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Arqueologia: Novos tempos

Date post: 21-Feb-2023
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A Arqueologia Pública no Brasil: Novos Tempos Rossano Lopes Bastos Coordenador Nacional de Arqueologia Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Doutor em Arqueologia/USP - São Paulo Resumo O presente trabalho traz uma contribuição para a Arqueologia a nível nacional, pois além dos dezoito anos de experiência dedicados ao trabalho, à pesquisa e à preservação do patrimônio arqueológico no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, aliamos conceitos interdisciplinares, transdiciplinares e interinstitucionais. Nesta perspectiva, associamos conceitos de patrimônio arqueológico, de preservação e de representações sociais, acreditando ser este o caminho eficiente e justo para a solução dos problemas identificados na "apropriação do saber" sobre o patrimônio arqueológico. A idéia que aqui defendemos é que, não há preservação sem a participação da comunidade e, para que possamos envolvê-la, é necessário alcançarmos o que ela pensa sobre o patrimônio arqueológico. Para tanto nosso trabalho busca alternativas objetivando edificar a ponte entre a comunidade, o patrimônio e a preservação. Abstract This Work contribution to Archeology at a national level. Besides having an experience of eighteen years dedicated to works, researches and preservation at the archeological heritage to Instituto do Patrimônio Histórico e Artistíco Nacional, we have allied interdisciplinary and transinstitutional concepts. According to this perspective, we have associated the concepts of archeological heritage, preservation and social representation, which we believe can be the most efficient and fair way to solve the identified problems in “knowledge appropriation” concerning the archeological heritage.
Transcript

A Arqueologia Pública no Brasil: Novos Tempos

Rossano Lopes BastosCoordenador Nacional de ArqueologiaInstituto do Patrimônio Histórico e Artístico NacionalDoutor em Arqueologia/USP - São Paulo

Resumo

O presente trabalho traz uma contribuição para a Arqueologia a nívelnacional, pois além dos dezoito anos de experiência dedicados ao trabalho, àpesquisa e à preservação do patrimônio arqueológico no Instituto do PatrimônioHistórico e Artístico Nacional, aliamos conceitos interdisciplinares,transdiciplinares e interinstitucionais.

Nesta perspectiva, associamos conceitos de patrimônio arqueológico, depreservação e de representações sociais, acreditando ser este o caminhoeficiente e justo para a solução dos problemas identificados na "apropriação dosaber" sobre o patrimônio arqueológico.

A idéia que aqui defendemos é que, não há preservação sem a participaçãoda comunidade e, para que possamos envolvê-la, é necessário alcançarmos o queela pensa sobre o patrimônio arqueológico.

Para tanto nosso trabalho busca alternativas objetivando edificar a ponteentre a comunidade, o patrimônio e a preservação.

Abstract

This Work contribution to Archeology at a national level. Besides havingan experience of eighteen years dedicated to works, researches and preservationat the archeological heritage to Instituto do Patrimônio Histórico e ArtistícoNacional, we have allied interdisciplinary and transinstitutional concepts.

According to this perspective, we have associated the concepts ofarcheological heritage, preservation and social representation, which we believecan be the most efficient and fair way to solve the identified problems in“knowledge appropriation” concerning the archeological heritage.

We defend the idea that there is no preservation without the communityparticipation and to involve them, we must reach what they think archeologicalheritage is.

Herby, our work searches for alternatives that enable a bridge betweencommunity, heritage and preservation.

Apresentação

Este artigo é fruto do trabalho desenvolvido em minha tese de doutoramento

intitulada "Patrimônio Arqueológico, Preservação e Representações Sociais: Uma

proposta para o País através da análise da situação do Litoral Sul de Santa

Catarina", defendida em dezembro de 2002 no Museu de Arqueologia e Etnologia da

Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, sob a

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orientação do professor Dr. José Luiz de Morais. Sendo assim, as idéias aqui

defendidas são em grande parte oriundas do exercício intelectual efetuado de

quando formulamos nosso trabalho como requisito para a obtenção do título de

doutor em arqueologia.

Introdução

A expectativa deste trabalho foi a de oferecer a sociedade, à comunidade

arqueológica e as órgãos de preservação uma perspectiva de atuação que possa

contemplar os diversos nuances que encerram a pesquisa , o conhecimento, a

valorização, e a verdadeira apropriação por parte da população do patrimônio

arqueológico, entendendo assim como única alternativa de verdadeira preservação.

Juliani (1999), apresenta uma tentativa pioneira em relacionar o

conhecimento arqueológico, com educação patrimonial e grupos vulneráveis através

de um projeto em parceria intitulado “Arqueologia social e educação patrimonial:

O sítio do Morumbi - a recuperação da história de São Paulo antes de 500 anos”.

Esta iniciativa contou com o Departamento do Patrimônio Histórico da Secretária

de Cultura da Prefeitura Municipal de São Paulo e a ONG “Associação Criança

Brasil”. Suas premissas estavam apoiadas em Smardz (1995), onde coloca que

tornar a pesquisa arqueológica de caráter público e social é possibilitar seu

uso na educação sobre os padrões de comportamento no passado, sobre maneiras

como os sítios arqueológicos podem ser estudados e sobre os benefícios derivados

para o público no estudo e conservação de recursos arqueológicos. Aqui o

objetivo é fazer a arqueologia tanto pública como publicamente relevante.

Esta tese se insere no corpo daquilo que se convencionou chamar de

“arqueologia pública” ou, como bem menciona Ascherson (2000: 2), a arqueologia

conduzida pela autoridade pública para o bem geral.

Seria atual lembrar que Bezerra de Menezes(1987), já colocava como

principal atribuição da então SPHAN, hoje IPHAN, que no campo da arqueologia, o

estabelecimento, em nível federal, das políticas governamentais, isto é, as

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diretrizes e programas articulados para as diversas formas de atuação do Estado.

Sem dúvida, estas políticas deveriam não só levar em conta as políticas

cientificas e culturais formuladas em outros órgãos oficiais, como também em

nelas influir. Este papel de interlocutor previlegiado é de importância capital.

Por outro lado, nos parece que o tripé proposto por Bezerra de Menezes

(op.cit.), para a atuação do IPHAN, identificação, proteção e valorização

continua atual, mas insuficiente frente as novas demandas que surgiram

principalmente advindas da avaliação dos impactos sobre a base dos recursos

culturais arqueológicos. Neste sentido gostaríamos de destacar o papel

preponderante do IPHAN em capitanear ações educativas exemplares e de

desenvolvimento econômico a partir do uso do patrimônio arqueológico.

Transcendendo as antigas proposições, o Iphan, mais do que nunca, deve ser a

locomotiva de ações pioneiras em todas as áreas que envolvam a questão

arqueológica. Destaco aqui a formulação da proposta de Universidade Cooperativa,

pensada pelas Coordenações de Arqueologia, Patrimônio Imaterial e Gestão urbana,

onde o Instituto tem buscado parceiros arrojados dentro e fora da academia para

implantar projetos de ensino, pesquisa e gestão no âmbito das questões culturais

que envolvem sobretudo o desenvolvimento de novas tecnologias de conservação ,

restauração e aperfeiçoamento nas formas de gerir os bens culturais. Gostaria

aqui de fazer um parênteses para narrar um pouco desta experiência que envolveu

a Coordenação de Arqueologia, a Coordenação de Gestão urbana (programa Urbis) e

a Coordenação do Patrimônio Imaterial, no período em que estou a frente da

Coordenação de Arqueologia e do esforço realizado na tentativa de oferecer

subsídios nas novas formas de fazer.

Aqui vale a pena introduzir aquilo que entendemos a partir de Horta

(1983), o que deve ser um projeto de educação patrimonial para ser incorporado

nos processos de salvamento arqueológico, que será proposto nas considerações

finais. A educação patrimonial, trata-se de um processo permanente e

sistemático de trabalho educacional centrado no Patrimônio Cultural Arqueológico

como fonte primária de conhecimento e enriquecimento individual e coletivo. A

partir da experiência e do contato direto com as evidências e manifestações da

cultura, em todos os seus múltiplos aspectos, sentidos e significados, o

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trabalho de educação patrimonial busca levar as crianças e adultos a um processo

ativo de conhecimento, apropriação e valorização de sua herança cultural,

capacitando-o para melhor usufruto destes bens, e propiciando a geração e

produção de novos conhecimentos, num processo contínuo de criação cultural.

Segundo Horta (op.cit.), conhecimento crítico e a apropriação consciente

pelas comunidades do seu patrimônio são fatores indispensáveis no processo de

preservação sustentável desses bens, assim como no fortalecimento dos

sentimentos de identidade e cidadania.

A educação patrimonial deverá ser entendida com um instrumento de

"alfabetização cultural" que possibilita o indivíduo fazer uma leitura do mundo

que o rodeia, levando-o à compreensão do universo sócio-cultural e da trajetória

histórico-temporal em que esta inserido .Este processo leva ao reforço da auto-

estima dos indivíduos e comunidades e à valorização da cultura brasileira,

compreendida como múltipla e plural.

O diálogo permanente que está implícito neste processo educacional

estimula e facilita a comunicação e a interação entre as comunidades e os

agentes responsáveis pela preservação e estudo dos bens culturais,

possibilitando a troca de conhecimentos e a formação de parcerias para a

proteção e valorização destes bens.

Ao investir nas formas de percepção como as representações sociais, o que

pretendíamos era exatamente entender os níveis de conhecimento e as visões do

público comum sobre arqueologia, certos que isso é um componente importante para

avaliar o alcance efetivo das políticas públicas sobre patrimônio, como salienta

McManamon (2000:11). Pesquisas citadas pelo autor mostram que não existe uma

compreensão muito clara dos fatos arqueológicos por parte dos não arqueólogos

McManamon (2000: 12).

Nesta perspectiva encontra-se nossa pesquisa sobre as representações

sociais realizada no litoral sul de Santa Catarina, que apontam para um

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desconhecimento quase total das questões que envolvem o Patrimônio Arqueológico

e suas formas de preservação.

A possibilidade de reverter uma situação em princípio negativa para o

patrimônio, ou seja, quando da implantação dos grandes projetos

desenvolvimentistas, que acarretam impactos permanentes sobre este patrimônio,

que aliada à falta de compreensão por parte da população, se constitui hoje,

como tem sido desde sempre, uma das principais causas da destruição. Transformar

esta situação em uma situação da qual o patrimônio se beneficie, é a grande

tarefa que se impõe.

Novos Tempos

Desvendando à sociedade a existência de sítios arqueológicos

insuspeitados, em pontos do território nacional nunca atingidos pela pesquisa

acadêmica, a pesquisa arqueológica de contrato impôs esta situação que tem sido

atingida expontaneamente pela obrigatoriedade legal (Lei federal

3924/61,Resolução Conama 01/86, Portaria SPHAN 07/88,Portaria IPHAN

230/02,Portaria IPHAN 28/03). Entretanto, embora o avanço legal em termos de

normalização, esta questão pode ser melhor objeto de atuação consciente do

IPHAN, com políticas rigorosas na exigência e fiscalização do cumprimento das

normas legais, especialmente quanto aos estudos de avaliação de impactos

ambientais. Embora os técnicos do IPHAN tenham-se mostrado compreensivelmente

preocupados com a atuação de arqueólogos ainda despreparados para atuar em

estudos de sítios arqueológicos em vias de desaparecer pelos projetos de impacto

ambiental, o maior risco que corre o patrimônio nacional ainda é causado por sua

destruição, sem nem mesmo a possibilidade de ser estudado e incorporado à

Memória Nacional.

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Por isso, a nova orientação do IPHAN, através da Coordenação de

Arqueologia foi e é apoiar a SAB na luta pela regulamentação da profissão,

deixando a órgãos profissionais os cuidados com a má conduta profissional, o que

ocorre com qualquer profissão, como bem salienta Lima (2001:69)1.

Desta forma, o propósito do IPHAN seria centrar sua atenção na

fiscalização do cumprimento da lei, e no fomento de ações de valorização e

revitalização do patrimônio arqueológico, como forma não só de justificar

socialmente a atuação dos arqueólogos, mas também legitimar as condutas do

Estado, principalmente possibilitando através da implantação de projetos de

educação patrimonial, a ampliação da cidadania cultural. Para conseguir isto, o

IPHAN tem de ter agilidade em suas decisões, motivo pelo qual o DEPROT,com

assessoria da Coordenação Técnica de Arqueologia, emitiu em 12(doze) meses mais

de 230(duzentos e trinta) autorizações de pesquisa, muito mais do que era

emitido em vários anos anteriores juntos. Mesmo consciente de que nem todos os

colegas da casa concordam com esta atitude, resolvemos assumir as

responsabilidades que nos foram confiadas, e optamos politicamente por essa

matriz de entendimento que ao nosso ver tem garantido muito mais o controle e a

preservação do patrimônio arqueológico, do que posturas altamente "puristas",

que na verdade escondem e escamoteiam uma incapacidade de gerir a coisa pública.

As exigências legais não se restringem à execução de levantamentos e

salvamentos arqueológicos, mas também à exigência de respeito à Portaria 07/88,

Portaria do IPHAN 230/02, e mais recentemente a Portaria 28/03 todas elas de

alguma forma obrigando à divulgação e aproveitamento didático das pesquisas

arqueológicas. Assim, embora nos projetos de levantamento arqueológico, quando

ainda não se sabe a situação do patrimônio arqueológico na área de estudo, a

Coordenação de Arqueologia não esteja exigindo programas específicos de

valorização patrimonial, aceitando que os resultados sejam apresentados em

congressos, simpósios e seminários por exemplo, eles têm sido exigidos nos

projetos de resgate arqueológico, em profundidades compatíveis com o impacto

1 Lima, Tânia A. A proteção do patrimônio arqueológico no Brasil: omissões , conflitos, resistências. Revista de Arqueologia Americana, 2001 (20): 51-79.

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previsto. Entretanto, nos parece factível que dentro de um projeto de

levantamento de grandes áreas, será possível estabelecer ações de educação

patrimonial, principalmente procurando envolver a comunidade local no processo

de interação tal com a pesquisa, que possa mesmo fazer parte do grupo de

pesquisadores enquanto tal.

Exemplos de participação da comunidade e de educação patrimonial são em

Santa Catarina, bastante comuns para projetos de salvamento como: Programa de

Valorização Patrimonial que faz parte do Projeto de Salvamento Arqueológico na

UHE Barra Grande(SC/RS), UHE Quebra Queixo(SC), UHE Campos Novos(SC), podem ser

observados também, mas como exigência do IPHAN, para mitigações e compensações

em AHE Corumbá IV(GO/DF), Anel viário de São Paulo(Rodoanel), AHE Lagoa

Vermelha(SP), Projeto da linha de transmissão Joinville- São Francisco do Sul,

dentre outros. Esses programas são fundamentais para que a arqueologia seja

popularizada e conhecida da sociedade.

Aqui cabe ressaltar importante iniciativa da 11ª Superintendência Regional

do Iphan , com sede em Santa Catarina, do trabalho exemplar que tem sido

conduzido na Ilha do Campeche , município de Florianópolis, na gestão do

Patrimônio Arqueológico e Natural que existe na Ilha. Uma das formas de

reconhecimento do IPHAN sobre a importância deste acervo arqueológico foi

agregar outra forma de acautelamento ao bem, protegendo-o também através do

instrumento do tombamento federal(Decreto–lei 25/37). A partir deste instante

uma ação constante e de continuidade foi elaborada e implementada a partir da

11ª superintendência Regional, onde foram incorporados no processo de

preservação as escolas locais, a colônia de pescadores, os filhos dos

pescadores, a juventude local, e a associação Couto de Magalhães que tem a posse

precária da ilha a mais de cinqüenta anos. O resultado desta ação, foi a

percepção imediata da comunidade local, que com o curso de monitores oferecido

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pelo IPHAN em parceria com a associação dos guias, esta qualificou os

adolescentes em idade escolar, em geral filhos dos pescadores locais , que

também puderam agregar a sua renda as tarifas da travessia de turistas em seus

barcos para a visitação guiada aos sítios arqueológicos da Ilha do Campeche.

Por outro lado, outro ganho deve ser mencionado é o fortalecimento de

instituições de guarda e exposição de material arqueológico. A falta de

instituições para guarda do material procedente das pesquisas de salvamento

arqueológico é uma grande queixa dos arqueólogos nacionais. Neste sentido, vale

lembrar a histórica reunião dos arqueólogos com a 11a.SR/IPHAN em Laguna, no ano

2000, onde falou-se abertamente de problemas , mas também falou-se também de

soluções compartilhadas. Nasce ali uma nova era entre arqueólogos e o IPHAN.

Se cabe ao IPHAN exigir por força da norma uma instituição de apoio, ele

deve e pode ajudar a criar, instrumentalizar, novas instituições e fomentar e

fortalecer as já existentes. Nesta direção a Coordenação de Arqueologia tem

obtido relativo sucesso apesar do pouco tempo de existência, com destaques para

novas Instituições como UNESC (SC), UNISUL (SC), UNOCHAPECO (SC), URI-ERECHIM

(RS), NAPAS/Porto Seguro(BA), Museu Histórico de Sorocaba (SP),Instituto

Descalvados (MT), dentre outras. Neste caso chamamos à atenção para o projeto

de usos múltiplos do acervo da UHE Itá, que com o fomento do IPHAN, e a

coordenação do Dr. José Luiz de Morais, apresentou como frutos a primeira turma

do curso de pós-graduação lato sensu "arqueologia ; processos interdisciplinares",

já em segunda edição e que estava sendo cogitado pelo IPHAN para inaugurar as

parcerias da Universidade Cooperativa, que tem como parceiros vários órgãos da

administração publica central.

Portanto, iniciativas como estas foi possível por se canalizar parte da

verba destinada aos projetos de salvamento arqueológico para equipar e

instrumentalizar as instituições de apoio e de guarda de material arqueológico.

Até pouco tempo, as Universidades Públicas, arcavam completamente com o

ônus da guarda, cura e manutenção destes acervos oriundos de pesquisas de

salvamento de contrato, o que significava na prática herdar um passivo por conta

do erário publico, o que é no mínimo imoral. O empreendedor deve destinar

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recursos às instituições que se propõem a aceitar a guarda dos materiais

provenientes das pesquisas, para que elas construam reservas técnicas e paguem

conservadores, e que grandes acervos venham sempre acompanhados de um projeto de

usos mútiplos. O próximo passo seria junto com os conservadores elaborar

propostas de treinamento intensivo nas instituições que possuem boas políticas

de conservação, como o MAE-USP(SP), o Museu Goeldi-CNPq(PA), a Fundação Museu do

Homem Americano (PI), Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville(SC), Museu de

História Natural da UFMG, dentre outros; que solicitariam destas instituições

detentoras deste conhecimento político expeditas de treinamento, para atender

instituições do interior interessadas em incorporar os acervos regionais.

A exemplo do que vem acontecendo com a UNOCHAPECO(SC) e URI-ERECHIM(RS),

que quer ficar com o material arqueológico do oeste catarinense e tem o apoio da

Coordenação de Arqueologia e o entusiasmo da 11a. SR, e tem implantado o projeto

de usos múltiplos do acervo arqueológico do vale do Rio Uruguai, produzido pela

arqueóloga Mariland Goulart, durante vinte anos. O IPHAN tem aberto estas

possibilidades as instituições, principalmente as pequenas, para tomarem

conhecimento dessas oportunidades e de fazer os empreendedores entenderem as

necessidades de destinar recursos às instituições que ficarão com a guarda dos

materiais, tirando este peso do ombro dos arqueólogos contratados e evitando a

sobrecarga das grandes instituições. Corrobora com esta idéia o fato de ser

também um modo de permitir que as coleções fiquem próximas aos locais de onde

foram retirada, incorporando definitivamente as recomendações internacionais de

repatriamento de materiais arqueológicos..

Outra estratégia de ação fundamental para conseguir que o patrimônio seja

sempre levado em consideração nos projetos de impacto ambiental é, em parceria

com o Ministério Público, atuar com a punição aos que procuram fugir da execução

dos estudos obrigatórios ou que promovem a destruição de bens arqueológicos,

obrigando-os a arcar com medidas compensatórias, como tem sido feito com

empreendimentos como IAZPE Imbituba, LT Joinville - São Francisco do Sul da

Eletrosul, LT Nordeste /Sudeste, AHE da Corumbá IV, do Rodoanel (Anel Viário de

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São Paulo), AHE Barra Grande(SC/RS), UHE Quebra Queixo, UHE Campos Novos,

Gasoduto SCgás.

Não obstante, AB'Saber et al (1998) afirma categoricamente que

embora o estudo de impacto ambiental tenha condições de ser metodologicamente

bem elaborado, ele permanecerá ineficaz enquanto o problema da enorme dívida

externa de muitos países subdesenvolvidos não for resolvido. Muitas vezes a

dívida externa constitui a verdadeira catástrofe ecológica desses países. Ela

gera processos que causam agressões ao meio ambiente, contínua e acelerada

devastação, bem como contaminação do solo, da água, da paisagem, da atmosfera ,

e também do Patrimônio Cultural. Portanto, é ineficaz querer implantar um estudo

de impacto ambiental e social sem que, simultaneamente, seja reduzida o peso da

dívida externa, e sejam elaboradas políticas de inclusão social cultural.

As medidas compensatórias que tem sido exigidas variam desde financiar

estudos arqueológicos mais amplos, adotar programas de educação e valorização

patrimonial, até fornecer meios materiais para a modernização do IPHAN e

instituições de pesquisa mais frágeis para que possam se equipar para melhor

desempenhar suas funções.

Portanto, os projetos de impacto ambiental, se bem direcionados pelo órgão ao

qual cabe a defesa do Patrimônio Cultural Nacional, podem inclusive conferir

auto-sustentabilidade à pesquisa arqueológica, liberando os órgãos de fomento à

pesquisa para financiar projetos acadêmicos, que impulsionem a ciência básica

brasileira, os quais no momento são pouquíssimos: cerca de 2% das autorizações

de pesquisa dadas pelo IPHAN desde que assumimos a Coordenação de Arqueologia

referem-se a projetos acadêmicos, infelizmente.

Turismo e Patrimônio Arqueológico

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O turismo arqueológico é uma alternativa de preservação que deve ser

levado em consideração sempre que possível , pois é fonte permanente de

recursos, de empregos, e de envolvimento comunitário, além de exigir constante

manutenção da base dos recursos culturais arqueológicos, categoria chamada de

turismo arqueológico auto-sustentável, pois procura sobretudo, preservar o

objeto de visitação.

Merece aqui destaque o Plano diretor de desenvolvimento turístico do Piauí

(2000) onde acentuam que o turismo arqueológico pode ser desenvolvido de

diferentes maneiras, entre elas a exploração feita através da visitação de uma

determinada região que tenha sido habitada pelo homem pré-histórico, desde que a

mesma esteja preparada para esse fim, ou de forma a permitir o turista que

participe de uma atividade da pesquisa arqueológica, seja durante uma das etapas

do trabalho de campo, como a prospecção, por exemplo, que consiste na busca de

sítios, ou no decorrer de uma escavação arqueológica. Estas atividades devem

obrigatoriamente ser acompanhadas por um arqueólogo experiente, e o número de

participantes deve ser limitado por turma até o limite de capacidade de suporte

de cada região ou conjunto de sítios a serem visitados.

A capacidade de suporte de uma região deve ser avaliada levando em

consideração as diversas variáveis ambientais e culturais, que determinaram a

quantidade ideal de visitantes que causaram menos impacto no ambiente.

A exploração do turismo arqueológico no Piauí apresenta-se hoje como

um importante veículo de desenvolvimento sócio-econômico do Estado, ao mesmo

tempo que poderá transformá-lo em um potencial campo de pesquisas para o

conhecimento da pré-história americana, bem como para as ciências ambientais. O

exemplo do Parque Nacional da Serra da Capivara, na região do município de São

Raimundo Nonato, no Piauí, é um exemplo vivo, eficiente, e bem sucedido de como

o turismo arqueológico pode e deve ser aproveitado como fonte de cidadania

cultural, saber e desenvolvimento sócio-econômico. Não poderíamos deixar aqui de

registrar o importante trabalho efetuado pela pesquisadora Niéde Guidon, que a

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frente da Fundação Museu do Homem Americano, foi a grande mentora deste que é o

mais importante trabalho de turismo arqueológico no Brasil.

Para a elaboração de propostas ou planos de turismo arqueológico, o plano

diretor de desenvolvimento turístico arqueológico do Piauí (2000), apresentou

algumas condicionantes que nos parecem extremamente oportunas :

1) preparação dos sítios arqueológicos, com a indispensáveis ações de

conservação;

2) implantação de estruturas para recepção dos visitantes;

3) construção e reparação de vias de acesso com o saneamento das suas

margens na maioria das vezes utilizadas indevidamente

4) implantação de serviços de saneamento básico, de assistência médica e de

comunicação, onde se fizerem necessários;

5) preparação de recursos humanos para monitoramento dos sítios e atendimento

ao público visitante;

6) ações de educação patrimonial, visando chamar a atenção para a importância

dos sítios arqueológicos, campanhas educativas, seminários , palestras,

ação ordenada de divulgação

7) estudos arqueológicos, projetos arquitetônicos com especificações próprias

para cada sítio

8) Acões de mobilização destinadas a atingir as instituições, organizações

não-governamentais e a sociedade em geral para uma parceria, através de

acordos , convênios, termos de cooperação, comodatos dentre outra formas de

cooperação;

9) Fundamental a ordenação legal das parcerias, envolvendo direitos e

obrigações, que se possível devem ser contempladas nas legislações federal

estaduais e municipais.

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Processo semelhante de operar propostas de desenvolvimento através do

turismo arqueológico tem sido liderada pelo 11ª Superintendência Regional do

IPHAN, no sentido de preservar os maiores sambaquis que ainda existem hoje no

Brasil, que estão localizados na região de Laguna. Desta forma, o Iphan esta

investindo num diagnóstico regional, a fim de propor medidas que possam levar a

uma política de preservação que busque a sua sustentabilidade.

Conclusões

Poderíamos começar estas conclusões lembrando o texto “A arqueologia de

baixo para cima” de Faulkner (2000: 21), que coloca que a arqueologia

tradicional tem seu acesso restrito a uma elite de auto-reconhecidos praticantes

e uma ideologia sofisticada e persuasiva de “proteção” ao patrimônio e de

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“padrões” profissionais tem sido formada para legitimar esta política. Esta

tentativa de universalizar as práticas tradicionais, de cima para baixo, é

politicamente antidemocrática.

Uma arqueologia “de baixo para cima” é proposta pelo autor, na qual o

trabalho de campo tem suas raízes na comunidade, sendo aberta a contribuições

voluntárias, organizadas de um modo não exclusivo, não hierarquizado, dedicado a

uma agenda de pesquisas na qual material, métodos e interpretação são

incentivados a interagir. Esta experiência, que o autor denomina “arqueologia

democrática”, foi posta em prática pelo autor em Sedgeford, Norfolk, entre 1996

e 1998, num projeto de salvamento arqueológico.

O autor considera que toda política versa sobe poder. Portanto, política

arqueológica versa sobre quem tem poder sobre os vestígios do passado. O Estado

não transfere o poder a comunidades locais ou grupos de interesse, os quais são

burocraticamente desencorajados a atuar no campo da arqueologia.

São os arqueólogos oficiais e os arqueólogos reconhecidos que

estabelecem as prioridades e as políticas relativas ao patrimônio.

De acordo com o autor, é preciso remover todos os desencorajamentos à

iniciativa e ao controle popular, vindos de cima, os quais frustram a

participação das massas e o desenvolvimento de pesquisas de campo localmente

orientadas.

No Projeto de Pesquisas Arqueológicas e Históricas de Sedgeford, conduzido

pelo autor, participaram ativamente entre 50 e 75 voluntários. A comunidade foi

encorajada a participar em todos os níveis, o que foi crucial em três sentidos:

primeiro, levou uma ampla parcela da população a apreciar o “contato com o

passado”; Segundo, o entusiasmo local assegurou a continuidade das pesquisas,

inclusive em termos de financiamento; Terceiro, a recuperação do patrimônio

tornou-se um processo vivo, no qual uma grande variedade de interesses e

perspectivas enriqueceu o processo de pesquisa arqueológica.

Assim, conclui o autor que não deve haver métodos estabelecidos em

arqueologia. Embora os responsáveis pela pesquisa, em Sedgeford, fossem

arqueólogos experientes, todos os participantes foram encorajados a contribuir

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com as discussões sobre os métodos a serem empregados e sobre os material

encontrados, inclusive quanto ao seu significado.

A experiência do autor mostrou que novas idéias surgiram, enriquecendo a

pesquisa, que deixou de ter uma postura positivista-empiricista, para adquirir

um caráter dialético, que reforçou no autor a importância de projetos baseados

nas comunidades locais.

A pesquisa das representações sociais sobre o entendimento dos

sítios arqueológicos mostrou alguns indicativos que merecem atenção na

formulação das políticas publicas de preservação do patrimônio arqueológico.

Nas questões relacionadas com o conhecimento do objeto fica claro

que a maioria das comunidades que vivem no entorno dos sítios arqueológicos tem

conhecimento da sua existência e mais que isso atribui valor simbólico e

importância aos sítios, chegando em alguns casos reconhecer o sentimento de

pertencimento. Isso remete necessariamente a um repensar o aporte de intervenção

dos arqueólogos junto à comunidade, corroborando a idéia até aqui defendida por

nos de possibilitar o engajamento da comunidade no processo da pesquisa

arqueológica desde o começo, reservando parte das energias da equipe de pesquisa

na interlocução constante com os membros da população local, no sentido de

perenizar o sentimento de pertença destas populações.

Aqui devemos avançar para conquistas mais ousadas que conquistem a

simpatia e o respeito das populações locais com relação ao seu entendimento dos

benefícios que podem advir da apropriação e acessibilidade por todos do

patrimônio arqueológico. Soares(2001) já sinalizava para a promoção da

acessibilidade em bens culturais enfatizando que ela cumpre as determinações da

constituições federal de 1988, quando consagra os direitos das pessoas

portadoras de deficiência e também proclama o direito a cultura, em seu artigo

215, seção II, da Cultura:" O Estado garantirá a todos o pleno exercício de

direitos culturais e acesso às fontes de cultura nacional..." Dentro desta

possibilidade invocando a constituição federal que apregoa que o meio ambiente

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deve ser ecologicamente equilibrado, sendo ele bem comum de uso de todo povo,

assim como o patrimônio cultural bens de alcance social , referência da memória

nacional, devemos incorporar de maneira destemida e efetiva a participação e a

acessibilidade dos chamados grupos vulneráveis2 na apropriação do patrimônio

arqueológico.

A incorporação dos grupos vulneráveis no processo do conhecimento e

participação das ações referentes a arqueologia, trará além da ampliação da

cidadania, uma grande visibilidade por parte da população e dos grandes veículos

de comunicação de massa. Esta avaliação prende se ao fato de que para encorporar

uma idéia na imaginário coletivo temos duas possibilidades: a constante,

sistemática, cotidiana, repetida e incansável dissiminação da informação através

dos mais amplos canais de comunicação de forma a atingir todos os rincões

existentes, ou dissiminação de informações seletivas que possibilitem provocar

emoções no ser humano. Apesar do triunfo do capitalismo, e constante afirmação

do individualismo, como coloca Guatarri (1992), "é preciso compreender, aceitar,

tolerar e até amar os outros. Trata-se de assumir a diferença. A solidariedade e

o calor humano tendem a desaparecer e, ao mesmo tempo, são indispensáveis à

vida humana."

Do ponto de vista prático, em que pese o fascínio do público pela

arqueologia monumental, a chance de existir programas governamentais ou não com

o objetivo de massificar patrimônio arqueológico não nos parece o caminho mais

factível.

Enquanto que trabalhar na incorporação dos grupos vulneráveis na

pesquisa arqueológica em seus mais variados sentidos pode com certeza fazer um

chamamento a solidariedade humana, e assim adquirir parceiros que até então não

vislumbravam a possibilidade de inclusão neste campo.

2 Grupos vulneráveis: é o conjunto de pessoas pertencentes a uma minoria, quepor motivação diversa, tem acesso, participação e/ou oportunidade igualitáriadificultada ou vetada, a bens e/ou serviços universais disponíveis para apopulação. São grupos que sofrem tanto materialmente, como social epsicologicamente os efeitos da exclusão, seja por motivos religiosos, de saúde,de opção sexual, etnia, cor de pele, por incapacidade física ou mental,gênero, dentre outras. (Definição do Autor)

17

Da barbárie á cidadania cultural

Se por um lado a constituição Federal de 1988, trouxe um aporte

significativo de normas que alcançaram um escopo fundamental de variáveis para

a construção da cidadania cultural, por outro , tornou-se necessário um

engajamento da sociedade organizada como forma dar sentido a essa nova ordem

jurídica.

Os segmentos que em primeira mão levantaram as bandeiras visando ocupar os

espaços destinados ao exercício da cidadania cultural emergem das cidades e

principalmente na esteira dos movimentos ambientalistas, ecológicos e sociais.

Muito embora o Brasil seja uma nação eminentemente cultural, ungida e

unida pela língua, o lugar destas manifestações, via de regra, ou foi sufocada

pelas elites dirigentes ou foi apropriada em forma de folclore ou estandartizada

e pasteurizada como produto de exportação, como é o caso do carnaval.

Talvez o exemplo mais universal de globalização da nossa cultura que ainda

guarda elementos centrais da nossa história seja a capoeira, uma manifestação da

cultura negra do Brasil que teve sua origem nas senzalas, aperfeiçoada nos

quilombos, perenizada nas favelas e hoje largamente praticada em academias em

todos os recantos do País, não por coincidência que não teve o fomento

governamental para a sua popularização pelo mundo. Muito ao contrário, até o ano

de 1947 era proibida a sua prática no Brasil, pois a referida manifestação era

tratada pela elite dirigente, como uma prática de malandros e desocupados. Hoje

é possível jogar capoeira, “esporte nacional”, em Nova York, Tóquio, Paris, Nova

Zelândia, e mais cantando em Língua Portuguesa as musicas que embalam a roda de

capoeira que retratam o cotidiano vivido.

A nossa perspectiva hoje de deixar a barbárie e caminhar na edificação

permanente da cidadania cultural, seguramente passa pela reinvenção da nossa

História e nesse contexto a arqueologia, e o patrimônio cultural arqueológico

tem papel de destaque, pois é concretamente uma fonte de conhecimento apta a

mudar paradigmas historicamente impregnados no senso comum, e nas

18

representações sociais. Nesta linha, só para exemplificar, podemos citar a

difusão de ensinamentos em livros escolares e suas escolas do “ dia do

descobrimento do Brasil”, conceito que veio tomar outro significado quando da

comemoração dos 500 anos da ocupação Portuguesa no Brasil, onde os subjulgados

se fizeram ouvir apesar da omissão da grande imprensa e da subserviëncia aos

governantes de plantão.

A cena antológica de um índio no meio da estrada a caminho do município de

Porto Seguro, na Bahia, pedindo por paz e clemência aos soldados da polícia

militar do referido estado, que literalmente repetiam a história de 500 anos

atrás, batendo e maltratando os legítimos donos daquele território. Devemos

aprender com estas lições, ou jamais seremos uma nação digna do nosso passado,

não teremos presente e o futuro será tão ruim, e tão desastroso como o passado.

A nossa barbárie se estende inevitavelmente à nossa memória, e a

destruição do nosso patrimônio arqueológico, por ser este, expressão

materializada das marcas do nosso passado, cuidamos também de apagá-lo, em todas

as suas formas e manifestações, pois não atendiam aos anseios vigentes.

Parafraseando Lutszemberger, se ainda hoje resta muita coisa do patrimônio

arqueológico dos indígenas e dos negros, certamente não foi pelo espírito de

conservação e preservação deste patrimônio, mas sim por incapacidade de

destruição ou desleixo de saque.

Do sul ao norte de Santa Catarina, durante décadas, até mesmo séculos, os

sambaquis foram utilizados pelo poder público federal estadual e municipal na

pavimentação de ruas e rodovias, chegando ao ponto da ligação rodoviária de

Joinville a São Francisco do Sul, no norte do Estado, ter seus mais de 40 Km

lastrados com material oriundo dos sítios arqueológicos do tipo sambaqui.

Afinal, a quem deveria importar a destruição de habitações, moradias e

cemitérios de bugres, como eram chamadas pelos colonizadores as antigas

populações indígenas? A quem deveria interessar o resgate de antigos quilombos e

comunidades remanescentes de quilombos, sendo esta uma prática de resistência?

Apesar de tudo, com todo o massacre a que foi submetida através dos tempos a

etnia negra resiste até os dias de hoje, incorporando transformações e dando

origem a guetos que são organizados em favelas em áreas urbanas, em recantos

19

rurais abandonados à própria sorte, onde as condições de sobrevivência são

precaríssimas

Hoje o comprometimento das elites dominantes, das elites intelectuais e

políticas ou quaisquer outras deve ser um objetivo de primeira grandeza, pois

nesse patrimônio reside também parte de sua história, de sua trajetória por mais

desconfortável que possa ser.

Há necessidade de se celebrar na sociedade um pacto para o futuro, e nisso

implica vontade política para viabilizar o presente e políticas públicas para

entender e resgatar o passado.

Da cidadania cultural á ética libertadora

A tradição da práxis arqueológica acadêmica no Brasil, via de regra, não

tem trazido na sua sistemática preocupação com a gestão totalizante do

Patrimônio Arqueológico. Nas mais diversas matizes graça algum tipo de aporte

que não contempla a democratização do conhecimento adquirido, em geral produzido

para pares, e pares específicos, notadamente sem nenhuma transversalidade.

Dentro deste contexto podemos destacar a ausência constante de

preocupações como a extroversão do conhecimento produzido ligado a musealização

do patrimônio arqueológico. Programas como o de uso múltiplos de acervo como o

idealizado por Morais(2000), para o acervo arqueológico do Vale do Rio Uruguai,

pesquisado pela arqueóloga Marilandi Goulart por mais de vinte anos,

contemplando programas de preservação com variáveis de sinalização,

interpretação, conservação e a fundamental participação da comunidade local,

ainda são raros. Estabelecer o envolvimento da comunidade local nas diversas

fases e ações executadas através do projeto arqueológico, deve ser um objetivo a

ser perseguido.

20

Por outro lado, esta mesma práxis arqueológica acadêmica que notadamente

esta fundada num discurso violento com matrizes do positivismo mais estreito, é

que tem emprestado legitimidade, aos mais recentes estudos de arqueologia

preventiva no âmbito dos estudos prévios de impactos ambientais, assim como em

quaisquer outros instrumentos de avaliação de impactos ambientais. Estes estudos

na maioria das vezes tem se demonstrado insuficientes para o correto

diagnóstico arqueológico, para o avanço da ciência arqueológica e completamente

inadequados em seus subsídios para a elaboração de políticas de gestão

arqueológica.

Dentro da nossa proposta, que passa pelo aporte transversal, é que

lançamos como instrumento estruturante o estudo das representações sociais sobre

o patrimônio arqueológico como forma de incorporar como ator principal da ação

de preservação a comunidade. Tarefa que se impõe e que traz consigo uma mudança

paradigmática, na medida que para isso, será necessário primeiro romper com o

pensamento cartesiano, e dele retirar os elementos que possam oferecer

instrumentos para uma radicalidade critica.

Mangueira (2001:83), assegura em seu texto sobre “Da questão do sujeito à

questão do pensamento”, onde trabalha com o pensamento criador de Giles Deleuze,

que “é inocência de um pensamento considerar que há possibilidade de falar ou

escrever- podem-se até usar outros meios- e considerar que o produto diz

respeito somente ao objeto de visada. Ou melhor, é inocência pensar que a obra é

uma representação do objeto a que se refere. O fato é que jamais uma obra fala

algo. Ela diz de si enquanto obra, enquanto duplo criado, criação e afirmação de

um novo mundo”

Explorar a questão do sujeito nos parece extremamente pertinente,

entendida enquanto pensamento criador, enquanto possibilidade... ainda em

Deleuze a questão do pensamento colocado por Mangueira, assumi uma conotação

inovadora ao colocar que os artistas , os cientistas e os filósofos são

pensadores, onde a disciplina de filosofia não possui o monopólio para definir

o que é pensamento. Da mesma forma que as ciências não podem dizer seja através

da psicologia ou da biologia ou dos cognitivos o que é o pensamento, pois elas

21

já são imagens do próprio pensamento, elas pressupõem princípios que a

fundamentam.

Da ética libertadora ao conhecimento-emancipatório

A partir de Santos (2000), vislumbramos uma nova saída para a

ciência pós-moderna ou trans-moderna , que é uma ciência assumidamente

analógica, que conhece o que conhece pior através do que conhece melhor. O texto

que sempre se debruçou a filosofia, é uma das analogias nutricionais com que se

construirá a paradigma emergente, o conhecimento sobre a sociedade, aí incluso

as sociedades arqueológicas e a natureza. Como catalizadores da progressiva

fusão das ciências naturais e das ciências sociais, os novos estudos

humanísticos ajudam-nos a procurar categorias globais de inteligibilidade,

conceitos quentes que derretem as fronteiras em que a ciência moderna dividiu e

encerrou a realidade.

Neste conceito, as representações sociais têm uma contribuição fundamental

para oferecer, no sentido de buscar alguns dos elementos constitutivos que vão

formar o novo paradigma emergente, aquilo que Santos (op. Cit.), chamou de "o

conhecimento emancipatório".

O conhecimento emancipatório é o conhecimento local criado e disseminado

através do discurso argumentativo. Estas duas características (o caráter local e

o caráter argumentativo) são inseparáveis, visto que, não pode haver discurso

argumentativo dentro de comunidades interpretativas, os auditórios relevantes da

retórica.

Para podermos constituir o conhecimento emancipatório, como uma nova forma

de saber, temos de começar pelas representações inacabadas da modernidade, ou

seja, pelo princípio da comunidade e pela racionalidade estético-expressiva. Não

seriam as representações do patrimônio arqueológico uma representação inacabada

da modernidade, que desvinculada do caráter local, perdeu legitimidade e ficou

restrita a uma meia dúzia de iluminados, caindo assim na armadilha que a ciência

moderna havia conseguido romper (que eram os monopólios de interpretação, fossem

22

eles a religião, o estado, a família ou o partido). A ciência moderna travou

esta luta com enorme êxito e cujos resultados vão ser indispensáveis para se

criar o conhecimento emancipatório pós-moderno ou trans-moderno.

O fim dos monopólios de interpretação é um bem absoluto da humanidade.

Entretanto, SANTOS (op. cit.) adverte, a ciência moderna colonizou as formas de

racionalidade, destruindo assim o equilíbrio dinâmico entre regulamentação e

emancipação em detrimento desta, o êxito da luta contra os monopólios de

interpretação acabou por dar lugar a um novo inimigo, tão temível quanto o

anterior, e que a ciência moderna não podia senão ignorar: a renúncia à

interpretação, a renúncia paradigmática patente no utopismo automático da

tecnologia e também na ideologia e nas práticas consumistas.

Das novas formas de agir

Do ponto de vista operacional, apontamos para a necessidade urgente

de fortalecimento das instâncias administrativas que respondem pela preservação

do patrimônio arqueológico, notadamente, é preciso não só emprestar agilidade ao

IPHAN, mas também apostar numa política de multiplicação de parcerias de forma a

fortalecer os entes federativos que devem ser co-responsabilizados nesta tarefa.

Ao Iphan cabe o seu fortalecimento enquanto instituição prestadora

de serviços públicos, na defesa da cidadania cultural. O tema aqui apresentada

mostra a necessidade imperativa de uma maior promoção e aparelhamento da

instituição no tocante ao cumprimento das suas responsabilidades relativas a

proteção, preservação e gestão do patrimônio arqueológico. A normalização das

políticas públicas de proteção e gestão do patrimônio arqueológico, devem ser

urgentes e vir acompanhadas de uma descentralização dos procedimentos, como

forma de aproximar e comprometer mais as unidades descentralizadas do IPHAN com

a variável arqueológica do patrimônio cultural.

A interface interinstitucional precisa ganhar fôlego e se

efetivar não só como política, mas como práxis cotidiana, afim de criar

mecanismos de distenção, para a solução de conflitos que acontecerão a partir da

23

nova normalização, e problemas advindos da própria condução do processo de

gestão dos bens públicos.

Podemos destacar como o espírito renovador a portaria IPHAN n° 230,

publicada no Diário Oficial da União(D.O.U.) em 17 de dezembro de 2002, que

estabeleceu os procedimentos arqueológicos a serem efetuados no processo de

licenciamento ambiental de empreendimentos potencialmente causadores de impacto

sobre a base dos recursos do Patrimônio Cultural Arqueológico.

Ao abrir novos caminhos no campo da normalização, e igual

contrapartida deverá ser executada nas questões de acessibilidade física e

social, em especial aquelas que vão valorizar os grupos vulneráveis, como os

negros, índios, mulheres, gays, dependentes químicos, ex-presidiários,

deficientes físicos e mentais, crianças de rua, favelados, imigrantes,

prostitutas dentre outros, a arqueologia estará dando um passo longo e largo em

direção ao futuro, em transformar aquilo que foi previlégio de poucos em

verdadeiro instrumento de educação e cidadania.

Os estudos das representações sociais demonstraram que se em

regiões de atuação de vários pesquisadores, inclusive internacionais, como é a

região estudada no litoral sul de Santa Catarina, aonde se localizam sítios de

grande visibilidade quanto ao seu volume e visualização, como é o caso dos

sambaquis, ainda existem um grande contigente da população que atribui a

formação dos sítios arqueológicos à natureza, e é urgente, que a partir de agora

os projetos de arqueologia devam propor programas alternativos de pesquisa e

comunidade. O viés da educação patrimonial, representações sociais e a pesquisa

arqueológica com a participação de grupos vulneráveis, enseja uma transformação,

que busca um novo paradigma para a ciência da pós-modernidade.

A comunidade arqueológica urge o enfrentamento das antigas formas de

ver e fazer arqueologia, numa nação que grita por justiça, conhecimento,

cidadania e emancipação. Esta mudança de postura tão necessária, acena para

24

parcerias entre o poder público, sociedade e comunidade científica, sem a qual

todo o esforço corre o risco de se tornar apenas mais uma frustração, entre

tantas que já convivemos.

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