE: “Por um lado estou
feliz por trabalhar novamente,
mas por outro lado estou triste,
não quero que vocês esqueçam
de mim, pode fazer algo de
noite e me chamar”.
A saída de uma pessoa do grupo gera um sentimento de tristeza
para quem fica, pois ela fazia parte de suas vidas e agora se
distanciará. Para quem está saindo o sentimento é potencialmente
maior, pois sente a perda, ver que os demais irão continuar e ele
estará perdendo o convívio em grupo, e que o encontro em outras
situações não é igual. Apesar de não participar mais das
caminhadas, Verde reforça pede para ser lembrado e chamado
sempre que forem fazer algo. Isso mostra que o vínculo e a
amizade vão além do grupo, que quer continuar ter contato com as
pessoas.
Consideração Final
A partir de todo o exposto, podemos concluir que é possível realizar trabalhos em grupo com
foco na promoção da saúde, basta olharmos para ela de forma integral e assim poder perceber a
verdadeira necessidade das pessoas levando em consideração o seu contexto social.
Não há forma correta para formar um grupo de promoção de saúde, é necessário apenas ter uma
concepção bem definida e deixar acontecer. Promoção da saúde não é mudança do estilo de vida das
pessoas como aprendemos, é um movimento de alegria em direção à vida (SIGERIST, E. H, 1937),
encaminhar o olhar para o coletivo, em toda a sua dimensão física, política, social, econômica.
Neste sentido, faz-nos perceber que não há caminho certo ou errado, basta deixar acontecer e
fazer com que as pessoas sintam-se seguras no ambiente, confortáveis para partilhar tristezas, alegrias,
criando vínculo e laços de amizades, sendo solidário, aprender a ouvir, partilhar, abraçar, sorrir, chorar,
brincar.
Indiscutivelmente, o grande desafio está enfrentado pelo profissional da Saúde devido ao
modelo assistencial imposto pela sua gestão, que cobra uma assistência curativista – individualista,
feita dentro de um consultório, utilizando, no máximo, consultas coletivas com soberania do
conhecimento e barganha de receita e medicamentos para o aumento de produtividade, voltada apenas
para quantidade de pessoas participantes, para estatísticas. Temos que romper com essa modelo para
uma abordagem da integralidade do usuário, acolhendo suas necessidades segundo seu contexto social.
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Os profissionais da ESF tem a responsabilidade de abraçar essa mudança, pois seu local de
trabalho é o meio em que as pessoas vivem, juntos estão inseridos na comunidade com suas questões
sociais, culturais, políticas e econômicas. Faz-se necessária a boa vontade do profissional de acolher
essas pessoas e ajudar a modificar suas vidas tendo um olhar integral, conquistando a promoção de sua
saúde.
O trabalho em grupo é um facilitador dessa mudança/transformação, pois a partilha, o encontro
de algo comum a todos, ajudar, amparar, escutar, sorrir, chorar, acolher, proporciona a geração de
vínculo, de redes solidárias, de laços de amizades, efetivando a transformação da vida da pessoa pela
convivência e a experiência de estar em um ambiente coletivo.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de
Humanização.Atenção Básica / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Política Nacional
de Humanização. – Brasília : Ministério, 2010.
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WAITZKIN, H. - Uma Visão Marxista Sobre Atendimento Médico. São Paulo, Editora Avante, 1980.
74
APÊNDICE A: Termo de Consentimento Livre E Esclarecido
Você está sendo convidado(a) para participar, como voluntário, em uma pesquisa. Após ser esclarecido(a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, rubrique a primeira folha e assine ao final deste documento, que está em duas vias. Uma delas é sua e a outra é da pesquisadora responsável. Em caso de recusa você não será penalizado(a) de forma alguma. INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA Título do Projeto: Grupo de caminhada: do estilo de vida a autonomia do sujeito Pesquisador Responsável: Luiz Roberto Agea Cutolo Telefone para contato: 48- 99606338 Pesquisadora colaborar: Elaine Pereira Roque Telefone para contato: 47-96218783 A pesquisa tem como objetivo identificar a percepção do sujeito quanto à participação do grupo, suas motivações, potencialidades, dificuldades, repercussão pessoal e social. Sua participação, neste estudo, compreende em responder a uma entrevista que será gravada, utilizando um roteiro de perguntas semiestruturada contendo questionamentos sobre a contribuição que as atividades em grupo realizaram na sua vida. Faz se necessário a gravação das entrevistas para que não se perca nenhuma informação. A sua participação não implicará em riscos físicos o que poderá ocorrer é a perda das gravações e ao lembrarse dos encontros aflorar sentimentos reprimidos, todavia, será disponível um tempo e liberdade de expressão e compartilhamento de sentimentos. Já os benefícios que podem corresponder aos encontros é a construção da sua qualidade de vida mediante partilha. Dessa forma, a entrevista poderá ser um momento de conhecimento, acolhimento, escuta. Ressalta-se que o sigilo e anonimato serão mantidos em caráter confidencial de todas as informações obtidas. Salientamos que a sua participação é importante para a concretização desse estudo porque partiremos das percepções apontadas por você, do contrário, não conseguiremos êxito no alcance dos objetivos propostos. A entrevista será marcada fora dos encontros do grupo, no horário de sua preferência, em local reservado. O produto final irá contribuir para que os profissionais de saúde possam obter a ampliação do conhecimento das suas práticas, beneficiando assim a comunidade assistida. A sua participação é voluntária, portanto sem remuneração. Poderá fazer questionamentos a respeito do processo a qualquer momento para ambos as pesquisadoras acima, bem como sair da pesquisa sem que haja prejuízo. Os dados serão utilizados para fins acadêmicos, tais como: relatórios, trabalhos de conclusão de curso, artigos, livros e resumos. Será feita a devolutiva dos resultados para a instituição Departamento de Atenção Básica, Secretária da Saúde do Município de Porto Belo. Nome do Pesquisador: _________________________________________________________
Assinatura do Pesquisador: ______________________________________________________
CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO DO SUJEITO
Eu, _____________________________________, RG_____________, CPF ____________ abaixo assinado, concordo em participar do presente estudo como sujeito. Fui devidamente informado e esclarecido sobre a pesquisa, os procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação. Foi-me garantido que posso retirar meu
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consentimento a qualquer momento, sem que isto leve à qualquer penalidade ou interrupção de meu acompanhamento/assistência/tratamento.
Local e data: _____________________________________________________________
Nome: __________________________________________________________________
Assinatura do Sujeito ou Responsável: ________________________________________
Telefone para contato: _____________________________________________________
Pesquisador Responsável: __________________________________________________
Telefone para contato: _____________________________________________________
Pesquisadores Participantes: ________________________________________________
Telefones para contato: ____________________________________________________
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APÊNDICE B- Diário de Campo
DESCRIÇÃO
PERCEPÇÃO
OBSERVAÇÃO
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ANEXO A –PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP
DADOS DO PROJETO DE PESQUISA
Título da Pesquisa: Estudo sobre a percepção dos sujeitos que desenvolvem as atividades em
grupo na ESF
Pesquisado Luiz Roberto Agea Cutolo r:
Área Temática:
Versão: 2
CAAE: 24880813.6.0000.0120
Instituição Proponente: Universidade do Vale do Itajaí
Patrocinador Financiamento Próprio Principal:
DADOS DO PARECER
Número do Parecer: 484.892
Data da Relatoria: 13/12/2013
Apresentação do
Projeto:
Considerando que a Estratégia Saúde da Família, necessita trabalhar mais perto das necessidades
reais da sua comunidade, indo além de consultórios médicos, surgiu a necessidade de se iniciar
trabalho em grupo operativo vinculando a integralidade com a promoção da saúde. Diante disso, o
estudo tem como objetivo identificar a percepção do sujeito quanto à participação do grupo, suas
motivações, potencialidades, dificuldades, repercussão pessoal e social. Para tanto será utilizada
uma abordagem qualitativa. A coleta de dados dará por meio da observação participante com a
utilização do diário de campo e entrevista semi estruturada contendo questionamentos sobre a
contribuição que as atividades em grupo realizaram na sua vida; que será marcada fora dos
encontros do grupo, no horário de sua preferência, em local reservado, sendo gravadas em áudio.
Os dados serão analisados na Hermeneutica - dialética. O estudo seguirá os preceitos
estabelecidos pela resolução 466/12, tendo como descritores: Saúde do idoso; promoção da saúde;
educação em saúde.
Objetivo da Pesquisa:
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O presente protocolo menciona como objetivo primário: Identificar a percepção do sujeito quanto à
participação do grupo.
E como objetivos secundários: Identificar motivação; Identificar potencialidade; Identificar
Avaliação dos Riscos e Benefícios
O presente protocolo menciona que a participação do sujeito não implicará em riscos físicos o que
poderá ocorrer é a perda das gravações e ao lembrar-se dos encontros aflorar sentimentos
reprimidos, todavia, será disponível um tempo e liberdade de expressão e compartilhamento de
sentimentos. Menciona que os benefícios que podem corresponder aos encontros é a construção
da sua qualidade de vida mediante partilha. Além de contribuir para que os profissionais de saúde
possam obter a ampliação do conhecimento das suas práticas, beneficiando assim a comunidade
assistida.
Comentários e Considerações sobre a Pesquisa:
Será uma pesquisa antropológica de abordagem qualitativa tendo como campo de estudo os grupos
na ESF do Jardim Dourado do município de Porto Belo, os sujeitos que irão participar da pesquisa
são 30 na parte da observação participante - diário de campo (todas as pessoas que frequentarem
o grupo da caminhada e o encontro com os amigos) e 6 na entrevista semi estruturada (critério de
escolha a assiduidade em ambos os grupos), os dados serão analisados na Hermenêutica -
dialética. A coleta de dados acontecerá em janeiro e fevereiro de 2014.
Descreve a relevância da pesquisa, os procedimentos metodológicos apresentando os instrumentos de coleta de dados.
Considerações sobre os Termos de apresentação obrigatória:
Descreve o cronograma das etapas do protocolo, sendo o início da coleta dos dados em janeiro de
2014, posterior a apreciação do comitê de ética em pesquisa.
Apresenta o orçamento no valor de R$ 2.700,00, o qual será financiado pelos próprios
pesquisadores. Apresenta folha de rosto devidamente assinada pela coordenadora do Programa
de Mestrado Profissional em Saúde e Gestão do Trabalho e pelo professor orientador.
Apresenta o currículo lattes do pesquisador principal. Apresenta anuência com a assinatura e carimbo do Secretário de Saúde do município de Porto Belo.
79
Apresenta o termo de aceite da orientação, assinado pelo pesquisador responsável que é o professor
Orientador.
Apresenta o instrumento/questionário de coleta de dados.
Apresenta o Projeto de Pesquisa na integra.
Apresenta o TCLE, sobre o qual tecemos os seguintes comentários:
a) A escrita apresenta-se na forma de convite ao sujeito de pesquisa;
b) Explica ao sujeito a necessidade de rubricar a via, e assinar no final do documento;
c) Esclarece os objetivos da pesquisa;
d) Define qual é a participação do sujeito na pesquisa, no qual está previsto uma entrevista com
gravação; e) Esclarece que a participação é voluntária, que o sujeito tem o direito de sair do
estudo a qualquer momento sem qualquer prejuízo e sem necessidade de exposição de motivos;
f) Informa que manterá sigilo sobre os dados e anonimato dos envolvidos;
g)Relata que durante a coleta dos dados se houver algum desconforto ou outro dano qualquer, as
pesquisadoras estarão à disposição para prestar a assistência adequada e o participante poderá
optar em continuar participando da pesquisa ou não.
h)O benefício relacionado a participação do sujeito na pesquisa esta na possibilidade dos encontros
em proporcionar construção da sua qualidade de vida mediante partilha.
i) Esclarece que o sujeito de pesquisa não receberá nenhum tipo de compensação financeira por
aceitar a participar do estudo;
j) Informa que manterá sigilo sobre os dados e anonimato dos envolvidos;
k) Menciona que a qualquer momento o sujeito de pesquisa poderá indagar ou tirar qualquer dúvida
que surgir com os pesquisadores.
l) Disponibiliza o telefone celular dos pesquisadores responsáveis, porém, não prevê campo para a
assinatura dos mesmos.
Recomendações:
Conclusões ou Pendências e Lista de Inadequações:
80
O protocolo está adequado aos preceitos éticos exigidos na Resolução CNS 466/12.
Situação do Parecer:
Aprovado
Necessita de apreciação da CONEP
Não
Considerações Finais a critério do CEP:
Recomenda-se manter o CEP informado, sempre que houver mudanças no protocolo, por meio de
submissão para análise da Emenda de protocolo, bem como solicita-se apresentar o Relatório final
até dezembro de 2014 - Conforme Resolução CNS 466/12 VII. 13 cabe ao CEP: d) acompanhar o
desenvolvimento dos projetos através de relatórios anuais dos pesquisadores.
ITAJAI, 09 de Dezembro de 2013
Assinador por:
Michele
Thiesen
(Coordenado)
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ANEXO B
TERMO DE ANUÊNCIA
O Departamento de Atenção Básica da Secretaria de Saúde do Município de
Porto Belo concorda com a execução do projeto de pesquisa intitulado “Estudo sobre a
percepção dos sujeitos que pertence as atividades em grupo na ESF”, que será
desenvolvido pela mestranda Elaine Pereira Roque e orientadores professor Dr. Luiz
Roberto Agea Cutolo
Instituição: Departamento de Atenção Básica, Secretaria de Saúde do Município de
Porto Belo.
Data: 12 de Novembro 2013.