19/06/2016 minhacidade 175.07 São Paulo: A batalha dos Arcos do Bixiga | vitruvius
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175.07 São Paulo ano 15, fev. 2015
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A batalha dos Arcos do BixigaMais arte e mais cidade, mas menos arte na cidade!Martin Jayo e André Fontan Köhler
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JAYO, Martin; FONTAN KÖHLER, André. A batalha dos Arcos do Bixiga. Mais
arte e mais cidade, mas menos arte na cidade! Minha Cidade, São Paulo, ano
15, n. 175.07, Vitruvius, fev. 2015
<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/14.175/5439>.
A gestão de Fernando Haddad à frente da Prefeitura de São Paulo, iniciadaem 2013, tem sido marcada por polêmicas diversas, que vão desde mudançasradicais no tratamento de velhos problemas sociais – vide a questão daCracolândia e o Programa Braços Abertos – até políticas públicasimpensáveis no município até pouco tempo atrás, como por exemplo aimplantação de centenas de quilômetros de ciclovias e ciclofaixas, emdetrimento do automóvel de passeio.
A mais recente dessas polêmicas, surgida no início de fevereiro de 2015,referese ao tratamento e utilização de um patrimônio cultural paulistano –os Arcos do Bixiga.
175.07 São Paulo sinopses como citar
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175
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Arcos do Bixiga, muros com grafites, São Paulo, 14/02/2015
Foto Martin Jayo
em vitruvius
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Arcos do Bixiga, muros com grafites, São Paulo, 14/02/2015
Foto Martin Jayo
Tratase de um muro de contenção, construído provavelmente no início doséculo 20, no desnível entre as ruas da Assembleia e Jandaia, no bairro daBela Vista. Por décadas, ele ficou “escondido”, até que o arrasamento deuma série de casas e sobrados, em 1987, trouxeo de volta à luz. Os arcosseriam representativos de técnicas construtivas tradicionais, trazidas porimigrantes calabreses; isso garantiu seu status de patrimônio culturalpaulistano. A estrutura simples, de contenção de desnível entre ruas, foielevada a monumento municipal em 2002, através do tombamento pelo ConselhoMunicipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental daCidade de São Paulo (Conpresp).
Arcos do Bixiga, muros com grafites, São Paulo,
14/02/2015
Foto Martin Jayo
Com apoio da prefeitura municipal e autorização do Conpresp, no início defevereiro, um grupo de artistas urbanos utilizou os vãos dos arcos comopainéis para a execução de grafites. A intervenção legou à cidade umconjunto de pinturas – temporárias, como é a natureza do grafite –emolduradas pelos históricos tijolos.
A iniciativa foi duramente recebida, tanto por tradicionais críticos dagestão Haddad (muitos deles, digase de passagem, normalmente pouco afeitosa preocupações com o patrimônio) quanto por um segmento mais conservadordentre os defensores da preservação patrimonial. Estes grupos não tardarama qualificar a intervenção nos arcos como “vandalismo”, “desrespeito”,“absurdo”, “profanação” ou “ataque à memória da cidade”. A base dosargumentos gira em torno da necessidade, por eles defendida, de sepreservar os arcos “em sua originalidade”.
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Arcos do Bixiga, muros com grafites, São Paulo,
14/02/2015
Foto Martin Jayo
Junto com isso, também foi levantada a questão de uma das pinturassupostamente retratar o expresidente da Venezuela, Hugo Chávez: acusousea gestão petista até mesmo de interferir na liberdade de criação doartista, a fim de fazer uso políticoideológico da intervenção nos arcos.
A nosso ver, com o perdão do trocadilho, as críticas carregaram demais nascores. De forma geral, os argumentos foram contaminados por discussões deordem política, e simplificaram a discussão. Eles desconsideram aspectosimportantes, relativos tanto à estrutura arquitetônica em si quanto àintervenção artística nela promovida, que são listados a seguir.
Arcos do Bixiga, muros com grafites, São Paulo,
14/02/2015
Foto Martin Jayo
Primeiro, parece haver certo anacronismo no debate. Na verdade, os arcosnão foram pintados pela primeira vez agora: em 2011, na gestão GilbertoKassab, eles já haviam recebido uma pintura que não poupou sequer seustijolos. Nessa intervenção, feita com a intenção de dar ao conjunto umaaparência mais “limpa”, os vãos (agora grafitados) receberam tinta bege, eos tijolos foram recobertos – e, por conseguinte, impermeabilizados – poruma camada de tinta na cor salmão. Mas as críticas na época foram muito
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tímidas, e os autoproclamados defensores do patrimônio cultural paulistanoresponderam com o mais absoluto silêncio. Para eles, a aparente assepsiaconseguida com a pintura integral nas cores salmãobege era suficiente paraconsiderar o monumento satisfatoriamente preservado.
Arcos do Bixiga, muros com grafites, São Paulo,
14/02/2015
Foto Martin Jayo
Segundo, os arcos em questão são um muro de arrimo. Não foram construídoscom intenção de ser monumento nem obra de arte, mas apenas para resolver odesnível entre duas ruas. Seu tombamento e sua fruição estética devemse àrecente valorização da arquitetura vernacular como patrimônio cultural. Aintervenção artística, realizada por grafiteiros com apoio da prefeitura,não “desrespeita” os significados nem a estrutura física do monumento. Pelocontrário, ela trata os Arcos do Bixiga como aquilo que eles são em suaoriginalidade – um muro –, e permite que sejam apropriados pela populaçãopaulistana como galeria ao ar livre, utilização inclusive comum em váriascidades ao redor do mundo. Há, aqui, outro ponto positivo que restitui“originalidade” à estrutura: a retirada de um mal ajambrado gradil que aseparava do restante da cidade.
Arcos do Bixiga, muros com grafites, São Paulo,
14/02/2015
Foto Martin Jayo
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Conjugase, dessa forma, a preservação patrimonial de uma peça dearquitetura vernacular com uma nova utilização contemporânea, que nãoprejudica sua leitura nem sua estrutura. Por seu próprio conceito, ografite é uma intervenção efêmera: a pintura é feita para não durar,enquanto a estrutura que a suporta perdura, preservada.
Terceiro, chamanos a atenção a aparente diferença no tratamento dado aosArcos do Bixiga e à Pinacoteca do Estado, no que concerne às críticasfeitas à presença de grafite em monumentos tombados.
Pinacoteca do Estado, janelas entaipadas com grafite, São Paulo,
14/02/2015
Foto André Fontan Köhler
Na Pinacoteca, salvaguardada pelo Condephaat (tombamento estadual), já háalguns anos as janelas que dão para o Jardim da Luz abrigam painéis queexibem, justamente, grafites. Seria fácil argumentar que isto atrapalha aleitura do monumento, dado que os vãos originais encontramse entaipados.Outra crítica fácil seria que as pinturas e grafites são dissonantes doedifício, bem como da pintura academicista e modernista que ele abriga,salvo em exposições temporárias. Não nos parece que o entaipamento dosvãos, preenchidos com painéis de grafite, tenha gerado grande comoção eengajamento por parte dos defensores do patrimônio cultural. Será que aarquitetura vernacular e utilitária dos Arcos do Bixiga desperta maisinteresse, para efeitos de preservação, do que o prédio projetado por Ramosde Azevedo?
Em 1947, Aparício Torelly (18851971), vulgo Barão de Itararé, elegeusevereador do Rio de Janeiro utilizando, em sua campanha, um lema memorável:“Mais água e mais leite, mas menos água no leite!”. Passados quase 70 anos,os propalados defensores de São Paulo e de seu patrimônio cultural parecemter adotado princípio similar: “Mais arte e mais cidade, mas menos arte nacidade!”.
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comentários
Pinacoteca do Estado, janelas entaipadas com grafite,
São Paulo, 14/02/2015
Foto André Fontan Köhler
sobre os autores
Martin Jayo é professor da EACHUSP, atuando nos cursos de bacharelado e
mestrado em Gestão de Políticas Públicas. É bacharel em Economia pela FEA
USP, mestre em Ciências da Comunicação pela ECAUSP e doutor em
Administração de Empresas pela FGVEAESP. Participa do GETIP – Grupo de
Estudos em Tecnologia e Inovação na Gestão Pública, e edita o blogue Quando
a cidade era mais gentil.
André Fontan Köhler é professor da EACH/USP, atuando no Curso de
Bacharelado em Gestão de Políticas Públicas. É bacharel em Administração e
mestre em Administração Pública e Governo pela FGVEAESP. É doutor em
Arquitetura e Urbanismo pela FAU/USP, e participa do GETIP – Grupo de
Estudos em Tecnologia e Inovação na Gestão Pública.
12 comentários Classificar por
Alexandre Hodapp · Arquiteto e Urbanista em Peabiru TCAPara ampliar a comparação, imagine se os tijolos da Pinacotecarecebessem uma mão de tinta bege...
Curtir · Responder · 5 · 16 de fevereiro de 2015 23:57
Luciano Abbamonte da Silva · Universidad Presbiteriana Mackenzieconheci um dos 4 grafiteiros o Roberto Bieto, que fizeram esse"retrato", poucos dias depois da polêmica reaça: o parça relatou que foium retrato pintado a oito mãos, e que não teve nenhuma intenção dese "parecer" com o rosto de Chaves. Foi apenas uma (infeliz ; )coincidência hehe ponto. Na arte, obra aberta, cada um vê o que quer ;D
Curtir · Responder · 5 · 17 de fevereiro de 2015 04:06
Eric André Cortez · Universidade São Judas TadeuTexto perfeito. Acho que tem muito mimimi na história.
Curtir · Responder · 2 · 17 de fevereiro de 2015 08:43
Paula Janovitch · História USPmuito bom martin. parabéns. paulaCurtir · Responder · 17 de fevereiro de 2015 09:37
Luis Galeão · Profesor em Instituto de Psicologia USPBelo texto sobre a necessidade de ocupações criativas na cidadeversus o uso infeliz da história como pretexto para manter asegregação social.
Curtir · Responder · 2 · 17 de fevereiro de 2015 10:53 · Editado
Carlos Alberto Marciano · Liceu São PauloLixo, feito por lixos, autorizados por um prefeito lixo, que foi eleito pelolixo de sp. e tem mais, reaça é a pqp.
Curtir · Responder · 1 · 17 de fevereiro de 2015 17:11
Gabriel Fernandes · São PauloPrefiro lixo a elitismo.
Viva o pixo e o grafite!
Curtir · Responder · 3 · 18 de fevereiro de 2015 16:54
Carlos Chinchila · Arquitecto em Studio Paraty Arquitetura e DesignExcelente.Curtir · Responder · 17 de fevereiro de 2015 20:20
Janaína Behling · Fundadora ;$ em Viva LetramentosClaro que ia dar polêmica estando os arcos no Bixiga. A visibilidade dosgrafites é enorme, embeleza, mas é um bairro híbrido com grandesassimetrias entre (pseudo) conservadores e iniciativas joviais deurbanidade, modernas.Curtir · Responder · 18 de fevereiro de 2015 16:06
Maria Aparecida de Freitas · ISTITUTO NACIONAL DE PESQUISASDA AMAZONIA (inpa)
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DA AMAZONIA (inpa)Que absurdo, isto é impedir a expressão da arte. Existem váriosprojetos promovidos pela secretaria de cultura da cidade de São Paulo.A prefeitura não teria aceito o projeto sem voto da Câmara dosvereadores não?Curtir · Responder · 19 de fevereiro de 2015 22:41
Lygia Freund · AGPP em PMSPmuito bom....texto ótimo...desculpe repetir mas muito muito mimimisobre o assuntoCurtir · Responder · 19 de fevereiro de 2015 23:00
Du Dias · Andarilho profissional em CicloviajanteSem falar que os muros de arrimo já vinham sendo pixados e pintadose pixados e repintados há algum tempo. Os arcos, por sua vez, sãotombados apenas na esfera municipal, cujo órgão (Conpresp) foiconsultado. Não é tombado pelo CONDEPHAAT (estadual) ou IPHAN(federal). Então menos, galera, menos. Só pra ter uma ideia, faz umabusca pelos grafites no Donau Kanal, em Viena, contrastando comaqueles prédios históricos que tem no nível da rua.Curtir · Responder · 23 de fevereiro de 2015 20:29
Fabiula Domingues · Coordenadora Técnica em Formarte Projetos,Produção e Assessoria LtdaMinha crítica sobre os trabalhos feitos nos arcos é pelo lado dapreservação, da arte de rua e da arte na rua. Entendo que as açõesfeitas pela Secretaria Municipal de Cultura são interessantes, masinsuficientes. Minha crítica ao ato vai além da produção culturalexpressa por grafites. Cito pelo fato da produção cultural atual [e degovernos anteriores] desconsiderar o que SP JÁ oferece [E MUITO],nossos monumentos históricos [arte erudita na rua].Cadê a preservação de nossos monumentos elevados à marcoshistóricos de nossa cidade? Porque não utilizar parte dessa verbadestinada ao grafite p... Ver maisCurtir · Responder · 26 de fevereiro de 2015 10:35
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