+ All Categories
Home > Documents > witter Na Escola- Reflexões Sobre Letramento Digital0690-1-PB

witter Na Escola- Reflexões Sobre Letramento Digital0690-1-PB

Date post: 17-Aug-2015
Category:
Upload: lewm
View: 216 times
Download: 4 times
Share this document with a friend
Description:
Artigo
Popular Tags:
20
Revista Línguas & Letras Unioeste Vol. 15 Nº 31 2014 e-ISSN: 1981-4755 Twitter na escola: reflexões sobre letramento digital Twitter in school: reflections on digital literacy Pedro Afonso Barth 1 Ernani Cesar Freitas 2 RESUMO: O presente estudo pretende tecer reflexões sobre o papel da escola no desenvolvimento de atividades de letramento digital. Debruçamo-nos, principalmente, em relação à relevância do uso crítico das redes sociais e elegemos, neste artigo, uma análise do Twitter. O twitter é uma mescla de rede social e microblogging e, aparentemente, é constituído por resquícios de diversos gêneros como notícia, bilhete, propaganda, citação, que foram modificados para atender as necessidades de comunicação encontradas na rede social. A pesquisa justifica-se devido à importância de relacionar um gênero em ascensão com o conceito de multimodalidade e com a prática escolar. O objetivo deste trabalho é investigar como a escola pode utilizar o twitter em atividades de desenvolvimento do letramento digital. Dionísio (2011), Bazerman (2007), Street (2014), Soares (2004) e Buzato (2009) são os principais autores referenciais utilizados na fundamentação teórica deste estudo. Primeiramente, definimos letramento e letramento digital, para, em um segundo momento, por meio de uma análise de tweets coletados no dia 22 de fevereiro de 2014, verificar que letramentos são empregados no twitter. Identificamos que esse gênero apresenta diversas possibilidades para o desenvolvimento de letramentos e de ensino de gêneros integrado às novas demandas sociais. A escola tem responsabilidade social com os cidadãos que está formando e, portanto, deve proporcionar, a todos, ferramentas para agir e interagir no mundo atual. Neste contexto, o trabalho crítico com letramento digital é imprescindível. Palavras-chave: Letramento Digital. Escola. Twitter. ABSTRACT: The present study seeks to weave together reflections on the role of the school in the development of activities of digital literacy. We consider, principally, the relation to the relevance of the critical use of social networks, and we chose, in this article, an analysis of Twitter. Twitter is a mixture of social networking and microblogging and, apparently, is made up of bits of several genres like news story, leaflet, advertising, citation, which were modified to suit the needs of communication found in social networking. The research is justified owing to the importance of relating an ascendant genre with the concept of multi-modality and with school practice. The objective of the study is to verify how the school can utilize twitter in activities of developing digital literacy. Dionysius (2011), Bazerman (2007), Street (2014), Soares (2004) and Buzato (2009) are the principal theoretical referents of this study. First, we define literacy and digital literacy so that, secondly, by means of an analysis of tweets collected on February 22, 2014, we can verify what literacies are used in twitter. We verified that this genre offers several possibilities for the development of literacies and 1 Mestrando do PPG de letras da Universidade de Passo Fundo na linha Leitura e Formação do leitor. E-mail: [email protected] 2 Doutor em Letras (PUCRS) com pós-doutorados em Linguística aplicada e estudos da linguagem (PUC- SP/LAEL); Professor do PPG em letras da Universidade de Passo Fundo (UPF). E-mail: [email protected]
Transcript

Revista Lnguas & Letras Unioeste Vol. 15 N 31 2014 e-ISSN: 1981-4755 Twitter na escola: reflexes sobre letramento digital Twitter in school: reflections on digital literacy Pedro Afonso Barth1 Ernani Cesar Freitas2 RESUMO:Opresenteestudopretendetecerreflexessobreopapeldaescolano desenvolvimentodeatividadesdeletramentodigital.Debruamo-nos,principalmente,em relao relevncia do uso crtico das redes sociais e elegemos, neste artigo, uma anlise do Twitter.Otwitterumamescladeredesocialemicroblogginge,aparentemente, constitudo por resqucios de diversos gneros como notcia, bilhete, propaganda, citao, que foram modificados paraatender as necessidadesde comunicao encontradas na rede social. Apesquisajustifica-sedevidoimportnciaderelacionarumgneroemascensocomo conceitodemultimodalidadeecomaprticaescolar.Oobjetivodestetrabalhoinvestigar como a escola pode utilizar o twitter em atividades de desenvolvimento do letramento digital. Dionsio(2011),Bazerman(2007),Street(2014),Soares(2004)eBuzato(2009)soos principaisautoresreferenciaisutilizadosnafundamentaotericadesteestudo. Primeiramente,definimosletramentoeletramentodigital,para,emumsegundomomento, pormeiodeumaanlisedetweetscoletadosnodia22defevereirode2014,verificarque letramentossoempregadosnotwitter.Identificamosqueessegneroapresentadiversas possibilidadesparaodesenvolvimentodeletramentosedeensinodegnerosintegrados novasdemandassociais.Aescolatemresponsabilidadesocialcomoscidadosqueest formando e, portanto, deve proporcionar, a todos, ferramentas para agir e interagir no mundo atual. Neste contexto, o trabalho crtico com letramento digital imprescindvel. Palavras-chave: Letramento Digital. Escola. Twitter.

ABSTRACT: The present study seeks to weave together reflections on the role of the school in the development of activities of digital literacy. We consider, principally, the relation to the relevanceofthecriticaluseofsocialnetworks,andwechose,inthisarticle,ananalysisof Twitter. Twitter is a mixture of social networking and microblogging and, apparently, is made up of bits of several genres like news story, leaflet, advertising, citation, which were modified tosuittheneedsofcommunicationfoundinsocialnetworking.Theresearchisjustified owingtotheimportanceofrelatinganascendantgenrewiththeconceptofmulti-modality andwithschoolpractice.Theobjectiveofthestudyistoverifyhowtheschoolcanutilize twitter in activities of developing digital literacy. Dionysius (2011), Bazerman (2007), Street (2014), Soares (2004) and Buzato (2009) are theprincipal theoretical referents of this study. First,wedefineliteracyanddigitalliteracysothat,secondly,bymeansofananalysisof tweetscollectedonFebruary22,2014,wecanverifywhatliteraciesareusedintwitter.We verifiedthatthisgenreoffersseveralpossibilitiesforthedevelopmentofliteraciesand

1 Mestrando do PPG de letras da Universidade de Passo Fundo na linha Leitura e Formao do leitor. E-mail: [email protected] 2 Doutor em Letras (PUCRS) com ps-doutorados em Lingustica aplicada e estudos da linguagem (PUC-SP/LAEL); Professor do PPG em letras da Universidade de Passo Fundo (UPF). E-mail: [email protected] Revista Lnguas & Letras Unioeste Vol. 15 N 31 2014 e-ISSN: 1981-4755 teachingofgenresintegratedtonewsocialdemands.Theschoolhasasocialresponsibility withthecitizensitisformingand,therefore,itshoulddelivertoeveryonetoolstoactand interact in the real world and therefore critical work with digital literacy is essential. Keywords: Digital literacy. Teaching. Twitter. INTRODUO Noescrevemosenolemosdasmesmasformasquefazamoshdcadas.Como advento de novas tecnologias, novos gneros textuais surgiram e assim novas habilidades so necessriasnaleituraenaescritadohipertexto,edessamaneiranovosletramentosforam sendoexigidos.Aescola,espaoemqueoscidadosteriamquetomarcontatocomgrande parte dos letramentos exigidos em sociedade no consegue acompanhar a evoluo provocada pelas novas tecnologias. preciso apontar um caminho para que professores e escolas possam desenvolverumtrabalhoefetivocomosnovosgnerosedesenvolvimentosdosletramentos digitais.Consoante a tal questo, o presente trabalho prope uma reflexo sobre a pertinncia eaemergnciadainclusodoletramentodigitalnosistemaescolar,especialmenteoestudo dos novos gneros digitais. Umdosnovosgnerosquemereceatenootwitter,umamescladeredesociale microblogging3. O presente estudo elege o twitter para verificar como um gnero de interao digital,bemcomoosletramentosquesomobilizadospodemserintegradosaoensinoda lngua materna. No Twitter, cada usurio pode fazer uso de apenas cento e quarenta caracteres (tamanho mdio de umamensagem de celular) para expressar opinies, interagircom outros usurios, comentar uma notcia ou expressar o que quiser. o chamado Tweet ou tute.Para a escritadetweets,diferenteshabilidadessoexigidas,taiscomocapacidadedesntese,de sumarizao, de parfrase, de leitura e escrita de forma diversa e em diferentes gneros. Apesquisajustifica-seaolevarmosemcontaaimportnciaderelacionarumgnero emascenso,naatualidade,comaprticaescolar,ressaltandoaimportnciadeaescola acompanharaevoluodosgneroseprticasdeescritaqueestoocorrendonasociedade. Acreditamosqueotwitterapresentapossibilidadesinfinitasparacompreendercomoos percursosdeescritaedeleituraemmeiodigitalseconstituem,edecomoalinguagemse adaptaaumnovomeiodepropagao.Procuramosinvestigarnestetrabalhooseguinte

3 Microblogging uma forma de publicao de blog que permite aos usurios que faam atualizaes breves de texto (geralmente com menos de duzentos caracteres). Revista Lnguas & Letras Unioeste Vol. 15 N 31 2014 e-ISSN: 1981-4755 problemadepesquisa:qualapertinnciadeaescolapreocupar-secomosletramentos mobilizadosemumgnerodigitalcomootwitter?Partimosdahiptesequeaescola,no papeldeformadoradecidados,precisaincorporarprticasrelacionadasaoletramento digital,eotwitterpodeserumdosgnerosmaisprofcuosparaodesenvolvimentode atividades de letramento.Oobjetivodestetrabalhoidentificaremostraralternativaspossveis,paraoensino delnguamaterna,queoTwitter,umgnerodeinteraodigital,podeproporcionarcomo ferramentaparadesenvolveratividadesdeleituraeescritaquemobilizemdiferentes letramentos,querepercutemnacompreensomultimodaldiscursiva.Ametodologiaque permeouesteestudosedpormeiodeumapesquisabibliogrficacomabordagem qualitativa. Este artigoest dividido em duas partes. Na primeira, dialogaremoscom importantes conceitoscomoletramento,multiletramento,letramentodigitalemultimodalidade.Nessa seo,utilizaremoscomoprincipaisreferenciaistericososestudosdeSoares(2002), Dionsio(2011),Rojo(2009),Bazerman(2007),Street(2014)eBuzato(2009).Nasegunda parte,analisaremosalgunstweetscomoobjetivodeentenderadinmicacomunicativado twittereassimpoderelencarosletramentosquesomobilizadosnaquelaredesocial.Nessa seo, tambm relacionaremos o papel que a escola tem em relao ao letramento digital e a pertinncia do twitter no ambiente escolar. LETRAMENTO E MULTIMODALIDADE Napresenteseo,faremosumdilogoentreosestudosdeSoares(2004),Dionsio (2011), Bazerman (2007), Street (2014) e Rojo (2009) entre outros estudiosos do letramento, comointuitodeaclararconceitoscomomultimodalidade,letramentos,multiletramentose, principalmente, letramento digital.No Brasil, a adoo do termo letramento ocorreu na dcada de 80 (SOARES, 2004). No incio, o conceito foi utilizado para designaro fenmeno de superao do analfabetismo, vistoquedeterodomniodaleituraedaescritanoapenassercapazdedecodificare codificarossignoslingusticos.Odomnioefetivodalnguaocorrequandooindivduo capazdeproduzireinteragircomdiversostextosegnerosdentrodosmaisdiversos contextossociais.Indiscutivelmente,essacompreensosuperaoprocessodealfabetizao. Porisso,houveanecessidadedeteroutrotermoparadarcontadasprticasdeleiturae Revista Lnguas & Letras Unioeste Vol. 15 N 31 2014 e-ISSN: 1981-4755 escrita.Apesardessanecessriadiferenciao,letramentoealfabetizaoso interdependentes e at indissociveis. (SOARES, 2003). A alfabetizao no precede e nem pr-requisito para o letramento, tanto que um analfabeto pode dominar tranquilamente alguns gneros de leitura e escrita. Por exemplo, dominar e conhecer as placas de trnsito.Apesar de atualmente o termo Letramento ser conhecido e extremamente difundido, preciso salientar que existe uma diversidade de nfases na caracterizao do fenmeno. Por exemplo,paraKleimann(1995,p.19),letramentopodeserdefinidocomoumconjuntode prticassociaisqueusamaescritaenquantosistemasimblicoeenquantotecnologia,em contextos especficos, para objetivos especficos. Nessa perspectiva, letramento visto como ao,comoprticaeestintimamenterelacionadocomasconsequnciasdelasparaa sociedade.Soares(2002,p.145),porsuavez,apresentaletramentodeformamaisampla. Para essa autora, letramento deve ser concebido como sendo o estado ou condio de quem exerce as prticas sociais de leitura e de escrita, de quem participa de eventos em que a escrita parte integrante da interao entre pessoas e do processo de interpretao dessa interao oseventosdeletramento.Nestaperspectiva,letramentooestadooucondiode indivduos que participam competentemente de eventos de letramento. AestudiosabrasileiraRoxaneRojo(2009,p.100)sintetizaasdiferentesnfasesdo conceito classificando o letramento em duas verses: fraca e forte. A verso fraca [...] estaria ligadaaoenfoqueautnomo,(neo)liberaleestarialigadaamecanismosdeadaptaoda populao s necessidades e exigncias sociais do uso da leitura e escrita, parafuncionar em sociedade. J a verso forte [...] seria revolucionria, crtica, na medida em que colaboraria noparaadaptaodocidadosexignciassociais,masparaoresgatedaautoestima,para construodeidentidadesfortesparaapotencializaodepoderes[...].Aautoradestacaa importnciadeaescolaagregaraversofortedoconceitodeletramentoeinclusivedestaca queaeducaolingusticanecessita,impreterivelmente,levaremcontademaneiraticae democrticaosmultiletramentoseletramentosmltiplos.Rojo(2012)diferencia multiletramentoseletramentosmltiploseapontaparaavariedadeemultiplicidadedas prticasletradas,valorizadasounonassociedades,considerandoadiversidadeculturaldas populaes e a multiplicidade semitica de constituio dos textos. Notemos,nestetrabalho,apretensodeaprofundaradiscussosobreasdiferenas conceituaisdeletramentoemdiferentesautores.Oquequeremosdeixarclaroevidenciar que no a aprendizagem da linguagem escrita em si que transforma as pessoas, mas sim os usosqueelasfazemdesseinstrumento.Osestudossobreoletramentoabremnovas Revista Lnguas & Letras Unioeste Vol. 15 N 31 2014 e-ISSN: 1981-4755 perspectivas paraa reflexo crtica sobre o papel da escola edo professor como mediador, e tambmparaodesenvolvimentodeprticaspedaggicasmaiscoerenteseprecisascomas atuais demandas sociais. Torna-senecessrioesclarecerquehinmerosestudossobreletramentoocorrendo nomundo.Street(2014)apontaqueumamudanaimportantepromovidapelasnovas pesquisasfoiarejeioporvriosautoresdavisodominantedeletramentocomouma habilidadeneutra,tcnica.Nestanovaperspectivaoletramento,atualmente,deveser compreendido como uma prtica ideolgica, envolvida em relaes de poder e incrustrada em significadoseprticasculturaisespecficos.Oautoracrescentaqueasmudanasoperadas porumprogramadeletramentonosdiasdehojepodem,deigualmodo,atingirfundoas razesdascrenasculturais,fatoquepodepassardespercebidodentrodeumiderioque pressupe leitura e escrita como simples habilidades tcnicas. (STREET, 2014, p. 31). Um dos letramentos possui muita importncia no contexto atual o letramento digital, exige que ocidado domine e compreenda osgneros multimodais. O computador criou um novoespaodeescritaqueprovocounosmudanasmateriais,mastambmnasrelaes entreescritoreleitor,entreescritoretexto,entreleitoretextoeatmesmo,mais amplamentefalando,entreoserhumanoeoconhecimento.(SOARES,2002,p.151).A escrita na tela possibilita a criao do Hipertexto, que um texto mvel, caleidoscpio, que apresenta suas facetas,gira, dobra-se e desdobra-se vontade frente ao leitor. (LVYapud SOARES, 2002, p. 150).O hipertexto escrito e lido de forma multilinear, multisequencial, acionandolinksounsquepossibilitamumainfinidadedeleituras.Noexisteamesma dimenso do texto no papel, que, por sua vez, materialmente definida.Aescritaeleituraemhipertextostmconsequnciassociais,cognitivasediscursivas que configuram o letramento digital, que, segundo Soares (2002), o estado ou condio que adquiremosqueseapropriamdanovatecnologiadigitaleexercemprticasdeleituraede escritanatela,querelativamentediferentedasprticasdeescritaeleituranopapel. Ressalta-sequeousodainternetexigedosusuriosnovostiposdeletramentos,pois,ao fornecer ao navegador mltiplas escolhas de trajetria, instaura e instiga novos padres no uso da linguagem. Damesmaformaqueexisteumaconfusoentreosconceitosdealfabetizaoe letramento,oconceitodeletramentodigitalfacilmenteconfundidocomoprocessode alfabetizao tecnolgica. Porm os dois processos so muito distintos, apesar de relacionados eindissociveis.Aalfabetizaotecnolgicaseriaodomniodoindivduosobreas Revista Lnguas & Letras Unioeste Vol. 15 N 31 2014 e-ISSN: 1981-4755 tecnologias, como operar, como dominar o uso e aplicao delas no mundo em que vive. Seria a apropriao propriamente dita das tecnologias. Por exemplo, ler telas, apertar teclas, utilizar programascomputacionaiscominterfacesgrficas,entreoutras.Ouseja,habilidades mecnicasquenodesencadeiamnenhumtipodeinteraoouatmudananocotidianodo indivduo.Jletramentodigitaltemumacorrelaocomotermoeascaractersticasdo letramento.Oletradodigitalseriaaquelequeconsegueseapropriardatecnologiadeforma plena,noapenasdominandoosrecursostcnicos,mastambmcompreendendooquefaz, exercitandoeaplicandoprticasdeleituraeescritanohipertexto,paraatingirobjetivos comunicativos por meio do uso de tecnologias.Amesmarelaoqueexisteentrealfabetizaoeletramentoobservvelentrea alfabetizaodigitaleoletramentodigital.Soares(2002,p.151)defineletramentodigital como certo estado ou condio que adquirem os que se apropriam da nova tecnologia digital eexercemprticasdeleituraedeescritanatela,diferentedoestadooucondiodo letramentodosqueexercemprticasdeleituraedeescritanopapel.Apreocupaoda autoradiferenciarosletramentosdigitaisdosletramentosadvindosdaculturadopapel4, defendendoquediferentesespaosdeescritaresultamemdiferentesletramentos.Alguns autoresapontamquenoexisteapenasumletramentodigital,massim,vrios.Assim teramosLetramentosdigitais-LDs-que,segundoBuzato(2006,p.16),soconjuntosde letramentos - prticas sociais - que se apoiam, entrelaam e apropriam mtua e continuamente pormeiodedispositivosdigitaisparafinalidadesespecficas,podendoocorrertantoem contextossocioculturaisgeogrficaetemporalmentelimitados,quantonaquelesconstrudos pela interao mediada eletronicamente. A estudiosa brasileira ngela Paiva Dionsio (2011) concordacomessepontodevistaepontuaque,naatualidade,umapessoaletradadeveser capazdeinterpretareatribuirsentidosamensagensoriundasdasmaismltiplasfontesde linguagem,assimcomodevesercapazdeproduzirdiferentessentidosusandoasmais diversas fontes. Por essa razo, que na sociedade contempornea a prtica do letramento do signoverbaldeveserintegradaaoutrasprticasdeletramento,comoadosignovisuale assim, para a autora, deveramos falar de letramentos, no plural. Buzato(2009,p.22)complementaqueletramentodigitaldeverservistonomais comotiposdeletramentocontrapostosaostradicionais,mascomoredescomplexase

4Soares(2002)atribuiimportnciaaoconceitodeespaosdeescritaqueseriamocampofsicoevisual determinado por uma tecnologia de escrita. Para autora, h uma relao estreita entre o espao fsico e visual da escritaeasprticasdeescritaeleituraenocasodoletramentodigitalseriamosmecanismosdeproduo, reproduo e difuso da escrita e da leitura que formariam um novo letramento. Revista Lnguas & Letras Unioeste Vol. 15 N 31 2014 e-ISSN: 1981-4755 heterogneasqueconectamletramentos(prticassociais),textos,sujeitos,meiose habilidades. Buzato (2006, p. 84) ainda considera que o letramento digital requer habilidades que tm a ver no apenas com saber manipular o computador, mas tambm com saber filtrar oucategorizarasinformaes.Oautordestacacomohabilidadesdeumletradodigitalo olharcrticoqueousurioprecisaterquandosedeparacomdiferentesconceitos,almde outrascapacidadesquedesenvolvemos(oudeveramosdesenvolver)nosletramentos escolares. Emsuma,levandoemcontaosdiferentesconceitossobreletramentosdigitais,o presentetrabalhoconsideraqueserletradodigitalmentepraticarastecnologiasdigitais, sendocapazdedarrespostasativasecrticas,emdiferentescontextoserespondendoa diversospropsitoscomunicativos.Apoiando-senascaractersticasdociberespao,as prticaseeventosdeletramentodigitalso,assim,mediadasporumconjuntodegneros digitaisqueinstigamosujeitoalanarmodenovosprocessoscognitivosajustveis dinmica de interao desse espao. O conceito de letramento digital est intimamente ligado aos modos operacionais que ohipertextoviabilizounashabilidadesdeleituraeescrita(eventosdeletramentoenovas prticassociais).Nessesentido,agrandemudanaqueoletramentodigitalprovocouno comportamentosocialdepartedapopulaofoiapossibilidadedeunirainteraocoma informao e com a comunicao.Sobre isso, Mercado e Arajo (2010, p. 183) afirmam que enquanto na modalidade presencial a comunicao est encerrada nos parmetros geogrficos etemporais,bemcomonamaterialidadedossuportesdetextosegnerostextuaisedas ferramentasdecomunicao,nociberespaoestapossibilidadeseexpande,umavezqueas noestemporaisegeogrficassoresinificadas,poisnoexistemlimitesdefinidose demarcados no meio digital. O letramento digital vem desvelar novos espaos de interao querepercutemnaestruturaodenovosespaosdeescritae,porconsequncia,na constituiodenovosgnerostextuais(digitais).(MERCADO;ARAUJO,2010,p.180). Portanto, torna-se relevante discutir qual o papel da escola em relao ao ensino de gneros etambmnodesenvolvimentodoletramentodigital.Enessadiscussoamultimodalidade, como caracterstica constitutiva dos textos, merece um importante espao.Amultimodalidadeumconceitoadvindodaconcepodequeotextoumaprtica comunicativamaterializada,ouseja,apenasserealizaporintermdiodasmltiplas modalidades da linguagem, tais como: verbal (escrita e oral) e no-verbal (visual). (XAVIER, 2006).A multimodalidade nas novas prticas discursivas , tambm, reflexo das habilidades Revista Lnguas & Letras Unioeste Vol. 15 N 31 2014 e-ISSN: 1981-4755 desenvolvidaspelossujeitosnoatualcontextotecnolgico,principalmenteemrelaoao modocomqueinteragemcomosoutros:emummesmomomento,nomesmointervalo temporal, conseguem falar no telefone, conversar em chats, ler e-mails, ouvir msica e outras coisas.OadventodenovosgneroscomoTwitter,blogs,messengerstornamcadavezmais perceptvel a combinao entre o signo visual e o signo escrito. Alm disso, vivemos em uma sociedade que eminentemente visual: a imagem que chama a ateno.Dionsio (2011) caracteriza multimodalidade como sendo o trao constitutivo do texto faladoeescrito.Dessamaneira,asaessociaisseriamfenmenosmultimodais,bemcomo osgnerosescritoseorais.Issoocorre,poisquandoescrevemosoulemosumtextousamos no mnimo dois modos de representao: palavras e gestos, palavras e entonaes, palavras e imagens,palavrasediferentesdesigns,palavrasetipografias,palavraseanimaes,etc... Todososgneros,assim,somultimodais.Porm,comoDionsio(2011)salienta,preciso destacarquehdiferentesnveisdemanifestaodaorganizaomultimodal.Nocasodos textos com base em uma tela de computador, alm das palavras e do contedo verbal, todos os elementos visuais, o leiaute e os arranjos grficos podem ser analisados.SegundoBraga(2010),otextohipermodalnainternetultrapassaaspossibilidades interpretativas dos textos multimodais tradicionais. Segundo a autora, a estrutura hipertextual, compostaporunidadesdenaturezadiversa(som,imagem,textoverbal)geraumanova realidadecomunicativanostextosvirtuais.Asdiferenteslinguagensquesointegradasno texto multimodal criam um potencial multiplicador de sentidos, j que cada forma semitica nicaecadamodalidadeexpressivaintegraumconjuntodiferenciadodesignificados possveis.Emoutraspalavras,aimagempodeserinterpretadadeumamaneiraeotextode outra.Masquandosolidosjuntos,osignificadodeambospodesealterarcriandoum terceirosentido.Porisso,Braga(2010,p.182)pontuaquenotextohipermodalficaainda maisevidenteaimpossibilidadedocontrolesobreoprocessodesignificaoe,almdisso, ressaltaqueaapresentaodeumamesmainformaoatravsdediferentesmodalidades pode ser explorada para gerar uma reapresentao diferenciada de uma mesma informao de modo a favorecer a compreenso e a aprendizagem dessa informao. Maisdoqueentenderosconceitosdeletramentoemultimodalidade,necessrio relacion-loscomumensinoqueincorporeumaconcepodialgicasobreoensinode gnerostextuaiseodesenvolvimentodosdiferentesletramentos.Emnossasociedadea escrita se constituiu como um fator de interao entre os sujeitos, e a leitura uma forma eficaz deentendimentodomundo.Bazerman(2007)apontaquenessecontextotorna-se Revista Lnguas & Letras Unioeste Vol. 15 N 31 2014 e-ISSN: 1981-4755 fundamentalqueinstituiesacadmicaspercebamqueaescritaealeituraesuasprticas sociais - podem ser utilizados no espao escolar no como elementos de represso, mas como forma de garantir um desenvolvimento sociocultural e cognitivo do sujeito aprendiz, pois as mudanasemnossasvidascomunicativastmconsequnciasparanossasvidasnesses mundos. (BAZERMAN, 2007, p. 15).Humaemergnciaaindamaiorempensarprticasdeletramentonocontexto escolar.SegundoBazerman(2007),osresultadosdoletramentosoosmaisdiversos possveis,poisestainteraoconscientedoindivduocomasprticasleitorasedeescritura podetransformarasaessociaiseculturaisefetivadaspelossujeitos.Porexemplo,a memria coletiva, a participao poltica e at mesmo a complexidade do conhecimento e do repertrio cultural disponvel, entre outros.Naprximaseo,faremosaanlisedetweetseperceberemoscomootwitter organiza-secomognero,comoamultimodalidadeeletramentospodemserpercebidosna leitura dos tweets e como eles ajudam a constituir os textos e a construir sentidos. ANLISE DOS LETRAMENTOS MOBILIZADOS NO TWITTER Na presente seo, constataremos como e quais letramentos o twitter mobiliza nos seus usuriose,paratanto,efetivaremosaanlisedealgunstweets.Foramselecionadosquatro usurios da rede social.Paraa seleo dostweets, um diaaleatrio foiescolhido, no caso, o dia 22 de fevereiro de 2014.Os usurios so os seguintes: dois usurios comuns: @Valdsena e@silviorogerio;UsuriocomrelaocomvendaseMarketing;@pontofrioeUsurioque possui um personagem, um fake que produz Tweets para produzir humor; @dilmabr (Dilma Bolada).Paraanlise,seguiremososeguintepercursometodolgico:a)Anlisedaestrutura textualdotweet:ousodelinks,deabreviaturas,demetforas;b)apontarosletramentos mobilizadosnaconstruodostweets,relacionarcomoconceitodemultimodalidadeouso dasimagens,doshiperlinks,apresenadeintertextualidade;efinalmente,c)verificarnos tweets analisados os novos comportamentos de escrita digital oriundos do letramento digital.Aanlisetemcomoprincipalfundamentaotericaosconceitosdeletramentoe multimodalidadedesenvolvidosnosestudosde:Rojo(2009),Soares(2002),Street(2014), Bazerman (2007) e Dionsio (2011).O Twitter um site que permite postagens de no mximo 140 caracteres.Os usurios dispem de alguns recursos que os auxiliam na interao com outros usurios, que os seguem Revista Lnguas & Letras Unioeste Vol. 15 N 31 2014 e-ISSN: 1981-4755 ounoemseuperfil.Arededeumusurioinscritonositecompostapordoisgrupos: follower e following, que correspondem respectivamente a seguidores e seguindo. O primeiro grupocompostopelosperfisqueseguemdeterminadousurio,eosegundogrupo corresponde aos usurios que so seguidos pelo usurio. Cada usurio escolhe quem seguir, e no necessrio integrar em sua rede aquele que seguir.Umdosrecursosexistentesnositeoretweetar,tambmdenominadocomoRT.O recursopossibilitaaaodereproduzirotweetdeoutrousurio,isto,depublicara mensagem de outro membro sem alter-la. Outra forma de realizar essa ao escrever a sigla RT seguida de @ e do nome de usurio do autor do tweet antes de colar o texto da mensagem e, ento, submet-lo como um tweet comum. Embora o twitter seja uma fonte de informaes diversasedeusuriosdispostosainteragirecircularcontedo,issonoocorredemodo automtico.Osujeitoprecisarefletirsobreocontedodeseustweetsesuamaterialidade lingustica para atingir o seu objetivo na rede social.Comoobjetivodeexemplificarahibridaodevriosgnerospelosusurios,na Figura1constamvriostweetsdousurio@Valdsena.Perceberemosqueomesmousurio constrioenunciadodeseustweetsdemaneirasmuitodistintas,deacordocomoseu propsito no momento. Observemos:

Figura 1 Tweets do usurio @Valdsena Fonte: Twitter Valdsena (2014) Revista Lnguas & Letras Unioeste Vol. 15 N 31 2014 e-ISSN: 1981-4755 NaanlisedaFigura1,ento,podemosverificarcomoummesmousurioemuma mesma sequncia de tweets construiu enunciados que reelaboram diferentes gneros, e apenas tm sentido completo por estar em uma situao especfica de enunciao, no caso a interao queseestabelecenositeTwitter.NoprimeirotweetdaFigura1,observamoscomo @valdsena utiliza um texto potico na construo de seu enunciado. No h como saber se o usuriotinhapretensesliterriasouprecauesestticas,porminegvelousodeuma linguagem potica, sonora.Percebe-seaintenodepoetizarotweetatpelaprpriadisposioespacialde escrita.Diferentedeumtweetcomum,elenoescritonamesmalinha,ousuriodispso tweetemversos.Hapresenaderimaspobresquandoousurioutilizaverbosdeaona primeira pessoa do singular: acabei, paguei, cansei, tentei. Alm disso, verificvel o uso da linguagem em uma funo subjetiva, mais potica em meu corao aquietou-se. Nosegundotweetde@Valdsena,queanterioraopoema,5podeparecerqueo usurioestfalandoconsigomesmo.Verificamosassimqueotwitterumlugarde autopublicaoeaspessoasfalamdeseusprojetos.OtwitteiroValdSenaescreveque algumaspalavrasseriamlegaiselogodepoisescreveopoema.Possivelmenteousurio buscava a interao dos seus seguidores e, por isso, o uso de uma linguagem despretensiosa e coloquial.Aocontrriodoprimeirotweet,nestealinguagemobjetiva.Ousuriodizque algumas palavras seriam legais.Aps a anlise do primeiro tweet podemos considerar que algumaspalavrasfazrefernciaspalavraspoticasouaqueoperfilconsideracomo poesia.No terceiro tweet, observamos que, como um usurio comum, @ValdSena dispe de umadiversificadagamadeassuntosparatematizar.Dessaforma,eleescreveumtweet aleatriosobrealgumanovela.Otweetspodeserinterpretadonocontextoemquefoi emitido.Porm,naanliseotweetestforadasituaocomunicativaqueooriginoue, portanto,opronomeessaperdeoreferencialeosignificadodetodotweetperdido.No quartotweetobservamosumcomentrioaleatriodousurio,e,verificamosousodeum ditico, o advrbio de lugar aqui. So resqucios de diferentes gneros compondo os tweets de um mesmo usurio.LevandoemcontaqueBazerman(2007,p.22)definequeoconfeitodegnero ancoradonanoodequecadatextoseencontraencaixadoematividadessociais estruturadas e depende de textos anteriores que influenciam a atividade e organizao social,

5 No twitter, as novas postagens assumem o topo da pgina. Revista Lnguas & Letras Unioeste Vol. 15 N 31 2014 e-ISSN: 1981-4755 podemos pontuar que uma caracterstica predominante no twitter seja a hibridizao de vrios gneros.Bazerman(2007)afirmaquecadatextobemsucedidocriariaumfatosocialpara seusleitores,eamaioriadostweets,poralcanarseuobjetivocomunicativo,podeser considerado bem sucedido.Observemos a Figura 2 em que temos um tweet do usurio @PontoFrio: Figura 2 Tweet do usurio @pontofrio Fonte: Twitter Ponto Frio (2014) Nessecaso,oobjetivoodeatraircompradores,eparaissohousodaimagemdo DVD do filme Frozen. Para a exposio do produto ao interlocutor, alm do link, percebe-se o usodaimagem.Dionsio(2011),afirmaqueoconceitodemultimodalidadefrutoda concepo que o texto uma prtica comunicativa materializada, por intermdio das mltiplas modalidades da linguagem, tais como: verbal (escrita e oral) e no-verbal (visual). O recurso imagticochamaaindamaisaatenodosdemaisusuriosdotwitter.Almdomais,a imagem funciona como uma anfora, pois retoma o ttulo do filme Frozen e os usurios que no conhecerem pelo nome, podero fazer isso pela imagem do filme.Em sequncia, vamos analisar os tweets em que as imagens ocupam um maior destaque. Observemos a Figura 3, em que h um Retweet do usurio @SilvioRogrio.O Retweet ocorreu no dia 22 de fevereiro, no momento em que a queda do aplicativo Whatsapp ainda era muitocomentadanomicroblogging.Notweet,ausuria@KeyLimafazumcomentrio sobreoaplicativoWhatsapp,pormnoutilizaapenasalinguagemverbalparaconstruiro enunciado.HousodeumaimagemcomdoisrostosdocantorChicoBuarquedeHolanda Revista Lnguas & Letras Unioeste Vol. 15 N 31 2014 e-ISSN: 1981-4755 quandojovem,umsorrindoeoutrosrio.Osrostosestoacompanhadosdasfrases:com whats e sem whats. Figura 3 Retweet do usurio @SilvioRogrio Fonte: Twitter Silvio Rogrio (2014) Braga(2010)comentaqueaestruturahipertextual,almdasunidadesdenatureza diversa(som,imagem,textoverbal),geraumanovarealidadecomunicativanostextos virtuais.VerificamosissonaFigura3,jquesomentecomoenunciadoverbalno conseguimosentenderosentidoglobaldotweet,assimcomoapenasasimagensno permitem uma interpretao completa. A imagem dos rostos de Chico Buarque usada no tweet , em realidade, a capa de um LP de 1966, porm saber isso no permite que a interpretao do tweet seja efetiva, j que a imagem de Chico Buarque ressignificada segundo o contexto e a situao de enunciao.Na Figura 4, a multimodalidade ainda mais explcita: Figura 4 Tweet do usurio Dilma Bolada Revista Lnguas & Letras Unioeste Vol. 15 N 31 2014 e-ISSN: 1981-4755 Fonte: Twitter Dilma Bolada (2014) Na ocasio, no dia 22 de fevereiro, a verdadeira Presidente Dilma, estava no Vaticano, representandoopas.Operfil-pardia,DilmaBolada,assumindoqueaDilmaestabelece quetambmestnoVaticanoecomocomprovaoreproduznotweetumafotografiade Dilmaemmeioaoscardeais.Provavelmente,afotografiafoireproduzidaporumsitede notcias e foi capturada pelo perfil Dilma Bolada. O perfil @dilmabr ou Dilma Bolada uma personagem virtual que faz uma pardia da presidenta Dilma. Por meio do humor, o perfil fake6 faz-se passar pela Presidenta, assumindo suaidentidade,comentandoasnotciasarespeitodeDilmaedefendendosuasideiase programas, mas sempre com um tom debochado e exagerado. No tweet analisado, a fotografia da Presidenta no tweet da Dilma Bolada ressignificada. A expresso facial de Dilma dialoga com o enunciado verbal dotweet estabelecendo o humor e a pardia. O amm? parece ser proferido no exato momento que a fotografia foi tirada. Apartirdaanlise,torna-seclaroquetantoparaescrevereserumautornotwitter, comoparalereinterpretarostweets,vriosletramentossomobilizados.Partimosdo pressupostoqueosusuriosanalisadosdominamemobilizamletramentosdigitais.Como vimos, em Buzato (2006), os letramentos digitais so os conjuntos de prticas sociais que se apropriammtuaecontinuamentededispositivosdigitaisparafinalidadesespecificas.No caso do twitter, o dispositivo seria o prprio site e a sua organizao e as finalidades seriam as intenes comunicativas de cada usurio.Apartirdaanlisedaconfiguraodetweetsdediferentesusurioseapartirdoque foiobservado,teceremosreflexeseposicionamentos,visandoresponderoproblemada

6Notwittersoabundantesosperfisfalsosdecelebridadesepersonalidades.Algunssofeitoscomintenes criminosas,semaautorizaodaspersonalidadesreais.Algunssoassumidamentefakesetmoobjetivode produzir humor, parodiar ou at satirizar a personalidade alvo do fake. Revista Lnguas & Letras Unioeste Vol. 15 N 31 2014 e-ISSN: 1981-4755 presente pesquisa: Qual a pertinncia da escola preocupar-se com os letramentos mobilizados em um gnero digital como o twitter?Como vimos, o letramento digital implica prticas de leituraeescrita,almdacompreensodediferenteslinguagens.Dessaforma,podemos afirmarqueoletramentodigitalmobilizaoutrosletramentos,comoovisual,almda multimodalidade. O letramento digital deveria ser uma preocupao da escola: os professores precisam compreend-lo para melhor organizar suas aulas e desenvolver habilidades em seus alunos.Ouseja,maisdoquenunca,avisodeprofessorcomoummerotransmissorde contedos deve ser superada para dar espao figura de um mediador, de um profissional que estimule a troca de conhecimentos entre os alunos. O grande desafio dos educadores, no que concerneaodesenvolvimentodoletramentodigital,odedesenvolverestratgias metodolgicas que levem os alunos a construir um aprendizado contnuo, de forma autnoma e integrada, e os habilitem, ainda, para a utilizao crtica das tecnologias. Temosqueteremmentequeofatodeexistiroletramentodigitalnosignificaabrir modapresenaedoensinodeoutrosletramentosnaescola.Xavier(2006)lembraques podemosperceberasvantagensdemanipularotextonateladigital(editarpartesdotexto, selecionartrechos,col-losentreoutrodocumento,transportarfrases,pargrafosecaptulos inteiros,etc...)somentesetivermosaprendidoaescrevernopapeleadominarosistema alfabticoeescrito.Ouseja,somenteoletradoalfabticotemcondiesdeseapropriar totalmente do letramento digital.Xavier (2005) aponta que o letramento composto por uma trade:PrticasSociais,EventosdeLetramentoeGnerostextuais/digitais.Nocasodo letramentodigitalpoderamospontuarqueastecnologiasefacilidadesdomundomoderno geraramnovoseventosdeletramentoqueprovocaramnovasreaesnaspessoas(prticas sociais).ConformeSoares(2003),eventosdeletramentosoassituaesemquealngua escrita parte integrante da natureza da interao entre os participantes e de seus processos de interpretao.Jasprticassociaisdeletramentoseriamoscomportamentosqueos indivduostmduranteumeventodeletramento.Osdoisconceitossoindissociveis.Por exemplo,ume-mailumeventodeletramento,seusdesdobramentos,asreaesdequem mandou e de quem recebeu o e-mail seriam as prticas sociais. O e-mail em si seria o gnero textual/digital posto em ao pelo evento de letramento.O advento da Internet foi determinante para o surgimento de prticas sociais e eventos de letramento inditos que originaram gneros textuais at ento nunca vistos nem estudados. Umexemploogneroobjetodesseestudo,otwitter.Oseventosdeletramentodigital Revista Lnguas & Letras Unioeste Vol. 15 N 31 2014 e-ISSN: 1981-4755 acontecemquandoumindivduoseaproximadosdispositivosinformticoshojedisponveis na rede digital de comunicao, para criar ou fazer parte de algum tipo de comunicao que s nascempelousointensodasnovastecnologias.Nocasodotwitter,osusuriosprecisam apropriar-sedascaractersticasdogneroparaconseguirinteragireefetivaracomunicao com os demais usurios.Nopodemos,porm,considerarqueexclusivamenteaescolaqueapresentaao aluno o letramento digital. Muitas crianas e adolescentes possuem acesso bem materiais e temsetornadoletradosdigitalmenteindependentementedaescolaedasinstituiesde ensino.Paraasnovasgeraes,otransitarpelasprticasdeescritaeleituracomo aprender a andar e falar. As crianas da gerao Y, na maior parte das vezes, chegam escola eesperamqueoseumododeleromundosejacontemplado.Oquenoocorre,jquea escolaapresentalentidoparaacompanharasmudanasdasociedade.Oqueaconteceum desencontro:adolescentesecrianasfilhosdainterao,datecnologiaedeummodo compartilhadodeaprenderdeparando-secomumensinoaindafincadonareproduode saberes.Aescola,atualmente,nopodeficarmargemdastransformaes.precisoletrar digitalmenteoensino.Paraisso,almdosrecursostcnicos(escolascomcomputadores, comprofessorescomacessoatecnologias),precisoqueprofessoresegestorestenham conscinciaqueatecnologiadeveserumaaliadanoprocessodeensinoeaprendizagem,e queosgnerosdigitaisquefazempartedascrianasdageraoYdevemserintegradosno currculo.Integrandoecriandoprojetoseaulas,possvelqueodesempenhoacadmico dessesestudantessejamaisprodutivo,jquesabemosquequantomaisestimuloumsujeito tem para aprender algo, mais rpido ir faz-lo. (XAVIER, 2011). Almdisso,precisolevaremcontaqueintegraroletramentodigitalnaescola tambm uma questo de cidadania. Uma vez que quem domina as tecnologias tem maiores chancesdecolocaonomercadodetrabalho,aescolatemaresponsabilidadedeviabilizar quetodososalunostenhamaoportunidadedeparticipardeeventosdeletramentodigital. Street (2014, p. 41) aponta que deveria ser uma questo prioritria dos gestores de educao, pois a tarefa poltica da incluso de um trabalho crtico com letramentos bastante complexa, poissegundooautorprecisodesenvolverestratgiasparaprogramasde alfabetizao/letramentoquelidemcomaevidentevariedadedenecessidadesletradasna sociedade contempornea. Revista Lnguas & Letras Unioeste Vol. 15 N 31 2014 e-ISSN: 1981-4755 Umdosmuitospossveisrecursosqueaescolapodeintegrarautilizaoderedes sociais como recurso didtico. Em relao ao twitter, torna-se interessante integr-lo em sala deaulaparadiscutiraformaqueaconteceainteraoentreosusurios,refletindosobreas marcas lingusticas e enunciativas especficas.Na anlise, percebemos que otwitter pode ter asmaisdiversasmotivaescomunicativas:podeservirapenasparainteraodeusurios como para vender produtos. Ler criticamente tweets em sala de aula pode ser uma prtica de litura crtica, em que professor e alunos tentaram desvendar, por meio das marcas lingusticas, os propsitos comunicativos de cada usurio. Por exemplo, no caso da figura 6, pode-se fazer uma anlise crtica da imagem e do novo significado que ela adquire ao estar em um tweet de @dilmabolada.Almdisso,umtrabalhosistemticocomotwitterpodeteroobjetivode desenvolver a capacidade de snteses, de domnios de abreviaturas, de neologismos e siglas. Verificamosnaanlisequeotwitterpossibilitaquereflitamossobreainflunciada oralidadenaescrita.PercebemosnaFigura1caractersticastpicasdamodalidadeoralna comunicao escrita. Isso ocorre, por que @valdsena e a maioria dos usurios comuns usam a linguagem de forma espontnea e informal, assim como a comunicao oral cotidiana. Fora doespaodaescola,oindivduodesenvolveletramentosehabilidades,pormnoreflete sobre elas. Explorargneros digitais em ambiente escolar permite que seja possvel explorar competnciasdeescritadigitais,eassimabrirespaoparaqueosalunosenviemquestese observaesreferentesaocontedodasatividades.Emoutraspalavras,desenvolvernos alunosumolharcrticosobreoscontedosqueleemetambmsobreoqueiroescrevere publicar nas redes sociais. CONSIDERAES FINAIS Opresenteartigopreocupou-seemdiscutiropapeldoletramentodigitalnaescola tomandocomocorpusdeanliseogneroTwitter.Procuramosinvestigarnesteartigoo seguinte problema: Qual a pertinncia da escola preocupar-se com os letramentos mobilizados em um gnero digitalcomo o twitter? A partir das reflexes pontuadas por meio da reviso bibliogrficaedaanlisedetweets,entendemosqueaescola,nopapeldeformadorade cidados,precisaincorporarprticasrelacionadasaoletramentodigital,eotwitterpodeser um dos gneros mais profcuos para o desenvolvimento de atividades de letramento. Atingimosoobjetivodeidentificaremostraralternativaspossveis,paraoensinode lngua materna por meio dotwitter, que como gnero de interao digital, pode ser utilizado Revista Lnguas & Letras Unioeste Vol. 15 N 31 2014 e-ISSN: 1981-4755 comoferramentaparadesenvolveratividadesdeleituraeescritaquemobilizemdiferentes letramentos, alm da multimodalidade. Devido s limitaes de um artigo, no tivemos como aprofundaraquitodasasaplicaespossveisdotwitter,pormconseguimosmostrarque, comoumgnerocirculantedanossasociedade,otwitterpermiteodesenvolvimentode habilidadesdeescritaedeleitura,desdequesejacompreendidooseufuncionamento enquanto gnero discursivo relacionado a uma perspectiva sociocomunicativa. Naanlisedetweetsconseguimosexplicitarasprincipaiscaractersticasdotextono twitter:ainterao,abrevidade,ousodohipertexto,ousodeimagensesmbolosque denotamapresenadamultimodalidade,entreoutras.Taisrecursosauxiliaramna demonstraodosdiferentesletramentosquepodemsermobilizadosnoensinodalngua materna mediante a utilizao do twitter, especialmente o letramento digital.Sabemos que a simplesanlisedostweetsnotemumaaplicabilidadepedaggica.Porm,foiaformaque encontramos de demonstrar a maneira que os letramentos digitais se efetivam no ciberespao, alm de comprovar que os tweets so textos integrantes de uma prtica social.Paraodesenvolvimentodaanlise,foinecessrioestabelecerumrecorte metodolgico bastante preciso, apesar de ser limitador. Essa talvez seja a maior limitao do presentetrabalho,poishmuitoselementosquepodemseranalisados,atemticanose esgota,pelocontrrio,hanecessidadedeummaioraprofundamentodasleituraseanovas publicaes nessa rea de estudos. Aprincipalcontribuiodoestudolevaraefeitoumareflexosobreopapelda escolanodesenvolvimentodosletramentosdigitais.Existeodiscursodequeasnovas geraesaprendemsozinhasamanipularasnovastecnologiaseassimodomniodo computadoredeplataformasacontecedeformaquaseautomtica,eporissoaescolano deveriaterapreocupaodeagregaremseucurrculoosgnerosdigitais.Esperamos,com essetrabalho,ajudaracombatertalpensamento,poisnosaescolapodetrabalhare envolveremseucurrculoosgnerosdigitais,comotemresponsabilidadesocialcomos cidadosqueestformando,dedaratodos,integralmente,ferramentasparaagireinteragir nos contextos socioprofissionais. H ainda que se considerar, que as crianas e adolescentes, apesardedominarasredessociaiseparecerterincorporadoatecnologiaemsuavida,no aproveitamopotencialdetodasasferramentastecnolgicas.Istoporque,sozinhos,os estudantesnotmcomorefletirsobrealngua,perceberasironias,osimplcitoseos subentendidos, como ter uma leitura crtica do mundo. Os jovens podem saber usar, mas no Revista Lnguas & Letras Unioeste Vol. 15 N 31 2014 e-ISSN: 1981-4755 sabem como. Podem ter perfis em redes sociais, mas no refletem sobre eles. Nesse contexto, o desenvolvimento de um ensino que integre o letramento digital imprescindvel. REFERNCIAS BRAGA, Denise Brtoli. A comunicao interativa em ambiente hipermdia: as vantagens da hipermodalidadeparaoaprendizadonomeiodigital.In:MARCUSCHI,LuizAntonio; XAVIER,AntonioCarlos(Coord).Hipertextosegnerosdigitais:novasformasde construo de sentido. 3. ed. So Paulo: Cortez, 2010. p. 175-197. BAZERMAN, Charles. Escrita, Gnero e Interao Social. So Paulo: Cortez Editora, 2007. BUZATO,MarceloElKhouri.Letramentosdigitaiseformaodeprofessores.In:III CongressoIbero-AmericanoEducaRede,SoPaulo2006. Acesso em: 10 abr. 2014. ______. Letramento e incluso: do estado-nao era das TIC. Delta, So Paulo, v. 25, n. 1, p. 1-38, jan./jun. 2009. DIONISIO,ngelaPaiva.GnerosTextuaiseMultimodalidade.In:KARWOSKI,Acir Mrio;GAYDECZKA,Beatriz;BRITO,KarinSiebeneicher(Org.)Gnerostextuais: reflexo e ensino. So Paulo: Parbola editorial, 2011. p. 137-152. KLEIMAN,ngela.Modelosdeletramentoeasprticasdealfabetizaonaescola.In: KLEIMAN,A.(Org.).Ossignificadosdoletramento:umanovaperspectivasobreaprtica social da escrita. Campinas: Mercado de Letras, 1995. p. 15-61. MERCADO,LusLeopoldo; ARAUJO, RosanaSarita de.Letramento digital nas interaes on-line:anlisedosfrunsdediscussodoprogramadeformaocontinuadaemmdiasna educao R. Bras. Est. Pedag., Braslia, v. 91, n. 227, p. 178-232, jan./abr. 2010. ROJO, Roxane. Letramentos mltiplos, escola e incluso social. So Paulo: ParbolaEditorial, 2009. ______. Multiletramentos na escola. So Paulo: Parbola Editorial, 2012. SOARES, Magda. Novas prticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura. Educao e Sociedade,Campinas,v.23,n.81,p.143-160dez.2002.Disponvelem: . Acesso em: 02 mar. 2014. ______.Letramentoeescolarizao.In:RIBEIRO,VeraMasago(Org.).Letramentono Brasil. So Paulo: Global, 2003 p. 92-112. Revista Lnguas & Letras Unioeste Vol. 15 N 31 2014 e-ISSN: 1981-4755 ______.Alfabetizao e letramento. So Paulo: Contexto, 2004. STREET,Brian.Letramentossociais:Abordagenscrticasdoletramentono desenvolvimento, na etnografia e na educao. Traduo: Marcos Bagno. So Paulo: Parbola editorial, 2014. TWITTER DILMA BOLADA. Disponvel em: Acesso em: 22 fev. 2014. TWITTERPONTOFRIO.Disponvelem:Acessoem:22 fev. 2014. TWITTERSILVIOROGRIO.Disponvelem:Acesso em: 22 fev. 2014. TWITTER VALDSENA. Disponvel em: Acesso em: 22 fev. 2014. XAVIER,AntonioCarlos.Letramentodigitaleensino.In:SANTOS,CarmiFerraz(Org.). Alfabetizaoeletramento:conceitoserelaes.BeloHorizonte:Autntica,2005.p.133-147. _______.Reflexesemtornodaescritanosnovosgnerosdigitaisdainternet.Investigaes, Recife, v. 18, p. 115-129, 2006. ______.Letramentodigital:impactosdastecnologiasnaaprendizagemdaGeraoY.Calidoscpio, Unisinos, So Leopoldo, vol. 9, n. 1, p. 3-14, jan./abr. 2011. Data de recebimento: 26/11/2014 Data de aprovao: 20/12/2014


Recommended