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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO...

Date post: 29-Oct-2020
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO UNIVERSITÁRIO NORTE DO ESPÍRITO SANTO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS NATURAIS Filmes finos de nanocristais de óxido de estanho empregados como sensor de gás hidrocarboneto Michael Rodrigues Silva Monografia de Conclusão de Curso São Mateus - ES 2017
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO UNIVERSITÁRIO NORTE DO ESPÍRITO SANTO

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS NATURAIS

Filmes finos de nanocristais de óxido de estanho empregados como sensor

de gás hidrocarboneto

Michael Rodrigues Silva

Monografia de Conclusão de Curso

São Mateus - ES

2017

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Michael Rodrigues Silva

Filmes finos de nanocristais de óxido de estanho empregados como sensor

de gás hidrocarboneto

São Mateus - ES

2017

Monografia apresentada ao Departamento de

Ciências Naturais – DCN-CEUNES,

Universidade Federal do Espírito Santo,

como parte dos requisitos para obtenção do

título de Licenciado em Química

Orientador: Prof. Dr. Cleocir José

Dalmaschio

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Michael Rodrigues Silva

Filmes finos de nanocristais de óxido de estanho empregados como sensor

de gás hidrocarboneto

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________

Prof. Dr. Cleocir José Dalmaschio – Orientador

UFES/CEUNES/DCN

_______________________________________

Prof.ª Dr.ª Carla da Silva Meireles

UFES/CEUNES/DCN

_______________________________________

Prof.ª Dr.ª Vivian Chagas da Silveira

UFES/CEUNES/DCN

São Mateus - ES

2017

Monografia apresentada ao Departamento de

Ciências Naturais – DCN-CEUNES,

Universidade Federal do Espírito Santo,

como parte dos requisitos para obtenção do

título de Licenciado em Química

São Mateus, 06 de Dezembro de 2017

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Dedico esse trabalho a Jesus Cristo, pelo amor incondicional a minha pessoa, amor este que

o fez um dia morrer na cruz do calvário para trazer a salvação para mim e para todos os

seres humanos do planeta.

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Agradecimentos

A DEUS, o todo poderoso, e Senhor de minha vida, que confiou em mim esta

oportunidade, pois se cheguei a este momento nobre com certeza foi e é pela sua ajuda, em

todos os aspectos, por ter formado o meu caráter, por estar ao meu lado em todos os

momentos, mas em especial nos momentos de angústias, dores, sofrimentos e quando até

pensei em desistir de tudo. Pelas incansáveis provisões, misericórdia, humildade e

simplicidade. Estupefato sempre estarei por seu amor papai querido!

Ao meu orientador Prof. Dr. Cleocir José Dalmaschio pela orientação, dedicação,

discussão, confiança e apoio incontestável, por seus conselhos e amizade, por sua

compreensão e disponibilidade em vários momentos e situações ao longo deste trabalho e do

curso, por sua paciência, mansidão e colaboração na correção deste trabalho, e por fim, por

ter a oportunidade de vivenciar e compartilhar com este explêndido profissional, experiências

que serão enriquecedoras ao longo de toda minha vida pessoal e profissional.

A minha amada amiga e noiva Sandrine Correia Dutra, por te me suportado até este

momento, sempre acreditando na minha pessoa. Por sempre propiciar momentos de alegria

em minha vida. Obrigado pelo amor, cuidado, carinho, dedicação, conselhos, paciência,

persistência, colaboração nos momentos de desespero.

Aos meus pais na fé, seu Abimael Lázaro do Nascimento e dona Maria Dalva Rocha

do Nascimento, que me ganharam para Jesus Cristo no ano de 2008, razão estar por eu estar

vivenciando este lindo momento em minha vida, por me alimentar e ouvir nos momentos em

que mais precisei.

A linda família pastoral, José Benedito, Ione Carvalho e filho José Lucas, pelo amor

incondicional e por me fazer sentir sempre em casa. Por suas incansáveis orações, conselhos,

ajuda financeira, material e emocional. Por estarem ao meu lado em todos os momentos desta

minha caminhada, sempre com palavras cativantes, positivas e proféticas. Por vivenciarem

comigo todos os momentos de lutas, adversidades, choro, alegrias e vitórias.

A minha família adotiva, Pastor Alix dos Santos Leonídio, sua esposa e pastora

Cleonir do Carmo Leonídio e seus filhos Moises e Calebe, que me suportaram por mais de

dois anos durante a graduação, provendo para mim um lugar para dormir e me alimentar

todos os dias. Pelo amor, conselhos, colaboração e apoio.

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À Prof. Dra. Márcia Helena Siervi Manso, pela orientação durante dois anos de

Iniciação Cientifica, por todo apoio, ajuda e disponibilidade durante todo este processo de

graduação.

A Igreja de Deus Reavivamento Pentecostal (IDERP) de São Mateus, por ter sido um

ambiente de acolhimento, ensinamento, aprendizagem, amizades, revelação, alegrias,

comunhão. Por ser uma denominação que sempre proporcionou a manifestação do Espírito

Santo. Por ter sido o recinto em que fiz uma faculdade espiritual, onde o que aprendi ciência

alguma pode substituir.

Aos irmãos da IDERP de Vila Velha, em especial a família do Emanuel, Carlos,

Fernando, Cimar, seu José, pela recepção e pela confiança depositada em minha pessoa

quando ganhei a oportunidade de estar à frente do trabalho nesta cidade.

Ao Valdemir, Edileide, Nieldes, Rozania, pastor Marisvaldo, Tereza, Valdemar,

Adriana, Aneilson, Elaine, Luan, irmã Vanda, Antoniel, Meriele, seu João, Juliane, Caíque,

Mairelly, Ray, Ramilo, Dona Tania e Edson, por me ajudarem no passado e por fazerem parte

de decisões que me fizeram olhar de forma diferente para o mundo que está em minha volta!

A Dona Regina Maria Rocha, pelos conselhos, acolhimento e simplicidade.

A amada e sábia irmã Maria, pessoa admirável por sua história de vida, pelo exemplo

de perseverança, fé, amor e persistência. Obrigado por te conhecer querida irmã, sempre

lembrarei da senhora, pois não posso esquecer de seu cozido sempre especial quando me via:

frango!

Ao André Silvares e Jeferson Santos pela amizade de todos os dias. Obrigado a cada

um de vocês por me acolher em momentos de angústia e dificuldades.

À Prof. Dra. Carla da Silva Meireles pela tranquilidade e suavidade em ensinar, pelos

conselhos, dicas na realização desta monografia. Pela preocupação não somente como

professora, mas pessoal comigo, sempre com frases positivas em que tudo daria certo.

Aos Professores: Dra. Christiane Mapheu Nogueira, Dra. Débora Pereira Araujo e Dr.

Breno Nonato de Melo pela ajuda e apoio em momentos de necessidade.

A todos os professores que de certa forma e ao seu jeito, contribuíram para aprimorar

os meus conhecimentos. Por cada um ter deixado sua marca e legado que serão inspirações

para minha futura carreira.

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A todos os amigos e companheiros de laboratório, em especial ao Welber, pela

infatigável ajuda, trocas de conhecimentos e experiências durante toda etapa de realização

deste trabalho.

Aos alunos do PIIC-Jr pelo processo de montagem do aparelho de dip-coating

utilizado no desenvolvimento deste trabalho.

Ao Thiago Perini (Du Reg) pelas conversas animadoras e pensamentos positivos em

finais de período: “acredito em você camarada!”, “poxa cara, não começa com negatividade

não!”.

Aos amigos não mencionados neste texto, mas que tem uma grande importância que

vai muito além do papel, pessoas que sem dúvida, foram essenciais neste trajeto percorrido.

A todos aqueles, que diretamente ou indiretamente contribuíram durante toda a minha

vida para que este momento chegasse com êxito.

E por último, mas não menos importante, a minha família: Miledson, Maxsuelen,

Milena e em especial a minha Mãe Marlene Rodrigues da Silva, que mesmo sem saber

contribuiu e colaborou de alguma forma para este dia especial. Mãe, não importa o que a

senhora é e não importa o que a senhora fez, o que realmente importa é que sempre vou te

amar, obrigado por tudo!

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“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo

aquele que n’Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna!”

Jesus Cristo.

“Não importa como você começa e sim como você termina!”

Autor desconhecido.

“O que sabemos é uma gota; o que ignoramos é um oceano!”

Isaac Newton.

“Só sei que nada sei!”

Sócrates.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 18

1.1 NANOTECNOLOGIA ................................................................................................. 18

1.2 MATERIAIS NANOESTRUTURADOS .................................................................... 19

1.3 DIÓXIDO DE ESTANHO ........................................................................................... 21

1.3.1 Estrutura cristalina do dióxido de estanho ............................................................... 21

1.3.2 Formação de bandas em materiais semicondutores ................................................. 22

1.4 MÉTODOS DE SÍNTESE .............................................................................................. 24

1.4.1 Rotas químicas e o processo de hidrólise ................................................................ 24

1.5 APLICAÇÕES DO DIÓXIDO DE ESTANHO .............................................................. 25

1.5.1 Filmes finos aplicados em sensores de gás .............................................................. 25

1.6 TÉCNICAS DE DEPOSIÇÃO ........................................................................................ 26

1.6.1 A técnica dip-coating ............................................................................................... 26

1.7 SENSORES DE GÁS A BASE DE SnO2 ....................................................................... 27

1.7.1 Funcionamento do sensor ........................................................................................ 28

1.7.2 Mecanismo na detecção de gás ................................................................................ 28

2. OBJETIVOS ....................................................................................................................... 30

3. METODOLOGIA ............................................................................................................... 31

3.1 SÍNTESES DE NANOCRISTAIS DE ÓXIDO DE ESTANHO .................................... 31

3.2 DEPOSIÇÃO DE FILMES FINOS DE DIÓXIDO DE ESTANHO .............................. 32

3.3 MÉTODOS DE CARACTERIZAÇÃO UTILIZADOS ................................................. 35

3.3.1 Difração de raios-X ................................................................................................. 35

3.3.2 Microscopia eletrônica de transmissão .................................................................... 35

3.3.3 Caracterização elétrica de filmes ............................................................................. 35

3.3.4 Caracterização dos filmes como sensores de gás hidrocarboneto ........................... 36

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 37

4.1 CARACTERIZAÇÃO DE NANOCRISTAIS DE ÓXIDO DE ESTANHO .................. 37

4.1.1 Difração de raios-X (DRX) ..................................................................................... 39

4.1.2 Microscopia Eletrônica de Transmissão .................................................................. 41

4.1.3 Caracterização elétrica dos filmes ........................................................................... 43

4.1.4 Caracterização dos filmes como sensores de gás hidrocarbonetos.......................... 45

5. CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 49

PROPOSTA DE TRABALHOS FUTUROS ........................................................................ 50

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................. 51

APÊNDICE ............................................................................................................................. 57

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Fotografias do cálice de Lycurgus em exposição no British Museum em Londres. O

vidro apresenta uma cor verde em condições normais de iluminação, mas apresenta uma cor

vermelha quando o cálice é iluminado a partir do

interior.......................................................................................................................................20

Figura 2 - Estrutura cristalina tetragonal do tipo rutilo do dióxido de estanho........................22

Figura 3 - Diagrama mostrando os níveis de energia de um semicondutor. A caixa em azul

representa a banda de valência, a caixa branca representa a banda de condução a 0 K, a seta

de pontas duplas representa a banda gap ou banda

proibida.....................................................................................................................................23

Figura 4 - Processo da técnica de dip-coating demonstrando as suas etapas: (a) Imersão, (b)

Emersão, (c) Deposição e escoamento e (d) Escoamento e

evaporação................................................................................................................................27

Figura 5 - Reação (a) em condições normais de atmosfera e (b) entre gases redutores e o

oxigênio absorvido na superfície do dióxido de estanho..........................................................29

Figura 6 – Fluxograma de síntese das nanocristais de dióxido de

estanho......................................................................................................................................32

Figura 7 - Dispositivo dip-coating utilizado na deposição de filmes.......................................33

Figura 8 – Fluxograma da deposição de filmes finos de dióxido de estanho nanocristalino e

posterior caracterização............................................................................................................34

Figura 9 – Montagem experimental de caracterização elétrica (a) Imagem do sistema de

medidas da câmara utilizado na caracterização elétrica dos filmes e no teste sensor de gás e

(b) Interior da câmara de gás....................................................................................................36

Figura 10 - Suspensão coloidal de nanopartículas de SnO2 sintetizada....................................38

Figura 11 - Difratograma de raios-X para caracterização estrutural do dióxido de

estanho......................................................................................................................................40

Figura 12 - Verificação de distribuição de tamanho de nanopartículas por meio da

Microscopia Eletrônica de Transmissão da amostra de SnO2: (a) Escala de 100 nm e (b)

Escala 50 nm……………………………………………….....................................................42

Figura 13 - Histograma de distribuição de tamanho de nanocristais de SnO2

sintetizado.................................................................................................................................43

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Figura 14 - Caracterização elétrica do filme fino de SnO2 sintetizado: gráfico V versus

I.................................................................................................................................................44

Figura 15 - Caracterização elétrica do filme fino de SnO2 sintetizado: gráfico de valores de

resistência em função da temperatura.......................................................................................45

Figura 16 - Padrões de respostas do filme de SnO2 em diferentes temperaturas de

operação....................................................................................................................................46

Figura 17 - Variação da resistência elétrica do filme fino na temperatura de

350°C........................................................................................................................................47

Figura 18 - Variação da sensibilidade versus concentração de GLP Para o filme de SnO2 na

temperatura de 350º C...............................................................................................................48

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Lista de reagentes utilizados na síntese do dióxido de estanho...............................31

Tabela 2 - Concentração da solução de dióxido de estanho (SnO2) nanocristalino..................39

Tabela 3 - Tamanho de cristalito estimado através da equação de Scherrer para duas

distâncias interplanar distintas..................................................................................................41

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LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS

AgNO3 Nitrato de prata

C Concentração

C2H5OH Álcool etílico

D Diâmetro médio dos domínios cristalinos

DRX Difração de raios-X

E Barreira de potêncial

Eg Energia do band gap

eV Elétron-volt

GLP Gás liquefeito de petróleo

I Corrente

K Constante na Scherrer associada a geometria do cristal

Kv Kilovolt

m Metros

mA Miliampere

min Minutos

NCs Nanocristais

nm Nanômetro

OMAL Orbital molecular antiligante

OML Orbital molecular ligante

ppm Parte por milhão

R Resistência elétrica na presença de gás analito

R0 Resistencia elétrica na ausência de gás analito

SnO2 Dióxido de estanho

T Temperatura

MET Microscopia Eletrônica de Transmissão

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u.a Unidade arbitrária

V Voltagem

β Largura do pico à meia altura

θ Ângulo de Bragg

λ Comprimento de onda

μL Microlitro

Ω Ohm

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RESUMO

Nas duas últimas décadas, o interesse por materiais na escala nanométrica tem crescido,

demostrando a importância da nanotecnologia neste ramo. Com o desenvolvimento dessa

ciência várias rotas para síntese de nanocristais se desenvolveram, dentre estas rotas,

destacam-se as rotas químicas de síntese, com especial notabilidade para as rotas que utilizam

meios líquidos e que possuem um grande potencial de produção de nanopartículas, com

reagentes e equipamentos de baixo custo, comparado a processos que usam reagentes em fase

gasosa ou processos físicos. Utilizando processo de hidrólise do cloreto de estanho em

solução alcoólica, nanocristais do semicondutor SnO2 podem ser obtidos em escala

nanométrica com excelente controle de propriedades como tamanho e polidispersão das

nanoestruturas, se comparado a rotas de sínteses mais elaboradas. Assim, o objetivo do

trabalho foi sintetizar e caracterizar nanocristais de SnO2, para a obtenção de filmes finos e

seu posterior processo de caracterização, avaliando o potencial para aplicação como sensor

resistivo de gás hidrocarboneto. Por meio de algumas técnicas de caracterização pode-se

verificar que os nanocristais de SnO2 obtidos são referentes à fase cristalina cassiterita do

SnO2. A suspensão coloidal de nanocristais foi utilizada para deposição de filmes finos, que

foram caracterizados quanto ao comportamento elétrico na faixa de temperatura ambiente à

350°C. Os resultados mostraram que, com a elevação da temperatura ocorre um decréscimo

da resistência do material, característico do comportamento semicondutor dos filmes obtidos.

Em testes para sensores de gás com misturas gasosas ar/gás hidrocarboneto (GLP) os filmes

apresentam respostas de variação da resistência em função da concentração, com maiores

valores de sensibilidade na temperatura de 350°C, demonstrando assim sua potencial

utilização em sensores de gases.

Palavras-chave: Nanotecnologia, dióxido de estanho, nanocristais, sensores de gás.

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ABSTRACT

In the last two decades has grown the interest in nanomaterials, demonstrating the importance

of nanotechnology in this field. With the development of this science, several nanocrystals

synthesis routes has been developed, among proposed routes, special attention were devoted

in chemical routes, with special notability for the routes that use liquid media. It has great

potential of nanoparticles production. Liquid chemical routes has low cost in reagents and

equipment, compared to processes using gas phase reagents or physical processes. Using the

hydrolysis process of tin chloride in alcoholic solution, nanocrystals of the SnO2

semiconductor can be obtained on a nanometric scale with excellent control of properties such

as size and polydispersion of nanostructures, compared to more elaborate synthesis routes.

Thus, the objective of the work was to synthesize of SnO2 nanocrystals, to obtain thin films

and their subsequent characterization, evaluating the potential for application as a resistive

sensor applied to hydrocarbon gas. Characterization techniques were used to be verify that the

SnO2 nanocrystals obtained are related to the crystalline cassiterite phase of SnO2. The

colloidal suspension of nanocrystals was used for deposition of thin films, which were

characterized about electric behavior, from room temperature until 350°C. The results showed

that, with the increase of the temperature occurs a decrease of the electrical resistance of the

material, characteristic of the semiconductor materials. In gas sensor experiments with ciclyes

air / Liquefied petroleum gas, the thin films present electric resistance variation in diferentes

concentration of GLP, with higher sensitivity values at 350 ° C, demonstrating its potential

use as gas sensors.

Keywords: Nanotechnology, tin dioxide, nanocrystals, gas sensors.

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TRABALHOS PUBLICADOS ORIUNDOS DESTA PESQUISA

Apresentações

VI Encontro Capixaba de Química (ENCAQUI) – “Obtenção de nanocristais de dióxido de

estanho: análise estrutural e verificação de propriedades de filmes finos”, SBQ/ES,

Realizado em Vitória/ES - UFES, (2017).

V Workshop de Engenharia Química (WEQ) – “Síntese de nanocristais de óxido de estanho,

deposição de filmes finos e caracterização elétrica para avaliação de potencial aplicação

como sensor de gás hidrocarboneto”, na Universidade Federal do Espirito Santo, CEUNES-

UFES, (2017).

IV Workshop de Engenharia Química (WEQ) - “Síntese de nanocristais de óxido de estanho

para deposição de filmes finos com potencial aplicação como sensor de gás”, na

Universidade Federal do Espirito Santo, CEUNES-UFES, (2016).

Publicações

“Síntese de nanocristais de óxido de estanho para deposição de filmes finos com potencial

aplicação como sensor de gás” - Trabalho publicado no periódico Brazilian Journal of

Production Engineering (2016).

Premiações

Prêmio de reconhecimento como 3° melhor pôster apresentados no 5º Workshop de

Engenharia Química com o trabalho “Síntese de nanocristais de óxido de estanho, deposição

de filmes finos e caracterização elétrica para avaliação de potencial aplicação como sensor

de gás hidrocarboneto” (2017).

Prêmio de reconhecimento como 2° melhor pôster apresentados no 4º Workshop de

Engenharia Química com o trabalho “Síntese de nanocristais de óxido de estanho para

deposição de filmes finos com potencial aplicação como sensor de gás” (2016).

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1. INTRODUÇÃO

O ser humano no decorrer de sua história vem descobrindo e aprendendo inúmeras

técnicas que facilitam a realização de suas atividades. Este progresso humano nos possibilitou

chegar na revolução industrial e com esta, diversos são os benefícios adquiridos pelo

desenvolvimento da tecnologia em nosso meio. Estes benefícios são transformadores do ser

humano no mundo.

E é neste cenário que as portas são abertas para a Química, que nessas últimas décadas

vem contribuindo no desenvolvimento de novos materiais, entre eles os nanomateriais

(LOURO; BORGES; SILVA, 2013). Assim, os nanomateriais vieram se caracterizando

como um dos domínios tecnológicos de maior atração e crescimento para pesquisas básicas e

aplicadas. Com isso, a nanotecnologia tem ganhado espaço como a nova revolução do século

XXI, abrindo possibilidades para a formação de novos produtos, além de ser composta por

inúmeros conjuntos de técnicas com grande potencial de aplicação na indústria e criação de

novos mercados (MARTINS; TRINDADE, 2012). É indispensável para o progresso da

nanotecnologia, o desenvolvimento de uma série de normas e técnicas de síntese e preparação

de materiais que decorrem nos mais variados tipos de estruturas (DESHMUKH;

NIEDERGERGER, 2017).

1.1 NANOTECNOLOGIA

Segundo alguns autores, o marco inicial da nanotecnologia foi em 1959 em uma

palestra do pesquisador Richard Feynman na reunião anual da Sociedade Americana de

Física, no Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) (RANGEL; FERREIRA, 2009).

Nesta, o físico Feynman propôs que em um futuro próximo, engenheiros poderiam realizar a

manipulação de átomos como quisessem para obtenção de novos materiais, desde que

respeitadas às leis básicas do universo (MARTINS; TRINDADE, 2012). Dessa forma,

acredita-se que a motivação da palestra de Feynman era que não precisamos aceitar os

materiais em sua natureza, mas podemos desenvolver materiais inovadores.

O termo “nano” é um prefixo que vem do grego nánnos e significa “anão” ou algo de

pequeno tamanho (LOURO; BORGES; SILVA, 2013). Só para se ter ideia, um nanômetro

(10-9 m) é algo quase 100 mil vezes menor que um fio de cabelo em termos de espessura. O

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termo nanotecnologia é definido como a habilidade de manipular átomos e moléculas para a

criação de materiais na escala manométrica (1 a 100nm). (ASSIS et al, 2012; SANCHEZ;

SOBOLEV, 2010; GARBOCZI, 2009; MILLER, 2005). Para que se chegue a esta escala, é

preciso dividir o que vemos como um metro em um bilhão de pedaços; onde o tamanho de

um desses pedaços é de um nanômetro. Além disso, a nanotecnologia trata-se de uma ciência

de caráter transversal e multidisciplinar, com aplicabilidade em diversos setores do

conhecimento (CAMPOS et al, 2017).

1.2 MATERIAIS NANOESTRUTURADOS

Os materiais na escala nanométrica podem ser classificados como: 1) materiais

nanométricos 2D, onde uma de suas dimensões está entre 1 e 100 nm (filmes finos). 2)

materiais nanométricos 1D, onde por sua vez possuem duas dimensões entre 1 e 100 nm

(nanofitas) e 3) materiais na escala nanométrica 0D, que tem todas as três dimensões (X, Y,

Z) entre 1 e 100 nm (nanopartículas) (RANI; SHARMA, 2016; XIA et al, 2003).

Propriedades químicas e físicas de materiais nanoestruturados (1-100 nm) despertam

forte interesse e grande importância para variadas aplicações na área da tecnologia. Este tipo

de material apresenta propriedades diferentes em relação aos materiais micrométricos

(LOURO; BORGES; SILVA, 2013). Por exemplo, propriedade magnética, eletrônica, óptica,

reatividade de superfície, podem ser modificadas dependendo do tamanho do nanocristal.

Porém, as mudanças nas características destes materiais ocorrem de forma mais pronunciada

quando os nanocristais apresentam um tamanho de 1-10 nm. Mudanças estas associadas ao

confinamento quântico, que depende da origem e do tipo de ligação dentro do cristal

(MACIEL et al, 2003). A diminuição do tamanho médio dos nanomateriais, tem como

consequência um aumento da área superficial por volume. Como exemplo disso, tenha-se que

um cubo com volume de 1 cm3, ou seja, de 1 cm de lado, possui uma área superficial de 6

cm2. Diminuindo as dimensões laterais para 1 mm e mantendo o volume de 1 cm3, existem

103 cubos com área superficial resultante de 60 cm2, porém diminuindo as dimensões laterais

do cubo para 1 nm existiriam cubos com área superficial resultante de 60.000.000 cm2,

mantendo-se o volume de 1 cm3. (SCHULZ, 2013; MARTINS; TRINDADE, 2012).

Apesar do atual despertar para a nanociência, é possível notar que seu

desenvolvimento já se iniciou há aproximadamente dois séculos, com os estudos de Michael

Faraday, publicado em 1857, onde ele sintetizou e fez estudos sobre soluções coloidais de

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ouro, que possuíam diferentes colorações (RANGEL; FERREIRA, 2009). Para isso, Faraday

reduziu um sal de ouro por meio do calor ou reações com agentes redutores, e propôs como

explicação que as diferentes colorações obtidas, são devido ao tamanho das partículas

(FARADAY, 1857). No entanto, Faraday não utilizou o termo nanotecnologia, sendo o

mesmo utilizado pela primeira vez por Norio Taniguchi, engenheiro japonês e professor da

Universidade de Tóquio, em 1974 (RANGEL; FERREIRA, 2009; ALVES, 2004).

Talvez o exemplo mais antigo da utilização de materiais na escala nanométrica, seja a

taça de lycurgus (Século IV d.C.), Figura 1. Essa taça existe até os dias de hoje e possui como

uma de suas características a propriedade de mudança de cor dependendo da luz que incide

sobre o material. Análises deste material relatam que o mesmo possui quantidades pequenas

de nanopartículas metálicas, contendo Au e Ag na proporção 1:14 (CASANOVA, 2010).

Figura 1 - Fotografias do cálice de Lycurgus em exposição no British Museum em Londres. O

vidro apresenta uma cor verde em condições normais de iluminação, mas apresenta uma cor

vermelha quando o cálice é iluminado a partir do interior.

Fonte - CASANOVA, 2010.

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1.3 DIÓXIDO DE ESTANHO

O Brasil é o quinto maior produtor de minério de estanho e produziu cerca de 16 mil

toneladas no ano de 2013. O que representa 7,1% da produção mundial, que é de 235 mil

toneladas, as maiores reservas estão localizadas na China e na Indonésia seguido do Brasil e

Bolívia (ABRUZZI, 2017).

O estanho está localizado na família 14 e no 5° período da tabela periódica, em ordem

de abundância é o quadragésimo oitavo elemento mais abundante da crosta terrestre, sendo

disponibilizado em uma concentração média de 2,1 ppm. Sua fonte principal é a cassiterita,

SnO2, ou dióxido de estanho (IV) (FIGUEIRAS, 1998).

O SnO2, é um óxido anfótero, com características semicondutoras (ABRUZZI;

DEDAVID; PIRES, 2015), com uma energia de “gap” intrínseca de 3,6 eV, o que o torna um

isolante elétrico, não possuindo defeitos intrínsecos (BATZILL; DIEBOLD, 2005;

SHANMUGASUNDARAM et al., 2013; SHUKLA, 2012; AYESHMARIAN, et al., 2004;

NG et al., 2008). Porém, o SnO2 frequentemente apresenta comportamento de semicondutor

tipo n (YU et al., 2010), que geralmente está associado a defeitos causados pela vacância de

oxigênio em sua fórmula estrutural (ABRUZZI; DEDAVID; PIRES, 2015). Está vacância de

oxigênio opera como sítios doadores de carga, favorecendo o aumento populacional na banda

de condução (ABRUZZI, 2017; ALMEIDA, 2013; JARZEBSKI, MARTON, 1976), e os

defeitos, geralmente, são formados durante a preparação do material (JÚNIOR, 2016).

Desta forma, utiliza-se o SnO2 neste trabalho pelo conjunto de suas propriedades, pois

átomos superficiais em materiais cristalinos possuem menor coordenação em comparação

com os átomos do “bulk” (equivalente ao interior do cristal), consequentemente, possibilita

uma distribuição distinta para a energia livre associada ao cristal. Nos materiais

nanocristalinos, um grande número de átomos na superfície gera alterações nas propriedades

físicas do material, como: diminuição na temperatura de fusão e variações na estabilidade de

fases (LEE, 2004).

1.3.1 Estrutura cristalina do dióxido de estanho

A estrutura cristalina do dióxido de estanho de ocorrência mais comum é a tetragonal,

do tipo rutilo (BATZILL; DIEBOLD, 2005), Figura 2. Cada átomo de estanho está

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hexacoordenado aos átomos de oxigênio, onde a célula unitária é formada por duas unidades

de SnO2, ou seja, dois átomos de estanho e quatro átomos de oxigênio estão contidos em cada

célula unitária. Na estrutura o metal possui geometria octaédrica e o oxigênio com número de

coordenação 3 resulta em uma estrutura trigonal planar (FRORIANO et al., 2010). Ou seja, o

SnO2 possui número de coordenação 6:3 (Sn4+ = 6 e O = 3) (ALMEIDA, 2013).

Figura 2 - Estrutura cristalina tetragonal do tipo rutilo do dióxido de estanho.

Fonte - https://www.webelements.com

1.3.2 Formação de bandas em materiais semicondutores

Em materiais semicondutores, tem-se as bandas de condução (BC) e de valência (BV)

que são resultados do enorme número de orbitais atômicos que se superpõem para produzir

orbitais moleculares. Inicialmente, quando dois átomos se ligam, há a formação de orbitais

moleculares ligantes (OML) e antiligantes (OMAL), estando os elétrons no orbital de menor

energia. Ao acrescentarmos um número maior de átomos ligados, vai existir a formação de

outros orbitais moleculares que se localizam em níveis de energia bem próximo aos

anteriores, que semelhantemente, tem os orbitais moleculares ligantes (OML) sendo ocupado

pelos elétrons. Desta forma, a formação de nanocristais, possibilita a união de n átomos, com

isso, os níveis energéticos dos orbitais moleculares se encontram praticamente sobrepostos,

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resultando na formação da banda de valência (BV) preenchida e da banda de condução (BC)

vazia. Estas bandas são espaçadas pela energia do band gap ou banda proibida, que é a

quantidade de energia necessária para que possibilite que os elétrons efetuem migração da BV

para a BC, conforme Figura 3 (SHRIVER; ATKINS, 2008). Sendo que a Eg de um material

semicondutor nanométrico é maior do que de um material micrométrico, fato este que se trata

de um efeito do confinamento quântico e por isso os nanocristais que exibem tais efeitos são

designados de pontos quânticos (MARTINS; TRINDADE, 2012).

Nos semicondutores, esta energia é consideravelmente pequena, permitindo com que

agitações térmicas façam com que alguns elétrons da banda de valência ultrapassem para a

banda de condução. Em materiais condutores não existe esta diferença de energia, pois as

bandas se superpõem. Para materiais isolantes o band gap é muito grande, impossibilitando

que os elétrons da banda de valência saltem para a banda de condução. A forte dependência

da condutividade em relação ao aumento da temperatura é derivada de uma dependência

exponencial com a temperatura, do tipo Boltzmann, da população de elétrons da banda de

condução (ALMEIDA, 2013; SHRIVER; ATKINS; 2008; FILHO, 2012).

Figura 3 – Diagrama mostrando os níveis de energia de um semicondutor. A caixa em azul

representa a banda de valência, a caixa branca representa a banda de condução a 0 K, a seta de

pontas duplas representa a banda gap ou banda proibida.

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1.4 MÉTODOS DE SÍNTESE

O interesse por materiais nanoestruturados é decorrente do surgimento de novas e

interessantes propriedades que são obtidas quando o material se apresenta em tal forma, e que,

por sua vez, estas propriedades podem ser sensivelmente alteradas com a modificação de

tamanho e morfologia desses materiais (LOPES et al., 2015). Nesta perspectiva,

pesquisadores estão propondo métodos de síntese de óxidos semicondutores nanoestruturados,

visando a melhoria de suas propriedades físico-químicas (MOSELEY, 2017).

Nanopartículas de SnO2 podem ser obtidas por diferentes métodos. Entre os métodos

utilizados tem-se: Co-precipitação (LOPES et al., 2015), spray pirólise (GANESH E PATIL

et al., 2011; SERIN et al., 2006), precipitação homogênea (PEDRAZA; VAZQUEZ, 1999),

síntese continua por combustão (LOURENÇO, 2012), oxidação por estanho metálico

(MENDES et al., 2012), rotas hidrotérmicas (LOURENÇO, 2012; LOPES et al., 2015), sol-

gel (LOPES et al., 2015; ALMEIDA, 2013; CHATELON et al., 1994; SILVA, 2011),

processos solvotérmicos (YIN et al., 2003), reações de hidrólise de sais de estanho

(ARAÚJO, 2012), e outros.

1.4.1 Rotas químicas e o processo de hidrólise

Dentre as diversas rotas de obtenção de nanomateriais, as rotas químicas se destacam

por apresentarem resultados relevantes que abrangem custos menos elevados de reagentes e

equipamentos, se comparada a rotas físicas de síntese dos mesmos materiais (SILVA;

DALMASCHIO, 2016).

Neste contexto, o processo de síntese utilizado neste trabalho, consiste na utilização de

uma rota química, no caso, a rota aquosa, onde seguindo a literatura, o processo inicia-se a

partir da hidrólise do sal metálico, SnCl2.2H2O em meio alcóolico (C2H5OH) a temperatura

ambiente. Segundo referências, se supõe que a reação de oxirredução ocorre no mesmo

instante que as outras reações, ou seja, hidrólise e policondensação. Neste tipo de reação,

espécies primárias são geradas pela desprotonação da água de coordenação para a hidratação

do cátion conforme Equação 1 (LEE, 2004; RIBEIRO, 2003).

Sn2+ (aq) + 4 H2O (l) → Sn(OH)4 (aq) + 2 H2 (g) (1)

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Observa-se que a Equação 1 descreve um processo de oxi-redução ocorrendo

simultaneamente com a hidrólise, provavelmente, com geração de dihidrogênio (H2). Na

sequência o hidróxido de estanho passa por uma desidratação formando o dióxido de estanho,

conforme Equação 2. Apesar de ser apresentado como uma proposta na literatura, não foi

descrito um caminho de reação detalhado para tal caso, tópico este em aberto segundo Ribeiro

e Lee (LEE, 2004; RIBEIRO, 2003).

Sn(OH)4 (aq) → SnO2 (s) + 2H2O (l)

1.5 APLICAÇÕES DO DIÓXIDO DE ESTANHO

Óxidos metálicos são possíveis candidatos para a produção em escala nanométrica,

justamente por apresentar inúmeras aplicações tecnológicas. (MOSELEY, 2017). Entre os

diversos óxidos semicondutores, o SnO2 é um óxido que vem ganhando grande destaque

tecnológico por possuir uma ampla gama de aplicações, como: Células solares (MAHMOUD;

FOUAD, 2015), dispositivos ópticos-eletrônicos, catalisadores e baterias de lítio recarregável.

Além disso, este óxido apresenta alterações no comportamento elétrico quando exposto a

gases redutores ou oxidantes, o que lhe confere a propriedade de também ser empregado

como dispositivos sensores de gás (SAWSAN; OSAMA, 2015; AHMARUZZAMAN;

MOHANTA, 2016).

1.5.1 Filmes finos aplicados em sensores de gás

Filmes finos de SnO2 são materiais com potencial aplicação eletrônica, isso por

motivos de possuir condutividade elétrica, boa estabilidade química e mecânica, além de

interagir fortemente com espécies adsorvidas. Para tal, é de extrema importância nas

propriedades do filme a escolha da rota de síntese de filmes finos de SnO2, especialmente se

por meio da rota houver a possibilidade de otimizar parâmetros essenciais, como por

exemplo, condutividade, transparência, tamanho das partículas e composição do filme. Em

geral, as propriedades dos filmes finos são fortemente influenciadas pela escolha do método

de preparação (FREITAS, 2006).

(2)

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Como sensor de gás, por exemplo, existem diversas maneiras de obtenção de filmes

finos, seja por rotas químicas ou processos físicos (OHRING, 1992). Os métodos químicos

usados para a formação dos filmes finos são os processos do tipo sol-gel e as técnicas de

deposição de vapor químico. Os métodos físicos mais aplicados são as técnicas de evaporação

física e as técnicas de pulverização catódica, onde cada um desses se concentra na transição

de átomos de um material utilizado como fonte para um substrato que é o local onde o filme

fino vai se formar e crescer (ARAÚJO, 2012). A principal vantagem destas técnicas, é a

possibilidade de controle quanto a espessura e ótima homogeneidade da estrutura do material.

Por sua vez, a desvantagem são as dificuldades encontradas no uso de equipamentos

complexos e a necessidade de conseguir recobrir materiais com maior superfície (SANCHEZ,

2014; ARAÚJO, 2012).

1.6 TÉCNICAS DE DEPOSIÇÃO

As duas maneiras mais utilizadas Para obtenção dos filmes finos por meio da

suspensão coloidal de SnO2 são: “spin-coating” (rotação) e “dip-coating” (mergulhamento).

(OLIVEIRA; ZARBIN, 2005). Comparativamente às outras técnicas de deposição de filmes

como CVD, sputtering e molecular beam epitaxy, as técnicas de spin coating e dip coating

requerem menor investimento em termos de equipamentos, pelo fato de não ser necessário

utilizar técnicas de vácuo acopladas à deposição (ALVES; RONCONI; GALENBECK,

2002).

1.6.1 A técnica dip-coating

A técnica “dip-coating” se trata de um procedimento utilizado para obtenção de filmes

finos a partir de precursores em fase líquida – solução ou suspensão (FELTRIN, 2013;

OLIVEIRA; ZARBIN, 2005), cujo princípio de funcionamento parte-se da submersão do

substrato perpendicular à solução que contém o material e logo depois retira-o com uma

velocidade constante, temperaturas e condições atmosféricas determinadas. Dessa forma a

introdução e retirada do substrato na solução deve ser condicionado de maneira a evitar

vibrações e interferências externas. Leva-se em consideração também o tempo de

permanência do substrato na solução precursora. Dessa forma, busca-se obter filmes com boa

qualidade em relação a homogeneidade, controle de espessura e compactação da amostra.

Para tanto é essencial um equipamento com estabilidade que controla o processo de imersão e

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emersão (FELTRIN, 2013; OLIVEIRA; ZARBIN, 2005). Quatro etapas fazem parte desta

técnica: imersão, emersão, deposição/escoamento e escoamento/evaporação, como

representado na Figura 4.

Figura 4 – Processo da técnica de dip-coating demonstrando as suas etapas: (a) imersão, (b)

emersão, (c) deposição e escoamento e (d) escoamento e evaporação.

Fonte – Adaptado SENTANIN, 2008.

A literatura, mostra que filmes finos de nanopartículas de SnO2 são obtidas pela

técnica dip-coating, com formação de filmes contínuos e compactos (SENTANIN, 2008).

1.7 SENSORES DE GÁS A BASE DE SnO2

A detecção seletiva de vários gases é importante para monitorar poluição ambiental,

segurança pública e saúde humana. Desta maneira, o SnO2 é um dos materiais mais

representantes da classe dos sensores semicondutores resistivos, sendo objeto de estudos na

detecção de inúmeros gases (AHMARUZZAMAN; MOHANTA, 2016).

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1.7.1 Funcionamento do sensor

Sensores de gás resistivos tem seu funcionamento com base na alteração da

condutividade elétrica, a qual depende de interações químicas e físicas entre o gás em

determinada atmosfera e o material sensor, sendo que as alterações na condutividade estão

associadas a proporção da concentração do gás. A condutância elétrica depende de vários

fenômenos que ocorrem na superfície do material. A mesma depende ainda do

comportamento intrínseco do material e pode ser analisado visualizando alguns defeitos

químicos. O motivo de estudar este tipo de material está associado à sua capacidade de

sustentar em temperaturas elevadas reações reversíveis de oxidação com substâncias gasosas,

seja de forma direta ou por meio de um ativante, envolvendo assim íons negativos de oxigênio

e/ou compostos hidróxidos (ABRUZZI, 2017; LICZNERSKI, 2004).

1.7.2 Mecanismo na detecção de gás

Em condições normais de atmosfera a superfície do óxido adsorve o oxigênio

buscando alcançar o número de coordenação típico da estrutura do cristal. Esse processo de

adsorção promove a retirada de elétrons da banda de condução formando uma região com

concentração de carga local, denominada camada de depleção, sendo representado pela

Equação 3. Esta camada dificulta a transição de elétrons causando assim o aumento da

resistência elétrica (ABRUZZI, 2017; GASPARETTI, 2007), conforme Figura 5a.

O2 (g) + 2e- 2O-(ads)

Com a inserção de uma espécie gasosa (agentes redutores) origina-se então um

alastramento no interior do material semicondutor, pois a superfície do SnO2 adsorve essas

moléculas de gases, provocando a oxidação, dispersando com isso os elétrons que estavam

retidos pelo oxigênio adsorvido. Como consequência da reação química entre o oxigênio e o

gás redutor, os elétrons que estavam retidos na adsorção do oxigênio são liberados e penetram

na banda de condução do semicondutor, conforme Equação 4, consequentemente, diminui a

barreira de potencial, facilitando a transição dos elétrons e diminuindo a resistência elétrica do

sensor de gás (ABRUZZI, 2017; GASPARETTI, 2007), Figura 5b.

(3)

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29

2R (g) + 2O-(ads) 2RO(g) + 2e-

Figura 5 – Procedimento de reação (a) Em condições normais de atmosfera e (b) Em presença

de gás redutor na superfície do dióxido de estanho.

Fonte: Adaptado MEI; CHEN; MA, 2014.

(4)

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2. OBJETIVOS

Obter elementos sensores de gás hidrocarboneto a base de filmes finos de dióxido de

estanho nanocristalino. Como objetivos específicos têm-se:

Obter nanocristais coloidais de dióxido de estanho por processo de hidrólise do cloreto

de estanho (II);

Caracterizar a estrutura cristalina e o tamanho de cristalito do SnO2;

Obter filmes de dióxido de estanho sobre substratos de vidro e trata-los termicamente a

500°C;

Caracterizar o comportamento elétrico dos filmes de SnO2 depositados através de

medidas de corrente versus tensão em diferentes temperaturas;

Avaliar resposta dos filmes quando expostos a atmosfera de gás hidrocarboneto.

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3. METODOLOGIA

3.1 SÍNTESES DE NANOCRISTAIS DE ÓXIDO DE ESTANHO

Para síntese de nanocristais de dióxido de estanho foi empregada a rota aquosa que

consiste na hidrólise do cloreto de estanho (II) em solução alcoólica. Nesta rota o cloreto de

estanho (II) dihidratado (SnCl2).2H2O (1,50g) foi solubilizado em etanol anidro (66 mL)

seguido da adição de água destilada (60 mL) sob agitação magnética (15 min). A substituição

do ligante cloro por água seguido por um processo oxidativo do estanho do estado de

oxidação (II) para o estado de oxidação (IV) resultará na formação de nanocristais de SnO2

em uma suspensão turva esbranquiçada (SILVA; DALMASCHIO, 2016). Para eliminação de

íons cloretos do meio reacional a suspensão foi submetida a processo de diálise (processo que

tem por objetivo separar um soluto iônico de uma solução ou dispersão coloidal, a membrana

semipermeável utilizada neste procedimento foi de acetato de celulose) até completa

eliminação dos íons, substituindo a água do processo de diálise a cada 24 horas. Em cada

troca, um ensaio de adição de nitrato de prata (AgNO3) foi realizada para a detecção de íons

cloreto ( que se houver presença de Cl- vai ocorrer a precipitação como AgCl). Após o fim da

diálise (cinco trocas de água destilada), o material se encontrou na forma de uma suspensão

coloidal, obtida pela redução da força iônica do meio.

Na Tabela 1 estão descritos os reagentes utilizados para realização da síntese. A Figura

6 demonstra, em forma de fluxograma, o procedimento experimental utilizado no preparo da

suspensão coloidal.

Tabela 1 – Lista de reagentes utilizados na síntese do dióxido de estanho.

Reagente Fornecedor Pureza

Cloreto de estanho (II) dihidratado

– SnCl2. 2H2O

Aldrich 99,99%

Etanol anidro (C2H5OH) Dinâmica Química

Conteporânea Ltda

99,50%

Nitrato de prata (AgNO3) Isofar 99,00%

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Figura 6 – Fluxograma do procedimento para síntese das nanocristais de dióxido de estanho.

15 min

3.2 DEPOSIÇÃO DE FILMES FINOS DE DIÓXIDO DE ESTANHO

A dispersão coloidal de SnO2 foi utilizada para deposição de filmes finos por processo

dip-coating. Para controle da espessura, a concentração da dispersão foi ajustada para valor

em torno de 2% em massa de óxido e então depositada sobre substrato de vidro. Para

deposição foi utilizado um aparelho de dip-coating, desenvolvido pelo grupo do laboratório,

que permite a imersão e emersão do substrato na solução com uma velocidade constante, no

caso desse trabalho foi utilizado a velocidade de 8mm/s e tempo de permanência na dispersão

Cloreto de estanho (II)

dihidratado – SnO2.2H2O

(1,50g)

Etanol anidro

C2H5OH (66 mL)

Solução Alcóolica de

Sn2+ e Cl-

Água destilada

(60 mL)

Suspensão

esbranquiçada

Diálise em água

destilada

T= 25°C (5 dias) Dispersão coloidal de

nanopartículas de

SnO2

CARACTERIZAÇÃO

Reação de

hidrólise T=

25°C

Membrana (acetato

de celulose)

Teste com

AgNO3

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de 5 segundos, possibilitando assim, o controle na espessura do filme. Na Figura 7 está

apresentado o aparelho dip-coating empregado nas deposições.

Figura 7 - Dispositivo dip-coating utilizado na deposição de filmes.

Para que a solução se espalhe de forma homogênea sobre o substrato, as lâminas de

vidro a serem utilizadas como substratos passaram por um processo de limpeza, com água

corrente, sabão, água destilada e álcool 70%, respectivamente. Esta limpeza permite a

eliminação de impurezas orgânicas e inorgânicas da superfície dos substratos resultando em

filmes mais uniformes.

Após a deposição dos filmes em substratos de vidro, o solvente foi evaporado em

temperatura ambiente (25°C), então foi levado para estufa (40°C/30 min), a seguir foram

tratados termicamente a 500°C em um forno tipo mufla com permanência de 1h nessa

temperatura, empregando taxa de aquecimento e resfriamento de 5°C / min (respeitado a

inércia térmica do forno no processo de resfriamento).

Passado este processo, foram preparados os contados elétricos no filme obtido, onde

fixou-se com tinta prata dois eletrodos metálicos de cobre sobre o filme para então serem

caracterizados, conforme Figura 8.

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Figura 8 – Fluxograma do procedimento para deposição de filmes finos de dióxido de estanho

nanocristalino e posterior caracterização.

Na etapa de caracterização dos filmes como sensores de gás hidrocarboneto foi

realizado outro procedimento para obtenção dos filmes finos, onde foi feita a dispersão do pó

de SnO2 (0,08g) em 0,75 mL de água destilada e 10μL de dispersante Liosperse HOH

(Miracema-Nuodex) para formação de uma “pasta” com valor de concentração de

aproximadamente 10,6% (m/m) em suspensão aquosa para posterior deposição. Os substratos

Substrato (vidro)

Dispersão coloidal de

nanopartículas de

SnO2

Limpeza

Deposição

dip-coating

Filme com os

contatos elétricos

CARACTERIZAÇÃO

Tratamento térmico

Estufa à 40°C/30min

Forno mufla

(500°C/1h)

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passaram por uma limpeza com água corrente, sabão, água destilada e álcool 70%

respectivamente. A deposição foi realizada por micropipetas com um volume de 75μL de

forma uniforme no substrato, tendo o substrato 10 mm de largura e 25 mm de comprimento

(razão de 0,3 μL/mm2). Este procedimento foi necessário para que os filmes apresentassem

espessura maior e assim respondessem de forma efetiva a variação de gás na atmosfera.

3.3 MÉTODOS DE CARACTERIZAÇÃO UTILIZADOS

3.3.1 Difração de raios-X

Os NCs sintetizados foram caracterizados por difração de raios-X (DRX) para

identificação de fase cristalina e estimativa de tamanho de cristalito.

Utilizou-se para a caracterização dos NCs de SnO2, um Difratômetro de raios-X

modelo Miniflex 600 da Fabricante Rigaku, tendo como anodo emissor de radiação um tubo

de cobre operando com os parâmetros de tensão 40 Kv e corrente de 15 mA, com passo do

detector de 0.02º e velocidade de varredura de 2 de 5º /min.

3.3.2 Microscopia eletrônica de transmissão

A técnica foi empregada com objetivo analisar a morfologia dos NCs de SnO2

sintetizados. Para estas análises foi gotejado, sobre uma tela de cobre recoberta com carbono

amorfo (TedPella), uma pequena alíquota da suspensão coloidal contendo nanocristais de

SnO2. Após a evaporação do solvente a amostra foi caracterizada através da Microscopia

Eletrônica de Transmissão (MET) utilizando tensão de aceleração de 120 kV em um

equipamento marca Jeol modelo JEM 1400 equipado com filamento LaB6.

3.3.3 Caracterização elétrica de filmes

Existem duas maneiras de se obter a resistência elétrica de filmes finos (método de

duas e quatro pontas). O método de duas pontas se baseia em utilizar duas sondas, através das

quais se aplica uma diferença de potencial sobre a amostra e se monitora a corrente no

circuito que inclui a amostra como o elemento de maior resistência elétrica do circuito. O

método de 4 pontas consiste em utilizar quatro sondas, duas para aplicar a corrente e outras

duas para monitorar a tensão (JÚNIOR et al, 2003). Neste trabalho os filmes foram

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caracterizados pelo método de duas pontas. Para as medidas foi utilizado um multímetro de

bancada, (tipo Source-Meter) da marca Keithley modelo 2400, conforme Figura 9-a, através

do qual foi obtido curvas de tensão versus corrente (V x I). A partir destas curvas foi avaliado

o tipo de contato elétrico formado entre o filme e o eletrodo, o valor da resistência elétrica e o

comportamento semicondutor, este último parâmetro levou em consideração medidas

realizadas em diferentes temperaturas. Para essas caracterizações foram fixados 2 eletrodos

com tinta condutiva prata, os quais foram conectados ao multímetro.

3.3.4 Caracterização dos filmes como sensores de gás hidrocarboneto

A avaliação dos filmes de SnO2 como sensor de gás foi realizada por meio do

monitoramento da resistência elétrica quando uma tensão contínua de 5V foi aplicada sobre o

filme. Durante as medidas, os filmes foram expostos a uma vazão de ar comprimido

constante, 2 L/min. Em intervalos de tempos definidos os filmes foram expostos a presença de

mistura gasosa ar/gás liquefeito de petróleo (GLP) alternado com apenas ar, em uma câmara

com atmosfera controlada, como representado na Figura 9. As medidas de resistência foram

realizadas em um multímetro de bancada Keithley 2400-SourceMeter. As concentrações de

gás hidrocarboneto admitidas foram ajustadas na faixa de centena a milhares de ppm através

do controle da vazão da válvula micrométrica que admitia o GLP. Para controle da vazão das

válvulas micrométricas foi realizada uma calibragem prévia das mesmas.

Figura 9 - (a) Imagem do sistema de medidas da câmara utilizado na caracterização elétrica

dos filmes e no teste sensor de gás e (b) Interior da câmara de gás.

(b) (a)

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37

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nesta seção são apresentados os resultados encontrados e discussões referentes à

síntese do óxido de estanho e a obtenção de filmes finos obtidos, com verificação de sua

aplicabilidade como sensor químico de gás.

4.1 CARACTERIZAÇÃO DE NANOCRISTAIS DE ÓXIDO DE ESTANHO

Conforme descrito no procedimento experimental, a síntese do dióxido de estanho, foi

realizada via uma reação de hidrólise do cloreto de estanho (II) dihidratado em solução

alcóolica. Como o mecanismo de síntese não está bem esclarecido na literatura, a seguir é

descrito uma proposta de rota de formação dos nanocristais com base em evidências

experimentais e considerações obtidas a partir de referências consolidadas, mencionadas nesta

seção.

Durante o processo de síntese dos nanocristais de SnO2, houve o monitoramento do

pH do meio reacional, dessa forma, o valor de pH experimental foi de 4,23 na solução

alcoólica. Após a adição de água destilada, verificou um valor de pH experimental de 1,33.

Esta diminuição do valor de pH do meio está associado ao efeito aquaácido dos íons Sn2+, que

apresenta o valor de pKa ≅ 4 (SHRIVER; ATKINS, 2008), portanto um valor de Ka = 10-4, o

que resulta em uma acidez do meio associado a atividade do íons estanho II. A atividade

aquaácido de íons metálicos aumenta com o aumento de carga e redução do raio iônico

(SHRIVER; ATKINS, 2008), assim a medida que a carga do estanho aumenta, através de

processo oxidativo, mais efetivo será a reação de hidrólise e liberação de íons H+.

O processo de oxidação do estanho II para IV na presença de oxigênio, dissolvido em

água, é um processo espontâneo (HOUSECROFT; SHARPE, 2013), como pode ser analisado

a partir das semi-reações dos potenciais padrão indicados abaixo, conforme Equação 5 e 6.

Semi-reação 1: Sn2+ Sn4+ + 2e- E1° = - 0, 15V (5)

Semi-reação 2: O2 + 2 H2O + 4e- 4OH- E2° = 0, 40 V (6)

Reação global: 2Sn2+ + O2 + 2H2O 2 Sn4+ + 4OH- Er° = 0,55 V (7)

Por meio da reação global acima, Equação 7, pode ser observado um valor positivo de Er° =

0,55 V, desta forma, o processo é espontâneo, pois ΔG < 0.

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38

As semireações acima, fornecem de forma simplificada argumentos a respeito do

processo oxidativo de formação do estanho IV. Em termos reacionais, os íons metálicos de

estanho estão permanentemente hexacoordenados (HOUSECROFT; SHARPE, 2013). Assim,

uma análise do caminho da reação deve envolver na verdade um processo de hidrólise por

atividade aquaácido do estanho II, seguido do processo oxidativo e por fim o processo de

policondensação para formação do óxido. As Equações 8 - 10 a seguir propõe as etapas

envolvidas:

Sn2+ + 6 H2O Sn(OH)2.4H2O + 2H+ (8) [hidrolise aquaácido Sn2+]

2 Sn(OH)2.4H2O + O2 2 Sn(OH)4.2H2O + 2 H2O (9) [processo oxidativo]

n (Sn(OH)4.2H2O) (SnO2)n + 4.n H2O (10) [policondensação]

Ao final do processo de síntese e purificação, com eliminação dos íons cloreto, foi

obtido uma suspensão coloidal, como mostra a Figura 10.

Figura 10 - Suspensão coloidal de nanopartículas de SnO2 sintetizada.

A partir da suspensão coloidal de nanopartículas de dióxido de estanho foi

determinada a concentração massa/massa, através da técnica de gravimetria. Desta forma, a

amostra foi levada a estufa numa temperatura de aproximadamente 90°C para evaporação de

todo material volátil e assim sua concentração foi determinada, de acordo com o descrito na

Tabela 2.

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39

Por meio dos cálculos da média foi possível obter um valor estimado de concentração

de aproximadamente 0,51% m/m com um erro de 0,05% aproximadamente.

Tabela 2 - Concentração da solução de dióxido de estanho (SnO2) nanocristalino.

Massa da

suspensão/ g

Massa do material

não volátil/g

Concentração

(%m/m)

Concentração

(%m/m)

1,4820 0,0080 0,5400

0,51(±0,05)

1,2899 0,0066 0,5116

1,4991 0,0070 0,4670

1,5662 0,0084 0,5363

O sólido obtido, a partir da suspensão coloidal, ao final da etapa de gravimetria foi

caracterizado por difração de raios-X.

4.1.1 Difração de raios-X (DRX)

O dióxido de estanho sintetizado, após seco, foi caracterizado por Difração de Raios-X

(DRX), com o objetivo de identificar as características estruturais/cristalina do material. Deste

modo, a Figura 11 apresenta o difratograma de raios-X do dióxido de estanho em pó.

Observa-se que todos os picos cristalográficos são referentes a fase de dióxido de estanho

cassiterita (SnO2). Os picos foram indexados de acordo com o arquivo de difração de pó

(powder diffraction file) PDF n° 41-1445. Sendo que cada um dos picos cristalográficos está

relacionado a um conjunto de planos nos cristais de dióxido de estanho, ou seja, cada pico tem

uma distância interplanar específica no cristal.

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40

Figura 11 – Difratograma de raios-X para caracterização estrutural do dióxido de estanho.

Utilizando-se os dados do difratograma, através de um ajuste com a função

matemática Pseudo-voigt dos picos, e a equação de Scherrer, representada pela Equação 11

(SMILGIES, 2009; CULLITY; STOCK, 1956), o tamanho dos NCs pode ser estimado,

conforme Tabela 3. Esta equação é aplicada para determinar o tamanho médio dos cristais, e

apresenta resultados coerentes com outras técnicas nas dimensões entre 2 e 30 nanômetros.

Na equação tem-se: D é o diâmetro médio dos domínios cristalinos (nanocristais), k é

a constante que depende da forma das nanopartículas (esfera = 0,94), λ é o comprimento de

onda da radiação eletromagnética empregada na difração (0,154 nm), θ é o valor do ângulo de

Bragg referente ao pico e β é o alargamento da linha de difração medida à meia altura de

intensidade máxima do pico de interesse (SMILGIES, 2009), sendo estes dois últimos

parâmetros obtidos a partir do ajuste matemático através da função Pseudo-voigt. Para

5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

(11

1)

(20

0)(1

01

)

(11

0)

Inte

nsid

ad

e / u

. a

2 / (grau)

(11

2)

(21

1)

(11)

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41

obtenção dos parâmetros foi utilizado apenas os picos que apresentavam menor sobreposição

e maior intensidade.

Tabela 3 - Tamanho de cristalito estimado através da equação de Scherrer para duas distâncias

interplanar distintas.

Planos Escolhidos com melhor

resolução

Tamanho estimado de

nanocristais

(1 1 0)

(2 1 1)

2,89 nm

1,94 nm

Logo, por meio desta equação calculou-se que o tamanho médio estimado do

nanocristal de SnO2 foi de aproximadamente 2,41 nm, (Tabela 3) o que é relevante para o

dispositivo sensor, pois a medida que os materiais vão diminuindo de tamanho, maior é a sua

área superficial específica, ou seja, maior é a razão entre átomos superficiais e volumétricos.

Desta forma, esses materiais podem ser muito mais eficientes, por apresentarem maior parte

dos átomos na superfície resultando em alteração, na camada de depleção que altera a

resistência elétrica, muito mais efetiva. Consequentemente, as propriedades elétricas do

material tornam-se altamente dependentes da composição da atmosfera a que o material está

sujeito (SUMAN, 2012).

4.1.2 Microscopia Eletrônica de Transmissão

Para uma análise da morfologia e também da distribuição de partículas utilizou-se a

técnica de Microscopia Eletrônica de Transmissão (MET). A Figura 12 mostra as imagens de

MET que permitem observar o caráter de homogeneidade nas partículas sintetizadas tanto em

relação à distribuição de tamanho quanto ao formato.

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Figura 12 – Imagens do óxido de estanho sintetizado obtidas a partir de Microscopia

Eletrônica de Transmissão: (a) Menor magnificação - escala de 100 nm e (b) Maior

magnificação - escala de 50 nm.

Pelas imagens de MET é nítida a forma esférica dos nanocristais de SnO2, que por efeito

de energia de superfície tendem a se agregar formando estruturas alongadas tipo worm-like,

(partículas que se agregam em forma de caixo, como corpo de minhocas) responsáveis pelo

efeito de formação da suspensão coloidal. Nas imagens de MET também se identifica uma

baixa dispersão de tamanhos, visualizado qualitativamente nas imagens que pode ser

comprovada pelo histograma de distribuição de tamanho das partículas, Figura 13, obtido pela

contagem de 100 unidades, utilizando o software ImageJ.

(b) (a)

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Figura 13 – Histograma de distribuição de tamanho de nanocristais de SnO2 sintetizado.

Através da análise de tamanho médio das partículas contadas pode-se chegar a um

tamanho médio de 2,6 nm, com um intervalo de confiança de ± 0,9 nm. Logo, a análise de

tamanho obtido a partir de imagens de microscopia eletrônica confirmam o valor estimado

através da equação de Scherrer, a partir do difratograma.

4.1.3 Caracterização elétrica dos filmes

O comportamento elétrico do material, depositado na forma de filme fino (deposição

por dip-coating), foi caracterizado através das curvas de corrente versus tensão, obtidas em

diferentes temperaturas. O valor da resistência foi determinado a partir do ajuste das curvas de

tensão em função da corrente, seguindo a lei de Ohm, a qual relaciona a voltagem, corrente e

resistência, como visto na Equação 12:

Sendo que R possui uma proporcionalidade diretamente entre V e I, que por sua vez, é

influenciada pela composição do material analisado.

1 2 3 4 50

5

10

15

20

25

30

35

40

Qu

an

tid

ad

e d

e p

art

icu

las

Tamanho de particula/ (nm)

Média: 2,6 ± 0,9nm

Total de contagem: 100

V = R . I (12)

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Desta forma, a caracterização elétrica (utilizou-se 11 pontos) permitiu constatar o

comportamento de transporte elétrico do filme de SnO2. Pode ser observado na Figura 14 que

o filme de SnO2 sintetizado possui um comportamento linear na curva de tensão versus

corrente, obedecendo desta forma a lei de ohm na faixa de tensão aplicada.

Figura 14 – Caracterização elétrica do filme fino de SnO2 sintetizado: gráfico V versus I.

Verificando o comportamento elétrico do material, pode ser observado na Figura 15 que

a amostra de SnO2 apresentou diminuição dos valores de resistência com a elevação da

temperatura (temperaturas de equilíbrio dentro da câmara), variação associada ao

comportamento semicondutor do SnO2, reportado na literatura como semicondutor tipo n

(ABRUZZI; DEDAVID; PIRES, 2015). Tal comportamento está relacionado ao aumento da

população de elétrons com energia suficiente para transitar pelo band gap, ou seja, elevando a

temperatura da amostra, ocorre que, uma população crescente de elétrons adquire energia

térmica, transitando da banda de valência para a banda de condução, aumentando a

condutividade da amostra, consequentemente, representando uma redução da resistência.

-3 -2 -1 0 1 2 3-5,0

-2,5

0,0

2,5

5,0

Ten

sao

/ V

Corrente / A

97°C

190°C

310°C

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45

Figura 15 – Caracterização elétrica do filme fino de SnO2 sintetizado: gráfico de valores de

resistência em função da temperatura de operação.

4.1.4 Caracterização dos filmes como sensores de gás hidrocarbonetos

Neste trabalho, o comportamento dos materiais de SnO2 como sensor de gás foi dado

pelo acompanhamento da resistência quando aplicada tensão de 5V. Durante o processo, os

filmes foram expostos a atmosfera de gás GLP em diferentes temperaturas. Onde a

composição do gás dentro da câmara foi alternada entre ar comprimido e mistura contendo ar

e GLP.

Na Figura 16 está ilustrado um dado preliminar de resposta da variação da resistência

elétrica dos filmes na presença de diferentes concentrações de GLP (230ppm, 624ppm,

2631ppm, 7918ppm) em diferentes temperaturas de trabalho (162°C, 255°C, 350°C), observa-

se que a variação do sinal elétrico é bem mais intensa na temperatura mais elevada analisada,

não podendo ser visualizado variações significativas na temperatura de 162°C e 255°C.

0 50 100 150 200 250 300 350

0

1G

2G

3G

Resis

tên

cia

/

Temperatura / °C

3,14 G

72,5 M1,53 M

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Figura 16 – Padrões de respostas do filme de SnO2 em diferentes temperaturas de operação. (o

eixo resposta estão associados a resistência da amostra – Os valores são relativos e estão

apresentado de forma deslocada para serem reportados todos no mesmo gráfico.)

Na Figura 17 está representada uma curva típica da resistência da amostra versus tempo

para o filme submetido a temperatura de 350°C. Nesta temperatura, o filme de SnO2 apresenta

um comportamento típico de um material semicondutor do tipo n, ou seja, o valor da

resistência dos filmes diminui na presença de GLP, o qual atua como um gás redutor

(SUMAN, 2012). A resposta obtida para este tipo de material, é condizente com o relatado na

literatura, pois ocorre a eliminação do oxigênio adsorvido na superfície dos grãos de SnO2,

propiciando o aumento na concentração de portadores livres, aumentando a condutividade do

material (MORAES, 2002). Posteriormente, observa-se o aumento da resistência do filme ao

ser novamente exposto na presença de ar atmosférica.

0 600 1200 1800 2400 3000 3600 4200 4800

162°C

255°C

350°CR

esp

ost

a

Tempo / s

0 10

0

10

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47

Figura 17 – Variação da resistência elétrica do filme fino na temperatura de 350°C.

A Figura 18 ilustra a variação da sensibilidade ao GLP para o filme de SnO2. A

sensibilidade indica a mudança na grandeza física responsável pela resposta do sensor,

associada a concentração de gás. Valores grandes de sensibilidade, indicam mudança

significativa na propriedade física do material (SUMAN, 2012).

A intensidade de variação da propriedade resistência elétrica, entendida como sinal

sensor no caso deste trabalho, pode ser analisada como uma relação entre a resistência elétrica

(R) do material na presença de uma concentração determinada de gás, e a resistência elétrica

(R0) do material sensor na inexistência do gás analito (atmosfera apenas ar). Segundo (WEI et

al., 2016; SUMAN, 2012) a sensibilidade é definida de acordo com a Equação 13:

Onde: S é a sensibilidade quando o elemento sensor é exposto a presença de um determinado

gás de interesse a ser analisado, neste caso o GLP. R é a resistência elétrica na presença do

gás analito e R0 é a resistência elétrica na ausência do gás analito (GANESH E PATIL et al.,

2011; WEBER et al, 2000).

0 600 1200 1800 2400 3000 3600 4200 4800

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

1,1

1,2

79

18

pp

m

26

31

pp

m

62

4p

pm

Tempo/ s

Resis

tên

cia

/ M

350°C

23

0p

pm

Ar/G

LP

Ar

(13) S = R – R0 / R0

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Para efetuar o cálculo foi feito um ajuste do gráfico da Figura 17, onde a resistência

elétrica na ausência de GLP foi calculada por meio de um ajuste linear da linha de base.

Assim, R0 corresponde a resistência média obtida por meio de média aritmética dos pontos

medidos na atmosfera com ar. Enquanto R é o valor mínimo de resistência medido na

presença do analito (GLP).

Figura 18 – Variação da sensibilidade versus concentração de GLP para o filme de SnO2 na

temperatura de 350º C.

Na Figura 18, que relaciona a concentração de gás GLP com a sensibilidade, pode ser

constatado que o material apresenta maior sinal do sensor quando exposto à altas

concentrações de GLP, ou seja, é evidenciado que o elemento sensor à base de SnO2

apresenta-se sensível em concentrações elevadas de mistura gasosa contendo GLP, como

consequência da maior remoção de moléculas de oxigênio adsorvidas sobre o material

sensível ao gás. De fato, o efeito reacional com sítios que causam aumento da camada de

depleção pode ser analisado como uma relação direta entre a pressão parcial do gás analito e

os sítios reacionais (SHUKLA, 2012).

0 2500 5000 75000,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

791826

31

624

(R -

R0)

/ R

0

Concentraçao / ppm

230

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49

5. CONCLUSÃO

A partir dos resultados pode se concluir que a rota aquosa para síntese do SnO2

utilizando os precursores cloreto de estanho (II) e o álcool etílico anidro, foram eficientes na

produção dos nanocristais, permitindo um efetivo controle das nanopartículas formadas, com

tamanho médio de 2,41 nm. Além disso, observou-se apenas uma fase cristalina de SnO2,

cassiterita, de acordo com o PDF n° 41-1445. A análise por MET possibilitou evidenciar uma

morfologia aproximadamente esférica dos cristais formados e uma confirmação do diâmetro

médio dos nanocristais calculados pela difração de raios X, onde pode ser verificado um

diâmetro médio de 2,6 nm. A partir das medidas elétricas, os filmes finos depositados sobre

os substratos de vidro apresentaram comportamento ôhmico durante as medidas de tensão

versus corrente, na faixa analisada, e com a elevação da temperatura pode-se verificar a

diminuição da resistência elétrica do material, associado ao comportamento semicondutor.

Além disso, verificou-se por meio da caracterização dos filmes como sensor de gás

hidrocarbonetos, no caso GLP, que a sensibilidade do material é dependente da concentração

de GLP e da temperatura de trabalho, demonstrando assim, sua potencial aplicabilidade como

elemento sensor de gás.

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50

PROPOSTA DE TRABALHOS FUTUROS

Como mencionado na primeira etapa dos resultados e discussões, o mecanismo de

síntese do SnO2, não está bem esclarecido na literatura, assim, deve elucidar melhor uma

proposta de rota para formação desses nanocristais;

Em relação a rota de síntese utilizada neste trabalho, seria interessante realizar outras

variáveis de síntese, como: possibilidade de obtenção de nanocristais de SnO2 por rota

solvotérmica, ou seja, utilizar outros surfactantes ao meio, pois os mesmos afetam o

crescimento das nanopartículas;

Um outro estudo de interesse seria a possibilidade de adição de vários dopantes

(antimônio por exemplo) ao SnO2, para a possível melhoria de suas propriedades e

possibilitando, com isso, diversas aplicabilidades deste material;

Por último, poderia se fazer testes de reprodutibilidade, seletividade, sensibilidade dos

filmes de SnO2, pois o desempenho do elemento sensor é fortemente dependente destas

variáveis.

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APÊNDICE

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Brazilian Journal of Production Engineering, São Mateus, Suplemento Especial 4 Workshop de Engenharia Química, Vol. 2, N.º 2 (Setembro). p. 60-65.

(2016).

Editora CEUNES/DETEC. Disponível em: http://periodicos.ufes.br/BJPE

60

Michael Rodrigues Silva1; Cleocir José Dalmaschio2.

Recebido em: 30/06/2016 - Aprovado em: 16/08/2016 - Disponibilizado em: 30/09/2016

RESUMO: Nos últimos anos, tem-se aumentado o interesse por materiais na escala nanométrica e pesquisas evidenciam que estes materiais têm muitas vantagens se comparado a materiais micrométricos. Com o grande avanço da tecnologia foi preciso desenvolver sínteses para obtenção de materiais na escala nanométrica, dentre estas rotas, as que se destacam são as rotas químicas de síntese, com especial notoriedade rotas que utilizam meios líquidos e que possuem um grande potencial de produção de nanopartículas, com baixo custo de reagentes e equipamentos. Utilizando processo de hidrólise do cloreto de estanho em solução alcoólica, nanocristais do semicondutor dióxido de estanho podem ser obtidos em escala nanométrica com excelente controle de propriedades como tamanho e polidispersão das nanoestruturas, se comparado a rotas de sínteses mais elaboradas. Assim, o objetivo deste trabalho é sintetizar e caracterizar nanocristais de dióxido de estanho e depositar filmes finos de SnO2, avaliando o potencial para aplicação como sensor de gases. PALAVRAS-CHAVE: Nanotecnologia, dióxido de estanho, nanocristais. ABSTRACT: In recent years, there has been increased interest in the nanoscale materials and research show that these materials have many advantages compared to micrometric materials. With the breakthrough technology was necessary to develop syntheses for obtaining materials at nanometric scale, of these routes, which stand out are the chemical synthesis routes, with special notoriety routes using liquid media and have a large potential for production nanoparticles, with a low cost of reagents and equipment. Using hydrolysis process tin chloride in alcoholic, nanocrystals tin dioxide semiconductor solution can be obtained at the nanoscale with excellent control properties such as size and polydispersity of nanostructures, compared to more elaborate synthesis routes. The objective of this work is to synthesize and characterize tin dioxide nanocrystals and deposit thin films of SnO2, evaluating the potential for use as a gas sensor. KEYWORDS: Nanotechnology, tin dioxide, nanocrystals.

___________________________________________________________________________

1. INTRODUÇÃO

Pesquisas na área de nanomateriais, tem sido de

grande interesse de estudos nas últimas décadas. O

expressivo interesse pela área está associado ao fato

de materiais nanométricos em geral possuírem

propriedades diferentes daquelas apresentadas por

materiais macro e/ou micrométricos (MACIEL et al.

2003). Apesar do atual despertar para a nanociência,

ISSN: 2447-5580

Síntese de nanocristais de óxido de estanho para deposição de filmes finos com potencial

aplicação em sensor de gás

SYNTHESIS OF TIN OXIDE NANOCRYSTALS FOR THIN

FILMS DEPOSITION WITH POTENTIAL APPLICATION AS

GAS SENSOR

1 Graduando em Licenciatura em Química. Bolsista de Iniciação Científica pela Fapes.

UFES, 2016. Centro Universitário Norte do Espirito Santo – CEUNES. São Mateus, ES.

[email protected]

2 Mestre e Doutor em Ciências, Área de Concentração Físico-Química (UFSCar). 2012,

Professor do Departamento de Ciências Naturais. UFES, 2016. Centro Universitário Norte

do Espirito Santo – CEUNES. São Mateus, [email protected]

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(2016).

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61

é possível notar que seu desenvolvimento já se iniciou

a aproximadamente dois séculos, com os estudos de

Michael Faraday sobre interações da luz com

partículas de Au, publicado em 1857 (FARADAY,

1857). A partir de então, os estudos sobre o

comportamento de nanocristais (NCs) em escala

manométrica tem recebido grande importância. Com o

avanço das técnicas experimentais, principalmente as

microscopias eletrônicas, muitos trabalhos começaram

a se importar com otimização dos parâmetros, por

exemplo, espessura de filmes, da morfologia, baixa

distribuição de tamanho e em alguns casos evitando

aglomerações das partículas, como formas de

obtenção de nanomateriais inovadores.

Dentre as rotas de obtenção de nanomateriais, as

rotas químicas se tornaram importante, pois

apresentam resultados relevantes que envolvem

custos menos elevados de reagentes e equipamentos,

se comparada a rotas físicas de obtenção dos

mesmos materiais nanométricos. Nas rotas químicas

de síntese, quando realizadas de forma sistemática e

considerando os estágios de formação de cluster,

muitos materiais podem ser obtidos com adequado

controle de tamanho (MURRAY et al. 2000; MACIEL et

al. 2003).

O termo “nano” vem do grego nánnos e significa

“anão” ou algo de pequeno tamanho. Só para se ter

ideia, um nanômetro (10-9 m) é algo quase 100 mil

vezes menor que um fio de cabelo em termos de

espessura. O termo nanotecnologia tem definição de

criação ou manipulação de materiais que apresentem

escala nanométrica (entre 1 a 100 nanômetro). Os

materiais na escala nanométrica tem tipos de

classificação, como: 1) materiais nanométricos 2D,

onde uma de suas dimensões está entre 1 e 100 nm

(filmes finos). 2) materiais nanométricos 1D, onde por

sua vez possuem duas dimensões entre 1 e 100 nm

(nanofitas) e 3) materiais na escala nanométrica 0D,

que tem todas as três dimensões (X, Y, Z) entre 1 e

100 nm (nanopartículas) (XIA et. al. 2003).

Com o grande avanço da tecnologia, foi preciso

desenvolver sínteses para obtenção destes materiais,

dentre estas rotas, as rotas que se destacam são as

rotas químicas de sínteses, com destaque para rotas

aquosas, Figura 1.

Na última década diferentes áreas de tecnologia veem

explorando de forma cada vez mais intensa as

nanoestruturas, especialmente na área de eletrônica

graças à nanotecnologia possibilitou uma

miniaturização de dispositivos e equipamentos até

então nunca experimentada. Um campo que ganhou

significativo incremento foi a área de sensores.

Atualmente usamos sensores no cotidiano em grande

número, sendo muito comum nos veículos, nas

construções modernas e mesmo nos dispositivos

smartphones. Dentre os materiais mais empregados

como elemento sensor para gases está o dióxido de

estanho, suas características de comportamento

elétrico e variação de condutividade quando exposto a

gases redutores e oxidantes o faz como o material

mais explorado para tal aplicação seja em níveis

comerciais ou de pesquisa básica (RIBEIRO, 2004).

Assim os níveis de detecção avançaram e nos

possibilitam monitoramento ambiental e doméstico

cada vez mais preciso, confiável e em índices de

menor concentração.

Figura 1 - Vantagens da síntese de nanoparticulas de dióxido de estanho pela Rota Aquosa.

Rotas Aquosas Vantagens

Rota Química

Grande produção de nanoparticulas; Reagentes com baixos custos; Equipamentos baratos.

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(2016).

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1.1. SENSOR DE GÁS A BASE DE SNO2

A forma de funcionamento do sensor consiste em uma

mudança de condutividade, a qual depende de

interações químicas e físicas muito forte entre o gás

em determinada atmosfera e o material sensor.

Sensor de gás a base de óxido de estanho são

atualmente os dispositivos mais aplicados em alarmes

de detecção de gases em vários tipos de ambientes.

O dióxido de estanho policristalino é atualmente o

mais utilizado como sensores de gás e a mudanças

de suas propriedades resulta da adsorção do gás

sobre a superfície do material. A condutância elétrica

depende de vários fenômenos que ocorre na

superfície do material. A mesma depende ainda do

comportamento intrínseco do material e pode ser

analisado visualizando alguns defeitos químicos.

O motivo de estudar este tipo de material, é porque o

mesmo possui uma capacidade de sustentar em

temperaturas elevadas, reações reversíveis de

oxidação com substâncias gasosas, seja de forma

direta ou por meio de um ativante, envolvendo assim

íons negativos de oxigênio e/ou compostos hidróxidos

(LICZNERSKI, 2004).

1.2.FUNCIONAMENTO NA DETECÇÃO DE GÁS

A camada de óxido, que é um material semicondutor,

podendo ser de estanho ou de outro óxido, pode ser

descrito em forma de adsorção de um certo gás,

podendo se difundir ou reagir quimicamente. Em

condições normais de atmosfera a camada do óxido

adsorve o oxigênio, tirando assim, todos os elétrons

para a banda de condução. Com a injeção de uma

espécie gasosa (agentes redutores) inicia uma difusão

dentro do material semicondutor e reação com o

oxigênio da superfície, liberando assim, os elétrons

que foram capturados.

Com isso, os elétrons que foram liberados penetram

na banda de condução do semicondutor, causando

uma mudança na resistência elétrica do material, ou

seja, sem a presença do oxigênio e aumentando a

temperatura do sensor, os elétrons transitam de forma

mais fácil pelas fronteiras dos grãos de óxido de

estanho. Em atmosfera que contenha apenas o

oxigênio, o material sensor adsorve este gás e forma

uma camada de depleção na superfície dos grãos.

Esta camada de depleção dificulta a transição de

elétrons causando assim o aumento da resistência

elétrica (GASPARETTI, 2007).

O objetivo desse trabalho foi sintetizar nanocristais de

dióxido de estanho, para a obtenção de filmes finos e

seu posterior processo de caracterização, para

aplicação de sensores de gás.

2. METODOLOGIA

2.1. SÍNTESE DO DIÓXIDO DE ESTANHO

Para a síntese do dióxido de estanho partiu-se de uma

reação de hidrólise do cloreto de estanho (II)

dihidratado (1,50g) em solução alcóolica (66 ml de

álcool absoluto e 60 ml de água destilada), esta

solução ficou sob agitação por 15 minutos. Nesta

etapa ocorreu a substituição do ligante cloro por água

seguido por um processo oxidativo do estanho do

estado de oxidação (II) para o estado de oxidação (IV)

resultando na formação de nanocristais de SnO2 em

uma suspensão turva esbranquiçada (MACIEL et al.

2003). Para eliminação de íons cloretos do meio

reacional a suspensão foi submetida a processo de

diálise até completa eliminação dos íons, substituindo

a água do processo de diálise a cada 24horas. Em

cada troca, um ensaio de adição de nitrato de prata

(AgNO3) foi realizada para a detecção de íons cloreto.

Após o fim da diálise, o material encontra-se na forma

de uma solução coloidal, obtida pela redução da força

iônica do meio. A Figura 2 abaixo demonstra de forma

sistemática o procedimento realizado em laboratório.

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Para caracterização uma alíquota da solução coloidal

contendo NCs de SnO2 foi seca a temperatura

ambiente e posteriormente analisada por difração de

raios-X, com o intuito de identificar a fase cristalina do

óxido e o tamanho de cristalito resultante.

2.2. TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO

2.2.1. DIFRAÇÃO DE RAIOS-X

Os NCs sintetizados foram caracterizados por difração

de raios-X (DRX) para identificação de fase cristalina e

estimativa de tamanho preferencial do cristal. O

equipamento utilizado para a caracterização foi um

Miniflex 600 da Fabricante Rigaku tendo como anodo

emissor de radiação um tubo de cobre operando com

os parâmetros de 40 Kv e 30 mA.

2.2.2. CARACTERIZAÇÃO ELÉTRICA

Caracterização elétrica do filme depositado em

substrato de silício foi realizada em equipamento

multímetro de bancada, tipo SourceMeter modelo

2400 da fabricante Keithley. Nestas medidas foram

tomadas curvas de tensão por corrente as quais

permitem avaliar o tipo de contato elétrico formado

entre o filme e o circuito de medida.

2.3. DEPOSIÇÃO DOS FILMES FINOS DE SNO2

A solução coloidal de SnO2 será utilizada para

deposição de filmes finos por processo DipCoating.

Para controle da espessura a concentração da

solução será ajustada para valor em torno de 1% em

massa de óxido e então depositada sobre substrato de

silício. Para deposição foi utilizado um aparelho de

dipcoating desenvolvido pelo grupo que permite a

imersão e emersão do substrato na solução com

velocidade controlada, neste caso velocidade de 9

mm/segundo. Possibilitando assim, o controle na

espessura do filme.

Para que a solução se espalhe de forma homogênea

sobre o substrato, as laminas de Si/SiO2 a ser

utilizadas como substrato serão lavados por processo

de limpeza RCA. Esta limpeza permite a eliminação

de impurezas orgânicas e inorgânicas da superfície

dos substratos e adicionalmente resulta na

hidroxilação da superfície do óxido de silício, o que

possibilita uma melhor molhabilidade da solução com

o substrato resultando em filmes mais uniformes.

Sendo assim, a deposição de filmes de SnO2 sobre o

substrato de silício seguiu o procedimento

apresentado na Figura 3 abaixo.

Figura 3 - Deposição dos filmes de dióxido de estanho nanocristalino.

Figura 2 - Procedimento para síntese das nanocristais de dióxido de estanho.

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(2016).

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64

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O dióxido de estanho sintetizado, após seco, foi

caracterizado por Difração de Raios-X (DRX), com o

objetivo de visualizar as características estruturais do

material. Deste modo, a Figura 4 apresenta o

difratograma de raios-X do dióxido de estanho em pó.

Observa-se que todos os picos cristalográficos são

referentes a fase de dióxido de estanho (SnO2). Esses

valores foram indexados de acordo com o arquivo de

difração de pó (powder diffraction file) PDF n° 41-

1445. Sendo que cada um dos picos cristalográficos

estar relacionado a um conjunto de planos nos cristais

de dióxido de estanho, ou seja, cada pico tem uma

direção especifica no cristal.

Além disso, utilizando-se o difratograma e a Equação

de Scherrer (Equação 1), pode-se estimar o tamanho

médio do cristalito. Esta equação descreve uma

relação entre o alargamento dos picos em relação ao

tamanho do cristalino.

Onde: D é o diâmetro médio das nanopartículas, K é a

constante que depende da forma das nanoparticulas

(esfera = 0,94), λ é o comprimento de onda da

radiação eletromagnética, θ é o ângulo de difração e β

(2θ) é a largura na metade da altura do pico de

difração.

Logo, a partir desta equação calculou-se que o

tamanho médio estimado do nanocristalino de SnO2 foi

de 2,29 nm, indicando assim, um resultado positivo,

pois a qualidade do sensor de SnO2 aumenta com a

diminuição do tamanho do cristalino.

Além disso, as caracterizações elétricas dos filmes

depositados foram realizadas em equipamento

multímetro de bancada, tipo SourceMeter. Nestas

medidas foram tomadas curvas de tensão por corrente

as quais permitiram avaliar o tipo de contato elétrico

formado entre o filme e o circuito de medida, onde a

partir daí pode ser observado que o filme apresentou

um comportamento ôhmico, tendo então um grande

potencial de ser aplicado como sensor de gás,

Conforme estar apresentado na Figura 5.

Pode-se perceber que as medidas apresentam uma

Desta forma pode se observar uma certa linearidade

entre as medidas, ou seja, uma uniformidade,

favorecendo desta forma qualidade nas medidas, com

uma Resistência de 24 megaOhm (MΩ), e um

coeficiente de determinação (R2) igual a 0,99644, este

valor varia de 0 a 1, e quanto mais próximo do 1 mais

próximo à curva experimental do ajuste, no caso

linear. E com o aumento da concentração do gás,

Figura 4 – Difratograma de raios-X para caracterização estrutural do dióxido de estanho.

Figura 5 -Caracterização elétrica dos filmes de dióxido de estanho.

Page 63: UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO ...quimica.saomateus.ufes.br/sites/quimica.saomateus... · quando ganhei a oportunidade de estar à frente do trabalho nesta cidade.

Brazilian Journal of Production Engineering, São Mateus, Suplemento Especial 4 Workshop de Engenharia Química, Vol. 2, N.º 2 (Setembro). p. 60-65.

(2016).

Editora CEUNES/DETEC. Disponível em: http://periodicos.ufes.br/BJPE

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muda-se a resistência, logo a resistência tem que

apresentar um comportamento o mais linear possível

com a concentração o que permite correlacionar de

forma mais precisa mudanças de atmosfera gasosa

com o sinal elétrico do óxido que atua como elemento

sensor em um dispositivo.

4. CONCLUSÃO

Os resultados demonstram que a rota aquosa para

síntese do SnO2 que foi feita de forma sistemática

para um melhor controle do tamanho do

nanocristalino, demonstrou uma efetividade neste

controle, pois pode-se obter através da síntese do

dióxido de estanho, nanocristais de tamanho médio

estimado de 2,29 nm. Além disso, observou-se

apenas uma fase cristalina de SnO2 de acordo com o

pdf n° 41-1445. Na deposição dos filmes finos de

dióxido de estanho nanocristalino pode-se observar

uma certa uniformidade das nanoparticulas

depositadas no substrato resultando assim em um

filme fino com um comportamento ôhmico durante as

medidas de tensão versus corrente, caracterizando

desta forma a sua potencial utilização em sensores de

gases futuramente.

5. AGRADECIMENTOS

Agradecemos a Universidade Federal do Espírito

Santo – UFES e ao Centro Universitário Norte do

Espírito Santo – CEUNES pelo espaço físico.

Agradecemos também a CNPq e a FAPES pelo apoio

financeiro aos projetos desenvolvidos.

6. REFERENCIAS

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