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Capital intelectual: verdades e mitos

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41 CAPITAL INTELECTUAL: VERDADES E MITOS Revista Contabilidade Finanças - USP, São Paulo, n. 29, p. 41 - 54, maio/ago. 2002 Capital Intelectual:Verdades e Mitos 1 RESUMO Muito se tem comentado que os relatórios forneci- dos pela Contabilidade Financeira não retratam certas realidades das empresas atualmente, tendo em vista o fato de o valor contábil das ações estar muitas vezes abaixo do seu valor de mercado. Esse contraste entre os dois valores vem sendo identificado como Capital Intelectual e apresentado como um novo conceito de administração de empresas que conduz à necessidade de aplicação de novas estratégias, de nova filosofia de ges- tão e novas formas de avaliação do valor da empresa. Este trabalho evidencia a verdadeira relação exis- tente entre a Contabilidade e o Capital Intelectual. Desmistifica-se a novidade do conceito, pois com- prova-se que o capital Intelectual é parte integrante do Goodwill, conceito secularmente conhecido e estudado pela Contabilidade. Os elementos intangíveis sempre foram abordados pela Contabilidade e, da mesma for- ma, como nunca se desprezou a sua importância, nun- ca se subestimou a sua complexidade. Portanto, a Contabilidade não é falha na divulgação das informações por ela registradas. Deve-se entender a finalidade de cada uma das Demonstrações Contábeis, bem como os Princípios subjacentes a elas. A falta de conhecimento, por vezes, conduz a conclusões precipi- tadas e errôneas. Por outro lado, qualquer que seja o rótulo atribuído aos elementos intangíveis, que sempre fizeram parte das or- ganizações, entende-se e aceita-se que hoje, cada vez mais, o conhecimento e o gerenciamento desses elemen- tos são relevantes para a gestão das empresas, pois o momento atual é caracterizado pela ampla aplicação do recurso do conhecimento pelo homem, que se materializa em novas tecnologias, sistemas e serviços (entendidos como ativos intangíveis) que agregam valor às organizações. Palavras-chave: Capital Intelectual, Goodwill, Ati- vos Intangíveis, Sociedade do Conhecimento. ABSTRACT It has been said many times that the statements provided by Financial Accounting do not give a picture of certain realities of companies nowadays, considering the fact that, often, the accounting value of shares is below their market value.This contrast between the two values is being identified as Intellectual Capital and presented as a new concept of business administration that leads to the necessity of applying new strategies, a new management philosophy and new ways of company valuation. This article demonstrates the relation that actually exists between Accountancy and Intellectual Capital. The novelty of the concept is demystified since it is proven that Intellectual Capital constitutes a component part of Goodwill, a concept that has been known and studied by Accountancy for ages.The intangible elements have always been dealt with by Accountancy and, in the same way as their importance has never been disregarded, their complexity has never been underestimated. Therefore, Accountancy is not defective in its publication of the information it registers. The purpose of each of the Financial Statements must be understood, as well as the Principles on which they are built. Sometimes, the lack of knowledge leads to precipitated and erroneous conclusions. On the other hand, whichever the label attributed to the intangible elements, which have always been a part of organizations, it is understood and accepted that, nowadays, the knowledge about and administration of these elements are more and more relevant for company management, since the current time is characterized by the widespread application of the knowledge resource by man, which is materialized into new technologies, systems and services (understood as intangible assets) that add value to the organizations. Key words: Intellectual Capital, Goodwill, Intangible Assets, Knowledge Society. Maria Thereza Pompa Antunes Professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie Eliseu Martins Prof. Titular do Departamento de Contabilidade e Atuária – FEA-USP 1 Este trabalho foi apresentado no XVI Congresso Brasileiro de Contabilidade Goiânia/GO, em outubro de 2000. Recebido em agosto/2001
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41CAPITAL INTELECTUAL: VERDADES E MITOS

Revista Contabilidade � Finanças - USP, São Paulo, n. 29, p. 41 - 54, maio/ago. 2002

Capital Intelectual: Verdades e Mitos1

RESUMO

Muito se tem comentado que os relatórios forneci-dos pela Contabilidade Financeira não retratam certasrealidades das empresas atualmente, tendo em vista ofato de o valor contábil das ações estar muitas vezesabaixo do seu valor de mercado. Esse contraste entreos dois valores vem sendo identificado como CapitalIntelectual e apresentado como um novo conceito deadministração de empresas que conduz à necessidade deaplicação de novas estratégias, de nova filosofia de ges-tão e novas formas de avaliação do valor da empresa.

Este trabalho evidencia a verdadeira relação exis-tente entre a Contabilidade e o Capital Intelectual.

Desmistifica-se a novidade do conceito, pois com-prova-se que o capital Intelectual é parte integrante doGoodwill, conceito secularmente conhecido e estudadopela Contabilidade. Os elementos intangíveis sempreforam abordados pela Contabilidade e, da mesma for-ma, como nunca se desprezou a sua importância, nun-ca se subestimou a sua complexidade.

Portanto, a Contabilidade não é falha na divulgaçãodas informações por ela registradas. Deve-se entendera finalidade de cada uma das Demonstrações Contábeis,bem como os Princípios subjacentes a elas. A falta deconhecimento, por vezes, conduz a conclusões precipi-tadas e errôneas.

Por outro lado, qualquer que seja o rótulo atribuído aoselementos intangíveis, que sempre fizeram parte das or-ganizações, entende-se e aceita-se que hoje, cada vezmais, o conhecimento e o gerenciamento desses elemen-tos são relevantes para a gestão das empresas, pois omomento atual é caracterizado pela ampla aplicação dorecurso do conhecimento pelo homem, que se materializaem novas tecnologias, sistemas e serviços (entendidoscomo ativos intangíveis) que agregam valor às organizações.

Palavras-chave: Capital Intelectual, Goodwill, Ati-vos Intangíveis, Sociedade do Conhecimento.

ABSTRACT

It has been said many times that the statementsprovided by Financial Accounting do not give a picture ofcertain realities of companies nowadays, considering thefact that, often, the accounting value of shares is belowtheir market value. This contrast between the two values isbeing identified as Intellectual Capital and presented as anew concept of business administration that leads to thenecessity of applying new strategies, a new managementphilosophy and new ways of company valuation.

This article demonstrates the relation that actuallyexists between Accountancy and Intellectual Capital.

The novelty of the concept is demystified since it isproven that Intellectual Capital constitutes a componentpart of Goodwill, a concept that has been known andstudied by Accountancy for ages. The intangible elementshave always been dealt with by Accountancy and, in thesame way as their importance has never been disregarded,their complexity has never been underestimated.

Therefore, Accountancy is not defective in itspublication of the information it registers. The purpose ofeach of the Financial Statements must be understood,as well as the Principles on which they are built.Sometimes, the lack of knowledge leads to precipitatedand erroneous conclusions.

On the other hand, whichever the label attributed tothe intangible elements, which have always been a partof organizations, it is understood and accepted that,nowadays, the knowledge about and administration ofthese elements are more and more relevant for companymanagement, since the current time is characterized bythe widespread application of the knowledge resourceby man, which is materialized into new technologies,systems and services (understood as intangible assets)that add value to the organizations.

Key words: Intellectual Capital, Goodwill, IntangibleAssets, Knowledge Society.

Maria Thereza Pompa AntunesProfessora da Universidade Presbiteriana Mackenzie

Eliseu MartinsProf. Titular do Departamento de Contabilidade e Atuária – FEA-USP

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Revista Contabilidade � Finanças - USP, São Paulo, n. 29, p. 41 - 54, maio/ago. 2002

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INTRODUÇÃO

Verifica-se que nas últimas décadas vieramgradativamente ocorrendo mudanças na sociedadeque ora culminam num processo de globalizaçãomundial, com rápido avanço das tecnologias de pro-dução, informática e de telecomunicação, assim comoem outras transformações que sugerem novas for-mas de percepção e interpretação da sociedade comoum todo.

Esse período de gradativas mudanças na econo-mia mundial vem sendo apontado por muitos estudi-osos do assunto como o período de transição deuma Sociedade Industrial para uma Sociedade doConhecimento, pois aos demais recursos existen-tes, e até então valorizados e utilizados na produ-ção - terra, capital e trabalho –, junta-se o conheci-mento, o que altera, principalmente, a estrutura eco-nômica das nações e, sobretudo, a forma de valori-zar o ser humano.

A aplicação do conhecimento vem impactando,sobremaneira, o valor das organizações, pois amaterialização da utilização desse recurso, mais astecnologias disponíveis e empregadas para atuar numambiente globalizado, produze benefícios intangíveisque agregam valor às mesmas.

Esse conjunto de benefícios intangíveis denomi-nou-se Capital Intelectual. O aparecimento desse con-ceito conduz à necessidade de aplicação de novasestratégias, de uma nova filosofia de administração ede novas formas de avaliação do valor da empresaque contemplem o recurso do conhecimento.

Com relação à Contabilidade empresarial tradicio-nal, considera-se que um de seus principais objeti-vos iniciais tenha sido o de apurar o resultado econô-mico e financeiro de uma entidade, e ele continuaforte até hoje. Entretanto, muito se tem comentadonos últimos tempos que os relatórios fornecidos pelaContabilidade Financeira2 não retratam certas reali-dades das empresas, visto o valor contábil das açõesestar, muitas vezes, muito abaixo do seu valor demercado, sugerindo, por vezes, uma falha da Conta-bilidade em lidar com os novos valores da sociedade.

A fim de preencher tal lacuna, supostamente dei-xada pela Contabilidade, o Grupo Skandia3 desen-volveu um modelo para mensurar o Capital Intelectu-al, justificado como a razão da diferença entre o valorde mercado e o valor patrimonial das ações da em-presa. Para o Grupo Skandia, o Capital Intelectual veiocomo um novo conceito capaz de justificar essa dife-rença e o modelo, desenvolvido para mensurá-lo,como uma ferramenta gerencial eficaz para as em-presas que participam do novo cenário mundial, nacrença de que investimentos nos elementos que pro-duzem esse Capital geram resultados positivos amédio e longo prazos.

Partindo-se do princípio de que a aplicação do co-nhecimento nas organizações gera benefícios intan-gíveis que impactam o valor das mesmas, a questãoque se formula é: o que a Contabilidade vem fazendono sentido de mensurar esse valor para cumprir comeficácia a sua função de fornecer informações rele-vantes aos seus usuários?

Entende-se que a Contabilidade deva estar parti-cipando ativamente desse novo cenário e cumprindoseu papel de acordo com os objetivos pelos quaisexiste, dentro da visão de Hendriksen & Breda (1992,p. 52) de que “o desenvolvimento da Contabilidade foiestimulado pelas mudanças tecnológicas que foram,pelo menos, tão dramáticas quanto as dos nossosdias e nossa época.”

Entretanto, ao mesmo tempo em que se julgaque a Contabilidade não pode manter-se alheia aosacontecimentos externos ao ambiente empresari-al, defende-se que ela não pode entregar-se sofre-gamente a novos temas que suscitam polêmicas,prevêem revoluções e modelos que prometem sera panacéia para as questões concernentes à suaárea de estudo. Espera-se, antes, que, por meio daaveriguação e de análises criteriosas, e utilizando-se o método científico de pesquisa, levante ques-tões, responda a elas e, dessa forma, continue sefazendo ciência.

Assim sendo, o principal objetivo deste artigo é ode evidenciar a verdadeira relação existente entre aContabilidade e o Capital Intelectual no tocante à

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mensuração dos valores (ativos) intangíveis, por meiodo conceito do Goodwill. Primeiramente, entretanto,julga-se necessário comentar alguns aspectos dasmudanças que culminaram com a introdução do con-ceito de Capital Intelectual, bem como contextualizara Contabilidade na Sociedade do Conhecimento, rela-tivamente à sua função e aos seus objetivos.

A Sociedade Baseada no Conhecimento

Em 1968, portanto há 34 anos, Peter Drucker es-creveu “Uma Era da Descontinuidade” (1970, p.7-9),quando já percebia tendências que levariam ao queintitulou: A Sociedade do Conhecimento. Naquela oca-sião, Drucker apontou descontinuidades em quatroáreas, que vale destacar:

“1. Estão surgindo tecnologias genuinamente no-vas. É quase certo que elas criarão novasindústrias importantes e novos tipos de gran-des empresas e que tornarão, ao mesmo tem-po, obsoletas as grandes indústrias e empre-endimentos atualmente existentes. [...] As pró-ximas décadas da tecnologia lembrarão, maisprovavelmente, as últimas décadas do sécu-lo passado, quando nascia uma grande indús-tria baseada em nova tecnologia poucos anosapós o aparecimento de outra, e não farãolembrar a continuidade tecnológica e industri-al dos últimos cinqüenta anos.

2. Estamos diante de grandes mudanças na eco-nomia mundial. [...] O mundo tornou-se, emoutras palavras, um mercado, um centro decompras global.

3. A matriz política da vida social e econômicaestá mudando celeremente. A sociedade e anação de hoje são pluralistas.

4. Mas a mais importante das mudanças é aúltima. O conhecimento, nestas últimas dé-cadas, tornou-se o capital principal, o centrode custo e o recurso crucial da economia. Issomuda as forças produtivas e o trabalho; oensino e o aprendizado; e o significado doconhecimento e suas políticas. Mas tambémcria o problema das responsabilidades dos no-vos detentores do poder, os homens do co-nhecimento.”

As tendências percebidas por Drucker, em1968, hoje são uma realidade. Isto pode ser verifica-do por proeminentes autores especialistas no assun-to, como Alvin Toffler, Ikujiro Nonaka, Hirotaka Takeuchi,

Richard Crawford, Lester Thurow, James Brian Quinn,Robert Reich, entre outros. Cada um a seu modo re-conhece, denomina e justifica a sociedade atual, as-sumindo o seu grande referencial: o conhecimento.

Nonaka & Takeuchi (1997, p. 5) justificam a impor-tância do conhecimento para a sociedade atual, ci-tando Drucker: “Na nova economia o conhecimentonão é apenas um recurso, ao lado dos tradicionaisfatores de produção - trabalho, capital e terra - massim o único recurso significativo atualmente. [...] ofato de o conhecimento ter-se tornado o recurso, mui-to mais do que apenas um recurso, é o que tornasingular a nova sociedade.” Em outra obra, Drucker(1993, p.23) reconhece o recurso do conhecimentocomo essencial e os demais como restrições, poissem terra, mão-de-obra e capital, nem mesmo o co-nhecimento pode produzir.

Na mesma linha de raciocínio, assim se expressaToffler (apud Nonaka & Takeuchi, 1997, p.5): “O co-nhecimento passou de auxiliar do poder monetário eda força física à sua própria essência e é por issoque a batalha pelo controle do conhecimento e pelosmeios de comunicação está se acirrando no mundointeiro. [...] o conhecimento é o substituto definitivode outros recursos.”

Referindo-se especificamente às mudanças queo novo recurso está impondo às organizações, Quinn(1992, p. 241) comenta:

“Com raras exceções, o poder econômico e pro-dutivo de uma moderna corporação está maisna capacidade de serviços intelectual do quenos ativos tangíveis - terra, planta, equipamen-tos. Está no valor do desenvolvimento do co-nhecimento baseado nos intangíveis, comoknow-how de tecnologia, desenhos de produtos,marketing, compreensão das necessidades dosclientes, criatividade pessoal e inovação. [...]provavelmente três quartos do valor agregado aum produto derivam do conhecimento previamen-te embutido nele.”

Da mesma forma, Lévy & Authier (1995, p. 24)argumentam que, assim como os revolucionários daantigüidade preconizavam a reforma agrária e a parti-lha das terras e os da era industrial visavam à propri-edade dos meios de produção, hoje é sobre o conhe-cimento que repousam a riqueza das nações e a for-ça das empresas.

O importante a ressaltar dessas afirmações é quese atribui o nome de Sociedade do Conhecimento,porque o conhecimento é considerado fator de produ-ção, juntamente à terra, ao capital e ao trabalho, não

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como fator substituto dos demais, mas sim estabele-cendo-se uma relação de interdependência entre eles.A existência do recurso do conhecimento e a suaaplicação passam a ser fundamentais para a sua con-tinuidade e, como tão bem observou Drucker, o seusignificado precisa ser redimensionado.

Para a devida compreensão do significado do re-curso do conhecimento, deve-se fazer a distinçãoentre dois tipos de conhecimento apontados porNonaka & Takeuchi (1997, p.7;63): ConhecimentoExplícito e Conhecimento Tácito. O primeiro consis-te no conhecimento adquirido formalmente nas aca-demias, nos livros, periódicos etc. e é empregadocomo sinônimo de informação; o segundo consisteno processo em que o indivíduo, por meio dos co-nhecimentos adquiridos formalmente, mais a visãoque possui do mundo e que é impactada por seusistema de crenças e valores e experiências adqui-ridas, trabalha e utiliza a informação criando valor,ou seja, transformando seu conhecimento explícitoem tecnologia, novos produtos e serviços, sobres-saindo-se de alguma forma.

No meio empresarial, o conhecimento explícitopassa a ser utilizado como base para o desenvolvi-mento de novas habilidades, pois, sem estas, torna-se improdutivo. Constata-se que o acesso ao ensinoformal para obtenção do conhecimento explícito nãoé mais diferencial, pois a oferta desses profissionaisé grande. As empresas percebem que podem, nomínimo, manter-se eficientes com menos recursosfísicos e mão-de-obra especializada. Além disso, pas-sam a ser valorizados atributos como criatividade e aversatilidade, e não só a racionalidade.

Em relação à representatividade do trabalhadormanual na evolução das organizações, assim se ex-pressa Drucker (1993, p.20):

“ Quando Taylor começou a estudar o trabalho,nove entre cada dez trabalhadores faziam tra-balhos manuais, produzindo ou movimentandoobjetos; isso acontecia em manufatura, agricul-tura e transportes. [...] Quarenta anos atrás, nosanos 50, as pessoas empenhadas em produzirou movimentar objetos ainda constituíam a mai-oria em todos os países desenvolvidos. Em 1990,elas haviam encolhido para um quinto da forçade trabalho e em 2010 não serão mais que umdécimo. A Revolução da Produtividade transfor-mou-se em vítima do seu próprio sucesso.

Daqui em diante, o que importa é a produtivi-dade dos trabalhadores não-manuais. E issorequer a aplicação do conhecimento ao conhe-cimento.”

Aceitando-se o conhecimento como o novo fatorde produção, que vem aliar-se aos já existentes, ins-tala-se um período de transformações, cujos efeitosestão se espalhando mundialmente e alterando ossistemas político, social e econômico dos países quese encontram em tal estágio de desenvolvimento. Issoporque, embora as mudanças sejam hoje profundase perceptíveis, são contínuas mas nem sempre uni-formes. Dão-se de forma gradativa e diferenciada, deacordo com o grau de evolução econômica em que opaís se encontra. É de se ressaltar que no Brasil iden-tificam-se características de uma economia pós-in-dustrial (do conhecimento), industrial e, ainda, de sub-sistência, dependendo da região enfocada.

Em resumo, entre as principais conseqüênciasdo recurso do conhecimento para a sociedade nogeral, pode-se elencar as seguintes (ANTUNES,1999, p.10-33):

• a valorização do ser humano detentor do conhe-cimento;

• a localização dos recursos de produção não maiscomo fator determinante para a localização daprodução, pois a tecnologia e os transportes dis-poníveis resolvem essa questão;

• a materialização do conhecimento em tecnologiassubstituindo em parte, ou totalmente, a mão-de-obra no processo produtivo;

• a tendência acentuada para o crescimento dosetor de serviços, mais especificamente de en-tretenimento, softwares, serviços eletrônicos e,também, em pesquisas nas áreas debiotecnologia, cibernética etc.;

• os produtos consumindo menos recursos mate-riais e mais recursos intelectuais.

As conseqüências do recurso doconhecimento e da tecnologia para asorganizações

Os avanços tecnológicos percebidos atualmentepermeiam qualquer análise sobre as mudanças nasestruturas organizacionais; mais especificamente, osimpulsos em ritmo acelerado nos sistemas de infor-mação e de comunicação verificados nas duas últi-

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mas décadas. A tecnologia da informação e das tele-comunicações possibilitou a globalização da econo-mia. Esse novo cenário vem alterando, sobremanei-ra, o ambiente externo às organizações em termosgeográficos e produtivos.

O mercado de massa se desintegrou na medidaem que os clientes, mais conscientes de suas ne-cessidades e diante da diversidade de opções, pas-saram a exigir produtos e serviços que atendessemàs suas necessidades, diferentemente do comporta-mento apresentado após a Segunda Guerra Mundial,quando a produção em massa e padronizada tomoupulso para atender à escassez dos mais diversos pro-dutos à época.

Ao mesmo tempo, a concorrência aumentou sen-sivelmente, na medida em que produtos semelhan-tes são vendidos em diferentes mercados pelo mun-do, facilitados pelo término das barreiras comerciaise pela formação de blocos de comércio que estabele-cem bases competitivas distintas e, ainda, pela dimi-nuição do ciclo de vida dos produtos, o que impele asempresas a desenvolverem e lançarem no mercadoprodutos em tempo recorde.

Essa competição vem ameaçando as posiçõesgarantidas pelas empresas em décadas passadas,tornando urgente a aplicação do conhecimento e deknow-how tecnológico para se adaptarem às exigên-cias do novo mercado, da nova situação econômicae, assim, sobreviverem.

Brooking (1996, p. 1), ao analisar as mudançasimpostas às organizações atuais, conclui que a utili-zação da tecnologia da informação e das telecomu-nicações, e a necessidade de uma força de trabalhodependente da expertise e da tecnologia, estão le-vando as empresas a aplicar métodos e habilidadesmuito diferentes dos até então empregados paraacessarem seus consumidores e provê-los de bens eserviços.

A referida autora aponta os seguintes aspectos,frutos da aplicação do conhecimento e de tecnologia,como causas subjacentes ao desenvolvimento denovos métodos e habilidades indispensáveis para acontinuidade dos negócios:

• Criação de novos serviços: a tecnologia da in-formação, além de substituir os métodos manu-ais de trabalho, possibilitou a criação de novosserviços não possíveis anteriormente.Exemplificando, tem-se a movimentação de bi-

lhões de dólares nas bolsas de valores espalha-das pelo mundo, os serviços de cartões de cré-dito, reservas de vôos etc.

• Mudança no conceito de espaço físico e demercado: os empregados não necessitam es-tar concentrados fisicamente para a realizaçãodo trabalho, podendo acessar os clientes, ge-rentes e fornecedores via information highway.Da mesma forma, uma multinacional pode con-trolar toda a cadeia produtiva e reunir os váriosfatores de produção em nível internacional, semse comprometer com a produção em si, como éo caso da Nike, cuja produção é feita sob enco-menda em fábricas que pertencem a outras em-presas a partir de modelos desenhados por es-pecialistas nos Estados Unidos. Em termos demercado, a Internet tornou-se um mercado vir-tual, onde se realizam compras e vendas deprodutos e serviços, além de possibilitar o aces-so às informações de publicidade e propagan-da das empresas.

• Valorização da marca: as empresas precisamde um símbolo ao qual o cliente possa associá-las, independentemente do local em que ele es-tiver, dada a globalização dos mercados.

• Merchandising de intangíveis: o valor dacomercialização do produto intangível associadoao produto tangível pode ultrapassar, em muito,este último. Exemplificando, tem-se o valor arre-cadado com a bilheteria de um filme de grandesucesso sendo superado pela venda dos direitosde comercialização das imagens e dos persona-gens do filme, como é o caso do Star Wars, cujareceita de bilheteria foi de U$ 25,000,000.00 con-tra U$ 1,000,000,000.00 decorrentes dacomercialização de seus personagens.

• Patente de tecnologia: empresas que investemno desenvolvimento de novas tecnologias neces-sitam tê-las patenteadas a fim de possibilitar aavaliação em termos reais da própria empresa.

Considerando-se: uma força de trabalho avaliadapelo seu conhecimento, pelo que ela pode contribuirpara o resultado da empresa e o investimento associ-ado ao treinamento dessa força; o sistema de infor-mação desenvolvido para viabilizar o trabalho nasorganizações globalizadas e o conseqüente investi-mento realizado em softwares; a impreterível exis-tência de uma marca que identifique a empresa num

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mercado global; o investimento realizado no desen-volvimento de novas tecnologias e o respectivo cus-to de patenteá-las; enfim, considerando-se todos osaspectos intangíveis que hoje fazem parte do mundoempresarial, cujo gerenciamento tornou-se indispen-sável para a continuidade das empresas, pode-se in-ferir que todos eles agregam valor às empresas.

Deve-se considerar, ainda, que a automação daprodução e o crescimento do setor de prestação deserviços e de pesquisas alteram, radicalmente, a com-posição dos custos dos produtos. Conseqüentemen-te, o sucesso das empresas estará dependendo mui-to mais da administração dos recursos intelectuaisdo que da coordenação física dos empregados quetrabalham na produção.

Diante do exposto, não se discute que essa reali-dade torna urgente o desenvolvimento de novos con-ceitos no tocante à mensuração do valor das empre-sas, fato que vem impactar diretamente o poder infor-mativo dos relatórios contábeis, embora não se pos-sa desconsiderar que a Contabilidade sempre esteveatenta à questão dos intangíveis, dada a vasta biblio-grafia existente a respeito do Goodwill.

O Reflexo do Recurso do Conhecimento naContabilidade

De acordo com o Índice Mundial da MorganStanley, o valor médio das empresas nas bolsas devalores do mundo é duas vezes o seu valor contábile, nos Estados Unidos, o valor de mercado de umaempresa varia normalmente entre duas a nove ve-zes o seu valor contábil, (EDVINSSON & MALONE,1998, p. 5).

Richard Donkin, em artigo veiculado no FinancialTimes, afirma que “as empresas vêm percebendo queo valor contábil de seus ativos fixos está, em muitoscasos, diminuindo em relação ao seu valor de merca-do já que este valor está sendo medido em termos dacapacidade que possuem de exploração de seu co-nhecimento.” (apud Gazeta Mercantil, 19.01.98).

A Microsoft, maior fabricante de softwares nomundo, se tornou a primeira companhia a superar US$500 bilhões em valores de mercado na história, (Fo-lha de S. Paulo, 17.07.99).

Verifica-se que várias são as afirmações, a exem-plo das mencionadas acima, de que o valor das em-presas no mercado (entende-se em bolsa de valores)está muitas vezes acima do seu valor contábil (valorpatrimonial), sugerindo uma certa falha da Contabili-dade em mensurar tal valor.

Comentou-se, também, anteriormente, que L.Edvinsson4 , bem como outros autores, vêm justifi-cando a diferença entre o valor patrimonial das açõese seu valor de mercado pela introdução de novosvalores concentrados na denominação de Capital In-telectual. Cabe ressaltar que se julga ser esta umaforma muito simplista de justificar este fato, princi-palmente no que concerne à função das Demonstra-ções Contábeis, especificamente do BalançoPatrimonial. É importante destacar que não se en-tende que seja o Capital Intelectual o único respon-sável por tal diferença.

Assim sendo, dois aspectos devem ser consi-derados. O primeiro refere-se ao que se entendecomo valor da empresa e valor contábil da empre-sa. O segundo refere-se aos fatores que influenci-am o valor de mercado das ações, levando-se emconta, ainda, que as características do mercadoacionário, bem como os Princípios Contábeis e asnormas contábeis praticadas devem ser considera-das como fatores relevantes.

Com relação ao que se entende como Valor daEmpresa, define-se como “aquele que os potenciaisadquirentes estão dispostos a pagar pela compra dopatrimônio líquido de uma empresa, logo um valor denegociação.” (Martins,1992, p. 146).

Quanto à questão de se afirmar que o Valor deBolsa é o Valor da Empresa, parece ser uma práticacomum na literatura americana, onde o controle daempresa está pulverizado e as ações estão quasetodas disponíveis para negociação em bolsa. E ha-vendo liquidez para as ações, o valor de mercado decada ação multiplicado pelo número total de açõespoderia ser tomado como o valor de mercado da em-presa. A realidade do Brasil é bem diferente,(Martins,1992, p. 146).

Nesse contexto, também não se pode desprezara dinâmica complexa que apresenta o comportamen-to das ações negociadas em bolsa de valores. Se-

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gundo Fortuna (1996, p. 297), “o preço de uma açãoem bolsa é fruto das condições de mercado (oferta edemanda) que reflitam as condições estruturais ecomportamentais da economia do País e específicasda empresa e de seu setor econômico.”

Pode-se afirmar que as cotações das ações estãosujeitas a vários fatores exógenos às empresas, taiscomo fatores de natureza política e econômica e aoutros tantos contingenciais e, também, a fatoresendógenos que repercutem no Capital Intelectual.

É de se ressaltar, ainda, que em um ambienteglobalizado, como o atual, as alterações nos ambien-tes externos às empresas são percebidos mundial esimultaneamente, causando impactos de diversasintensidades.

Quanto ao fato de as empresas serem negocia-das várias vezes abaixo ou acima de seu valorpatrimonial, isso não representa algo tão absurdoquanto parece a muitos.

O Valor Patrimonial da empresa é o valor contábildo seu patrimônio líquido. E isso significa o valor in-vestido pelos sócios mais seus reinvestimentos pe-los lucros já obtidos não distribuídos. Os princípiosde avaliação contábil utilizados não foram feitos paramedir o valor de venda de uma empresa e sim paraapurar o resultado de suas atividades5 . Assim, o va-lor patrimonial está voltado ao que já ocorreu. Só queo valor de mercado de uma empresa está associadoao seu valor futuro, ou melhor, à capacidade que seusativos possuem de gerar lucro no futuro. Este é o con-ceito de valor econômico do ativo.

Iudícibus (1998, p.60), ao questionar o que de fatose mensura em Contabilidade (se custo ou valor), re-sume, de forma bem objetiva, a complexidade queenvolve a questão e, também, o quanto essa ques-tão é conhecida e reconhecida pela classe contábil.Segundo o autor:

“Mais importante, em toda a discussão, é que oContador, bem ou mal, conservadoramente ouagressivamente, numa fase outra da evoluçãohistórica, conforme se trate de ContabilidadeFinanceira ou Gerencial tem a coragem de atri-buir mensuração aos elementos do ativo, passi-vo e PL, bem como aos fluxos de renda e decaixa. É, sem dúvida, a profissão mais arroja-

da, pois pretende traduzir em demonstraçõescontábeis, em números, notas explicativas epoucas evidenciações outras, uma realidade tãocomplexa quanto a da entidade. Por isso é tãocriticada, pois não consegue agradar, nem aostradicionalistas, muito menos aos que desejari-am que o balanço retratasse o valor da entidadena data, algo que um eventual comprador consi-deraria, se quisesse adquiri-la. [...] Quanto maisevoluirmos em nossa ciência, mais nos afasta-remos do custo e mais nos aproximaremos dovalor, sem , provavelmente, nunca alcançá-lo.”(grifo do autor)

Considerando-se tais aspectos, volta-se a afirmarque não se pode desprezar os efeitos decorrentes daexistência dos elementos que compõem o CapitalIntelectual, quando se refere aos fatores endógenosàs empresas que influenciam seu valor de mercado eà capacidade que os elementos componentes doCapital Intelectual possuem de gerar lucros futuros.

Se a nova realidade demonstra que esses elemen-tos agregam valor às empresas, a Contabilidade deveconsiderar tais ativos intangíveis e desenvolver umaforma de evidenciá-los, se for esse o caso, mas nãose pode esquecer que evidenciar o valor da empresanão é objetivo do Balanço Patrimonial, pelo menosaté o momento. Portanto, fica claro que a mensuraçãodas transações envolvendo o patrimônio de uma enti-dade, cuja função pertence à Contabilidade, é dema-siadamente complexa e que as críticas ao BalançoPatrimonial não procedem por inteiro.

O Conceito do Capital Intelectual

Conforme já comentado, o Capital Intelectual é umconjunto de benefícios intangíveis que agregam valoràs empresas.

Segundo Brooking (1996, p.12-13), o Capital Inte-lectual pode ser dividido em quatro categorias:

• Ativos de Mercado: potencial que a empresapossui em decorrência dos intangíveis que es-tão relacionados ao mercado, tais como: mar-ca, clientes, lealdade dos clientes, negócios re-correntes, negócios em andamento (backlog),canais de distribuição, franquias etc.

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• Ativos Humanos: compreendem os benefíciosque o indivíduo pode proporcionar para as orga-nizações por meio da sua expertise, criatividade,conhecimento, habilidade para resolver proble-mas, tudo visto de forma coletiva e dinâmica.

• Ativos de Propriedade Intelectual: incluem osativos que necessitam de proteção legal para pro-porcionar às organizações benefícios tais como:know-how, segredos industriais, copyright, pa-tentes, designs etc.

• Ativos de Infra-Estrutura: compreendem astecnologias, as metodologias e os processos em-pregados, como cultura, sistema de informação,métodos gerenciais, aceitação de risco, bancode dados de clientes etc.

Edvinsson & Malone (1998, p.9) empregam umalinguagem metafórica no intuito de melhor conceituaro Capital Intelectual. Comparando uma empresa a umaárvore, consideram a parte visível como tronco, ga-lhos e folhas como o que está descrito emorganogramas, nas demonstrações contábeis e emoutros documentos; e a parte que encontra-se abaixoda superfície, no sistema de raízes, ao Capital Inte-lectual que são os fatores dinâmicos ocultos queembasam a empresa visível formada por edifícios eprodutos.

Os autores dividem os fatores ocultos em duascategorias:

• Capital Humano: composto pelo conhecimento,expertise, poder de inovação e habilidade dosempregados mais os valores, a cultura e a filo-sofia da empresa.

• Capital Estrutural: formado pelos equipamentosde informática, softwares, banco de dados, pa-tentes, marcas registradas, relacionamento comos clientes e tudo o mais da capacidadeorganizacional que apóia a produtividade dosempregados.

Edvinsson & Malone observam que o relaciona-mento com os clientes, inserido no Capital Estrutu-ral, pode ser desdobrado em uma categoria separadacomo Capital de Clientes, denotando maior importân-cia deste item para o valor da empresa.

Os referidos autores fazem, ainda, três afirmaçõesdignas de nota (1998, p.39):

1. O Capital Intelectual constitui informaçãosuplementar e não subordinada às informa-ções financeiras;

2. O Capital Intelectual é um capital não-financei-ro, e representa a lacuna oculta entre o valor demercado e o valor contábil;

3. O Capital Intelectual é um passivo e não umativo.

Pode-se verificar que não há divergência em rela-ção aos elementos que formam o Capital Intelectual,segundo os autores citados. Quanto às afirmaçõesde Edvinson & Malone, ressalta-se que a relação desuplementariedade que apresenta deve-se ao fato deque em algum tempo no futuro o Capital Intelectualserá convertido em um valor monetário. A segundaafirmação já foi amplamente comentada; atenção es-pecial merece ser dada ao último ponto.

O entendimento do Capital Intelectual como umpassivo pode, num primeiro momento, causar certoespanto. Entretanto, numa análise um pouco maisatenta à filosofia do Capital Intelectual, verifica-se sereste um tratamento coerente, pois retrata a idéia devalor corporativo ao considerá-lo como um emprésti-mo feito pelos clientes, empregados etc., visto comofonte de capital (recursos).

Um Modelo de Mensuração do CapitalIntelectual

Nos últimos anos, o Grupo Skandia vem desper-tando o interesse dos meios acadêmico e empresari-al e da mídia por ter sido o primeiro grupo a divulgarum relatório contendo dados sobre a avaliação doCapital Intelectual de suas empresas. Esse relatóriofoi distribuído aos acionistas em 1995, como suple-mento das Demonstrações Financeiras referentes a1994 (GRUPO SKANDIA, 1994).

Considerando que não é objetivo deste artigo apre-sentar o modelo de mensuração do Capital Intelectualdesenvolvido pelo grupo, optou-se por abordar de formabem simplificada a sua essência, dando-se maior ênfa-se à Fórmula de Mensuração do Capital Intelectual.

O grupo identificou certos valores de sucesso quedeveriam ser maximizados e incorporados à estraté-gia organizacional. Esses fatores, por sua vez, foramagrupados em cinco áreas distintas de foco:

1. Foco Financeiro.2. Foco Clientes.3. Foco Processo.4. Foco Renovação e Desenvolvimento.5. Foco Humano.

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Para cada um desses focos foram estabeleci-dos indicadores que permitem medir o seu desem-penho. 6

A fim de estabelecer uma equação que traduzisseem um número o valor do Capital Intelectual, a Skandiaestabeleceu os seguintes passos:1. Identificar um conjunto básico de índices que pos-

sa ser aplicado a toda a sociedade com mínimasadaptações.

2. Reconhecer que cada organização possa ter umCapital Intelectual adicional que necessite ser ava-liado por outros índices.

3. Estabelecer uma variável que capte a não tão-per-feita previsibilidade do futuro [sic], bem como ados equipamentos, das organizações e das pes-soas que nela trabalham.

Assim sendo, chegou à seguinte fórmula (Edvin-sson & Malone, 1998, p.166):

Capital Intelectual Organizacional = iC

Onde: C = Valor monetário do Capital Intelectuali = Coeficiente de Eficiência

O valor de C é obtido a partir de uma relação quecontém os indicadores mais representativos de cadaárea de foco, avaliados monetariamente, excluindoos que pertencem mais propriamente ao BalançoPatrimonial. Esses indicadores referem-se ao exercí-cio social:1. Receitas resultantes da atuação em novos ne-

gócios.2. Investimento no desenvolvimento de novos mer-

cados.3. Investimento no desenvolvimento do setor indus-

trial.4. Investimento no desenvolvimento de novos ca-

nais.5. Investimento em Tecnologia da Informação (TI)

aplicada a vendas, serviço e suporte.6. Investimento em TI aplicada à administração.7. Novos equipamentos de TI.8. Investimento no suporte aos clientes.9. Investimento no serviço aos clientes.

10. Investimento no treinamento de clientes.11. Despesas com clientes não-relacionadas ao pro-

duto.12. Investimento no desenvolvimento da competên-

cia dos empregados.13. Investimento em suporte e treinamento relativo a

novos produtos para os empregados.14. Treinamento especialmente direcionado aos em-

pregados que não trabalham nas instalações daempresa.

15. Investimento em treinamento, comunicação e su-porte direcionados aos empregados permanen-tes em período integral.

16. Programas de treinamento e suporte especialmentedirecionados aos empregados temporários deperíodo integral.

17. Programas de treinamento e suporte especialmentedirecionados aos empregados temporários detempo parcial.

18. Investimento no desenvolvimento de parcerias /joint-ventures.

19. Upgrades no sistema.20. Investimentos na identificação da marca (logotipo/

nome).21. Investimento em novas patentes e direitos au-

torais.O Índice de Coeficiente de Eficiência do Capital

Intelectual é obtido por meio dos indicadores maisrepresentativos de cada área de foco expressos emporcentagens, quocientes e índices, cuja média arit-mética dos índices permite colocá-los em uma por-centagem única. Esses parâmetros referem-se aopresente:

1. Participação de mercado (%).2. Índice de Satisfação dos Clientes (%).3. Índice de liderança (%).4. Índice de Motivação (%).5. Índice de investimento em Pesquisa & Desen-

volvimento / Investimento total (%).6. Índice de horas de treinamento (%).7. Desempenho / Meta de qualidade (%).8. Retenção dos empregados (%).9. Eficiência administrativa / Receitas (%).Verifica-se que a fórmula apresentada pela

Skandia mede o Capital Intelectual em função da

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quantidade de investimentos, medidos em termosmonetários, realizados nos elementos que podemser mensurados objetivamente. Por exemplo: in-vestimentos no suporte aos clientes e investimen-tos em TI aplicada a vendas, serviço e suporte.Estes investimentos poderão impactar a satisfa-ção do cliente ou não.

Entretanto, não consideram como Capital Intelec-tual o valor total do investimento (valor de custo) rea-lizado, mas apenas a proporção que reverterá para aempresa, a médio ou longo prazos, medida em fun-ção do índice percentual de satisfação dos clientes(indicador não-financeiro). Assim sendo, pode-se con-cluir que a medida de Capital Intelectual apresenta-se, à primeira vista, como um número, portanto, umamensuração aparentemente objetiva, mas dada a pró-pria natureza de alguns índices, é composta por umcerto grau de subjetividade.

O conceito do Goodwill

Considerando a complexidade que envolve otema Goodwill, e o objetivo do presente artigo, pre-tende-se apenas estabelecer alguns aspectos quan-to à sua natureza, avaliação e classificação quepossibilitarão uma comparação com o conceito doCapital Intelectual.

Monobe (1986, p. 51), em sua tese de doutoramentointitulada “Contribuição à mensuração e contabilizaçãodo goodwill adquirido”, observa que a primeira apari-ção do Goodwill foi vinculada à terra [em 1571] egradativamente foi sendo relacionado com o comér-cio, com a atividade industrial, à fidelidade da cliente-la, com a localização privilegiada, à personalidade dosproprietários, a processos industriais, a conexões fi-nanceiras e a staffs eficientes.

Todos esses fatores foram sendo apontadoscomo os responsáveis (ou fatores contribuintes)pela geração de lucro da empresa a longo prazo enão reconhecidos pela Contabilidade. Essa carac-terística persiste até hoje para certos fatores epara outros tantos que foram sendo acrescidos namedida em que os at ivos intangíveis nãocontabilizados ou não identificados foram aumen-tando proporcionalmente aos demais ativos devi-do à sofisticação dos negócios (Monobe, 1986,p.51-52, 63).

É sabido que a Contabilidade Financeira reconhe-

ce e contabiliza o Goodwill apenas quando ocorre acompra de uma empresa.

Quanto ao seu valor, o referido autor afirma que,numa conceituação moderna, o Goodwill correspondeà diferença entre o valor atual da empresa como umtodo, em termos de capacidade de geração de lucrosfuturos, e o valor econômico dos seus ativos apre-sentando, portanto, uma característica residual(Monobe, 1986, p. 65).

Segundo o The Chartered Institute of ManagementAccountants, o mais importante instituto de contado-res gerenciais do Reino Unido, em sua TerminologiaOficial de Contabilidade Gerencial (CIMA, 1996, p. 87),Goodwill é definido como a diferença entre o valor deum negócio como um todo e a soma dos ativos indi-viduais avaliados pelo seu valor justo.

Tendo em vista as duas significativas definiçõesapresentadas, pode-se inferir que não existe um con-senso sobre o critério de valor a ser utilizado, cujoaprofundamento, conforme já dito, não é o objetivo nomomento. Entretanto, quanto à sua característica re-sidual não há dúvidas.

Soma-se aos conceitos anteriores um outro queidentifica a ocorrência da sinergia numa empresa.Sob esse conceito, mesmo que se tenha identifi-cado e mensurado economicamente todos os ati-vos tangíveis e intangíveis, a soma desses valo-res individuais deveria ser menor do que a somado seu conjunto. Em outras palavras significa di-zer que o Goodwill sempre deveria existir sob aótica sinérgica.

Classificação do Goodwill

Conforme a classificação de Coyngton (apudMARTINS, 1972, p. 74), valendo ressaltar que é data-da de 1923, o Goodwill assume a seguinte divisão:

• Goodwill Comercial: criado em função exclu-sivamente da empresa como um todo, inde-pendente das pessoas proprietárias ou admi-nistradoras.

• Goodwill Pessoal: decorrente de uma ou váriaspessoas que integram a empresa, sendo propri-etária (s) ou administradora (s).

• Goodwill Profissional: desenvolvido por umaclasse profissional que cria uma imagem quea distingue dentro da sociedade propiciandocondições de alta remuneração, como no caso

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dos médicos, advogados e contadores em al-guns países.

• Goodwill Evanescente: característico de certosprodutos que a moda cria e que, portanto, pos-suem curta duração.

• Goodwill de Nome ou Marca Comercial: ocasiona-do pela imagem do nome da empresa que produzo produto ou da marca sob o qual é comercializado.Distingue-se do anterior dada a durabilidade.

Admitindo-se a classificação para o Goodwill dePaton & Paton (apud Martins, 1972, p. 73), divulgadaem 1952, tem-se:

• Goodwill Comercial: decorrente de serviçoscolaterais como equipe cortês de vendedores,entregas convenientes, facilidade de crédito, de-pendências apropriadas para serviço de manu-tenção; qualidade do produto em relação ao pre-ço; atitude e hábito do consumidor como frutode nome comercial e marca tornados proemi-nentes em função de propaganda persistente;localização da firma.

• Goodwill Industrial: decorrente de altos salári-os, baixo turnover de empregados, oportunida-des internas satisfatórias para acesso às posi-ções hierárquicas superiores, serviço médico,sistema de segurança adequado, desde que taisfatores contribuam para a boa imagem da em-presa e também para a redução do custo unitá-rio de produção, devido à eficiência de uma for-ça de trabalho operando nessas condições.

• Goodwill Financeiro: derivado da atitude de in-vestidores e de fontes de financiamento e de cré-dito em função de a empresa possuir sólida situ-ação para cumprir suas obrigações e manter suaimagem ou, ainda, obter recursos financeiros quelhe permitam aquisições de matéria-prima ou mer-cadorias em melhores termos e preços.

• Goodwill Político: decorrente de boas relaçõescom o Governo.

Goodwill versus Capital Intelectual

Ao se observar os fatores responsáveis pela for-mação do Goodwill, segundo Catlett & Olson (apudMARTINS, 1972, p. 75), e pela formação do CapitalIntelectual, segundo Brooking (1996, p. 17), podemser identificados vários pontos em comum, conformevisto a seguir:

A) Fatores que geram o Goodwill:• Administração superior.• Organização ou gerente de vendas proemi-

nente.• Fraqueza na administração do competidor.• Propaganda eficaz.• Processos secretos de fabricação.• Boas relações com os empregados.• Crédito proeminente como resultado de uma

sólida reputação.• Excelente treinamento para os empregados.• Alta posição perante a comunidade, conseguida

através de ações filantrópicas e participaçãoem atividades cívicas por parte dos adminis-tradores da empresa.

• Desenvolvimento desfavorável nas operaçõesdo competidor.

• Associações favoráveis com outra empresa.• Localização estratégica.• Descoberta de talentos ou recursos.• Condições favoráveis com relação aos im-

postos.• Legislação favorável.

É relevante observar que os autores admitem aimpossibilidade de listar todos os fatores e condições,devido à própria natureza do Goodwill.

B) Fatores que geram o Capital Intelectual:• Conhecimento, por parte do funcionário, do que

representa o seu trabalho para o objetivo glo-bal da companhia.

• Funcionário tratado como um ativo raro.• Esforço da administração para alocar a pes-

soa certa na função certa, considerando suashabilidades.

• Existência de oportunidade para desenvolvi-mento profissional e pessoal.

• Avaliação do retorno sobre o investimento rea-lizado em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D).

• Identificação do know-how gerado pela P&D.• Identificação dos clientes recorrentes.• Existência de uma estratégia proativa para tra-

tar a propriedade intelectual.• Mensuração do valor da marca.• Avaliação do retorno sobre o investimento rea-

lizado em canais de distribuição.• Sinergia entre os programas de treinamento e

os objetivos corporativos.

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• Existência de uma infra-estrutura para ajudar osfuncionários a desempenhar um bom trabalho.

• Valorização das opiniões dos funcionários so-bre os aspectos de trabalho.

• Participação dos funcionários na elaboraçãodos objetivos traçados.

• Encorajamento dos funcionários para inovar.• Valorização da cultura organizacional.

O valor do Goodwill de uma empresa, segundoobservou Monobe (1986, p. 62), seja na sua formaconvencional ou na forma definida como sinergístico,estará sempre relacionado com a capacidade de ge-ração de lucros dessa empresa. Da mesma forma, osautores até então citados relacionam o Capital Inte-lectual à geração de lucros a longo prazo. Estas duasafirmações se enquadram na definição de ativo, va-lendo ressaltar que os autores consideram o CapitalIntelectual como tal.

Um outro ponto importante trata do nascimentodo Capital Intelectual. Para Brooking (1996, p.12), oCapital Intelectual começou quando o primeiro ven-dedor estabeleceu um bom relacionamento com o seucliente, o que se denominou Goodwill.

Já Edvinsson & Malone (1998, p.11) consideramque o Capital Intelectual pode apresentar-se como umanova teoria, mas que ele esteve sempre presente naforma de bom senso (considerado um dos elementosdo Goodwill) e que o interesse em entender a diferen-ça entre o valor de mercado de uma empresa e o seuvalor contábil sempre existiu. O que se modificou foia forma de entender esse diferencial. Antes ele eraatribuído a fatores inteiramente subjetivos e que, por-tanto, jamais poderiam ser medidos empiricamente.

A afirmação dos autores sugere que o Capital In-telectual iniciou-se a partir do Goodwill, quando deseu conceito inicial e limitado, sugerindo, ainda, umaprecipitada aglutinação dos dois conceitos. Isto podeser confirmado comparando as classificações deambos e os fatores responsáveis por suas formações.Entretanto, a afirmação de H. Thomas Johnson7 , aoconsiderar que o Capital Intelectual encontra-se es-condido no interior do “mais misterioso lançamentocontábil [sic], aquele referente ao Goodwill” (apudEDVINSSON & MALONE, 1998, p. 4), dá-nos umaidéia de complementaridade. Quanto à questão de

identificação de tais elementos, esta apresenta-sede forma muito mais complexa do que pode parecer àprimeira vista, conforme a literatura consultada.

Monobe (1986, p. 55), ao se referir à problemáticada identificação do Goodwill, assume que “um dosproblemas subsistentes continua sendo a linha divi-sória entre o valor atribuível ao Goodwill e aquelesatribuíveis a outros intangíveis, o que acarreta espe-cialmente dificuldade na sua mensuração”.

Assim sendo, conclui-se que o modelo desenvol-vido para mensuração do Capital Intelectual pode serentendido como uma tentativa de identificar e mensuraralguns dos fatores (ativos intangíveis) que contribu-em para a geração de lucros futuros, minimizando aquantidade de intangíveis não identificados e, conse-qüentemente, o valor do Goodwill.

Conclui-se, portanto, que os idealizadores do mo-delo estão resolvendo parte dos componentes subje-tivos do Goodwill e não o problema do Goodwill nasua totalidade, ou melhor: “explicando a diferença entreo valor contábil e o valor de mercado”, como se refe-rem, muito embora de uma forma ainda subjetiva,dada a fórmula desenvolvida pelos autores e citadaanteriormente.

Por outro lado, supondo que consigam identificare mensurar objetivamente cada elemento que com-põe o Capital Intelectual (ou seja, todos os elemen-tos que estão classificados e agrupados como Capi-tal Intelectual), o Goodwill continuaria existindo, se-gundo o conceito do Goodwill Sinergístico.

CONCLUSÃO

O novo rumo da economia encontra-se fundamen-tado em idéias. O número de pessoas engajadas noprocesso de pesquisa, criando técnicas, materializan-do idéias, desenvolvendo novas oportunidades denegócios, tende, cada vez mais, a superar o númerode pessoas que estarão trabalhando diretamente naprodução física, a mesma proporção ocorrendo emrelação ao montante de recursos financeiros e deconhecimento investidos. Isso tornará essencial quese realizem profundas modificações na estrutura ena administração das empresas para que continuemcompetitivas.

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Entretanto, o conhecimento só gerará valor parauma entidade se esta puder ter contado com osnovos conhecimentos produzidos e ser acessadade forma que isso possa conduzir a novos conhe-cimentos.

A história do desenvolvimento do conhecimentocontábil, especificamente a bibliografia existente so-bre o Goodwill, mais as constatações evidenciadasneste artigo demostram que a percepção da impor-tância e a preocupação em identificar os elementosintangíveis que interagem no sistema empresa e que,conseqüentemente, agregam valor a médio e longoprazo, não são recentes.

As palavras de Iudícibus (1988), mais atuais, po-dem ilustrar o desafio com o qual a Contabilidade vemdeparando e ratificar a posição assumida de que amesma vem trabalhando no sentido de que o Siste-ma de Informações Contábeis possa divulgar as in-formações realmente relevantes para tomada de de-cisões, obviamente respeitando os objetivos de cadarelatório divulgado. Segundo o referido autor:

“Normalmente, o Sistema de Informação Contábilestá enfatizado com relação ao passado e nãofocalizado para o futuro. Para esta última hipó-tese ocorrer, temos que não ter receio de lidarcom o julgamento, com o potencial e com o queé intangível, em lugar do que é verificável, reali-zado e tangível. (...) Exemplificando, atribuo maisimportância ao intangível de um balanço, comoelemento de discernimento no que se refere àpotencialidade da entidade do que, às vezes,aos elementos tangíveis.” (grifo do autor)

De fato, o modelo desenvolvido pelo Grupo Skandiabusca contemplar esse mecanismo de captar, avaliare gerenciar os conhecimentos adquiridos na buscade novos conhecimentos que produzirão benefícios amédio e longo prazos para as organizações e, comotal, constitui-se numa excelente ferramenta à dispo-sição da gerência, útil nas decisões estratégicas porapontar tendências.

Por outro lado, não se considera que tenham re-solvido a questão dos intangíveis objetivamente, con-forme demonstrado.

Este artigo procurou evidenciar a verdadeira rela-ção existente entre a Contabilidade e o conceito deCapital Intelectual e, portanto, pode-se concluir, con-forme demonstrado, que:

• a preocupação da Contabilidade em identificar emensurar os valores intangíveis de uma empre-sa não é recente;

• os autores citados assumem a existência doCapital Intelectual há séculos, tendo como ori-gem o Goodwill;

• Goodwill e Capital Intelectual fazem parte domesmo fenômeno, pois os fatores que identifi-cam a existência de um valor a mais numa orga-nização, e que integram o Capital Intelectual, jáfaziam parte do Goodwill, segundo pode ser ve-rificado pelas classificações mencionadas e da-tadas da primeira metade deste século, podendoser justificada a inclusão de novos elementospela evolução natural da sociedade;

• o conceito de Capital Intelectual é uma tentativade identificar e mensurar tais intangíveis que,enquanto não mensurados, resultam em partedo Goodwill;

• Capital Intelectual é um conceito que identifica eagrupa elementos intangíveis (de acordo com asclassificações apresentadas) que antes perten-ciam ao Goodwill, considerando-se o Goodwillcomo resultante da não aceitação pela Contabi-lidade Financeira de vários itens como compo-nentes do ativo, em virtude, principalmente, dosPrincípios do Custo como Base de Valor e o daConfrontação das Despesas com as Receitas,mais as Convenções da Objetividade e doConservadorismo.

Portanto, o Goodwill apresenta-se como um con-ceito mais abrangente do que o do Capital Intelectu-al, considerando todas as conclusões. E, principal-mente, Capital Intelectual não é um conceito novo e,muito menos, desconhecido pela Contabilidade.

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