Curso de Medicina Veterinária
USO DO FIROCOXIB NO
DIGITAL PROFUNDO EM EQUINO
FIROCOXIB USE IN TREATMENT OF DEEP DIGITAL FLEXOR TENDINOPATHY IN EQUINE
Kleyania Craveiro da Silva¹, Marizélia da Silva Oliveira1 Alunas do Curso de Medicina Veterinária2 Professora Mestre do Curso de Medicina
RESUMO
O potencial atlético do cavalo tem sido valorizado devido a ênfase aos eventos esportivos nas diversas modalidades. A rotina intensa de treinamentos e provas predispõe o equinomusculoesqueléticas, dentre as quais se destacam as tendinopatias, que são o processo inflamatório que ocorre dentro e ao redor do tendão. São frequentemente tratadas pela administração de anti-inflamatórios não esteroidais, os quais inibem a enzCOX (isoformas COX-1 e COX- organismo e atua basicamente eminduzida principalmente por ocasião de estímulos inflamatórios. O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito de um fármaco inibidor da COXanimal no Serviço Veterinário Regimentaldo Exército Brasileiro, localizado equino, fêmea, sem raça definida, atleta da atividade polo, diagnosticadatendão flexor digital profundo, lesãotentativas de tratamento utilizandodimetilsulfóxido e acetonido de triancinolona, não obtendoconsistentes, iniciou- se o tratamentopôde-se observar melhora do quadro deexame ultrassonográfico, preenchimentona articulação afetada, comprovando, desta forma, a eficácia da utilização da
Palavras-Chave: anti-inflamatório não esteroidal; cavalo; cicloxigenase
ABSTRACT
In the current context of equideoculturein the various modalities, valuing the horse's athletic potential. The intense routine of training and tests predisposes the equine to musculoskeletal injuries, among which are the tendinopathies, which are the inflammatory process that occurs inside and around the tendon. They are often treated by the administration of noninhibit the enzyme cyclooxygenaseexpressed in the body's tissues andan enzyme that is induced primarily by inflammatory stimuli. The objective of this study was to evaluate the effect of a COX-2 inhibitor drug, firocoxibOfficial Veterinary Service of the Cavalry Regiment of the Brazilian For the scientific study, was selected an equine, female, indefinite breed, athlete of the polo activity, diagnosed with tendinopathy of the deep digital flexor tendon, lesion in the superficial tendon and tenosynovitis. After a few treatment attempts using other antias phenylbutazone, dimethylsulfoxide and triamcinolone acetonide, not achieving satiand consistent results, treatment end of the treatment were observed improvement of the claudication, remission of inflammatory signs and at ultrasonographic examination, filling of ffluid in the affected joint, thus proving the efficacy of drug
Keywords: anti-inflammatory non- Contato:[email protected]
Veterinária
USO DO FIROCOXIB NO TRATAMENTO DA TENDINOPATIA DO FLEXOR
PROFUNDO EM EQUINO
FIROCOXIB USE IN TREATMENT OF DEEP DIGITAL FLEXOR TENDINOPATHY IN EQUINE
Marizélia da Silva Oliveira¹, Carolina Gonzales da SilvaVeterinária
Professora Mestre do Curso de Medicina Veterinária
O potencial atlético do cavalo tem sido valorizado devido a ênfase aos eventos esportivos nas diversas modalidades. A rotina intensa de treinamentos e provas predispõe o equinomusculoesqueléticas, dentre as quais se destacam as tendinopatias, que são o processo inflamatório que ocorre dentro e ao redor do tendão. São frequentemente tratadas pela
inflamatórios não esteroidais, os quais inibem a enzima cicloxigenase 2). A COX-1 é expressa constitutivamente nos
em funções fisiológicas, enquanto a COX-2 é uma enzimainduzida principalmente por ocasião de estímulos inflamatórios. O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito de um fármaco inibidor da COX-2, o firocoxib, em um relato de caso de um animal no Serviço Veterinário Regimental do Cavalarias do Primeiro Regimento de
em Brasília- DF. Para o estudo científico, selecionouequino, fêmea, sem raça definida, atleta da atividade polo, diagnosticada com tendinopatia
lesão no tendão superficial e tenossinovite. Após algumas tentativas de tratamento utilizando-se outros anti-inflamatórios, tais como a fenilbutazona, dimetilsulfóxido e acetonido de triancinolona, não obtendo-se resultados satisfatórios e
tratamento com firocoxib, que durou 17 dias. Ao final doquadro de claudicação, remissão dos sinais inflamatórios
preenchimento de fibras em região de ruptura e diminuição de líquido articulação afetada, comprovando, desta forma, a eficácia da utilização da droga.
inflamatório não esteroidal; cavalo; cicloxigenase-2; tendinite.
In the current context of equideoculture, greater emphasis has been placed on sporting events in the various modalities, valuing the horse's athletic potential. The intense routine of training and tests predisposes the equine to musculoskeletal injuries, among which are the
are the inflammatory process that occurs inside and around the tendon. They are often treated by the administration of non-steroidal anti- inflammatory
cyclooxygenase - COX (COX-1 and COX-2 isoforms). COX-1 is constitutiveland acts primarily on physiological functions, whereas
an enzyme that is induced primarily by inflammatory stimuli. The objective of this study was to 2 inhibitor drug, firocoxib, on a case report of an animal at the
Official Veterinary Service of the Cavalry Regiment of the Brazilian Army, located in Brasíliawas selected an equine, female, indefinite breed, athlete of the polo
th tendinopathy of the deep digital flexor tendon, lesion in the superficial tendon and tenosynovitis. After a few treatment attempts using other anti-inflammatories, such as phenylbutazone, dimethylsulfoxide and triamcinolone acetonide, not achieving sati
with firocoxib, which lasted for 17 days, was initiated.end of the treatment were observed improvement of the claudication, remission of inflammatory signs and at ultrasonographic examination, filling of fibers in the rupture region and decrease of fluid in the affected joint, thus proving the efficacy of drug use.
-steroidal; cyclooxygenase-2; horse; tendinitis.
DO FLEXOR
FIROCOXIB USE IN TREATMENT OF DEEP DIGITAL FLEXOR TENDINOPATHY IN EQUINE
, Carolina Gonzales da Silva²
O potencial atlético do cavalo tem sido valorizado devido a ênfase aos eventos esportivos nas diversas modalidades. A rotina intensa de treinamentos e provas predispõe o equino a lesões musculoesqueléticas, dentre as quais se destacam as tendinopatias, que são o processo inflamatório que ocorre dentro e ao redor do tendão. São frequentemente tratadas pela
ima cicloxigenase - 1 é expressa constitutivamente nos tecidos do
enzima que é induzida principalmente por ocasião de estímulos inflamatórios. O objetivo deste estudo foi
2, o firocoxib, em um relato de caso de um de Cavalarias
Para o estudo científico, selecionou-se um tendinopatia do
tenossinovite. Após algumas inflamatórios, tais como a fenilbutazona,
se resultados satisfatórios e do tratamento
inflamatórios e ao em região de ruptura e diminuição de líquido
droga.
2; tendinite.
, greater emphasis has been placed on sporting events in the various modalities, valuing the horse's athletic potential. The intense routine of training and tests predisposes the equine to musculoskeletal injuries, among which are the
are the inflammatory process that occurs inside and around the tendon. drugs, which
is constitutively whereas COX-2 is
an enzyme that is induced primarily by inflammatory stimuli. The objective of this study was to , on a case report of an animal at the
located in Brasília-DF. was selected an equine, female, indefinite breed, athlete of the polo
th tendinopathy of the deep digital flexor tendon, lesion in the superficial inflammatories, such
as phenylbutazone, dimethylsulfoxide and triamcinolone acetonide, not achieving satisfactory initiated. At the
end of the treatment were observed improvement of the claudication, remission of inflammatory ibers in the rupture region and decrease of
INTRODUÇÃO
A equideocultura tem-se dado maior importância aos eventos esportivos em diversas
modalidades, valorizando assim o potencial atlético do animal. (FERNANDES et al., 2003).
Como a rotina dos animais de treinamento e prova é intensa, ela predispõe o equino a
lesões musculoesqueléticas, dentre as quais se destacam as tendinites. Por conta do longo
tempo necessário para a recuperação completa do tecido tendíneo e da alta incidência de
reparação desorganizada, esse tipo de lesão compromete seriamente o desempenho,
resultando em redução da vida útil ou, por vezes, na finalização da carreira atlética do
animal, principalmente no que diz respeito ao restabelecimento das funções do tendão
envolvido (FERNANDES et al., 2003).
Em algumas atividades os animais são frequentemente acometidos por patologias
do membro torácico. Dentre elas, o polo acarreta alta incidência de desmite e tendinite,
devido ao esforço desempenhado em movimentos repentinos e explosões durante as
partidas e também devido aos traumas diretos causados por taco e bola (BERNARDO et
al., 2015). Toda a região da articulação metacarpofalangeana, ou boleto, sofre grande
estresse biomecânico durante a locomoção, sobretudo em competições. Neste momento,
movimentos extremos como hiperextensão, rolamento e hiperflexão causam intensa tensão
sobre os tecidos moles de sustentação do boleto, causando sérios prejuízos aos
proprietários (JÚNIOR E JÚNIOR, 2015).
Anatomicamente, os tendões (Figura 1) são interpostos entre músculos e ossos,
transmitem a força gerada entre os músculos aos ossos, tornando possível o movimento
articular, além disso, possuem uma vascularização limitada, afetando diretamente seu
processo de regeneração e cicatrização (JÚNIOR E JÚNIOR, 2015).
Figura 1: Tendões na região metacarpiana em equinos. 1) Tendão flexor digital superficial.
2) Tendão flexor digital profundo. 3) Ligamento acessório do tendão flexor digital profundo.
4) Ligamento suspensor do boleto. 5) Tendão extensor digital lateral.
Fonte: www.ironfreehoof.com (retirado de Pinto, 2015).
Histologicamente, os tendões são estruturas cilíndricas alongadas compostas por
tecido conectivo denso modelado. As fibras do conectivo são constituídas por proteínas que
se polimerizam formando estruturas alongadas. A unidade proteica que se polimeriza para
formar fibrilas colágenas é denominada tropocolágeno. As moléculas de colágeno estão
distribuídas hierarquicamente em microfibras, subfibrilas, e fibrilas, que são agrupadas em
fascículos, envoltos por tecido conectivo frouxo, o endotendíneo. O epitendíneo envolve
toda a unidade tendínea. Finalmente, o tendão, na região metacarpiana, é envolvido por
bainha de tecido conectivo denso, o paratendão (PINTO, 2015).
Quando são acometidos por alguma injúria, desenvolvem um processo inflamatório
denominado tendinopatias ou tendinites, que ocorre dentro e ao redor do tendão. Na
presença de uma tendinite o cavalo pode apresentar como sinais clínicos dor, calor, edema
e distensão. Ao nível histológico é caracterizada pela redução de células responsáveis pela
evolução da reparação tecidual. Nesta fase ocorre extravasamento de sangue para a lesão
devido à ruptura de vasos do endotendão, apresentando, como resultado da destruição dos
vasos sanguíneos, uma concentração de eritrócitos no local da lesão formando um
hematoma, que à ecografia apresenta características de hipoecogenicidade (PINTO, 2015).
Dentre a sintomatologia apresentada a claudicação é um dos primeiros sinais das
patologias que acometem os membros dos equinos, a maioria delas é encontrada nos
membros anteriores e entre as destas regiões, 95% são localizados no carpo ou abaixo
dele, pois eles carregam de 60% a 65% do peso dos cavalos e estão deste modo, sujeitos
a uma concussão muito maior do que os posteriores. Os membros posteriores são
responsáveis pela propulsão, enquanto que os anteriores recebem o choque do contato
com o solo. No membro posterior, a maioria das claudicações ocorre no jarrete e na soldra
(STASHAK, 1994).
Lembrando que o equino pode estar claudicando mais de um membro ou pode ter
mais que uma patologia no membro que se apresenta com claudicação. Proporcionalmente
para cada claudicação encontrada nos membros posteriores, encontram-se
aproximadamente três claudicações nos membros anteriores (STASHAK, 1994).
Como forma de avaliação do grau de claudicação, utiliza-se o parâmetro descrito na
Tabela 1.
Tabela 1: Classificação do grau de claudicação (de 1 a 5) em equinos segundo ROSS e DYSON
(2003).
Grau Sintomatologia
0 Sadio
1 Leve claudicação observada enquanto o cavalo é trotado em uma linha reta. Quando claudica dos
membros anteriores, um movimento de cabeça sutil é observado.
2 Claudicação é observada. Os movimentos de cabeça são consistentes.
3 Evidente movimento de cabeça. Se o cavalo tem claudicação do membro posterior unilateral, um
movimento de cabeça e pescoço é visto quando o membro anterior diagonal atinge o solo.
4 Claudicação severa com movimento de grande amplitude de cabeça. No entanto, o cavalo ainda
pode ser trotado;
5 O animal não suporta o peso sobre o membro. Os cavalos que não apoiam o membro em estação,
ou ao passo não devem ser trotados.
Ademais, pode-se observar outros sinais para diagnosticar qual membro está
acometido. No membro torácico a cabeça é elevada quando o membro afetado toca o solo
e é abaixada quando o membro sadio toca ao solo. Na claudicação de membro pélvico a
garupa do lado afetado se eleva ao apoio do membro lesado e desce ao apoio do membro
são. Já na claudicação bilateral a movimentação da cabeça é mínima ou quando pesos
iguais são colocados em membros igualmente doloridos, produzindo assim um andar
arrastando a pinça do casco (FERRARI et al. apud STASHAK, 1994).
Além do exame clínico, o diagnóstico por imagem faz-se bastante relevante para um
diagnóstico preciso. A ultrassonografia, por exemplo, é uma técnica de diagnóstico por
imagem de auxílio na detecção e no acompanhamento de lesões que afetam o aparelho
locomotor de equinos. Esta técnica permite determinar o local exato da lesão, e quantificar
a extensão e a intensidade da mesma, além de possibilitar o monitoramento do processo
de reparação tecidual durante o período de tratamento (ALVES, 1998).
São necessárias imagens de alta resolução, particularmente, para a identificação de
lesões discretas, visto que tendões e ligamentos são estruturas relativamente pequenas.
Os transdutores com frequência de 7,5 MHz são os mais adequados para avaliação de
tendões e ligamentos por proporcionarem a obtenção de uma imagem com boa resolução
(MAIA et al., 2009).
A interpretação da imagem ultrassonográfica de tendões e ligamentos leva em conta
o tamanho, a delimitação, a forma e a posição destas estruturas (Figura 2), observando a
área transversal do tendão (ATT), a área transversal da lesão (ATL), a intensidade, assim
como o paralelismo das fibras colágenas, chegando a um diagnóstico preciso e iniciando
um melhor arsenal terapêutico (MAIA et al., 2009).
Figura 2: Imagem ultrassonográfica em plano transversal palmar lateral do terceiro osso
metacarpiano de equino sadio. Tendão flexor digital profundo (seta verde) e tendão flexor digital
superficial (seta vermelha). Fonte: Primeiro Regimento de Cavalarias de Guardas do Exército
Brasileiro.
Existem diversos tratamentos objetivando a redução da dor e do processo
inflamatório nos animais acometidos pelas tendinopatias. Os fármacos mais utilizados para
o controle de processos inflamatórios dolorosos são os anti-inflamatórios não esteroidais
(AINEs). O efeito destas substâncias está relacionado à inibição da enzima cicloxigenase
(COX), que catalisa a transformação do ácido araquidônico em diversos mediadores
lipídicos, denominados prostaglandinas e tromboxanos (SILVA, 2013).
Os primeiros AINEs desenvolvidos, apesar de terem eficácia comprovada quanto ao
efeito que se propõe, têm uso limitado devido a seus efeitos adversos, como gastrites,
úlceras gástricas e discrasias sanguíneas (SILVA, 2013).
Pelo fato de existir basicamente duas isoformas da enzima cicloxigenase, são
caracterizadas como: cicloxigenase-1 (COX-1) e cicloxigenase-2 (COX-2). A COX-1 é
expressa constitutivamente nos tecidos do organismo e atua basicamente em funções
fisiológicas, enquanto a COX- 2 é uma enzima que embora participe de alguns processos
fisiológicos é induzida principalmente por ocasião de estímulos inflamatórios (POZZOBON
et al., 2008).
Portanto, é possível reduzir a toxicidade dos anti-inflamatórios não esteroidais
utilizando fármacos inibidores seletivos mais específicos da enzima COX-2 (SILVA, 2013).
Em 2007 foi aprovada pelo Comitê de Produtos Médicos de uso Veterinário da União
Europeia a utilização do fármaco firocoxib em equinos, indicado para o tratamento da dor e
inflamação associada à osteoartrite (SILVA, 2013).
O firocoxib é um AINE pertencente ao grupo dos Coxibes, que atua por inibição
seletiva da síntese da prostaglandina mediada pela COX-2. A COX-2 é a isoforma que tem
demonstrado como sendo a responsável primária pela síntese dos mediadores
prostanóides da dor, inflamação e febre. Os Coxibes apresentam, portanto, propriedades
analgésicas, anti-inflamatórias e antipiréticas (ARAUJO, 2012).
O objetivo desse estudo foi descrever a utilização do firocoxib em um paciente equino
no tratamento da tendinopatia do flexor digital profundo.
MATERIAL E MÉTODOS
Um equino fêmea, sem raça definida, com 16 anos de idade, pesando 450 quilos, foi
atendido no Serviço Veterinário Oficial do Exército Brasileiro localizado no Regimento de
Cavalaria de Guarda, em Brasília – Distrito Federal. A queixa principal do proprietário era
claudicação e dificuldade da égua realizar suas atividades de rotina, que, neste caso, incluía
o esporte pólo.
Ao exame clínico geral foi não foram observadas quaisquer alterações nos
parâmetros vitais. Ao exame físico do aparelho locomotor, observou-se claudicação de grau
4 (de 1 a 5, segundo ROSS e DYSSON, 2003) constante ao passo em membro torácico
direito (MTD), edema (Figura 2), hipertermia e sensibilidade à palpação na região da
articulação metacarpofalangeana. Ao teste de flexão, observou-se dor na região distal do
membro e em toda a proximidade metacarpofalangeana. Ao teste do pinçamento foi
observada ausência de sensibilidade.
Perante os sinais clínicos observados, chegou-se ao diagnóstico presuntivo de
tendinopatia e tenossinovite, porém sem concluir qual tendão especificamente estava
afetado. Instituiu-se o seguinte tratamento: crioterapia por 30 minutos, durante três dias;
fenilbutazona (4,4 mg/kg)/SID/intravenoso (IV) durante três dias e massagem tópica com
gel de dimetilsufóxido (DMSO) durante 10 dias. O animal foi reavaliado a cada três dias.
Figura 3: Edema (seta) em região metacarpofalangeana de equino acometido por tendinopatia do
flexor digital profundo. Fonte: arquivo pessoal.
Após 27 dias do atendimento inicial, sem observar melhora efetiva do quadro clínico
do paciente, foi realizado o exame complementar por meio de ultrassonografia, a fim de se
estabelecer o diagnóstico definitivo. Para a realização da ultrassonografia os membros
foram limpos, secos e tricotomizados no nível da articulação metacarpofalangeana em seu
aspecto palmar-lateral.
Massageou-se a região com água morna, estimulando o aumento da circulação
sanguínea, e, em seguida, com um aparelho de ultrassom de transdutor mecânico
multiangular setorial de 7,5 MHz em tempo real com um anteparo de silicone acoplado, foi
realizado o exame. A superfície palmar metacarpiana foi examinada como um todo, e as
estruturas foram observadas no sentido proximal a distal, produzindo-se secções
transversais e longitudinais, conforme a orientação do transdutor.
O tratamento foi modificado após a realização do exame por imagem,
recomendando-se então ferradura invertida; acetonido de triancinolona 0,02 mg/kg,
intramuscular (IM), aplicação única; crioterapia por 30 minutos por 10 dias; massagens com
gel DMSO; e liga de descanso no membro acometido.
Após todas as tentativas de recuperação do animal sem sucesso, a médica
veterinária decidiu iniciar uma terapia com um anti-inflamatório diferenciado para a
patologia que já se encontrava crônica, o firocoxib 0,1 mg/kg via oral (VO), inicialmente por
cinco dias e após constantes reavaliações, por mais 12 dias, totalizando um tratamento de
17 dias.
Exames ultrassonográficos adicionais foram realizados no MTD durante a terapia
com firocoxib e após o término do tratamento, objetivando-se avaliar os tendões flexores
digital superficial e profundo acometidos.
RESULTADOS
A Tabela 2 resume toda a evolução do caso clínico, os tratamentos realizados
segundo a sintomatologia observada e o resultado de cada tratamento.
A primeira avaliação ultrassonográfica, realizada no dia 24 de junho, revelou lesões
com alto grau de severidade no tendão flexor digital profundo (TFDP) que apresentou área
hipoecogênica medial, nesse caso pela presença de sangue (hematomas), mostrando que
a lesão encontrava-se na forma aguda, e necessitava de tratamento imediato. No tendão
flexor digital superficial (TFDS), encontraram-se lesões hiperecogênicas, revelando a sua
cronicidade, com áreas fibrosadas, e dificuldade de regeneração. Na visualização vertical,
observou-se rupturas em diversas fibras de colágeno em ambos os tendões, presença de
líquido na bainha sinovial, caracterizando, desta forma, a tenossinovite.
Após essa avaliação obteve-se o seguinte laudo: ruptura em fibras tendíneas e
heterogenicidade em TFDP, em terço médio e distal do metacarpo, acúmulo de líquido com
fibrina em bainha sinovial da articulação metacarpofalangeana, região de heterogenicidade
do TFDS, em região metacarpofalangeana do MTD, fechando diagnostico de tendinopatia
do TFDP e TFDS e tenossinovite na região da articulação metacarpofalangeana.
Em avaliação ultrassonográfica realizada após o término do tratamento com firocoxib
ficou evidenciado o preenchimento parcial de fibras em região que havia ruptura de TDFP,
além de diminuição de líquido que estava acumulado na região distal do metacarpo e da
articulação metacarpofalangeana (Tabela 2 e Figura 4), comprovando desta maneira, a
eficácia da utilização do firocoxib na recuperação das lesões causadas pela tendinopatia.
Tabela 2: Evolução do caso relatado de equino com tendinopatia do flexor digital profundo, antes
do tratamento com firocoxib.
Período Sintomatologia/diagnóstico Tratamento Duração Resultados
30/05
até
03/06
Claudicação G4/5 constante ao
passo; Edema; Hipertermia;
Sensibilidade à palpação.
Crioterapia;
Fenilbutazona;
Dimetilsufóxido
(DMSO).
Três dias Claudicação
G2/5
intermitente.
03/06
até
10/06
Claudicação G2 intermitente. Crioterapia, Liga de
descanso e
DMSO.(Considerados
como tratamento de
manutenção.)
Sete dias Claudicação
G3/5.
.
24/06
até
05/07
Tendinopatia dos tendões flexor
digital profundo e superficial e
tenossinovite (diagnóstico por
ultrassonografia).
Ferradura invertida;
Acetonido de
triancinolona;
Manteve o tratamento
de manutenção.
Dez dias Após o anti-
inflamatório,
houve
diminuição da
claudicação de
G3 para G2.
Tabela 3: Evolução do tratamento após o início da utilização do firocoxib, para o tratamento de
tendinopatia do Tendão flexor digital profundo.
Período Sintomas/diagnóstico Tratamento Duração Resultados
05/07 até 11/07
Edema; Sensibilidade à palpação.
Firocoxib; tratamento de manutenção.
Sete dias
Claudicação G2; Menor volume articulação
11/07 até 22/07
Final do tratamento com firocoxib.
FIrocoxib; tratamento de manutenção..
Onze dias
Claudicação G2, ausência de pulso digital patológico, parâmetros vitais normais.
22/07 até 02/08
Avaliação ultrassonográfica (02/08).
Crioterapia; tratamento de manutenção.
Onze dias
Preenchimento parcial de fibras do TFDP*; Leve acúmulo de líquido na região metacarpofalangeana; Diminuição do volume, calor e dor.
02/08 até 17/08
Reavaliação. Crioterapia; tratamento de manutenção..
Quinze dias
Ausência de claudicação, dor e calor local.
Figura 4: Resultados de três diferentes avaliações ultrassonográficas de paciente equino
com tendinopatia em membro
D 02-08-2016; E e F 09
amarela: Acúmulo de líquido sinovial; Seta verde: Aumento da espessura do
Fonte: Primeiro Regimento de Cavalarias de Guarda do Exército Brasileiro.
: Resultados de três diferentes avaliações ultrassonográficas de paciente equino
membro anterior direito em três datas distintas: A
E e F 09-09-2016. A Seta roxa: Tegumento, Seta vermelha: TFDS; Seta
amarela: Acúmulo de líquido sinovial; Seta verde: Aumento da espessura do
Fonte: Primeiro Regimento de Cavalarias de Guarda do Exército Brasileiro.
: Resultados de três diferentes avaliações ultrassonográficas de paciente equino
A e B 23-06-2016; C e
Seta vermelha: TFDS; Seta
amarela: Acúmulo de líquido sinovial; Seta verde: Aumento da espessura do TFDP.
Fonte: Primeiro Regimento de Cavalarias de Guarda do Exército Brasileiro.
DISCUSSÃO
O firocoxib é um AINE que atua por inibição seletiva da síntese da prostaglandina
mediada pela COX-2. No atual estudo comprovou-se a eficácia do uso deste fármaco para
o tratamento de tendinopatia do flexor digital profundo em uma égua de 16 anos de idade.
Araújo (2012) comprovou experimentalmente a segurança da utilização do firocoxib
administrado em animais saudáveis. No estudo em questão, a autora testou o uso da droga
por 14 dias consecutivos, comprovando, ao final, normalidade da mucosa gástrica ao
exame endoscópico e não alteração na urinálise dos pacientes. No atual trabalho, não
foram realizados exames endoscópicos para verificação de presença de lesões gástricas,
entretanto, ao exame clínico, observou-se que nenhum dos parâmetros vitais sofreu
alteração, que poderia ser indicativo de dor. Segundo Francellino et al. (2015), a frequência
cardíaca (FC) tende a ser um indicador de severidade da dor e do quadro do animal, quanto
maior a FC, maior a dor.
Os AINEs são os anti-inflamatórios mais empregados no controle da dor, contudo
exigem alguns cuidados. O conceito atual é que o emprego dos AINEs que seletivamente
inibam a COX-2, sem afetar a COX-1, propicia analgesia sem os efeitos colaterais,
atribuídos ao bloqueio da COX-1, especialmente as toxicidades gastrintestinal e renal. Entre
os COX-2 está o firocoxib, desenvolvido especificamente para uso veterinário, avaliado no
atual estudo no tratamento de patologia do sistema músculo-esquelético.
Ramos et al. (2010), através de revisões de literatura, nas espécies canina e felina,
concluíram que a inibição da COX-2 auxilia na prevenção e controle de neoplasias. A super
expressão da enzima COX-2, tem sido demonstrada em muitas neoplasias em Medicina
Veterinária, como em carcinomas de células transicionais do sistema urinário e no
carcinoma de células escamosas cutâneo.
Sabe-se que durante a progressão do câncer, as prostaglandinas podem mediar
vários mecanismos como a proliferação celular, apoptose, modulação do sistema imune e
angiogênese e que carcinomas com maior expressão de COX-2 tem sido relacionados a
um prognóstico pior. Segundo Nardi et al. (2011), o firocoxib melhora a qualidade de vida
de pacientes com carcinoma de células da vesícula urinária, administrado isoladamente ou
em combinação com um quimioterápico. Além disso, segundo os mesmos autores, a
combinação firocoxib-cisplatina melhora significativamente a resposta ao tratamento e a
sobrevivência de cães tratados.
Os pequenos avanços que atualmente estão sendo alcançados no campo da
oncologia com o uso dos coxibes abrem portas para investigações no tratamento do câncer
em animais domésticos (RAMOS et al., 2010), demonstrando seu possível uso além das
propriedades anti-inflamatórias.
Este trabalho mostra-se inovador, pois, em pesquisa bibliográfica em bases de dados
nacionais, não foram encontrados trabalhos científicos relatando o uso do firocoxib na rotina
de tratamento de equinos a campo. Além disso, apenas alguns trabalhos foram encontrados
somente em nível de pesquisa acadêmica, tais como dissertações de mestrado (Araújo,
2012; Silva, 2013). Além disso, foram encontrados poucos trabalhos abordando o uso do
firocoxib na oncologia, e somente nas espécies caninas e felinas.
O medicamento é tão novo para equinos que só existe um produto comercial para
esta espécie, o Equioxx® (Merial, apresentação injetável, em pasta oral e comprimidos).
Além deste produto comercial há também o Previcox® (Merial Brasil) em comprimidos, cuja
recomendação é para caninos.
No atual estudo de caso o animal diminuiu a claudicação nos primeiros três dias de
tratamento em função da ação da fenilbutazona. Entretanto, voltou a claudicar após o
término desse tratamento. A fenilbutazona não pode ser utilizada por muito tempo, pois
ocasiona danos na mucosa gástrica (SILVA, 2013). Além disso, como tratamento
fisioterapêutico, usou-se crioterapia e massagens na região do boleto com gel de DMSO,
que foi responsável por manter o quadro estável, mas sem melhoras significativas.
Após um mês de tratamento e com poucas respostas, decidiu realizar o exame
ultrassonográfico do membro, chegando ao seguinte diagnóstico da tendinopatia do tendão
flexor digital profundo e tendinopatia do tendão superficial e tenossinovite, recomendando-
se o acetonido de triancinolona e ferradura invertida. Mais uma vez, sem observar melhora
significativa e estável, decidiu-se iniciar o tratamento com o firocoxib.
A principal vantagem na utilização do firocoxib comparado à fenilbutazona reside no
tempo de tratamento, principalmente em casos crônicos, já que o firocoxib pode ser
utilizado por até 28 dias, caso necessário (ARAÚJO, 2012). Neste relato foram realizados
17 dias de tratamento com firocoxib e, após apresentar uma melhora muito significativa
comprovada clinicamente e por ultrassonografia, finalizou-se o tratamento com este AINE,
mantendo apenas a crioterapia e massagens visando uma melhora cicatrização dos
tendões acometidos.
CONSIDERAÇOES FINAIS
Com o estudo de caso realizado, pode-se concluir que o uso do firocoxib durante 17
dias foi efetivo no tratamento da tendinopatia do flexor digital profundo em paciente equino
no que se refere à remissão da sintomatologia causada pelo processo inflamatório.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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