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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE CIÊNCIAS ... · nos dão a possibilidade de serem...

Date post: 03-Jul-2020
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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA PRISCILA BRANDÃO VARGAS POLÍTICA CULTURAL, DIVERSIDADE E A CRIAÇÃO DE NOVOS NICHOS DE MERCADO: O CASO RIDER E NOIX NITERÓI 2018
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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA

PRISCILA BRANDÃO VARGAS

POLÍTICA CULTURAL, DIVERSIDADE E A CRIAÇÃO DE NOVOS NICHOS DE

MERCADO:

O CASO RIDER E NOIX

NITERÓI

2018

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PRISCILA BRANDÃO VARGAS

POLÍTICA CULTURAL, DIVERSIDADE E A CRIAÇÃO DE NOVOS NICHOS DE

MERCADO:

O CASO RIDER E NOIX

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia

da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para a

obtenção do Grau de Mestre em Sociologia.

Orientador: Prof. Dr. Cristiano Fonseca Monteiro

NITERÓI

2018

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Às minhas irmãs que, genuinamente, velejam nessa vida comigo. São o farol no

caminho e o meu porto na chegada.

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Agradecimentos

Ao final de mais um ciclo me pego novamente pensando sobre o que me trouxe até aqui:

todo rito de passagem é um rito de impasse. É você deixar de acreditar no “ser” para “estar”.

Não somos nada além de um processo de transição. Cruzamos caminhos e por ele somos

cruzados. Eu gosto de pensar a vida justamente como a trama de um tecido onde do lado de

dentro não é possível compreender como ficará, mas é exatamente do avesso que a trama é

costurada. Todo o início da costura propõe um processo contínuo, mas ter que lidar com o

imprevisível é trabalho esperado por quem tece: desfazer e refazer deixam marcas. A perfeição

é trabalho industrial. O manual exige que nos desenvolvamos pela prática e mesmo assim a

perfeição não será alcançada. A perfeição é utopia. Certa vez Galeano tornou famosa uma frase

dita pelo seu grande amigo Fernando Birri em uma entrevista. “A utopia está lá no horizonte e

se eu me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte

corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve

para isso: para que eu não deixe de caminhar”. As eternidades são utopias, são o desatar de um

nó. Mesmo com habilidade no tear, com as urdiduras estrategicamente posicionadas, é a trama

quem nos caminha em labirintos que jamais saberíamos de suas existências. A trama nada é

sozinha. É um processo laborioso que se culmina no tecido. Ao avesso os acabamentos sempre

nos dão a possibilidade de serem refeitos. Das coisas mais bonitas e mais simples que a

sociologia me ensinou é acreditar que não somos ninguém sem o outro. Das minhas escolhas,

dos impasses no caminho, do que não podia mudar, do que não dependia de mim, se refletia ali

a minha trama, a minha rede, me fazendo navegar, caminhar e voar. É o meu tecido. Dos que

me costuraram e que teceram comigo este caminho, o trabalho até aqui realizado não teria

sentido sem essas pessoas. Por isso agradeço.

Com as urdiduras desalinhadas e sem pretensão de se transformar em tecido, agradeço

ao meu orientador Cristiano Fonseca Monteiro por ter confiado em mim e ter dado o seu melhor

nesta trama.

Aos meus pais, Leonor e Levy, que sempre foram suporte, e meus irmãos Fabi, Vyle,

Rebs e Ester. À minha tia Adilza, tão minha mãe quanto a minha.

À minha Mel, que partiu deixando um vazio irreparável em meu peito, mas que durante

sua permanência não saiu do meu lado nos meus piores e melhores dias. A saudade é grande...

À Amora, que me acompanha, o meu amor.

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À turma de 2016 do PPGS, em especial aos amigos Karol, Juan, Camila e Juliana, que

sentiram minhas tensões e estiveram comigo presentes.

Aos meus amigos, Samy, Filipi, Joame, George e Marcus, Isaac, João, Flavi, Laís, Lígia

e Andréia pela compreensão nas ausências e pelo amor demonstrado.

Ao Programa de Pós-graduação em Sociologia da UFF, pela oportunidade, e todos os

seus funcionários, em especial às secretárias Quézia e Lícia.

À Noix e as entrevistados que tanto motivaram essa escrita.

À minha banca, Cristiano, Nalayne e Rodrigo, muito obrigada por toparem essa comigo!

A todos, deixo um trecho da carta de Marx ao pai em 1837 sobre suas motivações e mudanças

na vida:

“Berlin, 10 de novembro de 1837,

Querido pai,

Há momentos na vida que são como marcos que assinalam uma época já passada, mas que, ao mesmo

tempo, parecem apontar decididamente para uma nova direção. Em tais momentos de transição,

sentimo-nos impelidos a contemplar, com o olhar de águia do pensamento, o passado e o presente para

adquirir uma clara consciência de nossa situação real. Até a história universal parece gostar destes

olhares retrospectivos e de parar para refletir, o que, muitas vezes, cria a aparência de imobilidade ou

de retrocesso quando, de fato, a única coisa que faz é acomodar-se para tentar ver claramente e

penetrar espiritualmente em seu próprio processo, o processo do espírito.

Mas, nestes momentos, o indivíduo se deixa levar por um sentimento lírico, pois toda metamorfose tem

algo de canto de cisne e é, ao mesmo tempo, o prelúdio de um grande poema que se inicia e que adquire

forma, ainda em cores brilhantes e profundas; e, nestes momentos, contudo, desejaríamos erigir um

monumento ao que já vivemos e recuperar no sentimento o tempo perdido para agir; onde encontrar

um lugar mais sagrado para isto que no coração de nossos pais, que são os mais benévolos dos juízes,

os amigos mais íntimos, o sol do amor cuja chama aquece o centro mais recôndito de nossas

aspirações? Como as tantas coisas pouco gratas ou censuráveis em que se possa ter incorrido poderiam

encontrar reparação e perdão mais completos do que sendo vistas como manifestações de um estado

de coisas necessário e essencial? Onde encontrar, ao menos, um caminho melhor para diminuir as

recriminações de um coração irritado, não poucas vezes hostil, com o jogo de azar dos descaminhos do

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espírito? Por isso, se agora, ao final de um ano que passei aqui, olho para trás para evocar o que fiz

durante este ano, respondendo, com isso, queridíssimo pai, à sua carta muito amável de Sem, deves

permitir-me que me detenha um pouco a contemplar como eu vejo a vida, como a expressão de um afã

espiritual que adquire forma em todas as direções: nos campos da ciência, da arte e da vida

privada.[...]”.

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“La cultura es el despertar del hombre”

Maria Zambrano

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RESUMO

Esta pesquisa tem como objetivo compreender como os investimentos em políticas públicas

culturais nos últimos quinze anos propiciaram um cenário para a criação de nichos de mercado

baseados no conceito da diversidade. A ideia de diversidade se constitui em uma grande

variedade de culturas das quais é possível distinguir a multiplicidade de códigos sociais que

operam no interior da sociedade. À vista disso, a investigação se concentra na análise do

“criativo” Noix a partir da produção e organização do festival #DáPraFazer da marca Rider e

os processos que estabelecem uma mudança da marca ao longo do tempo tendo em vista

transformações que o país passa no âmbito político. Como consequência das transformações

políticas, culturais e econômicas, as classes C e D representam um grande grupo consumidor

que é beneficiado por programas de desenvolvimento governamentais dos últimos 15 anos,

assim como o estímulo à utilização de crédito, e o fomento ao empreendedorismo em um

primeiro momento. Nesta investigação torna-se perceptível a formação de “nichos de nichos”

a medida em que a pauta da diversidade é cenário central para um debate de desenvolvimento

do país

PALAVRAS-CHAVE: Diversidade. Cultura. Mercado. Políticas Públicas. Desenvolvimento.

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ABSTRACT

This research goals on understand how the investments in public policies in the last fifteen years

have helped on the creation of marketing niches based on the concept of diversity. The idea of

diversity is made of a great range of cultures in which is possible to distinguish the social codes

that are inside the society. Considering that, the investigation is focused in the analysis of the

"creative" NOIX from its organization and production of #dáprafazer festival of the brand

Rider and the processes that can establish and also the brand changing during the time

considering the politic transformations that the country is facing. As a consequence of these

political changes as well as the cultural and economical ones, classes C and D represent a large

consumer group that receive benefits from government's development programs from the last

fifteen yers, and so as the impulse for the credit usage and the stimulus to enterprising making

in a first moment. This investigation becomes apparent to "niches of niches" along side with

the diversity topic as a central scenario to a debate about the development of the country.

Keywords: diversity.culture. marketing. Public policies. Development.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Mercado de trabalho cultural no Brasil.........................................................40

Tabela 2: Escolaridade das atividades culturais por raça..............................................41

Tabela 3: Rendimento das atividades culturais por nação.............................................41

Tabela 4: Dispêndios culturais por tamanho de município – 2003...............................47

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Evolução dos dispêndios culturais 1995-2002 ........................................................ 39

Gráfico 2: Composição do consumo cultural por estado e renda ............................................. 48

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Processo de criação de novos nichos de mercado..................................................55

Quadro 2: Quadro da Análise Geral das Entrevistas Realizadas no Festival Rider

#DáPraFazer............................................................................................................................105

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Distribuição dos dispêndios culturais por esfera de governo em 2003 .................... 46

Figura 2: Real Gabinete Português de Leitura e o Festival Rider #DáPraFazer ...................... 56

Figura 3: Propaganda Rider anos 90......................................................................................... 59

Figura 4: Referente ao número de empregados e às empresas e fábricas................................. 61

Figura 5: Produção de calçados no Brasil ................................................................................ 62

Figura 6: Segmentação da produção brasileira de calçados por tipo de uso em pares

(participação em 2016) ............................................................................................................ 63

Figura 7: Street Market 1 .......................................................................................................... 67

Figura 8: Street Wear – Rider #DáPraFazer ............................................................................. 69

Figura 9: Emicida convida Yas Werneck ................................................................................. 70

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LISTA DE ABREVIATURAS

ABICALÇADOS - Associação Brasileira das Indústrias de Calçados

ABLAC - Associação Brasileira de Lojistas de Artefatos e Calçados

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CEF – Caixa Econômica Federal

CF – Constituição Federal

CFC – Conselho Federal de Cultura

CFNC – Comissão do Fundo Nacional da Cultura

CNC – Conselho Nacional de Cultura

CNDA – Conselho Nacional de Direito Autoral

CNIC – Comissão Nacional de Incentivo à Cultura

CNPC – Conselho Nacional de Política Cultural

CONCINE – Conselho Nacional de Cinema

CUT – Central Única dos Trabalhadores

DAC – Departamento de Assuntos Culturais

DARF – Documento de Arrecadação da Receita Federal

EC – Emenda constitucional

EMBRAFILME - Empresa Brasileira de Filmes

FBN – Fundação Biblioteca Nacional

FCB – Fundação do Cinema Brasileiro

FCEP – Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza

FCP – Fundação Cultural Palmares

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FCRB – Fundação Casa Rui Barbosa

FEC – Fundo Estadual de Cultura

FGM – Fundação Gregório de Mattos

FHC – Fernando Henrique Cardoso (ex-presidente do Brasil)

FICART – Fundo de Investimento Cultural e Artístico

FNC – Fundo Nacional da Cultura

FPC – Fundo de Promoção Cultural

FPM – Fundo de Participação dos Municípios

FUNARTE – Fundação Nacional de Artes

FUNDACEN – Fundação Nacional de Artes Cênicas

FUNDEB – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de

Valorização dos Profissionais da Educação

IBAC – Instituto Brasileiro Arte e Cultura

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INPC – Índice Nacional de Preços ao Consumidor

IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

ISEB – Instituto Superior de Estudos Brasileiros

LDO – Lei de Diretrizes Orçamentárias

MEC – Ministério da Educação e Cultura

MINC – Ministério da Cultura

MUNIC – Pesquisa de Informações Básicas Municipais

MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

PEC – Projeto de Emenda Constitucional

PCH – Programa Integrado de Reconstrução das Cidades Históricas

PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra a Domicílio

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PPA – Plano Plurianual

PRÓ-MEMÓRIA – Fundação Nacional Pró-Memória

PNC – Política Nacional de Cultura

PROCULTURA – Programa Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura

PRONAC – Programa Nacional de Apoio à Cultura

PT – Partido dos Trabalhadores

SAE – Secretaria de Assuntos Estratégicos

SEC/PR – Secretaria da Cultura da Presidência da República

SEFIC – Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura

SNC – Sistema Nacional de Cultura

SNT – Serviço Nacional de Teatro

TCU – Tribunal de Contas da União

UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 20

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................... 24

2.1 A SOCIOLOGIA ECONÔMICA ....................................................................................... 25

2.1.1 A construção social de mercados e a nova sociologia econômica (NSE) ................ 27

2.1.2 O mercado como resultado das redes sociais ............................................................. 30

2.2 PANORAMA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS CULTURAIS NO BRASIL ..................... 36

3 RESULTADOS .................................................................................................................... 53

3.1 A NOIX ............................................................................................................................. .55

3.1.1 A Rider ........................................................................................................................... 59

3.1.2 #DáPraFazer, Fazedores, #TudoCria .......................................................................... 64

3.1.3 Cultura Periférica .......................................................................................................... 69

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 73

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 76

ÍNDICE GERAL DE APÊNDICES..........................................................................................88

ANEXOS................................................................................................................................106

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1 INTRODUÇÃO

Este trabalho surge da necessidade de compreender como o mercado se estabelece em

um cenário no qual a diversidade e a inclusão de atores estigmatizados é tema central do

desenvolvimento do país. Para além do imoral e da contradição, é possível, ao mesmo tempo,

militar por alguma temática social e mercadorizar a diversidade sem que essas ações não se

tornem contraditórias em si? A pesquisa, portanto, tem como eixo central a análise de um

festival de cultura realizado no Rio de Janeiro a partir do criativo1 Noix que surge como fio

condutor da inserção da marca Rider em áreas periféricas.

Apostar no investimento de um mercado nas classes b, c e d tem sido uma estratégia

de mercado a partir de seus diagnósticos do poder de consumo dessas classes. A proposta do

trabalho emerge não somente do aumento poder aquisitivo entre essas classes nos últimos

quinze anos, mas, principalmente, do como esse poder aquisitivo se manifesta em um cenário

de investimento em políticas culturais concomitantemente à questão da promoção da

diversidade. Com o valor médio de consumo abaixo do esperado, diversos nichos de mercado

potencializaram seus investimentos para des envolver um mercado aberto ao conceito de

pluralidade social. Ao mesmo tempo em que se articula ao novo, criando assim valor agregado,

dissemina também o debate sobre a promoção da diversidade social a partir de um perfil

consumidor periférico ao mercado. Portanto, tal como define Storr (2009), "the market,

however, is a space where commercial as well as social bonds develop".

A Noix é um “criativo” ligado ao marketing, pesquisa e tendências culturais e que

funciona como um agente, um maker como eles próprios se definem, que desenvolve métodos,

desenvolve meios criativos de lidar com a cidade solucionando problemas a partir da

criatividade. Este conceito, inserido à lógica do empreendedorismo, soluciona problemas

comuns e, muitas vezes, públicos, pensando a partir do coletivo dentro de novas tecnologias na

expectativa de desenvolver a vida comum. A Noix procura descobrir gostos, principalmente

relacionadas ao consumo periférico, e conecta marcas que têm interesse em investir na

diversidade com o público sugerido.

Contudo, era impossível simplesmente pensar no mercado da diversidade sem

compreender quem o propiciou. Com o avanço da globalização e o desenvolvimento

tecnológico (PAIVA; RICCI; OLIVEIRA, 2005), a circulação da cultura se torna cada vez mais

1 Procurarei utilizar neste trabalho o termo “Criativo” ao invés de empresa. Este termo se refere ao nicho de mercado que investe em cultura.

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perceptível. Expressões culturais a partir da música, do artesanato, da dança se propagam cada

vez mais rápido pela necessidade de se fazer ser ouvido, ser percebido em meio a tantos que

buscam destaque.

Existe uma tendência de ressignificação do modo de se consumir num cenário de

globalização onde as tendências culturais são, a todo tempo, formuladas e reformuladas para

garantir seu espaço no mercado. Num âmbito de desenvolvimento, essas tendências assumem

um espaço de disputa. Pensar cultura neste cenário é pensar em práticas que envolvam uma

sociedade cada vez mais segmentada e com gostos cada vez mais restritos a um determinado

grupo de pessoas. Deste modo, diante do impacto econômico sob o avanço da globalização,

começa a se mostrar evidente a demanda pelo consumo de bens culturais. À vista disso, o campo

da cultura começa a integrar os planos de governos a partir do investimento em políticas

públicas culturais, e isso se deu em uma conjuntura em que a compreensão de cultura começa

a ser representada como identidade local. A economia criativa e a economia da cultura chegam

nesse momento em que o Brasil debate a promoção da diversidade ao mesmo tempo em que se

desenvolve economicamente, abrindo crédito a pequenas empresas e gerando oportunidades

(FERREIRA, 2015).

De acordo com dados da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE)2 entre 2004 e

2010, 32 milhões de pessoas ascenderam à categoria de classes médias, e 19,3 milhões de

pessoas saíram da linha de pobreza, onde a maior oferta de crédito e o incentivo às compras

fizeram aumentar significativamente o salário mínimo e a queda do desemprego. Em 2013, a

classe C foi responsável por 58% do crédito, gastando mais de 1,17 trilhão de reais. Áreas

periféricas se mostram cada vez mais atraentes para o mercado, porque o público periférico

consumidor passa a ser absorvido pela abertura de crédito. De acordo com Alves (2017), existe

hoje um consumo cultural ampliado em decorrência de um capitalismo cultural-digital que

compõe múltiplos processos conjugados, como: interfaces tecnológicas; linguagens artísticas;

redes de empresas; processos criativos; bancos de desenvolvimento estatais; instituições

financeiras privadas; investidores de risco e investidores-anjos; equipamentos culturais

públicos e privados; ações nas principais bolsas de valores do mundo; agências estatais de

desenvolvimento e regulação; organizações de pesquisa e inovação (públicas e privadas); redes

de incubação de empresa e bilhões de dólares circulando em ativos financeiros e que, unidas,

compõem os mercados culturais globais e nacionais.

2 Fonte: Secretaria de Assuntos Estratégicos – SAE. Classe média em números: origens e desafios na nova classe média brasileira. Disponível em: <http://www.sae.gov.br> Acesso feito em: 04-05-2018

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O objeto desta pesquisa, o criativo Noix, surge no momento em que o país se reformula para

pensar a inserção do consumidor periférico no mercado. A empresa, formada por duas sócias, Amnah

Asad e Lara Azevedo, propõe ressignificar e se apropriar de um mercado pouco explorado: o mercado

da diversidade. Elas se intitulam como pesquisadoras de Cultura que tem como foco levar diversidade,

novas conexões e misturas para todos os trabalhos que fazem. Filha de palestino com uma brasileira

com avós portugueses e índios, é assim que Asad defende a manutenção do que chama de

mistura. Tendo sido criada dentro de uma loja popular na qual sua família era proprietária, Asad

pôde ter contato com diversas classes diferentes, pessoas diferentes. Assim sendo, foram

definidos minuciosamente pelas produtoras todos os fazedores do festival. De certa forma,

todos representavam alguma causa social, fundamental para montar um palco multicultural que

atingisse a todos.

A partir de estratégias de marketing oriundas de trabalhos minuciosos de mapeamentos

pelas cidades, a Noix acaba por se estabelecer como referência deste nicho, principalmente nas

capitais da região sudeste. Ela funciona como uma empresa mediadora entre quem vai consumir

e quem vai comercializar, utilizando em suas ações uma linguagem própria a partir da produção

eventos em áreas estratégicas com atores da comunidade para divulgar a marca que a contrata,

no caso deste trabalho, a marca Rider da Grendene. A Rider comercializa, sobretudo, chinelos.

Ela se reinsere no mercado trazendo o produto que fez sucesso há quase 30 anos: o famoso

chinelo de tira única.

Deste modo, neste trabalho, a análise se concentra na compreensão da relevância de

movimentos culturais para a criação de políticas públicas relacionadas à cultura e em como esta

dinâmica promove diretamente a diversidade a partir da economia criativa, o marketing social.

A Noix, portanto, se insere na lógica do mercado a partir do conceito de economia criativa

baseado na diversidade que se estabelece mais precisamente a partir dos anos 2000 após a

ressignificação do lugar que a cultura ocupa para as políticas públicas.

Para trabalhar políticas culturais, esta investigação utilizará como suporte a definição

de Canclini (1983) que compreende a cultura como um processo social dinâmico e em constante

transformação. Sob a ótica de Canclini, os processos de representação e reelaboração simbólica

remetem a estruturas mentais, a operações de reprodução ou transformação social. Neste

contexto, num primeiro momento, procuro aqui identificar em como se desenvolveram na

sociedade brasileira os processos de constituição de políticas públicas aplicadas ao setor cultural

para pensar práticas de mercado baseadas no conceito da diversidade e estruturar como se

estabelece o caso Rider e Noix neste contexto bem como indicar o modus operandi do

movimento político cultural em consonância com o desenvolvimento da promoção da

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diversidade no país em um cenário mercadológico, onde a apropriação de temáticas de cunho

popular se tornam nichos de mercado cada vez mais específicos. A população estigmatizada

reconhecida neste cenário como minorias3 tem atingido cada vez mais voz no espaço público

obtendo, desta maneira, destaque com representações políticas à nível institucional. A medida

em que se estabelecem e ganham espaço, não necessariamente deixam de ser minorias, contudo

alcançam impulso para contestar seus espaços de fala a partir da representatividade. Em vista

disso, no que tange à esta investigação, o trabalho aqui posto se concentra nas estratégias da

marca Rider da Grendene ao se incorporar nesta conjuntura de mercado ao contratar o criativo

Noix para estabelecer articulações entre grandes empresas e o potencial consumidor. A Noix,

por conseguinte, seria a consequência de todo o movimento político e cultural ao se inserir no

mercado como nicho específico. Em suma, o trabalho aqui realizado é uma tentativa de

entendimento na criação de mercados cada vez mais específicos baseados no conceito de

diversidade utilizado como objetos a Rider e a Noix.

3 Neste conceito utilizo o significado de grupos socialmente marginalizados. São exemplos de minorias sociais, atualmente, negros, indígenas, imigrantes, mulheres, homossexuais, idosos, moradores de vilas (ou favelas), portadores de deficiências e moradores de rua. Fonte: PPGS UFRGS, Disponível em: < https://www.ufrgs.br/ppgs/index.php?formulario=linhas&metodo=0&id=8> Acesso em: 21-05-2018

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A bibliografia sobre políticas públicas culturais no Brasil é multidisciplinar. Ela

atravessa diversos campos além da cultura, como a sociologia, ciência política, história, arte e

economia. A economia criativa no Brasil, segundo Oliveira (2017), começa a se destacar no

Brasil ganhando caráter de disciplina de estudo no início dos anos 2000. Não por acaso. De

acordo com o mesmo autor, ela é um conjunto de segmentos dinâmicos cujo comércio mundial

cresce a taxas mais elevadas do que o resto da economia, e isso independe da sua forma de

mensuração. Este campo se estabelece principalmente nos segmentos que promovem a

diversidade e, sendo assim, ganha cada vez mais espaço na economia da cultura.

A pesquisa que proponho aqui se insere no campo da sociologia econômica na linha

de criação de um mercado cultural. À vista disso, para pensar o comportamento racional e o

sistema de mercados, eu utilizarei A sociologia econômica, de Steiner (2006), obra que aborda

a sistematização da construção social dos mercados detalhando o funcionamento e

comportamento da sociedade mediando ou sustentando a configuração social a partir de uma

abordagem sociológica. Penso também o desenvolvimento econômico a partir da teoria de

Schumpeter (1985) para compreender a figura do empreendedor criativo como peça

fundamental no processo de desenvolvimento econômico onde, a partir de um fluxo circular, é

possível estabelecer novas combinações no mercado financeiro. Bem como Harvey (2014) para

estabelecer consonâncias entre o direito à cidade e processos econômicos.

No que tange às políticas públicas culturais, utilizo como base para esta investigação

o trabalho de Santos (2009) sobre Política Cultural no Brasil e o histórico de retrocessos e

avanços institucionais assim como o trabalho de Dória (2001), que, além de sociólogo, foi

também consultor do projeto de revisão institucional e organizacional do Ministério da Cultura.

Utilizo também os trabalhos de mestrado e doutorado de Reis (2008; 2013) sobre o plano

nacional de políticas de cultura no Brasil durante o governo do ex-presidente Lula no período

de 2003-2010, além de algumas pesquisas da Coleção Cult (UFBA), onde se destacam as

publicações Políticas Culturais no governo Lula (2010), Federalismo e políticas culturais no

Brasil (2013), Cultura & Desenvolvimento: perspectivas políticas e econômicas (2011),

políticas culturais, democracia & conselhos de cultura (2010), Dimensões e desafios políticos

para a diversidade cultural (2014) – com apresentação do ex-ministro da cultura Gilberto Gil,

Diversidade Cultural: políticas, visibilidades midiáticas e redes (2015), Panorama da gestão

cultural na Ibero-América (2016), Políticas culturais no governo Dilma (2015). Ainda em

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relação ao mapeamento, a bibliografia que foi capaz de compreender esse movimento de cultura

e mercado foi a partir de Leonardo Brant4, que atua como escritor sobre mercado, política,

diversidade cultural e audiovisual e pensa as estruturas das estratégias desenvolvidas no

mercado da cultura onde propõe cursos para debater essas questões. Brant é um articulador do

segmento de cultura e mercado no Brasil. Em seu site, são disponibilizados artigos sobre esta

mesma temática a partir da visão de economistas, pesquisadores, produtores culturais entre

outros.

Sobre o debate da diversidade e a inserção de minorias no mercado, utilizo como

referência o Report Diversity Hollywood produzido pelo laboratório Bunche Center sobre

estudos afro-americanos o qual é desenvolvido a partir de uma discussão baseada em resultados

de análises quantitativas a inserção de minorias no cinema Hollywoodiano. De acordo com a

pesquisa dirigida por Darnell Hunt do laboratório de pesquisa, asiáticos, negros, e latinos

continuam sendo pouco representados em papéis de cinema onde somente 13,9% estão

inseridos nestas categorias. Contudo, esta pesquisa se mostra relevante para a investigação aqui

proposta por demonstrar um crescimento, pequeno, mas notório, na participação, produção,

direção de minorias neste ramo. Esta pesquisa, portanto, se torna substancial para pensar

estratégias de mercado para se inserir nestes nichos onde minorias ganham espaço em

estratégias econômicas.

Muito embora sejam de fundamental importância as produções realizadas no campo

de políticas culturais e economia, percebi, portanto, pouca atenção no que se refere às

investigações do mercado que se forma a partir do investimento público em políticas culturais.

O que se mostrou evidente é que, com a aplicação de recursos públicos no campo da cultura,

principalmente em um governo de caráter mais popular, como foi o caso do PT, se tornou

propícia a criação de nichos de mercado baseados no conceito de diversidade. Em vista disso,

a minha motivação na escrita desta dissertação foi captar em como os atores se apropriam do

mercado na expectativa de conectar e divulgar uma diversidade cultural tendo como

consequência dos novos nichos de mercado.

2.1 A SOCIOLOGIA ECONÔMICA

4 Leonardo Brant é documentarista, diretor de Ctrl-V, Comer o quê?, Psiquê, entre outros. Pesquisador cultural, autor O Poder da Cultura e Mercado Cultural.

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Para dar conta de compreender a inserção de novos nichos de mercado em um cenário

atual, é preciso, primeiramente, contextualizar a partir de uma perspectiva teórica a proposta de

se pensar economia e sociedade como uma relação imbricada a partir da teoria sociológica sobre

mercado em Granovetter (1985) e Polanyi (2000). Neste primeiro momento, destaco aqui sobre

como o campo da Sociologia Econômica se estabelece em um cenário de consumo e diversidade

procurando discutir relações situacionais da economia através de uma ótica das ciências sociais,

observando fenômenos econômicos e suas transformações nos planos institucionais. Deste

modo, é possível perceber que o funcionamento da economia está complementado ao trabalho,

ao capital, à organização e à tecnologia.

Sociólogos clássicos, como Weber, Marx, Simmel e Durkheim, dedicavam boa parte

de seus trabalhos à compreensão da relação entre economia, estrutura social e cultura. Assim

sendo, Weber, refletia sobre características de fenômenos sociais a partir de um tipo ideal. A

exemplo disso, temos A ética protestante e o espírito do capitalismo (2004), que propõe

hipóteses sobre o desenvolvimento capitalista a partir de uma ética religiosa. O capitalismo em

Weber pode ser compreendido como uma ação orientada por uma racionalidade. A acumulação

do capital torna-se, agora, um valor, além de dignidade juntamente ao trabalho, uma vez que

estão incorporados em nossa sociedade como valores não questionáveis, pois estão integrados

à lógica da dominação no modo de ser, de pensar, de agir. Ou seja, existe um condicionamento

da tradição sobre o comportamento do indivíduo na sociedade.

Já Marx, também um dos expoentes para se pensar a influência do fator econômico na

sociedade, propunha analisar o processo de produção capitalista. Para o autor, o Estado funciona

como um elemento essencial para manter as condições de existência do modelo capitalista de

produção de modo a intervir, consolidar e manter o sistema capitalista. O capitalismo

revolucionou os modos de produção, pois o modo capitalista de produção mercantiliza as

relações sociais. Deste modo, para Marx o capitalismo é um modo fundamentalmente

antagônico de desenvolvimento histórico. O capitalismo é um sistema de mercantilização

universal e de produção de mais valia. Esse sistema mercantiliza as relações sociais e as coisas,

a força de trabalho, a energia humana que produz valor.

Na perspectiva da Sociologia de Simmel, o autor recorre à necessidade que o conceito

de sociedade se submeta à historicidade dos fatos sociais, a uma nova abstração e ordenação

para que, desta maneira, se reconheçam conexões formando assim o objeto da ciência na

sociologia. Para o autor, as relações são recíprocas e se estabelecem individualmente. Deste

modo, Simmel é fundamental para pensar a sociologia econômica como um conjunto de

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instituições condicionantes ao comportamento do indivíduo na sociedade. As trocas simbólicas

a partir de um resultado de relações sociais mostram que o dinheiro ganha destaque em sua

teoria que encontra simbolismo na individualização do sujeito inserido no âmbito social. Com

caráter impessoal e racional, vai, deste modo, se ajustando ao modelo ocidental capitalista.

Já Durkheim, ainda sobre a influência da sociologia em um campo econômico, acredita

que é necessário preconizar o estudo dos fatos sociais como “coisas” a partir de regras de rigor

científico. Em seus trabalhos, Durkheim não define propriamente a sua compreensão de

mercado, mas considera a economia como um fato social. De acordo com Raud-Mettedi

(2005b), a sociedade moderna é fundamentalmente uma sociedade de mercado, ou seja,

contratual, e, para Durkheim, a maioria das nossas relações com outrem são de natureza

contratual. Neste sentido, para Raud-Mattedi, a sociologia durkheimiana do mercado pode ser

percebida a partir de uma análise do contrato na sociedade moderna. As representações sociais,

portanto, são a chave para compreender como o mercado, para além de se estabelecer, passa a

fazer parte de forma imbricada do cotidiano social. O Estado, sob a ótica durkheimiana, seria

uma construção social de um mercado perfeito, como um órgão da disciplina moral que

influencia indiretamente, assegurando ao mercado o respeito aos contratos e à propriedade

privada a partir da justiça das trocas e da garantia dos direitos individuais.

Portanto, a partir da teoria clássica sociológica, percebe-se um claro investimento no

campo da economia no que se refere às instituições, às estruturas que as compõem e à divisão

do trabalho para pensar a dinâmica econômica de mercado. O que se mostra evidente no

trabalho dos teóricos clássicos em seus investimentos para a sociologia econômica é a análise

dos processos históricos para compreender as organizações concomitante ao processo de

desenvolvimento econômico dados seus contextos sociais e seus espaços de trocas com base na

mercantilização. Todo esse processo de investigação foi substancial para dar início aos novos

paradigmas relacionados à economia e a sociedade. De acordo com Smelser e Swedber (2005),

os objetivos da sociologia econômica se concentram em entender as relações sociais, culturais

e políticas que orientam processos econômicos; analisar as interações entre economia e a

sociedade; e estudar as transformações institucionais e culturais que produzem o contexto

societal da economia.

2.1.1 A construção social de mercados e a nova sociologia econômica (NSE)

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A segunda fase da Sociologia Econômica, precedida à Nova Sociologia Econômica, é

abrangida entre o final da primeira metade e o início da segunda metade do século XX. Ela é

caracterizada pelo arrefecimento dos temas propostos pelos clássicos (Serafim, 2006). Entre

seus teóricos, destacam-se Schumpeter, Polanyi, Parsons e Smelser, e caracteriza-se pelo

desenvolvimento de conceitos como empreendedorismo, imersão além de uma continuação da

teoria iniciada na primeira fase: compreendida como uma teoria geral dos sistemas sociais.

Porém, é Granovetter (2007) que publica pela primeira vez o termo cunhado de Nova

Sociologia Econômica (NSE). Em seu artigo sobre ação econômica e estrutura social, afirma

que o nível de imersão do comportamento econômico mudou com o processo de modernização

que os autores anteriores à NSE defendiam. A esta ação ele determinou o conceito de

embeddedness5 reajustando-o à NSE. Para Granovetter, as relações sociais são as principais

responsáveis pela produção de confiança e má-fé na vida econômica. Isto é, o comportamento

que se dá a partir das relações interpessoais está imerso em redes. O autor percebeu que os

comportamentos nas relações de mercado sugerem menos aplicação de regras culturais e mais

uma resposta razoável à situação atual. Deste modo, o comportamento está diretamente

relacionado à sociabilidade, à aprovação, ao status e ao poder. Na sociologia de Granovetter, o

Estado aparece como regulador ínfimo da economia, interferindo minimamente e fazendo ser

respeitada as regras estabelecidas pelo mercado a partir das redes sociais que os próprios

estabelecem. Muitos atores relacionados ao poder econômico são atores-chaves do Estado. Ou

seja, o Estado não é somente coordenado passivamente por uma estrutura econômica. Essa

estrutura econômica reguladora está inserida no Estado ditando regras do jogo. De acordo com

Raud-Mattedi (2005b), para Granovetter estruturas políticas repressivas tornam-se

desnecessárias devido aos mercados concorrenciais que impossibilitam a força e a fraude.

Há muito tempo se reconhece que essa visão idealista dos mercados de concorrência

perfeita sobreviveu aos ataques intelectuais devido, em parte, ao fato de as estruturas

econômicas auto-reguladas serem politicamente atraentes para muitos. Outra razão

para essa sobrevivência, menos claramente compreendida, é que a eliminação das

relações sociais da análise econômica afasta o problema da ordem da pauta intelectual,

pelo menos na esfera econômica (GRANOVETTER, 2007).

Fligstein (2001) destaca a economia política americana na década de 1960 que foi

marcada pela teoria da modernização. A teoria, em suma, tenta definir como países

5 Conceito reformulado por Granovetter (1985) para discutir a ideia de "imersão" nos mercados. Os comportamentos e as instituições devem ser analisados a partir das redes sociais. Os indivíduos não agem de maneira autônoma, mas suas ações estão imbricadas em sistemas concretos, contínuos, de relações sociais, ou seja, em redes sociais (RAUD-MATTEDI, 2005a).

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subdesenvolvidos têm o poder de se desenvolver economicamente a exemplo de países mais

industrializados. A formação de mercados sem a presença de um Estado produziria um caos

social e, deste modo, se faz necessária a intervenção do Estado para estabilizar e orientar regras

de interação entre os grupos. Sob ótica da teoria organizacional tradicional, o mercado e Estado

ainda são contrastantes já que são percebidos como independentes, porém, não é impossível

que estejam conectados. Como destaca Lindblom (2001), “mercado é descrito como uma

consequência natural do ajuste mútuo das pessoas entre si”. Ou seja, desta maneira, o mercado

é somente o resultado de ajuntamentos sociais, o que ratifica a ideia de que ele só é construído

sob um suporte cultural. O Estado não é mais somente um regulador das práticas de mercado,

mas também se envolve ao criar artifícios para que ele ocorra. Destarte, utilizando como base

o conceito de commitment to facilities do artigo de Arnoldi e Lash (2012) sobre a concepção da

construção social e cultural, o mercado é incerto, e, por isso, é preciso reduzir os riscos e as

incertezas num ambiente competitivo e caótico por natureza. Deste modo, percebe-se que,

quando existe um compromisso com alianças, a confiança aumenta e o risco é reduzido.

Contudo, apesar de funcionar com uma racionalidade, a economia hoje encontra

desafios como, por exemplo, se adaptar ao novo mercado. Existe hoje, dentro dos mercados,

uma racionalidade polivalente. Por exemplo, uma empresa pode ter dentro dela vários setores

com objetivos diferentes, tendo cada setor uma lógica própria, e se adaptar a este novo mercado

consumidor, o que preza pelo meio ambiente, o que se preocupa com a questão social, entre

tantos outros. Seria este, então, o novo desafio da economia dentro do mercado. São atores

individuais transformando a economia, até porque a economia não pode ser definida

exclusivamente como capitalista. Esses mercados, considerados imersos, não estão fora do

capitalismo. Eles nascem e se desenvolvem a partir da estrutura de mercados capitalistas, mas

não completamente dominados por eles. Existe ali estabelecido um senso de cooperação e

solidariedade no convívio nestes ambientes que permite flexibilidade e inovação. Para Cassol,

Salvate e Schneider (2016), o conceito de recursos de uso comum ajuda a compreender como

os mercados imersos resistem à competição com os grandes mercados, pois representam

alternativas.

A lógica de mercado, portanto, está pautada em diversos serviços, objetos e

instrumentos financeiros (AHRNE; ASPERS; BRUNSSON, 2014). Todo o espaço que o

envolve pode ser dinamizado pela competição do local de fala, no qual o mercado da

diversidade tem ganhado destaque e força mais recentemente. Alguns mercados, como o de

alimentos, roupas e crédito financeiro e que se caracterizam pela oferta e demanda, são

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mediados por preços relativos ou contratos formais como evidenciam Cassol, Salvate e

Schneider (2016). Estes mercados convencionais representam uma corrente linear de mercado.

Neste sentido, a construção social de mercado é um processo de disputa e que, a partir de um

movimento dinâmico, às vezes retroage antes de avançar, gera contradições, demanda acordos

e pode ser reavaliado o tempo inteiro por buscar sentido em suas ações.

2.1.2 O mercado como resultado das redes sociais

A abordagem das redes sociais na lógica de um mercado consiste em um conjunto

pessoas e organizações conectadas por laços em comum ao estabelecerem relações. A partir

dessas relações, os laços podem ser fortes ou fracos. Os laços fortes são constituídos por redes

que se conectam muitas vezes pelo afeto. Existe uma maior vivacidade nas relações e um maior

comprometimento em razão do afeto envolvido. Os laços fracos se configuram justamente pelo

contrário: existe pouco investimento em manter as redes sociais baseadas nos laços fracos.

Entretanto, Granovetter não se limita como uma determinante. Podem existir pontes que

conectem integrantes que tenham laços fortes com os que tenham laços fracos. Dada a

elucidação sobre os laços nas redes sociais, a importância social dela se estabelece ao gerar

menos riscos para as redes devido à confiança convencionada.

As trocas geralmente estão enraizadas na reciprocidade, como menciona Sabourin

(2009): as prestações e relações econômicas dependem de estruturas de reciprocidade

mais ou menos instituídas que, quando são equilibradas ou simétricas, dão origem à

produção de valores materiais de uso ou de serviços, bem como valores humanos

afetivos e éticos (SABOURIN 2009, p. 57). Apesar do termo reciprocidade não estar

reduzido às relações de troca de produtos e/ou serviços, essas ações adquirem uma

função vital no que diz respeito aos aspectos econômicos e sociais dos agricultores

familiares, pois são uma forma simbólica e de pertencimento (sentimento de pertencer

a uma determinada comunidade), assim como também geram produção material para

os grupos domésticos (como exemplo a ajuda mútua, compartilhamento de recursos

produtivos, troca de informações, etc) (AGNE; WAQUIF, 2011).

Porém, é através das informações que cruzam que ocorre o desenvolvimento dos

ntegrantes nas redes sociais, já que a novidade traz novas possibilidades que direcionam ao

avanço. Desta maneira, a viabilização de novos nichos de mercado acontece alicerçada na

obtenção de informações que faz com que nichos cada vez mais específicos ganhem destaque

no mercado. A diversidade como proposta de comercialização para a criação dos mercados se

insere como agregação de valor com a multiplicidade das atividades produtivas. As estratégias

fornecem material para enfrentar eventualidades econômicas, como a inovação a partir da

construção de redes sociais e possibilidades de renovação do mercado. Deste modo, os vínculos

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estabelecidos a partir dos laços fortes são substanciais para a organização de mercados

alternativos baseados no conceito de redes que aproximam. As redes sociais podem estar

imersas dentro de instituições governamentais ou não governamentais.

A exemplo, Agne e Waquif (2011) trabalham na tentativa de compreensão da

construção social de mercado para os produtores das agroindústrias. Para eles, essas instituições

constituem pertinente elemento de apoio e desenvolvimento aos mercados de proximidade.

Como apoio, as ações oferecem ursos, assistência técnica, locais de venda, recursos financeiros,

assessoria aos projetos para a comercialização nas agroindústrias rurais familiares. Ainda de

acordo com os autores, a singularidade da comercialização se encontra no círculo das redes com

a comunidade, como as associações, as cooperativas, festas e encontros virtuais. Para Agne e

Waquif (2011) as organizações são pautadas na reciprocidade:

A construção de mercados como um processo dinâmico, resultado de interações

sociais. A dinâmica pode ser entendida como uma constante configuração e

redirecionamento de atividades, produtos e relações. Assim, as redes não são estáticas,

ou seja, os agentes estão em constantes interações, influenciando e sendo

influenciados por outros atores sociais. Dessa forma, a rede pode sofrer modificações

(número de atores sociais, relações, características) e, consequentemente, as relações

podem provocar mudanças nas atividades de produção, comercialização e consumo.

Assim sendo, o mercado não é algo externo às pessoas, mas resultado de ações que são

construídas pelas pessoas. Eles são elementos da dinâmica cultural e social que traduz a forma

como são produzidas as relações entre produtores e consumidores. É pertinente salientar, como

mencionado na citação, que essas redes mudam e se modificam conforme a dinâmica social vai

se desenvolvendo e os laços vão se comprimindo e vão se afastando. Sob a ótica de Garcia-

Parpet (2003) todo esse funcionamento "perfeito" não é feito "naturalmente", porém, com um

interesse de alguns indivíduos: “O funcionamento do mercado deve ser objeto de uma vigilância

incessante por parte de seus organizadores, que devem lutar contra todas as ações dos

participantes que possam prejudicar o desenrolar das transações mercantis nas suas formas

idealizada”.

O mercado intermedia construções sociais e culturais, resultando numa crescente

mercantilização das sociedades contemporâneas (DALMORO; NIQUE, 2017). Existem fatores

que influenciam esse jogo, como a tradição como elemento sociocultural que permite expandir

a compreensão acerca do papel do mercado na manutenção das tradições, gostos, costumes e

referências a serem encontradas no consumo. Desta maneira, ele é conjunto do qual a troca

ocorre a partir da identificação por parte dos consumidores. Toda a atuação, desde a produção,

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estratégias de marketing até a mercantilização, tem como foco central a mercadorização que se

adapta aos tempos.

Em seu artigo a respeito da construção social de um mercado perfeito no caso de

Fontaines-en-sologne, Garcia-Parpet (2003) discorre sobre a implementação de um mercado

computadorizado na comercialização morangos. Para a autora, o mercado computadorizado

oferece aos trabalhadores um reestabelecimento das suas funções, inserindo-os em áreas nas

quais o jogo da concorrência possa operar mais livremente. Percebe-se a influência de passar

de geração para geração esta prática, porém, com o advento tecnológico que influencia novos

métodos de mercadorização, trata-se de um exemplo de como a tradição permanece na história

renovando suas estratégias de alcance social.

É factível que a reorganização das regras impostas pela manutenção do mercado tem

uma influência mútua transformando, deste modo, o campo das redes de comercialização. À

medida que os laços se estreitam e as redes sociais se reorganizam para se manter, a

institucionalização de novas formas de comercialização transforma a categoria do produto

comercializado, modificando o seu status. Pode-se dizer que é um momento “perigoso”, uma

vez que o mercado consumidor sente essas mudanças, fazendo-o com que renegue o “novo”

produto ou confirme a estratégia de forma positiva, reforçando a identidade social. Destarte,

formam-se novas relações ou reforça antigos laços e, concomitantemente com o processo de

reorganização, surgem novas fontes de poder e prestígios. A cada processo de mudança,

formalizam-se grupos que têm interesses determinados. Os mercados não são esferas de

concorrência nem resultados de oferta e procura, mas, sim, formas sociais formadas por redes

e alianças com organizações que buscam nichos específicos e estabilidade em detrimento da

concorrência (ARNOLDI; LASH, 2012).

Isto é, são indivíduos que orientam e estabelecem regras para a conjuntura

organizacional ser viável como mercado. Deste modo, é fundamental compreender quem são

os organizadores que tornam a construção desse espaço social possível. Existe uma

heterogeneidade quanto aos organizadores e o Estado, a ação governamental, representa

somente um dentre vários organizadores. Ahrne, Aspers e Brunsson (2014) identificaram,

portanto, três categorias de organizadores:

1) Os especuladores: a que pretende, em primeira instância, obter lucro. Eles se

organizam no mercado a partir da especulação estabelecendo regras para a adesão,

e os vendedores são monitorados por eles. Um exemplo atual são os sites na internet

que oferecem um domínio a partir do nome de uma marca famosa para que outras

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pessoas possam comercializar. Eles funcionam muitas vezes como intermediários,

mas ditam as regras do jogo. Outro exemplo que integram os especuladores é

organizar um mercado em cima de outro mercado, como exemplo estão os

corretores. Outro exemplo factível é quem oferece serviços específicos do mercado.

Essa categoria costuma ser mais prejudicada em tempos de crises econômicas. Em

todos os casos, os especuladores possuem informações e conhecimentos técnicos

privilegiados para que a dinâmica funcione perfeitamente.

2) Os outros: os que não necessariamente têm interesses econômicos. Normalmente

são organizações sem fins lucrativos. Eles são extremamente ativos na organização

de mercados, são peritos e conselheiros sobre como organizar, como o FMI (Fundo

Monetário Internacional) o Banco Mundial, a União Europeia (que especialistas

chamam de mercado interno) entre outros. Eles coordenam o funcionamento

emitindo normas para uma melhor organização dos mercados.

3) Compradores e vendedores: São aqueles que estão envolvidos em mercados

específicos. As relações nessa categoria ocorrem diretamente entre compradores e

vendedores. Esta categoria de compradores e vendedores atua em mercados que são

organizados, em sua grande maioria, por especuladores. Os compradores e

vendedores têm interesses opostos que se completam. Existem dois tipos nessa

categoria de mercado: switch-role markets e fixed-role markets. Em switch-role, os

indivíduos variam entre vendedor e comprador. Ou seja, as funções não são fixas.

Em fixed-role, como o próprio nome pressupõe, as funções são fixas, são

permanentes. Existe um alto risco (perda de tempo e dinheiro, especialização etc.)

caso os fixed-role queiram mudar de função.

No que tange às consequências da organização de mercados, os efeitos estão

constituídos dentro de uma ordem já estabelecida. Praticamente tudo foi previamente pensado

antes para que pudessem se antepor às consequências: a acessibilidade e transparência do

mercado. Dentro deste mesmo processo, está inserido também um grau de instabilidade: os

organizadores sabem que o mercado pode se transformar abruptamente tendo que repensar

regras de jogo com os "choques externos", ou seja, que independem da ação deles. As incertezas

e riscos nos mercados pressupõem a estabilidade desse jogo. Deste modo, a adaptação é

previsível.

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Esse processo foi inicialmente descrito por Giesler (2008) como drama, ou seja,

desempenhos de agência antagônicos por grupos de consumidores e produtores, que

resultam na transformação das características econômicas e competitivas do mercado.

Ao considerar o papel múltiplo dos agentes na criação, na legitimação, e mesmo na

desestabilização do mercado, reforçamos a perspectiva de que a agência dos

produtores e dos consumidores vai além da troca em si, mas também cria normas e

representações que condicionam a construção de um determinado mercado, inclusive

utilizando formas contestáveis (DALMORO; NIQUE, 2017)

Todo o processo que envolve a mercantilização está relacionado à uma centralidade do

mercado como uma instituição. Considerar mercado e organização como opostos pode ser um

equívoco. A organização não precisa de formalidade, e os mercados são formados através da

interação e conflitos entre esses tipos de organizadores6.

Assim sendo, os estudos acerca da Sociologia Econômica, especialmente a Nova

Sociologia Econômica, são fundamentais para analisar as estratégias que se fazem presentes na

dinâmica de mercado no que diz respeito à especulação até a criação de novos nichos. Percebe-

se que o mercado precisa acompanhar o ritmo das mudanças sociais e estruturais que

influenciam a sua manutenção. São fatores externos, como novas práticas de consumo, e fatores

internos, como o afrouxamento e o fortalecimento das redes sociais, que constituem o mercado.

Dos fatores externos, o consumo, desta maneira, representa um significado de uma

tendência: ele passa a reproduzir aspectos do cotidiano de quem o consome, fornecendo meios

pelos quais possam expressar suas identidades, sua integração em grupos e seus status na

sociedade. Em uma sociedade em que o contexto da diversidade está cada vez mais em voga, o

mote das diferenças se transforma em mercadoria. O aparecimento de nichos de mercado

específicos é concomitante ao contexto de busca pela identidade e representação; assim, a

diversidade se destaca e ganha espaço no mercado. As associações, compostas por membros

específicos, constroem estrategicamente a dinâmica de mercado e decidem como acontecerá

todo progresso para chegarem ao fim delimitado. Assim sendo, empresas específicas podem ser

contratadas para tatear o público consumidor e intermediar o contato da empresa com o público-

alvo. Essas empresas são responsáveis por investigar o comportamento de consumo do grupo

que anseia alcançar. Portanto, é perceptível, em práticas modernas de mercado, a presença de

intermediários contratados para mediar gostos e preferências de um público específico e

conectá-los com o mercado.

6 Tradução livre para "Markets are formed by the interplay and conflicts among these types of organizers", de Ahrne, Aspers e Brunsson (2014).

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Dos fatores internos, os mercados se tornam perfeitos precisamente pela imperfeição:

são diversos interesses, disputas, conflitos, identidades em batalha que fazem com que as redes

sociais se desenvolvam. Porém, é também nessas redes que se encontra solidariedade e

confiança. Destarte, caso permaneçam intactas somente com os laços fortes, sem revolver as

estruturas internas de cada rede, o mercado paralisa e perde seu lugar para outros espaços.

Garcia-Parpet (2003) trata dos mercados perfeitos a partir da enunciação proferida por

economistas, sendo elas:

1) Cada agente econômico age como se os preços fossem dados, ou seja, nenhum dos

vendedores ou compradores é forte o bastante para poder exercer uma influência

perceptível sobre os preços (atomicidade);

2) O produto é homogêneo, quer dizer, tem o mesmo uso social, e é identificável

independentemente de seu vendedor (homogeneidade);

3) O mercado é fluido: a entrada ou saída dos trocadores potenciais é livre (fluidez);

4) O mercado é transparente: os agentes econômicos dispõem de um conhecimento

perfeito de quantidades, qualidades e preços dos produtos ofertados (transparência).

Isto posto, é cognoscível que os mercados imperfeitos são precisamente mercados

perfeitos, muito embora quem esteja dentro da disputa pelo espaço não necessariamente

compreenda esses processos como satisfatórios para a manutenção do mercado. Destarte,

ambos os fatores se conectam e influenciam uns aos outros proporcionando o reconhecimento

do público consumidor.

Intrinsecamente as políticas culturais e o mercado são mote para a diversidade ganhar

espaço. Com a competitividade, se faz necessário a atração para o consumo, mesmo quando

muitas vezes o consumo é relacionado pela crítica à mercadorização massiva. Desta maneira,

novos espaços vão surgindo e o Estado passa a assumir o papel de regulador dessas práticas de

mercado. O Estado, deste modo, age elaborando e executando políticas públicas que beneficiem

e desenvolvam o cenário da diversidade, seja financiando a partir de aportes de isenções fiscais,

seja gerando espaços públicos para que a diversidade se desenvolva como identidade. Esses

mecanismos são cruciais para que a heterogeneidade social seja cada vez mais difundida.

Conforme Botelho (2001),

O financiamento é um dos mais poderosos mecanismos para a consecução de uma

política pública, já que é através dele que se pode intervir de forma direta na solução

de problemas detectados ou no estímulo de determinadas atividades, com impactos

relativamente previsíveis. Em outras palavras, para que um sistema efetivo de

financiamento às atividades culturais funcione é obrigatório que se estabeleça uma

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política pública, em que parcerias ¾ tanto entre áreas de governo, num plano

horizontal, quanto entre as três instâncias administrativas, num plano vertical ¾ são

fundamentais para conquistar novas fontes privadas de financiamento.

Consequentemente, para que os incentivos fiscais funcionem é necessário que haja

um clima de recepção favorável a eles na sociedade e, nesse sentido, a postura do

governo com relação à cultura e às artes é fundamental. Os estudos comparativos

sobre a matéria comprovam a importância, junto aos potenciais financiadores

privados, da chancela dada pelo poder público a um determinado projeto ou instituição

através de sua participação financeira, mesmo que seja pequena.

2.2 PANORAMA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS CULTURAIS NO BRASIL

De acordo com o Relatório Mundial de Diversidade Cultural e no Diálogo Intercultural

da UNESCO (2009), a diversidade cultural suscita um grande interesse a partir do século XXI

estando diretamente relacionada à interação entre culturas desenvolvidas a partir de um

processo de globalização. Após a promulgação da constituição de 1988, começava de fato uma

nova história no Brasil. As primeiras eleições diretas seriam realizadas após duas décadas de

intervenção militar no país. A política governamental passou a colocar a cultura no centro do

projeto de desenvolvimento do país logo após o Regime Militar vivido entre os anos 1964 e

1985. O então presidente em exercício, José Sarney, assinou o decreto argumentando a criação

do ministério considerando o crescimento econômico e demográfico do país, a expansão da

rede escolar e universitária e a complexidade cada vez maior da questão educacional que

tornava cada vez mais dificultoso o trabalho de dois campos simultaneamente no mesmo

ministério, ou seja, a educação e a cultura. A criação do Ministério da Cultura traria uma maior

autonomia e democratização a setores que só puderam ser descobertos com a expansão

educacional. Deste modo, de acordo com o decreto de nº 91.144, de 15 de março de 1985,

formalizou-se a criação do Ministério da Cultura no Brasil, popularmente conhecido como

MinC (BRASIL, 1985). As competências atribuídas ao ministério seriam divididas em duas,

sendo a primeira referente às letras, artes, folclore e formas de expressão da cultura nacional, e

segunda estaria relacionada ao patrimônio histórico, arqueológico, artístico e cultural. Outros

órgãos, antes ligados diretamente ao Ministério da Educação e Cultura, migraram para o MinC,

como o Conselho Federal de Cultura (CFC), o Conselho Nacional de Direito Autoral (CNDA),

o Conselho Nacional de Cinema (CONCINE), a Secretaria de Cultura, a Empresa Brasileira de

Filmes S/A (EMBRAFILME), a Fundação Nacional de Arte (FUNARTE), a Fundação

Nacional Pró-Memória (PRÓ-MEMÓRIA), a Fundação Casa Rui Barbosa e, por fim, a

Fundação Joaquim Nabuco. Esses órgãos foram fundamentais para embasar a necessidade de

autonomia para a formulação do Ministério da Cultura. É importante mencionar que, antes da

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criação do Ministério da Cultura, José Sarney, quando ainda era senador em 1972, apresentou

o projeto de lei que oferecia incentivos fiscais para instituições privadas que investissem em

cultura. O projeto, que ficou conhecido com Lei Sarney, não foi aprovado, porém, um ano após

a sua posse como presidente da república, em 1986, quando o MinC já estava criado sob a

gestão de Celso Furtado, a Lei Sarney foi efetivamente promulgada.

No dia 15 de novembro de 1989, por acaso dia da proclamação da república, foi

divulgada uma recomendação da UNESCO sobre a salvaguarda da cultura tradicional e popular,

a qual foi determinada na Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a

Educação, a Ciência e a Cultura, em Paris nos dias 17 de outubro e 16 de novembro de 1989

(UNESCO, 1989). Ratificava-se, portanto, o caráter que ocupa a cultura contemporânea se

igualando à importância social, econômica e política. O objetivo da conferência estava em

destacar aos governantes a importância de criação de políticas públicas culturais que

valorizassem as culturas tradicionais que estariam sendo perdidas com o tempo.

Na gestão de Collor, em 1990, uma de suas primeiras decisões políticas se deu pela

extinção de todas as instituições e órgãos culturais no Brasil. Desta maneira, o Ministério da

Cultura, MinC, recém-criado, foi transformado em Secretaria de Cultura. O presidente da

república convidou então Sergio Paulo Rouanet para ser Secretário de Cultura. Dentre as

principais políticas culturais do período, estão a criação do Instituto Brasileiro de Arte e Cultura,

o IBAC, que seria responsável pela Funarte, a Fundacen, que é a Fundação Nacional de Artes

Cênicas, e a FCB, a Fundação do Cinema Brasileiro. Sob a gestão de Sergio Paulo Rouanet, a

Lei Sarney é reformulada e se transforma na Lei Rouanet, que prevê incentivos fiscais às

empresas que investirem e divulgarem a cultura. A lei se estabeleceu, portanto, inserida no

Pronac, Programa Nacional de Apoio à Cultura:

LEI Nº 8.313, DE 23 DE DEZEMBRO DE 1991 - Restabelece princípios da Lei n°

7.505, de 2 de julho de 1986, institui o Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac)

e dá outras providências.

Art. 1° Fica instituído o Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac), com a

finalidade de captar e canalizar recursos para o setor de modo a: I - contribuir para

facilitar, a todos, os meios para o livre acesso às fontes da cultura e o pleno exercício

dos direitos culturais; II - promover e estimular a regionalização da produção cultural

e artística brasileira, com valorização de recursos humanos e conteúdos locais; III -

apoiar, valorizar e difundir o conjunto das manifestações culturais e seus respectivos

criadores; IV - proteger as expressões culturais dos grupos formadores da sociedade

brasileira e responsáveis pelo pluralismo da cultura nacional; V - salvaguardar a

sobrevivência e o florescimento dos modos de criar, fazer e viver da sociedade

brasileira; VI - preservar os bens materiais e imateriais do patrimônio cultural e

histórico brasileiro; VII - desenvolver a consciência internacional e o respeito aos

valores culturais de outros povos ou nações; VIII - estimular a produção e difusão de

bens culturais de valor universal, formadores e informadores de conhecimento, cultura

e memória; IX - priorizar o produto cultural originário do País (BRASIL, 1991).

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Em 1994, Fernando Henrique Cardoso foi eleito e, em 1995, assumiu a presidência da

república. O Ministério da Cultura passou a ser gerido por Francisco Weffort, que acabou

evidenciando o caráter neoliberal iniciado no governo anterior incumbindo à iniciativa privada,

através das leis de isenções fiscais, sobre o que deveria ou não receber recursos públicos para

fomentar a cultura. O slogan que ratificava o neoliberalismo em todos os âmbitos políticos do

governo FHC era: “Cultura é um bom negócio”. Esse chamariz era a forma de fazer política

do governo, destacando a cultura como moeda de troca, como comércio. Assim sendo, para

Calabre (2007), a Lei Rouanet se tornou um importante instrumento de marketing cultural das

empresas patrocinadoras chegando, o capital privado, a ter 100% de abatimento nas isenções

fiscais. Foram dois mandatos consecutivos de estado-mínimo que o governo passava para a

iniciativa privada a decisão sobre o financiamento e como seria realizado essa assistência à

cultura. Os recursos públicos, portanto, destinados à fomentação da cultura foram sendo

investidos no setor privado para que propagassem a cultura. O Estado entrava somente com o

aporte financeiro. Ao mesmo tempo, era positivo para a empresa ter seu nome relacionado ao

incentivo da cultura. Assim sendo, a lógica de propagação da cultura deixou de ser papel do

Estado, uma vez que este passou essa responsabilidade para o setor privado. Em discurso na

entrega do prêmio da Ordem do Mérito Cultural, o presidente FHC, ratificando seu apoio ao

empresariado, proferiu:

“Aqui nós estamos homenageando empresários. Pode parecer: mas por que

empresários, se é uma festa da cultura? Porque no mundo moderno quem se dedique,

primeiro, às vezes, como empresário da cultura, mas sobretudo, como alguém que,

sendo empresário se abre à cultura, ajuda, portanto, o florescimento da cultura, é parte

desse mundo cultural” (AGÊNCIA ESTADO, 2002).

Os dados do Brasil na década de 1990 apresentam o setor cultural como parte

fundamental de movimento da economia do país. Percebe-se que o mercado de trabalho

cultural, no qual estão inseridos meios de comunicação de massas (rádio e TV, indústria gráfica

e comércio de jornais), sistemas restritos de informação, artes e cultura de elite, patrimônio e

cultura popular (bibliotecas, artesanato), espetáculo vivo e atividades artísticas (música, artes e

espetáculos, cinema, apoio técnico), educação e esportes, começou a inchar. Porém, com a

promoção da cultura, surgiu o desenvolvimento da subjetividade. Os meios de comunicação

ditavam conceitos culturais a partir de uma lógica única de mercado. Quando políticas públicas

culturais passaram a incentivar a problematização da questão da identidade, procurando

promovê-la, somado ao desenvolvimento tecnológico e ao uso da internet, esses espaços

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começaram a se segmentar para dar entrada ao empreendedorismo cultural. Fazer cultura era,

sobretudo, um ato político, um ato de luta e de resistência.

O financiamento na área da cultura está fundado em três leis: A Lei nº 8.313, de

dezembro de 1991 (a Lei Rouanet), atualizada pelo Decreto nº 1.494, de maio de 1995, criou o

Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac) estando baseadas em três pilares: o Fundo

Nacional da Cultura (FNC), os Incentivos a Projetos Culturais e o Fundo de Investimento

Cultural e Artístico (Ficart). Segundo o relatório Economia e Política Cultural do MinC

(SILVA, 2007), os recursos financiados pelas leis de incentivo praticamente correspondem a

mais da metade dos recursos públicos federais, onde de 17.356 projetos apresentados entre 1996

e 2000, 77,5% foram aprovados e somente 30% conseguiram a captação. No incentivo à cultura

para dedução de impostos das empresas, dos R$ 4.121,6 bilhões aportados à cultura pelo

mecanismo do incentivo fiscal, R$ 2,06 bilhões foram de renúncias fiscais e a outra metade foi

exposta pelo adicional do empresariado.

É importante atentar para o fato de que o comportamento dos empresários e dos

recursos fiscais é condicionado pela dinâmica econômica e os recursos incentivados

dependem, em muito, tanto da disposição em investir na cultura quanto do ciclo de

crescimento. Da mesma forma, o aumento dos recursos orçamentários para a

revitalização e ampliação das instituições públicas federais nas suas capacidades de

operação na área cultural, embora central, não envolve simplesmente o apreço ou

desapreço dos administradores públicos pelas coisas da cultura. A ampliação dos

recursos depende, por um lado, das estratégias gerais do governo com relação a

variáveis macroeconômicas e, por outro lado, envolve a ampliação da capacidade de

gasto e de melhor uso dos recursos orçamentários por parte das instituições públicas

culturais (SILVA, 2007).

Gráfico 1: Evolução dos dispêndios Culturais: 1995 – 2002.

Fonte: Silva (2007).

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De 1992 a 2001, a participação da cultura no mercado, muito por incentivo da

iniciativa privada, subiu 0,7%. Em relação à cultura como emprego, no mesmo período, o

mercado cultural possuía 3 milhões e 339 mil ocupações e, em 2001, esse número subiu para

mais de 4 milhões. Outro ponto importante do relatório sobre Economia e Política Cultural

(SILVA, 2007) é que a pesquisa registrou um certo dinamismo no mercado de trabalho cultural,

que teve um incremento de um milhão de ocupações na última década, ocupando a educação

56,8% do mercado cultural – o que ratificava o que fato de o consumidor cultural ser constituído

por um público de alta escolaridade. Porém, no que tange à presença de mulheres e homens, a

pesquisa comprovou que, entre 1992 e 2001, aumentou consideravelmente o espaço da mulher

na cultura. Já em relação à raça, a participação de negros, contudo, teve um pequeno

crescimento após movimentos em defesa dos interesses da população negra. Deste modo, em

1995, a Marcha Zumbi dos Palmares, contra o racismo, ganhou destaque no cenário cultural

fazendo com que o poder público passasse a ter novas iniciativas a favor das minorias.

Tabela 1: Mercado de Trabalho Cultural no Brasil, 1992 – 2001.

Fonte: Silva (2007).

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Tabela 2: Escolaridade das atividades culturais por raça, 1992 – 2001.

Fonte: Silva (2007).

Tabela 3: Rendimento das atividades culturais por raça, 1992 – 2001.

Fonte: Silva (2007).

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A pesquisa salienta que, embora diversas mobilizações sociais acontecessem, de um

modo geral não houve muita mudança no mercado cultural, uma vez que o empresariado,

acomodado aos recursos governo, fomentou somente o que lhe interessava. Porém, destaca-se

que, com o progresso da educação e a mobilização de diversos setores estigmatizados na

sociedade, estimulou programas de governo a acentuar a valorização das minorias na disputa

pela presidência nas eleições seguintes.

Todo este contexto é resultante dos acontecimentos ocorridos no século XX no Brasil

e no mundo, como o reconhecimento de uma identidade cultural, a influência da

industrialização no nacional-desenvolvimentismo, os movimentos estudantis na década de 1960

e a repressão que gerou descontentamento coletivo e que se uniram aos movimentos operários

por melhores condições de trabalho e melhores salários. A conferência da Unesco realizada em

Paris em 1970 acabou por influenciar o investimento em políticas culturais mesmo em período

ditatorial no Brasil. A Unesco então se organizou, a convite de representantes políticos, no

Brasil, para compreender os problemas e os rumos culturais dado o cenário mundial. Este

encontro foi importante para promover uma retomada de um governo democrático

reformulando a carta magna do país na consolidação de um Ministério da Cultura. Destarte,

passado esse período, principalmente no que tange à economia, a cultura passou a ter destaque

ao se associar diretamente a esta esfera criando base de incentivos fiscais para que empresas

pudessem desenvolver a cultura no país. O PT, forte aliado em defesa das minorias e contra as

desigualdades, passou a pensar em alternativas para que a inserção de minorias na educação

fomentasse a cultura, como foi o caso das cotas. Essa conjuntura é fundamental para entender

o momento em que Lula, ex-operário, assume a presidência da república. De acordo com

Botelho (2001),

Hoje, parece claro que a democratização cultural não é induzir os 100% da população

a fazerem determinadas coisas, mas sim oferecer a todos - colocando os meios à

disposição - a possibilidade de escolher entre gostar ou não de algumas delas, o que é

chamado de democracia cultural. Como já mencionado, isso exige uma mudança de

foco fundamental, ou seja, não se trata de colocar a cultura (que cultura?) ao alcance

de todos, mas de fazer com que todos os grupos possam viver sua própria cultura. A

tomada de consciência dessa realidade deve ser uma das bases da elaboração de

políticas culturais.

De acordo com o programa de cultura do PT, Uma Imaginação a Serviço do Brasil

(2002), torna-se impossível elaborar um projeto sem ouvir de perto as diferentes expressões

culturais do Brasil. Fica claro, portanto, que para formular um novo Projeto Nacional para o

Brasil, é necessário estabelecer debate sobre a diversidade de forma a que fosse recuperada a

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autoestima dos brasileiros, contribuísse para a inclusão social, rompesse com o apartheid

cultural e ratificasse a imagem do Brasil como identidade nacional diante das demais culturas

no mundo. A agenda propunha contemplar um conjunto de temas que propiciaram orientar a

formulação de um Projeto de Políticas Públicas de Cultura para o Brasil, que tinha como eixo

a cultura como política de Estado; economia e cultura, gestão democrática, direito à memória;

cultura e comunicação; transversalidade das políticas públicas de cultura. No que se refere à

economia e à cultura ao programa de governo, fica claro que para a gestão PT é impossível

disseminar um plano de cultura pelo Brasil sem pensar nas consequências que a globalização

traz. À vista disso, a economia da cultura é de desenvolvimento humano, gerando empregos e

renda, além de ser também fator de inclusão social. Em relação ao financiamento das Políticas

Públicas de Cultura, as leis de incentivo fiscais seriam reformuladas, além da ampliação das

linhas de crédito das agências financeiras públicas para fomentar a produção cultural no país,

como o BNDES, CEF e Banco do Brasil, reforçando a ideia de que o programa de políticas

públicas para a cultura estaria em total sintonia com o novo Projeto Nacional Democrático e

Popular.

Portanto, foram estabelecidos nove pontos-chaves na proposta de economia da cultura:

ampliar os recursos do FNC; estabelecer, em debate com a sociedade, um processo de transição

que diversifique as fontes de financiamento da produção e difusão cultural ampliando as fontes

orçamentarias de investimento, produzindo transparência e participação democrática,

descentralizando recursos à somente uma região do Brasil (vale lembrar que no governo FHC

era concentrada principalmente na região sudeste), democratizando e facilitando o acesso de

produtores, artistas e grupos culturais aos recursos públicos de incentivo à cultura; implementar

com o IBGE e o IPEA secretarias de cultura, instituições com foco na promoção de cultura,

associações e sindicatos espalhados pelo Brasil e uma Rede de Informações Culturais voltada

para a produção de dados estatísticos culturais (censo cultural) gerando um banco de dados que

dê suporte ao Estado, sociedade e mercado; investir em ações de apoio aos autores nacionais

defendendo o direito autoral; estimular a produção e comercialização do artesanato regional

brasileiro; investir fortemente na política de intercâmbio expressando a circulação de bens e

serviços no mercado internacional: produção artesanal, artes plásticas, design, música,

audiovisual, teatro, dança e literatura como elemento estratégico na modificação da imagem do

Brasil frente a outros países; financiar programas e projetos que contribuam para a diversidade

da identidade cultural brasileira, retirando do mapa a imagem negativa do Brasil de ser um país

de turismo sexual, deste modo, incluindo o turismo cultural.

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Assim sendo, Lula começa a governar sob a premissa de diminuir as desigualdades

sociais, para isso, um plano de cultura que beneficiasse principalmente os outsiders da

sociedade se tornava evidente. O modelo de gestão firmado no início de seu governo pregava

um Estado mais presente e participativo na sociedade. De acordo com Reis (2008) o documento

de campanha elaborado pelo Partido dos Trabalhadores indicava o compromisso do futuro

presidente com a cultura onde a reconhecia como "direito básico", igualando, desta maneira,

com a saúde, educação e economia. O Slogan do governo (Brasil: um país de todos) assinalava

também a preocupação com a valorização da diversidade no país já que a dimensão das

desigualdades demonstrava a infinidade de culturas inseridas em um mesmo território. Percebe-

se na gestão de Lula que o progresso de uma sociedade de milhões de habitantes estava

concatenado ao acesso que todos deveriam ter, respeitando as diferenças para criar artifícios de

ascensão para os mais oprimidos socialmente.

De caráter popularizante, a era Lula é fundamental para se conceber a cultura como

instrumento mobilizador da sociedade. Neste cenário, captaram que é através do acesso a ela

que um povo se desenvolve economicamente. Deste modo, a consolidação de uma política

acessível a todos se realiza a partir do reconhecimento da diversidade. Para Lima (2016), todo

o programa de 2002 é atravessado pela presença de uma agenda desdobrada da experiência em

gestão, principalmente as municipais, entre 1982, com a gestão do ferramenteiro Gilson

Menezes como prefeito eleito pelo PT em Diadema, grande São Paulo, e o final da década de

1990. Uma das pautas mais trabalhadas nesse período, inserida no plano de governo do PT em

2002, é referente ao Sistema Nacional de Política Cultural, renomeado como SNC, que

procurava facilitar para povos estigmatizados a inserção social a partir de abertura para canais

e institucionais do governo no campo da cultura. Essa medida, além de facilitar a comunicação,

quebrava uma barreira institucional entre a periferias e favelas ao governo.

Lula então nomeou para o cargo de ministro da Cultura o músico Gilberto Gil, que,

para além de artista, é formado em administração de empresas pela Universidade Federal da

Bahia, foi presidente da Fundação Gregório de Matos (FGM), que é responsável por formular

e executar a política cultural do Município do Salvador, e também responsável pela

administração de espaços culturais soteropolitanos em Salvador permanecendo no cargo entre

1987 e 1988. Foi também vereador pela Câmara Municipal de Salvador entre 1989 e 1992.

Quando nomeado ministro da Cultura, percebeu a necessidade de reformular políticas culturais

para o MinC. De acordo com Reis (2013), Gil começou a reivindicar em seus discursos um

Estado mais presente no que tange à cultura nacional e que deveria ser de responsabilidade da

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esfera federal ampliar a área de atuação. Toda a sua atuação no início desse processo se deu por

todo seu capital adquirido nas décadas anteriores, como sua experiência na FGM. Portanto, no

início de sua gestão, o Sistema Nacional de Cultura, agora repensado como um modelo de

gestão e promoção de políticas públicas de cultura para a democratização do setor, é aderido

aos estados e municípios de todo o Brasil

Esta Conferência, portanto, tem raízes em um longo processo histórico; mas resulta

diretamente da confecção participativa do texto 'A imaginação a serviço do Brasil',

que atualmente orienta a ação do Ministério da Cultura. Construído a partir de

reuniões realizadas em várias regiões do país, o programa da Coligação Lula

Presidente para a cultura foi um bálsamo revigorante. Artistas, produtores e gestores

culturais voltaram a se encontrar, a debater as questões da cultura e a participar

ativamente de uma eleição. Militantes do PT e eleitores de Lula acordaram

definitivamente para o papel estratégico que a cultura pode desempenhar na

construção de uma sociedade mais justa, calorosa e tolerante. Parte da esquerda

mudou a maneira como se acostumou a encarar a cultura, abdicando de tê-la

meramente como transmissora fiel da 'linha justa'. (Ministro Gilberto Gil na abertura

da Conferência Nacional de Cultura do PT7)

Como o desafio que se concentrava na dificuldade em tirar o Ministério da Cultura do

lugar onde estava e aproximar mais ao dia a dia dos brasileiros, Gilberto Gil procurou

reformular a estrutura do Ministério da Cultura, em agosto de 2003, através do Decreto n°

4.805. A proposta era de integrar as secretarias às políticas do Estado. De acordo com Calabre

(2014), foram criadas as secretarias de Articulação Institucional; Políticas Culturais; Programas

e Projetos Culturais; Identidade e Diversidade Cultural; Fomento e Incentivo Culturais. A única

que permaneceu foi a de Audiovisual. Na tentativa em adequar o antigo estado mínimo às

propostas da esquerda, o novo MinC procurava aproximar as leis de incentivos fiscais à

realidade brasileira fazendo com que o Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC) fosse

integrado por empresários que investem no setor cultural, sociedade civil, Estado e

representantes de artistas do audiovisual, humanidades, artes cênicas, artes visuais, patrimônio

e música. Estão diretamente vinculadas ao CNIC8: a Fundação Nacional das Artes (Funarte),

Fundação Biblioteca Nacional (FBN), Fundação Casa Rui Barbosa (FCRB), Fundação Cultural

Palmares (FCP), Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) - Presidente do

7 Esta conferência foi realizada ainda no primeiro ano de mandato do presidente Lula, em novembro de 2003, ratificando o caráter democrático da política cultural que se iniciava no governo PT. Disponível em: <http://www.cultura.gov.br/discursos/-/asset_publisher/DmSRak0YtQfY/content/ministro-da-cultura-gilberto-gil-na-abertura-da-conferencia-nacional-de-cultura-do-pt-35958/10883> Acesso feito em: 16-02-2018 8 É um órgão do colegiado que tem, entre o outras, a função de subsidiar as decisões do Ministério da Cultura (MinC) na aprovação dos projetos culturais submetidos para captação via renúncia fiscal da Lei Rouanet. Sobre a sigla, ver “Abreviaturas”. Disponível em: <http://www.cultura.gov.br/politicas10/-/asset_publisher/kHqv1HO4JpWb/content/cnic-analisa-mais-de-700-projetos-culturais-650570/10895> Acesso feito em: 19-02-2018

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Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Estaduais da Cultura. O CNIC tem como objetivo

maior propor critérios baseados nas diretrizes e prioridades estabelecidas pelo Conselho

Nacional de Política Cultural (CNPC) através do incentivo fiscal, além de aprovar as propostas

de orçamentos dos recursos do Procultura, verificar sua execução e aprovar ou reprovar projetos

inseridos na Lei Rouanet de incentivos fiscais. A organização desta comissão foi fundamental

para articular e economizar a partir de critérios que só quem é relacionado ao campo de política

cultural pode estabelecer, indo muito além do vínculo Estado-empresariado que o governo

anterior propunha. Desta maneira, facilitava evitando possíveis fraudes. Segundo Botelho,

O financiamento da cultura não pode ser analisado independentemente das políticas

culturais. São elas que devem determinar as formas mais adequadas para serem

atingidos os objetivos almejados, ou seja, o financiamento é determinado pela política

e não o contrário. Mesmo quando se transferem responsabilidades para o setor

privado, isso não exclui o papel regulador do Estado, uma vez que se está tratando de

renúncia fiscal e, portanto, de recursos públicos [...] Os problemas existentes hoje no

Brasil, quanto à captação de recursos via leis de incentivo fiscal, relacionam-se ao fato

de produtores culturais de grande e pequeno portes lutarem pelos mesmos recursos,

num universo ao qual se somam as instituições públicas depauperadas, promovendo

uma concorrência desequilibrada com os produtores independentes. Ao mesmo

tempo, os profissionais da área artístico-cultural são obrigados a se improvisar em

especialistas em marketing, tendo de dominar uma lógica que pouco tem a ver com a

da criação.

Deste modo, a partir do CNIC, foram elaborados e publicados pelo Ipea e IBGE

relatórios que procuravam mapear e entender a economia da cultura e como se relacionava em

diversas áreas do país. De acordo com pesquisa realizada pelo Ipea, as despesas culturais por

esfera do governo, em 2003, mostram que, do total de 2.157 bilhões, os municípios são

responsáveis por 52,6% dos gastos, os estados da federação por 34,6% e a União por 12,8%. E

entre os 52,6% da esfera municipal, o maior investimento ocorria na região sul, com 67%,

seguido pela região sudeste, com 61,9%, e pela região nordeste, com 55,1%, como mostram a

figura e a tabela abaixo.

Figura 1: Distribuição dos dispêndios culturais por esfera de governo em 2003.

Fonte: Silva (2007).

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Tabela 4: Dispêndios culturais por tamanho do município – 2003.

Fonte: Silva (2007).

Destaca-se, desta maneira, a concentração no investimento entre Rio de Janeiro e São

Paulo que, juntos, representavam 20% das despesas municipais, demonstrando que a dinâmica

cultural também se encontrava no mesmo eixo. Via-se, no primeiro ano de governo Lula, a

necessidade em investir em outras áreas do país para que a cultura fosse difundida.

No mesmo período, percebeu-se que a participação dos gastos com cultura das classes

D e E é bem maior no audiovisual do que no que se refere aos outros equipamentos culturais,

já que o audiovisual representa uma escolha padronizada, previamente decidida por outras

instâncias e não por quem realmente a consome. Outro ponto a ser observado nestes dados é o

consumo da indústria fonográfica pelas classes D e E. O acesso às rádios é um dos meios mais

econômicos para se consumir a cultura. Deste modo, a partir deste dado, é possível compreender

a ascensão de alguns segmentos culturais como meio de expressão popular através da música.

Essa pesquisa foi fundamental para pensar as estratégias a partir do que as classes D e E

costumavam consumir em cultura (Gráfico 2).

O consumo de bens culturais mantém relações estreitas com as desigualdades sociais

e culturais. Não ser dotado de capital econômico implica alta probabilidade de

desapossamento do gosto e dos habitus de consumo de certos bens de cultura, ou seja,

implica uma grande possibilidade de desapossamento cultural. [...] As classes D/E

desfrutam de outro padrão de consumo. Seu segundo maior gasto depois de

audiovisual é com bens da fonografia, depois leitura, “outras saídas”,

microinformática e, finalmente, espetáculo vivo, artes e cinema. Portanto, o consumo

aqui é pouquíssimo direcionado aos bens das belas artes e letras, com ligeira exceção

aos conteúdos da mídia impressa a qual acessam (SILVA, 2007).

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Gráfico 2: Composição do consumo cultural por estrato de renda.

Fonte: Silva (2007).

O programa Cultura Viva, através da Portaria Ministerial nº 156/ (BRASIL, 2004b),

deste modo, foi uma das principais atuações da gestão Gilberto Gil nos primeiros anos de

governo para democratizar, popularizar e manter tradições de culturas locais. Em setembro de

2004, em encontro com artistas em Berlim, na Alemanha, o ministro da Cultura promoveu a

importância do fomento à cultura a partir da implementação do programa Cultura Viva em sua

gestão a partir de pontos de cultura espalhados pelo país.

Não falo de dar o peixe, nem de ensinar a pescar. Falo de potencializar a pesca que se

faz há muito tempo, em especial nas áreas de risco social, nos territórios de

invisibilidade, nos grotões e nos guetos das grandes cidades brasileiras, onde pulsa

uma cultura e uma arte tão fortes, mas tão fortes, que não há miséria, não há

indigência, não há descaso ou violência que as façam calar. Ao contrário. Elas

crescem, elas se consolidam, elas se desdobram e interagem com outras

manifestações, influenciando diretamente a cultura da esfera midiática e nacional

(BRASIL, 2004). 9

Inserido dentro do programa Cultura Viva estava Pontos de Cultura, que de certa forma

objetivavam o caráter do programa. De acordo com Gil, portanto, Pontos de Culturas seriam

amplificadores das expressões culturais de cada comunidade. O MinC entrou com recursos e

treinamento de monitores e articulação institucional com o objetivo de promover a inserção

9 O ministro da cultura Gilberto Gil durante encontro com artistas em Berlim na Alemanha fez essa afirmação em pronunciamento sobre os programas de cultura em sua gestão. Disponível em: <http://www.cultura.gov.br/discursos/-/asset_publisher/DmSRak0YtQfY/content/ministro-da-cultura-gilberto-gil-sobre-o-programa-nacional-cultura-educacao-e-cidadania-cultura-viva-durante-encontro-com-artistas-em-berlim-36714/10883> Acesso feito em: 20-02-2018

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comunitária e destacar perante ao cenário nacional a importância da manutenção de culturas

locais. As comunidades seriam gestores e usuários ao mesmo tempo e, deste modo, moldariam

a cultura comunitária à realidade e dariam artifícios para que ela se promovesse ao invés de

moldar a realidade de quem compunha. Gil atentou para o fato de que este programa iria

promover uma “revolução silenciosa” no país invertendo o fluxo dos processos histórico. De

acordo com o documento sobre os pontos de cultura, os objetivos eram: ampliar e garantir o

acesso da população brasileira aos meios de fruição, produção e difusão cultural; promover

pactos com atores sociais governamentais e não-governamentais, visando à valorização da

cultura local; incorporar referências simbólicas e linguagens artísticas ao processo de

construção da cidadania; ampliar a capacidade de apropriação criativa do patrimônio cultural

pelas comunidades e pela sociedade brasileira como um todo; potencializar energias sociais e

culturais, dando vazão às dinâmicas próprias das comunidades para o desenvolvimento de uma

cultura cooperativa, solidária e transformadora; desenvolver a base de uma rede horizontal, de

alcance nacional, de "transformação, invenção, de fazer e refazer, no sentido da geração de uma

teia de significações que nos envolve a todos"; estimular a exploração, o uso e a apropriação

dos códigos de diferentes meios e linguagens artísticas e lúdicas nos processos educacionais.

O público-alvo se concentrava basicamente nas periferias: estudantes, adolescentes,

jovens e adultos em situação de vulnerabilidade social e econômica. Agentes culturais, artistas

e produtores, pessoas relacionadas à educação, militantes que produzissem ações a favor da

inclusão cultural e social. Os princípios, ou conceitos, expressavam a necessidade de

horizontalizar a articulação e propagação de movimentos que estimulassem a produção cultural.

Os pontos de cultura seriam a conexão entre o poder público, o Estado, e a comunidade estando

a gestão correlacionada ao PPP (parceria público-privada) a nível local. Em relação à

funcionalidade dos pontos de cultura e seu público, estavam jovens do hip hop, voluntários da

comunidade local, contadores de histórias, artistas inquietos e toda gente que lutava por uma

vida melhor na periferia. O espaço teria uma dimensão de experimentação para novas

perspectivas a serem atravessadas a partir da cultura, da tradição e da memória.

A adesão aos pontos de cultura dar-se-ia por meio de editais e o suporte do Ministério

da Cultura, além do aporte financeiro, o acompanhamento e a manutenção para a valorização

desses pontos que estariam estabelecidos em lugares estratégicos no Brasil, podendo ser em

casas ou barracões que promovessem culturas, populares, afro-brasileiras, indígenas, de gênero,

de orientações sexuais, das periferias, da mídia audiovisual, das redes virtuais entre outras.

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Outro projeto relevante para o cenário político cultural no Brasil é o Plano Nacional

de Cultura (PNC), previsto no artigo 215 da Constituição Federal (BRASIL, 1988), elaborado

com o objetivo de orientar o Estado na formulação de políticas públicas culturais para a

promoção de ações e projetos no âmbito da cultura e preservação da diversidade cultural. Ele

foi reformulado para a gestão PT em 2005. De acordo com o MinC (BRASIL, s/d.), os eixos

que norteiam o PNC se baseiam em três dimensões de cultura que se complementam: a cultura

como expressão simbólica, a cultura como direito de cidadania e a cultura como potencial para

o desenvolvimento econômico. Ressalta-se no Plano a necessidade de fortalecer os processos

de gestão e participação social, divididos em: Estado, da diversidade, acesso, desenvolvimento

sustentável e da participação social. O Plano de cultura tem 36 estratégias, 275 ações e 53 metas.

Assim sendo fundado na Constituição Federal de 1988, o PNC se torna um compromisso da

gestão de Gilberto Gil.

Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso

às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das

manifestações culturais.

§ 1º O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-

brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional.

§ 2º A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta significação para os

diferentes segmentos étnicos nacionais.

§ 3º A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração plurianual, visando

ao desenvolvimento cultural do País e à integração das ações do poder público que

conduzem à:

I - defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro;

II - produção, promoção e difusão de bens culturais;

III - formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura em suas múltiplas

dimensões;

IV - democratização do acesso aos bens de cultura;

V - valorização da diversidade étnica e regional (BRASIL, 1988).

Para além de outros projetos da gestão Gil no período de presidência de Lula, o projeto

Cultura Viva talvez seja o que mais representa, juntamente à reformulação do PNC, o novo

modelo de investir e pensar a cultura no Brasil nos últimos 15 anos, o qual é fundamental para

compreender a dinâmica de mercado que nasce a partir desses investimentos em políticas

públicas culturais no Brasil, promovendo um investimento econômico para abertura de crédito

no empreendedorismo cultural. Deste modo, é importante pontuar que este cenário nasce de

dois pontos: o governo promove a diversidade no âmbito cultural e, ao mesmo tempo, abre

crédito no setor econômico, fazendo com que o encontro deles aconteça e o setor cultural se

torne um importante meio de fazer girar a economia criando acesso ao crédito e a oportunidade

de empresas se estabelecerem no mercado a partir da criação de novos nichos.

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A Noix, desta maneira, ganha destaque no marketing criativo ao se estabelecer em um

cenário de diversidade e investimento econômico no momento em que as cidades recebiam

diversos aportes financeiros do Estado, especialmente o Rio de Janeiro, para sediarem

megaeventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, fazendo da cultura não só a pauta da

diversidade, mas também do turismo baseado na inclusão social. Portanto a Noix age como um

fio condutor da marca aos consumidores ao mesmo tempo em que alcança status com a

visibilidade do trabalho realizado para grandes marcas. Agora não é sobre o terceiro setor nem

ONGs que designam onde devem ser aplicados os recursos para promover a inclusão da

população estigmatizada. É sobre empresas que enxergam nessa população um meio de dar

visibilidade à sua marca, uma vez que, com a incentivo à diversidade, a população

estigmatizada deixa de ser invisível para o Estado e para o mercado. Utilizando o consumo

periférico como meio para essa visibilidade, o trabalho de marketing dessas empresas se faz

necessário para que contribuam na promoção da marca à medida que divulgam uma proposta

de acessibilidade De acordo com a American Marketing Association10, “marketing é o processo

de planejamento e execução da concepção, da definição de preço, da promoção e da distribuição

de ideias, produtos, serviços, organizações e eventos para criar trocas que irão satisfazer os

objetivos das pessoas e empresas”. Segundo Reis (2003),

No lado das empresas, a confirmação de novos valores empresariais (marcadamente

manifesto pela difusão da responsabilidade social) uniu-se ao questionamento mais

crítico dos consumidores, promovendo uma reviravolta nas antigas atitudes de setores

empresariais. [...] Quando a sociedade é composta por ao menos parcelas de

consumidores conscientes, defensores de seus valores, orgulhosos de sua cultura, a

participação de uma empresa em atividades culturais passa a ser um excelente fator

gerador de empatia. Durante a onda de privatizações dos anos 90 essa tendência ficou

muito clara, com o afã com que empresas estrangeiras, recém instaladas no país,

abraçaram o patrocínio de projetos culturais, angariando a simpatia do governo, de

parceiros e clientes cobiçados, de distribuidores e eventuais acionistas, de

funcionários atuais e potenciais. Mais do que incentivadoras de projetos culturais, as

empresas contemporâneas defendem seu envolvimento com a área cultural como parte

de sua postura socialmente responsável.

Assimilando essas questões, procuro identificar as mudanças ocorridas no campo da

cultura na legislação brasileira, bem como o investimento em políticas públicas culturais. Além

das constituições, identifiquei também processos que ocorriam a partir de uma transformação

na cultura mundial, deste modo, influenciando diretamente o Brasil. Fazendo o recorte da

plataforma Noix: Fazedores e Makers como fomentadores no mercado da diversidade, a minha hipótese

10 Disponível em: <https://www.ama.org/Pages/default.aspx> Acesso em: 20-02-2018

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se concentra na possibilidade de que a criação de novos nichos no mercado que promovem a diversidade

na cultura está diretamente relacionada ao investimento do governo em políticas culturais dos últimos

15 anos.

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3 RESULTADOS

Neste capítulo da dissertação serão apresentados os balanços e resultados bem como

uma análise geral das entrevistas até aqui realizadas a partir da criação de novos nichos de

mercado baseados no conceito de diversidade social. Para tal, foram realizadas dez entrevistas,

respectivamente com RB, BL, Amnah Asad do criativo Noix, rapper Dory de Oliveira,

representante da Billion Vibez, representante do Brechó Rua e Vida, a rapper Yas Werneck,

representante do Kenga Wear, Brexixe, representante da ANTCO. Todas as entrevistas foram

realizadas virtualmente referentes ao Festival Rider #DáPraFazer de março de 2017 e do

Festival Rider #DáPraFazer de março de 2018. A princípio seriam entrevistadas doze pessoas,

entre colaboradores do evento, fazedores, além de uma figura-chave para compreender o

desenvolvimento da temática cultura e mercado no Brasil. Entretanto, até a realização deste

tópico, não obtive um feedback. É importante, porém, salientar que todos os entrevistados aqui

mencionados foram peças fundamentais para a compreensão do Festival Rider #DáPraFazer

financiado pela marca Rider em consonância com uma transformação política. Deste modo,

para pensar as consonâncias entre políticas públicas culturais, neste capítulo proponho uma

descrição geral da Noix no contexto em que se insere o Festival Rider #DáPraFazer, bem como

toda a produção que a envolve. Assim sendo, foram divididos em quatro pontos centrais este

capítulo: a Noix, a Rider, os fazedores e a cultura periférica.

A Noix é o “entre” o meio que conecta a Rider à periferia. É a chave para compreender

toda a discussão proposta no início deste trabalho. De acordo com Amnah Asad, a função da

Noix é gerenciar a cultura para algumas marcas que se interessam em investir em um público

que tem ganhado destaque nas redes sociais. É preciso adentrar nesses lugares, que antes eram

inacessíveis para um mercado cultural, e, para além de divulgar uma cultura periférica, penetrar

a marca tornando-a acessível. Amnah Asad, que já foi curadora do TED São Paulo, hoje uma

das idealizadoras da Noix com Lara Azevedo, se identifica como uma pesquisadora de

tendências culturais que cria a partir das diferenças. O criativo nasce entre 2015 e 2016 com a

proposta de dar voz a uma cultura periférica, interpretando a cultura contemporânea com um

olhar popular sendo também neste momento em que surge a parceria entre a Noix e a Rider.

Com queda nas vendas, a Rider contrata o criativo Noix para estimular o seu consumo na

periferia que cada vez mais se torna um público consumidor. Toda a estratégia de marketing

desenvolvida pela Rider ao se juntar à Noix é pensada justamente para conquistar um

significante número de consumidores além de dialogar com pautas sociais que antes não eram

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o foco. O esforço em se inserir ao investir em potenciais consumidores torna-se axiomático ao

comparar a Rider da década de 90 e a Rider dos anos 2010. Em 1997, ao lançarem o modelo de

um dos icônicos chinelos da Rider, foi gasto pela Grendene, na época, mais de 600 mil reais

para a realização do evento de lançamento. A festa foi realizada no porta-aviões Minas Gerais,

próximo à Ilha Fiscal no Rio de Janeiro. O evento, de acordo com matéria publicada em 25

janeiro de 1997 na Folha de S. Paulo (DECIA, 1997), teve presença de artistas globais,

socialites cariocas, oficiais da marinha e convidados da família Grendene e contava também

com os shows de Lulu Santos, Sandra de Sá e Banda Eva. Na parte inferior do porta-aviões,

aconteceu simultaneamente uma exposição de helicópteros e de trabalhos de artistas plásticos.

O lançamento do chinelo teve a participação de 2.500 pessoas, que, para acessarem a festa,

subiam em um elevador de 25 metros por 10 metros (elevadores usados para içar os aviões à

pista de decolagem), contou ainda com 70 seguranças, 200 marinheiros, 150 pessoas no buffet,

três lanchas e 15 mergulhadores caso alguém caísse no mar. Estes números, referentes ao ano

de 1997, refletem a mudança estrutural ocorrida vinte anos depois. Das festas próximas ao mar,

agora eventos no subúrbio. Dos convidados da elite carioca, agora representantes de uma

cultura suburbana e periférica. Dos shows de artistas famosos, agora artistas independentes com

voz local. São perceptíveis as transformações pelas quais o mercado passa para se adequar a

determinado público. Isto posto, é neste cenário de inserção do mercado em culturas

estigmatizadas que a Noix encontra a Rider. Contratadas, as sócias da Noix se tornam

incumbidas de articular a empresa Grendene, a partir dos chinelos Rider, uma conexão com um

público de caráter periférico. Para Asad, a Noix trabalha em cima de uma tensão cultural, é

uma oportunidade neste momento de crise e mudanças sociais e, para ela, onde há tensão, há

oportunidades, porque alguma coisa não está sendo dita e nem representada principalmente em

um cenário político conturbado pós-2016, então “faz mais sentido ainda a gente estar conectado,

tentando hackear, conseguindo fazer projetos de cultura através de verbas de marketing porque

está bem difícil” (ASAD, 2018). Por hackear compreende-se conseguir inovar, é manter

arrojada, movimentada, viva, atual um processo de mercado. É possível ver esta palavra sendo

utilizada como empreendedorismo de alto impacto ou cultura de alta performance11. Assim

sendo, a Noix procura inovar a Rider identificando os impasses que impedem que a empresa se

desenvolva frente ao mercado estabelecendo maneiras criativas de reconfigurar um

comportamento de mercado. O criativo, portanto, começa a conversar com atores periféricos, o

qual são denominados de fazedores, para articular a inserção da marca Rider nesses locais.

11 Ver CASAQUI, 2016

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Como resultado, em seu release financeiro disponibilizado no final de abril de 2018 (ver anexo

A), mostra que o ebit da Grendene, marca mãe da Rider, cresceu 9,8% com margem de 22,1%

somente no primeiro trimestre de 2018. Desta maneira, os investimentos públicos em cultura,

resultados de um governo com caráter mais popular, coloca em debate a cultura no centro da

ideia de desenvolvimento do país, na defesa pela diversidade social.

Como será mais detalhadamente exposto nos subitens abaixo, a Noix se mostra como

articuladora de uma diáspora no que tange o debate sobre diversidade e mercado. No quadro

abaixo é possível identificar o processo em que ocorre a criação desses novos nichos.

Quadro 1) Processo de criação de novos nichos de mercado

Fonte: Elaboração própria, 2018.

3.1 A NOIX

No dia 17 de março de 2018, o largo Alexandre Herculano, localizado no centro do

Rio de Janeiro, recebeu um festival que tem se tornado comum pela cidade: o festival

#DáPraFazer. O evento contava com a apresentação de artistas em um palco posicionado bem

Programa de Cultura - Gov.

Lula 2002

MinC - PNC -

Aumento no debate sobre a diversidade

- nível nacional

Investimento em programas sociais;

liberação de crédito

Fomento ao empreendedorismo >

Criação de novos nichos de mercado

baseados no conceito de diversidade

Criação da Noix - atuação na

periferiaCenário desemprego

Criação do Nicho do nicho.

Marcas contratadas pela Noix ganham visibilidade pelo

debate de consumo consciente..

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em frente ao Real Gabinete Português de Leitura12, que, por toda sua imponência estabelecida

por uma história, fez ressignificar a utilização dos espaços. Defender o direito à cidade é

imprescindível para se arquitetar alternativas de inserção social. O Real Gabinete Português de

Leitura representa ali uma fachada inacessível a uma sociedade que tenta se coletivizar cada

vez mais para defender pautas de cunho social que representem uma mudança, principalmente

a mudança de um estigma.

Figura 2: Real Gabinete Português de Leitura e o Festival Rider #DáPraFazer.

Fonte: A autora (2018).

O evento contou com a participação de diversos artistas, marcas de roupas, acessórios,

tênis e esporte do subúrbio carioca. Para isso, foi realizado um mapeamento do território

fluminense, um trabalho que exigiu do produtor um maior detalhamento do local a serem

realizados os eventos. Tudo foi planejado: desde a escolha dos locais, as tags, convidados a se

12 O Real Gabinete Português de Leitura, tradicional biblioteca e instituição cultural lusófona, localiza-se na rua Luís de Camões nº 30, no centro da cidade do Rio de Janeiro, Brasil. Encontra-se tombado pelo Instituto do Patrimônio Estadual. É a associação mais antiga criada pelos portugueses do Brasil após a independência de 1822. Disponível em: <http://www.realgabinete.com.br/portalWeb/> Acesso em: 5 abr. 2018

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apresentarem e a estrutura física que abrigou o evento. Para isso, Amnah Asad, idealizadora,

produtora e pesquisadora da Noix, intitula hiperlocal, um conceito que se caracteriza pela

necessidade de imergir na cultura de um determinado ambiente, todo o olhar que é

minuciosamente detalhado para se transformar no evento da Rider, experenciando e

evidenciando uma determinada comunidade para eles próprios e para os estrangeiros. Embora

seja um conceito amplamente utilizado no jornalismo como imersão em uma cultura, na

produção cultural ele inclui outras características para além de um mapeamento. De acordo com

Asad (2018), hiperlocal são “todas as tendências que vem de dentro, de cada lugar, de cada

cidade, de cada bairro e trazer isso mais à tona. Mostrar às pessoas que são as pessoas reais que

estão aqui, que movimentam e fazem acontecer”. Na ótica da idealizadora da Noix, Amnah

Asad, hiperlocal pode ser compreendido como ações locais realizadas por produtores culturais

sem se apropriar esteticamente do espaço, mas, sim, sendo canal para que ele seja projetado

para além do núcleo. À vista disso, todo o trabalho de mapeamento do produtor cultural, no

caso a Noix, passa a ser definido cuidadosamente prezando por atores locais para dialogar com

o seu próprio grupo, onde atores se destacam pela disputa dos espaços para grupos minoritários:

seja pela música, pela defesa de um consumo consciente ou simplesmente para dar visibilidade

às marcas próprias provenientes de um espaço de exclusão social, no caso lugares periféricos.

A partir de uma entrevista realizada para a marca Melissa13, Asad afirma que as

minorias estão se empoderando cada vez mais e partem das redes para ter mais voz. Ela

considera o acesso às mídias digitais uma ferramenta de superação da exclusão: “O mais

importante nesses projetos é trazer essa representatividade também na voz e dar voz as essas

experiências e vivências diversificadas” (MELISSA, 2016). A pesquisadora de tendências

culturais da Noix destrincha sobre o que significa esse novo momento no mercado, quando o

mercado passa a pensar estratégias de cooptação da periferia, onde, a partir de uma linguagem

acessível, a empresa se aproxima do consumidor fazendo desta relação mais interpessoal, mais

íntima. O consumidor passa a se enxergar na marca ao se identificar, sobretudo, com o que a

marca diz. É neste contexto que a Rider se insere com a Noix. As redes não somente dão voz

como são espaços que permitem uma resistência. As redes sociais tornaram possível

comercialização de roupas usadas - os brechós – com mais facilidade, bem como a criação de

novos produtos e marcas não somente acessíveis como criadas pela periferia para a periferia.

Portanto, o espaço virtual tornou-se um espaço de difícil acesso às grandes marcas ao público

consumidor. Sem uma ponte que identifique e torne possível o diálogo entre marcas e

13 Melissa é também uma marca do Grupo Grendene ao qual o criativo Noix é também colaborador.

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consumidores, elas perderiam cada vez mais espaço no mercado. Como Castells (2003) bem

ponderou, a elasticidade da internet torna suscetível intensificar tendências contraditórias

presentes em nosso mundo sendo ela a expressão de nós mesmos através de um código de

comunicação específico no qual podemos transformar nossa realidade. Assim, a Noix

diagnostica essa tendência à virtualização para expressões periféricas e a utiliza como ponte

para a Rider dialogando com a mistura da cultura como fator disseminador da diversidade e

criando projetos a partir desses temas. A Noix, de acordo com Amnah Asad (2015), trabalha

em três eixos centrais: etnografia, teoria e prática e netnografia ou etnografia virtual. A

etnografia trata da compreensão das pessoas como seres embutidos em redes de significados,

interpretando-as a partir da maneira que elas se identificam. A teoria e prática tratam de, antes

de ir a campo, se informar sobre todo o conhecimento produzido disciplinando, desta maneira,

a teoria. E a netnografia, ou etnografia virtual seria a metodologia de pesquisa que coleta dados

através do domínio virtual. E, assim, a Noix vai se costurando à medida que cria possibilidades

não somente para um desenvolvimento de mercado, mas também para o desenvolvimento de

pessoas descobrindo seu lugar social.

Com a popularização dessas redes sociais, cada vez mais fáceis de usar, o

relacionamento interpessoal foi expandido para outros públicos. As empresas, ao

tentar incorporá-las em suas estratégias, deparam com um novo desafio, o de superar

sua própria estrutura, muitas vezes incompatível com a das redes, que não foram

desenvolvidas para a inserção de perfis organizacionais. Para isso, recomenda-se

aprofundar-se nas arquiteturas técnicas e sociais das redes empregadas, fazendo que

o trabalho na web amplie a participação dos públicos, caracterizando uma nova

economia cultural. (VERGILI, 2014)

Sobre o mercado das grandes marcas, Vergili explicita que:

Ressalta-se a cultura empresarial ou cultura do dinheiro, formada por empresários

dispostos a arriscar capital e movimentar a nova economia - a economia da indústria

da internet, cujo cerne está na inovação, no risco, nas expectativas e na esperança no

futuro. Essa nova economia pode ser caracterizada pelo aumento da produtividade do

trabalho, pela maior competitividade das empresas e pela ampliação dos lucros em

decorrência da inovação, que gera diminuição de custos de produção e redução de

erros. Uma sociedade em que as práticas das empresas, nos processos de produção,

administração e relação com fornecedores e compradores, têm sido transformadas

devido à expansão do uso da web. (VERGILI, 2014)

À vista disso, a Noix, portanto, estabelece um diálogo com os fazedores que integrariam

o Festival #DáPraFazer, como a representante do brechó Brexixe que afirma que o convite para

participar do StreetWear do festival surgiu da Lara Azevedo (uma das sócias da Noix) que a

procurou ratificando a descentralização da Zona Sul do festival fazendo com que se crie um

cenário de divulgação para artistas e marcas independentes periféricas mostrarem seus

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trabalhos. Ainda para a representante, o convite acontece porque o Brexixe surge como marca

em Duque de Caxias, município localizado na baixada fluminense do Rio de Janeiro. Esta

inserção em lugares que, em sua grande maioria, foram descobertos em espaços virtuais é a

aposta da Rider na Noix para divulgar e manter o seu conceito, a sua marca. A Noix, então,

trabalha categorias como hiperlocal e cultura hacker e netnografia para se inserir neste meio.

3.1.1 A Rider

Embora popular na década de 1990, a marca Rider surge antes, em 1986, quando a

Grendene, fundada em 1971, percebe um potencial público consumidor de sandálias de tiras e

resolve investir neste novo nicho para competir com outras marcas já reconhecidas. A Rider se

inseriu em um mercado ao inovar a produção de calçados utilizando embalagens de plástico

para a sua confecção. Rapidamente, os chinelos de tira larga, priorizando o conforto, não

somente ganham destaque pelo design, que certamente agregam valor à marca, mas

principalmente pelo nome da marca, que passa a ser amplamente difundido e publicizado no

mercado. As campanhas publicitárias da Rider foram produzidas pela W/Brasil, do publicitário

Washington Olivetto14, e tiveram nomes de bandas como Paralamas do Sucesso e Lulu Santos

em seus comerciais – o que fez alavancar ainda mais o nome da marca.

Figura 3: Propaganda Rider anos 1990.

Fonte: Pinterest (s/d.).

Segundo o blog Mundo das Marcas (2017),

14 Criador de campanhas icônicas e líder de grandes agências brasileiras há pelo menos 30 anos. Disponível em: <https://epocanegocios.globo.com/Marketing/noticia/2018/01/aos-66-anos-washington-olivetto-finaliza-sua-biografia.html> Acesso em: 11 -04- 2018.

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O famoso chinelo chegou a vender 40 milhões de pares no início dos anos de 1990,

correspondendo a 20% de participação, em valor, no mercado brasileiro de chinelos.

Em seguida, RIDER lançou as linhas feminina e infantil, aumentando assim seu

alcance e público. O chinelo estava no auge, quando as Havaianas se reinventaram e,

a partir de 1994, entraram com tudo no segmento da moda. As vendas dos modelos

femininos foram os primeiros a cair. E depois os masculinos. Mesmo assim, RIDER

foi lançado no mercado americano em 1997, onde o chinelo ficou conhecido como

sleeper, por causa da facilidade de enfiar o pé. Depois de perder a liderança para as

Havaianas também no mercado de chinelos masculinos em 2004, nos anos seguintes

RIDER era apenas uma marca “perdida” dentro do portfólio da Grendene. Mas mesmo

assim, uma pesquisa apontou que o nome RIDER era conhecido por 93% dos

brasileiros, um ativo que a Grendene não iria desperdiçar. (Mundo das Marcas, 2017)

Para reverter a baixa aceitação dos chinelos Rider e competir com grandes marcas

como a Havaianas15, em 2009 a marca foi repensada e atualizada para o público jovem, criando

assim um novo conceito e um público-alvo específico. Ela deixaria de ser sandália de tira e

passaria a ser sandália de dedo. Porém, somente em 2016, ano em que a marca completou 30

anos, é que foi relançada a sandália de tiras. Atualmente, a Grendene tem capacidade para

produzir 250 pares de calçados por ano em cinco unidades industriais, alcançando distribuidores

e varejistas em todo o território nacional e exterior. Percebe-se que o maior investimento

industrial ocorreu justamente com o seu boom no mercado, onde, das cinco unidades industriais,

três foram empreendidas na década de 1990. De acordo com dados publicados em seu site, a

empresa atingiu cerca de vinte mil pontos de venda fora do país e sessenta e cinco mil somente

no mercado brasileiro. Em sua missão, está a de fazer uma moda democrática, respondendo

rapidamente às necessidades do mercado. Por isso, a grande variedade de marcas dentro da

marca Grendene. Em sua visão e valores, estão em ser a empresa mais rentável do mundo no

setor, lucro, competitividade, produtividade crescente e custos e despesas em redução constante,

inovação e agilidade (GRENDENE, s/d.).

Em 2016, através do relatório setorial de calçados, Heitor Klein, presidente-executivo

da Abicalçados, aconselhou o setor a necessidade em traçar estratégias a partir de informações

de qualidade. De acordo com Klein, o ano de 2015 foi um teste à sobrevivência do setor

atacadista que teve queda em todos os indicadores de performance, ocasionando a perda de

mais de 25 mil empregos que eram gerados pelo setor, resultado de um cenário político

econômico desfavorável ao mercado onde a ocupação na indústria trabalhista registrou 283,1

mil empregos e 7,7 mil voltados à fabricação de calçados. O Relatório nos mostra que o estado

15 A empresa das sandálias de dedo Havaianas é considerada uma das mais fortes marcas deste segmento no Brasil. Havaianas são comercializadas no mundo todo, em mais de 60 países, em cinco continentes. Este produto consegue estar sempre presente na mídia, nas propagandas televisivas, revistas, comunicação visual e também em redes sociais na internet (SOUZA, 2012).

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do Rio Grande do Sul se distingue dos outros estados no setor empresarial de calçados, uma

vez que nele se concentra 35,1% das empresas.

Figura 4: Referente ao número de empregados e às empresas e fábricas16.

Somente a Grendene, que possui sua sede empresarial no estado do Rio Grande do Sul,

possui dez empresas em seu nome: Melissa, Grendha, Zaxy, Rider, Cartago, Ipanema, Pega

Forte, Grendene Kids e Zizou, além de possuir o licenciamento de personagens em seu nome –

que representa uma grande influência da marca para o setor calçadista no Brasil. Embora com

toda a dificuldade no setor, a Grendene representa em 2018 cerca 36,1 dos calçados brasileiros

exportados17. No que tange aos dos dados referentes à penetração no mercado no consumo de

calçados, foi realizado em 2017 o Relatório Setorial da Indústria de Calçados onde percebeu-

se que, muito embora a crise econômica tenha sido agravada em 2016, o Brasil ainda é um dos

dez maiores produtores do mundo. Estima-se que as empresas de calçados produziram um total

de 954 milhões de pares entre 2015 e 2016, significando um aumento de 1,3%.

16 ABICALÇADOS, 2016 17 Release de resultados no 1º semestre de 2018. Fonte: Site Grendene. Disponível em: <http://ri.grendene.com.br/PT/Informacoes-Financeiras/Releases-de-Resultados> Acesso em: 30 abr. 2018.

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Figura 5: Produção de calçados no Brasil18.

Foi estimada também a produção de calçado por tipo de uso, na qual significa a

amostra de mais de mil empresas do setor de calçados, representando 92% da produção

brasileira. Percebe-se que a produção calçadista em 2016 no Brasil foi constituída em grande

parte pela produção e comercialização de chinelos – o que corresponde a 45,4% da produção

total de calçados no Brasil. Este dado é significativo para o investimento de marcas neste setor.

Quase metade da produção nacional de calçados é concentrada no mercado de chinelos, o que

acaba por ser um chamariz para empresas de calçados investirem seus recursos neste nicho.

Figura 6: Segmentação da produção brasileira de calçados por tipo de uso em pares

(participação em 2016).

18 ABICALÇADOS, 2016

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De acordo com a pesquisa realizada pela ABLAC (s/d.), a região do Grande Rio de

Janeiro registrou um crescimento de 2,04% no preço médio e de 1,71% na penetração, assim

como São Paulo e a Região Sul do país. Em relação aos meses que são mais recorrentes, a venda

e a aquisição de calçados estão novembro, dezembro, janeiro, maio e junho. Estes dados

refletem o investimento da marca Grendene nos clássicos chinelos da Rider de tira grossa

conhecidos como slide. Em um primeiro momento, eles foram “relançados” por outras marcas,

como a Adidas, a Nike e Puma (ESTADÃO, 2016). Somente após este fato, a Grendene resolveu

relançar oficialmente o produto que havia sido reconhecido como elemento histórico dos anos

1990. O modelo foi utilizado nos desfiles da edição do mesmo ano da São Paulo Fashion Week.

Naquele momento, se ressignificava a utilização dos chinelos na moda brasileira.

Esses investimentos são resultado de outro tipo de investimento: o de em inteligência

de mercado que, designado também de inteligência competitiva, consiste no processo de

procurar, analisar e realizar aplicação de informações dentro da área de atuação do mercado

preterido procurando direcionar ao público-alvo determinado. O processo metodológico é

composto pela inteligência e análise dos dados obtidos a partir de pesquisas de mercado

previamente realizadas (IPIED, s/d.).

Aproveitando esse ensejo sobre o tema da diversidade promovido pelo boom em

investimentos culturais, a Rider se inseriu neste contexto. A marca se beneficiou de dois fatores:

o social que a empresa exerce, abrindo espaço para a divulgação de trabalhos culturais na

periferia ao mesmo tempo em que vende um estilo, e a dedução de impostos promovida pelo

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investimento social. A marca então contratou a Noix para articular estratégias para que seu

produto pudesse ser comercializado principalmente para um público que está em voga para o

mercado, o público periférico. De acordo com Feriani (2018), o primeiro grande lançamento de

Rider em 2018 homenageou justamente o início de sua história nas ruas ao resgatar um dos

modelos mais icônicos da marca na época. Assim, a Rider enxergou nessas pessoas potenciais

consumidores e passou a investir em marketing através da empresa contratada, a Noix, para

fazer esse intermédio entre público consumidor e produto. A Noix então produziu o festival

#DáPraFazer em 2017 com a ajuda de coletivos.

3.1.2 #DáPraFazer, Fazedores, #TudoCria

A produção cultural periférica é hoje tensionada por debates políticos amplificado

principalmente pelas redes sociais na internet. A grande mídia empresarial teve um certo atraso

em identificar a necessidade de se investir na periferia, por vezes com o olhar estereotipado no

mercado cultural de um modo geral. Destarte, a Noix foi contratada pela Rider para fazer o

mapeamento de produtores locais e produzir os festivais que têm como nome uma tag que

remete ao “conseguir fazer impossível”, o #DáPraFazer, que quer dizer que dá para fazer com

pouco ou até mesmo com nada. Com recursos escassos, comum no subúrbio, os fazedores dão

o jeito de realizarem suas produções: seja no audiovisual, na música, nos brechós e lojas de

roupa entre outros. São diversos personagens que ganharam destaque, principalmente após a

crise de desemprego ocorrida no país nos últimos anos. Atores que dão um jeito para fazer e

acontecer não são chamados de empreendedores, são fazedores. De acordo com Asad (NETO,

2017), para não criar um distanciamento das ações, usam o termo "fazedor" uma vez que ele

convida e acessibiliza para o público-alvo. Ainda de acordo com Asad, o conceito do festival é

pensado a partir de quem consegue realizar e fazer dinheiro com poucos recursos.

Em 2017, o Festival Rider #DáPraFazer aconteceu por quatro finais de semana

seguidos nas quatro zonas da região metropolitana: Centro (Galpão Gamboa), Madureira

(Void/DUTO), Caxias (Soma Hub) e Praia da Macumba, porém, as ações que se destacaram

mais são as que aconteceram em Madureira e Duque de Caxias, respectivamente, subúrbio do

Rio de Janeiro e Baixada Fluminense. Madureira, por exemplo, recebeu diversos investimentos

públicos em cultura por conta dos megaeventos (Olimpíadas, Copa do Mundo etc.) ocorridos

na cidade do Rio de Janeiro na gestão de Eduardo Paes. Diversos coletivos que pensam a

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diversidade passaram a se estabelecer nesse bairro. Para além do samba da Portela e da Império

Serrano, que sempre foram atrativos culturais para o bairro, com os eventos que a cidade passou

a receber (reestruturação do espaço de lazer, obras de acesso para o BRT etc.), o bairro passou

a ser o centro da cidade para pensar a diversidade. Já a cidade de Duque de Caxias representa

um dos maiores PIBs do estado do Rio de Janeiro, além de se concentrar na Baixada

Fluminense. De acordo com a página da Noix na rede social Facebook19,

A Rider e a Noix convidaram 8 fazedores da Zona Norte, Zona Oeste, Zona Central e

Baixada para criarem 4 temas que simbolizassem seus locais de afeto e suas

identidades. Camila Vaz, Fernanda Guizan, Julliana Araújo, Junior Stive, Pedro

Zybelrstajn, Rafael Acioly, Thiago Monçores e Washington Santana co-criaram uma

coleção que reflete e resgata as memórias visuais e afetivas que habitam essas 4 zonas

da cidade. Os cruzamentos do BRT, do trem, do asfalto, o movimento e a musicalidade

dos corpos, os bairrismos, o apoio mútuo e o suor que emana na pele das pessoas que

circulam e habitam são os pontos de partida para desenvolver esta linguagem de

formas, cores e texturas que comunicam o corre de cada zona. Cada chinelo é uma

plataforma de expressão desses olhares atentos e desses corpos que transbordam além

de seus territórios. A celebração rolou dia 28 de outubro. Além de 4 instalações criadas

pelos fazedores, tivemos comidas locais, muita música e shows imperdíveis. Tudo

Cria é sobre movimento. Tudo Cria é expressão.

O festival contou com o apoio de nove “fazedores”, que são coletivos responsáveis por

organizar o evento durante quatro dias, são eles: Raxa #DáPraFazer; Heavy Baile #DáPraFazer:

A FESTA; Bananotech #DáPraFazer; Tropitek Cru #DáPraFazer; Circo Indie #DáPraFazer;

Papo de Roda #DáPraFazer; Barbeiragem #DáPraFazer; Foco Múltiplo #DáPraFazer; De ponta

a ponta #DáPraFazer. Após a passagem do festival, em 2017, oito fazedores foram contratados

para fazer um mapeamento de quem faz acontecer no Brasil para formular a criação de quatro

temas para nova coleção da Rider. Eles são da zona norte, zona oeste, zona central e Baixada

Fluminense. A criação envolve símbolos do local em que se criaram. Uma dessas fazedoras é

Camila Vaz, de 23 anos, da zona oeste do Rio de Janeiro. Estudante de design pela PUC-Rio,

ela tenta expressar na criação dos produtos questões como racismo e gênero. Assim como

Junior Morais, que traz referências dos anos 1980 e 1990 para essa criação. Morais é animador,

ilustrador e idealizador do projeto "sk8tando" e é influenciado fortemente pela street art. Esses

são dois dos oito fazedores convidados para promover, além de criar, a marca nas periferias. É

interessante esse acordo porque gera visibilidade para figuras locais que representam, na

maioria das vezes, uma população marginalizada.

19 Disponível em: <https://www.facebook.com/pg/noix.co/photos/?tab=album&album_id=1877556412561415>. Acesso em: 22 fev. 2018.

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De acordo com a página do evento no Facebook20, eles definem o evento como:

“Festival Rider #DáPraFazer: da rua, pra rua, pela rua. Um festival que celebra os Fazedores da

cena criativa independente, em eventos descentralizados e gratuitos”. O festival é um evento

que vai para além da divulgação de uma marca. Ele estimula a economia criativa, gerando

possibilidades profissionais ao mesmo tempo em que existe uma preocupação em desenvolver

a comunidade local para causas sociais. De acordo com Nichols (1994), os festivais são lugares

de trocas transculturais e que provocam uma imersão da experiência do novo. Esta definição é

um tanto discrepante do evento pomposo de divulgação da marca Rider há vinte anos. Em 2016,

a produtora que realizou o filme de divulgação da marca, a Hard Cuore21, se define como um

“escritório de criação” estabelecendo um diálogo vibrante, colorido e bem-humorado. Ela é

composta por dois artistas gráficos jovens e conta com a colaboração de designers, animadores,

produtores, fotógrafos e artistas – o que indica, ainda mais, uma ruptura com a produção de

vinte anos atrás, que foi idealizada por Washington Olivetto.

Todo o rompimento com as manifestações culturais do passado nos demonstram o

desenvolvimento de uma economia criativa que é pautada na expansão da diversidade. Para

Alves (2010), a diversidade passou a ser um valor mobilizador capaz de catalizar e municiar

grupos políticos-culturais em todo mundo onde a disputa pelos espaços de fala é maior, contudo,

essas mobilizações contribuem para um maior desenvolvimento e alargamento de pautas

culturais. O “fazer” hoje é coletivo e é também produzido pelo mesmo público que consome a

cultura. A Noix age como um fio condutor, uma ponte entre a marca, que financia o evento e

divulga seus produtos, e o público-alvo – que é muito diferente de vinte anos atrás.

Com o sucesso desta cena em 2017, em março de 2018 o festival foi realizado no

centro do Rio de Janeiro. Desta vez, somente um dia de produção intensa. Agora, os atores

locais da periferia se deslocariam para o centro do Rio e divulgariam seus trabalhos. Não seria

mais somente na comunidade local em que se estabeleceram como produtores, artistas e

empresários, seria um intercâmbio de cultura.

Para o representante do Brechó Rua e Vida, a grande importância de um evento deste

no centro do Rio de Janeiro é que ele fortifica a moda da rua trazendo acessibilidade a um

público periférico que normalmente não teria acesso aos mesmos produtos. O representante do

20 Disponível em: <https://www.facebook.com/pg/RiderOficial/about/?ref=page_internal> Acesso em: 22 fev. 2018. 21 A Hardcuore, escritório de criação dos artistas gráficos Breno Pineschi e Rafael “Rato” Cazes, possui uma linguagem que estabelece um diálogo vibrante, colorido e bem humorado entre o “handmade” e o design para diversas mídias. Disponível em: <hardcuore.com/escritorio/>. Acesso em: 15 abr. 2018.

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Brechó Rua e Vida foi um dos fazedores convidados a integrar a streetwear no street market,

localizado em um estacionamento em frente à praça em que estava sendo realizada o festival e

que contou com a presença de quase 40 fazedores que ganharam espaço para promover a marca,

o conceito Rua.

Figura 7: Street Market 1.

Fonte: A autora (2018).

Ser fazedor é ter a capacidade de realizar ações com recursos escassos, criando

possibilidades e oportunidades. Atualmente, o maior lugar de divulgação dos fazedores

culturais se dá através das redes sociais. Entre esses fazedores estão produtores culturais,

artistas de rap, rima, produtores de cinema, escritores, produtores de moda entre tantos outros

que é possível identificar a partir dessa dinâmica da diversidade. Os fazedores se identificam

com a cultura local e sentem orgulho de produzir para a comunidade que representam. Quando

surge o convite para promover um evento e se promover na comunidade, diversos desses atores

captam que é o momento de ser enxergado para o mundo. Ou seja, a sua pauta vai ser ouvida.

Seja a partir do rap, do slam, da moda ou da produção cultural local. Em entrevista

(LEUZINGER, 2016), Asad afirma que

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“Ser fazedor é hackear sua própria vida e escolher o prazer no que você faz. É saber

a hora de experimentar coisas novas e agir de forma intuitiva e bem-humorada, sem

deixar o ‘roteiro’ determinar todas as suas decisões. É escolher momentos para se

jogar, se divertir, e se permitir também ao não-arrependimento”.

Toda a troca embutida em um evento como esse representa cooperações que são

oriundas da ação coletiva. Becker (1977), ao se debruçar em compreender as organizações que

produzem a arte, se utiliza de sistema de referências às pessoas onde as ações são coletivas e

constituem a organização ou um sistema, desde a montagem de um cenário até chegar nos

atores. Tudo o que está envolvido na produção, como a publicidade, pessoal da limpeza, fazem

parte de uma cooperação para que torne o evento viável.

Para além dos fazedores convidados, um evento deste porte exige alvarás da prefeitura,

como o alvará de autorização transitória, referente ao período do evento, além de comunicados

feitos à polícia e ao corpo de bombeiros, termo de responsabilidade. Todos eles são fazedores.

Nada é originado sozinho. A compreensão da ação coletiva na produção de um evento produz

um novo processo cultural para a sociedade ressignificando os caminhos pelos quais a cultura

é definida. Contudo, ela é transitória porque é preciso lidar com a imprevisibilidade dos atores

nela inseridos – sendo este um dos principais papéis do produtor. De acordo com Asad22,

Ser um agente de mistura é recolher referências de diferentes grupos para sua visão

sobre o coletivo se ampliar e diversificar. É criar novas narrativas, trazer novas

referências, disseminar as histórias reais, entender que somos um país colorido e que

dessa diversidade nascem ideias geniais. O papel mais importante é o de espalhar estes

pensamentos e ideias conectando redes e pessoas que nunca se falaram

espontaneamente.

Percebe-se, portanto, neste subitem, que os fazedores são o coração do festival. São eles

que, em grande parte, mobilizam seus grupos a frequentarem o festival. Eles também são

referências de estilo e moda quebrando paradigmas e instituindo padrões. As roupas, acessórios,

estilos de penteados e todos os elementos que compõem corporalmente os fazedores, são

elementos determinantes na manutenção da cultura. Ela é, sobretudo, uma expressão de uma

identidade cultural. É a personalidade em consonância o lugar. Posto isso, a linguagem corporal

é a expressão mais positiva de um movimento: é através dela que as referências são expostas,

reconhecidas e reproduzidas.

22 “Somos todos coloridos, somos puros na mistura”. Apresentação realizada por Amnah Asad em 2016 para o TED TALK BRASIL. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=56kM7zIll8w&t=93s>. Acesso em: 04 abr. 2018.

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Figura 8: Street Wear – Rider #DáPraFazer

Fonte: A autora (2018).

3.1.3 A cultura periférica

Para Yas Werneck, rapper carioca, que se apresentou no último Festival da Rider no

Rio de Janeiro, a importância de um evento como o #DáPraFazer coloca em evidência a cultura

periférica onde muitas marcas desconhecidas, brechós, lojas acabam ficando em evidência por

tabela – e isso é muito importante. De acordo com ela, muitas pessoas vão ao evento por causa

de grandes nomes presentes no evento como o Emicida e a própria marca, a Rider, e que acaba

trazendo visibilidade para o subúrbio, a periferia, abrindo espaço no mercado e criando

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oportunidades de emprego. Mas existe também a necessidade da representatividade da própria

figura em que Yas se transforma, sendo incentivo para outras mulheres periféricas e negras. Ela

é uma exceção que confirma a regra. Inserida em um ambiente predominantemente masculino,

de acordo com Yas, em 2010 aconteceu um evento de rap para o trabalho acadêmico de um

amigo, que acabou convidando um rapper misógino que denegriria a imagem da mulher em

suas composições. Assim, Yas se inseriu no mundo do rap se posicionando contra o machismo

presente neste meio ao escrever uma música-resposta (SOBREIRA, 2017). O maior

reconhecimento de que o debate pela representatividade está sendo ouvido foi quando

Emicida23 a convidou para se apresentar no Festival da Rider, ocorrido em março de 2018, com

ele. Nas palavras de Yas,

“Por mais que, vendo por um outro ângulo, isso seja ruim, tipo, um cara famoso tem

de falar que eu sou boa para as pessoas acreditarem que eu seja boa, mas, de outra

maneira é o respeito que ele conquistou no rap, do que ele é no rap. Então ter esse

“Ok” dele é importante nesse sentido” (YAS, 2018).

Figura 9: Emicida convida Yas Werneck.

Fonte: Instagram de Yas Werneck.24

23 Emicida é um rapper e compositor brasileiro sendo atualmente o principal nome do seu meio. 24 Disponível em: <www.instagram.com/werneckyas>. Acesso em: 12 abr. 2018.

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RB, que atualmente é coordenadora de produção cultural em uma arena da prefeitura

do RJ, por exemplo, se insere na cultura a partir de um estágio há dez anos atrás, com 19 anos,

em um festival de cinema da Escola Livre de Cinema em Nova Iguaçu. A criação dessa escola

de cinema que fomentou o festival, na época, foi realizada na gestão do então prefeito

Lindbergh Farias, do PT, em Nova Iguaçu. Para RB, foi fundamental esse primeiro contato com

a cultura a partir do fomento público. Foi nesse local que ela começou a se desenvolver como

produtora e começou a subjetivizar a importância da promoção da cultura na busca e

valorização de uma identidade. RB foi uma das convidadas para fazer um mapeamento de um

festival promovido por uma marca, a Rider, bem como coordenar a produção de audiovisual do

evento. Segundo Dilelio (2014),

Levando em consideração esta diversidade de fontes institucionais a respeito do

fenômeno, verificou-se que a força de trabalho deste segmento (no Brasil é

relativamente jovem, concentrada sobretudo em empresas de até 19 funcionários,

dentre os quais 70% têm até 39 anos e mais de 60% têm no mínimo 11 anos de estudo.

BL faz parte de um coletivo urbano chamado Leão Etíope do Méier, que, como o

próprio nome sugere, realiza suas ações no bairro do Méier, zona norte da cidade do Rio de

Janeiro. Com uma forte conotação política, a proposta do coletivo é realizar aulas públicas,

promover cinema e debate na praça e fazer eventos destacando a cultura de rua. Para BL, é

importante esse movimento da marca promover a diversidade e não compreende essa dinâmica

como apropriação da marca, mas, sim, como um trampolim para divulgar uma população muitas

vezes silenciada. Ele enxerga a estratégia da Rider como uma “grande sacada”, porque eles

detêm de um mercado muito grande.

O Festival Rider #DáPraFazer foi um festival que não era só da periferia, mas poucas

vezes a gente viu marcas dialogando tanto, de maneira tão clara e direta com a

periferia. Não era um festival de periferia, mas era um festival onde os cidadãos

periféricos eram majoritariamente protagonistas. E eu acho que essa foi a grande

sacada porque a gente tem um mercado muito grande (BL, 2018).

O debate que envolve a questão da representatividade tem sido pauta constante em

novas pesquisas sobre o mercado e em como ela se insere em uma conjuntura política que

propõe dialogar para abrir espaço a diversidade. Representar é se mostrar em defesa dos

interesses de um determinado grupo. O processo de representatividade tem se intensificado com

a disputa de grupos internos que cada vez se dividem mais. Os debates, enraizados na defesa de

uma pluralidade, se mostram presentes na política, em representações midiáticas, movimentos

sociais e também na economia. À medida que se dissemina uma cultura, grupos se racham e

passam a defender seus ideais. É neste momento que se estabelecem o processo de

reconhecimento identitário e a resistência para a manutenção de determinado grupo. O fator

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econômico entra neste cenário como oportunidade de disseminar certa mensagem e angariar

status e capital. Portanto, o mercado em que se insere a diversidade se arquiteta em uma rede

que viabiliza a produção dele.

Assim sendo, o comportamento do mercado da diversidade é pautado por uma disputa

de espaço, não somente pela voz, mas principalmente pela amplificação de uma tônica social.

Deste modo, a representatividade consegue alcançar status no meio midiático, no mercado, no

cinema e nas redes em geral, se consolidando e fortalecendo minorias tão, anteriormente,

estigmatizadas. Para pensar essas questões, utilizei o relatório de diversidade de Hollywood da

Universidade de UCLA (2017), que traz o aumento, estatisticamente, na representatividade de

minorias (como mulheres, latinos e negros) em Hollywood. Muito embora ela utilize em sua

pesquisa as minorias na TV e no Cinema de Hollywood, esse relatório se mostrou fundamental

neste trabalho de dissertação por mostrar um grande impacto midiático que, ironicamente, as

“grandes minorias” estão trazendo juntamente com sua exposição e disseminação:

Still, the most important takeaway from this report - and the three before it - is,

yes, diversity does indeed sell in film and television. This is not to say that it is

enough to hastily append a few actors of color or woman to cast that is at its core

white and male. No, the appeal of diversity for today's audiences has everything

to do with the storytelling, which extends beyond who's in front of the camera to

the earliest moments of the creative process, when ideas for films and television

shows are first pitched to agents, studios and networks. Diversity sells, first and

foremost, because today's audiences are themselves diverse and in search of

stories and characters with whom they can identify. And these audiences are

becoming more diverse with each passing day, meaning that the patterns

identified in this report series linking diversity to the bottom line will only become

more pronounced. (UCLA, 2017)

Porém, não somente pela representatividade do evento ter sido realizado

estrategicamente pelo Rio de Janeiro, é preciso compreender que cada vez mais a ocupação de

espaços públicos se torna um palco, muitas vezes literalmente, para vozes nunca antes ouvidas.

Ressignificando, através da Noix possibilita-se dar um novo sentido a grupos preteridos. As

iniciativas culturais representam um novo espírito das urbes promovendo a cidadania, o direito

à cidade, a partir de práticas inclusivas e democráticas.

.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo central compreender a segmentação em nichos de

mercado considerando o conceito da diversidade. A partir da investigação proposta neste

trabalho, foi possível compreender que o mercado se multiplica ao se segmentarizar: seja pelo

conflito, pela disputa de espaços, seja pela necessidade de se sentir representado. Em um

primeiro momento, percebe-se que a massificação de consumo sobre os hábitos e tradições traz

como agenda o desenvolvimento local a partir de uma perspectiva geral, fazendo com que a

Unesco transforme o debate sobre diversidade na promoção da cultura uma primordialidade.

Assim, destaca-se a grande influência da cartilha elaborada pela Unesco sobre cultura e

diversidade alinhando políticas governamentais no campo da cultura ao debate sobre

desenvolvimento e ratificando-se como uma resposta pela ausência a nível governamental no

debate sobre a diversidade, como a grande demanda por bens e serviços culturais, e a

necessidade, a nível político, de controlar o crescimento dos mercados culturais e o mercado

informal que cresce vertiginosamente. Todo o contexto sociocultural envolvido nesta temática

propõe a questão acerca da frugalidade do Estado enquanto mecenas da cultura, visto que, no

momento em que a pauta cultural se torna agenda de governos, o desenvolvimento cultural

passa a ser avançado.

No que tange ao debate sociológico acerca da criação de novos nichos de mercado,

todo o processo que envolve a mercantilização de algo não necessariamente palpável está

relacionado a uma centralidade do mercado como uma instituição. É a marca sendo

comercializada, é uma identidade sendo vendida, e não somente uma roupa, um sapato.

Reconhecer-se em meio ao mercado é se estabelecer em um mundo que antes não operava uma

diversidade de pautas. É necessário que o público se enxergue na marca, e a Noix consegue

captar este momento se articulando com a Rider ao se apropriar do mercado para afirmar a

diversidade. Desta maneira, como mostrado nos resultados acima, atores periféricos utilizam

como estratégia o mercado para ratificar a manutenção de suas identidades através da defesa da

diversidade diagnosticada nas músicas cantadas no festival, nos artistas convidados, nas

vestimentas utilizadas e os produtos comercializados.

Outro ponto fundamental constatado neste trabalho de pesquisa é que as redes sociais

têm papel fundamental neste novo momento social, político e econômico. Elas cooperam para

a divulgação e circulação de informações. Deste modo, a Noix transforma-se em um nicho de

mercado gerando diversos outros nichos a partir de uma marca. A comercialização não é pela

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marca, é um conceito, pela representação de uma identidade, de uma cultura. A Noix percebe

isso a partir de um trabalho netnográfico realizado nas redes sociais penetrando-se nos grupos.

O público se enxerga na marca não somente pelo o que ela produz e vende, mas principalmente

pela promoção da identidade. Não é pela marca que os fazedores e os makers aceitam participar

do evento da Noix, é pela promoção da cultura em um espaço de disputa O mercado captou que

os meios de comunicação, da metade do século XX até meados da primeira década do século

XXI, não condiziam mais com o público consumidor. A informação corre em tempo real, full

time, e as grandes marcas precisam estar antenadas a isso – o que explica a grande queda nas

vendas da Rider entre 1997 e 2016. Enquanto a festa de lançamento do chinelo Rider em 1997

fora um evento pomposo e fechado com artistas e pessoas famosas, da TV e dos jornais, em um

porta-aviões na área portuária do Rio de Janeiro, em 2016 foi um festival produzido por uma

empresa que enxerga na periferia uma potência em consumo. Em praticamente vinte anos, a

marca percebeu que para comercializar seus produtos era preciso se inspirar em pessoas reais,

com as quais o público se identificasse. Contrataram, então, atores locais com o qual o público

se enxerga. O full time ultrapassa os limites das redes sociais: é preciso se reconhecer através

da aproximação que o próprio público tem com a referência, seja ela intelectual, artística., em

um cenário em que a diversidade é pauta, mas é também disputada para ser ouvida. Seja por

editais, na lógica do investimento cultural, seja pela voz da pauta de sua identidade. A Noix é

um fio condutor, um acesso que a população periférica precisa para ser ouvida, ao mesmo tempo

em que a mesma Noix é também artifício das marcas para se comunicar com essa população.

Deste modo, faz com que a economia criativa produza diversidade e espaços cada vez mais

identitários, como para RB que diz que a toda a significação e motivo da existência do festival

começa no campo da linguagem, da compreensão de resistência. Assim, a realização da

atividade ocorre no campo subjetivo e objetivo. O objetivo se refere ao investimento em

políticas públicas relacionadas ao campo da cultura, e o subjetivo está relacionado à busca pela

valorização da identidade a partir desses incentivos políticos.

Culminou do debate sobre a diversidade em si estar atrelado à falta de oportunidades

no acesso da periferia ao mercado de trabalho. Alguns dos entrevistados indicaram também a

falta de oportunidade de trabalho no Brasil atualmente, o que fez com que procurassem

maneiras criativas de conseguir se manter. Outro ponto fundamental é mencionado nas

entrevistas é sobre a importância de influenciar outras pessoas que se identifiquem – o que faz

com que ratifique ainda mais um público específico ao se reconhecer no outro. Essas ações são

as que fortificam determinados grupos criando, desta maneira, nichos de mercado.

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Pelo público voltado de ter acesso às peças que às vezes não são acessíveis à periferia,

então a pessoa da periferia tem acesso, a pessoa da comunidade tem acesso a essas

peças. Para o brechó é importante ter pessoas reais que se identificam com o meu

trabalho e de estar sempre sendo referência para outras pessoas (BRECHÓ RUA E

VIDA, 2018).

Torna-se perceptível, a partir da análise dessas entrevistas, o perfil dos fazedores. São

atores periféricos que alcançaram um lugar no meio cultural a partir investimento (ou

desinvestimento) na cultura. Outros entrevistados mencionaram também a oportunidade de

participarem do festival por estarem inseridos entre os 13,1% de desempregados atualmente no

Brasil (BRASIL ECONÔMICO, 2018). Ou seja, existe uma demanda por emprego que o

mercado como um todo não consegue abarcar. Por este motivo, trabalhos informais vão se

inserindo na realidade de muitos brasileiros. Seriam eles o #tudocria, o #DáPraFazer, pelo poder

de criação tendo poucas oportunidades e por conseguirem se manter ativos trabalhando mesmo

em uma conjuntura nacional que não colabora. Para Amnah Asad, vai para muito além do

empreendedorismo. Para a idealizadora da Noix, a missão é ser um dedo no pulso das pessoas

e usar diferentes disciplinas para obter insights sobre o que as pessoas sentem e querem,

conectando, desta maneira, pessoas e marcas, pessoas e projetos, pessoas e propósitos. Assim,

como foi sugerido ainda na introdução, essa relação das periferias com o mercado é o resultado

das classes C e D e ascensão no Brasil. É uma classe consumidora que é beneficiada pela

implantação de programas sociais e pela confiança do governo ao liberar crédito. Ou seja, eles

são estimulados a comprar e agora passam a produzir. É um campo de disputa, mas o conflito

gera a possibilidade de defender a diversidade.

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Índice Geral de Apêndices

APÊNDICE A. Fotos do Festival Rider #DáPraFazer em parceria com a Noix

APÊNDICE B. Quadro da análise geral das entrevistas realizadas no Festival Rider

#DáPraFazer

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APÊNDICE A – FOTOS DO FESTIVAL RIDER #DÁPRAFAZER EM PARCERIA

COM A NOIX

Data: 17/03/2018

Local: Praça Alexandre Herculano – Centro, Rio de Janeiro

Fonte das imagens: Priscila Brandão, 2018

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APÊNDICE B

Quadro 2) Análise geral das entrevistas realizadas no Festival Rider #DáPraFazer

Fonte: Elaboração própria

CATEGORIA SUBCATEGORIA UNIDADE DE

REGISTRO

UNIDADE DE CONTEXTO

COMO É

REALIZADO O

CONVITE PARA

INTEGRAR O

FESTIVAL

RELAÇÃO

INTERPESSOAL/

REDES SOCIAIS

“Acredito que elas tenham jogado

o meu nome no ar e o Fiotti falou

que o Emicida já curtia a minha

música e gostava e tudo mais e

tocou. E chegou até a mim o

convite através do laboratório

fantasma, eles me contactaram por

e-mail.”

FESTIVAL RIDER

#DÁPRAFAZER

PARA A

PROMOÇÃO DA

DIVERSIDADE

RATIFICA A

NECESSIDADE

DA

MANUTENÇÃO

DE CULTURAS

“fortifica a moda de rua, mostra

realmente quem são as pessoas

que estão trabalhando nisso, que

tão na correria e então não é só

importante para a moda de rua”

PARA A

AUTOPROMOÇÃO

(DA MARCA)

DIVULGAÇÃO “Tinham muitas marcas menores

que são aqui do subúrbio, da

baixada, muitos brechós e isso é

muito maneiro porque foi uma

visibilidade para essas marcas

muito grande.”

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ANEXO A – REALEASE FINANCEIRO DO PRIMEIRO TRIMESTRE DA

GRENDENE

Data da aferição: 26-04-2018

Fonte: Informações financeiras Grendene25

25 Disponível em: < http://ri.grendene.com.br/PT/Informacoes-Financeiras/Releases-de-Resultados> Acesso feito em: 30-04-2018


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