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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE QUÍMICA … Isabela Abreu... · ceder espaço em seu...

Date post: 30-Aug-2019
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51
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE QUÍMICA QUÍMICA ISABELA ABREU TRINDADE DA SILVA ESPECTROFLUORIMETRIA PARA A DETERMINAÇÃO DE ASPARTAME COMO ADULTERANTE EM ADOÇANTES NITERÓI 2016
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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE QUÍMICA

QUÍMICA

ISABELA ABREU TRINDADE DA SILVA

ESPECTROFLUORIMETRIA PARA A DETERMINAÇÃO DE

ASPARTAME COMO ADULTERANTE EM ADOÇANTES

NITERÓI

2016

II

ISABELA ABREU TRINDADE DA SILVA

ESPECTROFLUORIMETRIA PARA A DETERMINAÇÃO DE

ASPARTAME COMO ADULTERANTE EM ADOÇANTES

Monografia apresentada ao Curso de

Graduação de Bacharelado em Química

Industrial da Universidade Federal Fluminense

como requisito parcial para a obtenção do Grau

de Bacharel em Química Industrial.

Orientadora: Profa. Dra. Flávia Ferreira de Carvalho Marques

Coorientadora: Ma. Renata Corrêa de Carvalho

III

ISABELA ABREU TRINDADE DA SILVA

ESPECTROFLUORIMETRIA PARA A DETERMINAÇÃO DE

ASPARTAME COMO ADULTERANTE EM ADOÇANTES

Monografia apresentada ao Curso de

Graduação de Bacharelado em Química

Industrial da Universidade Federal

Fluminense como requisito parcial para a

obtenção do Grau de Bacharel em Química

Industrial.

Aprovada em 19 de dezembro de 2016.

BANCA EXAMINADORA

Niterói

2016

IV

S586 Silva, Isabela Abreu Trindade

Espectrofluorimetria para a determinação de aspartame como

adulterante em adoçantes / Isabela Abreu Trindade Silva. – Ni-

terói: [s.n.], 2016.

51f.

Trabalho de Conclusão de Curso - (Bacharelado em Quími-

ca Industrial) – Universidade Federal Fluminense, 2016.

1. Espectroscopia de fluorescência. 2. Fluorimetria. 3. Edul-

corante. 4. Método analítico. I. Título.

CDD.535.84

V

A vida vai ficando cada vez mais dura perto do topo.

(Friedrich Nietzsche)

VI

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por tudo que fez, faz e fará por mim. Por seu cuidado

e consolo nos momentos difíceis. Por não ter me deixado desistir e me abençoar todos os dias

com vida e saúde. Tudo que alcancei até hoje foi por sua grandiosa graça e misericórdia. Não

tenho palavras pra agradecer o seu amor por mim.

Agradeço ao meu muito saudoso e amado pai, Agenor, que sempre me ensinou o

caminho correto a seguir, sempre me deu todas as oportunidades de conquistar meus sonhos e

sempre me ensinou a ser o melhor que eu possa ser. A pessoa que mais vibrou com todas as

minhas conquistas, desde as mais bobas até as mais importantes. Devo muito a ele por ter me

dado educação e me ensinado valores que carregarei eternamente comigo, mas principalmente

por ter me ensinado o que é o amor. Dedico todas as minhas conquistas a ele e gostaria do

fundo do meu coração que estivesse aqui.

Agradeço a minha mãe e aos meus irmãos, Rosangela, Raphael e Bruno por estarem

comigo e sempre cuidarem de mim. Por me incentivarem e acreditarem no meu potencial.

Agradeço ao meu marido, Rodrigo, que muitas vezes aguentou meu mau humor nos

finais de período da faculdade, me incentivando em todos os momentos. Sou grata por seu

amor, carinho, cuidado, paciência e compreensão, por ser meu ombro amigo e ouvir meus

desabafos.

Agradeço a minha orientadora, Profa. Dra. Flávia Marques, por ter sido tão atenciosa

comigo. Por ter se mostrado uma professora no sentido mais profundo da palavra, não

apenas de uma disciplina, mas uma professora de vida.

Agradeço a minha querida coorientadora, Renata Corrêa, por toda paciência em me

ensinar e auxiliar no meu projeto, o que tornou tudo muito mais agradável. Por estar sempre

pronta para tirar minhas dúvidas, se mostrando interessada e empolgada com nosso projeto. É

bom trabalhar com pessoas assim!

Agradeço aos professores da UFF pelo exemplo de profissionais que foram para mim,

principalmente aos professores Euler Gigante, Eluzir Chacon, Méri Vieira, João Célio e

Odivaldo Cambraia. Gostaria também de agradecer ao Prof. Annibal Duarte Pereira Netto, por

ceder espaço em seu laboratório para que eu pudesse realizar meu projeto de monografia.

Por fim, agradeço às amigas Julianna Pinho, Olívia Moreira, Barbara Jardim e Laís

Oliveira por todo apoio que sempre me deram e que tornaram os dias na UFF inesquecíveis.

VII

RESUMO

A alimentação tem um papel fundamental na preservação de uma boa saúde. Uma dieta rica em

açúcar pode resultar em ganho de peso e alterações das taxas sanguíneas, como glicose e

colesterol. O aumento da preocupação com estes riscos foi o motivador para o desenvolvimento

de edulcorantes, que são substâncias menos calóricas e que podem substituir o açúcar refinado.

No entanto, o uso dos edulcorantes artificiais em adoçantes de mesa desperta a atenção dos

consumidores devido à existência de dados controversos no que diz respeito à segurança em sua

utilização. Dentre os vários edulcorantes existentes, o aspartame tem sido alvo de diversas

pesquisas no campo científico que o responsabilizam por alterações neuroquímicas, além de

problemas dermatológicos, respiratórios, neurológicos e até mesmo câncer. Ainda não há, na

literatura, relatos de metodologias de análise para determinação de aspartame utilizando a

espectrofluorimetria. Por este motivo, este trabalho teve como objetivo desenvolver um método

baseado na fluorimetria para a determinação deste edulcorante, especialmente como

contaminante em adoçantes de mesa que apresentam outra composição, verificando se os

mesmos estão em conformidade com a informação fornecida no rótulo. As condições analíticas

otimizadas foram: (i) soluções de amostra e padrão preparadas em água ultrapura e (ii) varredura

normal com medições dos sinais fluorescentes em λexc/λem = 210/285 nm. O método analítico foi

validado, demonstrando linearidade na faixa de 0,5 a 5,0 mg L-1

, e alta sensibilidade verificada

através do limite de detecção de 0,13 mg L-1

. Repetitividade com RSD = 3,2% (n = 7) e precisão

intermediária com tcalculado (0,191) < tcrítico (2,780) para 95% de confiança, demonstraram a boa

precisão do método. Diferentes marcas de adoçante que não continham aspartame em sua

composição foram analisadas, e em nenhuma delas este edulcorante foi detectável. Portanto, o

método desenvolvido neste trabalho é bastante simples e de baixo custo, podendo ser uma ótima

alternativa para o controle de qualidade destes tipos de adoçantes, garantindo a segurança

principalmente dos consumidores que não podem ingerir aspartame, como fenilcetonúricos,

gestantes e lactentes.

Palavras chave: alimentação, saúde, edulcorantes, aspartame, contaminante, determinação,

espectrofluorimetria.

VIII

ABSTRACT The feeding has a fundamental role in preserving good health. High consumption of sugar may

result in weight gain and changes in blood rates such as glucose and cholesterol. The

development of sweeteners came with the risks associated with the consumption of sugars.

However, the use of artificial sweeteners in tabletop sweeteners has attracted the attention of

consumers because of the existence of controversial data regarding the safety of their use.

Aspartame, an artificial sweetener, has been responsible for neurochemical alterations, as well

as dermatological, respiratory, neurological and even cancer problems. There are still no reports

in the literature of methodologies for the determination of aspartame using spectrofluorimetry.

For this reason, the aim of this work was to develop a method based on fluorimetry for the

determination of this sweetener, especially as a contaminant in tabletop sweeteners that present

another sweetener in their composition. The optimized analytical conditions were: (i) sample

solutions and standard solutions prepared in ultrapure water and (ii) normal scanning with

fluorescence signal measurements at λexc / λem = 210/285 nm. The analytical method was

validated, showing linearity in the range of 0.5 to 5.0 mg L-1

, and high sensitivity verified

through the limit of detection of 0.13 mg L-1

. Repeatability with RSD = 3.2% (n = 7) and

intermediate precision with tcalculate (0,191) <tcritical (2,780) at 95% confidence, demonstrated the

good precision of the method. Different brands of sweeteners that did not contain aspartame in

their composition were analyzed, and in none of them was this sweetener detectable. Therefore,

the method developed in this work is quite simple and low cost, and can be a great alternative

for the quality control of these types of sweeteners, ensuring the safety of consumers who can

not ingest aspartame, such as phenylketonuric, pregnant women and infants.

Keywords: food, health, sweeteners, aspartame, contaminant, determination,

spectrofluorimetry.

IX

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.................................................................................................................. 16

1.1 Alimentação...................................................................................................................... 16

1.2 Edulcorantes...................................................................................................................... 17

1.3 Aspartame......................................................................................................................... 18

1.4 Métodos analíticos para determinação de aspartame......................................................... 20

2. OBJETIVOS E JUSTIFICATIVAS ....................................................................................22

2.1 Objetivos........................................................................................................................... 22

2.1.1 Objetivo geral ................................................................................................................ 22

2.1.2 Objetivos específicos .................................................................................................... 22

2.2 Justificativas...................................................................................................................... 22

3. FLUORIMETRIA – BREVE FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA....................................... 24

4. MATERIAIS, REAGENTES, SOLUÇÕES, INSTRUMENTAÇÃO E MÉTODOS......... 27

4. 1 Materiais e Reagentes.................................................................................................... 27

4.1.1 Amostras.......................................................................................................................27

4.2 Soluções...........................................................................................................................27

4.3 Medições por espectrofluorimetria................................................................................ 28

4.4 Preparo das amostras de adoçante em pó.........................................................................28

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO.........................................................................................30

5.1 Verificação do par excitação/emissão (exc/em) fluorescente para o aspartame ..........30

5.2 Estudo do efeito do solvente.............................................................................................31

5.3 Estudo da influência do pH.............................................................................................. .32

5.4 Estudo da influência do tratamento fotoquímico..............................................................36

5.5 Estudo da estabilidade do aspartame em meio aquoso.....................................................37

5.6 Condições finais experimentais otimizadas para a determinação espectrofluorimétrica do

aspartame.................................................................................................................... ..............38

5.7 Obtenção dos parâmetros analíticos de mérito.................................................................39

5.8 Aplicação do método analítico..........................................................................................42

6. CONCLUSÕES .................................................................................................................... 45

X

7. BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................... 46

XI

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Estrutura química do aspartame............................................................................... 18

Figura 2: Diagrama de orbitais moleculares no estado fundamental e excitado da

molécula...................................................................................................................................24

Figura 3: Diagrama simplificado indicando os processos que ocorrem na fluorescência.......25

Figura 4: Espectros de excitação e emissão fluorescente de (a) solução aquosa de aspartame

1,0 mg L-1

e (b) água ultrapura (branco)...................................................................................30

Figura 5: Espectros de excitação e emissão fluorescentes dos solventes (a) metanol, (b) etanol,

(c) metanol:água 1:1, (e) água ultrapura e de (d) solução aquosa do aspartame 1,0 mg L-1

,

todos obtidos em fenda de 20 nm..............................................................................................31

Figura 6: Espectros de excitação e emissão fluorescentes de (a) aspartame 1,0 mg L-1

em HCl

0,1 mol L-1

e (b) HCl 0,1 mol L

-1 (branco), todos obtidos com fenda de 20 nm.......................32

Figura 7: Espectros de excitação e emissão fluorescentes de (a) aspartame 1,0 mg L-1

em

NaOH 0,1 mol L-1

e (b) NaOH 0,1 mol L

-1 (branco), todos obtidos com fenda de 20 nm.......33

Figura 8: Os principais produtos de degradação do aspartame quando em (a) baixos valores

de pH e (b) elevados valores de pH.........................................................................................34

Figura 9: Reação de ciclização intramolecular do aspartame (Fonte: adaptado de referência

38)..............................................................................................................................................34

Figura 10: Influência do pH no sinal fluorescente do aspartame 1,0 mg L-1

...........................35

Figura 11: Espectros de excitação e emissão fluorescente (λexc = 210 nm e λem = 285 nm,

fenda de 20 nm) da solução aquosa de aspartame 1,0 mg L-1

, após diferentes tempos de

irradiação UV: (a) 0 min; (b) 15 min; (c) 30 min, sendo os espectros da água ultrapura

(branco) apresentados em (d)...................................................................................................37

Figura 12: Estudo da estabilidade de uma solução aquosa de aspartame 1,0 mg L-1

ao longo do

tempo. Medições realizadas em fenda de 20 nm.......................................................................38

XII

Figura 13: Curva analítica para soluções aquosas de aspartame obtida através de varredura

normal (λexc/λem = 210/285 nm) em fenda de 10 nm.................................................................40

Figura 14: Gráfico de resíduos para as determinações fluorimétricas soluções aquosas de

aspartame...................................................................................................................................40

Figura 15: Espectros de excitação e emissão de (a) amostra E (adoçante com aspartame), (b)

solução aquosa de aspartame 5,0 mg L-1

, (c) amostra A (adoçante sem aspartame), (d) água

ultrapura (branco). Os resultados para as amostras B, C e D mostrados na Tabela 7 foram

iguais ao resultado da amostra A...............................................................................................44

XIII

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Principais métodos analíticos instrumentais reportados na literatura para

determinação de aspartame......................................................................................................21

Tabela 2: Comparação entre os sinais líquidos fluorescentes do aspartame em pH original da

solução aquosa (7,62), e em meios fortemente ácido e básico................................................33

Tabela 3: Comprimentos de onda máximos de excitação (λexc) e emissão (λem) fluorescente do

aspartame 1,0 mg L-1

e os seus respectivos sinais líquidos em diferentes valores de pH

(tampão Britton-Robinson) e em solução aquosa.................................................................... 35

Tabela 4: Efeito da irradiação UV no sinal fluorescente do aspartame 1,0 mg L-1

. Medições

realizadas em fenda de 20 nm................................................................................................. ..36

Tabela 5: Resumo das condições experimentais selecionadas para determinação

espectrofluorimétrica do aspartame em adoçantes....................................................................39

Tabela 6: Parâmetros analíticos de mérito do método desenvolvido por

espectrofluorimetria..................................................................................................................42

Tabela 7: Determinação de aspartame em amostras de adoçantes de mesa (sachês de 800

mg)............................................................................................................................................43

XIV

LISTA DE ABREVIATURAS

ANVISA – Agencia Nacional de Vigilância Sanitária

BRICS - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul

DPR – Desvio Padrão Relativo

DKP - Dicetopiperazina

FDA – Food and Drug Administration

FAO – Food and Agriculture Organization

IDA – Ingestão Diária Aceitável

INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia

JECFA – Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives

LAQAFA – Laboratório de Química Analítica Fundamental e Aplicada

LD – Limite de Detecção

LQ – Limite de Quantificação

OMS – Organização Mundial de Saúde

SVS/MS - Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde

UERJ– Universidade Estadual do Rio de Janeiro

VIGITEL - Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito

Telefônico

u.a. – Unidades arbitrárias

WHO – World Health Organization

exc – Comprimento de onda de excitação

XV

em – Comprimento de onda de emissão

16

1. INTRODUÇÃO

1.1 Alimentação

A alimentação tem um papel fundamental na vida de todos os seres vivos. No

entanto, tem se tornado cada vez mais industrializada, devido à praticidade e ao pouco

tempo que a correria do dia a dia impõe. A organização humanitária britânica, Oxfam,

realizou uma pesquisa revelando que o país que tem a alimentação mais saudável no mundo

é a Holanda e, em 25º lugar no ranking, ficou o Brasil. 1

A relação direta entre o que as pessoas comem e a influência em sua saúde tem

causado preocupação. Já é comprovado cientificamente que obesidade, doenças

cardiovasculares, distúrbios metabólicos e diabetes são consequências não só do

sedentarismo, mas também da má alimentação. 2

Uma dieta baseada em alimentos ricos em açúcar e gordura é o fator determinante que

resulta em peso corporal inadequado. Estudos indicam que, no Brasil, a obesidade e sobrepeso

atingem 30% das crianças e adolescentes. 3, 4

Baseados nessa questão atual, pesquisadores do Instituto de Medicina da

Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) desenvolveram um guia de alimentação

saudável com recomendações e instruções sobre os alimentos que devem ser ingeridos em

uma dieta ideal e como cada um desses nutrientes influencia na perda ou ganho de peso.

Entre as recomendações para uma boa alimentação destacam-se a redução de açúcar,

refrigerantes, sal, leites e derivados com alto teor de gordura. 3

Outro seguimento importante que tem se destacado na busca por uma alimentação

balanceada e de baixo teor calórico é o de desenvolvimento muscular corporal, que é cada

vez mais almejado nas academias de ginástica. A busca pelo corpo “ideal” tem feito muitas

pessoas mudarem sua alimentação e aumentarem os níveis de exercício físico. Porém, não

são poucos os casos de internações, bulimia, anorexia e, em casos mais extremos, morte,

devido à busca pelo estereótipo imposto pela sociedade. 5

O aumento percentual da obesidade para os brasileiros adultos (índice de massa

corporal acima de 25), segundo o BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul,

países que compartilham de uma situação econômica com índices de desenvolvimento e

17

situações econômicas parecidas), foi de 39% em 2006 para 49% em 2014 (mulheres) e de

47% em 2006 para 57% em 2014 (homens). 6

O estudo feito pela Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças

Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL) demonstra que o número de brasileiros

acima do peso vêm crescendo com o passar dos anos; porém, ainda fica abaixo da média

quando comparado à África do Sul, Rússia e China, ficando acima apenas da Índia. 6

1.2 Edulcorantes

O aumento na preocupação com os riscos oferecidos pelo consumo excessivo de

produtos com sacarose em sua composição, como refrigerantes, salgados e massas, foi o

grande motivador do desenvolvimento de substâncias que permitissem a substituição desse

açúcar por algo menos calórico e que mantivesse o sabor adocicado dos mesmos.

Neste contexto, os edulcorantes são substâncias com poder adoçante elevado e baixo

teor calórico utilizados na formulação de produtos destinados a pessoas diabéticas e/ou

obesas. 7, 8

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou, em 2014, que o consumo de

açúcar fosse reduzido de 10% da dieta diária para apenas 5% tanto para adultos quanto para

crianças. O objetivo dessa recomendação é a diminuição na quantidade de açúcar ingerido a

partir de produtos industrializados que muitas vezes não são vistos como doce. No ketchup,

por exemplo, a quantidade de açúcar é de 4 g em uma colher de chá, enquanto que em uma

lata de refrigerante tem cerca de 40 g em geral. 8, 9

A substituição ou diminuição do açúcar deve ser levada em consideração por sua

riqueza em calorias e pobreza em nutrientes. O açúcar refinado, mais utilizado à mesa, após

as etapas de refinamento fica pobre em vitaminas e sais minerais, permanecendo, em quase

totalidade, a sacarose. 9

Os adoçantes de mesa, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária

(ANVISA), são produtos formulados para conferir sabor doce aos alimentos e bebidas, e são

constituídos por edulcorante(s) previsto(s) em Regulamento Técnico para Açúcares e

Produtos para Adoçar (Resolução RDC nº 271, de 22 de setembro de 2005)12

. Dentre os

edulcorantes artificiais destacam-se a sacarina, ciclamato, acesulfame-k, sucralose e o

aspartame (substância de interesse neste trabalho).8

O uso dos edulcorantes artificiais em adoçantes de mesa desperta a preocupação dos

consumidores devido à existência de dados controversos no que diz respeito à segurança em

18

sua utilização. Antes da autorização do consumo de qualquer um desses aditivos, faz-se

necessário um controle rigoroso com avaliação toxicológica em que os efeitos do uso desses

edulcorantes devem ser observados por longos períodos para caracterização de acúmulo no

organismo e detecção de possível toxicidade. São encontrados relatos na literatura que

relacionam seu consumo como causa de problemas graves de saúde como câncer, alergias e

hiperatividade. Portanto, todos os aditivos devem ser analisados periodicamente, pois podem

sofrer variações nas condições de utilização que alterem seu comportamento, aumentando ou

diminuindo sua possível toxicidade. 9, 10, 11

1.3 Aspartame

O aspartame, descoberto acidentalmente em 1965 por um pesquisador dos

laboratórios G. D. Searle, nos Estados Unidos, é um tipo de edulcorante sintético que

apresenta poder adoçante 200 vezes maior que a sacarose. Seu sabor é o mais próximo ao do

açúcar comum, o que é relativamente bom quando comparado com a grande maioria dos

edulcorantes sintéticos que podem apresentar gosto agridoce, doce-azedo, doce metálico ou

até mais doce que o próprio açúcar. 12, 13

Quimicamente chamado de N-L-alfa-aspartil-L-fenilalanina-L-metil-éster, com

fórmula química C14H18N2O5, massa molar 294,301g mol-1

e é sólido branco solúvel em

água, sendo composto pelos aminoácidos ácido aspártico e fenilalanina. A Figura 1

apresenta sua estrutura química. 13

Figura 1: Estrutura química do aspartame.

O consumo de aspartame só foi autorizado no Brasil em 1988, após a realização de

diversos estudos toxicológicos e, ainda assim, há questionamentos em relação a sua

segurança e toxicidade. Após ingestão, o aspartame é rapidamente hidrolisado no intestino

19

formando o dipeptídeo L-aspartil-L-fenilalanina e metanol. Por sua vez, o dipeptídeo é

metabolizado nas células da mucosa intestinal em ácido aspártico e fenilalanina e o metanol

é metabolizado em formaldeído e, então, em ácido fórmico. Estudos realizados in vivo

demonstram que o formaldeído pode estar relacionado com o aumento da incidência de

linfomas e leucemias, porém, segundo alguns autores, seriam necessárias altas doses de

aspartame para gerar toxicidade, uma vez que a quantidade de metanol e, consequentemente,

de formaldeído liberada pela digestão do aspartame é muito pequena 14, 15, 16

. Pesquisadores

buscam a confirmação ou não da relação do consumo de aspartame com aparecimento de

tumores, câncer, mudanças de humor e perda de memória12, 17,18

. Alguns efeitos colaterais

associados ao aspartame, já comprovados cientificamente, são indução de reações de

hipersensibilidade, manifestadas por urticária, prurido e angioedema, e acidose tubular

renal, quando consumido em grande quantidade. 14

A avaliação toxicológica deste agente edulcorante pelo Joint Food and Agriculture

Organization (FAO) / World Health Organization (WHO) Expert Committee on Food

Additives (JECFA), um comitê científico internacional de especialistas que avalia a

inocuidade de aditivos alimentares, estabeleceu que a Ingestão Diária Aceitável (IDA) de

aspartame seria de 40 mg kg-1

de peso corpóreo, valor que também corresponde à IDA do

aspartame no Brasil.15, 19

Segundo o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO), o

aspartame é contraindicado para fenilcetonúricos, gestantes e lactentes 12

. A contraindicação

do consumo de aspartame durante a gestação é motivada pelo acúmulo de ácido aspártico.

Segundo o pesquisador Sturtevant20

, através de suas pesquisas em ratos, a ingestão

considerável de aspartame é responsável pela produção de necrose neuronal hipotalâmica. O

autor Stegink, por sua vez, afirma que o ácido aspártico não se acumula nos tecidos fetais e,

por isso, não existe comprovação da toxicidade fetal resultante do consumo de aspartame

durante a gestação. 21

Um dos mais evidentes e comprovados danos causados pela ingestão de aspartame

remete às pessoas com uma doença rara, conhecida mundialmente como fenilcetonúria. Trata-

se da mutação no gene responsável pela codificação da enzima fenilalanina-hidroxilase,

ativada no fígado e com função de metabolizar o aminoácido fenilalanina em tirosina.

Quantidades excessivas de fenilalanina no sangue fazem com que este aminoácido tenha

capacidade de entrar no Sistema Nervoso Central, causando consequências tóxicas

gravíssimas, como retardo mental. Essa doença é diagnosticada no “teste do pezinho” em

recém-nascidos, por isso é de suma importância sua realização. O diagnóstico precoce é

20

fundamental para controle e tratamento adequado da doença, sendo necessária a exclusão ou

substituição de todos os alimentos que forneçam, de alguma forma, a fenilalanina. Esse

controle impede o desenvolvimento de retardo mental, porém, são necessários alimentos que

deem o aporte proteico que é perdido pela exclusão desse aminoácido. 22

Segundo a determinação da Portaria da Secretaria de Vigilância Sanitária do

Ministério da Saúde - SVS/MS N.º 29/98, deve constar no rótulo de alimentos com adição de

aspartame, em negrito, a informação “contém fenilalanina” para que se torne possível o

controle dietético pelos portadores dessa deficiência metabólica. 23

1.4 Métodos analíticos para a determinação de aspartame

O aspartame tem sido alvo de diversas pesquisas no campo científico, principalmente

devido ao interesse da indústria em comprovar ou não se este edulcorante é prejudicial à

saúde. As técnicas mais utilizadas para sua determinação é a espectrofotometria de absorção

molecular no UV-visível, Cromatografia a Líquido de Alta Eficiência (HPLC) e eletroforese

capilar (EC), ambas acopladas com detectores espectrofotométricos de absorção no

ultravioleta (UV) 10, 24, 25

. Alguns métodos espectrofotométricos, métodos cromatográficos e

eletroforéticos encontrados na literatura para esta determinação estão resumidos na Tabela 1.

Métodos baseados na espectrofluorimetria para a determinação do aspartame não foram

amplamente explorados como os anteriores, sendo somente encontrados na literatura métodos

cromatográficos utilizando a técnica de Cromatografia a Líquido de Alta Eficiência (HPLC)

acoplada com detector de fluorescência.

21

Tabela 1. Principais métodos analíticos instrumentais reportados na literatura para

determinação de aspartame.

Técnica utilizada Características Referências

Eletroforese Capilar - UV

λ = 220 nm

26 LD = 5,1 mg L-1

LQ = 9,4 mg L-1

Faixa Linear = 6,5 - 21,5 mg L-1

Espectrometria de absorção

no UV-Vís

Determinação indireta do aspartame

utilizando ninidrina como reagente

derivatizante.

λ = 603 nm

LD = 0,577 mg L-1

LQ não especificado

Faixa Linear = 5,89 - 58,9 mg L-1

27

HPLC – UV

λ = 210 nm

28

LD = 0,08 mg L-1

LQ = 0,23 mg L-1

Faixa Linear = 1,5 - 50 mg L-1

HPLC-Fluorescência

Determinação indireta do aspartame

utilizando fluorescamina como

reagente de fluorescência

λexc/λem = 395/482

LD = 0,04 mg L-1

LQ não especificado

Faixa Linear = 1,0 – 4,0 mg L-1

29

Portanto, como não há na literatura registro de desenvolvimento de método

espectrofluorimétrico para a determinação de aspartame, a proposta desse trabalho foi

desenvolver um novo método analítico baseado na espectrofluorimetria, que seja de fácil

realização, simples, rápido e economicamente favorável para sua quantificação em adoçantes

de mesa. Comparada a outras técnicas, como HPLC, a espectrofluorimetria apresenta maior

rapidez, simplicidade e menor consumo de reagentes.

22

2. OBJETIVOS E JUSTIFICATIVAS

2.1 Objetivos

2.1.1 Objetivo geral

O presente trabalho tem como objetivo o desenvolvimento de um método analítico

baseado na espectrofluorimetria que seja simples, rápido, sensível e de baixo custo para

determinação do edulcorante artificial aspartame como adulterante em adoçantes de mesa.

2.1.2 Objetivos específicos

- Estudar as características fluorescentes da molécula do aspartame para a otimização

das condições experimentais que proporcionem a melhor sensibilidade para o método

espectrofluorimétrico;

- Validar a metodologia desenvolvida considerando os seguintes parâmetros:

linearidade e faixa linear, limites de detecção e quantificação, precisão e exatidão;

- Realizar estudos de preparo das amostras (adoçantes de mesa);

- Aplicar o método para quantificar aspartame, principalmente em adoçantes de mesa

na forma de pó (sachês), que dizem não ter este edulcorante em sua formulação, verificando

se os mesmos estão em conformidade com a informação fornecida no rótulo;

2.2 Justificativas

O mercado de consumo dos adoçantes de mesa encontra-se em expansão não só

pelo aumento de casos de diabetes, mas também porque a procura por este produto é

motivada por interesse das pessoas em manter a boa forma corporal, já que os adoçantes têm

uma quantidade de calorias muito menor que o açúcar comum.

No entanto, conforme já mencionado na Seção 1.3, o uso do aspartame é alvo de

diversas críticas devido à sua possível toxicidade. Muitos estudos indicam que seu consumo

em excesso pode causar reações graves à saúde como problemas dermatológicos,

respiratórios, neurológicos e até mesmo câncer. 10

23

Por este motivo, visando preservar a saúde do consumidor, é importante ampliar e

simplificar os meios analíticos para quantificação deste edulcorante, principalmente com o

intuito de identificar a sua presença ou não como adulterante em adoçantes de mesa nos quais

os fabricantes declaram não conter este edulcorante.

24

3. FLUORIMETRIA – BREVE FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A fluorescência é um fenômeno que ocorre devido à emissão da radiação por espécies

químicas (luminóforos) após terem absorvido radiação eletromagnética na região do visível e do

ultravioleta. Portanto, ao absorver um fóton, a molécula é promovida para um estado de maior

energia, denominado estado excitado singleto (S1). Uma molécula que não absorveu nenhum

fóton encontra-se no estado fundamental singleto, denominado S0 (Figura 2). A fluorescência,

portanto, é caracterizada pela transição da molécula do estado excitado ao estado fundamental

com liberação de fótons, mantendo o mesmo número quântico de spin. 30, 31

Figura 2: Diagrama de orbitais moleculares no estado fundamental e excitado da molécula.31

O diagrama a seguir (Figura 3) representa, de forma sucinta, as etapas do fenômeno

da fluorescência. Pode-se observar a ocorrência da absorção de energia eletromagnética pela

molécula ocasionando a transição eletrônica do estado fundamental para o estado excitado de

maior energia e, em seguida, o relaxamento da molécula do nível de mais alta energia para um

de menor dentro daquele mesmo estado vibracional e, por último, a liberação de fótons que

resulta na fluorescência. 31

25

Figura 3: Diagrama simplificado indicando os processos que ocorrem na fluorescência. 31

Quanto maior a população de elétrons deslocalizados em uma molécula, maior seu

potencial fluorescente. Esta característica é preponderante em moléculas orgânicas

aromáticas. Existem também outros fatores que interferem diretamente na fluorescência,

como a estrutura da molécula, temperatura, o solvente utilizado, o pH na solução do analito, a

presença de heteroátomos e espécies capazes de desativar a molécula.31, 32

A presença de heteroátomos, por exemplo, afeta a fluorescência principalmente

quando estes estão ligados diretamente com o sistema π conjugado, pois há redução da

energia devido à transição eletrônica ser do tipo n → π* que representa absorção molar muito

menor do que transições do tipo π → π* que acontecem na ausência de heteroátomos

resultando na diminuição da fluorescência neste tipo de molécula. Estruturas planares de

moléculas são favorecidas pelo aumento na conjugação e interação dos elétrons

deslocalizados. 31

O tipo de solvente escolhido deve levar em consideração que suas características

podem afetar a fluorescência, pois conforme a sua polaridade, caráter prótico e viscosidade

podem acontecer aumento ou diminuição do sinal fluorescente. 31

A espectrofluorimetria constitui uma técnica de obtenção de espectros de emissão

molecular partindo da excitação do analito em comprimentos de onda específicos. A aplicação

de energia em forma de luz sobre o analito resulta na excitação da amostra em seu

comprimento de onda de absorção que é chamado também de excitação e, em um

comprimento de onda maior de emissão chamado de comprimento de onda de fluorescência.

31, 32, 33

26

Os espectros fluorescentes regularmente apresentam imagens de excitação e emissão

que podem ser sobrepostas. Isto acontece devido às diferenças de energia entre os estados

vibracionais no estado fundamental e no estado excitado serem as mesmas. 31

27

4 MATERIAIS, REAGENTES, SOLUÇÕES, INSTRUMENTAÇÃO E

MÉTODOS

4.1 Materiais e reagentes

A água ultrapurificada (18,2 MΩcm) utilizada para o preparo de todas as

soluções aquosas foi obtida a partir do sistema de purificação de água Arium Bagtanks,

Sartorius, Alemanha. Ácido clorídrico P.A. (Vetec, Brazil), hidróxido de sódio (Merck,

Brasil), etanol (Vetec, Brasil) e metanol (J.T.Baker, EUA) foram utilizados na

otimização do método espectrofluorimétrico. Ácido bórico (Vetec, Brasil), ácido

fosfórico (Vetec, Brasil) e ácido acético (Vetec, Brasil) foram utilizados no preparo do

tampão Britton-Robinson e o pH foi ajustado com solução de NaOH 0,1 mol L-1

com

auxílio de um pHmetro (DM-22, Digimed, Brasil). Câmara de radiação ultravioleta

construída no próprio laboratório - LaQAFA (Laboratório de Química Analítica

Fundamental e Aplicada) foi usada para o estudo da influência do tratamento

fotoquímico no sinal fluorescente do aspartame.34

4.1.1 Amostras

Quatro marcas distintas de adoçantes de mesa comercializados em forma de pó

(sachê), cuja composição (segundo o rótulo do fabricante) não apresentava o aspartame

como edulcorante, foram analisadas neste trabalho. Estes adoçantes foram adquiridos de

diferentes estabelecimentos comerciais (restaurantes, lanchonetes e padarias) da cidade

de Niterói, RJ-Brasil.

4.2 Soluções

Para a otimização do método espectrofluorimétrico foi utilizada solução

padrão de aspartame 1,0 mg L-1

(0,0034 mol L-1

), obtida a partir da diluição de solução

estoque 100 mg L-1

em diferentes solventes, como metanol, etanol, HCl 0,1 mol L-1

,

NaOH 0,1 mol L-1

e tampão Britton-Robinson em diferentes valores de pH.

O tampão Britton-Robinson foi preparado com a mistura de partes iguais das

soluções de ácido fosfórico 0,04 mol L-1

, ácido acético 0,04 mol L-1

e ácido bórico

28

0,04 mol L-1

com adições de volume adequado de NaOH 0,1 mol L-1

para atingir o pH

desejado.

O estudo do efeito da radiação ultravioleta foi realizado com a solução aquosa

de aspartame 1,0 mg L-1

. Esta solução foi colocada em tubos de quartzo (1,9 cm de

diâmetro e 13,7 cm de altura) e posicionada no centro do reator fotoquímico por 15 e 30

minutos.

A partir da solução estoque 100 mg L-1

(0,34 mol L-1

), preparada a cada dia de

análise, foram feitas diluições e soluções de 0,5; 0,75; 1,0; 2,0; 3,0; 4,0 e 5,0 mg L-1

que

foram utilizadas na construção das curvas analíticas.

4.3 Medições por espectrofluorimetria

O estudo da fluorescência do aspartame foi realizado no espectrofluorímetro da

marca VARIAN, modelo Cary Eclipse, tendo como fonte de excitação uma lâmpada

pulsátil do tipo descarga de xenônio, com 80 Hz e 12 watts. O equipamento apresenta

abertura de fenda (banda espectral de passagem) variando de 1,5 a 20 nm e permite

velocidade de varredura de 0,01 a 2400 nm min-1

. Seu detector, um fotomultiplicador

PMT R928, tem resposta sensível que detecta radiação até 900 nm. A aquisição de dados

e total controle do equipamento foi feita com o sistema operacional SWEclipse® Bio

Pack V 1.1 (XP WIN2000) software.

Para a medidas espectrofluorimétricas, foram utilizadas as bandas espectrais de

passagem de 10 e 20 nm, com velocidade de varredura de 1200 nm s-1

e cubetas de

quartzo com caminho óptico de 1 cm. Os comprimentos de onda de excitação (exc) e

emissão (em) máximos do aspartame em que foram feitas as medidas foram exc/em=

210/285 nm. Os valores dos sinais dos brancos foram medidos em todas as análises para

que, posteriormente, fossem feitos os cálculos dos valores líquidos referentes ao sinal

fluorescente do analito.

4.4 Preparo das amostras de adoçante em pó

Todo o conteúdo dos sachês das amostras de adoçantes foi pesado (800 mg) e

dissolvido em 250 mL de água ultrapura. As soluções foram previamente filtradas, antes

29

das medidas por espectrofluorimetria, com filtros de membrana de politetrafluoretileno

(PTFE) de porosidade 0,45 μm, para eliminar os excipientes dos adoçantes que não são

totalmente solúveis em água.

30

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O objetivo deste trabalho foi o desenvolvimento de um método analítico

espectrofluorimétrico eficaz, rápido e de baixo custo para determinação de aspartame

em adoçantes, tendo em vista que não existem muitas citações na literatura que utilizem

esta técnica na determinação em questão.

Foram realizados estudos de otimização, através da avaliação de fatores como

solvente, pH do meio e irradiação ultravioleta, com o objetivo de verificar a influência

destes parâmetros no sinal fluorescente do aspartame e garantir maior seletividade e

sensibilidade ao método.

5.1 Verificação do par excitação/ emissão (exc/em) fluorescente para o aspartame

O primeiro estudo realizado foi a verificação dos comprimentos de onda

máximos de excitação (λexc) e de emissão (λem) fluorescente do aspartame através da

varredura de sua solução aquosa a 1,0 mg L-1

. O par exc/em encontrado foi 210/285 nm

e os respectivos espectros de excitação e emissão, obtidos com fenda de 20 nm, podem

ser vistos na Figura 4.

200 250 3000

200

400

600

800

1000

Comprimento de onda (nm)

Inte

nsi

dad

e d

o s

inal

flu

ore

scen

te (

u.a

.)

(a)

(b)

(a)

(b)

Figura 4: Espectros de excitação e emissão fluorescente de (a) solução aquosa de

aspartame 1,0 mg L-1

e (b) água ultrapura (branco).

31

5.2 Estudo do efeito do solvente

A viscosidade, a polaridade e o caráter prótico do solvente afetam diretamente

a luminescência do analito, sendo que os solventes mais polares tendem a estabilizar os

luminóforos no estado excitado, desfavorecendo perda de energia por processos como

relaxação vibracional e favorecendo a fluorescência 35

. Sendo assim, metanol, etanol e

água:metanol (1:1 v/v) foram utilizados com o objetivo de verificar a influência do

solvente no sinal fluorescente do aspartame.

Os resultados obtidos (Figura 5) mostraram que os solventes metanol, etanol e

a mistura metanol:água (1:1 v/v) apresentavam alto sinal de fundo (provavelmente por

contaminantes provenientes da própria fabricação), tornando inviável o uso para

medição do aspartame.

Portanto, a utilização de água como solvente apresentou vantagens, tornando o

método mais simples, barato e seguro. Além disso, tendo em vista que a aplicação do

método é em amostras de adoçantes, o uso de soluções aquosas dispensaria um

tratamento dos rejeitos. Por este motivo, o desenvolvimento do método

espectrofluorimétrico prosseguiu com o emprego de água ultrapura como solvente.

Inte

nsi

dad

ed

osi

nal

flu

ore

scen

te(u

.a.)

200 250 3000

200

400

600

800

1000

Comprimento de onda (nm)

(c)

(e)

(a)

(d)

(b)

(d)

(e)

Figura 5: Espectros de excitação e emissão fluorescentes dos solventes (a) metanol, (b)

etanol, (c) metanol:água 1:1, (d) solução aquosa do aspartame 1,0 mg L-1

e de (e) água

ultrapura, todos obtidos em fenda de 20 nm.

32

5.3 Estudo da influência do pH

O pH é um parâmetro muito importante na fluorescência devido às diferenças

entre as propriedades luminescentes de moléculas com carga ou neutras, sendo que as

primeiras apresentam maior chance de fluorescer devido à maior rigidez molecular 35

.

Sendo assim, foi realizado um estudo das características fluorescentes do aspartame em

meio ácido e básico, utilizando soluções deste analito em HCl 0,1 mol L-1

e NaOH 0,1

mol L-1

.

As Figuras 6 e 7 mostram os espectros de excitação e emissão fluorescentes do

aspartame nos meios ácido e básico, respectivamente. Como pode ser visto, houve um

decréscimo no sinal líquido fluorescente do aspartame em ambos os meios, em

comparação com o sinal líquido deste analito em meio aquoso (pH original igual a

7,62). Além disso, observou-se também um deslocamento do λexc de 210 nm (em água

ultrapura) para 220 nm (em NaOH 0,1 mol L-1

). A Tabela 2 apresenta a comparação

entre os sinais líquidos fluorescentes do aspartame nos meios aquoso, ácido e básico,

demonstrando que maiores intensidades foram alcançadas em solução aquosa.

(a)

(b)

200 250 3000

200

400

600

800

1000

Comprimento de onda (nm)

Inte

nsi

dad

ed

osi

nal

flu

ore

scen

te(u

.a.)

(a)

(b)

Figura 6: Espectros de excitação e emissão fluorescentes de (a) aspartame 1,0 mg L-1

em

HCl 0,1 mol L-1

e (b) HCl 0,1 mol L

-1 (branco), todos obtidos com fenda de 20 nm.

33

(b)

(a)

200 250 3000

200

400

600

800

1000

Comprimento de onda (nm)

Inte

nsi

dad

ed

osi

nal

flu

ore

scen

te(u

.a.)

(a)

(b)

Figura 7: Espectros de excitação e emissão fluorescentes de (a) aspartame 1,0 mg L-1

em NaOH 0,1 mol L-1

e (b) NaOH 0,1 mol L

-1 (branco), todos obtidos com fenda de 20

nm.

Tabela 2: Comparação entre os sinais líquidos fluorescentes do aspartame em pH

original da solução aquosa (7,62), e em meios fortemente ácido e básico.

Solvente Sinal líquido fluorescente do aspartame

Água ultrapura 390

HCl 0,1 mol L-1

306

NaOH 0,1 mol L-1

331

O aspartame é relativamente estável no estado sólido e a baixas temperaturas.

Porém, a degradação da substância em solução é dependente do pH do meio e da

temperatura. Em meios com baixos valores de pH, o dipeptídeo é hidrolisado em seus

aminoácidos constituintes (ácido aspártico e fenilalanina); já em altos valores de pH,

uma ciclização intramolecular ocorre formando o DKP (dicetopiperazina) como

principal produto de degradação. As reações citadas são favorecidas pelo aumento da

34

temperatura e do tempo de exposição do aspartame às condições necessárias para sua

degradação. A Figura 8 apresenta os principais produtos de degradação do aspartame e

na Figura 9 observa-se a reação de ciclização intramolecular do aspartame com a

formação de DKP 36, 37, 38

. Portanto, sabendo-se que o aspartame é instável em soluções

ácidas e básicas, é possível sugerir que a variação do sinal fluorescente nestes meios

pode ser devido à degradação da molécula gerando substâncias que apresentam sinais

fluorescentes menores do que o do aspartame em solução aquosa.

Figura 8: Os principais produtos de degradação do aspartame quando em (a) baixos

valores de pH e (b) elevados valores de pH. (Fonte: adaptado de referência 38).

Figura 9: Reação de ciclização intramolecular do aspartame (Fonte: adaptado de

referência 38).

Um estudo mais detalhado do pH foi realizado utilizando tampão Britton-

Robinson na faixa de valores de pH compreendidos entre 2,0 e 12,0. Pequenos

deslocamentos do par λexc/λem e diferentes valores de intensidade fluorescente foram

35

observados em comparação com solução aquosa do analito, conforme apresentado na

Tabela 3 e na Figura 10. Como a maior intensidade fluorescente foi obtida em solução

aquosa, evidenciou-se que o emprego do tampão Britton-Robinson para obtenção de

diferentes valores de pH não favoreceu o aumento da sensibilidade do método.

Tabela 3: Comprimentos de onda máximos de excitação (λexc) e emissão (λem)

fluorescente do aspartame 1,0 mg L-1

e os seus respectivos sinais líquidos em diferentes

valores de pH (tampão Britton-Robinson) e em solução aquosa.

pH λexc/λem (nm) Sinal líquido

fluorescente (u.a.)

2,0 197/290 149

4,0 210/285 243

6,0 220/297 34

7,62 (pH original da solução aquosa) 210/285 390

8,0 210/285 65

10,0 215/290 133

12,0 215/290 24

0

100

200

300

400

2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0

pHInte

nsi

dad

ed

osi

nal

flu

ore

scen

te(u

.a.)

Figura 10: Influência do pH no sinal fluorescente do aspartame 1,0 mg L-1

.

36

5.4 Estudo da influência do tratamento fotoquímico

De um modo geral, a incidência de radiação UV sobre a solução do analito

pode ocasionar uma transformação na molécula de forma a produzir derivado(s) com

fluorescência maior do que a molécula inicial (ganho de sensibilidade para o método),

além de reduzir o sinal de potenciais interferentes. Por outro lado, o efeito contrário

também pode ocorrer, ou seja, a irradiação UV pode produzir derivados com menor

eficiência quântica. 35

Sabendo disso, soluções aquosas do aspartame a 1,0 mg L-1

condicionadas em

tubos de quartzo foram submetidas a diferentes tempos (15 e 30 min) de irradiação UV

em câmara de UV artesanal construída no próprio laboratório. Os resultados obtidos

estão na Tabela 4, na qual é possível observar uma queda considerável na intensidade do

sinal fluorescente do analito quando exposto à irradiação UV. No entanto, não houve

alteração dos comprimentos de onda máximos de excitação e emissão após tratamento

fotoquímico.

Tabela 4: Efeito da irradiação UV no sinal fluorescente do aspartame 1,0 mg L-1

.

Medições realizadas em fenda de 20 nm.

Tempo na câmara de

UV (min)

Sinal líquido fluorescente

(u.a.)

0 332

15 18

30 0

Portanto, estes estudos demonstraram que o uso da irradiação UV não era

vantajoso para o método, pois houve grande perda de sensibilidade, conforme também

pode ser visto nos espectros de excitação e emissão mostrados na Figura 11.

37

200 250 300 3500

200

400

600

800

1000

Comprimento de onda (nm)

Inte

nsi

dad

e d

o s

inal

flu

ore

scen

te (

u.a

.)

(c)(c)

(a) (a)

(b) (b)

(d)(d)

Figura 11: Espectros de excitação e emissão fluorescente (λexc = 210 nm e λem = 285 nm,

fenda de 20 nm) da solução aquosa de aspartame 1,0 mg L-1

, após diferentes tempos de

irradiação UV: (a) 0 min; (b) 15 min; (c) 30 min, sendo os espectros da água ultrapura

(branco) apresentados em (d).

5.5 Estudo da estabilidade do aspartame em meio aquoso

Como já mencionado na Seção 5.3, o aspartame tem certa estabilidade quando

está no estado sólido e a baixas temperaturas, podendo sofrer degradação dependendo

do meio, do pH, da temperatura e do tempo em que se encontra em solução.

Um estudo da estabilidade do sinal fluorescente do analito em solução aquosa

foi realizado com o intuito de saber por quanto tempo a solução deste analito poderia ser

preservada sem que houvesse qualquer alteração do sinal. A Figura 12 apresenta o

resultado deste estudo, o qual foi realizado em solução aquosa de aspartame 1,0 mg L-1

,

com medições feitas em intervalos de 30 em 30 min durante 4 h e 30 min.

38

Figura 12: Estudo da estabilidade de uma solução aquosa de aspartame 1,0 mg L-1

ao

longo do tempo. Medições realizadas em fenda de 20 nm.

Com este estudo, concluiu-se que a solução aquosa de aspartame pode ser

armazenada em temperatura ambiente e sem a necessidade de estar ao abrigo da luz por

até 3h e 30min, sem que a mesma sofra alteração significativa de suas características

luminescentes originais. Além disso, nenhum deslocamento das bandas de excitação e

emissão fluorescentes foi observado.

5.6 Condições finais experimentais otimizadas para a determinação

espectrofluorimétrica do aspartame

Após os estudos de otimização dos parâmetros principais para obtenção do

melhor sinal analítico e, consequentemente, melhor sensibilidade, realizados nas Seções

de 5.1 a 5.5, a Tabela 5 apresenta as condições finais obtidas.

39

Tabela 5: Resumo das condições experimentais selecionadas para determinação

espectrofluorimétrica do aspartame em adoçantes.

Tipo de Varredura Normal

λexc/λem 210/285

pH original (pH = 7,62)

Solvente Água ultrapurificada

Como pode ser visto, o método desenvolvido apresenta condições

experimentais que são extremamente simples, sendo esta uma grande vantagem que

favorece a sua aplicação.

5.7 Obtenção dos parâmetros analíticos de mérito

Os parâmetros analíticos de mérito foram obtidos para o aspartame nas

condições estabelecidas na Tabela 6, de acordo com o documento DOQ-CGCRE-008

(“Orientação sobre validação de métodos analíticos”) do INMETRO. 39

Para a obtenção dos parâmetros relacionados com a resposta linear, pelo menos

três curvas analíticas foram construídas e cada ponto da curva foi o resultado médio de

três medições de sinal de fluorescência obtidos no comprimento de onda máximo de

emissão (285 nm). As curvas foram realizadas em banda espectral de passagem (fenda)

de 20 ou 10 nm, sendo os melhores resultados obtidos em fenda de 10 nm. Este estudo

permitiu verificar uma faixa de resposta linear que se estendeu de 0,5 mg L-1

a 5,0 mg L-

1, caracterizada pelo valor de R

2 igual a 0,9977 (Figura 13); e o comportamento

homoscedástico foi confirmado através do gráfico de resíduos (Figura 14).

40

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0

Sin

al f

luo

resc

ente

(u

.a.)

Concentração (mg L-1)

Figura 13: Curva analítica para soluções aquosas de aspartame, obtida através de

varredura normal (λexc/λem = 210/285 nm) em fenda de 10 nm.

-8,0

-6,0

-4,0

-2,0

0,0

2,0

4,0

6,0

0,0 2,0 4,0 6,0

Res

ídu

os

Concentração (mg L-1)

Figura 14: Gráfico de resíduos para as determinações fluorimétricas de soluções aquosas

de aspartame.

41

A detectabilidade do método foi avaliada pelos valores de limite de detecção

(LD) e de quantificação (LQ) usando os seguintes critérios: LD = 3s/a e LQ= 10s/a, em

que s é o desvio padrão de 7 medições independentes do branco (água ultrapura) e a é o

coeficiente angular da curva analítica. Valores satifatórios de 0,13 e 0,43 mg L-1

foram

obtidos para o LD e LQ, respectivamente.

A precisão foi avaliada em termos da repetitividade e precisão intermediária.

A repetitividade representa a concordância entre os resultados de medições

sucessivas efetuadas sob as mesmas condições de medição, ou seja, mesmo

procedimento, analista e instrumento usado sob as mesmas condições, mesmo local e

repetições em um curto intervalo de tempo. Neste trabalho, a repetitividade foi avaliada

através de 7 medições consecutivas, usando solução aquosa de aspartame na

concentração de 3,0 mg L-1

(centro da curva analítica). O resultado obtido produziu um

desvio padrão relativo de 3,2%, sendo este valor considerado satisfatório, pois é menor

que o valor máximo permitido (5%).39

Já a precisão intermediária refere-se à precisão avaliada sobre a mesma

amostra, utilizando o mesmo método, no mesmo laboratório, mas definindo exatamente

quais as condições a variar (uma ou mais), tais como: diferentes analistas; equipamentos

e tempos. Neste trabalho optou-se por avaliar a precisão intemediária através de 7

medições independentes de solução aquosa de aspartame 3,0 mg L-1

realizadas pelo

mesmo analista em dias diferentes. O teste t-Student (nível de confiança de 95%) foi

usado para comparar as médias do sinal líquido fluorescente obtidas em dias diferentes.

O valor de tcalculado (0,191) obtido foi menor que o valor de tcrítico (2,780), sendo assim,

pode-se concluir que não existe diferença entre as médias dos sinais fluorescentes

obtidos em dias diferentes, e, portanto, o método é preciso no nível de precisão

intermediária.

A viabilidade do método foi verificada através de ensaios de recuperação.

Amostras de adoçantes de mesa (em pó - sachês) de quatro diferentes marcas (A, B, C e

D), em triplicatas autênticas, foram fortificadas com concentração conhecida de

aspartame (1,0 mg L-1

) e as recuperações foram obtidas através da seguinte equação:

Recuperação (%) = [(C1-C2)/C3]*100, em que C1 é a concentração do analito na amostra

fortificada; C2 é a concentração do analito na amostra não fortificada e C3 é a

concentração do analito adicionado na amostra. A recuperação média do aspartame nas

42

amostras variou de 111 a 120%, o que representa um resultado satisfatório40

,

confirmando a eficácia e a viabilidade do método desenvolvido para a determinação de

aspartame em adoçantes.

Enfim, um resumo dos resultados dos parâmetros analíticos de mérito pode ser

visto na Tabela 6.

Tabela 6: Parâmetros analíticos de mérito do método desenvolvido por

espectrofluorimetria.

Parâmetros analíticos de mérito Aspartame

Equação da curva analíticaa Y = 37,754*X – 5,7865

Coeficiente de determinação (R2) 0,9977

Faixa linear (mg L-1

)

0,5 – 5,0

LD (mg L

−1) 0,13

LQ (mg L

−1) 0,43

Repetitividade (DPR%, n = 7) 3,2%

Precisão intermediária (teste t-Student; 95%

confiança; n=14, 2 dias) tcalculado (0,191) < tcrítico (2,780)

Recuperação média (n = 3) 111-120%

aY = intensidade do sinal fluorescente (u.a.); X =

concentração do aspartame em mg L

−1

5.8. Aplicação do método analítico

O método analítico espectrofluorimétrico desenvolvido foi aplicado para

análise de adoçantes de mesa, comercializados na forma de pó (listados na Tabela 7), os

quais, segundo o rótulo dos fabricantes, não continham aspartame em sua composição.

Estas determinações tinham como objetivo verificar se estes adoçantes estavam em

43

conformidade com a informação fornecida ao consumidor, ou seja, confirmar se

realmente não tinham aspartame (seria um adulterante) na mistura em pó.

As amostras estudadas (A, B, C e D) apresentavam em sua composição os

mesmos excipientes, entre eles dióxido de silício (antiumectante) e lactose (diluente).

Para comparação, uma amostra de adoçante de mesa (identificada como E) com os

mesmos excipientes das demais amostras, mas apresentando o aspartame como

edulcorante, também foi analisada. Todos os adoçantes (A, B, C, D e E) foram

preparados conforme descrito no item 4.4 e analisados através do método

espectrofluorimétrico desenvolvido com as condições apresentadas na Tabela 5,

utilizando banda espectral de passagem de 10 nm. Dois sachês de cada marca foram

analisados e os sinais fluorescentes das amostras A, B, C e D corresponderam ao sinal

fluorescente da água ultrapura (branco). Estes resultados levam à conclusão de que os

adoçantes (A, B, C e D) cuja composição era sucralose, realmente não apresentavam o

aspartame como um contaminante a um nível detectável pelo método

espectrofluorimétrico desenvolvido neste trabalho. Vale ressaltar que o método

desenvolvido apresentou boa sensibilidade, com limite de detecção de 0,13 mg L-1

(130

ppb) para o aspartame.

Este método, portanto, pode ser uma alternativa simples aplicada ao controle de

qualidade destes tipos de adoçantes, garantindo a segurança principalmente dos

consumidores que não podem ingerir aspartame, como fenilcetonúricos, gestantes e

lactentes.

Os resultados deste estudo podem ser vistos na Tabela 7 e na Figura 15.

Tabela 7: Determinação de aspartame em amostras de adoçantes de mesa (sachês de 800

mg).

Marcas Tipo de

edulcorante Informação no rótulo

Concentração de

aspartame (mg L-1

)

A Sucralose Não contêm fenilalanina < LD

B Sucralose - < LD

C Sucralose - < LD

D Sucralose - < LD

44

200 250 3000

200

400

600

800

1000

Comprimento de onda (nm)

Inte

nsi

dad

ed

osi

nal

flu

ore

scen

te(u

.a.)

(a) (a)

(b)(b)

(c) (d) (d)(c)

Figura 15: Espectros de excitação e emissão de (a) amostra E (adoçante com aspartame),

(b) solução aquosa de aspartame 5,0 mg L-1

, (c) amostra A (adoçante sem aspartame),

(d) água ultrapura (branco). Os resultados para as amostras B, C e D mostrados na

Tabela 7 foram iguais ao resultado da amostra A.

45

6 CONCLUSÕES

Com o intuito de quantificar aspartame em amostras de adoçantes de mesa,

principalmente naqueles cuja composição não deve conter este (como informado no

rótulo), um método baseado na espectrofluorimetria foi desenvolvido e validado com

sucesso. Estudos das características fluorescentes deste analito foram realizados e as

condições finais mostraram que o método apresentou sensibilidade, precisão e exatidão

adequadas. Além disso, o método foi aplicado em diferentes amostras de adoçante à

base de sucralose e o aspartame não foi detectado.

Como continuação e trabalho futuro, pretende-se ainda realizar ensaios de

recuperação em dois outros níveis de concentração (0,5 e 4,0 mg L-1

), além de

experimentos para melhorar as taxas de recuperação, aproximando-as mais do valor de

100%.

Uma quantidade maior de adoçantes de mesa de diferentes composições, marcas

e tipos (em pó e líquido) também será analisada para verificar a presença ou não de

aspartame na formulação. Amostras de bebidas dietéticas (sucos, refrigerantes) também

poderão ser estudadas. No entanto, vale acrescentar que, dependendo da amostra,

estudos de interferência e seletividade deverão ser realizados, pois a

espectrofluorimetria pode não ser uma técnica muito seletiva para algumas amostras,

visto que muitas substâncias podem fluorescer na mesma faixa de comprimento de

onda.

Enfim, o método desenvolvido neste trabalho pode ser uma boa alternativa para

análise de rotina no controle de qualidade de alguns adoçantes de mesa.

46

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