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Biblioteca escolar e a aplicação da proposta da competência em informação no ensino fundamental

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M. L. Mata, H. C. Silva 28 CRB-8 Digital, São Paulo, v. 1, n. 3, p. 28-39, dez. 2008 | http://www.crb8.org.br/ojs/crb8digital Artigos Biblioteca escolar e a aplicação da proposta da competência em informação no ensino fundamental Marta Leandro da Mata Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação pela UNESP/ Marília Helen de Castro Silva Doutora em Letras pela UNESP/Araraquara Docente da graduação e da Pós-Graduação da UNESP/Marília Resumo: A competência em informação visa o domínio do universo informacional, possibilitando um aprendizado independente e que sirva para a resolução de problemas. Pensando nisso, desenvolvemos atividades junto a doze alunos da 5ª série do ensino fundamental de uma escola da rede pública de Marília SP e que apresentavam dificuldade de aprendizagem. A aplicação das atividades foi dividida em módulos visando à capacitação das seguintes habilidades: identificar, caracterizar e diferenciar os diversos tipos de fontes de informação para a realização de pesquisas escolares e de interesse pessoal e fazer busca em mais de uma fonte para a realização de atividades de pesquisa escolar. Ao término de cada módulo foi aplicada uma avaliação. Podemos concluir que as atividades possibilitaram aos participantes adquirirem as habilidades informacionais almejadas e a iniciação no processo de competência informacional. Também contribuímos para a mudança de paradigma dos participantes em relação à biblioteca e às fontes de informação. Verificamos que a proposta de Kuhlthau é possível de ser adaptada e utilizada à realidade brasileira em escolas da rede pública de ensino fundamental. Palavras-chave: Competência em Informação; Biblioteca Escolar; Ensino Fundamental. 1 INTRODUÇÃO A sociedade da informação ou do conhecimento caracteriza-se pela multiplicidade de informações, pela aceleração dos seus processos de produção e de disseminação, tornando-se necessário preparar cidadãos capazes de selecionar, avaliar, interpretar e utilizar as fontes de informação habilmente, conhecendo seus mais variados suportes e formatos. Essas habilidades informacionais podem ser denominadas de competência em informação, que de acordo com Dudziak (2003, p. 28) é “[..] o processo contínuo de internalização de fundamentos conceituais, atitudinais e de habilidades necessários à compreensão e interação permanente com o universo informacional e sua dinâmica, de modo a proporcionar um aprendizado ao longo da vida”. A busca pela formação de cidadãos competentes no uso da informação deve ser iniciada na pré-escola, acentuando-se no período do ensino fundamental, fase introdutória dos educandos ao ambiente da biblioteca escolar e com as fontes de informação, sendo o período propício para a realização da instrução da competência em informação. A educadora norte-americana Carol C. Kuhlthau desenvolveu a obra Como usar a biblioteca na escola, que se fundamenta nos estágios cognitivos de Jean Piaget e
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M. L. Mata, H. C. Silva 28

CRB-8 Digital, São Paulo, v. 1, n. 3, p. 28-39, dez. 2008 | http://www.crb8.org.br/ojs/crb8digital

Artigos

Biblioteca escolar e a aplicação da proposta da competência em informação no ensino fundamental Marta Leandro da Mata Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação pela UNESP/ Marília

Helen de Castro Silva Doutora em Letras pela UNESP/Araraquara Docente da graduação e da Pós-Graduação da UNESP/Marília

Resumo: A competência em informação visa o domínio do universo informacional, possibilitando um

aprendizado independente e que sirva para a resolução de problemas. Pensando nisso, desenvolvemos atividades junto a doze alunos da 5ª série do ensino fundamental de uma escola da rede pública de Marília – SP e que apresentavam dificuldade de aprendizagem. A aplicação das atividades foi dividida em módulos

visando à capacitação das seguintes habilidades: identificar, caracterizar e diferenciar os diversos tipos de fontes de informação para a realização de pesquisas escolares e de interesse pessoal e fazer busca em mais de uma fonte para a realização de atividades de pesquisa escolar. Ao término de cada módulo foi aplicada uma

avaliação. Podemos concluir que as atividades possibilitaram aos participantes adquirirem as habilidades informacionais almejadas e a iniciação no processo de competência informacional. Também contribuímos para a mudança de paradigma dos participantes em relação à biblioteca e às fontes de informação. Verificamos que

a proposta de Kuhlthau é possível de ser adaptada e utilizada à realidade brasileira em escolas da rede pública de ensino fundamental.

Palavras-chave: Competência em Informação; Biblioteca Escolar; Ensino Fundamental.

1 INTRODUÇÃO

A sociedade da informação ou do conhecimento caracteriza-se pela multiplicidade de

informações, pela aceleração dos seus processos de produção e de disseminação,

tornando-se necessário preparar cidadãos capazes de selecionar, avaliar, interpretar e

utilizar as fontes de informação habilmente, conhecendo seus mais variados suportes e

formatos.

Essas habilidades informacionais podem ser denominadas de competência em

informação, que de acordo com Dudziak (2003, p. 28) é “[..] o processo contínuo de

internalização de fundamentos conceituais, atitudinais e de habilidades necessários à

compreensão e interação permanente com o universo informacional e sua dinâmica, de

modo a proporcionar um aprendizado ao longo da vida”.

A busca pela formação de cidadãos competentes no uso da informação deve ser iniciada

na pré-escola, acentuando-se no período do ensino fundamental, fase introdutória dos

educandos ao ambiente da biblioteca escolar e com as fontes de informação, sendo o

período propício para a realização da instrução da competência em informação.

A educadora norte-americana Carol C. Kuhlthau desenvolveu a obra Como usar a

biblioteca na escola, que se fundamenta nos estágios cognitivos de Jean Piaget e

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consiste em um programa de atividades progressivo, visando capacitar crianças e jovens

para acessar, avaliar e utilizar os diversos recursos informacionais, em suportes

impressos ou eletrônicos (KUHLTHAU, 2006). Esta proposta serviu como base para a

pesquisa por nós desenvolvida.

Tendo como enfoque a competência em informação voltada para a educação (DUDZIAK,

2003), o estudo aqui relatado é parte de uma pesquisa do Núcleo de Ensino da UNESP

de Marília desenvolvida com alunos de 5ª série do ensino fundamental de uma escola da

rede pública de ensino da cidade de Marília-SP, que resultou, além do relatório de

pesquisa (MATA; SILVA, 2006), em um Trabalho de Conclusão de Curso de

Biblioteconomia (MATA, 2006) o qual deu origem a este artigo.

2 CONDIÇÕES IDEAIS PARA A PRÁXIS DA BIBLIOTECA ESCOLAR

A biblioteca escolar, por definição, encontra-se instalada em escolas dos vários níveis de

formação. Ela deve ser inserida em local iluminado, arejado, compatível com o número

de alunos da escola, composta de produtos e serviços para que tenha um mínimo de

adequação ao ambiente em que se encontra e também para proporcionar conforto e

estabilidade, visando atrair os seus usuários. Segundo Santos (1989, p. 101), “[...] os

componentes essenciais para uma biblioteca são: acervo, equipamento, pessoal

capacitado e especializado e, por último, entrosamento direção – professores –

bibliotecário”, acredito então que se deve refletir sobre alguns destes pontos.

É desejável que os materiais sejam bastante variados e estejam organizados de modo

diferenciado do que nas bibliotecas para os adultos. Isto se justifica porque o público

deste tipo de biblioteca é bastante heterogêneo, abrangendo desde as crianças que

ainda não são alfabetizadas, até aqueles que devem estar aptos a desenvolverem

pesquisas escolares e a utilizar a biblioteca e outros recursos informacionais com

autonomia. Além disso, a biblioteca deve oferecer um ambiente agradável a fim de que a

criança possa desenvolver um conceito positivo em relação a ela e se sentir à vontade

ao freqüentá-la (ROVÍLSON, 2006).

Não é somente a estrutura física que compõe a biblioteca, mas também de pessoal

capacitado para exercer o cargo, como o bibliotecário. Segundo o Manifesto da

UNESCO (1999, p. 3) “[...] o bibliotecário escolar é o membro profissionalmente

qualificado, responsável pelo planejamento e gestão da biblioteca escolar”. Este

profissional possui conhecimento para manter a estrutura organizacional da biblioteca

segundo as técnicas biblioteconômicas, para questões de gerenciamento. Além disso,

pode criar projetos e/ou atividades para atrair os usuários para o ambiente e, deve estar

integrado ao projeto pedagógico da escola, fazendo parte das discussões e elaboração

sobre o mesmo (MATA, 2006).

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Para obter estes recursos, que são o mínimo que uma biblioteca escolar (BE) pode

oferecer aos seus usuários, é necessário ter apoio financeiro. Os governos federal,

estadual e municipal devem destinar uma verba para as bibliotecas escolares. Segundo

Macedo (2005, p. 210) “[...] ao Estado e às outras instâncias governamentais regionais e

locais [...] cabe a responsabilidade do oferecimento de mecanismos orçamentários para

o funcionamento da biblioteca escolar para todos”. A disponibilização e compra de

acervos não tem sido suficiente para fazer com que as bibliotecas escolares funcionem a

contento. A proposta da biblioteca escolar é bem mais abrangente.

Segundo o Manifesto da UNESCO (1999, p. 1) a missão da biblioteca escolar é “[...]

promover serviços de apoio à aprendizagem e livros aos membros da comunidade

escolar, oferecendo-lhes a possibilidade de se tornarem pensadores críticos e efetivos

usuários da informação, em todos os formatos e meios”. O que a missão pressupõe é

que a BE ofereça assistência ao aluno em relação à sua aprendizagem, por isso deve-se

disponibilizar materiais em diversos suportes para que os alunos conheçam as diversas

fontes de informação e adquiram habilidades como a localização, a avaliação e a

utilização, de modo que satisfaça suas necessidades (para resolução de problemas).

Para tanto é necessário um profissional capacitado para mostrar os caminhos.

Em relação aos objetivos da biblioteca escolar, o Manifesto da UNESCO (1999, p. 3)

enfatiza aspectos voltados, de um modo geral, para a competência em informação:

“apoiar e intensificar a consecução dos objetivos educacionais

definidos na missão e no currículo da escola;

desenvolver e manter nas crianças o hábito e o prazer da leitura e

da aprendizagem, bem como o uso dos recursos da biblioteca ao

longo da vida;

oferecer oportunidades de vivências destinadas à produção e ao

uso da informação voltada ao conhecimento, à compreensão, à

imaginação e ao entretenimento;

apoiar todos os estudantes na aprendizagem e na prática de

habilidades para avaliar e usar a informação, em suas variadas

formas, suportes ou meios, incluindo a sensibilidade para utilizar

adequadamente as formas de comunicação com a comunidade

onde estão inseridos;

prover acesso em nível local, regional, nacional e global aos

recursos existentes e às oportunidades que expõem os aprendizes

a diversas idéias, experiências e opiniões;

organizar atividades que incentivem a tomada de consciência

cultural e social, bem como de sensibilidade;

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trabalhar em conjunto com estudantes, professores,

administradores e pais, para o alcance final da missão e dos

objetivos da escola;

proclamar o conceito de que a liberdade intelectual e o acesso à

informação são pontos fundamentais à formação de cidadania

responsável e ao exercício da democracia;

promover leitura, recursos e serviços da biblioteca escolar na

comunidade escolar e ao seu redor.”

Segundo Martucci (2005, p.187), os objetivos da biblioteca escolar estabelecidos no

Manifesto “[...] enfocam o desenvolvimento do prazer da leitura, da aprendizagem e do

uso da biblioteca ao longo da vida, o que inclui o domínio das habilidades de acesso,

avaliação e uso da informação”. Os objetivos do Manifesto parecem estar bem claros e

definidos, bastando ele servir de exemplo e ser seguido pelas bibliotecas escolares do

mundo.

A biblioteca escolar tem imensa importância e contribuição para a sociedade. No entanto,

precisa que as pessoas vejam-na com outros olhos, observando seu real valor. É preciso

criar projetos educacionais amplos, como os projetos da competência informacional.

3 A BIBLIOTECA ESCOLAR E A COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO

O fenômeno da Sociedade da Informação, na qual a informação tem valor incontestável,

e com o desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação, as barreiras

locais, regionais, nacionais e mundiais se potencializaram no que concerne à

transmissão da informação. De acordo com Martucci (2005, p.185), “[...] a sociedade da

informação é um fenômeno global com marcante dimensão social, em virtude do seu

elevado potencial em promover a integração, reduzindo distâncias entre as pessoas e

aumentando o seu nível de informação”.

Neste cenário, é importante que todos os indivíduos tenham acesso à informação, já que

dela se constitui a sociedade em que vivemos. O indivíduo que não fizer parte dela

tornar-se-á excluído de todo sistema, pois a integração descrita por Martucci (2005) só

ocorre quando todos os indivíduos têm acesso aos meios difusores da informação.

A biblioteca escolar pode ser um dos maiores veículos de transmissão da informação

para a fase inicial de letramento e conscientização de crianças e jovens do país. É

através dela que qualquer barreira informacional deve ser quebrada, sendo que o

conhecimento tornou-se hoje um dos principais fatores de superação de desigualdade;

logo, a universalização da biblioteca escolar ajudará a garantir a todos o acesso

eqüitativo à informação e aos benefícios que podem advir da inserção no país na

sociedade da informação (MATA, 2006).

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A competência informacional é um dos meios norteadores para habilitar os indivíduos a

usarem a informação, além de que “[..] o uso do termo [competência informacional] no

âmbito escolar é resgatado por estar ligado aos processos cognitivos apresentados na

aprendizagem” (QUEIROZ, 2006, p. 30).

O desenvolvimento de projetos de competência informacional na comunidade escolar,

por meio da biblioteca, possibilita que o aluno seja formado como usuário da informação

em passos gradativos para buscar, entender, organizar, interpretar, avaliar, utilizar e

comunicar a informação. Não significa que seja um processo de aquisição somente de

habilidades formais de busca em catálogos e ferramentas eletrônicas, mas também sirva

de mola propulsora para mudança de atitude a respeito da informação, do conhecimento,

da preparação do escolar para a resolução de problemas e tomada de decisões. O que

se espera é o desenvolvimento do desejado espírito crítico e criativo do estudante no

decorrer da vida toda (MACEDO, 2005).

Para a concretização deste propósito, a biblioteca escolar deve estar integrada às

atividades desenvolvidas em sala de aula pelo professor, pois a integração ao projeto

pedagógico é fundamental para que os recursos disponíveis sejam adequadamente

direcionados às necessidades curriculares da instituição, inserida e integrada nesse

processo de construção do conhecimento.

A educação do aluno deve ser baseada nos recursos informacionais, por isso há uma

necessidade da participação do bibliotecário, professores e demais membros da equipe

pedagógica da escola para disponibilização das informações através dos melhores

recursos disponíveis pela mesma, além dos outros fatores, pois esta integração agiliza

todo o processo de ensino-aprendizagem. De acordo com Queiroz (2006, p. 30) “[...] a

Information Literacy contribui para uma nova concepção de biblioteca escolar, bem como

para mudar a visão da biblioteca na escola começando com a participação, em função

da sua natureza educativa, desde a elaboração do projeto pedagógico”.

A competência em informação é posta como um desafio para a biblioteca escolar, “[...]

ela é desafiadora a transformar-se de mero repositório de informação para constituir-se

em uma organização e espaço aprendente (sic), uma vez que a aprendizagem ocorre

por toda a vida” (QUEIROZ, 2006, p. 27).

Sendo a competência em informação um conceito bastante abrangente que visa, dentre

os propósitos mencionados, formar habilidades para o uso efetivo da informação, a

biblioteca escolar se torna o cenário ideal para iniciar estas atividades de competência

informacional devido à extensão que pode alcançar nesta comunidade. Por isso,

consideramos que este tema deve ser pensado mais seriamente pelo bibliotecário, na

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implantação de um projeto de competência em informação nas bibliotecas escolares

brasileiras, assim como já vem ocorrendo em muitos países, nos quais existem vários

projetos deste tipo. Este artigo apresenta o relato de um projeto experimental sobre esta

temática, conforme se verá a seguir.

4 METODOLOGIA

Tomamos como base fundamental nesta pesquisa a proposta de Carol Kuhlthau (2004),

que é apresentada na obra Como usar a biblioteca na escola, que foi adaptada por um

grupo de pesquisadores da Escola de Ciência da Informação da UFMG. No livro são

propostas atividades visando que o aluno adquira algumas habilidades. São

recomendadas de acordo com a série que o aluno estiver cursando e a sua faixa etária.

Fundamentando-se nesta proposta, foram realizadas atividades junto a um grupo de

alunos do ensino fundamental de uma biblioteca escolar. Os participantes desta

pesquisa eram doze alunos das seis turmas de 5ª série oferecidas no período vespertino

por uma escola da rede pública de ensino da cidade de Marília – SP, onde foi

desenvolvida a pesquisa.

As atividades abordavam os diferentes recursos informacionais da Biblioteca escolar.

Além disso, contou-se com o auxílio de materiais da Biblioteca Interativa do Centro de

Estudos da Educação e da Saúde1 (CEES).

Inicialmente, aplicou-se um questionário aos participantes da pesquisa para sua

caracterização e verificação de sua vivência com fontes de informação, bibliotecas e

práticas de busca e uso da informação, o qual continha questões de múltipla escolha e

questões abertas. Em seguida, foi desenvolvido um programa de instrução de

competência em informação, visando o ensino das seguintes habilidades: identificar,

caracterizar e diferenciar os diversos tipos de fontes de informação para a realização de

pesquisas escolares e de interesse pessoal; obter informação utilizando diferentes tipos

de fontes de informação; fazer buscas em mais de uma fonte para a realização de

atividades de pesquisas escolar. O ensino de cada recurso informacional e das

habilidades apropriadas referentes aos mesmos foi ministrado em um módulo

correspondente.

Realizamos encontros semanais entre os membros da equipe do projeto (a pesquisadora,

aluna do 4º ano do curso de Biblioteconomia e uma colaboradora, aluna do 2º ano do

curso de Pedagogia) e os participantes, uma vez por semana, com duração de uma hora

e vinte minutos, durante um período de seis meses. As atividades eram realizadas em

uma sala de aula ou na biblioteca, durante o período de aula. Os professores liberavam

1 A Biblioteca Interativa é um projeto de extensão que oferece variados recursos informacionais e

está inserida na Unidade Auxiliar da UNESP Campus de Marília, o CEES.

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os alunos para a participação no projeto. As instrutoras buscavam os alunos na sala de

aula. A participação da colaboradora ocorria durante a realização da atividade,

auxiliando os alunos em suas dúvidas.

A Biblioteca da escola era composta por diversos tipos de livros, revistas, coleção de

referência, dentre outros, possuindo um acervo rico e diversificado para os alunos. No

entanto, os livros não eram organizados de forma adequada, não possuía um sistema de

classificação, foram separados em estantes por assunto e organizados de acordo com a

ordem de chegada. Revistas de contexto geral e especializadas para crianças eram

adquiridas através de assinatura. Uma professora readaptada era responsável pela

biblioteca.

Para a avaliação da eficácia das atividades desenvolvidas, foram conduzidas avaliações

ao final de cada módulo do procedimento. Os dados obtidos, ao final do módulo I, II e III,

foram analisados para verificar se os estudantes adquiriram as habilidades

informacionais.

Os alunos que fizeram parte da pesquisa foram indicados pela coordenadora pedagógica

da escola. O critério de escolha utilizado foi o relato dos professores sobre a queixa de

dificuldade de aprendizado dos alunos. Os participantes da pesquisa eram, na maioria,

do sexo masculino com 91,3% e apenas 8,3% do sexo feminino.

A faixa etária dos participantes variou entre 11 e 15 anos de idade, sendo que oito

participantes possuíam 11 anos, três tinham 12 anos e apenas um possuía 15 anos.

Este último desistiu da escola durante a realização do projeto e foi eliminado da pesquisa

por não ter completado a participação no programa.

A principal diferença entre a proposta da Carol Kuhlthau e as que foram desenvolvidas

na pesquisa aqui apresentada é que ela propõe que as atividades referentes aos

diversos recursos informacionais sejam aplicadas ao longo das séries correspondentes a

todo o período do ensino fundamental e, em nossa pesquisa – pensando que os alunos

participantes desta atividade já estão na 5ª série e, supõe-se não conheciam e nem

sabiam como utilizar os recursos informacionais – propomo-nos a aplicar algumas das

atividades previstas desde o início do programa, que é voltado para a 1ª série do ensino

fundamental até a 5ª série – que é a fase de escolaridade dos participantes. Deste modo,

separamos as atividades referentes a três tipos de fonte, a saber: o livro, os periódicos

(revistas e jornais), e obras de referência. Foram criados módulos específicos para cada

uma delas, conforme segue.

Módulo I: Conhecendo e usando o livro

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Este é o primeiro módulo, no qual trabalhamos com o livro, apresentando a sua estrutura

e suas características para que os participantes conhecessem esta fonte de informação

e aprendessem a utilizá-la. Para desenvolver habilidades previstas no módulo I foram

realizadas as seguintes atividades:

Atividade 1: Elementos do livro, descrição das partes do livro e sua finalidade

Atividade 2: Caça-palavras

Atividade 3: Charada

Atividade 4: Construção do “livrão”

Atividade 5: Avaliação final sobre os elementos do livro

Módulo II: Conhecendo e utilizando as revistas e jornais

Esta atividade foi realizada para que as crianças se familiarizassem com as revistas e

com os jornais, fixando-se a idéia de que a biblioteca possui outros materiais além de

livros e para que conhecessem as características e funções desta fonte – por exemplo,

que possuem caráter informativo, que são fontes de informação corrente, dentre outras.

Para desenvolver habilidades previstas no módulo II foram realizadas as seguintes

atividades:

Atividade 1: Descrição da revista

Atividade 2: Descobrir partes da revista

Atividade 3: Associando as informações da revista

Atividade 4: Construindo uma revista

Atividade 5: Comparação de revistas

Atividade 6: Avaliação final sobre revistas

Atividade 7: Descrição dos jornais

Atividade 8: Avaliação final sobre jornais

Módulo III: Conhecendo e usando a coleção de referência

Neste módulo mostramos os outros tipos de materiais existentes na biblioteca, como a

coleção de referência, e quais as suas funções e suas finalidades. Fazem parte da

coleção de referência, por exemplo, as enciclopédias e os dicionários, que são utilizadas

por alunos, normalmente, para a realização da pesquisa escolar. Um dos propósitos

desta atividade era habilitar os participantes a localizar verbetes dentre as enciclopédias

e dicionários e diferenciar a coleção de referência da coleção geral. Foram realizadas as

seguintes atividades:

Atividade 1: Usando os dicionários

Atividade 2: Avaliação final sobre os dicionários

Atividade 3: Usando as enciclopédias

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Atividade 4: Procurando informações da enciclopédia

Atividade 5: Avaliação final sobre as enciclopédias

5 RESULTADOS

Caracterização da relação dos sujeitos com a biblioteca e com as fontes de

informação

Os dados sobre a vivência dos alunos com o ambiente da biblioteca e sobre a utilização

dos recursos informacionais foram coletados através de um questionário que antecede o

projeto de instrução de competência em informação. A maioria dos participantes (58%)

tinha o hábito de ler ou liam às vezes (42%). Quanto ao tipo de material de leitura, eles

apontaram que costumavam ler gibis, livros, revistas, jornais e cartazes, nesta ordem de

preferência. A metade dos participantes afirmou que freqüentava bibliotecas,

principalmente a da escola, antes de participarem do projeto. O tipo de atividade que

costumavam realizar era: leitura, pesquisa escolar e empréstimos, nesta ordem.

Perguntamos que tipo de fonte de informação eles costumavam utilizar para realizar

suas pesquisas escolares. A grande maioria (58%) não respondeu esta questão.

Aqueles que responderam indicaram usar a internet e a biblioteca, nesta ordem.

Percebe-se principalmente por este último resultado que eles têm pouco contato com as

fontes de informação e, isto se deve ao desconhecimento dos recursos informacionais

existentes para auxiliá-los. Os participantes também relataram não fazer uso da

enciclopédia para a realização da pesquisa escolar, nem dos jornais, nem das revistas;

não costumavam buscar sinônimos das palavras nos dicionários para sanar dúvidas.

Provavelmente não sabiam como utilizar essas fontes para localizar a informação de que

necessitavam e não tinham interesse.

Análise das atividades realizadas nos módulos

No módulo I os participantes obtiveram a média de 81% de acertos, no módulo II a

média foi de 80% e no módulo III 83% de acertos. A média de assimilação das

habilidades informacionais se mantiveram estáveis durante os três módulos de

atividades desenvolvidas. Em relação à média individual de cada participante, houve

variação tanto em forma crescente quanto decrescente; cada um deles teve mais

facilidades e dificuldades devido às fontes de informação dos módulos.

Durante as atividades voltadas para o livro, desenvolvidas no módulo I, percebeu-se que

apenas um dos participantes teve dificuldade no manuseio e uso desta fonte. Ainda

assim, foi compreensível por ser o módulo introdutório de atividades. Neste período,

todos os participantes tiveram contato significativo com o ambiente da biblioteca,

conhecendo a biblioteca da escola, como ela está organizada e os materiais nela

disponíveis. Também foi explicado o seu funcionamento. O livro foi apresentado

enquanto um recurso informacional, suas partes e suas funções foram detalhadas.

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Ressaltamos que as atividades realizadas neste módulo tiveram caráter bem lúdico e

prático para que os participantes pudessem assimilar as habilidades informacionais.

O módulo II foi dedicado às atividades em torno das revistas e jornais e foi o módulo em

que a maioria teve maior dificuldade, apresentando um percentual menor de acertos nas

atividades. A principal delas era com relação à estrutura das revistas e ao sumário.

Quanto aos jornais, que não possuem sumário e têm apenas uma breve apresentação

das manchetes na página inicial e sua localização no interior dos cadernos, os

participantes tiveram mais facilidade para localizar informações e assimilar as suas

funções, se comparados com o desempenho na atividade com as revistas. O motivo

deve-se ao fato de terem trabalhado com material semelhante, isto é, as revistas,

anteriormente.

O último módulo III, que se refere aos dicionários e enciclopédias, os participantes

tiveram maior dificuldade em entender a função dos diversos tipos de dicionários –por

exemplo, o dicionário de literatura infantil – ainda mais porque variavam no modo como

eram organizados. Em relação aos dicionários mais tradicionais, como os de línguas, o

entendimento foi melhor. Quando trabalharam com a enciclopédia, obtiveram mais

facilidade e conseguiram assimilar as habilidades de identificação, organização e uso,

pois a atividade anterior com os dicionários reforçou a compreensão deste último, por

terem estrutura similar.

Considera-se, de um modo geral, que os participantes obtiveram um resultado de

aprendizagem positivo a respeito das fontes de informação trabalhadas em cada módulo,

uma vez que conseguiram identificar, caracterizar e diferenciar os livros, as publicações

seriadas e as obras de referência.

6 CONCLUSÕES

Na sociedade da informação, os indivíduos precisam ser competentes em informação e,

para isso, precisam de orientações para entender o universo informacional e avaliar

criticamente as informações. A introdução dessa pesquisa na escola contribuiu para o

início de uma mudança em relação ao modo de aprendizagem, possibilitando desse

modo a abertura de um espaço para a aplicação de projetos desse nível e a

conscientização dos professores de que os educandos estavam aprendendo através das

atividades para a melhoria na realização das atividades escolares.

Com o desenvolvimento do programa de instrução mostrou-se a importância, a estrutura

e a forma de organização da biblioteca, como, também, os materiais ali disponibilizados

e suas funções, contribuindo para uma mudança de paradigma dos participantes em

relação à biblioteca e às fontes de informação.

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Constata-se que os participantes estão habilitados para usar as fontes de informação

trabalhadas, como os livros, as revistas, os jornais, os dicionários e as enciclopédias.

Propiciou-se também a habilidade de trabalhar em conjunto com outras pessoas em um

ambiente de aprendizado, ouvindo e opinando.

Avaliamos, através desta, que é possível aplicar a proposta da pesquisadora norte-

americana na realidade brasileira com algumas adequações e com indivíduos que,

segundo relatos, possuíam dificuldade de aprendizagem.

Consideramos que as atividades possibilitaram aos participantes adquirir habilidades

informacionais e a iniciação no processo de competência informacional, que nada mais é

do que usar essas habilidades informacionais para o aprendizado independente e ao

longo da vida, procurando manter-se sempre atualizado e disposto a aprender. A

competência informacional ainda é um tema incipiente no Brasil e em diversos países,

mas cada vez mais os profissionais estão se atentando para este tema e para este

propósito que é habilitar o indivíduo a ser competente em informação.

As bibliotecas escolares e os bibliotecários precisam posicionar-se na sociedade da

informação, oferecendo as diversas fontes de informação para os educandos e

habilitando-os na sua utilização. Os membros da equipe da escola precisam estar

atentos aos processos de ensino-aprendizagem para contribuir com a formação de

cidadãos capazes de pensar de forma crítica para o convívio escolar e social. Para

descobrir oportunidades para a melhoria de vida pessoal e social, acarretando em

mudanças na comunidade em que vive. Consideramos que, além de discutir

conceitualmente a questão da competência informacional, já é tempo dos bibliotecários e

professores partirem para trabalhos de aplicação e avaliação, a fim de que esta proposta

seja de fato aperfeiçoada, pois a nosso ver ela tem muito a contribuir para autonomia

informacional dos usuários.

REFERÊNCIAS

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