+ All Categories
Home > Documents > WEB multimodal text analysis and SID - scielo.br · cado e signifi cante ou, dentro da perspectiva...

WEB multimodal text analysis and SID - scielo.br · cado e signifi cante ou, dentro da perspectiva...

Date post: 02-Dec-2018
Category:
Upload: doandat
View: 213 times
Download: 0 times
Share this document with a friend
21
Análise de textos multimodais da Web e o ISD D.E.L.T.A., 32.1, 2016 (1-21) D E L T A Análise de textos multimodais da Web e o ISD* WEB multimodal text analysis and SID Anise D’Orange FERREIRA (Unesp Araraquara) Glenda Cristina Valim de MELO (Unirio) http://dx.doi.org/10.1590/0102-445056772752226428 RESUMO Neste artigo visamos a apresentar, primeiramente, a compatibilidade entre as análises de textos no quadro do Interacionismo Sociodiscursivo (ISD) de Bronckart (1999,2006, 2008) e as dos textos multimodais de Baldry e Thibault (2010), visto que ambas compartilham semelhanças, no que se refere a uma visão social de linguagem, conceito de gênero e aos níveis da análise. Em segundo lugar, pretendemos mostrar que as diferenças no instrumental analítico não impedem a apropriação de elementos de análise dos textos multimodais da web ao plano analítico do ISD. Concomitantemente, exemplificamos a proposta por meio de análise de um texto em web. Palavras-chave: Interacionismo sociodiscursivo; textos modais; análise de dados. * Uma versão preliminar deste trabalho foi apresentada em simpósio do VI SIGET 2011.
Transcript
  • Anlise de textos multimodais da Web e o ISD

    D.E.L.T.A., 32.1, 2016 (1-21)

    D E L T A

    Anlise de textos multimodais da Web e o ISD*WEB multimodal text analysis and SID

    Anise DOrange FERREIRA (Unesp Araraquara)Glenda Cristina Valim de MELO (Unirio)

    http://dx.doi.org/10.1590/0102-445056772752226428

    RESUMO

    Neste artigo visamos a apresentar, primeiramente, a compatibilidade entre as anlises de textos no quadro do Interacionismo Sociodiscursivo (ISD) de Bronckart (1999,2006, 2008) e as dos textos multimodais de Baldry e Thibault (2010), visto que ambas compartilham semelhanas, no que se refere a uma viso social de linguagem, conceito de gnero e aos nveis da anlise. Em segundo lugar, pretendemos mostrar que as diferenas no instrumental analtico no impedem a apropriao de elementos de anlise dos textos multimodais da web ao plano analtico do ISD. Concomitantemente, exemplifi camos a proposta por meio de anlise de um texto em web.

    Palavras-chave: Interacionismo sociodiscursivo; textos modais; anlise de dados.

    * Uma verso preliminar deste trabalho foi apresentada em simpsio do VI SIGET 2011.

  • Ana Carolina Vilela-Ardenghi & Ana Raquel Motta

    2

    32.1

    2016 Anise D'Orange Ferreira, Glenda Cristina Valim de Melo

    ABSTRACT

    In this article we present, fi rstly, the compatibility between the analysis from the Socio-discursive Interactionism (SDI) proposed by Bronckart (1999, 2006, 2008) and the multimodal texts from Baldry & Thibault (2010). Both of them share similarities concerning the social view of the language, genre and analysis levels. Secondly, it is also intended to show that the differences among the analytical instruments do not interfere in the appropriation of analytical elements of web multimodal texts and the SDI analytical plan. Concomitantly, we exemplify the purpose through a web text analysis.

    Key-words: Socio-discursive interactionism; the multimodal texts; data analysis.

    Introduo

    A anlise de gneros de textos como instrumento de trabalho do professor de lngua, dentro do quadro do Interacionismo Sociodiscursi-vo (ISD; Bronckart 2007) conhecida e difundida por vrios membros do Grupo Alter/CNPq (Lousada, Oliveira Barricelli & Tocaia 2010; Machado Abreu-Tardelli & Cristovo 2009, entre outros). Essa anlise dirige-se ao texto verbal, sem um ferramental formalizado e especfi co voltado para interpretao de elementos referentes s dimenses de sig-nifi cado multimodais do texto, a saber, imagens estticas ou dinmicas, sons, gestos e espacialidade. Entender-se- por textos multimodais, aqui, aqueles que integram recursos de sistemas semiticos diferentes na organizao dos textos, como efeitos combinados, no isolados (Baldry & Thibault, 2010). H, a nosso ver, uma emergncia de apri-morar os aportes adotados pelo grupo s novas mdias digitais. Tais dimenses tm crescido na preocupao dos que seguem a pedagogia do multiletramento, como Lemke (2005) e The New London Group (1996), h mais de uma dcada assumindo o desafi o de considerar as leituras de realidades em mudana - seja na vida profi ssional, que passa de um ps-fordismo a uma diversidade produtiva; seja na vida pblica, da reduo do pluralismo pblico ao civismo pblico ou na vida privada, da invaso do seu espao constituio de um mundo em mltiplas camadas.

  • Brasil-paraso: esteretipo e circulao

    3

    32.1

    2016 Anlise de textos multimodais da Web e o ISD

    A fi m de contemplar tal preocupao - de ter uma anlise com-plementar ao que se faz dentro do grupo ALTER com instrumental de anlise do ISD, pretendemos, como primeira refl exo, introduzir a proposta analtica dos textos multimodais de Baldry e Thibault (2010), doravante B&T, do quadro da semitica social, especfi ca para as pginas da web. Uma tentativa recente bem-sucedida de incorporar contribuies de anlise de elementos no verbais ao ISD vem da tese de Leal (2011) e da tese de Melo (2014), cujas teses recorrem gramtica do design visual de Kress e van Leeuwen (2006), derivada do quadro da semitica social; a primeira, na anlise da organizao textual do gnero cartoon, a segunda, na anlise de anncios pu-blicitrios em francs. Aqui, consideramos a contribuio dentro do mesmo quadro, mas com categorizaes pertencentes particularmente multimodalidade da web.

    Demonstraremos, assim, sinteticamente, que apesar das diferenas - principalmente no instrumental analtico - h similaridades entre as anlises de textos feitas no quadro do ISD e as dos textos multimodais de B&T no tocante base sociossemitica de viso de linguagem, con-ceito de gnero e nveis da anlise. As semelhanas parecem contribuir para uma complementao, integrao e adaptao dos procedimentos de B&T aos procedimentos do ISD. Isso ocorre mais especifi camente em relao s denominadas ferramentas analticas1: nveis ou cama-das, anlise de clusters2, trajetria ou percurso de hipertexto, sistema temtico e potencial de ao dos objetos do hipertexto. Porm, para os propsitos deste artigo, em termos empricos, nos deteremos na anlise dos nveis ou camadas e na anlise dos clusters.

    Quanto organizao deste artigo, primeiro, introduzimos pon-tos tericos das duas perspectivas com os nveis de anlise e depois discorremos uma exemplifi cao das anlises integradas de texto multimodal de uma seo do Museu Britnico virtual. Em seu livro, B&T demonstram sua anlise de texto da web sobre um stio de edu-tenimento (edutainment), NasaKids que no mais est disponvel. Supondo que educadores em geral se preocupem com esse tipo de

    1. Analytical tools, em ingls.2. No se trata da anlise de dados qualitativos, de mesmo nome, usada no campo da anlise quantitativa de dados qualitativos.

  • Ana Carolina Vilela-Ardenghi & Ana Raquel Motta

    4

    32.1

    2016 Anise D'Orange Ferreira, Glenda Cristina Valim de Melo

    stio na web, como instrumento de seu trabalho, escolhemos o stio do Museu Britnico virtual.

    Viso de linguagem, conceito de gnero e nveis de anlise

    Tanto o texto no quadro ISD proposto por Bronckart como o texto multimodal sob a tica da semitica social, em Baldry e Thibault, com-partilham uma viso social da linguagem. Para ambas as correntes, o uso da lngua motivado socialmente e os signos, na sua relao entre signifi cante e signifi cado, so constitudos pela conveno social3, e no por uma relao inerente, natural e necessria. De acordo com B&T, o texto multimodal visto sob a ptica de Halliday (2001[1978]) que atribui linguagem sua qualidade sociossemitica. Semitica, segundo ele, por se tratar do estudo geral dos signos, originalmente observados pelos estoicos, distinguindo semainon de semainomenon4 (signifi cante e signifi cado respectivamente), at ser desenvolvido por Saussure.

    Afi rma Halliday que, embora os signos tradicionalmente sejam vistos em conjuntos relacionados, ele prefere considerar a semitica como o estudo de sistemas de signos ou como o estudo do signifi cado em geral (Halliday, 1989: 3-4). O atributo social de tal semitica refere-se, primeiro, ao sentido de sistema social, como sinnimo de cultura; depois, ao sentido de parte de uma estrutura social, i.e., como um aspecto do sistema em que se v a relao da linguagem com uma estrutura social. Assim, para uma teoria sociossemitica da linguagem, diz serem necessrios alguns ingredientes essenciais, que so os conceitos de texto, situao, variedade de texto ou registro, cdigo (no sentido de Bernstein, cf. Halliday, 2001[1978]: 41), sistema lingustico (que inclui o sistema semntico) e estrutura social (Halli-day, 2001[1978]: 143). O texto , ento, defi nido como a linguagem

    3. Embora se diga que os signos sejam arbitrrios, como formulao saussuriana, para o ISD e para a semitica social, a arbitrariedade signifi ca apenas convencionalidade, isto , no-naturalidade (ou no-inerncia necessria e obrigatria) na relao entre signifi -cado e signifi cante ou, dentro da perspectiva de Hjelmslev, entre contedo e expresso (Halliday,1978. p143-165).4. e ; formas participais do presente substantivadas, na voz passiva e ativa, respectivamente; o signifi cado, indicado, o sentido da palavra e o que indica, indicador. DGP, 2010,vol.5, pp. 8-9.

  • Brasil-paraso: esteretipo e circulao

    5

    32.1

    2016 Anlise de textos multimodais da Web e o ISD

    que funcional, que est realizando algum trabalho em um contexto, por oposio a palavras ou sentenas isoladas (Halliday, 1989:5): So, any instance of living language that is playing some part in a context of situation, we shall call a text. It may be either spoken or written or indeed in any other medium of expression we like to think of 5.

    O texto tambm representa uma opo, um potencial de signifi cado realizado, dentro de uma gama de opes semnticas presentes em um sistema de linguagem compartilhado por membros de uma cultura. Apoiando-se na distino feita por Malinowski (1923), entre os con-textos de cultura e de situao, o texto pode ser interpretado dentro de um contexto de cultura, que se constituiria de todo o sistema semntico de uma lngua, tal contexto considerado abstrato e indescritvel. J dentro de um contexto de situao, o texto visto como um sistema semntico particular ou um conjunto de subsistemas do qual fazem parte contextos ou situaes sociais especfi cas.

    A situao, como elemento indispensvel para uma teoria so-ciossemitica da linguagem, foi inspirada nas ideias de Malinowski (1923) e Firth (1957) que a consideram como uma construo terica sociolingustica, abstrata do meio circundante da situao concreta de produo da linguagem, ou seja, um contexto social como uma estrutura semitica. Essa construo se ancora em um complexo de trs dimenses: campo, a atividade social em curso, ou ao social a que o texto se relaciona; tenor, as relaes implicadas de papel, ou papis relativos aos participantes da ao, e modo, o canal retrico, funo atribuda linguagem, incluindo o meio (falado ou escrito). J o registro a variedade semntica da qual o texto pode considerar-se um exemplo e tambm a confi gurao de recursos semnticos que o membro de uma cultura associa tipicamente a um tipo de situao; o potencial de signifi cado acessvel a um contexto social dado. (Halliday, 2001[1978]: 145).

    Os falantes geralmente reconhecem as opes semnticas que esto em jogo em uma dada situao. Os cdigos se referem organizao semitica que governa as escolhas de signifi cados pelo falante. Eles

    5. Traduo Nossa: Assim, qualquer instncia de linguagem viva, que esteja em um contexto de situao, pode ser chamada de texto. Ela pode ser tanto falada como escrita ou at mesmo outra expresso que gostemos de pensar.

  • Ana Carolina Vilela-Ardenghi & Ana Raquel Motta

    6

    32.1

    2016 Anise D'Orange Ferreira, Glenda Cristina Valim de Melo

    esto acima do sistema lingustico, se realizam mediante o registro, orientando semanticamente os falantes em contextos sociais especfi cos. Alm disso, tais cdigos atuam por meio de agentes socializadores da famlia, amigos e escola. O sistema lingustico destacado pelo sistema semntico, considerado mais importante, como o estrato semiolgico de Lamb adotado por Halliday. Desse estrato, fazem parte os componentes funcionais do sistema semntico, a saber, as metafunes ideacional, interpessoal e textual, regidas pelo contexto social, os modos de signifi cao presentes em cada uso de linguagem em cada contexto social explicando que (p.147):

    A text is a product of all three; it is a polyphonic composition in which different semantic melodies are interwoven, to be realized as integrated lexogrammatical structures. Each functional component contributes a band of structure to the whole 6.

    Essas metafunes, reinterpretadas por Lemke (1983), expandem seus signifi cados para as lexias7 de hipertexto na web nas categorias: de apresentao, de orientao e de organizao. Essas categorias, contudo, no so adotadas por B&T da mesma forma que Lemke em suas categorias de anlise, na sua apropriao das metafunes idea-cional, interpessoal e textual de Halliday.

    No ISD, a viso de linguagem fundada numa abordagem socio-lgica do discurso, sustentada por Voloshinov (1973[1929]), em que os indivduos adquirem sua humanidade pelo carter socio-histrico das capacidades biopsquicas herdadas e propriedades psicolgicas marcadas pelo lugar ocupado na sociedade (cf. Bronckart, 2007:1). Segundo Bronckart (2007: 2 ss), Voloshinov coloca a coletividade no primeiro lugar de ancoragem dos fenmenos psquicos, sustentando que ce sont les interactions verbales qui constituent les manifestations majeures de ces reprsentations collectives, quelles en constituent les

    6. Traduo Nossa: Texto um produto de todos os trs, uma composio polifnica em que diferentes melodias semnticas so entrelaadas para serem realizadas como estruturas lexogramaticais integradas. Cada componente funcional contribui com uma parte de estrutura ao conjunto.7. Lexias so unidades consecutivas de hipertexto vinculadas por links.

  • Brasil-paraso: esteretipo e circulao

    7

    32.1

    2016 Anlise de textos multimodais da Web e o ISD

    supports et les tmoins objectifs8. Assume-se, no ISD, tal viso da linguagem: desenvolvendo-se no humano dentro de um cenrio social e dialgico (Voloshinov, 2010: 132-3; 134-5):

    En effet, les signes napparaissent que dans le processus dinteraction entre les consciences individuelles. Et la conscience individuelle elle-mme est remplie de signes. La conscience ne devient conscience quen se remplissant de contenu idologique, cest--dire smiotique, et donc, seulement dans un processus dinteraction sociale.9 Le signe ne peut surgir que sur le terrain interindividuel, lequel, du reste, nest pas naturel au sens propre [p.17] de ce terme[n.2] : entre deux homo sapiens un signe ne va pas apparatre spontanment. Il faut que deux individus soient socialement organiss, quils constituent une collectivit : cest seulement cette condition que peut se former entre eux un milieu smiotique. Non seulement la conscience individuelle ne peut pas expliquer quoi que ce soit, mais, au contraire, cest elle-mme qui doit tre explique par le milieu idologique et social.10

    O mtodo de anlise do ISD, assim como o programa metodo-lgico de Voloshinov so, primariamente, descendentes. Primeira-mente, focam-se nas atividades de interao verbal em uma situao concreta, depois, centram-se em tipos de atos de fala ou gneros de discurso mobilizados e no exame das propriedades lingusticas formais (Bronckart, 2007:3).

    8. Traduo Nossa: so as interaes verbais que constituem as manifestaes prin-cipais dessas representaes coletivas, que lhes constituem os suportes e testemunhos objetivos.9. Com efeito, os signos no aparecem seno dentro do processo de interao entre as conscincias individuais. E a conscincia individual propriamente dita est cheia de signos. A conscincia no se torna conscincia seno se preenchendo de contedo ideolgico, isto , semitico, e portanto, somente em um processo de interao social. (traduo nossa do francs)10. P. 134-5: O signo no pode surgir seno sobre o terreno interindividual, o qual, no entanto, no natural no sentido prprio [p.17] do termo [n.2]: entre dois homo sapiens um signo no vai aparecer espontaneamente. preciso que dois indivduos sejam social-mente organizados, que eles constituam uma coletividade: somente nesta condio que se pode formar entre eles um meio semitico. No somente a conscincia individual no pode explicar o que quer que seja, mas, ao contrrio, ela mesma que deve ser explicada pelo meio ideolgico e social. (traduo nossa do francs) [nota 2] A sociedade , bem entendido, igualmente uma parte da natureza, mas somente uma parte distinta do ponto de vista qualitativo que possui suas prprias regras e leis especfi cas. (traduo nossa do francs)

  • Ana Carolina Vilela-Ardenghi & Ana Raquel Motta

    8

    32.1

    2016 Anise D'Orange Ferreira, Glenda Cristina Valim de Melo

    Em Voloshinov, Bronckart destaca a situao de comunicao, posto que nela residem trs dimenses afetando a signifi cao dos enunciados de um modo que esses no refl etem como espelho a si-tuao externa, mas so reconstrudos, integrando-se ao enunciado como elemento indispensvel a sua constituio semntica (Voloshi-nov 1991[1926] comentado por Bronckart, 2007). Tais dimenses so: horizonte espao-temporal compartilhado pelos interlocutores, o conhecimento da situao e a avaliao da situao pelos mesmos. No ISD, elas tero impacto nos procedimentos de anlise referentes situao de produo. Poder-se-ia dizer que tal nvel de anlise nos remete concepo de contexto social apontado por Halliday mencionado anteriormente.

    Os gneros de texto, conceitos originais de Jakubinski, so retomados por Voloshinov na sua estreita relao com as situaes especfi cas de comunicao, ou seja, ao considerar estruturas textuais determinadas por tais situaes. Os gneros a concebidos parecem estar no plano mais abstrato de variao do cdigo, materializados em registro, ou como um tipo de situao do contexto que corresponde a um tipo de texto ou registro (cf. Motta-Roth, 2008; cf Matthiessen, Teruia & LAM, 2010:107). No ISD, gneros de textos, como lembra Machado (2010 [2005]), so produtos sociais e histricos que expli-cam a ao da linguagem. So construtos que existem antes de nossas aes, indexados s situaes de linguagem, ou seja, so portadores de um ou de vrios valores de uso (Machado, 2010: 250). Em outras palavras e embasadas em Coutinho (2007:102), os gneros de textos ... so formatos relativamente estabilizados, elaborados pelas geraes precedentes e que coexistem....

    No casualmente Maybin (2002 [1994]: x-xi), em seu Language and literacy in social practice: a reader, apresenta o captulo voloshi-noviano, Language and ideology11, seguido ao hallidiano, Language as social semiotic12, fazendo o comentrio de que os escritos socio-histricos russos, como o de Voloshinov e o de Vygotsky, adicionam uma dimenso poltica e histrica abordagem sistmica de Halliday. Alm da dimenso histrico-social, o ISD incorpora uma dimenso so-

    11. captulo 4 de Marxismo e Filosofi a da Linguagem.12. captulo 6 id.ibid.

  • Brasil-paraso: esteretipo e circulao

    9

    32.1

    2016 Anlise de textos multimodais da Web e o ISD

    ciopsicolgica, em que a linguagem, organizada socio-historicamente, e sua evoluo tm um papel fundamental no desenvolvimento psquico e na construo da conscincia humana.

    A semiotizao do psiquismo assumida no ISD observada por Bronckart em Voloshinov medida que a formao da conscincia depen-de dos signos constitudos interacionalmente. Ento, a linguagem vista como estreitamente ligada conscincia, por meio do discurso interior, uma internalizao das interaes verbais externas e socializadas. Mas principalmente de Vygotsky que o ISD assume a viso psicolgica do desenvolvimento humano em que este dependente da apropriao de elementos linguageiros. Essa apropriao, por um lado, ocorre de forma social, por meio de interaes e, por outro, de forma pessoal ou egocntri-ca, tornando-se um elo essencial do processo do pensamento consciente sobre o qual so impressos valores socio-histricos (Bronckart, 2007). Sendo assim, essa dinmica da conscincia coloca as prticas verbais e principalmente aquelas organizadas em gneros textuais no espao intermedirio entre o psicolgico e o sociolgico.

    Embora B&T no aprofundem os aspectos psicolgicos dos gneros, a reviso proposta por eles merece aqui uma considerao. Para eles, os gneros, so vistos tradicionalmente como esquemas de componentes, com funes e sequncias particulares, obrigatrios e facultativos, orientados a um objetivo, ou como um aparato (device) pedaggico em aulas de escrita, para conscientizao e controle (Mar-tin 1985; Thibault 1989), em que o locus de controle permanece no esquema do gnero forando uma reviso do conceito de gnero no caso da web. O aparato se transforma em instrumento semitico (se-miotic tool) e apenas um dos componentes que interage com todos os outros numa rede distribuda de atividades realizadas no tempo que levam aos textos (B&T: 117). A web faz surgir novos gneros, novas combinaes semiticas, novas integraes de atividades produtoras de signifi cado (B&T: 117). Tambm faz retornar o locus de controle para o usurio, como produtor e improvisador de solues (B&T: 118). Tais consideraes talvez no possam ser cogitadas sem se aceitar uma dinmica ativa de ampliao da semiotizao do psiquismo. Ainda, que a web como texto exerceria uma fora no sentido da variabilidade, fl exibilidade, da fl uidez dos recursos semiticos e multitarefas ou aes mltiplas do sujeito sobre o texto.

  • Ana Carolina Vilela-Ardenghi & Ana Raquel Motta

    10

    32.1

    2016 Anise D'Orange Ferreira, Glenda Cristina Valim de Melo

    Como mencionado anteriormente, os procedimentos de anlise dentro do ISD, ento, seguem um mtodo descendente. Nele, so consideradas as camadas do texto, do nvel maior para o menor. So observados o contexto de produo, o nvel organizacional ou infraes-trutural, o nvel dos mecanismos de textualizao, o enunciativo e, por ltimo, semntico. Para B&T, a anlise tambm ocorre em camadas, mas essas no se dividem se distinguem da mesma forma. O nvel mais alto o do contexto de cultura denominado como L + 1. J o nvel mediano chamado de L, que diz respeito interface de usurio, ao contexto de situao, anlise do potencial de ao dos objetos no hipertexto. Comparando os dois aportes analticos em questo, podemos dizer que L+1 pode, em certa medida, ser contemplado pelo nvel do contexto de produo; e L estaria contemplado no ISD no que se refere a texto; em L, concentrar-se-iam os nveis organizacional ou infraestrutural, enunciativo e semntico. O nvel L-1 parece no estar contemplado.

    Uma anlise em desenvolvimento: camadas e clusters

    Segundo Machado & Bronckart (2009:46), o contexto de pro-duo contempla o momento scio-histrico em que os textos foram produzidos e os parmetros que podem infl uenciar a organizao de um texto. Ainda dentro do contexto, a situao de produo especifi ca se o produtor do texto se encontra em uma situao que pode ser des-crita por um conjunto de parmetros fsicos (emissor, receptor, local, tempo) e um conjunto de parmetros sociossubjetivos (papel social do enunciador e destinatrio, instituio social e objetivo da produo). Com base neles, podemos hipotetizar possveis representaes que o autor teria sobre o contexto de produo fsico e o sociossubjetivo. Na seo inicial do Museu Britnico Young Explorers (fi g.1), observamos um propsito comunicativo que pode ser associado a um modelo emergente, nomeado edutenimento, neologismo que aglutina os termos educational entertainment, criado por Robert Heyman para designar documentrios educativos na televiso em 1973 (Rey-Lpez et al.. 2006:457). O provedor do servio conhecido mundialmente no mundo fsico, o Museu Britnico, primeiro museu pblico nacional do mundo e fundado no sculo XVIII. Sendo um servio estendido

  • Brasil-paraso: esteretipo e circulao

    11

    32.1

    2016 Anlise de textos multimodais da Web e o ISD

    do museu, espera-se relao entre contedos e a mesma qualidade e autoridade em relao a esses, inspirando a confi ana do usurio. Ele dirigido aos jovens e famlia, com carter educacional e, ao mesmo tempo, de divertimento. Tanto a anlise sociointeracionista discursiva, como a multimodal, buscam nos textos estruturas mais ou menos fi xas quanto atividade social nela realizada. No caso da web, j existe uma expectativa sobre a forma de uma homepage e suas variaes em funo de sua fi nalidade social (Askehave & Nielsen 2005).

    Quanto ao nvel organizacional ou infraestrutural, primeira camada, encontramos o plano global que a planifi cao geral dos contedos temticos, que nos permite identifi car os actantes postos em cena, os tipos de discurso e os tipos de sequncia. O contedo temtico so as representaes temticas elaboradas pelos agentes-produtores explcitas no texto. Os tipos de sequncia, segundo Bronckart (1999:250) so

    Figura 1 Home page da seo Young Explorers do Museu Britnico.

  • Ana Carolina Vilela-Ardenghi & Ana Raquel Motta

    12

    32.1

    2016 Anise D'Orange Ferreira, Glenda Cristina Valim de Melo

    formas de organizao lingustica, em nmero limitado, com os quais so compostos, em diferentes modalidades, todos os gneros textuais.

    J os tipos de discurso so identifi cveis nos textos e traduzem a criao de mundos discursivos especfi cos, sendo esses tipos arti-culados entre si por mecanismos de textualizao e por mecanismos enunciativos. (Bronckart 1999: 138) Os mundos discursivos, por sua vez, so governados pela atividade de linguagem e compem mundos representados pelos agentes humanos. Esses organizam as relaes entre as coordenadas de situao de ao de um produtor, de um lado, e do outro, as coordenadas de mundos construdos nos textos. As inter-relaes entre essas coordenadas modelam os mundos discursivos em quatro possibilidades: um mundo de exposio por parte de um locu-tor/ interlocutor implicado, um mundo de exposio sem implicao, i.e., autnomo; um mundo de narrao com implicao do locutor/interlocutor e um mundo de narrao sem implicao ou autnomo. Essas combinaes geralmente so reconhecidas nos tipos de discur-so interativo, terico, relato interativo e narrao respectivamente. Quanto aos tipos de sequncia, podemos compreend-las, conforme Bronckart (2008:250), como os modos de planifi cao do contedo temtico, i.e., uma forma de organizao sequencial dos contedos. As sequncias esto distribudas segundo os tipos de discurso: as se-quncias narrativas relacionadas s narraes e relatos interativos; as sequncias dialogais aos discursos interativos dialogados, as sequncias argumentativas, explicativas e injuntivas aos tipos de discurso tericos e interativos; e, as sequncias descritivas esto relacionadas a todos os tipos de discurso.

    Quanto aos mecanismos de textualizao, segunda camada, para Bronckart ([1999], 2007), so unidades lingusticas responsveis pela coerncia textual, servindo progresso do contedo temtico, man-tendo a coeso verbal, e a conexo e coeso nominal.

    O nvel enunciativo, terceira camada, (cf. Bronckart 1999:319) relaciona-se atribuio de responsabilidade enunciativa e a como os atores se colocam diante dos enunciados, apresentando seu julgamento, suas opinies e sentimentos, enfi m, sua avaliao a respeito de fatos ou temas. A responsabilidade enunciativa pode mostrar como o prprio enunciador representado no texto e como so construdas suas repre-

  • Brasil-paraso: esteretipo e circulao

    13

    32.1

    2016 Anlise de textos multimodais da Web e o ISD

    sentaes. Textualmente, tal nvel marcado por qualifi cadores, moda-lizaes e vozes, como afi rmam Machado & Bronckart (2009:59).

    Contrastando os dois aportes analticos, diramos que parte do nvel L de B & T pode estar no nvel organizacional do ISD refe-rente ao plano global com variaes internas nessas categorias, que se adequam anlise da web. Essas envolvem: uma anlise dos clusters, dirigida aos componentes agrupados na pgina e anlise da trajetria hipertextual, com o desenvolvimento de um sistema temtico ao longo dessa trajetria.

    Considerando a anlise dos clusters em uma pgina web, segundo B&T, ela o ponto de partida para as anlises subsequentes e promove a percepo dos contedos do que, no ISD, chamaramos de actantes postos em cena. Os clusters multimodais so defi nidos como agrupa-mento local de itens- verbais, visuais etc., espacialmente prximos, defi nindo uma parte ou regio da pgina como parte de um todo e re-lacionados entre si (cf. B&T: 31). Os autores no tocam em critrios de agrupamento de itens, mas impossvel no nos referirmos psicologia da gestalt, seus princpios de similaridade, continuidade, fechamento e proximidade, bem como a sua interdependncia com o todo que, ape-sar de propostos no incio do sculo XX, ainda se mantm vivos hoje (Engelmann, 2002). Para B &T, os clusters podem ser analisados em uma macrotranscrio, em que se vem as estruturas maiores, ligadas a gneros, temticas principais, e em uma microtranscrio, em que se observam repeties e caminhos de leitura.

    Na fi gura 2, vemos os itens marcados por agrupamentos maiores: cabealho, mecanismo de busca, chamada principal sobre os contedos, quadro principal com divises de contedo, uma coluna com atividades de comunicao datadas e um rodap.

    Ficam evidentes contedos temticos e os actantes postos em cena. Temos o provedor de servio museu como emissor, marcado acima esquerda do cabealho; os usurios jovens exploradores como receptores-destinatrios, marcados acima do contedo, como uma cha-mada em letras maiores; os contedos referentes a histrias e culturas do mundo, com subcluster de contedos em leitura vertical, e outro bloco em leitura horizontal, a famlia dos jovens exploradores. Nota-se no plano horizontal do actante museu, vrios links relacionados ao

  • Ana Carolina Vilela-Ardenghi & Ana Raquel Motta

    14

    32.1

    2016 Anise D'Orange Ferreira, Glenda Cristina Valim de Melo

    museu como instituio, i.e, em nvel hierrquico maior, ligado a esse em um subcluster, a navegao em migalha de po13, que marca a po-sio da pgina; no rodap, links associados ao museu e sua presena em servidores de comunicao, como facebook, twitter, youtube, etc. e a marca de copyright. As possveis trajetrias de hipertexto so dadas pelas opes encontradas nos clusters, que promovem uma trajetria logogentica, no linear e ocorrendo em cascata, dependendo da escolha do usurio (B&T: 126-7). A transcrio do percurso de hipertexto feita pela indicao de a) localizao da homepage, b) ao de seleo de um objeto na home page, c) ativao em clique para atingir outra localizao, e assim sucessivamente. As chamadas sequncias, no ISD, seriam potencialmente dependentes da trajetria escolhida pelo usurio. O enunciador do texto uma instituio cultural, que no se apresenta na primeira pessoa, mas se posiciona no espao do texto como um remetente. O usurio reconstri o texto por meio de um percurso selecionado por ele.

    Vale notar como o provedor se dirige ao usurio: jovens explo-radores, como uma forma de invocao, e os verbos criar, jogar, descobrir, postar e explorar que parecem mais um imperativo do que

    13. Compreendida como uma tcnica usada em interfaces de usurio para lhes propiciar um meio de localizao dentro da estrutura de programas ou documentos.

    Figura 2 Divises maiores de clusters

  • Brasil-paraso: esteretipo e circulao

    15

    32.1

    2016 Anlise de textos multimodais da Web e o ISD

    uma afi rmao em terceira pessoa do plural, ou seja, uma sequncia injuntiva, simulando um tipo de discurso interativo. O usurio pode supor que encontrar narrativas sobre histrias e culturas mundiais, mas o mundo discursivo proposto por esta pgina o da exposio com implicao do sujeito que convidado a intervir com suas aes de criar, jogar, descobrir, postar e explorar.

    A anlise do sistema temtico, que dirigida transitividade e covariao dos elementos dos clusters no percurso do hipertexto e observao dos elos de variao transmodal, parece evocar tanto um micro plano de contedos temticos, sequncias e tipos de discurso, quanto os mecanismos de textualizao no ISD. Nessa anlise so observadas as categorias de participante, de processo e de material, que so pontos relativos aos processos na funo experiencial.

    No cluster da fi gura 2, em que h a chamada Young explorers, temos o participante-processo ator, material cuja meta explore world histories and cultures, e cuja temtica principal explorar culturas do mundo, por meio das aes de criar, jogar, descobrir e postar. H uma relao verbo-visual das fi guras do peixe com create, bola com play, hipoptamo com discover, e envelope com poster. No elo covariado verbo-visual, na relao transmodal temtica, no cluster de contedos verticais, Explore world, encontramos Explorador do tempo junto com the ultimate adventure game, em que a meta do jogar tem um atributo, sendo qualifi cado de ultimate adventure (jogo de aventura mais moderno). Verifi camos o texto e, ao lado, a fi gura da entrada no jogo. Neste mesmo cluster, deparamo-nos ainda com o Explorador do museu junto com Discover over 500 museum objects (Descubra mais de 500 objetos de museu). Ao portador do atributo, explorador do museu, se coloca uma meta, qualifi cada pela quantidade. O terceiro elemento do cluster mostra o elo covariado entre Videos: a brief history; fi nd out about clothing, money, writing and time telling (Vdeos: uma breve histria; descubra (ou descubram) sobre vesturio, dinheiro, escrita e cronmetro), e a imagem como meta do fi nd out (Descubra). Os sub-clusters mantm o discurso interativo com um apelo visual.

    Quanto anlise potencial dos objetos do hipertexto, so conside-radas as metafunes experiencial, interpessoal e textual da abordagem sistmico-funcional, adaptadas web. Na signifi cao experiencial,

  • Ana Carolina Vilela-Ardenghi & Ana Raquel Motta

    16

    32.1

    2016 Anise D'Orange Ferreira, Glenda Cristina Valim de Melo

    observam-se as expectativas de aes e papis sociais representados no texto multimodal, i.e., observa-se o signifi cado da sequncia da ativida-de descrita como uma confi gurao dos participantes, do processo e do resultado: o participante-ator pode ser o prprio usurio do computador, cujo processo a ao de clicar no objeto na pgina, que a meta do participante, que obtm um resultado, que a mudana de estado da pgina. Na signifi cao interpessoal, observa-se indiretamente uma posio avaliativa do leitor sobre o mundo representado, havendo: 1) um apelo: viso de destaque do subcluster exibindo a imagem estti-ca, mas sem contato com o mouse; 2) uma orientao: contato com o mouse, ao de rollover sobre o subcluster, que modifi ca a imagem antes fi xa, agora uma imagem dinmica principal, convidando o usu-rio a agir; 3) uma ao: clic com o mouse, ativando o link para outra pgina14. Finalmente, a signifi cao textual marcada pela covariao de elementos verbo-visuais e so observados os elos e funes: 1) anafrico, em que os objetos, i.e., elementos fi gurativos ou textuais so transformados em estados prvios da home page ou da imagem; 2) catafrico em que os objetos so transformados em domnios temticos novos frente do trajeto, obtidos por um clic. e 3) covariado, em que os objetos transformados compartilham caractersticas em comum com um membro de uma classe mais geral de objetos clicveis com potencial interativo ou temtico (cf B&T: 156). No nosso exemplo, o primeiro elo seria covariado, j que h compartilhamento (fi g. 3).

    Figura 3 Subcluster com elo covariado.

    14. Vale salientar que B&T adotam smbolos para transcrever esse nvel de signi-fi cao.

  • Brasil-paraso: esteretipo e circulao

    17

    32.1

    2016 Anlise de textos multimodais da Web e o ISD

    Os demais subclusters do nosso exemplo mostrariam um elo catafrico (fi g. 4 e fi g. 5), uma vez que a transformao do objeto revela outros objetos e o primeiro uma antecipao do resultado da transformao. Em um, o elemento de coeso uma das imagens de objetos que podero ser descobertos. Em outro, parte de um quadro do fi lme que poder ser visto. Poderamos ir alm na observao de que o quadro congelado da imagem mostra a personagem do vdeo olhando para o usurio, no mesmo nvel do olhar, e em plano mdio. Para Kress e Leeuwen (2006: 148), isso signifi ca uma funo de de-manda, igualdade e envolvimento social com o usurio; para os psi-clogos (Matsumoto & Ekman 2008), mostra uma pessoa levemente submissa ou apaziguamento, pelo abaixamento das costas e palma das mos expostas; mas principalmente a expresso facial caracteriza a surpresa, pelas sobrancelhas levantadas. Esse quadro torna a fi gura mais convidativa ao usurio, mesmo sem conhecer o vdeo.

    Figura 4 Subcluster com elo catafrico.

    Figura 5 Elo catafrico do terceiro subcluster.

  • Ana Carolina Vilela-Ardenghi & Ana Raquel Motta

    18

    32.1

    2016 Anise D'Orange Ferreira, Glenda Cristina Valim de Melo

    Em relao s modalizaes e vozes como mecanismos enuncia-tivos, observamos no texto um tom de certeza nos clusters de opes, que indicam e valorizam suas metas, apresentando no s nmeros e adjetivos, mas tambm associando-os a imagens maiores. Nesse senti-do, tanto a anlise do sistema temtico, quanto a de ao potencial dos objetos do hipertexto contribuem para essa constatao. Alm disso, embora estejamos diante de sequncias potencialmente injuntivas, a instituio-actante que prov o texto multimodal hipertextual coloca o usurio como ator dos vrios textos que podem ser construdos. A ao que se espera mobilizar no usurio a da explorao, descoberta e jogo. A ao esperada dos usurios familiares a participao nos eventos e nos recursos de comunicao.

    Quanto aos tipos de discurso, poderamos dizer que, como parte do gnero de certos textos ligados a algumas prticas sociais na web, como o edutenimento, o discurso de tipo interativo estaria presente, mas certamente haver gradaes. Em um Wikipedia, por exemplo, o usurio pode ser convidado a participar e a fazer seu percurso hiper-textual, mas as aes e processos possveis de serem desempenhados so limitados a informaes de carter enciclopdico, pela insero de vrias fontes. Nesse sentido, poderamos dizer que a identifi cao de vozes em hipertextos multimodais se torna bem complexa, j que o grau de intertextualidade pode ser maior.

    Coda

    Poderamos prosseguir a anlise apresentado uma leitura de como um texto multimodal da web seria construdo pelo usurio em seu percurso hipertextual e as relaes entre os temas e seus mltiplos participantes. Mas excederamos o objetivo de aqui apontar a possi-bilidade de se complementar a anlise multimodal com a anlise de gnero de textos na perspectiva do ISD. Acrescentaramos, s catego-rias existentes, as identifi caes dos clusters, das sequncias temticas dentro das trajetrias ou percursos de hipertexto e elos de covariao dos elementos.

    Enfi m, demonstramos que ambas as abordagens se ancoram em uma viso social e interacionista da linguagem e pressupem o valor

  • Brasil-paraso: esteretipo e circulao

    19

    32.1

    2016 Anlise de textos multimodais da Web e o ISD

    psicolgico instrumental do gnero. O desenvolvimento psicolgico pela linguagem e pelos gneros assumido inteiramente no ISD e por membros do Grupo ALTER, e indiretamente em B&T, que adotam instrumentos analticos voltados para textos multimodais da web, no contemplados pelo ISD. Embora as bases sociais da linguagem permitam um grau de integrao das anlises mencionadas, estudos complementares sero necessrios para apurar classifi caes e o prprio instrumental, pois as similaridades parecem permitir, e as distines no impedir uma adaptao dos procedimentos de B&T ao quadrodo ISD.

    Recebido em abril de 2013Aprovado em abril de 2015

    E-mails:[email protected]

    [email protected]

    Referncias Bibliogrfi cas

    ASKEHAVE, I. & NIELSEN, A. E. 2005. What are the Characteristics of Digital Genres? - Genre Theory from a Multi-modal Perspective. Proceedings of the 38th Hawaii International Conference on System Sciences. IEEE.

    BRONCKART, J. P. 2007. Le langage au coeur du fonctionnement humain: un essai dintgration des apports de Voloshinov, Vygotski et Saussure. Conferncia publicada na Revista de Estudos Lingusticos (Universidade Nova de Lisboa), 2009 (3): 31-62.

    BALDRY, A & THIBAULT, P. J. 2010. Multimodal transcription and text analysis. London: Equinox.

    BRONCKART, J-P. [1997]2007. Atividade de linguagem, textos e discursos. Por um interacionismo sociodiscursivo. 2 ed. So Paulo, Educ.

    ______. 2004. Les genres de textes et leur contribuition au dvelopment psychologique. Langages, 153: 98-108.

    ENGELMANN, A. 2002. A psicologia da Gestalt e a cincia emprica contempornea. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Jan-Abr, 18 (1):1-16.

    FIRTH, J. R. 1957. Personality in language and society. In: Papers in Linguistics. 1934-1951. London e Oxford: O.U.P. p. 177-189.

    HALLIDAY, M. A. K. 1994[1985]. An Introduction to Functional Grammar. London e Melbourne: Arnold.

  • Ana Carolina Vilela-Ardenghi & Ana Raquel Motta

    20

    32.1

    2016 Anise D'Orange Ferreira, Glenda Cristina Valim de Melo

    ______. [1978] 2001. El lenguaje como semitica social. Mxico. Fondo de Cultura Econmica.

    ______, M. K. A. 1978. Language as social semiotic. The Social Interpretation of Language and Meaning. Londres: Edward Arnold. p. 143-165.

    KRESS, G. 2010. Multimodality. A social semiotic approach to contemporary communication. London & New York: Routledge.

    KRESS, G & LEEUWEN, T. V. 2006. Reading images. The grammar of visual design. 2nd ed. London/N.Y: Routledge.

    LEAL, A. L. 2011. A organizao textual do gnero cartoon: aspectos lingusticos e condicionantes no-lingusticos. Tese de doutoramento. Faculdade de Cincias Sociais e Humanas, Unversidade Nova de Lisboa. Lisboa. Disponvel on-line: http://hdl.handle.net/10362/6646.

    LEMKE, J. L. 1983. Thematic analysis: systems, structures, and strategies. Semiotic Inquiry/Recherches Smiotiques (RSSI)3 (2): 159-87.

    MACHADO, A. R. & CRISTOVO, V. L. 2009. A construo de modelos didticos de gneros: aportes e questionamentos para o ensino de gneros. In: L. Abreu-Tardelli & V.L. Cristovo Machado (orgs.) e col. O ensino e a aprendizagem de gneros textuais. Campinas: Mercado de Letras.

    MALINOWSKI, B. 1923. Supplement I: The problem of meaning in primitive languages. In: Ogden e Richards (eds.). The meaning of meaning. NewYork: Harcourt. p. 296-336.

    MARTIN, J. 1985. Process and text: two aspects of semiosis. In: Benson & Greaves (eds.). Systemic Perspectives on Discourse. volume 1: Selected theoretical papers from the 9th International Systemic Workshop. Norwood, NJ: Ablex. p. 248-74.

    MATSUMOTO, D., & EKMAN, P. 2008. Facial expression analysis. In: K. Chen (ed.). Scholarpedia, 3(5), 4237. Disponvel em: http://www.davidmatsumoto.com/content/Scholarpedia%20facial%20Expression%20Analysis.pdf

    MELO, P. 2014. Gnero textual anncio publicitrio no ensino do FLE: o desenvolvimento da capacidade discursiva argumentar por meio de recursos verbais e visuais. Dissertao de Mestrado. Programa de Estudos Lingusticos, Literrios e Tradutolgicos em Francs. Universidade de So Paulo, So Paulo.

    MOTTA-ROTH, D. 2008. Anlise crtica de gneros: contribuies para o ensino e a pesquisa de linguagem. DELTA [online]. Vol. 24, n. 2 [cited 2012-10-15], p. 341-383. Disponvel em: .

    MATTHIESSEN, C.M.I.M; TERUIA, Z. e LAM, M. 2010. Key terms in systemic functional linguistics. London e New York: Continuum.

  • Brasil-paraso: esteretipo e circulao

    21

    32.1

    2016 Anlise de textos multimodais da Web e o ISD

    OHALLORAN, K. L. 2011. Multimodal Discourse Analysis. In: K. Hyland & B. Paltridge (eds.). Companion to Discourse. London & New York: Continuum.

    RABARDEL, P. [1995]2002. People and technology. Traduo do original: Les hommes et lestechnologies. Paris, A. Colin. Disponvel online: http:// ergoser v.psy.univ-paris8.fr/Site/ default.asp?Act_group=1

    RABARDEL, P. 2003. From artefact to instrument. Editorial, Interacting with Computers. 15: 641-645.

    THIBAULT, P. J. 1989. Genres, social action, and pedagogy: towards a critical social semiotic account. Southern Review (Austrlia) 22, 3: 338-62.

    VOLOSHINOV, V. [1926]1981. Le discours dans la vie et dans la posie. In: Tzvetan Todorov. Mikhal Bakhtine, le principe dialogique. Paris: Seuil. p. 181-215.

    ______. 2010. Marxisme et philosophie du langage. Trad. P. Sriot et Inna Tylkowski. Limoges: Lambert-Lucas.


Recommended